DOI: http://dx.doi.org/10.5902/2179378636669

Submissão: 30/01/2019 Aprovação: 07/03/2018 Publicação: 15/01/2021

 

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Editorial

 

Editorial

 

Luan Corrêa da Silva

Professor da Universidade Federal do Paraná.

Editor-chefe da Voluntas: Revista Internacional de Filosofia

luanbettiol@gmail.com

 

 

Vem à lume o dossiê Filosofia, Ciência e Magia, correspondente ao Vol. 11, N. 3 (set.-dez. 2020) da Voluntas: Revista Internacional de Filosofia (ISSN: 2179-3786), periódico da Seção Brasileira da Schopenhauer-Gesellschaft e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria.

O presente dossiê discute, a partir de uma perspectiva filosófica, o tema da magia e sua relação com os outros campos do conhecimento. Nosso intuito é o de apresentar um debate amplo e responsável acerca da reflexão e da prática da magia em relação às epistemologias das ciências, por um lado, e ao pensamento político, por outro. Em tempos de obscurantismo intelectual e do ataque aos conhecimentos filosófico e científico em geral, convém retomar alguns temas que evidenciam aspectos importantes da realidade e de seu potencial transformador.

A proposta é inspirada na importância que atribui Schopenhauer à magia para a compreensão de sua filosofia. Em Sobre a vontade na natureza (1836), o filósofo extrai da classificação das ciências, de Francis Bacon, a definição da magia como “metafísica prática”, isto é, como contrapartida operativa e efetiva para a “metafísica teórica” apresentada em O mundo como vontade e representação (1819). A importância da magia para o pensamento de Schopenhauer é abordada neste dossiê por Marco Segala, em Between science and magic: the case of Schopenhauer, e por David López em Enfermedad, Medicina y Magia en el sistema filosófico de Schopenhauer. Ambos ressaltam a necessidade de se considerar o ambiente científico das preocupações de Schopenhauer para a sua compreensão da magia, em especial nas práticas do magnetismo animal e das curas simpáticas.

O magnetismo animal também é tema do artigo de Federico Ferraguto, Fichte e a estrutura da magia, no qual o autor avalia criticamente a interpretação fichteana do mesmerismo. Judikael Castelo Branco, em Ciência, magia e filosofia em Eric Weil, nos apresenta a importância da relação entre filosofia, ciência e magia, mote que dá nome a este dossiê, para o pensamento de Eric Weil. Marco Antonio Valentim, em Ideias para uma termodinâmica noética e uma noética ígnea, explora a hipótese mágico-filosófica da possibilidade e necessidade de uma termodinâmica noética para compreensão do Antropoceno como Piroceno, hipótese que é baseada em Ficino e Agrippa, Starhawk e Castaneda. Castaneda também é tema do artigo de Rudinei Cogo Moor, em A atitude fenomenológica e o “caminho do guerreiro”: aprendendo a “ver”, desta vez, sob uma perspectiva fenomenológica. Tiago Brentam Perencini, em Viagens aos Infernos: a experiência visionária como ensaio para uma filosofia pré e pós humanista, enfrenta, adotando a arqueologia como procedimento de leitura, o problema da articulação entre filosofia e magia no curso da história ocidental. Léo Karam Tietboehl, em Palavra, ato, feitiço: algumas conjurações no campo da magia, explora os interstícios entre magia e política para indicar a importância de uma dimensão incapturável no fazer científico. Finalmente, Bianca Vilhena Campinho Pereira, em Sonhos tirânicos e uma poção mágica para as opressões na cabeça de Cármides no diálogo (homônimo) de Platão, aborda o tema da magia no diálogo Cárnides, de Platão, investigando a hipótese da cura através dos sonhos.

Os artigos do dossiê tratam da relação entre filosofia, ciência e magia de maneira inovadora e original em contextos muitas vezes negligenciados. Esperamos que o seu conteúdo possa impulsionar novas pesquisas filosóficas sobre o tema, para o qual os artigos que se seguem passam a compor, agora, um importante referencial bibliográfico.

Convido a todos e todas que frequentem também os artigos do Fluxo Contínuo: Estudos Schopenhauerianos e suas relevantes contribuições, como também as duas traduções publicadas. Por fim, agradeço imensamente ao imprescindível e atencioso trabalho de nossos pareceristas e da equipe do Portal de Periódicos da UFSM, sem os quais o presente volume não teria sido possível.

 

Boa leitura!