Universidade Federal de Santa Maria

Ci. Fl., Santa Maria, v. 31, n. 2, abr./jun., 2021

DOI: 10.5902/1980509843659

ISSN 1980-5098

Submissão: 20/04/2020 • Aprovação: 09/11/2020 • Publicação: 1º/06/2021

Artigos

Potencial de regeneração natural de um plantio compensatório realizado em unidade de conservação urbana sob forte pressão antrópica

Potential of natural regeneration of a compensatory planting carried out in an urban conservation unit under strong anthropic pressure

Karina Cavalheiro BarbosaI

Eduardo Luis Martins CatharinoII

Luiz Mauro BarbosaIII

Hilton Thadeu Zarate do CoutoIV

Nelson Augusto dos Santos JuniorV

I Bióloga, Dra., Pesquisadora Autônoma, Pesquisadora Autônoma, São Paulo, SP, Brasil

https://orcid.org/0000-0002-0856-1510 – cbkarina@yahoo.com

II Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador Científico, Instituto de Botânica, São Paulo, SP, Brasil

https://orcid.org/0000-0002-0990-8758 – mcatarin@uol.com.br

III Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador Científico, Instituto de Botânica, São Paulo, SP, Brasil

https://orcid.org/0000-0001-9874-059X – lmbarbosa@ibot.sp.gov.br

IV Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor, Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, Brasil

https://orcid.org/0000-0002-8698-6442 – htzcouto@usp.br

V Biólogo, Dr., Pesquisador Científico, Instituto de Botânica, São Paulo, SP, Brasil

https://orcid.org/0000-0002-9601-2350 – njunior@ibot.sp.gov.br

RESUMO

Áreas protegidas por lei representam uma das estratégias para conservação da biodiversidade, principalmente em regiões sob forte pressão antrópica. Porém, muitas dessas áreas protegidas apresentam barreiras impeditivas à regeneração natural e conhecê-las torna-se primordial. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi verificar o potencial de regeneração de um plantio de restauração realizado em uma Unidade de Conservação, por meio da quantificação do aporte de diásporos e da formação de indivíduos jovens. Para isso, foram instalados coletores de sementes e parcelas de regeneração natural num plantio realizado no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, São Paulo, SP. Foram identificadas 54 espécies (41 arbóreas) e registrados 24.033 propágulos (17.775 da espécie invasora Urochloa decumbens) e quanto ao recrutamento de plântulas foram 58 espécies (16 arbóreas). O potencial de regeneração foi influenciado pelas condições da área, e a forte presença de gramíneas invasoras, aliada à baixa diversidade de espécies arbóreas identificadas na chuva de sementes e no recrutamento de plântulas, tem comprometido o processo.

Palavras-chave: Chuva de sementes; Gramíneas invasoras; Recrutamento de plântulas; Áreas protegidas

ABSTRACT

Protected areas by the law represent one of the strategies for biodiversity conservation, especially in regions under strong human pressure. However, many of these protected areas present barriers that prevent natural regeneration and knowing them becomes essential. In this sense, the objective of this work was to verify the regeneration potential of a restoration plantation carried out in a Conservation Unit, by quantifying the contribution of diaspores and the formation of young individuals. Seed collectors and natural regeneration plots were launched in a plantation carried out at the Fontes do Ipiranga State Park, São Paulo, SP. 54 species (41 arboreal) were identified and 24,033 propagules (17,775 of the invasive species Urochloa decumbens) were registered and regarding seedling recruitment there were 58 species (16 arboreal). The regeneration potential was still greatly influenced by the conditions of the area and the strong presence of invasive grasses, combined with the low diversity of tree species identified in the seed rain and in the recruitment of seedlings, had compromised the process.

Keywords: Seed rain; Invasive grasses; Seedling recruitment; Protected areas

1 INTRODUÇÃO

As florestas tropicais são formações complexas, pela sua alta diversidade e rede de interações e dinâmica, porém isso as torna frágeis e vulneráveis, sujeitas a distúrbios de intensidade, duração e frequência variáveis (CHAZDON; URIARTE, 2016). Portanto, é necessária a proteção de florestas maduras remanescentes e fragmentos florestais, além da restauração florestal das áreas degradadas com o objetivo de manutenção ou ampliação da sua biodiversidade. Nesse sentido, a restauração florestal tem como objetivo aumentar a diversidade específica e superar as barreiras, como a competição com espécies invasoras e a baixa qualidade do solo, que impedem a regeneração natural após o plantio de mudas (HOOPER et al., 2005; BRANCALION et al., 2010; BARBOSA et al., 2017), assim como o restabelecimento de interações ecológicas complexas e as funções a elas associadas (SILVA et al., 2015).

