“AJUDE AÍ DOUTOR!” PODER, HEGEMONIA E COOPTAÇÃO NA BIG PHARMA À LUZ DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/2317175844522

Palavras-chave:

Cooptação, Estratégia Empresarial, Análise Crítica do Discurso

Resumo

Por intermédio de estratégias mercadológicas, a indústria farmacêutica vem cooptando e convencendo a classe médica à prescrição de medicamentos de seus laboratórios, em detrimento de outras alternativas. Percebe-se, portanto, mais do que uma relação assimétrica entre o complexo médico-industrial (aqui tratado como big pharma) e a sociedade, mas uma relação de poder entre esses atores e a consequente mercadificação da saúde. Diante disso, sobretudo em tempos que tanto se depende deste setor, este trabalho tem como objetivo analisar se as práticas empresariais utilizadas pelos representantes da indústria farmacêutica respeitam às normas estabelecidas na regulamentação vigente. Concluiu-se, a partir da Análise Crítica do Discurso que os representantes farmacêuticos entrevistados possuem parcial ou total desconhecimento sobre uma das principais resoluções que rege as atividades do cargo. Assim, observou-se que tais representantes não formulam suas estratégias de cooptação e/ou convencimento em concordância com o estabelecido na regulamentação, o que possibilita a existência de comportamentos que, mesmo por desconhecimento, seriam compreendidos como antiéticos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ABBASI, K.; SMITH, R. No more free lunches. BMJ: British Medical Journal, p. 326-1155, 2003.

ABDALLA, M. M. Do Abstrato ao Concreto: Analisando a Multiplicação das Mercadorias Fictícias de Karl Polanyi a partir de um Contexto Latino Americano. In:XL Encontro da ANPAD - EnANPAD, 40. Anais... Costa do Sauípe/BA, 2016.

ABDALLA, M. M.; ALTAF, J. G. Análise Crítica do Discurso em Administração/Gestão: sistematização de um framework metodológico. Revista ADM. MADE, v. 22, n. 2, p. 35-47, 2018.

ANDERSON, C.; BERDAHL, J. L. The experience of power: examining the effects of power on approach and inhibition tendencies. Journal of personality and social psychology, v. 83, n. 6, p. 1362, 2002.

ANVISA. Resolução RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008. Ministério da Saúde - MS. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/legislacao#/visualizar/28284>. Acesso em: 23 mar. 2017.

APPLBAUM, K. Pharmaceutical marketing and the invention of the medical consumer. PLoS Medicine, v. 3, n. 4, 2006.

BARLEY, S. R. Building an institutional field to corral a government: A case to set an agenda for organization studies. Organization Studies, v. 31, n. 6, p. 777-805, 2010.

BARROS, A.; CARRIERI, A. de P. O cotidiano e a história: construindo novos olhares na administração. RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 55, n. 2, p. 151-161, 2015.

BASTOS, V. D. (2005). Inovação farmacêutica: padrão setorial e perspectivas para o caso brasileiro. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, v. 22, p. 271-296, 2005.

BLACK, I. Pharmaceutical marketing strategy: Lessons from the medical literature. Journal of Medical Marketing, v. 5, n. 2, p. 119-125, 2005.

BLANK, D. M. P.; BRAUNER, M. C. C. (2009). Medicalização da saúde: biomercado, justiça e responsabilidade social. JURIS-Revista da Faculdade de Direito, v. 14, p. 7-24, 2009.

BOMFIM, D. E. da C.; PEREIRA, J. L. B. Os Médicos e a Indústria Farmacêutica. Gazeta Médica da Bahia, v. 74, n. 2, 2008.

BRANDÃO, H. H. N. Introdução à análise do discurso. 2ª. Edição revisada: Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2004.

BRANDÃO, I. A. P. Validação do sistema de água purificada na indústria farmacêutica. [TCC-Especialização]. Rio de Janeiro: Instituto de Tecnologia em Fármacos/Farmanguinhos, Fundação Oswaldo Cruz, 2015.

BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657/1942. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

BRESSER-PEREIRA, L. C. Assalto ao Estado e ao mercado, neoliberalismo e teoria econômica. Estudos avançados, v. 23, n. 66, p. 7-23, 2009.

BRETT, A. S.; BURR, W.; MOLOO, J. Are gifts from pharmaceutical companies ethically problematic?: a survey of physicians. Archives of internal medicine, v. 163, n. 18, p. 2213-2218, 2003.

