Universidade Federal de Santa Maria

Voluntas, Santa Maria, v.12, n.1, p. 01-18, jan/abril 2021

DOI: 10.5902/2179378664505

ISSN 2179-3786

Recebido: 01/03/2020 • Aceito: 19/04/2021 • Publicado: 26/04/2021

Nietzsche e Husserl: uma aproximação fenomenológica

Nietzsche and Husserl: a phenomenological approach

Elias Francisco Fontele DouradoI

I Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil

E-mail: eliasfdourado@gmail.com - ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4677-6926

RESUMO

O presente artigo pretende investigar a possível articulação entre o pensamento filosófico de Friedrich Nietzsche e a fenomenologia de Edmund Husserl. Para tanto, usaremos autores internacionais que abordam o tema e indicam a possibilidade da relação entre eles. Usaremos como principal referência a pesquisa de Christine Daigle, com o apoio teórico de Babette Babich. Para melhor abordarmos o tema, faremos uma introdução à fenomenologia, a fim de colocarmos em relação os conceitos de Husserl com os de Nietzsche.

Palavras-chave: Fenomenologia; Intuição; Percepção; Intencionalidade; Husserl; Nietzsche

ABSTRACT

This article aims to investigate the possible link between Friedrich Nietzsche’s philosophical thinking and Edmund Husserl’s phenomenology. For that, we will use international authors who approach the theme and indicate the possibility of the relationship between them. We will use Christine Daigle’s research as the main reference, with the theoretical support of Babette Babich. To better approach the topic, we will make an introduction to phenomenology, in order to put Husserl’s concepts in relation to those of Nietzsche.

Keywords: Phenomenology; Intuition; Perception; Intentionality; Husserl; Nietzsche

NIETZSCHE COMO FENOMENÓLOGO?

Em primeiro lugar, devemos situar o nosso campo de investigação. Como podemos falar sobre Nietzsche e uma possível relação de seu pensamento com a fenomenologia husserliana? O que permite tal análise? Temos aqui, por objetivo geral, a tarefa de rastrear os momentos mais apropriados na filosofia de Nietzsche e na fenomenologia de Husserl que possibilitam uma aproximação entre os dois pensadores. Apesar de escassa, temos uma literatura relevante que trata do assunto. Rudolf Boehm, Christine Daigle, Babette Babich e Alexander Trudzik são alguns exemplos de pensadores internacionais que já investigaram a possível aproximação do pensamento de Nietzsche com o método fenomenológico de Husserl. Todos esses autores serão usados no presente artigo, pois assim teremos uma base capaz de suportar análises mais precisas acerca do nosso problema. Há a possibilidade de relacionar Nietzsche com a fenomenologia husserliana? Sim. A resposta a isso se mostra nos trabalhos dos autores que referimos até então.

Elucidada a primeira tarefa, isto é, a de saber se é possível uma relação entre Nietzsche e a fenomenologia de Husserl, agora devemos mostrar o conteúdo dessa possível relação. Como exatamente Nietzsche pode ser visto como um filósofo próximo à fenomenologia desenvolvida por Husserl? Deparamo-nos com a primeira dificuldade: a fenomenologia a que nos referimos aqui, a saber, a de Edmund Husserl, é fundada em 1900 e 1901, com a publicação de suas Investigações Lógicas. Nietzsche morre em 1900. Não há, em vida, um contato real entre a filosofia dos dois autores. Isso, porém, é o menor dos problemas. O que possibilita a aproximação entre os dois filósofos é o pensamento filosófico de cada um, é sobre isso que trataremos, de modo que a primeira dificuldade desaparece. Feita essa consideração, a fenomenologia que aqui trataremos é a de Edmund Husserl. O que há de comum no pensamento dos dois autores? Podemos apreciar esta primeira colocação, de Rudolf Boehm:

Para Husserl, assim como para Nietzsche, o que está em jogo nessa crise é o ideal socrático-platônico da filosofia e o conhecimento herdado e renovado da era moderna pelo Ocidente. Para Husserl e Nietzsche, esse ideal provou ser abstrato e irrealizável; as tentativas que têm sido empreendidas - desde o início do mundo moderno (definido precisamente por essas tentativas) - para realizar esse ideal têm, por um lado, engendrado construções meramente grandiosas, cujo sentido se distancia cada vez mais de um sentido que a vida real exigiriaI.

