Entre_janelas: estandartes para conexões, educações e criações possíveis em tempos pandêmicos

 

Between_windows: banners for possible connections, educations and creations in pandemic times

 

Tiago Amaral Sales¹

Universidade Federal de Uberlândia

 

Tamiris Vaz²

Universidade Federal de Uberlândia

 

 

Resumo

A emergência da pandemia decorrente da covid-19 nos forçou a realocarmos as nossas vidas de múltiplas formas e, dentre elas, os modos de nos encontrarmos. Atentos às janelas e ao que nelas pode vazar, pensamos e mobilizamos possibilidades de conexões, educações e criações em tempos pandêmicos. A dimensão artístico-educativa dos estandartes nos guiou, junto dos deslocamentos possíveis pelas janelas. A partir da oficina ‘Entre_janelas: estandartes para conexões possíveis em territórios pandêmicos’, proposta e executada em 2020, tecemos linhas de memórias, ensaiando um arquivo que possa contaminar experimentações outras entre as janelas disponíveis e vazando para tempos outros, diferentes, múltiplos.

Palavras-chave: Oficina; Encontros; Arte; Educação.

 

Abstract:

The emergence of the covid-19 pandemic forced us to reallocate our lives in multiple ways and, among them, the ways of finding ourselves. Attentive to windows and what can leak through them, we thought and mobilized possibilities for connections, educations and creations in pandemic times. The artistic-educational dimension of the banners guided us, along with the possible displacements through the windows. From the workshop 'Between_windows: banners for possible connections in pandemic territories' (Entre_janelas: estandartes para conexões possíveis em territórios pandêmicos), proposed and carried out in 2020, we weave lines of memories, essaying a file that can contaminate other experiments between the available windows, and leaking to other, different, multiple times.

Keywords: Workshop; Encounters; Art; Education.

 

 

Abrindo janelas, criando rotas

O ano de 2020 começou despretensioso, como qualquer outro ano. Não fosse a instabilidade política, a ascensão neofascista e ultraconservadora no Brasil e no mundo, estaria quase tudo bem. Será? De longe, escutávamos rumores de vírus novos que causavam adoecimentos e mortes além mar. De início, talvez não demos tanta atenção a isso. Já estávamos tão imersos na correria do ano que se iniciara, nos dilemas cotidianos e nos sonhos de revoluções possíveis, que seguimos vivendo. De repente, junto do carnaval de 2020, a virtualidade viral materializou-se em perigo real, levando aos isolamentos sociais decretados a nível mundial, porém executados em diferentes escalas nos países e nos tempos que se seguiram. 

Tempo… A iminência e a materialidade viral embaralharam também a concretude cronológica que vivenciávamos, demandando-nos ferramentas outras para estar no mundo, viver e agenciar encontros. Encontros estes que se mostraram vitais para que pudéssemos respirar e sustentar o peso daquele tempo. Mas, como nos encontrar naqueles dias apesar dos isolamentos sociais? Talvez, um caminho, quiçá o único possível, foi aprender a viver apesar de, como ensina o personagem Ulisses à Lori, no livro Uma aprendizagem ou o Livro dos prazeres, de Clarice Lispector: “[...] Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive, muitas vezes, é o próprio apesar de que nos empurra para a frente” (2019, p. 23). 

Já nos dizia Gilles Deleuze, em seus diálogos com Claire Parnet, que “[...] Não é fácil ser um homem livre: fugir da peste, organizar encontros, aumentar a potência de agir, afetar-se de alegria, multiplicar os afetos que exprimem ou envolvem um máximo de afirmação” (1998, p. 75). Se antes da pandemia da covid-19 já não era fácil viver tal liberdade, com ela, somada aos ultraconservadorismos e retrocessos políticos acentuados, tornou-se mais difícil ainda. Viver apesar de é encontrar os possíveis em meio ao que se coloca como inóspito e escasso de possibilidades. “Um pouco de possível, senão eu sufoco”, afirma Deleuze (2013, p. 135). Estar atento aos possíveis foi um movimento que nos colocamos ativamente, mesmo que, em muitos momentos, de formas difusas e, por que não, também confusas. Experimentamos os trajetos possíveis pois, como canta Chico Buarque, “apesar de você amanhã há de ser outro dia”[1].

Ao longo de 2020, em meio a esses dolorosos processos, os encontros de estudo e de trabalho acadêmico na nossa matilha de pesquisa[2] se tornaram espaços coletivos de exploração de possibilidades de encontros online, permeando-nos com o que podíamos fazer através das tecnologias digitais. Semanalmente, nos reuníamos em plataformas de webconferência, cada qual em sua janela, para forjar respiros em tempos de distanciamento social. Nesse processo fizemos leituras, conversamos sobre filmes, sobre a escola, sobre a vida, experimentando conexões e tempos possíveis entre telas pela arte.

