O retorno a vida lá fora: pelas lentes das crianças

Returning to life outside: through the lens of children

Regresar a la vida en el fuera: a través de la lente de los niños

 

Alice Maria Corrêa Medina

Universidade de Brasília, Distrito Federal, DF, Brasil

licinhamedina@gmail.com

Juliana Faria de Barros

Universidade de Brasília, Distrito Federal, DF, Brasil

julianafbarrosunb@gmail.com

 

Recebido em 05 de setembro de 2024

Aprovado em 02 de outubro de 2024

Publicado em 09 de maio de 2025

 

RESUMO

Ainda hoje, o mundo vive as consequências da COVID-19 em diferentes contextos econômicos, ambientais e principalmente emocionais havendo a necessidade, em função dos impactos produzidos pela pandemia, da proposição de novos estudos e pesquisas em todas as áreas do conhecimento. Entre as consequências causadas, além dos agravos relacionados à saúde estão as dificuldades enfrentadas pela sociedade com o desemprego, a violência e as doenças emocionais, ainda detectadas, em crianças, adolescente e adultos como consequência do isolamento vivido pela humanidade. O objetivo do estudo foi promover atividades relacionadas a registros fotográficos infantis, dos ambientes naturais e das áreas verdes da escola, após a retomada do ensino presencial na escola. Pelos resultados obtidos, foi possível observar diferentes níveis de envolvimento e processos de interação das crianças com os colegas, o ambiente escolar e a natureza. Os resultados obtidos permitiram reflexões e discussões relativas aos efeitos do isolamento, mas principalmente como a vida e a natureza estão sempre prontas a recomeçarem. Nesse sentido a sensibilidade ambiental, característica observada no contexto infantil, pode ser considerada como uma variável a ser aprendida e incorporada pelos adultos, como saberes da infância.

Palavras-Chave: Ambiente; Fotografias; Criança.


 

ABSTRACT

Even today, the world is experiencing the consequences of COVID-19 in different economic, environmental and mainly emotional contexts, with the need, due to the impacts produced by the pandemic, to propose new studies and research in all areas of knowledge. Among the consequences caused, in addition to health-related problems, are the difficulties faced by society with unemployment, violence and emotional illnesses, still detected in children, adolescents and adults as a consequence of the isolation experienced by humanity. The objective of the study was to promote activities related to photographic records of children, natural environments and green areas of the school, after the resumption of in-person teaching at the school. From the results obtained, it was possible to observe different levels of involvement and interaction processes between children and their peers, the school environment and nature. The results obtained allowed reflections and discussions regarding the effects of isolation, but mainly how life and nature are always ready to start again. In this sense, environmental sensitivity, a characteristic observed in the childhood context, can be considered as a variable to be learned and incorporated by adults, as childhood knowledge.

Keywords: Environment; Photographs; Child.

 

RESUMEN

Aún hoy, el mundo vive las consecuencias del COVID-19 en diferentes contextos económicos, ambientales y principalmente emocionales, siendo necesario, debido a los impactos producidos por la pandemia, proponer nuevos estudios e investigaciones en todas las áreas de conocimiento. . Entre las consecuencias provocadas, además de los problemas de salud, se encuentran las dificultades que enfrenta la sociedad con el desempleo, la violencia y las enfermedades emocionales, aún detectadas en niños, adolescentes y adultos como consecuencia del aislamiento que vive la humanidad. El objetivo del estudio fue promover actividades relacionadas con registros fotográficos de niños, entornos naturales y áreas verdes del colegio, tras la reanudación de la docencia presencial en el colegio. A partir de los resultados obtenidos, fue posible observar diferentes niveles de involucramiento e interacción entre los niños y sus pares, el ambiente escolar y la naturaleza. Los resultados obtenidos permitieron reflexionar y discusiones sobre los efectos del aislamiento, pero principalmente sobre cómo la vida y la naturaleza están siempre listas para empezar de nuevo. En este sentido, la sensibilidad ambiental, característica observada en el contexto infantil, puede ser considerada como una variable a ser aprendida e incorporada por los adultos, como conocimiento infantil.

Palabras clave: Medio Ambiente; Fotografías; Niño.