Vejamos o que a citação nos diz. Primeiramente, tanto Nietzsche quanto Husserl consideram que o ideal filosófico legado pela tradição socrática-platônica está em crise. Trudzik reconhece o esforço de Boehm, e reforça: “Boehm, mencionado acima, trouxe isso à luz, apontando que apesar de assumirem lados diferentes na disputa entre vida e razão, os dois filósofos convergiram para o pensamento de que o racionalismo europeu, tal como era, havia chegado a um ponto de crise”II. Essa é uma primeira aproximação entre os dois pensadores. Em sequência, Boehm nos diz que ambos os filósofos veem nessa tradição um distanciamento com o mundo real. A filosofia deve, portanto, passar por uma radicalização em seu modo de pesquisar, só assim ela pode se livrar das confusões legadas pela tradição socrática-platônica. Nesse radicalizar, temos outro ponto em comum entre Nietzsche e Husserl. Vejamos com Boehm:

Devemos demonstrar de fato que a concepção husserliana de um novo racionalismo alicerçado em uma referência de volta à subjetividade absoluta - a concepção husserliana de uma nova “filosofia primeira” que não seria mais metafísica, mas “fenomenologia transcendental” - corresponde, em sua essência, exatamente com a tarefa da transvaloração, como a indicamos após a conclusão de Nietzsche sobre a história do “erro mais longo” da humanidadeIII.

A ideia principal da citação é a de que a fenomenologia transcendental de Husserl corresponde, em sua essência, ao projeto de Nietzsche da transvaloraçãoIV de todos os valores, isto é, os dois pensadores são motivados a escrever a fim de radicalizar a tradição, abrindo caminho a uma nova forma de compreensão do mundo e do ser humano. Nietzsche diz: “Só se alcança uma transvaloração dos valores se existe uma tensão de novas necessidades, de novos necessitados, que sofrem com os antigos valores”V. É por sofrer com os valores de sua época que Nietzsche busca fundar uma transvaloração de todos os valores. De modo similar, Husserl não fica satisfeito com a filosofia de sua época, em especial com a vertente do psicologismoVI. Para sair daquilo que Husserl considera como confusões psicologistas, ele vai suspender todos os pressupostos para buscar a fundação de uma nova forma de ver a filosofia, de conhecer. Husserl chama essa suspensão de “epoché”, que é justamente o nome grego para “suspensão”. Conforme Zahavi: “epoché é a designação para o nosso alijamento de um posicionamento metafísico ingênuo, e ela também pode ser comparada, com isso, com um portão de entrada filosófico”VII. Realizada a “epoché”, Husserl então vai, para usar o vocabulário nietzschiano, “transvalorar” inúmeros conceitos filosóficos, partindo da máxima de que devemos nos ater às coisas como são elas mesmas, como aparecem por si mesmas.

Há, portanto, uma motivação comum aos dois filósofos, motivação esta que se revela na radicalização do que se compreende por filosofia até então. Mais do que uma motivação, porém, devemos analisar uma aproximação na esfera conceitual. Como Nietzsche e Husserl se aproximam na esfera dos conceitos? Veremos a aproximação feita pelas pesquisadoras Christine Daigle e Babette Babich. Como preâmbulo, porém, podemos conferir uma elucidação mais esquemática ao que seja a fenomenologia de Husserl, pois só assim entenderemos como a aproximação dos conceitos se dá. Não levaremos o método fenomenológico de Husserl ao limite, veremos apenas um pouco de seu posicionamento inicial.

O que é fenomenologia?

Vejamos o que Dartigues diz sobre a fenomenologia: “Segundo a etimologia, a fenomenologia é o estudo ou a ciência do fenômeno. Como tudo o que aparece é fenômeno, o domínio da fenomenologia é praticamente ilimitado e não poderíamos, pois, confiná-la numa ciência particular”VIII. Em suma, fenomenologia trata daquilo que aparece, dos diversos modos como aparece e como esse aparecer se dá naquele que se põe ante o que aparece. A etimologia nos interessa e ajuda a compreender o escopo do nosso objeto de estudo, isto é, o domínio daquilo que aparece. A fenomenologia de Husserl se encaixa no que o significado etimológico diz, mas é impossível reduzir o trabalho de Husserl a um texto apressado de dicionário. Temos que ver, aqui, justamente aquilo que situa a fenomenologia de Husserl em um domínio particular, evitando a generalização etimológica.

Husserl pretendia alcançar um conhecimento sólido sobre o mundo. Para tanto, como vimos, ele começa pela suspensão de todos os pressupostos, ele realiza a “epoché”. Uma vez realizada, o que a matemática nos permite conhecer? O que a física nos permite conhecer? E, igualmente relevante, o que a filosofia nos permite conhecer? Husserl visava definir com clareza os objetivos da ciência e do conhecimento, como podemos ver em suas “Investigações Lógicas”:

Essencialmente uma sóIX são as verdades de uma ciência se o seu enlace assenta sobre o que faz da ciência antes de mais ciência; e isto, como sabemos, é o conhecimento a partir do fundamento, logo, da explicação ou fundamentação (em sentido pleno). A unidade essencial das verdades de uma ciência é a unidade da explicação. Toda explicação, contudo, aponta para uma teoria e encontra a sua conclusão no conhecimento das leis fundamentais, dos princípios explicativosX.