No final desse mesmo ano já havíamos passado por inúmeras fases da paralisia à retomada adaptada de trabalho; da tentativa de um novo normal à percepção de que outros mundos já estavam a se criar, tão incapazes de corresponder a uma normalidade quanto os anteriores também já o eram. Esses tempos de frustrantes tentativas de adaptação de encontros presenciais em remotos foram nos mostrando que essa liberdade, tão almejada pela humanidade, não poderia ser materializada pela descoberta de um modo de eliminar o vírus, fazendo disso um retorno às existências e problemas anteriores. Isso porque, como nos diz Deleuze, colocar o problema não é simplesmente descobrir, mas inventar. A descoberta incide sobre o que já existe [...]. A invenção dá o ser ao que não era, podendo nunca ter vindo (DELEUZE, 2012, p. 11). Se há algo que possa ser chamado de liberdade, estaremos mais próximos dela na medida em que nos fazemos capazes de constituir os próprios problemas, inventando mundos/ares que pedem passagem.

Depois de meses atravessados pelos desafios do quase sufocamento, surgiu a ideia de desenvolver uma proposta de vivência que explorasse essa busca por correntes de ar intensas o suficiente para permitir contato, partilha, forças de estar à altura de nossas fraquezas (PELBART, 2016). 

Por estarmos completamente imersos no contexto pandêmico, trabalhando permeados por tecnologias digitais, mas desejosos por encontros vívidos e intensos, buscamos propor algo que instigasse os participantes a experimentarem possibilidades de encontro e expressão entre artes e janelas. A dimensão da janela já nos inquietava como grupo de pesquisa, e decidimos nela apostar. 

Primeiramente pensamos na ideia de investir, a partir das janelas, nas bandeiras, como esse elemento controverso utilizado como símbolo patriota de uma necropolítica[3] falocêntrica, heteronormativa e caucasiana, mas também como marca de resistência, de afirmação de diferenças. Pensando numa relação não só simbólica, mas também de implicações na movimentação de corpos em diferentes espaços e tempos, passamos ao elemento estandarte, que se mostrou profícuo às nossas experimentações. Com a força das procissões festivas, religiosas, carnavalescas, sagradas e profanas, em um devir-estandarte, força intensiva e sinuosa do deslocamento alegre, contaminamo-nos desejosamente pelas potências de colocar os estandartes em movimento por diferentes janelas que compõem os nossos cotidianos.  

Mais de um ano depois deste acontecimento-oficina, decidimos revisitar os registros corporais, visuais e escritos dele resultantes, buscando criar neste texto um arquivo dos estandartes entre_janelas, como, quem sabe, uma caixa de afetos engendrados que possam servir como ferramentas para pensar em modos de existência em um mundo em ruínas. A partir deste arquivo de nossas experiências e experimentações, tecemos ensaios em tempos outros de pandemia, de educação, de criação e de vida. Percebemos que as ideias aqui traçadas atravessam os campos de educação, arte e filosofia, conectando-os transversalmente a partir das constantes experimentações suscitadas. 

Ao escrevermos este texto, também colocamo-nos em movimento de oficinar, inspirados no que Vivian Pontin e Ana Godoy (2017) chamam de escrita-oficina:

Uma escrita (...) pode ser encarada como oficina, da qual participam elementos variados, sem necessariamente ser imposta uma hierarquia, uma vez que todos experimentam algo numa oficina e esse algo pode até fugir daquilo ou daquele que o propõe (p. 1563).

 

Na escrita e nos encontros, fomos traçando laços, conexões em seus movimentos esquizos, aberrantes, disformes: movimentos de estar vivo, movimentos da diferença e de estar com o outro sem buscar a padronização.

Uma escrita-oficina, para além da experimentação, exige a feitura de alianças, exige uma trama de fios, exige que se criem laços, muitas vezes de conexões estranhas, esquizas, não esperadas, que a escrita encontra a ocasião de trazer à tona (PONTIN; GODOY, 2017, p. 1563).

 

Buscamos e desejamos que estas escritas, tanto em sua produção e atualização quanto nas possíveis reverberações a partir dela, possam ressoar como oficinas de movimentos outros, de linhas disformes, embrionando fugas possíveis em criações de mundos porvir que fissurem qualquer tentativa de linearizar o tempo.  

 


Figura 1: Estandarte produzido pela propositora da oficina.

Fonte: Arquivo pessoal de Tamiris Vaz (2020).

 

Entre_janelas

Pular a janela? Pular de janela em janela? Janelas do corpo, janelas da tela, janelas da casa, do apartamento, janelas de telas, telas do computador, do notebook, do celular, do tablet… janelas da vida, conexões possíveis em momentos nos quais se torna impossível preservar uma “normalidade” agora já obsoleta. A janela como única possibilidade de encontro? Encontros à distância, encontros presenciais. Distância com presença?

Sales et al (2020, p. 383)

 

            Entre as janelas existe uma vastidão sem fim. Entre nas janelas, nos dizem incessantemente os convites virtuais que nos bombardeiam e se intensificaram desde o começo de 2020 e da emergência pandêmica. São tantas as janelas que se apresentaram para nós: as janelas de nossas casas e apartamentos, janelas tecnológicas, janelas do corpo. As janelas do lar tornaram-se um 'apertamento' de trabalho e descanso, quando possível; as tecnológicas com suas virtualidades se abriram em possíveis e potências; janelas corpóreas boca, nariz, ouvido, e… como espaços de desejos de extravasar. 

