Pesquisa em arquivo: os periódicos vinculados aos Programas de Pós-graduação da Área de Ensino da CAPES

Archive research: the journals linked to CAPES’s Graduate Programs in the teaching Area

Investigación en archive: los periódicos vinculados a los Programas de Posgrado del Área de Enseñanza de CAPES

 

Angelica Vier Munhoz https://lh7-us.googleusercontent.com/h9Ojv87ptVEgwx8PXehJNWB6RbeDlpXgP9wEPNuQgEiN1MWZqOYypeCQ59qJzbAdKq2NWcCoCxu9ig7Uxj9DQGeZQd62p5GHyOeol1sBa83pp3fhKd6TWJ4p1GJxaptf9Bd5r7OgGMw4FOSfvYdyTA

Universidade do Vale do Taquari, Lajeado, RS, Brasil.

angelicavmunhoz@gmail.com

Naiane Vargas Nunes https://lh7-us.googleusercontent.com/h9Ojv87ptVEgwx8PXehJNWB6RbeDlpXgP9wEPNuQgEiN1MWZqOYypeCQ59qJzbAdKq2NWcCoCxu9ig7Uxj9DQGeZQd62p5GHyOeol1sBa83pp3fhKd6TWJ4p1GJxaptf9Bd5r7OgGMw4FOSfvYdyTA

Universidade do Vale do Taquari, Lajeado, RS, Brasil.

naiane.nunes@universo.univates.br

Inauã Weirich Ribeiro https://lh7-us.googleusercontent.com/h9Ojv87ptVEgwx8PXehJNWB6RbeDlpXgP9wEPNuQgEiN1MWZqOYypeCQ59qJzbAdKq2NWcCoCxu9ig7Uxj9DQGeZQd62p5GHyOeol1sBa83pp3fhKd6TWJ4p1GJxaptf9Bd5r7OgGMw4FOSfvYdyTA

Universidade do Vale do Taquari, Lajeado, RS, Brasil.

inauarw@gmail.com

 

Recebido em 011 de maio de 2025

Aprovado em 20 de maio de 2025

Publicado em 06 de novembro de 2025

 

RESUMO

Este artigo busca mostrar os primeiros resultados da pesquisa “A produção discursiva da área de conhecimento Ensino: o que o arquivo nos diz?”, aprovada no Edital FAPERGS 07/2021 Programa Pesquisador Gaúcho – PqG, que tem como objetivo, investigar as discursividades produzidas nos escopos dos periódicos da área de Ensino da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), no período de 2011 a 2021. Para isso, toma-se como principal referencial teórico-metodológico os procedimentos arquivísticos, em meio aos estudos arquegenealógicos de Michel Foucault (2008). Nos dois primeiros procedimentos realizados, foi possível traçar um panorama em relação aos Programas de mestrado e doutorado acadêmicos e profissionais da Área de Ensino, existentes no Brasil, identificar a relação dos periódicos associados aos Programas, bem como o Qualis dos periódicos vinculados a estes PPG. Os resultados mostram que a área de Ensino da CAPES é atravessada por seus liames institucionais. São diversos os procedimentos classificatórios: avaliação da produção de pesquisadores dos PPGE pelo Sistema Qualis, diferenciação dos saberes por duas grandes modalidades científicas: profissional e acadêmica, visibilização da produção científica pelo PAAP e pelos dados públicos da Plataforma Sucupira, criação contínua de novas classificações, produtos educacionais, teses e dissertações, etc. Contudo, observa-se que, ao seguir por outra via de produção de arquivos, há abertura para novas perspectivações dos discursos, que não os legitimados institucionalmente nos endereços eletrônicos dos PPGE: os periódicos sem ISSN, os periódicos sem Qualis, os periódicos que deixaram de existir, os periódicos que são anteriores à propria área de Ensino da CAPES.

Palavras-chave: Arquivo; Área de Ensino; Pesquisa.

 

ABSTRACT

This article aims to present the initial results of the research “The Discursive Production in the Teaching Area of Knowledge: What Does the Archive Tell Us?”, approved under the FAPERGS Notice 07/2021 Gaucho Researcher Program – PqG. The objective is to investigate the discursiveness produced in the scopes of the journals of the Teaching Area of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel - Brazil (CAPES) from 2011 to 2021. The main theoretical-methodological adopted is the archival procedures within the scope of  Michel Foucault’s (2008) archeo-genealogical studies. In the first two procedures carried out, it was possible to draw an overview of the academic and professional master's and PhD programs in the Area of Teaching existing in Brazil, identify the list of journals associated with these Programs, as well as the Qualis of the journals linked to these graduate programs. The results show that the Education area of CAPES is shaped by its institutional ties. There are several classificatory procedures: evaluation of the production of PPGE researchers through the Qualis System, differentiation of knowledge into two major scientific modalities—professional and academic—, visibility of scientific production through PAAP and the public data of the Sucupira Platform, continuous creation of new classifications, educational products, theses, and dissertations, among others. However, it is observed that, by pursuing another path of archive production, there is room for new perspectives on discourses—ones not institutionally legitimized in the electronic addresses of the PPGE: journals without ISSN, journals without Qualis, journals that no longer exist, and journals that predate the very Education area of CAPES.

Keywords: Archive; Teaching area; Research.


