Vídeo Educativo como ferramenta acessível e inclusiva para auxiliar os professores na seleção de filmes nas escolas
Educational video as an accessible and inclusive tool to assist teachers in the selection of movies in schools
Vídeo Educativo como herramienta accesible e inclusiva para ayudar a los profesores en la selección de películas en las escuelas
Augustho da Costa Soares [1]
Universidade Federal do Pampa, Bagé, RS, Brasil
Cristiano Corrêa Ferreira [2]
Universidade Federal do Pampa, Bagé, RS, Brasil
Resumo
O uso de recursos audiovisuais, para fins educativos, tem chamado a atenção de pesquisadores que buscam meios de manter o interesse dos alunos durante atividades pedagógicas. Este artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa que investigou a avaliação de um grupo de pós-graduandos de um curso de mestrado em educação, por meio de um vídeo com recursos inclusivos e com ênfase nos princípios do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA). O vídeo em questão foi desenvolvido com a intenção de auxiliar professores no processo de seleção de filmes a serem utilizados como recurso pedagógico em sala de aula. Para isso, foi realizada uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, no período de setembro de 2022 a fevereiro de 2023. Para a produção do conteúdo do vídeo, também foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os passos para a seleção de filmes. O recurso inclusivo foi avaliado por meio de um questionário online com auxílio da ferramenta Google Forms. Participaram nove pós-graduandos que foram os sujeitos de pesquisa. Ao final, detectou-se que o recurso (vídeo educativo) conseguiu atender aos seus propósitos, apresentando e disseminando informações e os conceitos de uma forma didática, inclusiva e objetiva.
Palavras-chave: Cinema e educação; Filmes na escola; Vídeo educativo; Tecnologias para educação inclusiva.
Abstract
The use of audiovisual resources for educational purposes has drawn the attention of researchers who seek ways to maintain students' interest during pedagogical activities. This article aims to present the results of a research that investigated the evaluation of a group of graduate students of a master's degree in education through a video with inclusive resources and with emphasis on the principles of Universal Design for Learning (UDL). This aforementioned video was developed with the intention of helping teachers in the process of selecting films to be used as a pedagogical resource in the classroom. For this, exploratory research with a qualitative approach was made in the period between September 2022 and February 2023. For the production of the video content, it was also made bibliographical research about the steps for selecting films. The inclusive resource was evaluated through an online questionnaire with the aid of the Google Forms tool. Nine graduate students - who were the research subjects - participated. Lastly, it was detected that the resource (educational video) managed to meet its purposes, presenting and disseminating information and concepts in a didactic, inclusive and objective way.
Keywords: Cinema and education; Movies at school; Educational video; Technologies for inclusive education.
Resumen
El uso de recursos audiovisuales con fines educativos ha atraído la atención de investigadores que buscan medios para mantener el interés de los estudiantes durante las actividades pedagógicas. Este artículo tiene como objetivo presentar los resultados de un estudio que investigó la evaluación de un grupo de estudiantes de posgrado de un máster en educación, a través de un vídeo con recursos inclusivos y con énfasis en los principios del Diseño Universal para el Aprendizaje (DUA). El vídeo en cuestión fue desarrollado con la intención de asistir a los profesores en el proceso de selección de películas para ser utilizadas como recurso pedagógico en el aula. Para eso, se realizó una investigación exploratoria de enfoque cualitativo, durante el período de septiembre de 2022 a febrero de 2023. Para la producción del contenido del vídeo, también se llevó a cabo una investigación bibliográfica sobre los pasos para la selección de películas. El recurso inclusivo fue evaluado mediante un cuestionario en línea con el apoyo de la herramienta Google Forms. Participaron nueve estudiantes de posgrado que fueron los sujetos de la investigación. Al final, se detectó que el recurso (vídeo educativo) logró cumplir con sus propósitos, presentando y divulgando informaciones y conceptos de una manera didáctica, inclusiva y objetiva.
Palabras clave: Cine y educación; Películas en la escuela; Vídeo educativo; Tecnologías para la educación inclusiva.