As tantas janelas apareceram como únicos espaços passíveis, em muitos momentos, de ventar, entrar e sair, comunicar o dentro e o fora. Como animais sociais, comunicar-se com alguém é sempre necessário, mas com quem poderíamos entrar em diálogos intensivos? Com quem nossas janelas nos permitiam nos comunicar? Quais ventos nelas ventam, e até onde chegam? O que venta além de ventos? Que 'possíveis' suscitariam estes ventos e ventanias entre_janelas? O que poderíamos olhar entre as janelas?

Nos olhares também nos expressamos e nos contaminamos de outridades? O que dizem nossas janelas? Quais embriões de conexões, educações e criações possíveis habitam nas janelas? O que é o tempo quando mirado através de uma janela? Tempo que passa ou tempo que acontece? 

A espera pelo fim de uma pandemia, pouco a pouco, vai se tornando longa demais para deixar passar. Percebemos que, talvez, isto não acabaria tão cedo, e, mais do que nunca, era urgente adaptar-se, ensaiando outros modos de existências e de resistências possíveis. Cresce a necessidade de fazer acontecer esse tempo, de criar estratégias de contato, de contágios poéticos, de construir conexões capazes de nos tirar de um lugar de observatório do mundo, como se fosse possível pausar a existência.

Nesta escrita, assim como na oficina, exploramos múltiplas janelas como espaços possíveis de troca em territórios pandêmicos: janelas como territórios que permitem vazar, atravessar caminhos, dialogar. Alguns de nossos registros das janelas permeadas nas experimentações que vivenciamos na oficina encontram-se espalhadas neste texto, como também janelas, espaços imagéticos entreabertos para vazar (d)as palavras. 

Ao planejar a dinâmica das oficinas, pensamos em janelas que pudessem ser passíveis de colocar um estandarte em movimento: Janelas da casa em que se olha para a rua? Janelas do computador, do celular, do tablet em que se olha o outro e é por ele olhado? Pelas janelas víamos e éramos vistos de perspectivas e formas diferentes, e perceber isso nos trouxe a dimensão da multiplicidade que habita as intervenções entre_janelas. Em um exercício de desenvolver uma oficina remota voltada ao encontro entre janelas, sabíamos que essas janelas, independentemente de quais fossem, precisavam tecer conexões com nossas janelas-telas tecnológicas. Foi a partir da rua que demos vazão para territórios virtuais. Abrir as janelas e percorrer os espaços do entre era encontrar territórios possíveis de existir e resistir, de criar e nos movimentar. Desejávamos incidir no mundo, produzir fugas, respirar, e cada vento que atravessava as janelas era um respiro vital. Coletivamente, percebemos que as nossas forças poderiam se multiplicar. 

 

Figura 2: Estandarte produzido por participante da oficina.

Fonte: Arquivo pessoal de Tamiris Vaz (2020). 

 

O que nos passa quando, por uma janela da casa, do carro, do corpo, do celular, do computador , nos encontramos com alguém? Que contatos são esses que vamos construindo ao abrir uma sala de videoconferência com as nossas roupas, as nossas palavras, a nossa atenção, o nosso corpo, o nosso tempo - e mobilizamos atividades até então apenas exercidas presencialmente? Que bandeiras erguemos ao abrir uma câmera, abrir uma janela, abrir a cabeça para uma festa online ou uma terapia remota? Quais paisagens compomos para serem vistas e conectadas entre telas e janelas? Seriam estes encontros suficientes para a nossa demanda de contatos? Poderiam suprir os nossos desejos de misturas corpóreas? Possíveis… mais uma vez recordamos: o que vivíamos era o possível em cada momento, dentro do que percebíamos como realidade. 

Os afetos transbordavam: Preciso respirar! Me falta ar! Alguém me ouve?

A ordem das necessidades inclina um ser a reter de um objeto material e das ações que dele emanam tão somente o que lhe interessa (DELEUZE, 2012, p. 19). Frente a isso, o fim da pandemia pode nos parecer a única saída para que possamos finalmente voltar a respirar. Mal paramos para pensar que já estávamos sufocando antes mesmo do surgimento e disseminação desse ‘novo’ vírus. 

Quem tem direito a respirar, quando e por quais janelas? Vivemos em um mundo marcado por extrema desigualdade social, no qual o discurso científico é, ora tido como verdade absoluta, ora discutido como questão de opinião e ideologia. Sentimo-nos sufocados em um país cujos representantes governam explicitamente para as maiorias[4]. Muitos de nós, em diferentes graus, já vínhamos sufocando bem antes da chegada material e discursiva do SARS-Cov-2. 

 

Figura 3: Estandarte produzido por propositor da oficina.


Fonte:
Arquivo pessoal de Tiago Amaral Sales (2020).

 

Nosso exercício de abrir janelas em tempos pandêmicos é o de explorar estratégias para passagem de devires-brisas, irredutíveis ao espaço pandêmico, mas que eclodem nesse momento de extrema pressão. Estes exercícios convocam-nos a movimentar estandartes como gritos de existência, não apenas como saídas de uma pandemia, mas como vibrações que têm resistido entre as rachaduras de paredes sedimentadas há muito tempo, atravessando o corpo e fazendo-o vibrar nas ruínas de um mundo decrépito, ensaiando mundos outros. 