 

RESUMEN

Este artículo busca mostrar los primeros resultados de la investigación “La producción discursiva del área de conocimiento Enseñanza: ¿qué nos dice el archivo?”, aprobada en la Convocatoria FAPERGS 07/2021 del Programa Investigador Gaúcho – PqG, que tiene como objetivo investigar las discursividades producidas en los ámbitos de las revistas de la área de Enseñanza de la Coordinación de Perfeccionamiento de Personal de Nivel Superior - Brasil (CAPES), en el período de 2011 a 2021. Para ello, se toma como principal referencia teórico-metodológica los procedimientos archivísticos, en medio de los estudios arqueogénicos de Michel Foucault (2008). En los dos primeros procedimientos realizados, fue posible trazar un panorama respecto a los Programas de maestría y doctorado académicos y profesionales de la Área de Enseñanza existentes en Brasil, identificar la relación de las revistas asociadas a los Programas, así como el Qualis de las revistas vinculadas a estos PPG. Los resultados producidos mostraron un panorama de los Programas de maestría y doctorado académicos y profesionales existentes en Brasil. Los resultados muestran que el área de Enseñanza de la CAPES está atravesada por sus vínculos institucionales. Existen diversos procedimientos clasificatorios: la evaluación de la producción de los investigadores de los PPGE mediante el Sistema Qualis, la diferenciación de los saberes en dos grandes modalidades científicas —profesional y académica—, la visibilización de la producción científica a través del PAAP y de los datos públicos de la Plataforma Sucupira, la creación continua de nuevas clasificaciones, productos educativos, tesis y disertaciones, entre otros. Sin embargo, se observa que, al seguir otra vía de producción de archivos, se abre espacio para nuevas perspectivaciones de los discursos, distintas de aquellas legitimadas institucionalmente en las direcciones electrónicas de los PPGE: las revistas sin ISSN, las revistas sin Qualis, las revistas que dejaron de existir, las revistas anteriores al propio campo de Enseñanza de la CAPES.

Palabras clave: Archivo; Área de enseñanza; Investigación.

 

Introdução

O presente artigo busca mostrar os primeiros resultados da pesquisa “A produção discursiva da área de conhecimento de Ensino: o que o arquivo nos diz?”, aprovada no Edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) 07/2021 do Programa Pesquisador Gaúcho (PqG). O projeto parte das seguintes questões de pesquisa: o que dizem os escopos dos periódicos da área de Ensino, que podem configurar-se como discursividades da área de conhecimento Ensino da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superios (CAPES), no Brasil? Quais horizontes discursivos os periódicos da área de Ensino têm desdobrado? Como dar visibilidade a essa produção discursiva? Com essas problematizações, o intuito da pesquisa é dar visibilidade à produção discursiva da área de Ensino da CAPES no Brasil, durante o período de dez anos, a partir do ano do seu surgimento enquanto área (2011). O objetivo do projeto é investigar, por meio de procedimentos arquivísticos, as discursividades produzidas nos escopos dos periódicos da área de Ensino da CAPES - Brasil, no sentido de configurar uma materialidade discursiva acerca da área de Ensino da CAPES - Brasil.

Tomamos a área de Ensino da CAPES como mote, pois essa área se constitui de maneira diferencial à área de Educação. Enquanto a primeira está vinculada à grande área de conhecimento Multidisciplinar do Colégio de Ciências Exatas e Tecnológicas, a segunda está vinculada a grande área de Ciências Humanas do Colégio de Humanidades. Essa diferenciação permite que o sistema Qualis de avaliação dos Programas de Pós-Graduação (PPG) tome dois campos diferentes na produção do conhecimento científico da educação. Além da área de Educação e da área de Ensino, mais recentemente, em 2023, a CAPES criou a área de Ciências e Humanidades para a Educação Básica. Observa-se nesse movimento que a produção do conhecimento científico no campo da Educação passa a ser avaliada em áreas diferentes, às quais compõem seus critérios avaliativos separadamente.

Conforme o Documento de Área Ensino da CAPES, do Ministério da Educação (CAPES, 2019, p. 04), tal área assume “[...] como pano de fundo a situação da Educação Básica no país, bem como os desafios para a formação continuada de docentes universitários e de professores que atuam na Educação Básica, Técnica e Superior, e de educadores em geral”. Tendo em vista que a área de Ensino é bastante nova, pois foi constituída pela Portaria CAPES nº 83/2011 (Brasil, 2011), que a inseriu na grande área Multidisciplinar, nucleando a antiga área de Ensino de Ciências e Matemática, permite condições de possibilidades para a delimitação de uma “totalidade arquivística”. Dito de outro modo, ao escrutinar os dez anos de área de Ensino, estaríamos arrebatando o arquivo da área, quase em sua totalidade, o que nos permitiria compreender os horizontes discursivos que se configuram na área de Ensino da CAPES no Brasil.

Sendo assim, parte-se da noção de arquivo de Michel Foucault como aporte teórico e como procedimento metodológico, a partir do qual busca-se olhar para as discursividades produzidas, já que o arquivo é um conjunto de discursos que estão sempre funcionando e possibilitando o surgimento de outros discursos (Foucault, 2000). Nesse sentido, trata-se, como afirma Aquino (2016, p. 16), de perspectivar os discursos como um

[…] empuxo a um trânsito aberto e sempre instável com o extraordinário arquivo do mundo e as temporalidades vertiginosas nele atuantes; trânsito condicionado, no entanto, por um perene embate narrativo entre as gerações e pelos efeitos insondáveis que assombram tal embate, a fim de conjurar o silêncio trágico que, de um modo ou de outro, nos tocaia sem cessar.

 

Nessa medida, a ideia de totalidade configura-se aqui no sentido de uma delimitação empírica e temporal, isto é, a possibilidade de escrutinar a massa documental das discursividades, produzida na área de Ensino (dissertações e teses, periódicos, produtos educacionais, avaliações quadrienais, etc.), e também a totalidade de cada um desses segmentos, considerando que cada segmento (dissertações e teses, periódicos, etc.) constitui um conjunto de discursividades, sendo possível abarcá-lo integralmente.

Considerando que uma área de conhecimento se refere a um determinado campo do saber, neste caso, delimitada por procedimentos burocráticos de organização da produção científica de uma agência de Estado, a CAPES, temos aí uma condição de possibilidade para delimitar modos pelos quais um determinado texto pode ser considerado uma materialidade repetível de discursos da área de conhecimento em Ensino. (Ribeiro, 2021).