A regeneração natural de florestas tropicais é, portanto, um processo extremamente importante para a sustentabilidade dos ecossistemas (LAMB et al., 2005; BRANCALION et al., 2015; CHAZDON e URIARTE, 2016) e essas barreiras impeditivas, como a ausência ou baixa disponibilidade de propágulos, falhas no recrutamento de plântulas, fatores de estresse, falhas no estabelecimento de interações, entre outros aspectos (ENGEL; PARROTA, 2003; BARBOSA; PIZO, 2006; RODRIGUES et al., 2011) representam um empecilho. Quando os obstáculos para a regeneração natural prevalecem, mesmo em áreas protegidas, a sucessão estagna e um novo tipo de ecossistema se desenvolve, geralmente dominado por gramíneas ou samambaias invasoras, prorrogando a recuperação da estrutura, da composição e dos serviços ecossistêmicos da floresta, tornando-se necessária a intervenção humana ativa, muitas vezes custosa, para que os processos sucessionais do ecossistema retornem (LAMB et al., 2005).

Assim, o estudo do potencial de regeneração em área de restauração florestal apresenta-se como uma importante ferramenta para o entendimento dos processos ligados à sucessão ecológica (FONSECA et al., 2017), particularmente em áreas protegidas e sob forte pressão antrópica. Diante desse cenário, Unidades de Conservação e outras áreas protegidas por lei representam, muitas vezes, a única estratégia para a conservação dos ecossistemas e das espécies que os constituem, a proteção de espécies ameaçadas, preservação de serviços ecossistêmicos ou ainda por razões culturais e sociais. O sucesso dessa estratégia de adoção de áreas protegidas é geralmente avaliado considerando apenas aspectos da flora, quanto à diversidade de espécies e à presença de espécies endêmicas e ameaçadas (RODRIGUES et al., 2004), pouco sendo considerados os demais seres vivos. No entanto, Geldmann et al. (2013) relatam sobre a falta de correlação entre o impacto das áreas protegidas sobre os habitats e espécies, sendo alarmante o pouco conhecimento quantitativo sobre o manejo e a melhora das condições da área protegida. Avaliar o aporte de propágulos, bem como o recrutamento inicial das plântulas, propiciaria a caracterização da dinâmica pela qual determinada Unidade de Conservação estaria passando.

Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo quantificar o aporte de diásporos e sua relação com a formação de indivíduos jovens, de forma correlacioná-los com o processo de regeneração natural de um plantio realizado em uma Unidade de Conservação urbana.

2 MATERIAL E MÉTODO

2.1 Área de estudo

A área de estudo está inserida no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), situado entre os paralelos 23˚38΄08"S e 23˚40΄18"S e meridianos 46˚36΄48"W e 46˚38΄00"S na região sudeste do Município de São Paulo (SP). É um dos maiores fragmentos florestais tropicais inseridos em área urbana, com 526 ha, protegendo nascentes e corpos d’água da bacia do Riacho do Ipiranga, porém sujeito a inúmeras perturbações como efeito de borda, incêndios, ilhas de calor, invasão biológica e poluição (SÃO PAULO, 2008). De acordo com os parâmetros que constam no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL, 2000), é uma unidade de proteção integral e, como tal, tem como objetivo principal a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica, permitindo a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação, recreação e turismo ecológico. O PEFI está inserido na zona do planalto paulista, de domínio do bioma de Mata Atlântica, pertencente à Floresta Ombrófila Densa e representantes da Floresta Estacional Semidecidual, com clima Cwb, segundo Koppen (BARROS et al., 2002; SANTOS; FUNARI, 2002; SÃO PAULO, 2008).

A área específica desta pesquisa refere-se a um plantio compensatório de seis hectares, em espaçamento 2 m x 2 m, realizado em 2015, no qual foram utilizadas 15.040 mudas, pertencentes a 98 espécies (46 pioneiras e 52 não pioneiras), plantio este que foi realizado em uma Zona de Uso Conflitante do PEFI. Seis meses após a execução do plantio, foram instalados os coletores de propágulos e as parcelas de recrutamento de plântulas para avaliar o potencial regenerativo da área.

2.2 Método

Para avaliar o aporte de propágulos, foram instalados 27 coletores de madeira, com 1,0m x1,0m, fundo com tela de sombreamento70% (175 g.m-2), suspensos 15 cm do solo e distribuídos de maneira sistematizada na área de seis hectares. A sistematização teve como objetivo verificar o efeito de borda do entorno sobre o plantio. Foram determinadas três áreas (relativas às três bordas do plantio) e, em cada uma, foram alocadas três linhas com três coletores em cada, de forma a totalizar os 27 coletores de chuva de sementes. As linhas distaram 5, 25 e 50 metros a contar da borda do plantio, sendo que os coletores distaram, no mínimo, 20 m entre si. Foi realizada coleta mensal do material depositado, por um período de dois anos.