Introdução
Quando o assunto é a funcionalidade do cinema, o entretenimento é a primeira resposta que vem à mente na maioria das pessoas, porém essa forma de arte pode ter outras utilidades. Nesse sentido, é importante citar o potencial pedagógico das obras cinematográficas na exposição de conceitos e fatos diversos no processo de ensino-aprendizagem. Assim, ressalta-se a centenária relação entre o cinema e a educação, que há décadas vem sendo abordada por pesquisadores em diversas partes do mundo (BERGALA, 2008; FABRIS, 2008; MORETTIN, 1995; NAPOLITANO, 2009; SMITHIKRAI, 2016).
No Brasil, segundo Morettin (1995), entre as décadas de 1920 e 1930, pedagogos e intelectuais preocupavam-se com a introdução dos princípios da chamada Escola Nova nos currículos. De acordo com Catelli (2010) e Fonseca (2016), foi nessa época que aconteceram os primeiros olhares para os filmes como ferramentas pedagógicas de apoio aos professores. Catelli (2010) destacou que o grupo em questão defendia a modernização da sociedade brasileira pela educação, com a inclusão de elementos de racionalidade, modernidade e eficiência nas políticas públicas educacionais. Dessa forma, os escolanovistas elegeram o cinema educativo, entre outros instrumentos pedagógicos, como uma forma de renovação das práticas escolares e democratização do conhecimento escolar.
Conforme Piovesan, Barbosa e Costa (2010), no ambiente da sala de aula, quando um professor conhece o conceito pedagógico daquilo que pretende realizar, as obras audiovisuais deixam de ser ferramentas usadas para entretenimento e distração e, assim, tornam-se recursos com a capacidade de ensinar e trabalhar diversos temas.
Isso vai ao encontro do que foi dito por Fabris (2008), a qual salienta que os filmes não somente são capazes de divertir as pessoas, mas também possuem possibilidades de desenvolver uma prática pedagógica e ensinar modos de vida. Ou seja, a partir de obras cinematográficas é possível refletir sobre diversos assuntos da sociedade.
Assim, como destaca o tailandês Smithikrai (2016), os filmes podem tornar-se poderosas ferramentas que ilustram os conteúdos e promovem a visualização de conceitos e teorias, além de aumentar significativamente o envolvimento dos estudantes de forma a promover o pensamento crítico e as habilidades analíticas.
Desse modo, deve ser levado em conta o que diz Bergala (2008), sobre a época da escola, durante a infância e a adolescência, ser o momento em que cada indivíduo encontra os filmes essenciais para constituir sua relação com o cinema, ou seja, as obras que mostram algo sobre a sua relação com o mundo e que ele mesmo ignora e guarda, em si mesmo, como um segredo a ser decifrado.
Nesse contexto, conforme o autor, não cabe à escola programar ou garantir esse encontro, mas sim, por exemplo, organizar a possibilidade do encontro dos estudantes com os filmes. Dessa forma, é importante que o professor consiga identificar obras que sejam relevantes para suas aulas e, ao mesmo tempo, que possam ter algum significado para seus alunos, além de mantê-los atentos.
Assim, a pesquisa apresentada neste artigo teve como objetivo produzir um vídeo didático, com recursos de acessibilidade, que apresenta aos profissionais da educação os passos que podem ser seguidos para que seja possível realizar uma seleção de obras que produza uma maior retenção de concentração, aprendizagem e engajamento dos alunos nas aulas.
Inicialmente realizou-se uma revisão bibliográfica sobre a utilização de filmes na sala de aula. Além disso, foi produzido o vídeo utilizando recursos para acessibilidade como audiodescrição, legendas e uma janela com intérprete de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Para a construção e a avaliação desse vídeo, foram levados em consideração os princípios do Desenho Universal para a Aprendizagem, de acordo com CAST (2011), que são: fornecer múltiplos meios de Representação (o “o que” do aprendizado); fornecer múltiplos meios de Ação e Expressão (o “como” do aprendizado); fornecer múltiplos meios de Engajamento (o “porquê” do aprendizado).