O que Husserl quer explicar? Ora, explicar o que fundamenta um conhecimento sólido em filosofia, não somente, quer explicar como a filosofia, em especial, a fenomenologia, é o fundamento para o conhecimento em geral. Sacrini pode nos ajudar:

Husserl insistirá em afirmar que uma das tarefas distintivas da fenomenologia é propiciar um tipo especial de fundamentação às ciências. Assim, parte da especificidade da fenomenologia (enquanto disciplina demarcada das demais ciências) está em explicitar os fundamentos do saber científicoXI.

Se a química estuda a composição e propriedades da matéria, há, antes, a aparição de seus objetos. Se a biologia estuda e descreve os organismos vivos, há, antes, a aparição desses organismos. Se a física estuda os fenômenos naturais, como o movimento, por meio da observação, neste observar há, precisamente, a aparição de seus objetos. A ciência é guiada pelos lemas da observação e experimentação. O observar é, antes de tudo, um olhar atento para as coisas que aparecem, um olhar que é fundamental, quer dizer, que funda, que inicia, que possibilita as condições para um estudo. Nesse sentido, a fenomenologia não pode ser uma ciência como as demais. É assim que Husserl define:

O que a diferencia das ciências apriorísticas objetivas é o seu método e sua finalidade. A fenomenologia procede esclarecendo intuitivamente, determinando e diferenciando o sentido. Ela compara, diferencia, conecta, põe em relação, divide em partes, ou separa em momentos. Mas tudo no puro intuir. Ela não teoriza nem matematiza; ela não realiza, pois, esclarecimento algum no sentido da teoria dedutiva. Na medida em que ela esclarece os conceitos fundamentais e as proposições fundamentais, que regem a possibilidade da ciência objetivamente como princípios (mas que, no fim das contas, também transforma seus próprios conceitos fundamentais e princípios no objeto de esclarecimento reflexivo), ela termina onde a ciência objetivante surge. Portanto, ela é ciência em um sentido totalmente diferente e com tarefas totalmente diferentes e métodos totalmente diferentesXII.

Como primeira consideração vemos que a fenomenologia possui um método – e é justamente este que tira a fenomenologia de um mero estudo das aparições para um algo mais objetivo e definido. Se ela esclarece conceitos fundamentais e proposições fundamentais, há uma forma de conhecimento em jogo. Husserl chama a atenção para o “puro intuir”, isto é, de que operações como “dividir em partes”, “por em relação” e “diferenciar” são feitas na intuição. Se as operações fenomenológicas se dão no puro intuir, é precisamente a intuição que inicia o método. Husserl chama a atenção para o fato de que “A fenomenologia procede esclarecendo intuitivamente”, como nos mostra a citação acima. Husserl coloca na intuição, portanto, o próprio proceder da fenomenologia, a própria maneira que ela opera.

O que seria, pois, intuição? O que Husserl compreende por intuição? Primeiramente, podemos entender “intuição” em seu sentido dicionarizado, em latim, isto é, intuitio, ou seja, um “olhar para”, um “considerar”. Também podemos compreender por intus ire, quer dizer, ir para dentro, ao fundoXIII. Trata-se de uma forma de ver. A etimologia latina nos apresenta um sentido metafórico, de ir ao fundo das coisas, de aprofundar. Quer dizer, há a possibilidade de aprofundamento naquilo que se busca, a possibilidade de ir aos limites. Há um privilégio nesse modo de ver as coisas, uma possibilidade de ir além do que se costuma.

A palavra para “intuição” em grego é “epibolé”. Conforme o dicionário Perseus, “epibolé” denota o sentido de “apreensão direta”. “Intuição”, pois, é um “apreender diretamente”, um acesso direto àquilo que está sendo visto, posto que “intuir” é um “olhar para”, como já vimos. O que é que apreendo diretamente? Há de ser um algo, alguma coisa. O apreender, portanto, é um apreender direto de alguma coisa. “Intuição” também denota o sentido de “relação direta”, a nossa apreensão de uma coisa é uma relação direta com ela. Nicola Abbagnano sintetiza bem o significado de intuição e desse sentido de “relação direta”:

Relação direta (sem intermediários) com um objeto qualquer; por isso, implica a presença efetiva do objeto. A intuição foi entendida desse modo ao longo da história da filosofia, a começar por Plotino, que emprega esse termo para designar o conhecimento imediato e total que o Intelecto Divino tem de si e de seus próprios objetosXIV.

Ao contrário de Plotino, Husserl só utiliza a simples noção de “relação direta”, de “apreensão direta”. Intuição nada mais é que a relação direta com um objeto qualquer do mundo. Em seu texto “The notion of intuition in Husserl”, Jaakko Hintikka pode confirmar: “A intuição não é uma capacidade especial da mente humana. Intuitividade é simplesmente um rótulo para conhecimento imediato de qualquer tipoXV”. Isto é, intuição é simplesmente uma forma de conhecer diretamente, de apreender diretamente.