No caso da avaliação do processo de regeneração natural, foram instaladas 27 parcelas, distribuídas nas mesmas faixas onde foram depositados os coletores de chuva de sementes, portanto distantes, também, pelo menos 20 m entre si. As parcelas, com dimensão de 1,0m x 1,0m, foram delimitadas com o uso de estacas e fitilho. A periodicidade da coleta foi semestral, por um período de dois anos e, em cada coleta, foram quantificadas e identificadas, no próprio local, todas as plântulas com no mínimo 10 cm de altura, presentes nas parcelas e, no caso das espécies ruderais que formavam touceiras, foi considerada a porcentagem de ocupação nas parcelas. A identificação das plantas foi realizada, quando possível, no momento de coleta dos dados, sem que as plantas fossem removidas, para que não houvesse interferência sobre o desenvolvimento deste nas parcelas. Aquelas plantas, cuja identificação não foi possível no local, foram buscados exemplares fora da parcela, herborizados e levados ao Núcleo de Pesquisa Curadoria do Herbário do Instituto de Botânica para consulta às exsicatas e aos especialistas.

2.3 Análise dos dados

O material depositado nos coletores de chuva de sementes foi quantificado e separado por morfo-espécies até a identificação final das espécies. Após identificação das sementes e frutos, os propágulos foram classificados de acordo com a origem (nativa do Brasil ou exótica), hábito de vida (árvore ou outras formas), classe sucessional (pioneira e não pioneira), guildas de dispersão (zoocórica, anemocórica e autocórica), baseadas em Van Der Pijl (1982), e quanto à origem das sementes (autóctone e alóctone), ou seja, se o propágulo veio de espécies com exemplares presentes ou de espécies sem ocorrência na área, respectivamente.

Os indivíduos regenerantes nas parcelas foram classificados quanto à origem (nativa ou exótica) e hábito de vida (árvore ou outras formas).

A análise dos dados referentes ao aporte de propágulos e ao recrutamento de plântulas foi semelhante. Foram obtidos os valores referentes à quantidade absoluta de propágulos e de plântulas, além da riqueza (número de espécies). Os valores mensais e semestrais obtidos para fins de verificação da época com maior aporte de diásporos e maior regeneração, respectivamente, foram comparados por meio da Análise de Variância (ANOVA) e posterior teste de médias, utilizando o software Sisvar (FERREIRA, 2011).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Chuva de sementes

Ao longo dos dois anos, foram registrados 24.033 propágulos (890,11 propágulosm-2 ou 37,08 propágulosm-2mês-1), dos quais 17.775 pertencem a uma única espécie invasora (Urochloa decumbens) e apenas 5.961 são arbóreas (220,77 propágulosm-2 ou 9,20 propágulosm-2mês-1). Foram identificadas 54 espécies (27 famílias), sendo 41 espécies arbóreas, 37 nativas (5.630 sementes) e 4 exóticas (331 sementes), sendo 32 pioneiras, 19 zoocóricas e 15 alóctones (Tabela 1). Dentre as 27 famílias identificadas na chuva de sementes, Fabaceae teve a maior relação de espécies identificadas (09) e outras famílias não tiveram representatividade superior a quatro espécies neste estudo. A família Poaceae teve a maior quantidade de sementes amostradas, sendo 17.775 pertencentes a uma única espécie Urochloa decumbens, seguida da Moraceae com 1.271 sementes pertencentes a apenas duas espécies de Ficus sp. e Anarcadiaceae com 1.260 sementes, das quais 1.251 referem-se à Schinus terebinthifolia.

Tabela 1 – Quantidade de diásporos, ao longo dos meses e durante um ano, das espécies encontradas na chuva de sementes, classificados de acordo com o hábito de vida e origem

Table 1 – Number of diaspores, over the months and during a year, of the species found in the seed rain, classified according to the habit of life and origin

Família/Espécies

F

S

D

O

Meses

Total

S

O

N

D

J

F

M

A

M

J

J

A

Anacardiaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Schinus terebinthifolia Raddi

N

P

Z

AU

3

0

0

506

515

71

12

19

51

26

12

36

1251

Lithraea molleoides (Vell.) Engl.

N

P

Z

AU

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

9

0

9

Annonaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Duguetia lanceolata A.St.-Hil.

N

N

Z

AL

0

7

2

62

1

0

0

1

0

0

1

0

74

Annona sylvatica A.St.-Hil.

N

P

Z

AL

0

1

5

4

7

0

0

0

0

0

0

0

17

Arecaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Archontophoenix cunninghamiana

(H. Wendl.) H. Wendl. & Drude.

E

P

Z

AU

2

2

0

5

29

14

7

2

1

4

2

1

69

Asteraceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vernonia polyanthes (Spreng.) Less.

N

P

A

AU

136

149

3

0

0

0

0

0

0

0

0

0

288

Vernonanthura discolor

(Spreng.) H. Rob.

N

P

A

AL

0

0

0

0

3

0

56

655

53

14

5

1

787

Taraxacum officinale F.H. Wigg.