O princípio da “Representação/DUA” tem como premissa apresentar o conteúdo de maneiras diferentes. O princípio do “Engajamento/DUA” estimula o interesse e a motivação dos alunos para o aprendizado. Já o princípio da “Ação e Expressão/DUA” tem a intenção de diferenciar as maneiras pelas quais cada aluno pode expressar aquilo que aprendeu (CAST, 2011).
Ainda, foi realizada uma pesquisa sobre a utilidade da peça audiovisual produzida, com um grupo de pós-graduandos em Educação, através de questionário on-line elaborado com auxílio da ferramenta Google Forms.
Vale ressaltar que na criação do vídeo são apresentados os passos para a escolha de um filme a ser utilizado em sala de aula, visando garantir que a obra selecionada não seja somente exibida, mas também que sejam desenvolvidas outras atividades de maneira didática durante as aulas.
Acrescenta-se que a construção desse vídeo pode servir como estímulo para novas pesquisas sobre o uso do cinema na escola e para a construção de novos recursos digitais, visando fortalecer o cinema como ferramenta pedagógica em sala de aula.
Ainda vale enfatizar que a ideia desse trabalho surgiu quando o primeiro autor do artigo, em suas vivências junto aos colegas de pós-graduação e através de conversas com professores de sua cidade enquanto produzia a sua pesquisa de mestrado, percebeu que até aqueles profissionais da educação que já utilizavam filmes em sala de aula possuíam dúvidas, principalmente quanto ao processo de escolha da obra.
Por sua vez, a questão da educação inclusiva surgiu em função do olhar que devemos ter para as pessoas com deficiência e necessidade de se sentirem parte dos recursos educacionais. Esse olhar para a inclusão foi desenvolvido no autor a partir de uma experiência profissional na equipe executora de um curso de extensão on-line sobre o DUA com foco na perspectiva inclusiva. Durante a experiência, foi percebido pelos integrantes da equipe o potencial de recursos como o audiovisual para o ensino e a educação inclusiva, como será explicado no próximo capítulo deste artigo.
A conceituação de vídeo educativo e o seu uso na educação inclusiva
O vídeo educativo desenvolvido nesta pesquisa tem como objetivo ser reproduzido como um guia para auxiliar professores na escolha de filmes a serem utilizados pedagogicamente em sala de aula. Para Barrére (2014, p. 80), a palavra videoaula pode ser definida como “um vídeo que tem por finalidade auxiliar alguém a aprender alguma coisa, independente da forma ou especificidade”. Desse modo, fica entendido que o vídeo em questão pode ser considerado uma videoaula.
Segundo Costa, Alvelos e Teixeira (2018), os vídeos educativos podem ser divididos em três categorias, dependendo do seu uso e propósito, sendo elas: vídeos demonstrativos, vídeos narrativos e sessões de palestras gravadas.
Os vídeos de demonstração são os que mostram e explicam um procedimento. Essa categoria de vídeos educativos pode ter como objetivo permitir que os estudantes assistam a procedimentos que de outra forma não estariam disponíveis para eles, ou registrar o desempenho dos estudantes em procedimentos para posteriormente enviar um feedback.
Por sua vez, os vídeos narrativos são aqueles em que instrutores falam sobre um assunto. Conforme as autoras, esses vídeos costumam ser usados para aprender e ensinar idiomas, mas também para ensinar e avaliar futuros professores, testando suas competências ao ensinar e a forma como são utilizadas durante o tempo do vídeo.
Já as sessões de palestras gravadas são vídeos em que uma palestra é gravada e pode ser posteriormente reproduzida como se fosse em uma aula (COSTA; ALVEDOS; TEIXEIRA, 2018).
Quanto à duração para um vídeo didático, de acordo com Brame (2016), buscando um maior engajamento, o ideal é que a produção tenha menos de 6 minutos, que é o tempo em que os alunos costumam assistir ao vídeo inteiro.
