“Vale uma foto?” Crianças e seus olhares sobre cidades do interior paulista por meio da fotografia e de exposições fotográficas

 

“Worth a photo?” Children and their perspectives on cities in the interior of São Paulo through photography and photographic exhibitions

 

“¿Vale la pena una foto?” Los niños y sus miradas sobre lãs ciudades del interior de São Paulo a través de la fotografía y exposiciones fotográficas

 

 

Ana Paula Cordeiro[1]

Universidade Estadual Paulista

 

Luciana Aparecida de Araujo[2]

Universidade Estadual Paulista

 

Cleriston Izidro dos Anjos[3]

Universidade Federal de Alagoas

 

 

Resumo

Mediante revisão de literatura e trabalho de campo, este artigo tem como objetivo apresentar algumas considerações relacionadas às temáticas das crianças, suas percepções sobre as cidades e espaços urbanos por meio da formação estética e da Arte. A partir de trabalhos realizados no campo da Arte, mais precisamente da fotografia, aborda questões voltadas aos espaços urbanos, suas peculiaridades, as possibilidades de experiências estéticas e sociais e o olhar das crianças para o que tais espaços oferecem. Apresenta registros de experiências ligadas ao campo da fotografia, as percepções das crianças em relação às imagens e a espaços urbanos, por meio de saídas fotográficas e visitas a exposições de fotografia. Com essa discussão, pretende-se demostrar que, por meio da Arte e da formação estética, é possível pensar as cidades e espaços urbanos como locais mais passíveis de humanização, de um “habitar” mais saudável, para além das meras necessidades de produção.

Palavras-chave: Educação; Crianças; Fotografias.

 

 

Abstract

Through a literature review and field work, this article aims to present some considerations related to children's themes, their perceptions of cities and urban spaces through aesthetic and art training. Based on works carried out in the field of Art, more precisely photography, it addresses issues related to urban spaces, their peculiarities, the possibilities of aesthetic and social experiences and the children's view of what such spaces offer. It presents records of experiences linked to the field of photography, children's perceptions in relation to images and urban spaces, through photographic outings and visits to photography exhibitions. This discussion intends to demonstrate that through Art and aesthetic training it is possible to think of cities and urban spaces as places more susceptible to humanization, of a healthier “inhabitation”, beyond the mere needs of production.

Keywords: Education; Children; Photographs.

 

 

Resumen

A través de una revisión de la literatura y trabajo de campo, este artículo tiene como objetivo presentar algunas consideraciones relacionadas con los temas infantiles, sus percepciones de las ciudades y los espacios urbanos a través de la formación estética y artística. A partir de trabajos realizados en el campo del Arte, más precisamente de la fotografía, aborda cuestiones relacionadas con los espacios urbanos, sus peculiaridades, las posibilidades de experiencias estéticas y sociales y la mirada infantil sobre lo que ofrecen dichos espacios. Presenta registros de experiencias vinculadas al campo de la fotografía, las percepciones de los niños en relación a las imágenes y los espacios urbanos, a través de salidas para sesiones fotográficas y visitas a exposiciones fotográficas. Con esta discusión, se pretende demostrar que, a través del arte y la formación estética, es posible pensar las ciudades y los espacios urbanos como lugares más susceptibles de humanización, de un “habitar” más saludable, más allá de las meras necesidades de producción.

Palabras clave: Educación; Niños; Fotografías.

 

 

Introdução

Quando pronunciamos a palavra “cidade” uma multiplicidade de imagens e informações pode emergir para quem a escuta. No século XXI o espaço urbano oferece inúmeras e distintas possibilidades e impossibilidades para quem nele habita. A polissemia acompanha o tema.

Em espaços urbanos cabem todos? Os anseios, os modos de perceber, de caminhar, de existir: são respeitados? Em tais espaços, geralmente, são os chamados “adultos produtivos” quem dão o tom. Tudo é feito e pensado para que o sistema econômico funcione bem, para que o comércio venda, para que as indústrias garantam a produção de mercadorias. Nesse contexto, onde ficam as crianças? As cidades, os espaços urbanos, são pensados para elas? Onde, de fato, as crianças podem estar? Que espaços lhes são destinados? Como elas percebem a cidade?

