Observatório da educação como espaço de formação continuada de professores: um retrato a partir de teses e dissertações
Education Observatory as a Space for Teachers' Continuing Education: A Portrait from Theses and Dissertations
Observatorio de la educación como espacio de formación continua de docentes: un retrato a partir de tesis y disertaciones
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil
tiroli@uel.br
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil
simone.steffan@uel.br
Adriana Regina de Jesus Santos
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil
adrianar@uel.br
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – campus Campo Mourão, PR, Brasil
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil
ligia.patricia@uel.br
Ilemar Christina
Lansoni Wey Berti
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT, Brasília, DF, Brasil
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil
christinaberti@uel.br
Recebido em 18 de fevereiro de 2025
Aprovado em 22 de abril de 2025
Publicado em 02 de setembro de 2025
RESUMO
O artigo discute o Observatório da Educação como um espaço de formação continuada para professores da Educação Básica, com foco nas implicações desse instrumento para a prática docente. Nesse sentido, questiona-se: quais são as principais implicações do Observatório da Educação para a formação continuada de professores, conforme apresentadas em pesquisas realizadas no âmbito da pós- graduação stricto sensu? A pesquisa foi desenvolvida por meio de levantamento de dissertações e teses publicadas entre 2006 e 2024, utilizando uma abordagem qualitativa e crítica-dialética. O objetivo foi compreender como os trabalhos acadêmicos abordam o Observatório da Educação como um espaço de formação continuada, analisando suas possibilidades e limitações. A formação de professores é destacada como essencial para a qualidade educacional, e o Observatório surge como uma ferramenta estratégica, disponibilizando a produção científica e acadêmica de pesquisadores, professores e gestores viabilizando a integração, reflexão e troca de saberes. A pesquisa evidenciou que, embora muitos observatórios se concentrem na coleta e análise de dados, poucos são eficazes como espaços interdisciplinarmente acessíveis, limitando sua contribuição para a melhoria da Educação Básica. O estudo conclui que o Observatório tem o potencial de promover mudanças significativas, desde que seus dados sejam analisados criticamente e disponibilizados de forma clara e acessível, para fortalecer a construção de políticas públicas e práticas pedagógicas transformadoras.
Palavras-chave: Observatório da educação; Formação de professores; NAPI Educação do Futuro.
ABSTRACT
The article discusses the Education Observatory as a space for continuing education for Basic Education teachers, focusing on the implications of this tool for teaching practice. In this sense, the question is posed: what are the main implications of the Education Observatory for teachers' continuing education, as presented in research conducted in stricto sensu programs? The research was developed through a survey of theses and dissertations published between 2006 and 2024, using a qualitative and critical-dialectical approach. The objective was to understand how academic works address the Education Observatory as a space for continuing education, analyzing its possibilities and limitations. Teacher training is highlighted as essential for educational quality, and the Observatory emerges as a strategic tool, integrating researchers, teachers, and managers in an environment of reflection and knowledge exchange. The research revealed that, although many observatories focus on data collection and analysis, few are effective as interdisciplinary, rich, and accessible spaces, limiting their contribution to improving Basic Education. The study concludes that the Observatory has the potential to promote significant changes, provided its data is critically analyzed and made available clearly and accessibly, to strengthen the construction of public policies and transformative pedagogical practices.
Keywords: Education Observatory; Teacher Training; NAPI Education of the Future.
RESUMEN
El artículo discute el Observatorio de la Educación como un espacio de formación continua para docentes de la Educación Básica, con énfasis en las implicaciones de esta herramienta para la práctica docente. En este sentido, se plantea la siguiente pregunta: ¿cuáles son las principales implicaciones del Observatorio de la Educación para la formación continua de los docentes, tal como se presentan en investigaciones realizadas en programas de stricto sensu? La investigación se desarrolló mediante un levantamiento de tesis y disertaciones publicadas entre 2006 y 2024, utilizando un enfoque cualitativo y crítico-dialéctico. El objetivo fue comprender cómo los trabajos académicos abordan el Observatorio de la Educación como un espacio de formación continua, analizando sus posibilidades y limitaciones. La formación de docentes se destaca como esencial para la calidad educativa, y el Observatorio emerge como una herramienta estratégica, integrando a investigadores, docentes y gestores en un entorno de reflexión e intercambio de saberes. La investigación evidenció que, aunque muchos observatorios se centran en la recopilación y análisis de datos, pocos son efectivos como espacios interdisciplinarios, ricos y accesibles, limitando su contribución a la mejora de la Educación Básica. El estudio concluye que el Observatorio tiene el potencial de promover cambios significativos, siempre y cuando sus datos sean analizados críticamente y se pongan a disposición de forma clara y accesible, para fortalecer la construcción de políticas públicas y prácticas pedagógicas transformadoras.
Palabras clave: Observatorio de la Educación; Formación de Docentes; NAPI Educación del Futuro.