Vale ressaltar que, na percepção da autora, à medida que os vídeos aumentam de tempo, o envolvimento dos alunos cai de forma proporcional, de modo que o tempo médio de envolvimento com vídeos de 9 a 12 minutos fica em aproximadamente 50% e o tempo médio de envolvimento com vídeos de 12 a 40 minutos, em aproximadamente 20%. “O tempo médio para o máximo de engajamento para um vídeo de qualquer duração é de 6 minutos. Fazer vídeos com mais de 6 a 9 minutos provavelmente será um esforço desperdiçado” (BRAME, 2016, p.4).
No entanto, um vídeo educativo pode ter um potencial pedagógico ainda maior caso o mesmo seja produzido levando em consideração os princípios do DUA, o qual é “um modelo de intervenção que tem como principal finalidade responder às necessidades de todos os alunos incluindo os que têm deficiência, ou que têm talentos específicos” (NUNES; MADUREIRA, 2015, p. 132).
Dessa forma, como definido por CAST (2011), o DUA apresenta as informações de forma flexível e também fornece suportes e desafios apropriados aos alunos, além de manter expectativas de desempenho para todos, incluindo aqueles com deficiência ou com dificuldades de leitura. Assim, além do audiovisual já possuir recursos direcionados para promover a inclusão, por transmitir as informações através de imagens e sons, ele pode ser potencializado com recursos como legendas, tradução do conteúdo em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e audiodescrição, sendo este último “uma modalidade de tradução que apresenta em linguagem oral o que é observado visualmente” (COZENDEY; COSTA, 2018, p. 1165).
Desse modo, considerando os princípios citados por CAST (2011), essas diferentes formas que apresentam o mesmo conteúdo, em palavra falada, escrita, vídeo e LIBRAS, são ligadas ao princípio de Representação do DUA. Para a utilização do princípio do Engajamento, buscou-se utilizar uma linguagem informal e de fácil entendimento; o uso de um personagem animado em 3D, pensando em humanizar o vídeo evitando a abordagem convencional de usar apresentadores reais; além do cuidado com a duração do vídeo, de uma forma que fosse possível apresentar o conteúdo de forma dinâmica e didática.
Já o princípio da Ação e Expressão foi utilizado para a avaliação do vídeo, no qual os pós-graduandos tiveram a opção de responder por meio de respostas objetivas, ou por linguagem escrita e até mesmo fazer vídeos.
Após elucidarmos os principais passos e conceitos neste trabalho, resta ainda explicar sobre o conteúdo presente no mesmo, ou seja, expor os passos que podem auxiliar um professor a escolher um filme para exibição em uma sala de aula.
Passos para escolha do filme na sala de aula
O uso do cinema como recurso pedagógico na sala de aula pode trazer diversos benefícios no processo de ensino e aprendizagem, porém para que isso aconteça é necessário que o professor realize e leve em conta alguns fatores.
Conforme Machado (2008), o pré-requisito mais importante para a escolha do filme a ser utilizado em sala de aula é que o professor tenha um conhecimento amplo do tema da aula e saiba o que pretende realizar, ou seja, estude os tópicos que quer discutir.
Por sua vez, Napolitano (2013) salienta que não cabe ao professor impor seu gosto aos alunos na hora da escolha do filme. Dessa forma, antes de escolher as obras, é importante verificar com os alunos quais são as suas experiências em relação ao cinema. Nessa etapa, o autor destaca que não há necessidade de uma refinada pesquisa sociológica.
Basta que o professor, de maneira informal ou sistemática, leve em conta algumas informações básicas: a) qual faixa socioeconômica os alunos da sua classe/escola pertencem, em média; b) quais os hábitos de consumo culturais da família; c) como funciona o consumo cinematográfico dos alunos (salas de cinema, aluguel de fitas de vídeo ou assistência de filmes na TV aberta ou a cabo); d) quais gêneros cinematográficos preferidos; e) dentre os filmes vistos, quais os preferidos) (NAPOLITANO, 2013, p. 80).
Ao analisar esses fatores, o professor conseguirá ter uma base de que tipo de obra poderá utilizar e até mesmo identificar filmes que podem gerar nos estudantes uma identificação com os personagens.