Buscando responder a tais questionamentos, este artigo tem como objetivo apresentar algumas considerações relacionadas às temáticas das crianças, suas percepções sobre as cidades e espaços urbanos, por meio da formação estética e da Arte. Como caminho metodológico, optamos pela revisão de literatura e trabalho de campo, a partir de trabalhos realizados no campo da Arte, mais precisamente da fotografia, em que tratamos de questões voltadas aos espaços urbanos, suas peculiaridades, as possibilidades de experiências estéticas e sociais e o olhar das crianças para o que tais espaços oferecem e quem a eles tem direito.

Nesse sentido visamos a estabelecer aqui uma discussão sobre espaços urbanos e cidades, crianças e suas percepções sobre tais espaços, a Arte e experiências estéticas por meio da fotografia. Apresentamos também experiências ligadas ao campo da fotografia, as percepções das crianças em relação às imagens e a espaços urbanos, por meio de saídas fotográficas e visitas a exposições de fotografia. Desde 2016, por meio de exposições fotográficas sobre cidades e espaços urbanos do interior do Estado de São Paulo ocorridas nas cidades de Marília e Garça, localizadas no centro-oeste paulista, crianças do Ensino Fundamental, ciclos I e II, bem como estudantes do Ensino Médio experimentam o exercício estético de observar locais, monumentos, prédios históricos, ruas e curiosidades de diversas cidades, inclusive as cidades em que residem. Com essa discussão pretendemos mostrar que por meio da Arte e da formação estética é possível pensar as cidades e espaços urbanos como locais mais humanizados e humanizadores, de um “habitar” mais saudável, para além das meras necessidades de produção.

Cidades, espaços urbanos e possibilidades de habitar, caminhar e conhecer para além das aparências

Caminhar pelas cidades e espaços urbanos pode ser uma experiência única, fundamental para a formação do gosto, para o conhecimento do lugar onde se habita, para descobertas insuspeitas. Mas, afinal, o que é a cidade? O que a define? E espaço urbano? Serão a mesma coisa? É possível pensar em cidades imensas, metrópoles ou megalópoles, da mesma maneira que se pensa em cidades de porte médio de um estado como São Paulo? E as cidades pequeninas, nos rincões, nos sertões, podemos chamar de “espaços urbanos”? Definir importa. “Cidade” não é o mesmo que “espaço urbano”, que é definido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como um espaço que contenha mais de vinte mil habitantes e tenha uma certa arquitetura e conformação, com avenidas, prédios, indústria e comércio (IBGE, 2017). Ou seja, uma pequenina cidade, que é a materialização de um possível espaço urbano não é, necessariamente, considerada como um.

Segundo o IBGE (2017) espaço urbano e rural se diferenciam por diversos critérios, tais como “a delimitação político-administrativa; o corte populacional; a densidade demográfica; a ocupação econômica da população. Além deles, destacam-se também a morfologia e o modo de vida” (ANGULO; DOMÍNGUEZ apud BERNARDELLI, 2010).

Já a cidade pode ser considerada a materialização de um espaço urbano, com elevado adensamento populacional. No entanto, aqui interessa-nos, mais que tratar desses conceitos e de dados técnicos, a cidade vivida, viva, percebida, sonhada e oferecida aos que nela habitam e, em especial, às crianças. Conceitos e definições são importantes para a compreensão e delimitação do que se quer tratar, justamente para irmos além. Mas não precisam ser carentes de poesia e encantamento. Nesse sentido, ao definir o que é cidade Rolnik (1988, p. 7- 8), afirma que

O viajante de muitos tempos e lugares reconhece em seu caminho os vestígios da proximidade com a cidade. Sobe montanhas, rios e pedras e da natureza primeira se implanta uma segunda natureza, manufaturada, feita de milhares de pelas geométricas. Fruto da imaginação e trabalho articulado de muitos homens, a cidade é uma obra coletiva que desafia a natureza.

Ela nasce como processo de sedentarização e seu aparecimento delimita uma nova relação homem/natureza: para fixar-se em um ponto para plantar é preciso garantir o domínio permanente de um território.

Imbricada portanto com a natureza mesma da cidade está a organização da vida social e consequentemente a necessidade de gestão da produção coletiva. Indissociável à existência material da cidade está sua existência política.

Desde sua origem, como local cerimonial, é na cidade também que se localizam os templos, onde moram os deuses capazes de garantir o domínio sobre o território e a possibilidade de gestão da vida coletiva.