EO

-

-

-

0

0

0

0

0

0

0

52

0

0

0

0

52

Bignoniaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Handroanthus heptaphyllus

(Vell.) Mattos

N

N

A

AU

0

3

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

4

Amphilophium crucigerum

(L.) L. G. Lohmann

O

-

-

-

6

2

1

0

0

0

0

0

0

0

0

1

10

Handroanthus sp

N

N

A

AU

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

0

0

1

Bixaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bixa orellana var. leiocarpa

(Kuntze) Standl. & L. O. Williams

N

P

Z

AL

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

159

159

Clethraceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Clethra scabra Pers.

N

P

A

AL

0

0

0

0

0

101

0

0

0

0

0

0

101

Cluseaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Garcinia gardneriana

(Planch. &Triana) Zappi

N

N

Z

AL

0

0

1

1

0

2

0

1

0

0

0

0

5

Curcubitaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cayaponia sp

O

-

-

-

0

0

15

0

0

0

0

0

0

0

0

0

15

Euphorbiaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Croton urucurana Baill.

N

P

Au

AU

3

1

0

1

0

0

4

2

0

11

1

0

23

Croton floribundus Spreng.

N

P

Au

AU

0

0

0

18

2

0

0

0

0

0

0

0

20

Sebastiania commersoniana

(Baill.) L.B.Sm. & Downs

N

P

Au

AL

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

6

0

7

Fabaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Peltophorum dubium

(Spreng.) Taub.

N

P

Au

AU

33

28

2

5

1

1

3

1

22

4

5

1

106

Senna macranthera (DC. ex Collad.)

H. S. Irwin & Barneby

N

P

Au

AU

0

0

0

0

0

0

2

0

0

0

0

0

2

Cassia ferruginea (Schrad.)

Schrad. ex DC.

N

N

Au

AU

24

1

0

0

0

0

0

0

0

1

11

51

88

Mimosa scabrella Benth.

N

P

Au

AU

41

96

14

4

1

0

0

0

0

0

7

174

337

Mimosa sp

-

-

-

-

2

4

3

2

1

0

1

0

1

0

0

6

20

Piptadenia gonoacantha (Mart.)

J. F. Macbr.

N

P

Au

AU

2

1

0

1

0

0

0

0

0

0

0

1

5

Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze

N

P

Au

AU

0

9

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

10

Inga sp

N

P

Z

AU

0

2

6

13

0

0

0

0

0

0

0

0

21

Mimosa caesalpiniifolia Benth.

N

P

A

AL

0

0

0

0

0

0

0

0

80

127

43

72

322

Lauraceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lauraceae 01

-

-

-

-

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

5

0

5

Malvaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ochroma pyramidale

(Cav. ex Lam.) Urb.

N

P

A

AL

10

1

0

4

0

0

0

0

0

0

0

0

15

Heliocarpus popayanensis Kunth

N

P

A

AU

1

7

3

0

0

0

0

0

0

0

0

0

11

Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna

N

N

A

AU

0

0

0

2

0

5

0

0

1

0

9

13

30

Melastomaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tibouchina granulosa (Desr.) Cogn.

N

P

A

AL

8

4

6

7

4

0

48

15

6

4

7

1

110

Meliaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Melia azedarach L.

E

P

Z

AU

1

0

0

0

0

0

2

0

1

6

1

0

11

Moraceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficus sp 1

N

P

Z

AU

131

8

82

174

75

12

97

21

3

0

49

51

703

Ficus sp 2

N

P

Z

AU

60

79

3

214

108

64

5

13

0

1

7

14

568

Myrtaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Psidium sp

N

P

Z

AL

3

0

2

0

0

0

0

4

11

3

11

0

34

Eugenia sp

N

N

Z

AU

0

0

0

17

0

0

0

0

0

0

0

0

17

Myrtaceae 01

-

-

-

-

0

2

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

2

Myrtaceae 02

-

-

-

-

0

0

0

4

0

0

0

0

0

0

0

0

4

Phyllanthaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Hyeronima alchorneoides Allemão

N

P

Z

AL

21

0

0

0

0

60

77

4

12

39

53

22

288

Pinaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pinus sp

E

P

A

AU

9

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

32

41

Pinus sylvestris L.

E

P

A

AU

11

0

0

4

1

0

1

72

80

21

4

16

210

Poaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Urochloa decumbens

(Stapf) R.D. Webster

O

-

-

-

475

1804

1625

1222

868

2019

2450

1308

1676

1364

1354

1587

17752

Primulaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Myrsine gardneriana A.DC.

N

P

Z

AU

0

3

0

61

40

5

1

0

0

0

0

0

110

Rubiaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Psychotria viridis Ruiz & Pav.

N

P

A

AL

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

41

16

57

Santalaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Phoradendron sp

O

-

-

-

55

10

1

0

0

0

0

0

0

1

4

18

89

Sapindaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sapindus saponaria L.

N

N

Z

AL

0

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

Allophylus edulis (A. St.-Hill. et al.) Hieron. ex Niederl.

N

P

Z

AU

0

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

Solanaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Solanum americanum Mill.