Por que o conceito de intuição nos interessa? Pelo fato de Husserl iniciar a fenomenologia por ele, esse é o itinerário de Husserl no livro “Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica”. Mas não só, o que nos interessa, sobremaneira, é o fato da intuição estar em uma conexão direta com a percepção. A análise dessa situação revelará em maior plenitude a possibilidade de uma aproximação conceitual entre Nietzsche e Husserl. Na citação a seguir, Husserl fala sobre “percepção”:

A intuição doadora na primeira esfera “natural” de conhecimento e de todas as suas ciências é a experiência natural, e a experiência originariamente doadora é a percepção, a palavra entendida em seu sentido habitual. Ter um real originariamente dado, “adverti-lo” ou “percebê-lo” em intuição pura e simples é a mesma coisaXVI.

Se a intuição doadora é a experiência natural, ao menos na primeira esfera natural de conhecimento, e esta é, originariamente, a percepção, como Husserl diz na citação, temos uma primeira articulação lógica do método: aquilo que aparece, aparece na intuição doadora, na experiência natural – e esta é acessada por nós pela percepção, isto é, pelo estar frente à frente com as coisas, diante da pessoalidade de cada coisa que se dá no mundo. Sendo assim, percepção nada mais é que “a experiência originariamente doadora”, como Husserl diz. A percepção é um ver direto do objeto que se mostra pessoalmente. Husserl é categórico no livro “Analysen zur passiven Synthesis”: “A percepção é a consciência de ver e ter o objeto em pessoaXVII”. Quer dizer, percepção é a consciência de ver o objeto pessoalmente, em sua pessoalidade. Vejamos como Fernandes contribui nesse caso: “A intuição se realiza de modo mais perfeito como percepção. Esta é a intuição mais pregnanteXVIII”. Quanto a isso, Husserl é categórico: “A percepção é o modo primordial da intuitividadeXIX”. Há também a seguinte passagem: “A percepção é o modo originário da intuição, ela expõe em originalidade primordial, ou seja, no modo da própria presençaXX”.

O que podemos concluir até então? Primeiramente, que a intuição é realizada de modo mais pregnante como percepção. Em seguida, que a percepção é a consciência de ver o objeto que aparece pessoalmente, em sua pessoalidade. Com isso, Husserl quer dizer que a fenomenologia é uma ciência que se atém àquilo que se mostra. Fernandes pode nos ajudar:

A fenomenologia, como conceito de método, significa um modo de caminhar, na investigação e busca de um saber, que recomeça, sempre de novo, da disposição do não saber. O princípio dos princípios deste método é: ater-se ao que se mostra, tal como se mostra. Trata-se de aprender a ver. É que, nem sempre, o que pressupomos saber se assenta, de fato, numa intuição clara e distinta. Muito do que falamos se baseia em pressuposições obscuras, vagas e difusas. Muitas das nossas ações e decisões mancam por falta de transparência. A fenomenologia diz, então, um propósito: “às coisas mesmas! ”. Isso quer dizer: ater-se ao que se oferece numa visão doadora de uma evidência clara, seguir esta doação e não ir além delaXXI.

Essa passagem nos coloca de frente com outra articulação metodológica da fenomenologia: a visão da essência. A elucidação do que seja intuição e percepção nos encaminhou até aqui. Como Cincotto nos lembra: “O conhecimento das essências é intuiçãoXXII”. Isto é, se percebo um objeto qualquer, devo me ater ao modo como ele se mostra, em sua pessoalidade, vê-lo diretamente, sem intermediários. Essa visão que realizamos é também uma visão da essência do objeto, ele se mostra tal como é. Se recorrermos à esfera natural do conhecimento, podemos dar o seguinte exemplo: estou agora sentado frente à mesa de meu escritório. Na mesa, há dois livros e um computador. Vejo o livro e ele se mostra tal como é. Vejo o computador e ele se mostra tal como é. O computador não se confunde com o livro, os dois são diferentes por essência, e posso ver essa essência, posso intuir, perceber. Um objeto não se confunde com o outro. É simplesmente o que Cincotto diz: “O conhecimento das essências é intuição”. “Essência” aqui não é algo inalcançável ou algo que está oculto e então precisa vir à tona, é somente aquilo que faz a coisa ser ela mesma, é aquilo que diferencia a coisa das outras.

O itinerário que seguimos até agora serve ao propósito de responder: o que é a fenomenologia? Como podemos dizer isso de forma sintética? É o próprio Husserl quem vai responder:

Pois o seuXXIII caráter específico é o de ser análise da essência e investigação da essência dentro da consideração puramente intuitiva, dentro da doação de si mesmo absoluta. Esse é necessariamente o caráter da fenomenologia; ela quer sim ser ciência e método para esclarecer possibilidades, possibilidades do conhecimento, possibilidades da valoração, para esclarecê-las a partir do seu fundamento essencial; são possibilidades universalmente questionáveis, e suas investigações, com isso, investigações universais da essênciaXXIV.