Introdução
A formação de professores é essencial para a educação, seja para manter e perpetuar o sistema educacional vigente, seja para promover mudanças significativas que transformem realidades. Por essa razão, deve ocupar o centro das pesquisas, debates e reflexões no campo educacional, uma vez que mudanças estruturais, curriculares e metodológicas só poderão ser implementadas em sintonia com a formação docente. Essa formação é a base tanto para concretizar transformações quanto para manter o status quo, inovar ou replicar práticas já existentes.
Dessa forma, busca-se discutir o Observatório como um espaço de formação continuada de professores da Educação Básica. Entende-se por Observatório o conceito atribuído pelos pesquisadores do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação em Educação Básica Pública (NAPI), Eixo I: Observatório da Educação Básica Pública, que o define como um espaço interdisciplinar e multirrepresentacional, no qual são disponibilizados dados, informações e diagnósticos sobre a Educação Básica paranaense. Tais dados servem de subsídios tanto para a formulação de políticas públicas quanto para a pesquisa acadêmica, com o objetivo de promover a melhoria contínua da qualidade da Educação Básica, preparando os cidadãos para uma participação ativa na sociedade da informação do século XXI (PPGE-Edital NAPI, 2024). Nesse sentido, o Observatório da Educação Básica Pública vai além da disponibilização de itens informacionais e promoção de debates; visa também à formação e capacitação de profissionais da área educacional.
Com o intuito de compreender o conceito e a finalidade do Observatório no ambiente acadêmico brasileiro, bem como identificar as visões, tensões, possibilidades e limites desse instrumento como um espaço de formação de professores, questiona-se: quais são as principais implicações do Observatório da Educação para a formação continuada de professores, conforme apresentadas em pesquisas realizadas no stricto sensu? Tendo como base o problema apresentado, o objetivo é compreender o conceito, a finalidade e as implicações do Observatório da Educação como espaço de formação continuada de professores, por meio de um levantamento de dissertações e teses produzidas entre 2006 e 2024. Justifica-se o recorte temporal a partir de 2006 devido à criação do programa OBEDUC, que impulsionou no Brasil as discussões sobre o Observatório da Educação como espaço de formação de professores.
O estudo foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, com análise qualitativa dos dados coletados por meio da busca de dissertações e teses disponíveis no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A premissa de análise adota a abordagem crítico-dialética, a qual critica a visão estática da realidade, evidenciando seu caráter conflitivo, dinâmico e histórico.
A racionalidade crítica, presente nessa abordagem, busca desvendar não apenas o “conflito das interpretações”, mas o conflito de interesses que determinam visões diferenciadas de mundo. Essas pesquisas manifestam um “interesse transformador” das situações ou dos fenômenos estudados, resgatando sua dimensão sempre histórica e desvendando suas possibilidades de mudança (Gamboa, 1996, p. 113).
Para atingir o objetivo proposto, o artigo está organizado em três seções. Na primeira, discute-se a formação de professores e a relevância do Observatório da Educação nesse processo. Em seguida, são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados na investigação. Por fim, são expostas as discussões baseadas nas teses e dissertações analisadas, com o intuito de compreender como esses trabalhos acadêmicos têm abordado o processo de formação de professores, considerando o Observatório da Educação como um espaço de formação continuada.
Observatório da Educação e formação de professores
A formação continuada dos professores é um tema central no debate travado no campo educacional, haja vista que as modificações estruturais, curriculares e metodológicas promovidas na educação precisam estar em sintonia com a formação de professores, que é o ponto de partida para efetivar mudanças ou permanências, para transformar ou para conservar, para criar ou reproduzir. Contribuindo com essa reflexão Sansolotti e Coelho (2019, p. 7), afirmam que:
A formação de professores tem sido objeto de grandes debates no meio acadêmico e a formação continuada seja, talvez, a modalidade que mais tem instigado a investigação e reflexão nos últimos anos, uma vez que estudos apontam para a importância deste processo na condução de um fazer pedagógico que condicione resultados que sejam mais significativos nos processos didáticos e que contribuam para um desenvolvimento profissional coerente com sua atuação prática [...].
Dessa forma, os programas de formação não devem se limitar a ações esporádicas, é necessário propor iniciativas que permitam pesquisa-ação-reflexão e diálogo constante entre o contexto escolar e o espaço de discussão (Nóvoa, 2013). Dentre essas estratégias voltadas ao processo formativo continuado de professores, destacam-se os observatórios da educação, cuja finalidade consiste em fomentar discussões sobre os temas educacionais como forma de subsidiar a elaboração de políticas públicas e o direcionamento de recursos e esforços em infraestrutura e formação de recursos humanos.
Nesse ponto, faz-se necessário ressaltar que os observatórios são fonte de dados primários e secundários, por isso, podem se tornar espaços formativos fundamentais, pois trata-se de um lócus voltado à pesquisa, reflexão e análise de políticas e práticas educativas, possibilitando que o professor possa transformar seu ser e fazer docente em uma perspectiva crítica e coletiva, a partir, inclusive, da socialização de conhecimentos, saberes, experiências e práticas (Franco; Gilberto, 2010).