O

-

-

-

0

1

1

32

41

0

0

9

0

0

0

0

84

Symplocaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Symplocos sp

N

N

Z

AL

0

1

0

1

1

2

0

0

0

0

0

0

5

Verbenaceae

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Citharexylum myrianthum Cham.

N

P

Z

AU

0

0

0

0

16

10

15

1

0

1

0

0

43

Não identificadas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Morfoespécie 01

-

-

-

-

0

0

1

0

0

0

0

0

26

0

0

0

27

Morfoespécie 02

-

-

-

-

1

0

0

0

1

0

1

0

0

0

0

1

4

Morfoespécie 03

-

-

-

-

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

8

0

8

Total sementes

 

 

 

 

1038

2228

1778

2364

1716

2366

2782

2180

2024

1628

1655

2274

24033

Total espécies

 

 

 

 

23

27

21

25

20

13

18

18

14

17

23

22

54

Total sementes (excluindo

Urochloa decumbens)

 

 

 

 

563

424

153

1142

848

347

332

872

348

264

301

687

6281

Total espécies (excluindo

Urochloa decumbens)

 

 

 

 

22

26

20

24

19

12

17

17

13

16

22

21

53

Fonte: Autores (2020)

Em que: (F): N = árvore nativa, E = árvore exótica e EO = outra exótica; grupo sucessional (S): P = pioneira e NP = não pioneira; síndrome de dispersão (D): A = anemocoria, Au = autocoria, Z = zoocoria; e origem do propágulo (O): AU= autóctone, AL = alóctone.

Apesar do domínio quantitativo das sementes da gramínea invasora Urochloa decumbens na chuva de sementes, houve mais espécies nativas exóticas identificadas e ainda um crescente aporte de sementes na área, provavelmente devido ao remanescente florestal adjacente, ao início do processo de formação estrutural no local, oferecendo mudanças importantes quanto aos recursos de composição e estrutura de vegetação e oferta de abrigo e alimento à fauna. Isso amplia a quantidade de recursos de alimentos, bem como a estrutura da vegetação pela disponibilidade de poleiros e abrigo, atraindo um número maior de animais frugívoros com maior frequência à área plantada (CHAZDON; URIARTE, 2016).

Na fase inicial de colonização e formação de estrutura da vegetação, na composição da chuva de sementes foram identificadas espécies pioneiras dominantes e autóctones, um padrão também observado por Barbosa e Pizo (2006), Melo et al. (2006) e Battilani (2010). Os maiores registros com relação às espécies arbóreas nativas, tanto para o número de sementes quanto para o número de espécies, foram referentes à síndrome de dispersão zoocórica, um padrão típico para florestais tropicais (HOWE; SMALLWOOD, 1982; CÔRTES; URIARTE, 2013).

Com relação às famílias identificadas, a mais rica devido ao número de espécies identificadas foi Fabaceae uma das mais representativas em espécies nas florestas estacionais semidecíduas sob domínio de Mata Atlântica nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil (LEITÃO-FILHO, 1987; OLIVEIRA-FILHO; FONTES, 2000). Poaceae foi a família que teve o maior número de sementes registradas no período, 74% da amostragem total da chuva de sementes, pertencentes à única espécie registrada (Urochloa decumbens) evidenciando que a área ainda apresenta condições favoráveis à invasão dessa espécie, o que provavelmente estava reduzindo a regeneração natural na área. A agressividade do gênero em plantios de restauração foi relatada por Santos et al. (2020).

Analisando a quantidade de propágulos e sua distribuição ao longo do período estudado (Figura 1), o número coletado por mês variou de 499 (18,48 propágulosm-2) a 1.795 (66,48 propágulosm-2) ou 0 a 393 (14,55 propágulosm-2) quando excluídas as sementes de Urochloa decumbens, sendo notória a interferência dessa espécie na área. Os maiores registros de propágulos no período foram nos meses de março, abril e dezembro de 2016, com a presença marcante das sementes de Urochloa decumbens, principalmente em abril do ano em questão. Excluindo o número de sementes de Urochloa decumbens, os maiores registros foram nos meses de dezembro de 2015, devido as sementes de Schinus terebinthifolia (393), Ficus sp. (215) e Duguetia lanceolata (61), e abril de 2016, devido às sementes de Vernonia discolor (655) e Pinus sylvestris (70), porém no mesmo período (dezembro e abril) do ano subsequente, o número de sementes amostradas (excluindo a Urochloa decumbens) foi muito inferior (menos que a metade). Não houve efeito da distância dos coletores de chuva de sementes e das parcelas de regeneração a partir da borda do plantio, razão pela qual foram avaliados conjuntamente.