Centro de expressão de domínio sobre um território, sede de poder e da administração, lugar de produção de mitos e símbolos- não estariam estas características ainda presentes nas metrópoles contemporâneas? Cidades da era eletrônica, não seriam suas torres brilhantes de vidro e metal os centros de decisão dos destinos do Estado, país ou planeta? Não seriam seus out-doors, vitrinas e telas de TV os templos dos novos deuses?

 

Rolnik (1988) nos faz pensar nas cidades como espaços coletivos, cheios de possibilidades, humanidade, confronto com a natureza. É esta cidade que nos interessa. É sobre ela que pretendemos nos debruçar. Mas há peculiaridades que precisam ser destacadas. Neste texto, especificamente, tratamos de atividades desenvolvidas em duas cidades do interior do estado de São Paulo, uma com cerca de quarenta mil habitantes e outra com cerca de duzentos e quarenta mil habitantes. São cidades, respectivamente, de pequeno e de médio portes do centro oeste paulista. Tais cidades oferecem possibilidades e também limitações. O centro-oeste paulista fica longe da capital do estado, ao menos 400 quilômetros. Teatros, museus, bibliotecas, galerias existem, mas não com as condições e em abundância de ofertas, como nas capitais.

Caminhar e habitar em espaços urbanos requer reflexão a respeito de que espaços tratamos. São espaços centrais? Periféricos? São metrópoles? Cidades médias? O que há para desvendar? O que se pode desfrutar? É possível, de fato, caminhar pelas cidades, principalmente as maiores? O que torna uma cidade “caminhável”? O que descobrimos ao caminhar, ao perceber os nossos entornos?

Speck (2017) trata, em sua obra Cidade Caminhável, da Teoria Geral da Caminhabilidade. Uma cidade para todos, caminhável, atende a quatro condições principais de caminhabilidade: “ser proveitosa, segura, confortável e interessante”.

Cada uma delas é essencial, mas não é suficiente quando isolada. Proveitosa significa que a maior parte dos aspectos da vida cotidiana está por perto e são organizados de tal modo que uma caminhada atenda às necessidades do morador. Segura significa que a rua foi projetada para dar aos pedestres uma chance contra acidentes com automóveis: os pedestres não tem apenas que estar seguros; precisam se sentir seguros, condição ainda mais difícil de atender. Confortável significa que edifícios e paisagem conformam as ruas como “salas de estar ao ar livre”, em contraste com os imensos espaços abertos que, geralmente, não conseguem atrair pedestres. Interessante significa que as calçadas são ladeadas por edifícios singulares agradáveis e com fartura de sinais de humanidade (SPECK, 2017, p. 21).

 

Procuramos, justamente, refletir a respeito dos olhares de crianças sobre as cidades, de observações, de lugares e contextos que se abrem para o olhar do caminhante, do observador. Partimos do princípio de que é necessário pensar sobre esses aspectos na formação de professores e professoras. Rolnik (1988, p. 9) dirá que “[...] além do continente de experiências humanas, a cidade é também um registro, uma escrita, materialização de sua própria história”. Pensamos, essencialmente, na criança e sua relação com as cidades. Seus olhares, percepções, compreensões e possibilidades de vida a partir da fruição de exposições fotográficas.

A criança e a cidade

Nas últimas décadas emerge o tema sobre a criança e a cidade Que cidade, afinal, queremos? De que cidade falamos? Uma cidade próxima de um ideal mais humanizado precisa ser inclusiva e considerar as diferenças, precisa oferecer espaços e possibilidades a todos/as os/as que nela habitam. Nesse sentido é preciso pensar onde estão as crianças na cidade. Em casa, na escola, em atividades diárias com os responsáveis, em espaços minimamente seguros, seria a resposta que muitos dariam. Crianças estão presentes nos lugares mais diversos, ocupando as ruas, as praças, os shoppings, participando da vida na cidade. A cidade, com suas contradições, com suas possibilidades e interdições, sua beleza e lealdade, sua linearidade e descontinuidades oferece o real, a matéria, a vida na qual as crianças estão inseridas.