Contribuindo para essa reflexão, Gatti (2009) afirma que um observatório educacional pode ser definido como uma instância de produção e disseminação de informações e análises sobre o sistema educacional. Seu principal objetivo é fornecer subsídios para a formulação e avaliação de políticas públicas, visando à melhoria da qualidade da educação. Além de coletar dados, o observatório tem a função de analisar tendências, desafios e oportunidades no campo educacional, especialmente no que se refere à formação continuada de professores.
Corroboram Lima e Vieira (2012) ao sustentar que os observatórios educacionais desempenham um papel importante na produção de diagnósticos que possibilitam a formulação de políticas mais assertivas, com foco na formação de professores, um processo complexo e multifacetado que requer a articulação entre teoria e prática, além de um acompanhamento constante das novas demandas educacionais.
Nesse sentido, o observatório da educação oferece acesso a painéis que podem subsidiar essa reflexão crítica, fornecendo informações atualizadas sobre as condições de trabalho docente, a infraestrutura escolar, os índices de desempenho dos alunos e a formação continuada dos professores.
Portanto, os observatórios da educação podem contribuir para a formação continuada de professores, sobretudo diante das constantes transformações da sociedade e das novas demandas sociais. Nesse contexto, por meio do observatório, é possível identificar lacunas na formação inicial dos docentes, sugerindo áreas em que é necessário concentrar esforços em programas de formação continuada, além de ser, o próprio observatório, esse espaço de formação continuada dos professores.
Metodologia
Com o objetivo de responder à questão proposta nesta pesquisa, foi realizada uma revisão narrativa com critérios previamente definidos para a busca de dados. A pesquisa foi conduzida no Banco de Teses e Dissertações da Capes no mês de outubro de 2024, abrangendo o período de 2006 a 2024. O recorte temporal justifica-se pela criação do Programa Observatório da Educação em 2006, vinculado à Capes, com a finalidade de promover pesquisas acadêmicas e iniciativas em colaboração com instituições de ensino superior, visando à melhoria da qualidade da educação básica.
Foram utilizados os seguintes termos: "Observatório da Educação" e "Formação de professores". A partir da pesquisa quantitativa, ao inserir o termo "Formação de professores", foram localizados 34.330 estudos. Com a utilização da expressão "Observatório da Educação", foram encontrados 335 estudos. Por fim, ao aplicar ambos os termos, "Observatório da Educação" e "Formação de professores", com a utilização do operador booleano “AND”, foram obtidos 127 resultados. A estrutura detalhada pode ser visualizada na tabela a seguir.
Tabela 1 - Quantidade de trabalhos por termos de busca
|
Termo de busca |
Quantidade |
|
“Formação de professores” |
34330 |
|
“Observatório da Educação” |
335 |
|
“Observatório da Educação” AND “Formação de professores” |
127 |
Fonte: Elaborado pelos autores.
A partir das análises, observou-se que, dos 127 trabalhos monográficos identificados, entre teses e dissertações, 32 se referiam a estudos anteriores à Plataforma Sucupira. Sendo assim, o catálogo da Capes possibilitou a análise qualitativa de 95 estudos. No entanto, entre esses, apenas 80 tinham divulgação autorizada, resultando na exclusão de 15 trabalhos.
Com o objetivo de investigar o Observatório da Educação como espaço estratégico para o aprimoramento das políticas educacionais e da formação continuada de professores, foi realizada uma análise qualitativa das 80 teses e dissertações disponíveis na plataforma, por meio da leitura dos títulos e resumos. Verificou-se que 56 estudos não tratavam diretamente do Observatório, embora estivessem inseridos em projetos mais amplos no âmbito do Programa Observatório da Educação. Dessa forma, apenas 24 pesquisas abordavam especificamente o Observatório.
Dentre os 24 estudos selecionados, 15 foram descartados por não contemplarem o objetivo desta pesquisa, isto é, não abordavam as implicações do Observatório da Educação para a formação docente. Assim, a análise resultou em 9 pesquisas, sendo 7 dissertações de mestrado e 2 teses de doutorado que tratam especificamente da contribuição do Observatório da Educação para a formação continuada de professores. No que diz respeito às áreas em que as pesquisas foram desenvolvidas, das 9 selecionadas, 7 dissertações e uma tese concentram-se na área de matemática, enquanto apenas uma tese aborda a alfabetização.
Um ponto relevante a ser destacado é que, dos 9 trabalhos selecionados, 5 dissertações e uma tese pertencem a uma universidade privada, o que sugere, de certa forma, um silenciamento das pesquisas sobre o objeto de estudo no âmbito da pós-graduação em instituições públicas e em outras áreas da educação.
Diante disso, do ponto de vista da produção acadêmica, foi possível identificar, a partir do estudo realizado, pesquisas que evidenciam a importância do Observatório da Educação na formação de professores, conforme será descrito a seguir.
Contribuições do Observatório da Educação para a formação continuada de professores: olhares a partir de teses e dissertações
O estudo realizado identificou pesquisas que relacionam as contribuições do Observatório da Educação para a formação continuada de professores, destacando a interlocução entre a Universidade e a Educação Básica por meio do projeto OBEDUC, bem como as contribuições para a formação docente. Vale ressaltar que, dos nove estudos analisados, todos os pesquisadores participaram como bolsistas e atuaram no curso de formação oferecido pelo projeto OBEDUC. Entre esses estudos, seis são provenientes de instituições privadas.