A citação nos mostra a necessidade de primeiro considerarmos a natureza da intuição e da visão de essência, posto que o caráter específico da fenomenologia é a “análise da essência e investigação da essência dentro da consideração puramente intuitiva”. Se não introduzíssemos tais conceitos, o caráter específico da fenomenologia poderia ser facilmente confundido com outros significados. O conceito de percepção é igualmente relevante, posto que se trata da consciência daquilo que aparece pessoalmente. É a partir daqui que podemos entrar com maior propriedade na possível aproximação entre Nietzsche e Husserl.

A aproximação de Christine Daigle

Agora que sabemos alguns dos passos iniciais da fenomenologia em Husserl, como podemos mostrar que Nietzsche se relaciona com tal método? Em primeiro lugar, Daigle aponta: “Em Humano, demasiado humano, Nietzsche começa sua investigação considerando o encontro humano com objetos no mundoXXV”. Isso nos lembra da percepção em Husserl, isto é, a consciência de um objeto tal como ele se mostra em sua pessoalidade. Não podemos dizer que Nietzsche trata do encontro dos objetos no mundo tal como Husserl, mas ambos compartilham dessa preocupação. Daigle chama a atenção para a seguinte passagem em Nietzsche: “Olhamos todas as coisas com a cabeça humana, e é impossível cortar essa cabeçaXXVI”. Isto é, aquilo que é olhado é sempre da perspectiva da cabeça humana. Podemos traduzir da seguinte maneira: o que é percebido parte da consciência, da perspectiva da consciência. Um pouco à frente, Daigle discute a seguinte passagem:

Foi pelo fato de termos, durante milhares de anos, olhado o mundo com exigências morais, estéticas, religiosas, com cega inclinação, paixão ou medo, e termos nos regalado nos maus hábitos do pensamento ilógico, que este mundo gradualmente se tornou assim estranhamente variegado, terrível, profundo de significado, cheio de alma, adquirindo cores – mas nós fomos os coloristas: o intelecto humano fez aparecer o fenômeno e introduziu nas coisas as suas errôneas concepções fundamentais. Tarde, bem tarde – ele cai em si: agora o mundo da experiência e a coisa em si lhe parecem tão extraordinariamente distintos e separados, que ele rejeita a conclusão sobre esta a partir daquele – ou, de maneira terrivelmente misteriosa, exorta à renúncia de nosso intelecto, de nossa vontade pessoal: de modo a alcançar o essencial tornando-se essencialXXVII.

Primeiramente, o excerto referido possui o título de “Fenômeno e coisa em si”, algo que já nos chama a atenção. Na passagem, Nietzsche coloca que olhamos o mundo por milhares de anos, com certas exigências. O mundo é à medida do que exigimos, ele diz: “este mundo gradualmente se tornou assim estranhamente variegado (...) adquirindo cores – mas nós fomos os coloristas: o intelecto humano fez aparecer o fenômeno e introduziu nas coisas as suas errôneas concepções fundamentais”. Isto é, é o intelecto humano, a consciência, que colore o mundo com significados, que percebe as coisas em suas cores. Nietzsche compartilha com Husserl o conceito de percepção. Daigle diz: “O que realmente importa para o ser humano é o mundo dos fenômenos, e este mundo depende inteiramente da nossa cabeça humana. É, portanto, graças à existência de nossa consciência que o mundo fenomenal nasce, o único mundo que nos importaXXVIII”. É o mundo dos fenômenos que importa aos seres humanos, quer dizer, o mundo das coisas que aparecem tal como são, longe de serem “coisas em si” inacessíveis, mas coisas que ganham cores, que estão em direta relação com a consciência humana. Nesse sentido, Daigle vai apontar para uma intencionalidadeXXIX velada na filosofia nietzschiana. A saber: “No entanto, acredito que a passagem também é muito clara sobre a natureza da consciência como intencional. Nietzsche diz: “É o intelecto humano que fez a aparência aparecerXXX””. Quer dizer, Nietzsche mostra que é a consciência que nos revela o mundo dos fenômenos, que há uma relação fundamental entre o mundo e a nossa consciência. Daigle complementa: “Nietzsche explica que o intelecto humano colore o mundo, e o eu emerge desse duplo ato de percepção/criação do fenômenoXXXI”. Daigle frisa a percepção no processo de colorização, isto é, quando Nietzsche coloca que “foi pelo fato de termos, durante milhares de anos, olhado o mundo com exigências morais”, esse “olhado” é um “perceber”, por termos “percebido” por milhares de anos, o mundo dos fenômenos aparece graças ao intelecto humano, à consciência. Daigle acaba por mostrar qual é a verdadeira tarefa de Nietzsche: “A questão é voltar à experiência fundamental de ser uma consciência no mundo e descartar os falsos julgamentos que a pervertem e mascaramXXXII”. Ou seja, a tarefa é deixar de lado a ideia de que há “coisas em si” inacessíveis e ocultas e promover o fato de que o mundo nos aparece pela consciência, pelo intelecto humano, e as coisas se mostram tal como são, coloridas por nossas exigências. Para concluir esse raciocínio, Daigle finaliza: “O que Nietzsche está dizendo aqui é que a consciência percebe e molda o mundo assim que o encontra. O mundo é um fenômeno para a consciênciaXXXIII”.