A presença das crianças ora é desprezada, ora incomoda. Se faz sentir no permitido, no interditado. Não raro, há adultos propondo que restaurantes e outros espaços não aceitem crianças, ou reivindicam lugares exclusivos que, na verdade, existem para serem de todos ou, ao menos, dos que podem pagar para estar neles. As possibilidades de liberdade e de transitar pelas cidades não são as mesmas para todos. Variáveis como classe social, posição na cadeia produtiva, faixa etária, entre outras, influenciam nas possibilidades de mobilidade, de entrada e permanência nos espaços e na percepção que se tem das cidades. O ideal de uma cidade caminhável, mais humanizada e feita para e pelas pessoas e não apenas para o trânsito de veículos está longe de se concretizar em boa parte do planeta. Planeta que não é só nosso. Nesse sentido Santos (2022, p.97) salienta que

Construímos o mundo que conhecemos com suas possibilidades e infortúnios, em ordem concreta e imaterial, alheios a outros não humanos sobre o planeta e às manifestações da Terra, outro ser vivo. Colocamo-nos nesse lugar de destaque transitando como criadores e criaturas, Criadores do que transformamos a partir das mãos e do pensamento: um mundo artificialmente construído que nos abriga e incorre em desigualdades várias. E não paramos de inventar e reinventar a própria existência, não raro, recorrendo a ações e métodos destrutivos, de desconsideração e desprezo pela própria vida.

 

É complexo lidar com a cidade, construção humana, ligada a sistemas econômicos, a regimes políticos, a modos de viver de seres que acreditam ser os donos do planeta. E, dentro desse emaranhado de relações humanas estão as crianças. Santos também afirma que em diferentes situações vivenciadas por adultos e crianças, “[...] as pessoas adultas ignoram ou diminuem a infância, as crianças e seus contextos, impedindo ou considerando irrelevante sua atuação, pensamento ou participação.” (SANTOS, 2022, p. 99).

Do ponto de vista formal passamos à ideia de que as crianças têm muito a contribuir socialmente, não sendo o processo de socialização uma via de mão única, imposta de cima para baixo, de acordo com visões adultocêntricas de mundo. A criança cria, recria, seleciona os elementos da cultura para a resolução de problemas e, inclusive, contribui com o mundo adulto trazendo o novo à sociedade (CORSARO, 2011).

Se você perguntasse a um mestre zen o que é criança, ele provavelmente responderia com um profundo e tranquilo silêncio. Isso porque uma resposta única e definitiva não existe, assim como não existe essa criança inabstracto definitiva (com o perdão dos filósofos). Por outro lado, poderíamos brincar de dialética e dizer o que não é criança: por exemplo um ser inferior ou primitivo, dada uma visão evolutiva e redutora de humanidade; ou então um simples organismo passivo de ser adestrado e condicionado por mecanismos sociais; ou ainda um indivíduo que sequer vem a ser alguma coisa, levando em conta nossa realidade subdesenvolvida onde o índice de mortalidade infantil se mantém assustador (DAMÁSIO, 1994, p. 7).

O autor nos convida, ainda, a uma revisão de nossas posturas e ideias, por outra perspectiva. Para ele, é preciso “tirar a criança da sua posição de objeto (dos pais, da escola, das teorias, do Estado) e deixar que ela ocupe sua posição de direito, que é a de ser um sujeito em seu momento específico de vida” (DAMÁSIO, 1994, p. 8).

Quando nos referimos à infância como como uma forma estrutural queremos dizer que é uma categoria ou uma parte da sociedade, como classes sociais e grupos de idade. Nesse sentido as crianças são membros ou operadores de suas infâncias. Para as próprias crianças, a infância é uma forma estrutural permanente ou categoria que nunca desaparece, embora seus membros mudem continuamente e sua natureza e concepção variem historicamente. (CORSARO, 2011, p. 15-16).

 

Dependendo do campo de estudos, e das discussões realizadas, singular e plural fazem diferença e marcam posições teóricas e políticas. Infância ou infâncias, por exemplo, gera discussões e polissemias. 

A criança vive a infância onde está inserida, da forma em que lhe é apresentada e lhe é possível, uma vez que suas primeiras experiências, em princípio, são pautadas pelas escolhas das pessoas adultas que dela cuidam e educam, sendo a ideia de infância uma construção social, que, como defende Régine Sirota, ‘depende ao mesmo tempo do contexto social e do discurso intelectual’ (2001, p. 10). Essa criança é atravessada pelos contextos históricos e sociais que atualmente compreendemos como marcas da diferença (gênero, raça, etnia, classe social, religião, geografia, dentre outras) e ocupa a tempos e espaços variados. Essa forma de ocupação coloca as crianças na História, na Geografia, no mundo, como sujeitos, partícipes, mesmo que suas proposições sejam descartadas pela maioria e seus pensamentos pouco explicitados (SANTOS, 2022, p. 101).