Figura 1 – Número de sementes amostradas mensalmente durante dois anos, incluindo e excluindo Urochloa decumbens, nos coletores distribuídos ao longo da área de plantio no PEFI (SP). Valores médios seguidos pela mesma letra não diferem entre si em nível de 5% pelo teste de Scott-Knott

Figure 1 – Number of seeds sampled monthly and during two years, including and excluding Urochloa decumbens, in the collectors distributed throughout the planting area in PEFI (SP). Average values followed by the same letter do not differ by 5% using the Scott-Knott test

Fontes: Autores (2020)

Já com relação à quantidade e distribuição das espécies ao longo do período estudado (Figura 2), o número variou de sete (0,26 espéciesm-2) a 22 (2,45 espéciesm-2), sendo que Urochloa decumbens foi registrada em todas as coletas. Os meses que tiveram os maiores registros de espécies amostradas no período foram outubro de 2016 e julho de 2017, respectivamente 22 e 21 espécies. Em outubro de 2016, foi registrado o dobro de espécies (22) quando comparado com o registro de espécies em outubro de 2015 (11 espécies) e julho de 2017 tendo o registro de 21 espécies. Também se observa quase o dobro no mesmo mês do ano anterior (13 espécies).

Figura 2 – Número de espécies amostradas mensalmente, e durante dois anos, nos coletores distribuídos ao longo da área de plantio no PEFI (SP). Valores médios seguidos pela mesma letra não diferem entre si em nível de 5% pelo teste de Scott-Knott

Figure 2 – Number of species sampled monthly, and during two years, in the collectors distributed throughout the planting area in PEFI (SP). Average values followed by the same letter do not differ by 5% using the Scott-Knott test

Fonte: Autores (2020)

Os maiores registros de propágulos (excluindo as sementes de Urochloa decumbens) ocorreram em épocas chuvosas e de elevadas temperaturas, o que ocorre no final da primavera estendendo-se até o final do verão na região onde o PEFI está inserido (SANTOS; FUNARI, 2002). Em dezembro de 2015, o número elevado de sementes ocorreu devido à Schinus terebinthifolia e Ficus sp., que frutificaram no período, atraindo a fauna dispersora de sementes e aumentando a possibilidade de outras espécies (como a D. lanceolata) chegarem a área plantada. Em abril de 2016, o número de sementes ocorreu devido à dispersão de espécies anemocóricas (Vernonia discolor e Pinus sylvestris) favorecida pela seca desse período. O conhecimento da variação do aporte de sementes, ao longo de um período determinado e superior a um ano, é fundamental para a compreensão dos processos reprodutivos e de dinâmica da vegetação, fornecendo informações importantes sobre abundância e riqueza (GROMBONE-GUARATINI; RODRIGUES, 2002), aumentando as chances de sementes de espécies com baixa densidade reprodutiva ou de limitada dispersão de sementes de serem amostradas (BARBOSA; PIZO, 2006). De acordo com Battilani (2010) e Silva et al. (2018), as variações no aporte de sementes e espécies zoocóricas de florestas tropicais estão associadas a fatores ambientais, como umidade, temperatura e severidade da sazonalidade climática.

A restauração florestal sofre influências da paisagem onde está inserida. De acordo com Leite et al. (2013), em levantamento realizado em trabalhos de restauração em diversas paisagens no mundo, 84% dos estudos demonstram que elas podem exercer uma influência positiva sobre a eficácia da restauração. Contudo, neste caso, fica evidente a vulnerabilidade da área em processo de restauração em decorrência da expressiva quantidade de sementes da gramínea exótica invasora (Urochloa decumbens) presente na área plantada.

3.2 Recrutamento de plântulas

Ao longo dos dois anos foram registrados cerca de 70 indivíduos regenerantes por semestre, o correspondente a 2,61 plântulasm-2. No primeiro ano observou-se uma crescente ocupação da área relacionada à quantidade de indivíduos, 52 plântulas registradas em fevereiro de 2016 e 121 plântulas em agosto de 2016, assim como aumentou a riqueza de espécies identificadas, respectivamente 30 e 36 espécies. Depois disso, em fevereiro e agosto de 2017, o número de plântulas e de espécies identificadas nas parcelas diminuiu, respectivamente, 60 indivíduos e 21 espécies e 49 indivíduos e 20 espécies (Tabela 2).Notou-se que entre o primeiro e o último registro de plântulas houve redução em 50% de plântulas pertencentes a outros hábitos de vida que não a arbórea e considerável aumento (em 100%) do registro e ocupação por espécies arbóreas. Foram identificadas, no período, 58 espécies (18 famílias), das quais apenas 16 são arbóreas, sendo quatro autóctones a área (Acnistus arborescens, Erythrina crista-galli, Eugenia uniflora e Vernonia phosphorica) e outras três também identificadas na chuva de sementes (Mimosa sp., Solanum americanum e Vernonia sp.). Dentre as famílias com maior representatividade destacaram-se Asteraceae, com 21 espécies, Fabaceae, com oito espécies, e Poaceae, com seis espécies.