 

Contudo, se, por um lado, ao abarcar um segmento por inteiro, poderia ser possível capturar quase todas as discursividades no campo do ensino, por outro lado, é preciso considerar que o arquivo é sempre lacunar. “O próprio do arquivo é a sua lacuna, sua natureza lacunar” (Didi-Huberman, 2012, p. 210). Assim, o próprio arquivo mostra a sua incompletude, suas descontinuidades, o que evidencia que é um material vivo e que permite abrir brechas entre o passado e o presente. Também é sempre importante considerar que não há um arquivo dado de antemão, mas trata-se de “constituí-lo ponto a ponto, embrenhando-se por fontes documentais – canônicas, ou não – afins à problemática sob exame” (Aquino, 2020, p. 349). Como diz Foucault, a composição de um arquivo impõe-se assim como um exercício “[...] fragmentário, repetitivo e descontínuo” (2014, p. 282). Trabalhar com arquivo, portanto, é operar com fragmentos, lacunas, com instantes de uma realidade que é sempre complexa. O arquivo não nos diz toda a verdade, mas ele nos mostra vestígios, fragmentos de uma verdade. Mas esses vestígios não são documentos inertes, à mercê de contemplação. Tais materialidades estão despossuídas de significação prévia e seus enlaces são sempre provisórios, de modo que não há nenhum afã interpretativo. Sendo assim, o objetivo desse artigo foi o de escrutinar as discursividades que despontaram nas produções acadêmicas da área de Ensino, no período delimitado, apenas reordenando o material disponível, segundo determinada intencionalidade.

Posto isso, considerando a necessidade de uma delimitação empírica, decide-se operar com o arquivo dos escopos dos periódicos vinculados aos PPG da área de conhecimento Ensino, publicados no período de 2011 (criação da área de Ensino) até 2021. A escolha desse segmento – periódicos da área de Ensino da CAPES – deve-se ao fato de que constitui um lastro documental importante e abrange uma variabilidade de ênfases discursivas pedagógicas.

 

O arquivo como procedimento

Em sua análise arqueológica, mais especificamente na obra A Arqueologia do Saber, Michel Foucault (2008) aborda a questão do arquivo. Para o autor, a arqueologia seria a descrição da existência acumulada de discursos, que chama de arquivo. Nesse sentido, “a arqueologia descreve discursos como práticas específicas no elemento do arquivo” (Foucault, 2008, p. 173). Essa compreensão se opõe a uma concepção clássica de arquivo como um instrumento de armazenamento de informações ou de dados que garantem a preservação de uma memória. Com efeito, para Foucault (2008, p. 52), o arquivo é construído pela “massa das coisas ditas em uma cultura, conservadas, valorizadas, reutilizadas, repetidas e transformadas”. Assim, para o autor, o arquivo não remete somente a um passado, mas, a partir dele, é possível construir uma história do presente.

Contudo, quando se trata de arquivo, a abordagem arqueológica não substitui a abordagem genealógica, mas se funde numa arqueogenealogia do sujeito, a partir de diferentes práticas. Assim, ao olhar para a proveniência dos discursos e analisar como eles se relacionam com as diversas práticas sociais, ou seja, ao articular as práticas discursivas com as não discursivas, Foucault opera no plano da arqueogenealogia. E é neste plano que Foucault nos mostra o seu manejo com os arquivos.

Ao invés de vermos alinharem-se, no grande livro mítico da história, palavras que traduzem, em caracteres visíveis, pensamentos constituídos antes e em outro lugar, temos, na densidade das práticas discursivas, sistemas que instauram os enunciados como acontecimentos (tendo suas condições e seu domínio de aparecimento) e coisas (compreendendo sua possibilidade e seu campo de utilização). São todos esses sistemas de enunciados (acontecimentos de um lado, coisas de outro) que proponho chamar de arquivo (Foucault, 2008, p. 151, grifo do autor).

 

Desse modo, tal perspectiva arqueogenealógica de olhar para o arquivo “implica uma investida arqueológica sob um olhar genealógico, capaz de abrigar os lugares de confronto, a partir dos quais o nosso presente foi urdido” (Leme, 2011, p. 99).

O arquivo é, pois, constituído pelo conjunto de discursividades e, para Foucault (2001), um discurso não é apenas um conjunto de signos, de significantes que se referem a determinados conteúdos com algum significado oculto e intenções dissimuladas, mas uma rede de signos que se conectam à outras tantas redes de outros discursos. Assim, o arquivo é o que rege o aparecimento de novos enunciados; porém, “não há enunciado em geral, enunciado livre, neutro e independente, mas sempre um enunciado faz parte de uma série ou de um conjunto, desempenhando um papel no meio dos outros, neles se apoiando e deles se distinguindo” (Foucault, 2008, p. 112). Com o trabalho de arquivo, podemos dizer que Foucault inventa uma nova maneira de operar com os documentos, buscando outros modos de pensar a história. Por um lado, como arqueólogo, busca conhecer a história; por outro, como experimentador, propõe-se ao procedimento de escrever e inventar.

Nesse sentido, há de se perguntar: por qual processo passou determinado discurso até ser transformado em elemento de arquivo? Considerando que, segundo Foucault (2008), o arquivo é texto e que a sua existência depende do que fizermos dele no momento presente, a tarefa de lê-lo também remete a uma outra tarefa, que é a de reescrevê-lo, num exercício capaz de transcriar e reinventar suas matérias. Operar com o arquivo sob a ótica de Foucault também nos coloca numa certa perspectivação, já que não estamos nos referindo a um depositário, cuja tarefa é salvaguardar um conjunto de informações referentes ao passado, mas a um arquivo vivo e aberto que se relaciona com o futuro, o que requer, necessariamente, a desmontagem e a remontagem das matérias que nele habitam.

A pesquisa, que ainda se encontra em andamento, pressupõe quatro procedimentos, a saber: Procedimento I - definição da base de dados para o rastreamento de periódicos; Procedimento II - constituição de um primeiro arquivo, a partir dos escopos dos periódicos da área de Ensino, desde sua criação, em 2011; Procedimento III - constituição de um segundo arquivo, a partir da escolha dos princípios organizadores: aprendizagem, ensino, aula; Procedimento IV - análise dos arquivamentos produzidos, por meio do processo de arquivização (Aquino e Val, 2018). Neste artigo, nos ocupamos em mostrar apenas os dois primeiros procedimentos, com os quais pode-se delimitar a totalidade arquivística que será analisada. A seguir, a descrição mais detalhada dos procedimentos I e II.