CARVALHO, K. M. D., & TEIXEIRA, R. M. (2002). A influência de estratégias promocionais na adoção de novos produtos: o caso da indústria farmacêutica. Caderno de pesquisas em Administração, v. 9, n. 1, p. 61-74, 2002.

CONNORS, A. L. Big bad pharma: an ethical analysis of physician-directed and consumer-directed marketing tactics. Alb. L. Rev., v. 73, p. 243, 2009.

COPEINSKI, E. E.; APPA, R. SER ÉTICO É UMA ESCOLHA POSSÍVEL. Qualis Sumaré-Revista Acadêmica Eletrônica, v. 11, n. 1, 2016.

CORRÊA, G. F.; OLIVEIRA, L. H. D. Os novos rumos da estratégia de marketing no mercado farmacêutico. Organizações Rurais & Agroindustriais, v. 10, n. 3, 2008.

CORTELLA, M. S. Educação, Convivência e Ética: audácia e esperança!. Cortez Editora, 2015.

DANA, J.; LOEWENSTEIN, G. A social science perspective on gifts to physicians from industry. Jama, v. 290, n. 2, p. 252-255, 2003.

DAS, A. Pharmaceutical industry and the market: The case of Prozac and other antidepressants. Asian Journal of Psychiatry, v. 4, n. 1, p. 14-18, 2011.

DIJK, T. A. V. Discurso, Organizações e Sociedade. Farol-Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, v. 3, n. 7, p. 730-761, 2016.

DOS SANTOS, P. L. P. Mercantilização da saúde e cidadania perdida: o papel do sus na reafirmação da saúde como direito social. Revista da UNIFEBE, v. 1, n. 11, 2013.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social (I. Magalhães, Trad.). Brasília: Universidade de Brasília, 2001.

FARIA, A.; ABDALLA, M. M. O que é (estratégia de) não mercado?. Organizações & Sociedade, v. 21, n. 69, p. 315-333, 2014.

FILHO, J. M. A dimensão bioética dos conflitos de interesses na relação entre médico e indústria farmacêutica. Revista Brasileira Clínica Médica, v. 8, n. 2, p. 148-53, 2010.

FLEMING, P.; SPICER, A. Power in management and organization science. The Academy of Management Annals, v. 8, n. 1, p. 237-298, 2014.

GULATI, R.; SYTCH, M. Dependence asymmetry and joint dependence in interorganizational relationships: Effects of embeddedness on a manufacturer's performance in procurement relationships. Administrative science quarterly, v. 52, n. 1, p. 32-69, 2007.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

HARVEY, D. O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Edições Loyola, 2008.

IRIGARAY, H. A. R.; CUNHA, G. X.; HARTEN, B. A. Missão organizacional: o que a análise crítica do discurso revela?. Cadernos EBAPE. BR, v. 14, n. 4, p. 920-933, 2016.

KATZ, D.; CAPLAN, A. L.; MERZ, J. F. All gifts large and small. American Journal of Bioethics, v. 3, n. 3, p. 39-46, 2003.

KOMESAROFF, P. A.; KERRIDGE, I. H. Ethical issues concerning the relationships between medical practitioners and the pharmaceutical industry. Medical Journal of Australia, v. 176, n. 3, p. 118-121, 2002.

LEVITT, T. Exploit the product life cycle. Harvard Business Review, 1965.

LIMA, L. C.; DE AMORIM, W. A. C.; FISCHER, A. L. Da Racionalidade Instrumental para a Substantiva: explorando possibilidades da Gestão De Clima Organizacional. Teoria e Prática em Administração (TPA), v. 5, n. 1, p. 159-182, 2015.

MANCEBO, D., OLIVEIRA, D. M., FONSECA, J. G. T. D., & SILVA, L. V. D. Consumo e subjetividade: trajetórias teóricas. Estudos de Psicologia, v. 7, n. 2, p. 325-332, 2002.

MARCONDES, D. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. Zahar, 2007.

MASSUD, M. Conflito de interesses entre os médicos e a indústria farmacêutica. Revista Bioética, v. 18, n. 1, 2010.

MENDONÇA, A. L. O.; CAMARGO JR, K. R. Medical-industrial and medical-financial complex: the epistemological and axiological sides of the balance. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 22, n. 1, p. 215-238, 2012.