 

Corpos-estandartes

Se o corpo está vivo, ele precisa respirar. A porosidade, que é perigo, também é potência. O mesmo oxigênio que chega aos nossos pulmões e é transportado pelo nosso sangue, permitindo movimentar o nosso corpo, também oxida as nossas células e nos mata diariamente. Vivemos e morremos pelas janelas. Mas sem elas não existe vida: é preciso ventar

O corpo também é feito de janelas. Algumas delas são: a boca, os olhos, as orelhas, o nariz, o ânus, a vagina, o pênisEspaços que permitem viver, comunicar com o dentro e o fora. Também são lugares de insegurança e perigo de desestabilização. Nos nossos caminhares, construímos janelas outras no corpo: brincos, tatuagens, cirurgias, acidentes, cicatrizesPoderiam algumas janelas serem também marcas?[5]

Como uma casa cheia de paredes, moldamos os nossos corpos no correr da vida e das marcas, fruto de vivências, de experiências[6] que nos atravessam, movimentando desestabilizações dos organismos, permitindo que vejamos o mundo de outras formas, por outros ângulos. Até as nossas células possuem janelas: canais e túbulos que possibilitam permeabilidades. A janela é condição vital para a existência biológica: a vida acontece a partir das conexões e o corpo existe ao se tricotar[7]

Esta pandemia chegou como um acontecimento que desestabilizou os nossos corpos. As mesmas janelas que nos permitem respirar trazem também o risco do contágio. A boca[8], por exemplo, é o território da fala, dos beijos, da tosse e do espirro, misturando o desejo dos encontros com o medo das vulnerabilidades que nos colocamos a partir de nossas janelas-corporais. 

Em meio às incertezas e a um novo surto viral respiratório, inventar outros modos de respirar tornou-se mais que necessário: foi vital à sobrevivência. Na tentativa de trocar os ares e oxigenar os nossos corpos, pensamos em janelas que possibilitem ventar, vazar, falar, ouvir, comunicar. Janelas que sejam espaços de encontros, vazões e conexões. Junto das janelas, abrimos alas ou, quiçá, colocamo-nos atentos para as aberturas já existentes para que pudéssemos levar estandartes que permitissem encontros com outros (humanos e não humanos, experiências, tempos, afetos). Assim, propomos a criação de estandartes-conexões entre janelas destes territórios pandêmicos[9], na construção de diálogos, trocas, expressão das vozes dos povos que vivem em nós e que pedem passagem. 


Figura 4: Registro de oficina.

 

Fonte: Arquivo pessoal de Tamiris Vaz (2020).

 

O estandarte é um tipo de bandeira que não é hasteada, mas carregada por um coletivo em movimento, como guia. Ele traz símbolos das tribos, dos povos, muitas vezes com detalhes bordados à mão, envolvendo uma afetividade que produz micropolíticas (ROLNIK, 2018) a partir de uma representação macro (de uma nação, de uma religião, etc.). Demonstra aquilo que é importante para um grupo. Em uma procissão ele atua como um abre-alas, anunciando a chegada de um coletivo, abrindo caminhos para esse povo por vir.

 A partir do nosso contato com os estandartes, questionamos: quais mobilizações um estandarte pode provocar em um corpo? Quais povos são por ele mobilizados? O que é possível aprender, criar e experimentar a partir do encontro entre corpo e estandarte? Quais transbordamentos extravasam os encontros entre corpos-estandartes? 

Um estandarte não diz de si, ele diz de um povo. E não diz pela representação desse povo, mas pela presença dele. Ele anuncia a presença desse povo.

A que povos desejamos dar passagem? Que estandartes podemos criar entre os ventos de nossas janelas? Uma máscara de proteção pode ser um estandarte? E uma roupa? E a janela de casa? E em nossas redes sociais, que estandartes carregamos?

Levar um estandarte não envolve apenas o movimentar de um elemento autônomo, mas fazer do próprio corpo elemento vivo de atualização do pensar. Mais que carregar estandartes, acontecemos estandartes. O tempo aqui é o da presença, e o estandarte é deslocado às suas mínimas possibilidades de existência. 

Ao longo de uma hora o casal de porta-bandeiras carrega o estandarte de sua escola de samba. Três horas é o tempo de uso de uma máscara antes que ela umedeça e reduza seu fator de proteção. Vinte e quatro horas é o tempo que um conteúdo permanece visível nas postagens diárias de uma das redes sociais mais utilizadas nesses últimos anos. Dez horas é o intervalo de tempo em que a luz do sol permite ler da rua a mensagem escrita em uma bandeira pendurada na janela. E depois, ao anoitecer, talvez seja possível ver algo com a iluminação dos postes urbanos. 

Para todo movimento há um tempo, que não é o mesmo do pensamento. Para o pensamento, é preciso também perder tempo, descolar-se da mensagem imediata e dançar junto desse povo porvir. 