Essa é a principal aproximação feita pela pesquisadora Daigle. Em seu texto “Can We Read Nietzsche as a Proto-Phenomenologist?”, Trudzik reconhece o esforço de Daigle, reforçando que as passagens analisadas de fato se relacionam com o projeto husserliano. Vejamos:

Daigle argumenta de forma persuasiva em seu artigo The Intentional Encounter with ‘the World’. Sugerindo que, já em Humano, Demasiado Humano (doravante HDH) Nietzsche exibia um tipo de filosofia fenomenológica, ela reconhece que para ele “o objetivo é voltar à experiência fundamental de ser uma consciência no mundo e descartar os julgamentos falsos que o pervertem e o mascaram. ” Este é, sem dúvida, o programa husserliano, como talvez seja mais explicitamente exposto em suas Meditações Cartesianas, onde ele fala da “demanda por uma filosofia que vise a liberdade máxima concebível de preconceito, moldando-se com autonomia efetiva de acordo com evidências finais que ela própria produziu e, portanto, absolutamente auto responsável”XXXIV.

A citação demonstra a recepção positiva da visão de Daigle, que também reproduzimos no presente artigo. Babette Babich, além de Daigle, argumenta no mesmo sentido, a saber, de que Nietzsche apresenta alguns elementos fenomenológicos em sua filosofia. Vejamos: “Sendo assim, Nietzsche oferece elementos surpreendentemente desenvolvidos de uma “fenomenologia da percepção”, atendendo, como muitos estudiosos observaram, ao que se vê, desdobrando em uma boa maneira fenomenológica os elementos que carregam nossa percepção cotidianaXXXV”. O texto de Babich só reforça o nosso empreendimento em tratar da percepção no tópico em que introduzimos alguns elementos da fenomenologia husserliana. Afinal, ela aponta para uma “fenomenologia da percepção” em Nietzsche, assim como Daigle quando trata da passagem a que fizemos referência em “Humano, demasiado humano”.

Babich também chama a atenção para “A genealogia da moral”, livro em que Nietzsche desenvolve um pouco mais o seu olhar próximo ao da fenomenologia. Vejamos a passagem:

De agora em diante, senhores filósofos, guardemo-nos bem contra a antiga, perigosa fábula conceitual que estabelece um “puro sujeito do conhecimento, isento de vontade, alheio à dor e ao tempo”, guardemo-nos dos tentáculos de conceitos contraditórios como “razão pura”, “espiritualidade absoluta”, “conhecimento em si”; - tudo isso pede que se imagine um olho que não pode absolutamente ser imaginado, um olho voltado para nenhuma direção, no qual as forças ativas e interpretativas, as que fazem com que ver seja ver-algo, devem estar imobilizadas, ausentes; exige-se do olho, portanto, algo absurdo e sem sentido. Existe apenas uma visão perspectiva, apenas um “conhecer” perspectivo; e quanto mais afetos permitirmos falar sobre uma coisa, tanto mais completo será nosso “conceito” dela, nossa objetividade”XXXVI.

Nietzsche chama a atenção para aquilo que nos distancia do mundo que realmente importa, isto é, ele coloca que os filósofos se preocupam por demais com assuntos que sequer podem ser percebidos, olhados. A tentativa de constituir uma “razão pura”, uma “espiritualidade absoluta” ou um “conhecimento em si” são tarefas fadadas ao fracasso, pois a nossa consciência não alcança a percepção de tais tentativas. Como ele diz: “exige-se do olho, portanto, algo absurdo e sem sentido”. Nietzsche até coloca o ver como ver-algo, precisamente o enunciado fenomenológico de Husserl para a percepção, isto é, perceber é ter um algo relacionado com a consciência, um algo que se mostra pessoalmente, por si mesmo.

Há, de fato, uma sólida aproximação. Conforme Babich: “Se ler Nietzsche como fenomenólogo não o torna um proto-Husserl, significa que ambos compartilham uma ênfase no papel do fenômenoXXXVII”. Ambos os filósofos se preocupam com os fenômenos, e não só, ambos formulam conceitos que aproximam o mundo com a consciência, colocando noções como “coisa em si” para fora da relevância filosófica. O que importa é se ater às coisas mesmas, se ater ao que está no mundo, àquilo que é colorido por nosso intelecto.