O primeiro trabalho a ser destacado é a tese de doutorado de Duarte (2022), intitulada “O esplendor das rosas na Universidade e na escola básica: as (trans)formações prático-teóricas e suas repercussões no desenvolvimento profissional de docentes alfabetizadoras”. A pesquisa discute as transformações decorrentes da interlocução entre a Universidade e a Escola Básica, por meio do Observatório, no desenvolvimento profissional de professoras de uma escola pública da rede municipal de Pelotas.
Nesse contexto, Duarte (2022) esclarece que a formação ocorreu no âmbito do programa Observatório da Educação, por meio de ações formativas desenvolvidas entre os anos de 2014 e 2017. A pesquisa constatou que o modelo de formação possibilitou a manifestação dos operadores conceituais de auto, hetero e interformação ao longo da trajetória, apresentando, assim, impacto positivo sobre a configuração e a organização da formação.
Ao longo da tese, Duarte (2022) aponta que o projeto OBEDUC-Pacto/Capes-GEALE/UFPel teve como principal objetivo acompanhar o processo de formação continuada dos professores vinculados às ações programadas pelo PNAIC-UFPel, com o propósito de averiguar a repercussão dessa formação em relação ao aumento dos índices de leitura e escrita das crianças. O projeto incluiu o mapeamento e a organização dos dados de desempenho dos alunos das escolas públicas de Pelotas e Porto Alegre. Desse modo, as atividades deste grupo abrangeram estudo e leituras, coletas sistemáticas, organização e mapeamento de dados, além de orientação e discussão dos projetos de ensino e inovação desenvolvidos pelas professoras bolsistas participantes da Educação Básica (BEB).
A pesquisa evidenciou que os cursos de formação continuada apoiados pelo Observatório da Educação organizam os focos de estudo de cada núcleo com base em bancos de dados, como o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), e em outras políticas de avaliação. No entanto, em nenhum momento os dados, análises, informações e diagnósticos do desempenho dos alunos das escolas públicas de Pelotas e Porto Alegre, bem como os projetos de intervenção em prol da alfabetização desenvolvidos durante o projeto, foram amplamente disseminados.
Conforme Lopes (2010), sendo os observatórios uma iniciativa estatal que se considera produtora de saber, sua finalidade precisa ser redefinida, questionando a quem esse saber se destina e qual sua aplicabilidade. Assim, embora os observatórios tenham como objetivo a melhoria dos processos educacionais em suas respectivas áreas, o conhecimento produzido deve ser disponibilizado não apenas como uma prestação de contas ao Estado, mas também como um recurso valioso para pesquisadores.
A falta de acesso aos dados e a não disponibilização das informações de pesquisa afetam diretamente a formação de novos pesquisadores. Sem dados públicos ou acessíveis, a formação acadêmica e científica fica comprometida, já que estudantes e pesquisadores iniciantes dependem destes conteúdos para desenvolver suas próprias investigações e questionamentos.
O segundo trabalho identificado é proveniente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). A dissertação de Pardim (2015), intitulada “Reflexões e interações de um professor da Educação Básica em um projeto colaborativo”, teve como objetivo analisar os movimentos reflexivos de um professor sobre sua prática ao participar de ciclos de estudos colaborativos. A escola onde foi realizado o curso de formação continuada possui uma infraestrutura simples e um dos menores índices do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da rede municipal de Campo Grande.
A formação continuada de professores, por meio do programa OBEDUC, ocorreu sob a perspectiva da colaboração, desenvolvendo-se por meio de discussões em relação aos textos apresentados para reflexão do grupo. A pesquisa concluiu que os ciclos de estudos colaborativos ofertados pelo projeto viabilizam ao docente movimentos de reflexão sobre sua prática, promovendo interações, diálogos e combinações dos desafios enfrentados em sala de aula. Além disso, a pesquisadora percebeu sua transformação nesse processo, tanto pela participação no projeto OBEDUC quanto pela interação com os professores (Pardim, 2015).
A investigação está intrinsecamente ligada à prática docente e ao exercício da profissão, e a formação continuada atuou no desenvolvimento contínuo de práticas de pesquisa, ensino e extensão. Contudo, a pesquisa se limitou a uma simples coleta de dados, sem uma análise mais aprofundada. Em nenhum momento a investigação partiu da necessidade de compreender a verdadeira razão do problema e sua causa, resultando em informações superficiais e em uma visão fragmentada da realidade educacional.
Nóvoa et al. (2011) apontam que a pesquisa em educação é excessivamente fragmentada, carecendo de instâncias de coordenação que possibilitem superar essa percepção de fragmentação, sendo necessário construir espaços de debate e articulação. Segundo Lopes (2010), quando houve a inversão da finalidade dos observatórios, direcionando-os aos decisores políticos e não aos pesquisadores, passou-se a ensinar qualquer coisa, a explicar como fazer, a reunir e compartilhar dados e experiências.
