Racismo contra imigrantes no Brasil: uma análise crítica do discurso dos empregadores
DOI:
https://doi.org/10.5902/1983465970741Palavras-chave:
Análise crítica do discurso, Abordagem sociocognitiva de Van Dijk, Imigração Sul-Sul, Empregadores, Ideologia racistaResumo
Finalidade: Este artigo investiga as representações discursivas relacionadas ao racismo de empregadores e gestores de recursos humanos brasileiros sobre trabalhadores imigrantes contratados.
Abordagem teórica: A teoria sócio-cognitiva proposta por Van Dijk é apresentada juntamente com estudos sobre as representações discursivas dos imigrantes.
Metodologia: A pesquisa qualitativa utilizou entrevistas semiestruturadas com 12 empregadores nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. A análise dos dados baseou-se na análise crítica do discurso (ACD), na abordagem sociocognitiva de Van Dijk.
Constatações: A pesquisa mostrou que o discurso dos empregadores parte do pressuposto de que os trabalhadores imigrantes: i) são mais eficientes do que os brasileiros; ii) se sujeitam a qualquer tipo de trabalho; iii) se destinam a trabalho não qualificado e árduo; iv) ameaçam os brasileiros (diferentes identidades culturais; diferentes valores comunitários; podem ser criminosos; são propagadores de doenças); e v) são um fardo econômico. O discurso do empregador brasileiro mantém e perpetua todas as características do ideário racista e dificulta o ingresso de imigrantes no mercado de trabalho brasileiro, forjando práticas de dominação que favorecem a desigualdade social.
Originalidade: Este estudo contribui para alargar o âmbito de análise da ACD na investigação de empregadores e imigrantes. Também dialoga e contribui com a literatura brasileira sobre ACD ao adotar especificamente a abordagem sociocognitiva de Van Dijk em vez de Fairclough, mais comumente utilizada.
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