E que tempo é esse que corre junto de uma pandemia? Tempo de fechar janelas e, pouco a pouco, ir abrindo outras que possibilitem que o ar circule por novos fluxos. Mais do que tempo de parar no tempo Esperar por um novo normal? Criar um novo tempo anormal? ou de correr atrás de um tempo perdido Recuperar o velho normal? Possível? , fomos notando movimentos de aprender outros modos de estar juntos. Como diz Deleuze, em Proust e os Signos (2003, p. 23):

Graças à inteligência, descobrimos então o que não podíamos saber no início: que, quando pensávamos perder tempo, já fazíamos o aprendizado dos signos. [...] Tempo que se perde, tempo perdido, mas também tempo que se redescobre e tempo redescoberto. 

 

Deleuze (2003) diz, a partir da leitura de Proust, que o tempo que se perde prolonga-se nos signos sensíveis que não se explicam pelas linhas do tempo, mas que se redescobrem. Ficar em casa quando possível, especialmente nos períodos que antecederam a vacinação, ganhou dimensões de cuidado com o outro e consigo, enquanto a presença física, em muitas circunstâncias, passou a emitir signos de violência e de descaso com as vidas coletivas. O corpo, com as suas máscaras, os seus novos modos de cumprimentar com os cotovelos para evitar os geralmente desejosos apertos de mão, abraços e beijos, sua atenção para manter uma distância de dois metros de outros corpos, o hábito de passar álcool-gel nas mãos ao entrar e sair dos lugares, tudo isso foi emitindo signos entre o perigo e o desejo de contato. O uso incorreto da máscara, deixando nariz ou queixo de fora, por muitas vezes, foi tomado como um signo do negacionismo, um estandarte endossado por figuras públicas, a exemplo do próprio Presidente da República do Brasil durante a emergência pandêmica da covid-19.

Pensando na ampliação dessa ideia de estandarte para as configurações que nossos corpos vão tomando em tempos pandêmicos, em movimentos de abrir janelas para um dizer coletivo mesmo em isolamento social, desenvolvemos a oficina/vivência: Entre_janelas: estandartes para conexões possíveis em territórios pandêmicos, a qual permaneceu reverberando em nossos corpos, embrionando este texto e as cocriações (des)educativas, dele, advindas. 

 

A oficina

Pensar e mobilizar uma oficina foi buscar formas de colocarmo-nos em movimento coletivo e criador, de modo que não fosse homogeneizante, preservando e potencializando a singularidade de cada um que lá estava. O objetivo era expandir as multiplicidades em seus contágios afectivos, a partir da experimentação, da criação e do movimento de corpo e pensamento. 

A oficina Entre_janelas foi desenvolvida em formato online em três ocasiões ao longo do segundo semestre de 2020: em um encontro do nosso próprio grupo de pesquisa – Uivo: matilha de estudos em criação, arte e vida (UFU) –; em um evento organizado pelo grupo de pesquisa Povoar (UFRGS); e no Festival EntreArtes Digital (UFU).

Com duração aproximada de duas horas e meia, a proposta se desenrolou em dois momentos: o primeiro voltado à partilha de ideias sobre o que pode ser uma janela e como podemos produzir e movimentar estandartes através delas, e o segundo de conversa sobre os processos explorados pelos participantes. Partindo da apresentação de imagens de vivências do Grupo de Pesquisa Uivo e também de referenciais artísticos e filosóficos, lançamos a proposta de produção de um estandarte para circulação em territórios pandêmicos (pelo corpo, pela casa, pela internet, e… e… e…). Os participantes tiveram um tempo de intervalo para produzir e movimentar o estandarte na janela de sua escolha (física ou simbólica), registrando esse processo. 

Durante a oficina, experimentamos fazer de nossos corpos esse acontecimento. Apropriando-nos dos filtros da própria plataforma utilizada, que nos permite modificar digitalmente o cenário que contorna nossos corpos, fomos inserindo imagens de cartazes, bandeiras, paisagens urbanas que falam, gritam, ecoam palavras e imagens de protesto. 

Vestimos, no tempo da conversa, máscaras que falam junto de nossas vozes, ora como gritos de protestos, ora como apelo de um tempo em que nos falta ar.

Esse ato de fazer da própria imagem exibida em um encontro virtual uma possibilidade de estandarte evidencia nossos corpos, expressões, enquadramentos e cenários como elementos vivos que enunciam muito mais do que palavras. Vamos produzindo imagens/agenciamentos de corpos coletivos em territórios pandêmicos que, ao mesmo tempo que planificam e enquadram nossas comunicações, também vão proliferando desobediências pela insistência da produção de presenças e contatos que dizem de nossas angústias e desejos.

 

Figura 5: Experiência com filtros durante a oficina.

Fonte: Acervo Festival EntreArtes (2020).

 

Durante a oficina, fomos convidando os participantes a pensarem o estandarte como um elemento de movimentação de nossos corpos por janelas em tempos pandêmicos. A festa da congada, organizada anualmente em Uberlândia (MG), foi uma referência para pensarmos nos estandartes produzidos e carregados por ternos, em suas materialidades festivas, vibrantes, sagradas e profanas. Para além do objeto em si, os próprios corpos em movimento expressam a existência coletiva negra com suas gestualidades, suas presenças no centro da cidade, suas músicas, crenças e singularidades. São movimentações que fazem com que corpos, palavras, imagens e movimentos atuem em consonância, possibilitando acontecimentos e encontros que não apenas dizem ou representam, mas acontecem, promovem existências.