Assim, quando os dados de pesquisa não são disponibilizados ou analisados de forma crítica, as políticas públicas educacionais acabam se baseando em informações parciais ou imprecisas. A falta de análise aprofundada impede que os tomadores de decisão compreendam as questões complexas do sistema educacional. Para que as políticas sejam eficazes, é necessário que haja uma base sólida de dados, analisados criticamente, que revelem as necessidades reais da educação.
O terceiro trabalho é a dissertação de Mesquita (2019), intitulada “O desenvolvimento profissional no contexto da pesquisa-formação: Programa Observatório da Educação e os professores que ensinam Matemática”, que teve como objetivo compreender a relação entre pesquisa e formação prática no processo de desenvolvimento profissional de professores que ensinam Matemática. A partir do mapeamento realizado, a autora identificou que a maioria das produções encontradas aborda a formação continuada e o papel do professor, em função da natureza do Programa OBEDUC. Destaca-se também a concentração de trabalhos na região Sudeste do país, devido à presença de programas de pós-graduação na área de Matemática.
No que se refere às contribuições do Programa OBEDUC na perspectiva da prática pedagógica, formativa e investigativa, Mesquita (2019) aponta que, de forma abrangente, as práticas ainda se mantêm voltadas ao tecnicismo e permanecem cristalizadas em alguns professores. Com isso, os resultados indicam a necessidade de um movimento reflexivo e da promoção de pesquisas na área, em prol da conscientização dos docentes sobre as questões e dilemas que permeiam o ensino e a aprendizagem.
A análise dos estudos selecionados evidenciou que os cursos de formação continuada, apoiados pelo Observatório da Educação e orientados para o conhecimento mais aprofundado da realidade educacional, organizam os focos de estudo de cada núcleo com base em bancos de dados como o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o Censo Escolar, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e a Prova Brasil.
Desse modo, os cursos de formação continuada tendem a adotar práticas educacionais de caráter tecnicista. No setor público, as pesquisas sugerem que os professores são vistos como agentes sociopolíticos que vão além do papel de organizadores de ensino e aprendizagem, mas com foco nas políticas de avaliação em larga escala, que acabam por orientar o conteúdo e a forma do ensino. Já no setor privado, embora também sejam investigativas e críticas, as formações continuam priorizando mais técnicas específicas, como podemos constatar nos próximos trabalhos analisados.
As subsequentes dissertações e a tese são derivadas da linha de pesquisa Formação de Professores, Currículo e História, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo (UNIAN-SP), realizadas no contexto do Projeto Observatório da Educação. Todos os estudos incluíram pesquisas de campo sobre formação continuada, nas quais os pesquisadores também atuaram como formadores nos cursos.
Dessa forma, podemos observar que a produção acadêmica, ao realçar as narrativas das experiências de formação continuada dos docentes, reconhece a prática do professor como fundamental na proposição e direção dessas formações. Contudo, coletar dados, produzir e disseminar as informações e análises sobre a formação continuada de professores não se refere meramente à preservação da memória intelectual ou como uma forma de prestar contas em relação aos recursos recebidos, mas sim como uma ferramenta que viabiliza informações vigentes e essenciais na elaboração de políticas educacionais mais eficazes. Essas políticas devem buscar superar as lacunas indicadas e elaborar propostas que garantam a formação continuada (Sayão; Sales, 2016).
Isso posto, o quarto trabalho analisado é a dissertação de mestrado de Macedo (2016), intitulada “Conhecimentos de professores de Matemática sobre o processo de ensino e de aprendizagem de noções estatísticas - curva normal”, cujo objetivo consistiu em investigar como a formação continuada pode ampliar o conhecimento de professores do Ensino Fundamental e Médio para ensinar conceitos de estatística, especialmente a curva normal, promovendo reflexões e vivências sobre inovações nos currículos mais recentes.
Conforme Macedo (2016), as discussões realizadas com o grupo de professores durante o processo formativo permitiram a ampliação de seus conhecimentos sobre a temática abordada. Além disso, o estudo destacou a importância da articulação entre a universidade e os professores da Rede Estadual de Ensino, por meio dos subsídios do OBEDUC, especialmente no que diz respeito a diferentes abordagens, estratégias, contextos e materiais no processo de ensino e aprendizagem.
Na dissertação, foi possível perceber que a formação considerou uma perspectiva reflexiva da formação docente. Contudo, apesar do processo de reflexão coletiva, as atividades se concentraram em técnicas de Estatística. Dessa forma, compreendemos que as políticas públicas de financiamento educacional não se distanciam dos princípios econômicos neoliberais que regem a atualidade. Em consonância com Silva (2018), o neotecnicismo pedagógico presente atualmente tem como premissa uma formação que se desloca da dimensão acadêmica para uma dimensão experimental/instrumental/pragmática, destacando as competências e habilidades dos professores e alunos para alcançarem as metas e os resultados pré-estabelecidos.