Procedimento I

O primeiro procedimento diz respeito à definição da base de dados, a partir da qual os periódicos foram rastreados, uma vez que, durante a escritura do projeto de pesquisa em 2020, ao adentrar no Portal de Periódicos da CAPES, para selecionar a área de Ensino, encontramos 184 periódicos. Por outra via, no mesmo momento, quando acessamos a Plataforma Sucupira do Qualis periódicos e selecionamos a área Ensino (segundo o evento avaliativo, 2013-2016, acessado também em 2020, sem nenhuma marcação de Qualis), encontramos uma lista de 2963 periódicos. Tal fato nos levou a indagar: por que essa diferença quantitativa tão discrepante? Uma das hipóteses que apuramos naquele momento é que o Portal de Periódicos apenas seleciona as revistas vinculadas aos PPG em Ensino, mas isso não ficava esclarecido. Portanto, era necessária uma investigação mais precisa.

Com relação ao Sistema WebQualis, considerou-se que, talvez, o sistema buscasse todos os periódicos relacionados ao ensino ou ao ensino de alguma área, mas isso também exigiria um olhar mais apurado. Há de se ressaltar que o sistema de avaliação de periódicos da CAPES estava em vias de passar por um processo de reformulação de classificação; todavia, no início desta pesquisa, o que tínhamos oficialmente era o sistema avaliativo do último quadriênio (2013-2016). Além disso, é preciso considerar que, nesse momento da pesquisa, não interessava o Qualis dos periódicos, mas a relação dos periódicos com a área de Ensino da CAPES. Sendo assim, o primeiro procedimento desta investigação consistiu em compreender os critérios envolvidos em tais portais, que contabilizaram uma quantidade tão diferente de periódicos, para, a partir desse entendimento, definir qual portal seria utilizado na pesquisa. Tal propósito implicou adentrar cada um dos portais e entender o seu funcionamento.

A partir da hipótese da qual partimos - de que o Portal de Periódicos da CAPES apenas seleciona, no filtro área de Ensino, as revistas vinculadas aos PPG em Ensino, tendo em vista a discrepância de resultados em comparação à quantidade de periódicos classificados com Qualis em Ensino - nos deparamos com o objetivo desta base de dados: “O Portal de Periódicos da CAPES é um dos maiores acervos científicos virtuais do País, que reúne e disponibiliza conteúdos produzidos nacionalmente e outros assinados com editoras internacionais e instituições de ensino e pesquisa no Brasil” (CAPES, 2023, texto digital). Entretanto, o Portal não disponibiliza todo o material produzido por periódicos avaliados pelo Qualis CAPES, somente o conteúdo dos periódicos que fazem parte do Programa de Apoio à Aquisição de Periódicos (PAAP), instituído pelo Portaria CAPES nº 74, de 05 de abril de 2017 (Brasil, 2017).

Dadas as condições do conteúdo disponibilizado pelo Portal de Periódicos da CAPES relativos à área de Ensino (origem da totalidade dos periódicos e quantidade de periódicos classificados como área de Ensino), optamos por não partir dessa base de dados. O segundo ponto de referência considerado para a pesquisa foi a lista de periódicos com Qualis em Ensino, encontrada na Plataforma Sucupira. Todavia, o Qualis Periódicos é um instrumento “que consiste na qualificação indireta da produção intelectual, na forma de artigos científicos, a partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, os periódicos” (CAPES, 2023, p. 1). A lista de periódicos com Qualis em determinada área, portanto, é “uma lista com a classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção” (CAPES, 2023, p. 1). A última lista de periódicos do Qualis CAPES refere-se ao evento avaliativo de 2017-2020, por isso optamos por não a tomar como ponto de partida para a produção do nosso arquivo de escopos de periódicos, visto que o período de investigação que nos interessa é maior.

Como ressalta o Documento Técnico do Qualis Periódicos (CAPES, 2023, p. 1, grifo do autor),

[…] apenas os periódicos que tenham recebido produção no período de avaliação são listados e classificados; portanto, não se trata de uma lista exaustiva de periódicos, mas sim uma lista daqueles efetivamente utilizados pelos programas de pós-graduação no período em análise. A listagem de periódicos é sempre um retrato A POSTERIORI, uma vez que é referente aos anos anteriores, cujos dados já foram informados para a CAPES por meio da Plataforma Sucupira.

 

Dessa maneira, a lista de periódicos do Qualis Ensino se refere aos periódicos mais utilizados pelos pesquisadores da área de Ensino, no período avaliado (2017-2020). Essas condições nos levariam a ter uma listagem de apenas um período do recorte temporal com o qual pretendíamos trabalhar. No último evento avaliativo (2017-2020), também houve uma novidade: a área-mãe. A área-mãe foi criada para identificar a área em que o periódico era mais usado e, em caso de empate entre duas áreas, “foi considerada área-mãe aquela em que o número de publicações no periódico foi mais representativo em relação ao total de produções da área” (CAPES, 2023, p. 5). Nesse último evento avaliativo (2017 - 2020), a área de Ensino ficou com um total de 489 periódicos. Contudo, quando iniciamos essa investigação, no início de 2021, a área-mãe ainda não existia, havendo apenas a totalidade de todos os periódicos avaliados em Ensino, que, no evento avaliativo de 2013-2016, correspondia à quantidade de 2963 periódicos, enquanto no evento avaliativo de 2017-2020, publicado em 2023, correspondeu a 4170 periódicos. Essa quantidade inviabilizaria o trabalho de arquivamento em termos de cronograma.

Diante disso, optamos por produzir um arquivo que partisse da delimitação da área de conhecimento em Ensino da CAPES e não da área de avaliação em Ensino do Qualis Periódicos. Para este arquivo, portanto, foi utilizada como base a Plataforma Sucupira.

Na busca avançada do item “Cursos Avaliados e Reconhecidos” da Plataforma Sucupira, foi possível acessar uma planilha com os dados dos cursos de pós-graduação da área de Ensino, por instituição. A planilha disponibilizada continha os seguintes dados: nome do programa, nome da instituição de ensino superior, a sigla da instituição de ensino superior (IES), a unidade federativa, se possuía curso de mestrado e/ou doutorado acadêmico, mestrado e/ou doutorado profissional. Segue abaixo o quadro com dados disponibilizados na Plataforma Sucupira, na data de 17 de agosto de 2023.