Assim, começa a procura pelos filmes. Nesta etapa, Machado (2008) indica que os professores devem buscar livros que tratem dos conteúdos das aulas e verifiquem se essas obras não viraram filmes. Fora isso, também é possível procurar por acontecimentos transformadores relacionados ao tema como, por exemplo, a Revolução Francesa, para falar dos Direitos Humanos, e a dica era buscar filmes que descrevem acontecimentos nesse período. Algumas opções, neste processo, serão realizadas através de mecanismos de pesquisa como o Google ou até mesmo buscando trabalhos que abordaram o assunto em bibliotecas digitais, como a Scielo ou o Catálogo de Teses e Dissertações da Capes.
Após essa etapa, Napolitano (2009) diz ser imprescindível que o professor assista ao filme antes de mostrar aos alunos. Para o autor, após assistir ao filme o professor terá um olhar mais crítico e apurado para, caso seja necessário, selecionar os trechos que serão analisados.
Desse modo, conforme Holleben e Saveli (2008), o indicado é que o filme seja assistido quantas vezes for necessário, até que o professor tenha condições de preparar um roteiro de questões que podem ser tratadas com a obra.
Nos casos em que não houver muito tempo de horas-aula, Holleben e Saveli (2008) aconselharam aos professores que fizessem tentativas de trocas de horário com colegas ou chamadas para uma atividade interdisciplinar, quando possível. Fora isso, outra dica que pode auxiliar no planejamento da atividade é a escolha do formato curta-metragem ou a exibição de trechos de um longa-metragem. Este modelo foi implantado, por exemplo, no projeto de Passos e Colucci (2021, p. 478), com o intuito de sobrar um “tempo disponível para conversar sobre o filme após a exibição” (PASSOS; COLUCCI, 2021, p. 478). A escolha por sequências curtas, embora não seja uma regra, conforme Napolitano (2013), pode ainda auxiliar na aula por exigir menos tempo e concentração dos alunos, porém, nesse caso é importante que o professor prepare a classe e também faça uma contextualização das cenas escolhidas, além do filme como um todo, fornecendo sinopse da história e o contexto de cada cena exibida.
Desse modo, por meio do referencial teórico apresentado neste tópico, foi produzido o vídeo didático avaliado no presente estudo, o qual será explicado nos próximos itens.
Metodologia da pesquisa
Esta pesquisa configura-se como exploratória com abordagem qualitativa, tendo como instrumento de coleta de dados um questionário digital. Para Gil (2008, p. 27), a principal finalidade das pesquisas exploratórias é “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Assim, este tipo de pesquisa é aconselhável quando o tema abordado é pouco explorado.
Desse modo, a pesquisa foi realizada no período de setembro de 2022 a fevereiro de 2023, com um grupo de nove pós-graduandos de um Mestrado em Educação de uma Universidade Pública do Rio Grande do Sul. Vale ressaltar que esses indivíduos foram escolhidos devido à sua íntima relação com a área da educação, por terem interesse no tema da investigação e também por muitos fazerem uso de produtos e recursos didáticos em sala de aula.
Em um primeiro momento, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para a produção do vídeo didático, cujo resultado está presente no item “Passos para seleção do filme na sala de aula”, deste artigo. Para Marconi e Lakatos (2003), na pesquisa bibliográfica, o pesquisador tem contato direto com tudo o que já foi escrito, dito ou até mesmo filmado sobre determinado assunto, para que assim ele possa chegar às suas conclusões.
Para os autores, a pesquisa bibliográfica pode ser desenvolvida em etapas. O primeiro passo foi a escolha do tema que seria abordado, ou seja, o processo de seleção do filme para ser utilizado na sala de aula. Então, optou-se por realizar a identificação de catálogos com livros e trabalhos que envolvessem o assunto. Assim, coletaram-se trabalhos que pudessem somar mais em relação aos conteúdos. Foram realizadas pesquisas em bancos de dados assim como no Google Scholar e Scielo, utilizando termos como “cinema e educação”, “filmes na escola” e “cinema na sala de aula”. Em seguida, foi realizado o fichamento do conteúdo dos livros e trabalhos acadêmicos, para que assim fosse possível a seleção dos conteúdos e seu ordenamento com a finalidade de organizar as informações sobre a seleção de filmes. Por fim, foi feita a análise e interpretação dos textos e redigido o referencial para o vídeo didático.