Santos (2022) também salienta que a compreensão da vida como experiência é diferente para adultos e crianças. Tendemos a crer que a visão do adulto sobre o mundo é sempre superior. Não costumamos valorizar o olhar peculiar das crianças sobre a cotidianidade. Como a criança vê a cidade? O que ela vê? O que seus olhos captam em termos de experiências estéticas? Tais experiências podem marcar uma vida. Weiss (1997), artista, educadora e brinquedista, em sua obra “Brinquedos e Engenhocas - atividades lúdicas com sucata”, relata algumas experiências estéticas que foram fundamentais em seu processo de formação como artista. Diz ela

Outra lembrança muito viva desse período da infância é a de um caminho de eucaliptos, numa região do interior, onde passávamos férias. Nesse caminho havia troncos interessantes, raízes torcidas saindo do chão, pedras com vários formatos, folhas coloridas... Nesse espaço brincávamos como se tudo fosse muito precioso. Com a terra, com o barro, moldávamos utensílios “valiosos”, enfim, parecia que ali, naquele pedaço de terra, havia de tudo, um pedaço de tesouro de um universo fascinante e misterioso (WEISS, 1997, p. 9).

Se permitirmos que nossa memória descanse nos devaneios da infância nos lembraremos, como Weiss (1997), de inúmeros momentos de fruição, de alegrias e descobertas estéticas capazes de nos transportar a cenas de encantamentos, belezas e sensações que, de alguma forma, ficaram em nós e contribuíram para a formação do gosto e de definições posteriores de vida.

Por mais que adultos tentem interditar as crianças em espaços das cidades e determinar o que é feito para elas e o que não lhes é acessível, as crianças encontram seus caminhos e suas maneiras de viver e descobrir as cidades. O que lhes encanta? O que lhes chama a atenção? O que descobrem? O que lhes marca? Para sabermos, é preciso ouvi-las. É preciso que saibamos nos despir da ideia de que nós, adultos, sabemos tudo e elas, nada ou muito pouco, ou ainda que estão equivocadas. É preciso ir em busca do olhar das crianças sobre o mundo, sobre os seus entornos, sobre o que compreendem e lhes marca. Percorrendo ruas das cidades, observando marcos, monumentos, prédios históricos, andando por calçadas, praças, visitando exposições, as crianças formam suas concepções sobre importância, beleza, sobre, por exemplo, o que vale ser guardado, fotografado. É justamente sobre o “ver” a cidade por meio de fotografias que nosso foco se concentra.

O que vale ser fotografado? A criança e o que ela observa na cidade: Arte por meio da fotografia

Faremos aqui uma breve “viagem no tempo”. Desde o ano de 2014 temos desenvolvido um novo olhar para o interior do Estado de São Paulo por meio da fotografia de viagens, paisagens, monumentos, prédios históricos, ruas, praças, templos, ruínas e tudo o mais que vamos encontrando pelo caminho. Tais fotografias renderam exposições e interações com crianças de diversas escolas da cidade de Marília-SP e região. De lá para cá passamos por algo que não havíamos experimentado, ao menos nas proporções e rapidez que as coisas tomaram: no ano de 2020 uma pandemia[4] assolou o planeta. A Covid-19 mostrou potencialidade letal para seres humanos em diversos casos em relação a quem contraiu o vírus, que ataca o sistema respiratório. A humanidade, em seu conjunto de territórios e países, restringiu suas atividades econômicas e sociais drasticamente, com o intuito de coibir a propagação do vírus enquanto não se encontrava uma vacina. Apenas no Brasil cerca de 700 mil vidas foram ceifadas. De 2020 a 2022 atividades pedagógicas presenciais em escolas foram suspensas, assim como outras, para evitar contágios. As atividades de ensino emergencial, por via remota, virtual, tomou conta dos espaços educacionais[5]. As experiências aqui apresentadas, em momentos presenciais e online, datam de 2016 até 2023. Elas se relacionam à Arte, mais precisamente a fotografias de lugares e peculiaridades de cidades do interior do Estado de São Paulo.