 

Quadro 1 - Cursos Avaliados e Reconhecidos pela CAPES

CURSO

ME

DO

MP

DP

ME/DO

MP/DP

TOTAL

TOTAL

48

4

83

0

37

9

181

Legenda:

ME = Mestrado Acadêmico          DO = Doutorado Acadêmico

MP = Mestrado Profissional         DP = Doutorado Profissional

Fonte: CAPES (2022)

 

Com essa planilha inicial dos dados, foram tabulados todos os periódicos indicados pelos PPG nos seus endereços eletrônicos. Os endereços eletrônicos foram rastreados, um por um, a partir do nome dos cursos e das IES indicadas na planilha da Plataforma Sucupira. É importante comentar que nem todos os sites indicados estavam atualizados. Por isso, foi necessária uma conferência de todos os endereços eletrônicos indicados no sistema da Plataforma Sucupira. Após, foram arquivados, na mesma planilha, os endereços eletrônicos de cada periódico. É importante observar que nem todo periódico indicado no endereço eletrônico do curso tem vínculo com ele, Qualis Ensino ou vínculo com IES do PPG. Alguns cursos indicam periódicos das suas IES que não possuem Qualis Ensino, ou periódicos que consideram relevantes na “área” mas não tem vínculo nem com o curso, com o Qualis Ensino ou com sua IES. Para esta pesquisa, tomamos como critérios de inclusão apenas os periódicos indicados nos endereços dos PPG que tinham vínculo com o curso ou com sua IES. Segue abaixo, o quadro com a quantidade de PPG por modalidade (acadêmico e profissional), cursos que indicavam periódicos vinculados a eles ou as suas IES, e, total de periódicos indicados por modalidade de PPG.

 

Quadro 2 – Quantidade de periódicos vinculados aos PPG da área de Ensino da CAPES

Programas de Pós-Graduação

Cursos

Cursos que indicam
periódicos vinculados*

Periódicos

PPG-Acadêmicos (PPG-A)

89

37

56

PPG-Profissionais (PPG-P)

92

28

53

Total

181

65

109

Fonte: Das autoras (2025).

 

Ainda sobre os dados do quadro 2, é importante indicar que uma mesma IES pode ter mais de um PPG avaliado na área de Ensino. A Universidade do Vale do Taquari – Univates (RS), por exemplo, possui dois PPG na área de Ensino: Ensino (ME/DO), e, Ensino de Ciências Exatas (DP). Neste caso, os dois PPG indicavam em seu site os mesmos cinco periódicos, de modo que optamos por quantificá-los apenas no PPG-A. Esta escolha baseou-se na informação de que o PPG-A da Univates possui um periódico vinculado ao seu curso (Revista Signos), enquanto o PPG de Ensino de Ciências Exatas não possui nenhum periódico.

Situação semelhante ocorreu em relação a dois PPG da Universidade Franciscana (RS): Ensino de Ciências e Matemática (ME/DO e MP), e, Ensino de Humanidades e Linguagens (ME). Como o PPG de Ensino de Ciências e Matemática possui duas modalidades de cursos (acadêmica e profissional), optamos por quantificar os cinco periódicos para ambas modalidades. Ainda uma situação próxima a essa foi a dos PPG ligados à IES com marca Cogna: Ensino (ME)/Universidade de Cuiabá (MT), Ensino de Ciências e Matemática (ME)/Universidade Anhanguera (MS), Ensino de Ciências e Saúde (ME)/Universidade Anhanguera de São Paulo (SP), e, Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias (ME/DO)/Universidade Pitágoras UNOPAR (PR). Como os cursos de IES com marca Cogna são todos PPG-A, os mesmos sete periódicos indicados em todos foram quantificados apenas uma vez.

Outra observação importante sobre esse primeiro arquivamento é a de que nem todos os PPG e seus periódicos estavam com seus endereços eletrônicos funcionando. Por isso, os dados relativos a alguns PPG não foram apurados, quais sejam: Educação em Ciências e Matemática (ME/DO)/Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Educação Matemática e Tecnológica (ME/DO)/Universidade Federal de Pernambuco (PE), Ensino de Ciências e Saúde (ME)/Universidade Federal do Tocantins (TO), e, Ensino da Saúde (ME)/Universidade de Brasília (DF).

Dentre os periódicos arquivados, alguns não possuem registro de Qualis nos últimos três eventos avaliativos (2010-2012, 2013-2016, e, 2017-2020). Pelos arquivos de publicação no endereço eletrônico, subentende-se que são periódicos criados recentemente:

 

Quadro 3 – Periódicos indicados pelos PPG da área de Ensino que ainda não possuem Qualis nos últimos três eventos avaliativos publicados até abril de 2025

Periódico

Ano*

PPG

IES/UF

Cenários da Práxis Pedagógica (2965-4998)

2021

Docência para a Educação

Básica (ME)

UNESP – Bauru/SP

VESTIGARE: Revista de Pesquisa em Educação, Ciências e Tecnologias (sem ISSN)

2025

Educação em Ciências,

Educação Matemática e

Tecnologias Educativas (ME)

UFPR/

PR

Revista Jus&Communitas

(sem ISSN)

2025

Ensino (ME/DO)

Univates /RS

Revista Ensina BIOTEC

(2965-565X)

2022

Ensino de Ciências (MP)

UFOP/

MG

Revista Diálogos de Educação Matemática (2764-9997)

2022

Ensino de Ciências e

Matemática (MP)

UFAL/

AL

Caderno Amazonense de Pesquisa em Ensino de Ciências e Matemática – CECi (2763-6623)

2021

Ensino de Ciências e

Matemática (ME)

UFAM/

AM

International Journal of Educational Projects – IJEP (sem ISSN)

2020

**

Projetos Educacionais de

Ciências (MP)

EEL/

USP/SP

*Ano mais antigo registrado no endereço eletrônico do periódico.

**Não foi possível acessar o endereço eletrônico do periódico.

Fonte: Das autoras (2025).