Além
disso, também buscaram-se informações sobre o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) e seus
princípios, através de trabalhos como CAST (2011) e Prais e Rosa (2016), para
que assim a pesquisa fosse desenvolvida de uma forma que o recurso didático
pudesse ser utilizado de maneira a engajar um número maior de pessoas
com e sem deficiências.
Após a realização desta pesquisa inicial, foi produzido o vídeo didático, por meio de um processo que será abordado no próximo item.
Produção do vídeo didático
Na seção anterior, descreveu-se como foi realizada a pesquisa bibliográfica que sintetizou os passos para seleção do filme na sala de aula. Essa etapa, além de proporcionar o conteúdo para o vídeo e explicar conceitos sobre o tema em questão, também auxiliou, conforme Marconi e Lakatos (2003, p. 186), a entender “[...] que trabalhos já foram realizados a respeito e quais são as opiniões reinantes sobre o assunto”.
Após o desenvolvimento dessas pesquisas iniciais, foi realizada a produção do vídeo. Primeiramente, foi confeccionado o personagem responsável por narrar o vídeo, o qual recebeu o nome de Luís Augusto - em referência aos pais do cinema Louis e Auguste Lumière. Na Figura 1, a seguir, pode ser observado o personagem, posicionado à esquerda. Já no lado direito da imagem, está escrita a descrição “1º Passo: Conheça o tema e tópicos que deseja discutir”. Na parte inferior da imagem, posicionada ao centro, está a legenda do vídeo, enquanto no canto direito está o intérprete de LIBRAS.
Figura 1 – Personagem animado Luis Augusto narra passos
para escolher os filmes a serem utilizados durante as aulas.
Fonte: Os autores (2023).
O personagem Luís Augusto foi desenvolvido pelos autores deste artigo com o programa LoomAi Avatar Creator, aplicativo para celular da empresa Roblox Corporation, utilizado para criação de avatar 3D personalizado para uso em vídeo chamadas e mensagens. Esse programa foi escolhido por já ter sido utilizado pelos autores na criação de animações de outros projetos e também por sua praticidade, bem como pelo uso e conhecimento que um dos autores possui em relação ao software.
As movimentações do personagem foram gravadas com o StreamYard, uma ferramenta Web desenvolvida para realizar e gravar transmissões ao vivo através de um navegador de internet.
Para edição do vídeo, foi utilizado o aplicativo Capcut, o qual foi escolhido devido à sua praticidade no desenvolvimento de animações para os textos e produção de legendas. Porém, também utilizou-se o Adobe Premiere, um dos principais softwares profissionais de edição de vídeo, para atividades mais delicadas como cortes de trechos, edições de áudio e alterações de fundo.
Ainda vale ressaltar que a inclusão da descrição em LIBRAS, no vídeo, foi possível através do auxílio de um profissional voluntário pertencente à Universidade Pública na qual foi desenvolvido este trabalho.
Na Figura 2, a seguir, através de uma captura de tela com edição realizada pelos autores, foram incluídos balões com setas indicando a localização dos recursos inclusivos no vídeo.
Figura 2 – Imagem indicando os recursos inclusivos
presentes no vídeo produzido. Fonte: Os autores (2023).
Com a conclusão do vídeo, durante o mês de dezembro de 2022, foi realizado um teste piloto do recurso, que em seguida foi avaliado pelos pós-graduandos do Mestrado em Educação, como será apresentado no próximo item.
Avaliação do vídeo
Em janeiro de 2023, o recurso audiovisual foi avaliado por nove pós-graduandos matriculados em componente curricular de um curso de Mestrado em Educação de uma Universidade Pública, que foram os sujeitos de pesquisa.
Os profissionais mostraram interesse em utilizar esse recurso em suas atividades didáticas. Fora isso, também vale ressaltar que todos já produziram materiais e recursos didáticos, o que os coloca em posição de avaliadores coerentes e ideais para o vídeo didático em questão.