O pano colocado na janela como pedido de alimento em algumas cidades, os cartazes de fique em casa espalhados por janelas de inúmeros países no início da pandemia, as bandeiras do Brasil utilizadas como símbolos antidemocráticos, são alguns exemplos de como as janelas são vias de contato em atos políticos de diferentes tempos e contextos.

Para auxiliar em nossas derivas nas oficinas, elencamos alguns tópicos que pudessem nos guiar, sem que, necessariamente, limitassem os movimentos advindos dos encontros múltiplos que ocorreram. O objetivo com estas inspirações era potencializar os encontros. 

Experimentação: Liste tudo que pode ser janela no seu entorno e corpo. Com quem e o que é possível estabelecer contato com essas janelas? Em que momentos esses contatos acontecem? O que essas janelas expõem ao mundo? Com que mundos elas se comunicam? 

 

Janelas: O que se deixa passar no entre dessas janelas? O que habita o lado de cá dessas janelas? O quanto esse lado de cá contém o lado de lá? O quanto o lado de lá se faz dos encontros com o lado de cá?

 

Estandarte: Que povos habitam em mim e como posso dar passagem a eles a partir de um estandarte? Um estandarte que anuncie essa vida que se movimenta e que quer passar, deseja passagem. Por onde ela quer passar? Por qual janela ela pede passagem como um uivo de vento que, quanto menor a abertura, maior a intensidade de seu assobio?

 

Desejávamos que as oficinas fossem espaços para experimentações em janelas, em devir-estandarte. Assim, tais elementos as experimentações, as janelas e os estandartes foram linhas de força da oficina. 

Propusemos, então, uma sequência de ações, no intuito de disparar encontros inesperados nas experimentações dos participantes, em (ins)pirações afectivas para processos criativos porvir:

1. Escolha uma janela (da casa, do corpo, da internet, e). 

2. Observe com que vidas ela pode estar em contato. 

3. Sinta e registre (em escritas, fotos, vídeos, e…) o que pede passagem. 

4. Crie o estandarte com as ferramentas que dispuser.  

5. Compartilhe conosco o seu estandarte.

 

Perguntas seguiram ecoando em nós, conectando-nos na matilha que formou-se pela oficina:

O que eu quero/necessito dizer entre as janelas? O que nelas pede passagem? 

Em qual janela escolho movimentar o meu estandarte? Janelas-estandartes que se comuniquem com alguém, e que esse alguém não seja pré-definido.

Quais são as janelas que tenho, que consigo? Quais são as janelas-possíveis aqui e agora? Com o que/quem consigo me comunicar com essas janelas?

 

Nas janelas, existe a potência do encontro através do contato e dos contágios. Buscamos sugar o máximo dessas potencialidades, cultivando os possíveis com o corpo: dando passagem aos povos que habitam em nós e ao que demandou vazão. Esses atravessamentos abriam portas para 'educações' porvir, para aprendizados da arte de viver na pandemia, criando saídas, encontrando formas de nos encontrar, de agenciar bons encontros, de movimentar resistências, de criar fugas. 

            Procurar uma janela e dar vazão aos povos e vozes que habitam em nós e que nos inquietam nestes momentos de pandemia. Botar os estandartes nas ruas, nas janelas, nas redes, nas telas, nas frestas, em festas. Movimentar… Nas redes sociais, nas ventanas, em cartazes, bandeiras, lives, e… e… e… 

            Inicialmente, planejamos que nos quinze primeiros minutos de oficina falássemos acerca do processo das janelas, das criações e conexões entre elas, e dos possíveis encontros naquele período pandêmico entre-janelas. Também nos apresentamos enquanto integrantes do Grupo de Pesquisa Uivo

Percebemos que para tricotar janelas, primeiro precisávamos identificar quais janelas estavam, para nós, disponíveis. A janela apresentava-se como espaço que permite ventar. É possível ventar, respirar, vazar? Se sim, percebemos como sendo uma janela. Na oficina e nas nossas derivas entre-janelas, questionávamos:

Quanto tempo seria necessário para pensar e perceber as janelas presentes em nossas vidas? 

Precisamos mostrar ao outro as nossas janelas? 

As músicas, poesias, contos e filmes são estandartes ou janelas? Poderiam ser estandartes e janelas?

O que é uma janela? 

O que faz com que algo seja uma janela? 

 

Para este outro momento de ideações, experimentações e derivas entre-janelas, estipulamos também cerca de quinze minutos. O tempo em sua não-linearidade, na prática, borrou em algum nível estas cronometragens, dando espaço para que percebêssemos o que era necessário àqueles processos que estavam em curso, adaptando-nos, dentro do que era possível naquele espaço-tempo-oficina. Na continuação, novas pistas nos guiavam: 

Após ter escolhido a janela para construir o estandarte, pensar: o que pede passagem? Como criar essa vazão?

Tempo: quanto tempo para este processo? Como nós, que ministramos a oficina, podemos contribuir em possíveis gestões do tempo?

Como produzir estandartes em tempos pandêmicos? Existiria receita? 

Como dar vazão ao coletivo separado fisicamente?  

 

Decidimos que o tempo para a produção desta etapa seria de cerca de vinte minutos, visto que demandava um ‘botar a mão na massa’: movimentar-se na criação do estandarte a partir da(s) janela(s) escolhida(s). 

