Maquiavel, professor do mal? Sobre o duplo ensinamento de Leo Strauss
DOI:
https://doi.org/10.5902/2357797593166Schlagworte:
Leo Strauss, Maquiavel, Esoterismo, Filosofia política clássica, ModernidadeAbstract
Este artigo investiga o núcleo da crítica de Leo Strauss a Maquiavel, examinando a hipótese de um duplo ensinamento no livro Reflexões sobre Maquiavel. Para tanto, aplica-se ao texto de Strauss a metodologia de leitura esotérica por ele proposta, com ênfase no papel das introduções, dos finais e, sobretudo, do centro da obra. Sustenta-se que a retomada, por Strauss, da visão vulgar de Maquiavel como “professor do mal” possui caráter irônico e visa transmitir “coisas diferentes sobre o mesmo objeto a pessoas diferentes”. A crítica fundamental de Strauss não recai sobre o alegado anticristianismo de Maquiavel, mas sobre sua ruptura deliberada com a tradição clássica da filosofia política — ruptura perceptível em seu estilo e em sua rejeição da prudência clássica. Maquiavel, segundo Strauss, inicia uma “crítica imanente” ao Cristianismo, que preserva e radicaliza certos traços centrais da tradição cristã, como o igualitarismo, a propaganda e a exigência de sinceridade. Essa crítica situa Maquiavel como iniciador da modernidade e como antecessor dos radicalismos que desembocariam nas tiranias modernas.
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