Os participantes assistiram ao vídeo na sala de aula, porém todos receberam, via e-mail, o link do vídeo postado no canal do Youtube vinculado à conta institucional de um dos autores deste trabalho. Além disso, no mesmo e-mail, foi entregue a estes mestrandos um questionário desenvolvido com auxílio da ferramenta Google Forms, o qual tinha o objetivo de verificar qual foi a impressão dos pós-graduandos sobre o recurso.
As perguntas no questionário avaliativo foram divididas entre objetivas e subjetivas. No Quadro 1, a seguir, estão apresentadas as questões do questionário.
As perguntas das questões 1 a 5, por se tratarem de perguntas objetivas, ofereceram possibilidades de resposta entre as quais o participante poderia escolher apenas uma. Das questões 1 até 4, as respostas indicadas eram "discordo plenamente", "discordo parcialmente", "nem concordo e nem discordo" e "concordo plenamente". A pergunta 5 teve como possíveis respostas “adequado”, “muito longo” e “muito curto”. As demais, 6 e 7, foram aquelas que deixavam um espaço para que cada participante pudesse registrar por escrito a sua resposta.
Quadro 1 -- Perguntas do questionário aplicadas no questionário aos mestrandos
Nº |
Enunciado |
Opção de resposta |
1 |
As orientações no vídeo o ajudaram a tirar dúvidas sobre como escolher um filme para utilizar em sala de aula? |
“discordo plenamente”, “discordo parcialmente”, “nem concordo e nem discordo”, “concordo parcialmente”, "concordo plenamente"
|
2 |
A forma como as informações no vídeo estão distribuídas é de fácil entendimento? |
|
3 |
O vídeo o incentivou a utilizar o cinema como recurso pedagógico em aula? |
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4 |
Você acredita que os recursos de acessibilidade (LIBRAS, legendas e audiodescrição) no vídeo possibilitam que mais pessoas consigam acessar o conteúdo disponibilizado? |
|
5 |
Qual a sua opinião sobre o tempo de duração do vídeo? |
“adequado”, “muito longo”, “muito curto” |
6 |
Você ficou com alguma dúvida após assistir ao vídeo? |
- |
7 |
Teria alguma sugestão que gostaria de compartilhar para melhorar este vídeo? |
- |
Fonte: Os autores (2023)
Após todos responderem ao questionário, as respostas foram analisadas com o método de análise de conteúdo de Laurence Bardin (2011). Em síntese, a investigação buscou verificar a eficácia do vídeo e de seus recursos, para que assim fossem realizadas possíveis adequações no material, o qual ficará disponível para o uso de professores em um site com um guia digital sobre o uso do cinema na escola, que está sendo produzido pelos autores.
Resultados e discussão
A partir das respostas de todos os entrevistados ao questionário, foi constatado que o vídeo conseguiu sanar as dúvidas dos pós-graduandos sobre como escolher um filme para utilizar em sala de aula, referentes às formas de encontrar as obras, além dos benefícios e peculiaridades que devem ser levados em conta na escolha. Além disso, os sujeitos da pesquisa também reconheceram que as informações existentes e fornecidas na produção audiovisual foram apresentadas de uma forma que auxiliou na compreensão do conteúdo.
Assim, os resultados vão ao encontro de Barrére (2014), o qual salientou o uso do vídeo como uma metodologia significativa para captar o interesse das pessoas. Além disso, segundo o autor, quando se trata de um vídeo produzido pelo docente para um fim específico, assim como foi feito nesse projeto, torna-se possível agradar aos alunos utilizando uma abordagem moderna, além desse recurso demonstrar o envolvimento do professor para com os estudantes.
Ainda, em uma das respostas à questão na qual foi perguntado se o sujeito teria alguma sugestão que gostaria de compartilhar para melhorar este vídeo, foi informado por um sujeito com dislexia que a utilização do áudio é uma contribuição válida, que auxilia pessoas disléxicas, que têm dificuldades na leitura, a entender o conteúdo. Assim, um recurso que apresenta as informações através de diferentes modalidades sensoriais, como é o caso do audiovisual, facilita a aprendizagem desses indivíduos. Ainda, nesta mesma pergunta, outra participante relatou que assistiu ao vídeo junto a uma pessoa surda, a qual ressaltou que se sentiu incluída com a experiência, sendo que este foi o primeiro vídeo didático com recursos inclusivos a que ela assistiu.