 

Introdução

E não se diga que, se sou professor de biologia, não posso me alongar em considerações outras, que devo apenas ensinar biologia, como se o fenômeno vital pudesse ser compreendido fora da trama histórico-social, cultural e política. Como se a vida, a pura vida, pudesse ser vivida de maneira igual em todas as suas dimensões na favela, no cortiço ou numa zona feliz dos “Jardins” de São Paulo. Se sou professor de biologia, obviamente, devo ensinar biologia, mas ao fazê-lo, não posso secioná-la daquela trama.

 Paulo Freire (1992, p. 78-79)

 

A situação vivida mundialmente, relacionada à pandemia, apontou para grandes desafios da pandemia que ainda, em alguma medida, produzem impactos sociais, econômicos e principalmente emocionais para adultos e crianças.

 Dessa forma, as consequências produzidas pelo isolamento social continuam afetando a humanidade, havendo a necessidade da proposição de novos estudos e pesquisas em todas as áreas do conhecimento, visando promover discussões sobre as consequências no comportamento humano e na natureza. Entre as consequências causadas anteriormente, além dos agravos relacionados à saúde estão as dificuldades enfrentadas pela sociedade com o desemprego, a violência e as doenças emocionais, principalmente pela condição de isolamento imposta pela pandemia.

Entre os registros sobre os impactos da pandemia observados, a violência domiciliar foi apontada em alguns estudos. Platt, Guedert e Coelho (2020), desenvolveram uma pesquisa sobre a violência doméstica infanto-juvenil, relacionada as notificações de violências interpessoais durante a fase de confinamento e indicaram uma atenção redobrada, em relação as situações de violência com as crianças no ambiente domiciliar.

A questão da evasão escolar também é um dos desafios enfrentados ainda hoje nas aulas presenciais. Uma notícia, no final do ano de 2021, sobre o retorno das aulas presenciais, apontou que somente a metade das crianças da América Latina e do Caribe, retornou ao ensino presencial. Abaixo um trecho na notícia divulgada em 18 de novembro de 2021:

 

While most countries in the region have started to gradually reopen schools, many classrooms remain empty. In at least five countries where just a small number of schools have reopened, less than 25 per cent of students have resumed in-person learning.

Fonte: https://www.unicef.org/lac/en/press-releases/only-half-children-latin-america-and-caribbean-are-back-classroom Acesso em: 03/09/2024.

Embora a maioria dos países da região tenha começado a reabrir gradualmente as escolas, muitas salas de aula permanecem vazias. Em pelo menos cinco países onde apenas um pequeno número de escolas reabriu menos de 25% dos alunos retomaram o aprendizado presencial (tradução nossa).

 

Passado um período de mais de quatro anos, do surgimento da pandemia, da COVID-19, a humanidade ainda sofre com os seus desafios e consequências. Os resultados produzidos pela crise impactaram de forma significativa a saúde e, em função disso, a sociedade, a economia e a política como uma espécie de reação em cadeia repercutindo até hoje.

Como consequência da crise, crianças e adolescentes apresentam, por vezes, um quadro de maior irritação, em função do isolamento e das limitações impostas. Em um estudo, publicado em 2020, Marques et al. destacaram que:

 

No nível relacional, destaca-se a sobrecarga de trabalho, o estresse dos pais devido às múltiplas tarefas e ao momento que estamos vivendo. As crianças e adolescentes também podem ficar mais irritadiças pelas restrições de mobilidade e pela falta dos colegas, acarretando comportamentos agressivos ou de desobediência” (2020, p.3).

 

A forma como a Organização Mundial da Saúde (OMS) tratou e orientou a população mundial, sobre a COVD-19, dimensiona a situação de alerta para a humanidade. Diante da gravidade da situação ações e comportamentos anódinos não conseguem dirimir os problemas que assolaram e impactaram a sociedade, produzindo consequências irreversíveis.

É provável que durante o período de pandemia um número maior de crianças tenha utilizado o celular em algum momento, seja para assistir aos vídeos ou produzir fotos já que, de um modo geral, as crianças apresentam uma curiosidade frente aos dispositivos eletrônicos.