Conclusão

Os estudos de Daigle e Babich apresentam uma relevante aproximação entre a fenomenologia de Husserl e a filosofia nietzschiana. Em primeiro lugar, ambos os filósofos almejam erigir uma filosofia que analise as coisas a partir de uma base sólida, a consciência, no caso. Para Nietzsche, como bem coloca Daigle: “A questão é voltar à experiência fundamental de ser uma consciência no mundo e descartar os falsos julgamentos que a pervertem e mascaramXXXVIII”. Esse descarte funciona de modo semelhante à “epoché” no método husserliano. Devemos tomar cuidado, no entanto. “Epoché” significa “suspensão”, não descarte. Essa suspensão abre a oportunidade para uma nova forma de compreender o mundo, partindo da base sólida da intuição, percepção, intencionalidade, ou seja, da consciência. A suspensão em Husserl não é um descarte permanente, de modo a afirmar que as filosofias anteriores são erros, mas um colocar em modo de espera. Primeiro devemos ter um método que trate do modo como nos direcionamos às coisas, pela intencionalidade, para então tratarmos daquilo que acessamos.

Nietzsche é mais agressivo nesse ponto, o descarte se refere aos “falsos julgamentos”, que “pervertem” e “mascaram”, como vimos com Daigle. Há uma reprovação mais clara por parte de Nietzsche, todos os valores devem ser transvalorados na base da consciência. O projeto nietzschiano é mais destrutivo que o de Husserl, mas o que há de comum entre os dois filósofos é justamente a radicalização em uma revisão da filosofia onde as bases estão estruturadas na consciência. Sem essa base, nosso olhar não teria qualquer direção, como vimos na passagem de “A genealogia da moral”. O mesmo acontece na fenomenologia de Husserl. Sem o conceito capital de seu método, a intencionalidade, nada poderíamos compreender, pois sequer teríamos direcionamento, não alcançaríamos o mundo e seus objetos. O direcionamento se mostra justamente no visar, no ver, que é ver-algo. Essa é a relação mais poderosa entre Husserl e Nietzsche, ambos estão preocupados com o “ver”, ação esta que só pode ser feita na base da consciência. Com isso, concluímos que a aproximação entre os dois filósofos é possível.

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Contribuições de autoria

1 – Elias Francisco Fontele Dourado

Contribuição: Autoria


IBOEHM, Husserl and Nietzsche, 14. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “––For Husserl, as well as for Nietzsche, what is ultimately at stake in this crisis is the Socratic-Platonic ideal of philosophy and the knowledge inherited and renewed from the modern era by the West. For both Husserl and Nietzsche, this ideal has proven to be abstract and unrealizable; the attempts that have been undertaken – since the beginning of the modern world (defined precisely by these attempts) – to realize this ideal have, on the one hand, engendered merely grandiose constructs, the meaning of which grows more and more distant from a meaning that real life would require.”

IITRUDZIK, Can We Read Nietzsche as a Proto-Phenomenologist?, 4. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “Boehm, mentioned above, brought this to light, pointing out that despite taking up different sides in the contest between life and reason, both philosophers converged upon the thought that European rationalism, such as it was, had reached a point of crisis.”

IIIBOEHM, Husserl and Nietzsche, 16. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “We should demonstrate indeed that the Husserlian conception of a new rationalism grounded upon a reference back to absolute subjectivity – the Husserlian conception of a new “first philosophy” that would not be metaphysics anymore but “transcendental phenomenology” – corresponds, in its essentials, exactly with the task of the transvaluation, as we have indicated it following Nietzsche’s conclusion to the history of the “longest error” of mankind.”

IVConforme Marton, “Nisto consiste o projeto nietzschiano de transvaloração de todos os valores: fundar os valores a partir de outras bases, fundá-los numa cosmologia que pretende apoiar-se em dados científicos” (MARTON, Nietzsche: a transvaloração dos valores, 55).

V NIETZSCHE, A vontade de poder, 486-487.

VI Conforme Zahavi, “O cerne da argumentação psicologista é o seguinte: as questões epistemológicas e teórico-científicas dizem respeito à natureza cognitiva do perceber, do crer, do julgar e do conhecer. Todavia, todos esses fenômenos são fenômenos psíquicos e, por isto, é evidente que precisa ser uma questão da psicologia investigar e constatar sua estrutura. Isto também é válido para a nossa fundamentação científica e lógica, e a lógica precisa ser considerada, por isto, em última instância, como uma parte da psicologia, e as leis lógicas como legalidades psico-lógicas, cuja constituição e validade têm de ser constatadas por meio de investigações empíricas” (ZAHAVI, A fenomenologia de Husserl, 14). Husserl critica a visão de que a lógica deve ser considerada uma parte da psicologia, visto que a lógica trata de assuntos apodíticos, com validade a priori.

VIIZAHAVI, A fenomenologia de Husserl, 71.

VIIIDARTIGUES, O que é a fenomenologia?, 11.

IXTanto aqui quanto em qualquer outra citação à frente, manteremos o itálico que Husserl faz para destacar passagens relevantes.

X HUSSERL, Investigações Lógicas. Prolegômenos à Lógica Pura, 175.

XI SACRINI, A cientificidade na fenomenologia de Husserl, 16.

XII HUSSERL, A ideia da fenomenologia, 114.