Questionávamos: o que pode ser este estandarte? O que separa a janela do estandarte? Poderiam ambos se misturar, rizomar, borrar, contaminar? Quais ferramentas serão necessárias? Percebíamos os estandartes como meios de contato e atravessamento, logo, também de encontro e educação. Pelos estandartes em movimentos, é possível comunicar, aprender e ensinar. As redes sociais, por exemplo, mostram-se como estandartes imediatos que nos chegam, nos permeiam. 

Um estandarte é território de identidade? É algo fixo? É a representação de algo? É mutável? Podemos nos deslocar com o movimento dos estandartes? Seria possível devir-estandarte em meio ao caos pandêmico? E como?

O estandarte é, geralmente, uma produção manual, artesanal, com marcas de quem o produz. Singular, em movimento, ele tem muito mais que identidades fixas, carregando o movimento-vida do porta estandarte: cada um é único.

Para a produção dos estandartes, percebemos que materiais como a escrita, a fotografia e a gravação de vídeos poderiam se mesclar com as janelas da casa e de aplicativos digitais como o WhatsApp, o Instagram e o Facebook. Após o tempo de preparação, separamos os vinte minutos finais para a apresentação das criações, junto de um diálogo acerca dos processos criativos e dos afetos que transbordaram ao longo da oficina. Sugerimos aos participantes que compartilhassem conosco o registro de suas produções em uma pasta digital criada, ou que, caso postassem no Instagram, marcassem a página do nosso Grupo de Pesquisa. 

Entre os exercícios de pensamento e imagéticos realizados pelos participantes da oficina, perpassaram experimentações com imagens, objetos, luzes, molduras, sons, esculturas, desenhos, máscaras, memes. Relacionando palavras e objetos/espaços, sejam eles físicos ou digitais, algumas sutilezas do cotidiano doméstico que dominava os nossos dias foram carregadas (como estandartes) durante os minutos de partilha para dizer de sentimentos, sensações e inquietações que do individual se perceberam acolhidas e vividas em um coletivo. Os afetos se misturavam, compondo uma matilha. Algo comum nas três versões da oficina foi que, após compartilhar seus estandartes ou mesmo algumas ideias ainda não materializadas para a movimentação dos mesmos, houve a sensação de estarmos juntos. Cada um de seu espaço, de diferentes distâncias, com distintas questões, foi jogando linhas para se conectar e percebendo que havia um comum a nos aproximar a criação de um território coletivo entre a dor de uma pandemia e a vontade de respirar e desejar com arte.

 

Considerações finais

As imagens de estandartes trazidas ao longo deste texto não figuram como resultado da oficina, mas como algo que compõe o processo e foi fazendo existir a oficina, como acontecimentos que antecedem o próprio objeto estandarte entre_janelas, o qual não existia de antemão. Os verdadeiros grandes problemas são colocados apenas quando resolvidos (DELEUZE, 2012, p. 11). A emergência pandêmica colocou para nós múltiplos problemas a serem resolvidos diariamente: problemas de vida. Restou-nos seguir na casa, nas máscaras, nas ruas quando necessário , nas vacinas, nos sonhos, nas esperanças e nas atitudes. 

Revisitar estes acontecimentos que percorreram o ano de 2020, sentindo as marcas que deles seguem pulsando, é deslocarmo-nos no tempo. A pandemia segue em curso, mas as suas modulações se apresentam outras. Se antes os contatos eram assepticamente cerceados, hoje já conseguimos mobilizá-los de formas possíveis, compreendendo a (co)responsabilidade que neles habita. 

Muito do que acontecera remotamente vai, pouco a pouco, sendo (re)alocado às possibilidades presenciais. Escolas e universidades retornam às aulas em seus ambientes próprios, alguns lugares liberam o uso de máscaras em espaços abertos, outros tornam o uso das mesmas facultativo. Novas variantes vão surgindo, a terceira dose da vacina chega para muitos, a quarta para alguns. E a quinta, sexta, sétima dose? E o ‘fim’ da pandemia? E… e… e…? O tempo vai passando e as coisas vão mudando em uma intensa velocidade. Talvez, amanhã, muito do que foi escrito neste tempo já não caiba mais, esteja caduco, seja resquício de um período que não existe mais. Talvez, estes tantos tempos coexistam, se sobreponham, entremeando-se. Acontecimentos que vão se misturando, atualizando, realocando, a todo momento, o que tínhamos como atual. 

Os devires nos deslocam incessantemente, e não há saída: nos resta seguir devindo, movimentando-nos, atualizando-nos. Em devir-estandarte, após um carnaval de 2022 ainda impossibilitado epidemiologicamente de 'botar o bloco na rua' como desejávamos, seguimos à espreita dos possíveis. Com os olhos atentos às janelas ainda abertas e às que vão se abrindo no caminho, mantemo-nos ativos na produção de estandartes nas aprendizagens e artistagens diárias, conectando (entre)tempos, permeando-nos com os contágios afectivos advindos dos encontros, com a força da vida em nossas matilhas de pensamento e revoluções possíveis. 