O quinto trabalho analisado é a dissertação de Alves (2016), intitulada “Conhecimentos de professores de Matemática da Educação Básica sobre o ensino de medidas de tendência central”, cujo objetivo foi investigar a ampliação da base de conhecimentos sobre o ensino de Medidas de Tendência Central (MTC) entre um grupo de professores participantes da formação continuada ofertada pelo projeto do Observatório. Durante o curso, o autor observou que os docentes se sentiram motivados a discutir e refletir em grupo, o que resultou na ampliação de seu conhecimento sobre MTC. Concluiu-se também que é necessário incluir, nos cursos de formação inicial e continuada, características específicas da formação promovida pelo Programa Observatório da Educação, visando à ampliação do conteúdo abordado (Alves, 2016).
O trabalho com MTC surgiu a partir dos resultados da Prova do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), onde apenas 48% dos alunos conseguiram resolver questões relacionadas ao conteúdo. Com isso, podemos novamente observar a ideia de eficiência e produtividade na educação, que contempla um instrumento objetivo de avaliação, em contraste com as relações que se estabelecem entre o professor e o aluno durante o processo de aprendizagem (Silva, 2018).
De acordo com Nóvoa et al. (2011), o governo delineia suas políticas educacionais em dados, avaliações, resultados, boas práticas, aprendizagem mútua, especialistas, entre outros. Naturaliza-se, assim, ações a partir de um sentido de evidência e de inevitabilidade, que não oferece outras possibilidades, mas apenas organiza dados, identifica boas soluções e/ou aferi os melhores métodos. Com isso, reitera-se que o observatório deve ser, antes de tudo, um espaço aberto, onde dados e pesquisas são compartilhados, analisados e utilizados para gerar conhecimento útil para a formulação de políticas públicas, a melhoria das práticas educacionais e o avanço da ciência educacional. Não deve se limitar a contemplar apenas certos aspectos da realidade educacional enquanto outros são ignorados ou minimizados, como ocorre quando o curso de formação se volta somente a um diagnóstico único, o que contribui para uma formação fragmentada e com sobreposição de algumas disciplinas.
O sexto trabalho é a dissertação de mestrado de Sera (2016), intitulada "Conhecimentos de professores para o ensino da leitura e construção de gráficos estatísticos na educação básica", que teve como objetivo investigar como a formação continuada pode ampliar o conhecimento de professores de Matemática da Educação Básica para ensinar leitura e construção de gráficos estatísticos, com foco no Letramento Estatístico e nas dificuldades de ensinar o tema aos alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
Nos resultados, o autor (2016) observou que a maioria dos docentes apresentou incoerências na construção de gráficos. Embora o objeto do estudo não fosse especificamente o “letramento estatístico”, os resultados apontam para a necessidade e relevância de discussões na formação em relação às noções de conteúdo. Com isso, conclui que é necessário promover mais processos formativos, por meio do observatório, para articular diferentes abordagens, estratégias e materiais, aprimorando, assim, o processo de ensino e aprendizagem do conteúdo trabalhado. A prática reflexiva também desempenhou um papel importante no grupo, pois possibilitou trocas de experiências e pontos de vista diferentes.
Apesar de a pesquisa de Sera (2016) partir da observação da defasagem dos professores em relação ao conteúdo, o curso de formação focou em superar a necessidade dos docentes perpetuando o tecnicismo. A falta de uma análise aprofundada, que poderia ter averiguado a fonte do problema e suas causas, resultou em informações superficiais sobre a realidade educacional. Desse modo, para que as políticas educacionais, como o Observatório da Educação, sejam realmente eficazes, é fundamental um suporte concreto de dados que evidenciem as necessidades reais da educação. Isso ocorre porque o programa OBEDUC não disponibilizou um repositório específico para as produções, prejudicando, assim, a divulgação e disseminação dos conhecimentos científicos produzidos ao longo de mais de uma década de vigência do programa (Carvalho, 2023).
De acordo com Sayão e Sales (2016, p. 96):
As coleções de dados coletados e gerados pelos pesquisadores bem como as suas versões e linhagens contam melhor essa história e podem ser arquivadas naturalmente nos repositórios que possuem modelos de dados adequados para tal; além do mais, os repositórios de dados permitem a publicação de dados negativos que anteriormente estavam ocultos e sem um ambiente apropriado para serem arquivados e disseminados.
Quando há a disponibilização de um repositório específico, os dados são preservados e podem ser recuperados, acessados e citados por outros pesquisadores, garantindo assim uma visibilidade em escala mundial. Além disso, isso viabiliza que pesquisadores percebam aquilo que não foi frutífero, evitando assim direcionar-se a pesquisas de mesma natureza e identificando direções mais produtivas.
O sétimo trabalho identificado por meio do levantamento é a dissertação intitulada “Educação Financeira na perspectiva da Matemática Crítica e a formação continuada do professor do Ensino Médio”, de autoria de Santos (2017), que teve como objetivo compreender as possibilidades de um processo formativo voltado ao desenvolvimento da Educação Financeira a partir de uma perspectiva crítica no Ensino Médio. A autora constatou que, ao abordar questões de conteúdo aplicadas a situações cotidianas, o curso de formação ofertado pelo OBEDUC estimulou reflexões entre os professores sobre o conteúdo e a tomada de decisões em relação às ferramentas matemáticas. Além disso, o curso promoveu o compartilhamento e a reflexão sobre a prática da Educação Financeira, com os docentes se mostrando receptivos a novas metodologias.