Segundo Couto (2013) apud Patzlaff (2015), é papel dos professores nessa fase de desenvolvimento, alinhados à família, repensar as formas de intervenção, sem que não restrinja totalmente o uso das tecnologias, pois se trata de um fenômeno irreversível, devendo ser conciliado às práticas pedagógicas e ao cotidiano da família. Segundo Bondía:

 

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece (Bondía, 2002, p. 21).

 

A criança é curiosa e os dispositivos eletrônicos são equipamentos que as motivam para o manuseio, visto que “a curiosidade natural própria da infância as motiva a relacionarem com as novas mídias, a explorarem as suas possibilidades, a brincarem e descobrirem conteúdos com os quais reforçam o acesso ao mundo que querem conhecer” (Bieging et al., 2013, p.164).

O presente estudo foi baseado em uma investigação empírica, como uma pesquisa qualitativa e utilizou as produções das crianças, baseadas em registros fotográficos das áreas e espaços verdes da escola.

 

Pressupostos Legais: Educação Infantil e Educação Ambiental

É de suma importância considerar as orientações dos dispositivos legais, em relação a educação infantil e a educação ambiental. Em se tratando das instituições educacionais e em especial no contexto da educação infantil, além das orientações pertinentes ao processo de desenvolvimento das crianças é necessária uma ampliação da percepção pedagógica sobre o que significa educar.

Segundo Barbosa (2006):

 

A LDB lembra que a educação infantil está presente no capítulo da educação básica, isto é, juntamente com os ensinos fundamental e o médio, o que aponta para a necessidade de articulação e não de subordinação entre eles. Um importante marco foi demonstrado uma visão mais ampla dos processos pedagógicos necessários nessa faixa etária. (Barbosa, 2006, p. 16).

 

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei n. 9394/1996, no artigo 21, em relação a educação infantil assevera que:

 

Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

 

O documento citado, aponta para uma educação ampla que considere, além da articulação entre os níveis de ensino, uma educação infantil estruturada para além da dimensão cognitiva conclamando a participação da família no processo.

Assim como a LDB, os Referenciais da Educação Infantil (RCNEI), também integram os dispositivos legais da educação infantil. Segundo os Referenciais da Educação Infantil:

 

[...] a interação com crianças da mesma idade e de idades diferentes em situações diversas como o fator de promoção da aprendizagem e do desenvolvimento e da capacidade de relacionar-se; os conhecimentos prévios de qualquer natureza, que as crianças já possuem sobre o assunto, já que elas aprendem por meio de uma construção interna ao relacionar suas ideias com as novas informações de que dispõem e com as interações que estabelece; a individualidade e a diversidade, o grau de desafio que as atividades apresentam e o fato de que devam ser significativas e apresentadas de maneira integrada para as crianças e o mais próximas possíveis das práticas sociais reais; a resolução de problemas como forma de aprendizagem. (Brasil, 1998, p.30).

 

Em relação a Educação Ambiental, no contexto da Educação Infantil, o art. 9º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil , dispõe que as crianças devem participar de atividades pedagógicas que “[...] promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais; [...] (Brasil. MEC. SEB, 2010, p. 26)”.

De acordo com o Conselho Nacional de Educação (CNE, 2012), as escolas devem favorecer e desenvolver:

 

Projetos e atividades, inclusive artísticas e lúdicas, que valorizem o sentido de pertencimento dos seres humanos à natureza, a diversidade dos seres vivos, as diferentes culturas locais, a tradição oral, entre outras, inclusive desenvolvidas em espaços nos quais os estudantes se identifiquem como integrantes da natureza, estimulando a percepção do meio ambiente como fundamental para o exercício da cidadania (Brasil. CNE, 2012, p. 6).