XIIICf. Dos Santos (1955, p. 18)

XIVABBAGNANO, Dicionário de filosofia, 670.

XV HINTIKKA, The notion of intuition in Husserl, 173. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “Intuition is not a special capacity of the human mind. Intuitiveness is simply a label for immediate knowledge of any sort.”

XVIHUSSERL, Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica, 33.

XVIIHUSSERL, Analysen zur passiven Synthesis, 96. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “Wahrnehmung ist das bewusstsein, den gegenstand leibhaft selbst zu erschauen und zu haben.”

XVIIIFERNANDES, Intuição categorial e evidência, verdade e ser, 114.

XIXHUSSERL, Analyses concerning passive and active synthesis. Lectures on transcendental logic, 110. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “Perception is the primordial mode of intuitiveness.”

XX HUSSERL, A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental. Uma introdução à filosofia fenomenológica, 85.

XXIFERNANDES, À clareira do ser: da fenomenologia da intencionalidade à abertura da existência, 30.

XXII CINCOTTO, A intuição fenomenológica como método de conhecimento no século XX, 2.

XXIII Da fenomenologia.

XXIVHUSSERL, A ideia da fenomenologia, 108.

XXVDAIGLE, The intentional encounter with “the World”, 28. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “In Human, all too human, Nietzsche begins his investigation by considering the human encounter with objects in the world.”

XXVINIETZSCHE, Humano, demasiado humano. Um livro para espíritos livres, 13.

XXVIINIETZSCHE, Humano, demasiado humano. Um livro para espíritos livres, 17.

XXVIIIDAIGLE, The intentional encounter with “the World”, 31. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “What really matters to the human being is the phenomenal world, and this world depends entirely on our human head. It is therefore thanks to the existence of our consciousness that the phenomenal world is born, the only world that matters to us.”

XXIXConforme Sokolowski, “Na fenomenologia, “intenção” significa a relação de consciência que nós temos com um objeto” (SOKOLOWSKI, Introdução à fenomenologia, 18). Trata-se da relação já encontrada na percepção. Se percepção é consciência do objeto em sua pessoalidade, essa consciência é possível graças à relação, e esta relação é a intencionalidade. Há também, conforme Fernandes, o seguinte significado, “A palavra “intenção” deriva do latim intentio: segundo explicitação de Tomás de Aquino, “intentio, sicut ipsum nomen sonat, significat ‘in aliud tendere’ (intenção, como o próprio nome diz, significa ‘tender para outro’)” (FERNANDES, À clareira do ser: da fenomenologia da intencionalidade à abertura da existência, 70). Quer dizer, nossa consciência “tende para outro”, se relaciona com um objeto. Consciência é consciência de algo, de alguma coisa.

XXXDAIGLE, The intentional encounter with “the World”, 31. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “However, I believe that the passage is also very clear on the nature of consciousness as intentional. Nietzsche says, “It is the human intellect that has made appearance appear.””

XXXIDAIGLE, The intentional encounter with “the World”, 31. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “Nietzsche explains that the human intellect colors the world, and the self emerges from this dual act of perception/creation of the phenomenon.”

XXXIIDAIGLE, The intentional encounter with “the World”, 33. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “The point is to go back to the fundamental experience of being a consciousness in the world and to dismiss the false judgments that pervert and mask it.”

XXXIIIDAIGLE, The intentional encounter with “the World”, 36. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “What Nietzsche is saying here is that consciousness perceives and shapes the world as soon as it encounters it. The world is a phenomenon for consciousness.”

XXXIV TRUDZIK, Can We Read Nietzsche as a Proto-Phenomenologist?, 5. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “Daigle persuasively argues in her paper The Intentional Encounter with ‘the World’. Suggesting that as early as Human, All Too Human (hereafter HAH) Nietzsche was exhibiting a phenomenological type of philosophy, she recognises that for him “the point is to go back to the fundamental experience of being a consciousness in the world and to dismiss the false judgements that pervert and mask it.” This is of course the Husserlian program, as it is perhaps most explicitly laid out in his Cartesian Meditations, where he speaks of “the demand for a philosophy aiming at the ultimate conceivable freedom from prejudice, shaping itself with actual autonomy according to ultimate evidences it has itself produced, and therefore absolutely self-responsible.”

XXXVBABICH, Nietzsche Performative Phenomenology: Philology and Music, 121. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “Thus regarded, Nietzsche offers astonishingly developed elements of a “phenomenology of perception”, attending, as many scholars have noted, to what one sees, unpacking in good phenomenological fashion the elements that freight our everyday perception.”

XXXVINIETZSCHE, A genealogia da moral: uma polêmica, 109.

XXXVIIBABICH, Nietzsche Performative Phenomenology: Philology and Music, 125. A tradução é nossa. Segue a citação no original: “If reading Nietzsche as a phenomenologist does not make him a proto-Husserl, it does mean that both share an emphasis on the role of the phenomenon.”

XXXVIII DAIGLE, The intentional encounter with “the World”, 33.