Santos (2017) descreve os encontros em ordem sequencial, e durante a formação foram trabalhadas atividades com “situações-problema” de nível de ensino médio, abrangendo conceitos matemáticos no cenário da Educação Financeira, evidenciando novamente o cunho tecnicista dos cursos de formação continuada do OBEDUC ofertados pelas instituições privadas. A análise foi realizada a partir das resoluções feitas pelos professores e do diagnóstico prévio que eles faziam em relação à capacidade de seus alunos de resolver ou não as questões propostas.
Consoante com Silva (2018, p. 13), o neotecnicismo tem como premissa a produtividade no campo educacional, melhores resultados nas avaliações em larga escala, e ainda uma concepção de meritocracia:
[...] seria a ideia da didática se restringir, cada vez mais, ao estudo de métodos específicos para ensinar determinados conteúdos, considerados como prioritários nos encaminhamentos da avaliação em larga escala. Ainda, caracteriza-se como um dos indícios do neotecnicismo, a abordagem para as políticas educacionais construídas em torno dos conceitos de responsabilização pelos resultados [...].
Desse modo, observou-se que o curso de formação continuada foi voltado às exigências educacionais, como a busca de resultados para melhorar os índices oficiais de qualidade de ensino.
O oitavo trabalho analisado é a dissertação de Porto (2016), intitulada “Formação Continuada do Professor de Matemática para uso do GeoGebra em dispositivo mobile”, que teve como objetivo compreender o processo de instrumentalização do software GeoGebra e do dispositivo mobile em um grupo de professores de Matemática da Educação Básica no contexto da formação continuada. Segundo o pesquisador, o programa viabilizou condições favoráveis para a investigação no que concerne ao financiamento e à viabilização da formação continuada.
O autor destacou a importância da instrumentalização do Conhecimento Tecnológico Pedagógico do Conteúdo, permitindo aos professores superar lacunas relacionadas a esse tipo de conteúdo. A formação continuada para professores de Matemática da rede pública da Educação Básica, ligada ao programa Observatório da Educação da CAPES/INEP, também contribuiu na (re)construção desses conhecimentos a partir de estudos teóricos.
As atuais políticas educacionais, de caráter gerencialista, utilizam como estratégia de democratização de acesso ao ensino o uso intensivo das tecnologias, como forma de adequação da educação escolar à sociedade da informação (Silva, 2018). Entretanto, o emprego da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem não determina a qualidade da educação. Segundo Libâneo (2001, p. 20-21):
O avanço tecnológico criou as novas tecnologias da comunicação e da informação, provocando uma reviravolta nos modos mais convencionais de educar e ensinar. Entretanto, a informação é um caminho de acesso ao conhecimento, é um instrumento de aquisição de conhecimento, mas, por si só, não propicia o saber. Ela precisa ser analisada, interpretada, retrabalhada, e isso é tarefa do trabalho com o conhecimento. É a apropriação do conhecimento, dos conceitos, das categorias que possibilita a leitura crítica da informação, caminho para a liberdade intelectual e política.
Desse modo, não basta somente instrumentalizar o professor com dispositivos digitais, como se fossem espaço de síntese; é preciso um acompanhamento contínuo e pesquisas mais profundas para o alcance da melhoria das práticas pedagógicas.
Por fim, o nono trabalho é a tese de Barreto (2016), intitulada "Formação continuada: um desvelar de saberes dos professores da Educação Básica em diálogos reflexivos sobre a estrutura multiplicativa", que teve como objetivo analisar como professores de Matemática da Educação Básica compreendem e aplicam conhecimentos sobre estruturas multiplicativas, considerando a ressignificação de seu saber profissional durante a formação continuada.
A autora destaca que “os assuntos abordados no projeto OBEDUC têm permitido avanços na competência profissional e na produção científica” (Barreto, 2016, p. 92). Nesse sentido, Barreto (2016) conclui que o curso de formação, no qual atuou também como formadora, propiciou o reconhecimento de diferentes estratégias pedagógicas e promoveu uma transformação na visão das docentes em relação às suas práticas. A ação formadora, dinâmica e interativa realizada na formação continuada, apoiada pelo Observatório, considerou as necessidades reais dos docentes, suas diferenças individuais e os conhecimentos de um grupo diversificado, promovendo o aprendizado matemático e a ressignificação das competências profissionais.
A tese foi fundamentada a partir dos resultados do SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), uma prova externa aplicada anualmente para avaliar sistematicamente o Ensino Básico da rede pública estadual. Conforme a autora (2016), o tempo reduzido desses exames não permite que os alunos desenhem ou listem todas as possibilidades, resolvendo assim por meio de operações de multiplicação, o que muitas vezes leva o aluno ao erro.