         

Com essa lista é possível verificar um outro dado com o qual nos deparamos: nem todos os periódicos indicados pelos PPG tem nome, foco e escopo, e, também, Qualis relacionado à área do Ensino. Em contrapartida, em relação aos periódicos criados recentemente apenas um deles não tem correlação com o nome e escopo do PPG que o indicou. A partir dos dados produzidos no Procedimento I, buscou-se pensar os discursos que os PPG da área de Ensino da CAPES – Brasil faz circular nos seus periódicos, seus critérios teóricos, temáticos, procedimentais, estilísticos etc. Deste ponto, iniciamos o Procedimento II.

Procedimento II

Em um segundo momento, o propósito era adentrar cada periódico, arquivando seu escopo, segundo algumas categorias (ano de criação do periódico, Qualis, filiação institucional, etc.). As grades de leitura, impostas pelo próprio material, tornavam-se necessárias. Aqui citamos Farge (2009, p. 94), quando diz que “o processo de questionamento do arquivo deve ser suficientemente claro para que os resultados da pesquisa sejam convincentes e não falaciosos”. Tal material constituiria o procedimento de arquivamento, ao qual, segundo Aquino e Val (2018, p. 49), “corresponde a tarefa de reordenação transversal das fontes, por meio das (re)montagens das lacunas discursivas, em torno de determinados problemas concretos abrigados no e pelo arquivo”.

Sendo assim, após realizado o processo de arquivamento, iniciou-se o primeiro trabalho de leitura do arquivo. Nesse sentido, sabe-se que é preciso ler o arquivo muitas vezes – ler, ler de novo, começar novamente –, pois, como afirma Farge (2009, p. 64), “o essencial nunca surge de imediato”. Mas, não se trata tão somente disso. Categorizar as discursividades presentes nos escopos dos periódicos da área de Ensino não diz respeito à análise de frases, de proposições ou de construções linguísticas sobre o tema, mas aos discursos que, segundo Foucault (2008), têm no enunciado o elemento principal de análise. E os enunciados não são fixos, mas se dispersam, circulam, se modificam.

Assim, definida a base de dados e realizada a tabulação dos dados, buscou-se constituir um segundo arquivo com os escopos dos periódicos indicados pelos PPG da área de Ensino da CAPES – Brasil e outras informações a partir do marco temporal da criação da área em 2011. Em seguida, foram criados novos arquivamentos, com a tabulação das seguintes informações:  o curso, IES, UF, grau de ensino (mestrado/doutorado), modalidades (acadêmico/profissional), nome dos periódicos indicados no endereço eletrônico do PPG, o ISSN, notas Qualis dos últimos três eventos avaliativos (2010-2012, 2013-2016 e 2017-2020), e o escopo do periódico. Segue abaixo imagem do arquivamento criado para o arquivamento dos escopos. Em seguida, exemplo da tabela com os dados dos PPG e periódicos indicados que foi usada na pesquisa.

 

Quadro 4 - Arquivamento dos escopos dos periódicos indicados pelos PPG da área de Ensino da CAPES – Brasil

PPG

IES

UF

Grau de Ensino e

Modalidades

Periódico

ISSN

Evento Avaliativo Qualis Periódicos

Escopo

Triênio

Quadriênio

Acadêmico

Profissional

2010-2012

2013-2016

2017-2020

2021-2024

ME

DO

MP

DP

Digital

Impressa

D

I

D

I

D

I

D

I

1

Educ..

UEPA

PA

-

-

A

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

2

Astr..

UEFS

BA

-

-

3

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

3

Ciê...

CEFET

RJ

5

5

-

-

Rev. Tec..

1414-8498

-

B2

-

B2

-

B3

-

-

-

Sem escopo.

Fonte: Das autoras (2025).

 

O arquivamento contém informações que foram sendo apuradas ao longo do processo de rastreamento dos periódicos desde o primeiro arquivamento. O número da primeira coluna corresponde à numeração indicada pela planilha da Plataforma Sucupira, assim como o nome do PPG, a IES, a UF, os graus de ensino e as suas modalidades. Em relação ao ISSN dos periódicos, foi preciso fazer o registro em duas colunas, visto que muitos periódicos possuem dois: um ISSN de periódico impresso e outro ISSN de periódicos digital. Em efeito do duplo ISSN, averiguou-se o Qualis dos dois ISSN em cada evento avaliativo dos periódicos. A última coluna da tabulação corresponde ao registro do escopo dos periódicos rastreados.

Em relação ao registro de ISSN é possível quantificar quantos periódicos tem registro de periódico digital ou impresso, Qualis nos dois formatos, em quais eventos avaliativos foram avaliados e se possuem Qualis na área de Ensino. Para apresentar essas informações, criamos dois arquivamentos separados de acordo com a modalidade dos cursos dos PPG: acadêmicos e profissionais. Abaixo quadro 5 com a quantificação dos ISSN dos periódicos a partir da modalidade dos PPG que os indicaram.


 

Quadro 5 - Registro de ISSN digital ou impresso dos periódicos indicados pelos PPG da área de Ensino da CAPES - Brasil em seus endereços eletrônicos por modalidade dos cursos

Modalidade dos cursos

Quantidade de periódicos

Com

ISSN

Sem

ISSN

ISSN

Digital

ISSN

Impresso

Acadêmicos

56

54

2

54

9

Profissionais

53

52

1

52

10

Total

109

106

3

106

19

Fonte: Das autoras (2025)

         

Com os números de registros de ISSN Digital e ISSN Impresso foi possível averiguar os estratos de classificação dos periódicos em três eventos avaliativos do Qualis Periódicos. É importante destacar que o Qualis Periódicos da CAPES é um instrumento de avaliação “que consiste na qualificação indireta da produção intelectual na forma de artigos científicos a partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação” (CAPES, 2023, p. 1). Esse instrumento existe desde a década de 1990. Entretanto, seus critérios e estratos de avaliação foram modificados em diversos momentos. Em relação à área de Ensino, a avaliação da sua produção intelectual ocorreu a partir do triênio de 2010-2012.