MOLINARI, G. J. P.; MOREIRA, P. C. dos S.; CONTERNO, L. de O. A influência das estratégias promocionais das indústrias farmacêuticas sobre o receituário médico na Faculdade de Medicina de Marília: uma visão ética. Revista Brasileira Educação Médica, v. 29, n. 2, p. 110-118, 2005.

MORESI, E. Metodologia da pesquisa. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2003.

NOGUEIRA, C. A análise do discurso. Em L. Almeida e E. Fernandes (Edts), Métodos e técnicas de avaliação: novos contributos para a pratica e investigação. Braga: CEEP, 2001.

NYE, J. S. Soft power: The means to success in world politics. PublicAffairs, 2004.

ORLANDI, E. P. Análise de discurso: princípios e procedimentos/Eni P. Orlandi–8ª Edição, Campinas, SP: Pontes, 2009.

PORTAL BRASIL. Produção industrial cresce pelo 4º mês consecutivo. 2016. Recuperado em 20 de dezembro de 2016, de: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2016/08/producao-industrial-cresce-pelo-4-mes-consecutivo

RAMOS, F. C. Relacionamento com médicos como estratégia de marketing da indústria farmacêutica. 2010. Tese de Doutorado.

REIS, C.; CAPANEMA, L. X. D. L.; PALMEIRA FILHO, P. L.; PIERONI, J. P.; SOUZA, J. O. B. D.; SILVA, L. G. D. (2009). Biotecnologia para saúde humana: tecnologias, aplicações e inserção na indústria farmacêutica. BNDES Setorial, n. 29, p. 359-392, 2009.

RIBEIRO, L. G.; JURUENA, M. F. Médicos, Indústria Farmacêutica e Propaganda: que relação é essa?. Saúde & Transformação Social/Health & Social Change, v. 4, n. 1, p. 3-10, 2013.

RIOS, L. E.; MORAES, V. A. Uma abordagem ética do conflito de interesses na área de saúde. Revista Bioethikos-Centro Universitário São Camilo, v. 7, n. 4, p. 398-403, 2013.

ROSELLE, L.; MISKIMMON, A.; O’LOUGHLIN, B. Strategic narrative: A new means to understand soft power. Media, War & Conflict, v. 7, n. 1, p. 70-84, 2014.

SANTOS, J. S. D.; BLIACHERIENE, A. C.; UETA, J. A via judicial para o acesso aos medicamentos e o equilíbrio entre as necessidades e desejos dos usuários do Sistema de Saúde e da indústria. BIS. Boletim do Instituto de Saúde, v. 13, n.1, p. 66-75, 2011.

SANVITO, W. L. Indústria farmacêutica: uma abordagem crítica. Revista da Sociedade Brasileira de Clínicas Médicas, v. 10, n. 4, p. 346-50, 2012.

SILVA, D. Teorias de mercado e regulação: por que os mercados e o governo falham?. Cadernos EBAPE. br, v. 8, n. 4, p. 644-660, 2010.

SILVA, E. R. da; GONÇALVES, C. A. Possibilidades de incorporação da análise crítica do discurso de Norman Fairclough no estudo das organizações. Cadernos EBAPE. BR, v. 15, n. 1, p. 1-20, 2017.

URDAN, A. T. O executivo de vendas no Brasil e a intenção de comportamento antiético: parte final. 2005.

URDAN, F. T.; URDAN, A. T. Gestão do composto de marketing. São Paulo: Atlas, 2013.

VIEIRA, M. M. F.; MISOCZKY, M. C. Instituições e poder: explorando a possibilidade de transferências conceituais. Organizações, cultura e desenvolvimento local: a agenda de pesquisa do Observatório da Realidade Organizacional. Recife: Editora Universitária UFPE, 2003.

WAZANA, A. Physicians and the pharmaceutical industry: is a gift ever just a gift?. Jama, v. 283, n. 3, p. 373-380, 2000.

Downloads

Publicado

05-05-2021

Como Citar

Corrêa, R. de S., & Abdalla, M. M. (2021). “AJUDE AÍ DOUTOR!” PODER, HEGEMONIA E COOPTAÇÃO NA BIG PHARMA À LUZ DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO. Revista Sociais E Humanas, 34(1). https://doi.org/10.5902/2317175844522

Edição

Seção

Artigos Livres