Tabela 2 – Quantidade de plântulas, coletadas a cada seis meses, das espécies encontradas na regeneração natural, classificadas de acordo com a hábito de vida (H) e a origem (O)

Table 2 – Number of seedlings, collected every six months, of the species found in natural regeneration, classified according to the habit of life (H) and source (O)

Semestre

H

O

Fev/16

Ago/16

Fev/17

Ago/17

Araliaceae

 

 

Hydrocotyle sp

O

N

5

Asteraceae

 

 

Achyrocline satureioides (Lam.) DC.

O

N

1

3

1

Artemisia cf. verlotorum Lamotte

O

N

1

Baccharis dracunculifolia DC.

T

N

3

8

7

5

Bidens alba (L.) DC.

O

N

1

1

Bidens pilosa L.

O

N

1

4

8

4

Cyrtocymura cf scorpioides (Lam.) H.Rob.

T

N

1

Eclipta alba L.

O

N

5

Elephantopus mollis Kunth.

O

N

10

Emilia sonchifolia (L.) DC. ExWight

O

N

1

20

1

4

Galinsoga cf quadriradiata Ruiz &Pav.

O

N

1

Gamochaeta americana (Mill.) Wedd.

O

N

1

Gochnatia polymorpha (Less.) Cabr.

T

N

2

2

Mikania cf. cordifolia(L.f.) Willd.

O

N

1

2

Parthenium hysterophorus L.

O

N

1

Senecio brasiliensis Less.

O

N

5

Sphageneticola trilobata (L.) Pruski Wedelia paludosa DC.

O

N

3

1

1

Symphyopappus itatiayensis (Hieron.) R.M. King & H. Rob.

T

N

Synedrella nodiflora (L.) Gaertn.

T

N

2

1

10

6

* Vernonanthura phosphorica Less.

T

N

1

2

** Vernonia sp

T

N

3

6

5

9

Youngia japonica (L.) DC.

O

E

13

3

4

Blechnaceae

 

 

Blechnum serrulatum Rich.

O

N

2

2

Cyperaceae

 

 

Cyperus sp

O

N

5

1

Rhynchospora corymbosa (L.) Britton

O

N

6

2

Euphorbiaceae

 

 

Alchornea sidifolia Müll. Arg.

T

N

1

Croton lundianus (Didr.) Müll. Arg.

O

N

2

4

5

1

Euphorbia parviflora L.

O

E

1

Ricinus communis L.

O

E

1

Fabaceae

 

 

Chamaecrista rotundifolia (Pers.) Greene

O

E

1

Crotalaria sp

O

N

1

Desmodium cf adscendens (Sw.) DC.

O

N

2

3

1

* Erythrina crista-galli L.

T

N

2

Indigofera cf. suffruticosa Mill.

O

N

2

1

1

2

** Mimosa sp

T

N

1

Neonotonia wightii (Wight & Arn.) Lackey

O

E

Trifolium repens L.

O

N

1

Iridaceae

 

 

Sisyrinchium sp

O

N

1

Lamiaceae

 

 

Hyptis sp

O

N

2

Lythraceae

 

 

Cupheacfmesostemon (Koehne) L.

O

N

2

2

Malvaceae

 

 

Sida cf rhombifolia

T

N

1

1

Melastomataceae

 

 

Miconia sp

T

N

1

1

Tibouchina granulosa (Desr.) Cogn.

T

N

1

1

5

3

Myrtaceae

 

 

* Eugenia uniflora L.

T

N

1

Ochnaceae

 

 

Sauvagesia erecta L.

O

N

1

1

1

Phyllanthaceae

 

 

Phyllanthus tenellus Roxb.

O

N

1

3

Plantaginaceae

 

 

Plantago major L.

O

E

1

Poaceae

 

 

Cynodum cf dactylum(L.) Pers.

O

N

Eleusine indica (L.) Gaertn.

O

E

Melinis minutiflora P. Beauv.

O

E

1

1

Panicum maximum Jacq.

O

N

7

Paspalum sp

O

N

** Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster

O

E

79%

87%

67%

62%

Rubiaceae

 

 

Diodia sp

O

N

2

Richardia sp

O

N

1

Solanaceae

 

 

* Acnistus arborescens (L.) Schltdl.

T

N

1

** Solanum americanum Mill.

O

N

2

4

1

Solanum granuloso-leprosum Dunal

T

N

1

outras gramíneas

 

 

0%

20%

22%

18%

Total de plântulas

52

121

60

49

Total de espécies

30

36

21

20

Fonte: Autores (2020)

Em que: (F): T = árvore/arbusto e O = outras; e origem da espécie (O): N = nativa e E = exótica.