          Os estratos de avaliação no triênio 2010-2012 e no quadriênio de 2013-2016 eram divididos em três letras e em um total de oito estratos: A1 e A2, B1, B2, B3, B4 e B5 e C. Já o evento avaliativo de 2017-2020 houve uma modificação na quantidade de estratos - nove - por letra: A1, A2, A3 e A4, B1, B2, B3 e B4 e C. Em decorrência dessas modificações, a análise do “progresso” das avaliações Qualis Periódicos torna-se complexa, como observa-se nos quadros 6 e 7 abaixo.

 

Quadro 6 – Quantidade de Qualis dos periódicos indicados pelos PPG-A da Área de Ensino da CAPES - Brasil por evento avaliativo

Estrato

Triênio

Quadriênio

2010-2012

2013-2016

2017-2020

Digital

Impresso

Digital

Impresso

Digital

Impresso

A1

1

2

2

2

4

2

A2

1

-

7

1

7

1

A3

 

5

-

A4

6

-

B1

5

-

3

 

5

2

B2

3

-

4

 

9

2

B3

5

1

4

 

3

1

B4

1

-

10

 

3

-

B5

3

-

3

3

 

C

-

-

2

1

4

1

Total

19

3

35

7

46

9

Fonte: Das autoras (2025).

 

Quadro 7 – Quantidade de Qualis dos periódicos indicados pelos PPG-P da Área de Ensino da CAPES - Brasil por evento avaliativo

Estrato

Triênio

Quadriênio

2010-2012

2013-2016

2017-2020

Digital

Impresso

Digital

Impresso

Digital

Impresso

A1

-

-

-

-

-

-

A2

-

-

5

1

4

1

A3

 

6

1

A4

9

3

B1

3

-

7

-

10

1

B2

6

-

6

3

9

2

B3

2

1

-

-

3

1

B4

2

-

8

-

1

-

B5

2

1

6

3

 

C

2

-

3

1

5

1

Total

17

2

35

8

47

10

Fonte: Das autoras (2025).

         

É interessante observar que entre os periódicos indicados pelos PPG-P não há nenhum com Qualis estrato A1 em nenhum evento avaliativo, enquanto que entre os periódicos indicados pelos PPG-A há periódicos avaliados no estrato A1 nos três eventos avaliativos com um aumento até o último quadriênio (2017-2020). Em ambos os quadros, também é possível verificar que há uma predominância de periódicos avaliados nos estratos B em todos os eventos avaliativos. Outro ponto visível é que ao longo dos três eventos avaliativos há um aumento de periódicos novos indicados no estrato C.

          Além da visibilidade dos estratos avaliados pelos Qualis Periódicos da CAPES, foi possível identificar que há uma quantidade significativa de periódicos avaliados em outras áreas de conhecimento, mas sem avaliação na área de Ensino. As áreas de avaliação Interdisciplinar (27 periódicos), Educação (13 periódicos), Direito (7 periódicos) e Comunicação e Informação (7 periódicos) foram as que mais apareceram. Ainda outras áreas de avaliação estão associadas: 1 em Sociologia (PPG-A); 1 em Psicologia (PPG-A); 2 em Arquitetura, Urbanismo e Design (PPG-A e PPG-P); 2 em Enfermagem (PPG-A e PPG-P); 1 em Filosofia (PPG-A); 1 em Engenharia III (PPG-A); 1 em Linguística e Literatura (PPG-P); e, 1 em Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (PPG-P).

 

Quadro 8 – Quantidade de periódicos com avaliação na área de Ensino e em outras áreas e indicação pelos PPG-A da área de Ensino, por ISSN de periódico digital e impresso e por evento avaliativo

 

ISSN de periódico digital

ISSN de periódico impresso

Evento avaliativo

Triênio 2010-2012

Quadriênio 2013-2016

Quadriênio 2017-2020

Triênio

2010-2012

Quadriênio 2013-2016

Quadriênio 2017-2020

Ensino

13

26

42

3

4

6

Apenas outras áreas

6

8

5

-

3

3

Total

19

34

47

3

7

9

Fonte: Das autoras (2025).

 

Quadro 9 – Quantidade de periódicos com avaliação na área de Ensino e em outras áreas indicação pelos PPG-P da área de Ensino, por ISSN de periódicos digital e impresso e por evento avaliativo

 

ISSN de periódico digital

ISSN de periódico impresso

Evento avaliativo

Triênio 2010-2012

Quadriênio 2013-2016

Quadriênio 2017-2020

Triênio

2010-2012

Quadriênio 2013-2016

Quadriênio 2017-2020

Ensino

20

45

75

4

7

10

Apenas outras áreas

12

17

12

-

3

3

Total

32

62

87

4

10

13

Fonte: Das autoras (2025).

 

Nos quadros 8 e 9 acima é possível observar a quantidade de ISSN com classificação em estratos do Qualis Periódicos da CAPES. Os quadros destacam que houve um aumento na quantidade de ISSN (digital e impresso) na área de avaliação em Ensino desde o triênio de 2010-2012. Observa-se que não foi realizado um levantamento de quais outras áreas de avaliação os ISSN dos periódicos indicados pelos PPG da área de Ensino foram classificados no Qualis Periódicos. Apenas averiguou-se as áreas de avaliação dos ISSN quando não havia avaliação na área de Ensino.

  Esses arquivamentos até então realizados mostram os primeiros achados da pesquisa, apontando para os seguintes resultados: atualmente, há 181 Programas de Pós-graduação na área de Ensino. Desses, 89 são mestrados e doutorados acadêmicos e 92 são mestrados e doutorados profissionais. Dos 181 Programas (quadro 1), 65 indicam periódicos em seus endereços eletrônicos, sendo 37 PPG-A e 28 PPG-P (quadro 2), com um total de 109 periódicos; destes, sete não possuem nenhum Qualis em nenhuma área de avaliação e três não possuem registro de ISSN (quadro 3). Em relação ao ISSN, 106 periódicos possuem ISSN de periódicos digital e 19 ISSN de periódico impresso (quadro 5). A quantidade de registros de ISSN por evento avaliativo do Qualis Periódicos aumentou progressivamente. Dos 106 periódicos com registros de ISSN, no triênio 2010-2012 haviam 36 de periódico digital e cinco de impresso (41 ISSN), no quadriênio 2013-2016 eram 70 de digital e 15 de impresso (85 ISSN), e, no quadriênio 2017-2020 eram 93 de digital e 19 de impresso (112 ISSN) (quadros 6 e 7). Dos 112 registros de ISSN, tinham Qualis Ensino 40 ISSN no triênio 2010-2012, 82 no quadriênio 2013-2016, e, no quadriênio 2017-2020 todos (quadros 8 e 9).