Desse modo, as respostas desses participantes a um vídeo desenvolvido e que contém diretrizes de apresentar múltiplos meios de representação, conforme preconiza o (DUA), reiteram a opinião de CAST (2011) sobre a importância dos princípios do método para a inclusão, apresentando as informações de forma flexível e fornecendo suportes e desafios apropriados, inclusive para alunos com e sem deficiência ou com dificuldades de leitura. De mesma forma, também ressalta o que é explicado por Prais e Rosa (2016), sobre o DUA possibilitar que os processos de ensino e de aprendizagem sejam guiados com finalidades claras e coerentes, assumindo objetivos e estratégias para uma proposta didática de ensino para satisfazer as necessidades de aprendizagem de um maior número de alunos.
Por fim, vale ressaltar que todos os participantes da pesquisa concordaram ao serem questionados se o vídeo incentivou-os a utilizar o cinema na sala de aula, sendo que oito concordaram plenamente e um concordou ou parcialmente. Além disso, os sujeitos confirmaram que o vídeo teve uma duração adequada para o volume de conteúdo produzido.
Por meio de marcação na alternativa “concordo plenamente”, os entrevistados ainda afirmaram acreditar que os recursos de acessibilidade utilizados no vídeo (LIBRAS, legendas e audiodescrição) possibilitam que mais pessoas consigam acessar o conteúdo disponibilizado.
Finalmente, com a questão das sugestões para melhorar o vídeo, foram obtidas algumas contribuições dos participantes. Entre elas, uma ideia que se destacou foi oferecer sugestões de filmes para temáticas específicas. Assim, considerando a necessidade de tornar o processo de escolha de filmes para a sala de aula ainda mais didático, a contribuição em questão será utilizada em futuros vídeos a serem incluídos no site que está sendo atualizado.
Considerações finais
Com a análise das respostas fornecidas pelos sujeitos no questionário sobre o vídeo elaborado neste projeto, foi possível concluir que o recurso conseguiu atender ao seu propósito. Ou seja, de uma forma didática, inclusiva e rápida, a produção audiovisual auxiliou um grupo de profissionais da educação a entender o processo para a seleção de um filme na sala de aula.
Também ficou evidente, através das respostas obtidas, que o vídeo apresentou as informações e os conceitos de uma forma didática e rápida. Além disso, a produção ainda conseguiu incentivar os profissionais a utilizarem recursos audiovisuais na sala de aula.
Fora isso, os recursos de acessibilidade inseridos no vídeo, aliados ao fato de o audiovisual comunicar, por essência, através de diversas linguagens, fizeram com que as informações contidas nessa produção chegassem a pessoas com deficiência, que atuam na área da educação, as quais avaliaram positivamente a experiência.
Sendo assim, conclui-se que o vídeo educacional, em uma perspectiva inclusiva, pode ser utilizado por professores e profissionais da educação, para incentivar o uso do cinema na escola, assim como auxiliar professores na escolha de obras cinematográficas a serem usadas.
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[1] Biografia, inserida após a aprovação. Mestre em Ensino pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Especialista em Docência do Ensino Superior com Metodologias Ativas de Aprendizagem pelo Centro Universitário UniAmérica. Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp). Orcid: https://orcid.org/0009-0005-3320-0695. E-mail: augustho.cs@gmail.com
[2] Biografia, inserida após a aprovação. Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pelotas (1999), especialização em Gráfica Digital pela Universidade Federal de Pelotas (2012), especialização em Tecnologias Digitais Aplicadas à Educação pela Uniasselvi (2021), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Maria (2002) e doutorado em Engenharia de Minas, Metalurgia e de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2009). Atualmente é professor associado da Universidade Federal do Pampa. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7676-9233. E-mail: cristiano.ferreira@unipampa.edu.br