A partir do projeto fotográfico “Olhares para o interior de São Paulo”, de autoria de uma das pesquisadoras que subscrevem este texto, exposições fotográficas foram realizadas em espaços diversos das cidades de Marília e Garça, ambas localizadas no centro-oeste do Estado de São Paulo. O objetivo do projeto é o de levar, a públicos consideráveis, peculiaridades de lugares do interior do Estado, tendo como foco principal as cidades do interior. Prédios históricos, templos, estradas, ruas, casarios, calçadas, árvores, pessoas nas praças, nos espaços públicos, objetos na paisagem, vegetação e outras possibilidades para o olhar são os focos de interesse para a realização das fotografias.

As fotos renderam diversas exposições que foram visitadas por turmas de crianças de escolas públicas dos municípios de Marília e Garça. A primeira exposição ocorreu no mês de março do ano de 2016 no espaço das Oficinas Culturais Tarsila do Amaral, já extintas, que visavam fomentar a Arte e a Cultura em cidades do Estado de São Paulo. Nessa ocasião duas turmas de crianças do quarto ano de uma escola pública de Ensino Fundamental da cidade de Marília, SP, visitaram a exposição, que contou com a presença da autora do projeto das fotos para uma conversa sobre o seu trabalho.

A autora das fotos fez algumas apresentações delas às crianças, além de percorrer a exposição com elas, apresentando contextos, lugares e possibilidades de olhar e de fruição estética. Algumas perguntas foram feitas para aguçar a percepção das crianças, a respeito do que estavam vendo e vivenciando.

Entre as perguntas realizadas, para o início de diálogo com crianças com idades entre nove e dez anos, uma primeira se configurou: o que vale uma fotografia? Antigamente fotos eram caras, comprava-se um filme e você podia ter 12, 24, 36fotos. Você não via o resultado antes, só depois de o filme ser revelado. Hoje podemos com nossos celulares e câmeras observar na hora uma foto que tiramos. Mas, que ocasiões valem uma fotografia? Quando estamos em lugares diversos, o que nos chama a atenção? A estas questões, as crianças responderam que diversas situações valem uma fotografia: pessoas, comemorações, lugares.

Em relação a lugares, outra questão foi feita: que cidade, para vocês, valeria uma fotografia? A esta questão, as primeiras respostas foram surpreendentes. Uma primeira criança respondeu que uma cidade que vale uma fotografia seria Paris, França. Outras crianças responderam que o Rio de Janeiro, RJ, Brasil, valeria uma fotografia. Outras, ainda, sem terem certeza se o lugar seria uma “cidade” responderam que gostariam de conhecer a Disney, nos Estados Unidos.

Perguntamos, então, porque esses lugares seriam um bom roteiro e valeriam uma fotografia. Uma criança respondeu que Paris valia uma fotografia porque elas aprenderam na escola que Paris era uma cidade muito linda, a “Cidade Luz”. A cidade do Rio de Janeiro também foi apontada como uma cidade grande, linda e com muitos pontos turísticos que valeriam belas fotografias. A Disney, que alguns viram por fotos, seria, para muitas delas, um lugar “encantador”.

Após uma primeira conversa salientamos que na exposição não havia fotos de capitais ou grandes cidades, com mais de um milhão de habitantes, mas de cidades do interior do Estado de São Paulo, consideradas pequenas (de vinte a cinquenta mil habitantes) e médias (de cinquenta a trezentos mil habitantes), como Pompéia, Garça, Assis, Tupã, Lins, Marília, entre outras, todas do Estado de São Paulo. Algumas, ainda bem menores, com menos de 20 mil habitantes, também se fizeram presentes na exposição, como Lucianópolis, Vera Cruz, Oriente, Queiroz, entre outras. As fotos não mostravam pontos turísticos, grandes monumentos, nada que fosse considerado muito “especial”. Antes, mostravam momentos das cidades, coisas simples pelo caminho, alguns prédios históricos, templos, capelinhas, estações ferroviárias, ruínas, objetos, o “descartável” da vida, o mutável. As crianças começaram a reconhecer alguns lugares da própria cidade ou de outras cidades conhecidas e próximas. “Olha, minha avó mora em Pompéia”. “A igreja e a praça ficaram bonitas na foto”, disse uma criança.  Outra exclamou: “fotos num cemitério! Que “da hora!”. E assim circulamos pela sala, entre fotos, histórias e conversas. Após a visita guiada à exposição, as crianças disseram que outros lugares, considerados não turísticos, também “valiam uma fotografia”. Abramowicz (2011, p. 17-18) questiona sobre qual cidade a criança vê quando olha...