A evidente ocupação e recrutamento de regenerantes, após o plantio, foi constatada nos levantamentos de fevereiro e agosto de 2016 devido à crescente ocupação do espaço, tanto em porcentagem pelas gramíneas, especialmente pela invasora Urochloa decumbens, quanto por quantidade de plântulas e diversidade de espécies identificadas. Depois disso, nos levantamentos realizados em fevereiro e agosto de 2017, o número de plântulas e espécies registradas diminuiu, provavelmente devido à alta competição entre indivíduos e espécies presentes no local, bem como pelo sombreamento da área proporcionado pelo crescimento e cobertura de copa das mudas de espécies arbóreas plantadas no local. Assim, espécies colonizadoras iniciais, tal como a ocupação da Urochloa decumbens registrada no primeiro ano do plantio de mudas, podem inibir a ocupação por outras espécies devido à competição entre elas no local, retardando a substituição de espécies. Contudo, algumas espécies colonizadoras, tais como as arbóreas pioneiras, podem auxiliar na criação de condições que favoreçam a ocupação por outras espécies devido à eliminação de gramíneas invasoras, fato constatado em decorrência da intervenção antrópica por meio do plantio das mudas e o posterior crescimento destas após um ano. Essa mato-competição tem sido apontada como um dos principais problemas em plantios de restauração (RUIZ-JANSEN; AIDE, 2005; CHAVES et al., 2015; SANTOS et al., 2020).

Dentre as 58 espécies identificadas no período, 16 são arbóreas, das quais sete já haviam sido registradas no local (Actinistus arborescens, Erithryna crista-galli, Eugenia uniflora, Mimosa sp., Solanum americanum, Vernonanthura phosphorica e Vernonia sp.) e outras nove registadas como novas na área em processo de restauração florestal. Assim, resultados relacionados ao recrutamento de plântulas, especialmente em florestas tropicais, mostram que para que esse evento ocorra são necessárias boas condições locais para o estabelecimento de espécies arbóreas, bem como contínua dispersão de sementes da vegetação de áreas próximas na paisagem (SILVA et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2015; CHAZDON; URIARTE, 2016). Então, a densidade do recrutamento de plântulas é reflexo do estado sucessional da floresta e apenas o plantio de árvores não garante que espécies lenhosas irão regenerar naturalmente a partir da paisagem circundante. Asteraceae foi a família de maior representatividade na amostragem. Isso ganha muita importância pelo fato desta representar cerca de 10% da flora mundial (BREMER, 1994). Outra família muito representativa na amostragem foi Fabaceae, uma das mais ricas em espécies nas florestas estacionais semidecíduas de domínio de Mata Atlântica (LEITÃO-FILHO, 1987; OLIVEIRA-FILHO; FONTES, 2000). Poaceae, também muito presente, habita principalmente locais abertos, como campos naturais e antrópicos, mas também sub-bosques, onde desempenham papel ecológico importante no revestimento do solo e ciclagem de nutrientes (SHIRASUNA et al., 2013).

Sendo assim, torna-se evidente a importância do monitoramento de longo prazo dentro e fora de áreas protegidas, não apenas devido aos processos antrópicos, mas também aos processos ecológicos naturais que podem influenciar as mudanças populacionais (STEM et al., 2005; SINCLAIR et al., 2007; WESTERN et al., 2009). Da mesma forma, plantios de restauração, prinipalmente com alta diversidade, podem atuar como catalisadores da sucessão secundária, incentivando o processo de regeneração natural (VIANI et al., 2010).

4 CONCLUSÕES

Apesar do número considerável de espécies amostradas na chuva de sementes, na sua grande maioria composta por indivíduos de hábito arbóreo, numericamente houve a presença maciça da espécie invasora Urochloa decumbens. No que diz respeito à regeneração natural, a participação das sementes de espécies arbóreas no total amostrado diminuiu comparativamente a chuva de sementes. Os registros observados evidenciam o início de um processo de regeneração natural, estimulado pelos próprios indivíduos plantados e pelo remanescente florestal presente nessa Unidade de Conservação. Contudo, apesar desse potencial, foi verificado que a Unidade de Conservação se encontra sob forte pressão, principalmente por parte das espécies herbáceas invasoras. Sendo assim, como forma de incentivo ao processo de regeneração, são necessárias medidas de manejo dessas espécies invasoras, para que os diásporos das espécies arbóreas nativas presentes tenham condições para se estabelecer e aumentar a diversidade local.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à BR Consultoria Ambiental.

REFERÊNCIAS

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Contribuição de Autoria

1 – Karina Cavalheiro Barbosa

Conceituação, Curadoria de dados, Análise Formal, Investigação, Visualização de dados, Escrita – primeira redação

2 – Eduardo Luis Martins Catharino

Análise Formal, Investigação, Metodologia, Supervisão, Escrita – primeira redação

3 – Luiz Mauro Barbosa

Obtenção de financiamento, Investigação, Administração do projeto

4 – Hilton Thadeu Zarate do Couto

Análise Formal, Investigação, Metodologia, Visualização de dados

5 – Nelson Augusto dos Santos Junior

Conceituação, Análise Formal, Investigação, Metodologia, Supervisão, Visualização de dados e Escrita – revisão e edição