 

Considerações finais

 O artigo aqui colocado em tela apresenta os primeiros resultados da pesquisa “A produção discursiva da área de conhecimento de Ensino: o que o arquivo nos diz?”, aprovada no Edital FAPERGS 07/2021 Programa Pesquisador Gaúcho – PqG. Os primeiros resultados produzidos com os dados rastreados na Plataforma Sucupira, no Qualis Periódicos e na área-mãe, nos endereços eletrônicos dos PPG, nos endereços eletrônicos dos periódicos indicados pelos cursos e nos seus escopos mostraram um panorama dos PPG acadêmicos e profissionais existentes no Brasil. Os periódicos indicados por esses Programas, assim como a classificação de Qualis Periódicos nos últimos três eventos avaliativos correspondem ao período de existência da área de Ensino da CAPES.

O que dizem os escopos dos periódicos da área de Ensino, que podem configurar-se como discursividades da área de conhecimento Ensino da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superios (CAPES), no Brasil? Quais horizontes discursivos os periódicos da área de Ensino têm desdobrado? Como dar visibilidade a essa produção discursiva? Ao retornar às questões de pesquisa, postas no início da investigação, é possível ver que as discursividades da área de Ensino da CAPES são atravessadas pelos seus liames institucionais, os quais constituem um campo delimitado de relações de saber e poder. A CAPES configura a área de Ensino por meio de seus procedimentos classificatórios: avaliação da produção dos pesquisadores dos PPGE pelo Sistema Qualis, diferenciação dos saberes por duas grandes modalidades científicas: profissional e acadêmica, visibilização da produção científica pelo PAAP e pelos dados públicos da Plataforma Sucupira, criação contínua de novas classificações Qualis (Periódicos, Educacional, área-mãe), produtos educacionais, teses e dissertações, etc. Contudo, observa-se que, ao seguir por outra via de produção de arquivos, há abertura para novas perspectivações dos discursos, que não os legitimados institucionalmente nos endereços eletrônicos dos PPGE: os periódicos sem ISSN, os periódicos sem Qualis, os periódicos que deixaram de existir, os periódicos que são anteriores à propria área de Ensino da CAPES. Há, também, discursividades que não podem ser tratadas apenas como discursividades da área de Ensino, pois esta foi e está sendo composta para além dos liames classificatórios do Sistema Qualis CAPES.  

Como já anunciado, a continuidade da pesquisa se dá por meio de um segundo arquivamento, que equivale ao procedimento III, a partir da escolha dos seguintes princípios organizadores: aprendizagem, ensino, aula. A escolha de tais princípios se justifica, pois são focos importantes da área pedagógica, por meio da qual o ensino transita.

Se o primeiro arquivamento é aleatório, no sentido de dar a ver o que o arquivo nos mostra, esse segundo arquivamento parte de uma intencionalidade. Acredita-se que arquivar os escopos, de acordo com tais princípios organizadores, nos mostrará de que modo as discursividades presentes nos periódicos da área de Ensino circulam entre estes princípios. Para isso, será preciso olhar de que modo tais princípios se repetem, como se repetem, quais enunciados estão presentes. Assim, nesse terceiro procedimento, a intenção é ver as repetições, diferenças e singularidades na aparição e no desenrolar de enunciados em relação aos princípios organizadores elencados. Nessa medida, a intenção não é encontrar uma essência fixa nas discursividades, mas perceber as suas complexidades, as regularidades discursivas, somente possíveis de serem evidenciadas, quando nos distanciamos do discurso como realidade pronta.

Por fim, o quarto procedimento a ser desenvolvido consiste nas análises dos arquivamentos produzidos, por meio de um processo de arquivização. Para Aquino e Val (2018), operar com arquivo implica dois procedimentos analíticos – arquivamento e arquivização –, de maneira que “[...] a obstinação documentária está para o primeiro procedimento [arquivamento] do mesmo modo que a imaginação recriadora está para o segundo [arquivização]” (Aquino e Val, 2018, p. 48). Portanto, se o arquivamento diz respeito à reorganização dos achados, a arquivização possibilita ativar, revitalizar e recriar o próprio arquivo. Ao arquivizar o material produzido, produz-se um novo arquivo, inventariando outros modos de olhar para o material. Como as análises serão baseadas em recortes discursivos retirados da constituição de um arquivo (escopos dos periódicos da área de Ensino), acredita-se que os resultados poderão evidenciar o que estamos pensando, produzindo, escrevendo, experienciando, enquanto área de conhecimento Ensino, no Brasil. Isso nos parece ter uma relevância social e educacional, na medida em que se trata de uma área bastante nova e polissêmica, cujos efeitos da produção acadêmica nos saberes e práticas educacionais ainda é difícil de dimensionar.

 

Referências

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AQUINO, Júlio Groppa. Operação arquivo: pesquisar em Educação com Foucault. In:  AQUINO, J. G. Foucault, arquivo, educação: dez pesquisas. São Paulo: FEUSP, 2020, p. 339 – 355.

 

AQUINO, Júlio G.; VAL, Gisele M. do. Uma ideia de arquivo: contributos para a pesquisa educacional. Pedagogía y Saberes. Bogotá, n. 49, p. 41-53, 2018.

 

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CAPES. Quem somos. Portal de Periódicos CAPES. 2023. Disponível em:https://www-periodicos-capes-gov-br.ez316.periodicos.capes.gov.br/index.php/sobre/quem-somos.html. Acesso em: 21 ago. 2023.

 

CAPES. Documento Técnico do Qualis Periódicos. 2023. Disponível em:https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/documentos/avaliacao/avaliacao-quadrienal-2017/DocumentotcnicoQualisPeridicosfinal.pdf. Acesso em: 05 mai. 2025.

 

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