E como construir e exprimir esse olhar, e a partir de que ponto de vista? Que creche vê uma criança? Como resgatar uma certa dimensão estética desse olhar? Por que isso nos interessa e por que é tão difícil?  Há algumas respostas possíveis, entre tantas outras, sobre o porquê de termos tantas dificuldades e precisarmos de ferramentas teóricas sofisticadas para captar esse olhar (apesar de que, por vezes, o cinema retrata com agudeza o olhar da criança sobre o mundo). O olhar de uma criança nos remete a duas coisas extremamente complexas de pensar: o tempo e a infância.

Ao observar fotos das cidades em situações e lugares peculiares, o que se percebeu foi que as crianças, a partir de seus olhares sobre o lugar, perceberam que mesmo perto é possível encontrar temas muito interessantes e novos olhares para o cotidiano das cidades. Interessante notar que primeiramente elas se reportaram a cidades que são capitais, como Paris e Rio de Janeiro, provavelmente pelos cartões postais, por momentos de ensinamentos nas escolas, pela mídia, etc. A cidade de São Paulo, por exemplo, não foi citada como uma cidade que valeria a pena fotografar. Existem, portanto, marcos que são ícones e estão no imaginário popular, como o Cristo Redentor, a Torre Eiffel, entre outros. As crianças se surpreenderam ao perceber que uma feira livre ou uma pequena praça também poderiam ser interessantes lugares para serem fotografados.   

Imagem 1 - “Feira do Rolo”, Marília-SP, Brasil.

 

Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora Ana Paula Cordeiro

 

Imagem 2 - “Feira do Rolo”, Marília-SP, Brasil.

Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora Ana Paula Cordeiro

 

 

Imagem 3 - “O vendedor de tapetes.” Marília-SP, Brasil.

Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora Ana Paula Cordeiro

 

Em outra ocasião, no fim do ano de 2018, com estudantes do Ensino Médio numa escola pública da cidade de Garça, SP, com idades entre 15 e 18 anos, houve, igualmente, surpresa e alegria com a percepção de que o próximo, o cotidiano, o comezinho, o que encontramos pelos caminhos podem se tornar temas interessantes de fotografia. Algumas crianças/adolescentes relataram que mesmo vivendo na cidade não se lembravam de determinado lugar. Uma adolescente, que se mudou da cidade de Vera Cruz para Garça relatou que, na cidade natal, nunca tinha reparado numa pequena capela de madeira que fica numa ruazinha ao lado da igreja matriz, que é muito grande e alta. A pequena capela de madeira, que fica localizada nessa pequena ruela e protegida por um portão, nem sempre aberto, passou por muitos anos despercebida aos olhos da adolescente, que se surpreendeu com a “descoberta”.

 

Imagem 4 - Exposição

Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora Ana Paula Cordeiro

 

As crianças maiores, adolescentes, demonstraram interessar-se mais por cores, fotos de grafites, cenas urbanas com características vivas e afeitas a espaços frequentados por jovens.

 

Imagem 5 - São Luís do Paraitinga. SP, Brasil.

Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora Ana Paula Cordeiro

 

 

Imagem 6 - Grafite. Franca. SP, Brasil.

Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora Ana Paula Cordeiro

 

Durante o período da pandemia foram realizadas conversas e bate-papos online com crianças e adolescentes, via Google Meet. Em uma dessas ocasiões houve um profícuo diálogo com crianças do Projeto Guri, ligado ao aprendizado da música. Conversamos com as crianças sobre a importância da Arte e do Lúdico em tempos de pandemia, no ano de 2021. Questões como brincar, a rua como espaço de criação, de invenção, de observação e de aprendizado, de fruição estética foram temas discutidos. Uma coisa percebida pelas crianças foram algumas mudanças de hábitos vistas nas cidades durante a pandemia. As crianças, em oportunidades ao ar livre, saiam mais para as ruas, para conversar e brincar de algumas brincadeiras coletivas com bolas e outros materiais. Também foi analisado um belo texto escrito por uma educadora que participou da conversa, intitulado: “Vai passar”.

As experiências com as exposições e as conversas com as crianças nos levaram a perceber que, talvez por influências da mídia, as crianças tendem a ver as cidades maiores e turísticas como as verdadeiramente interessantes. O contato com novas formas de ver as cidades do interior em suas curiosidades e especificidades tem produzido importantes reflexões sobre a história dos lugares, a fruição estética e outras formas de ver o entorno. Um próximo passo será o de levar as crianças a saídas fotográficas para produzirem suas próprias imagens sobre a cidade.