 

Referências:

DELEUZE, G. Bergsonismo. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Ed. 34, 2012.

 

DELEUZE, G. Conversações. Tradução de Peter Pál Pelbart. 3ª ed. São Paulo: Ed. 34, 2013.

 

DELEUZE, G. Proust e os signos. Tradução de Antonio Piquet e Roberto Machado. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

 

DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 2. 2ª edição. São Paulo: Ed. 34, 2011.

 

DELEUZE, G; PARNET, C. Diálogos. São Paulo: Escuta, 1998.

 

LARROSA, J. EXPERIÊNCIA E ALTERIDADE EM EDUCAÇÃO. Reflexão e Ação, v. 19, n. 2, p. 04-27, 5 jul. 2011.

 

LISPECTOR, C. Uma Aprendizagem ou O livro dos Prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 2019.

 

MBEMBE, A. NECROPOLÍTICA: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: N-1 Edições, 2018.

 

PELBART, P. P. O AVESSO DO NIILISMO: cartografias do esgotamento. 2. ed. São Paulo: n-1 edições, 2016.

 

PONTIN, V. M. R.; GODOY, A. Das escritas, dos corpos. afetos e entretempos. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 31, n. 63, p. 1559-1569, 30 dez. 2017. EDUFU Editora da Universidade Federal de Uberlândia. http://dx.doi.org/10.14393/revedfil.issn.0102-6801.v31n63a2017-13.

 

ROLNIK, S. Esferas da insurreição: notas para uma vida não cafetinada. 2. ed. São Paulo: N-1 Edições, 2018.

 

ROLNIK, S. Pensamento, corpo e devir: uma perspectiva ético/estético/política no trabalho acadêmico. Cadernos de subjetividade, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 241-251, 1993.

 

SALES, T. A.; CARVALHO, D. F. Devir-comida: corpo, afetos e educações em encontros gustativos. INTERFACES DA EDUCAÇÃO, Paranaíba, v. 13, n. 38, 2022. DOI: 10.26514/inter.v13i38.6107. Disponível em: https://periodicosonline.uems.br/index.php/interfaces/article/view/6107. Acesso em: 4 nov. 2022.

 

SALES, T. A.; ESTEVINHO, L. de F. D. Cartografias de vida-e-morte em territórios pandêmicos: marcas-ferida, necro-bio-políticas e linhas de fuga. Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer, Rio de Janeiro, v. 6, n. 11, p. 275–293, 2021. DOI: 10.9789/2525-3050.2021.v6i11.275-293. Disponível em: http://seer.unirio.br/revistam/article/view/10487. Acesso em: 19 ago. 2022.

 

SALES, T. A.; VAZ, T.; GARLET; F. R.; ESTEVINHO, L. F. D.; LOURENÇO, K. G.; BORGES, N. C. M. Tricotando janelas: encontros e desencontros à espreita de um pesquisar. ALEGRAR, Campinas, v. 26, ago./dez., p. 375-392, 2020. Disponível em: https://alegrar.com.br/dossie-26-44/. Acesso em: 20 dez. 2020.

 

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0)

 



[1] Música “Apesar de Você”, de Chico Buarque.

[2] Em referência ao grupo de pesquisa vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Uivo: Matilhas de estudo em criação, arte e vida (UFU).

[3]  Inspirados no conceito de necropolítica proposto por Achille Mbembe (2018).

[4]  Utilizamos o conceito de maioria em referência à maioria e minoria discutidas por Deleuze e Guattari (2011):  “[...] a maioria, na medida em que é analiticamente compreendida no padrão abstrato, não é nunca alguém, é sempre Ninguém (...), ao passo que a minoria é o devir de todo o mundo, seu devir potencial por desviar do modelo” (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 56).

[5]  Inspiramo-nos no conceito de marcas proposto por Suely Rolnik (1993), sendo “[...] exatamente estes estados inéditos que se produzem em nosso corpo, a partir das composições que vamos vivendo. Cada um destes estados constitui uma diferença que instaura uma abertura para a criação de um novo corpo, o que significa que as marcas são sempre génese de um devir” (p. 242).

[6] Inspirado nas escritas de Jorge Larrosa (2011) acerca da experiência, sendo “isso que me passa” (p. 5).

[7] Outras mobilizações acerca da vida pelas janelas e as possíveis tricotagens entre estes espaços foram mobilizadas no texto Tricotando janelas: encontros e desencontros à espreita de um pesquisar (SALES et al., 2020).

[8]Afetos  que atravessam   um   corpo   pela   boca,   língua,   mãos,  pele,  nariz,  pelos...  Pelo  corpo  todo, bagunçando  os  limites  pré-definidos  que  nos  separam  de  outros  corpos” (SALES; CARVALHO, 2022, p. 678). No texto Devir-comida: corpo, afetos e educações em encontros gustativos (SALES; CARVALHO, 2022) estão presentes escritas que versam em torno da boca e de outras partes do corpo, juntamente dos processos educativos vividos com elas, em afecções que acontecem nos encontros.

[9] Acerca dos territórios pandêmicos, sugerimos o texto Cartografias de vida-e-morte em territórios pandêmicos: marcas-ferida, necro-bio-políticas e linhas de fuga (SALES; ESTEVINHO, 2021).