Desse modo, observou-se que a formação continuada recaiu novamente em ações esporádicas, sem uma análise mais aprofundada, pois a investigação não se respaldou em compreender o real motivo do problema, se limitando a uma simples coleta de dados. Reiterando práticas políticas, acadêmicas e de construção de conhecimentos, apoiadas em concepções de "capacitação", "treinamento", "reciclagem", ou uma simples transmissão de conhecimentos construídos sem uma análise mais profunda da realidade educacional, resultando em ações esporádicas, descontínuas e de elevado custo social e financeiro (Prada, 2007).
Dessa forma, mediante a análise das nove pesquisas, observou-se uma predominância de produções na área de Educação Matemática, devido à ênfase das avaliações externas nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa. Essa concentração visa melhorar o desempenho das escolas, promovendo cursos de capacitação voltados para essas áreas e, assim, investindo na aprendizagem dos alunos e nos resultados da educação básica pública. No entanto, as políticas de avaliação em larga escala acabam orientando o conteúdo e a forma do ensino, contribuindo para um currículo fragmentado e com sobreposição de algumas disciplinas.
Outro ponto relevante refere-se às pesquisas voltadas apenas como uma forma de prestar contas em relação ao recurso recebido, visto que não abordam o observatório como uma estrutura voltada para a armazenagem, análise e disseminação de dados, informações e diagnósticos sobre uma área ou fenômeno específico, com o propósito de gerar e fornecer conhecimento organizado e acessível, atuando como ferramentas de apoio à tomada de decisões e ao desenvolvimento de políticas ou ações estratégicas em suas respectivas áreas.
Portanto, o OBEDUC atuou no desenvolvimento contínuo de práticas de pesquisa, ensino e extensão nas Instituições de Ensino Superior, no que se refere à formação continuada de professores. As formações continuadas são essenciais para o aprofundamento do pensamento e das práticas docentes, na compreensão das problemáticas e na construção de propostas de transformações significativas, tanto no aspecto institucional quanto social. No entanto, as políticas públicas de financiamento educacional não se distanciam dos princípios econômicos neoliberais que regem a atualidade, pois, quando não há acompanhamento contínuo e exploração dos dados para identificar padrões, lacunas ou soluções, o observatório perde seu potencial de gerar conhecimento significativo (Sayão; Sales, 2016).
A pesquisa educacional deve ir além da simples apresentação de números; deve buscar respostas e explicações sobre os fenômenos que ocorrem na educação, suas causas e consequências. A simples prestação de contas não contribui de forma substancial para a melhoria das práticas pedagógicas e das políticas públicas, limitando-se a um exercício burocrático.
Considerações finais
A formação continuada de professores é uma questão central para a consolidação de uma educação de qualidade, especialmente em contextos de transformação social e educacional. Nesse sentido, o Observatório da Educação surge como uma ferramenta estratégica para promover reflexões, diagnósticos e práticas que alinhem as necessidades do sistema educacional às demandas contemporâneas. Ao atuar como um lócus de análise crítica e construção coletiva, o observatório contribui não apenas para o desenvolvimento das políticas públicas, mas também para a formação de um professorado mais preparado e engajado com a realidade educacional e suas transformações.
Com base nos dados analisados, é possível afirmar que os observatórios educacionais desempenham um papel fundamental na articulação entre teoria e prática, oferecendo subsídios para a formulação de políticas mais assertivas. Além disso, como instrumento, ao disponibilizar dados, informações e produções, o observatório pode fomentar a reflexão e a geração de novos conhecimentos em um ambiente de troca, configurando-se como um espaço de formação contínua essencial para enfrentar os desafios educacionais do século XXI. A socialização de dados, práticas e saberes promovida por esse ambiente enriquece a experiência docente e fomenta uma educação mais crítica e transformadora.
Entretanto, no que se refere aos observatórios da educação, que desempenham um papel fundamental no monitoramento e aprimoramento do setor educacional, as pesquisas apontam que muitos observatórios focaram apenas na coleta e análise de dados, e não como um espaço interdisciplinar e multirrepresentacional, que poderia fornecer subsídios para políticas públicas e para a pesquisa acadêmica, visando à melhoria contínua da qualidade da Educação Básica.
A simples disponibilização de dados, sem a análise crítica e a disponibilização de resultados acessíveis e compreensíveis, pode tornar o observatório uma ferramenta irrelevante. Dados de pesquisa são fundamentais para a construção de novos estudos, para a identificação de tendências e para o desenvolvimento de soluções baseadas em evidências. Sem o acesso aberto e claro aos dados, a função do observatório fica comprometida. Quando um “Observatório da Educação” não é efetivamente um espaço de pesquisa, ele perde grande parte de seu potencial para contribuir de forma significativa para a melhoria da educação.
Desse modo, o observatório foi percebido apenas como um espaço para relatar resultados de forma superficial, sem abrir acesso aos dados brutos ou às metodologias utilizadas, dificultando que outros pesquisadores, educadores e formuladores de políticas possam analisar e validar as informações.
Financiamento
O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação Araucária/SETI-PR.
Referências
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