Considerações finais

O apanhador de desperdícios.

Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto de palavras

Fatigadas de informar.

Dou mais respeito às

Que vivem de barriga no chão

Feito água, pedra, sapo.

Entendo bem o sotaque das águas.

Dou respeito às coisas desimportantes

E aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade das tartarugas

Mais que a dos mísseis.

Tenho em mim um atraso de nascença.

Eu fui aparelhado para

Gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios.

Amo os restos,

Como as boas moscas.

Queria que a minha voz

Tivesse um formato de canto.

Porque eu não sou da informática.

Eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor meus silêncios.

(Manoel de Barros, Livro sobre o nada).

 

Arte, crianças, cidades e fotografia, dentro da proposta que apresentamos, nos remete ao “apanhador de desperdícios” de Manoel de Barros. Porque os “olhares para o interior do Estado de São Paulo” nos levaram a quintais, calçadas antigas, velhos objetos, feiras livres, ruínas, “desimportâncias” que, na verdade, são as coisas que fazem a vida valer a pena. O olhar da criança difere do olhar do adulto. Crianças são capazes de ver e cuidar de detalhes que adultos muitas vezes não se permitem ver. Uma pedrinha na calçada, uma planta no caminho, folhas secas de árvores, palitos coloridos de sorvete, pássaros voando e pousando nas poças: são as desimportâncias poéticas que encantam as crianças. Infelizmente a mesmice das sociedades urbanas ocidentais, impregnam os olhares das crianças de supostas grandezas distantes, fazendo-as crer que “Paris é a cidade luz”, a cidade que vale a pena ser visitada e fotografada, desconsiderando-se as condições sociais das crianças, suas realidades e lugares de origem. Uma professora de sala isolada de zona rural certa vez nos contou que as crianças criavam brinquedos com galhos, cacos de louças e sementes encontradas pelos caminhos, pomares e velhas cozinhas. Os limites entre os adultos e as crianças, entre o rural e o urbano, entre a Arte e a decepção, entre a “informática” e a “invencionática” não precisam ser tão rígidos. É possível olhar muitas vezes, encontrar o novo no velho, encontrar saídas nos becos, encontrar luz em qualquer cidade. É possível o diálogo amoroso das crianças com as cidades, com a Arte, com a cultura. É possível uma formação estética capaz de marcar positivamente vidas que começam a viver. É possível pensar com mais carinhos nos diversos aspectos capazes de humanizar as cidades. Há caminhos! Há que se ter coragem.

 

REFERÊNCIAS

ABRAMOWICZ, Anete. A pesquisa com crianças em infâncias e a sociologia da infância. In: FARIA, Ana Lúcia Goulart de; FINCO, Daniela. Sociologia da Infância no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2011.

 

ANJOS, Cleriston Izidro dos; PEREIRA, Fábio Hoffmann. Educação infantil em tempos de pandemia: outros desafios para os direitos, as políticas e as pedagogias das infâncias. Zero-a-Seis, Florianópolis, v. 23, n. Especial, p. 3-20, jan./jan., 2021. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/view/79179>. Acesso em: 15 ago. 2023.

 

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CORSARO, Willian. Sociologia da Infância. Trad. Lia Gabriele Regius Reis. Porto Alegre: Artmed, 2011.

 

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[1]Graduada, Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). E-mail: a.cordeiro@unesp.br

[2] Graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista. Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). E-mail: luciana.a.araujo@unesp.br

[3] Graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Doutor em Educação pela Universidade Federal de Alagoas (UFA) e Pós-Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail: cianjos@yahoo.com.br

[4]Recomenda-se a leitura dos textos dos dossiês “As crianças e suas infâncias em tempos de Pandemia” (SANTOS; SARAIVA, 2020) e “Educação Infantil em tempos de pandemia” (ANJOS; PEREIRA, 2021), dentre outras produções.

[5]Destacamos que as experiências relatadas aqui foram realizadas no contexto do Ensino Fundamental. No campo da Educação Infantil, o debate sobre atividades não-presenciais e com uso de recursos tecnológicos se tornou ainda mais intenso, conforme discutem Anjos e Francisco (2021).