 

De um modo geral as ações, embora algumas instituições de ensino se constituam como referência, relacionadas a Educação Ambiental são cercadas por instabilidades, no que tange a continuidade dos projetos nas escolas, no qual a implementação e execução do projeto estão subordinados ao período de permanência do professor/gestor do projeto na escola. Sobre essa questão, Pereira e Benati (2019), baseados em uma pesquisa realizada sobre a Educação Ambiental no contexto escolar destacam que:

 

A pesquisa permitiu mostrar que as ações de Educação Ambiental ainda são incipientes nas escolas e que existe a necessidade de adequação dos currículos escolares, assim como a capacitação e formação continuada dos professores de diferentes áreas. Dessa forma, podermos perceber ao longo do tempo mudanças que englobem a comunidade escolar. A pesquisa evidenciou ainda que, a realização dos projetos de Educação Ambiental, não são contínuos, portanto, pensar em projetos lúdicos e contínuos que visem a interdisciplinaridade e a transversalidade pode ser uma alternativa benéfica para a construção do conhecimento na área ambiental (Pereira e Benati, 2019, p. 06).

 

Olhares infantis em perspectiva

A pandemia produziu consequências em todos os contextos relacionados aos diferentes cotidianos. Em especial, a pandemia trouxe impactos para educação infantil, principalmente em relação as questões emocionais. Almeida et al. (2022), apontam que o nível de estresse e medo disseminados, nas crianças, no período de pandemia provocou dificuldades emocionais, além de elevar os níveis de ansiedade.

Destarte, ampliar o número de pesquisas e estudos relacionados ao campo de observação, registros e intervenções após os retornos escolares nas instituições de educacionais é fundamental para a identificação de fenômenos contextuais que podem, em alguma medida, estarem relacionados ao período pós-pandêmico.

Uma questão importante é verificar quanto ao número de crianças, na educação infantil, que iniciam e efetivamente permanecem na escola, durante o retorno após a pandemia, visando identificar possíveis dificuldades apresentadas pelas crianças. Bites (2022), ressalta a relevância de uma ação mais individualizada, em relação a criança, ressaltando a necessidade, em alguns casos, de uma adaptação das atividades em função do contexto apresentado e vivido no período pós-pandêmico. Tal indicação é apropriada principalmente considerando o período de retorno às atividades escolares e os resultados de estudos e pesquisas relacionados aos casos de tristeza, depressão, ansiedade etc.

Pode-se dizer que as áreas verdes e ambientes naturais das instituições escolares infantis ressurgiram como cenários da infância, após a pandemia.

 

Metodologia

Para fomentar reflexões e discussões, sobre os desafios atuais, algumas questões foram aventadas relacionadas à Educação Ambiental e contexto escolar. Abaixo, algumas questões:

  1. Como as crianças observam as plantas, insetos (formigas, joaninhas etc.) e quais os critérios de seleção infantil para os registros fotográfico, utilizando as Tecnologias da Informação Comunicação (TICs)?
  2. Que tipos de registros ambientais são produzidos, pelas crianças, no contexto escolar?
  3. Como as crianças utilizam o celular?
  4. Qual a importância da produção de sentidos e significados ambientais desde a infância?

O estudo foi baseado em uma investigação empírica, como uma pesquisa qualitativa que considera o contexto e a realidade pesquisada, segundo Yin (2005). É uma pesquisa qualitativa e interpretativa, segundo Denzin e Lincoln (2006).

O trabalho utilizou as produções das crianças participantes, no estudo, com os registros fotográficos das áreas e espaços verdes da escola, considerados como indicadores relacionados às percepções, frente aos fenômenos observados pelas crianças (Denzin e Lincoln, 2006; Gil, 1987; Lakatose Marconi, 1993; Lüdkee André, 1986 e Minayo, 1993).

Participaram da pesquisa três crianças, da Educação Infantil, de uma escola pública de Brasília - D.F., entre cinco e seis anos. Embora houvesse um número maior de participantes, no estudo, somente três crianças participaram em função de intercorrências internas na instituição escolar, com a saída da professora da escola. A pesquisa obteve a autorização do Comitê de Ética CEP/ FS/ UnB. O projeto foi apresentado à escola participante e aos familiares e crianças, sendo assinados o Termo de Consentimento Livre Esclarecido – TCLE pelos responsáveis, autorizando a participação da criança na pesquisa e o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido - TALE, pela criança, que pôde assinar ou colocar a digital, caso concordasse em participar.

 

A vida da minha escola

A pesquisa foi apresentada e aprovada pelos gestores e familiares, assim como a concordância dos familiares com a obtenção das assinaturas nos termos de consentimento e de assentimento, no caso da criança, com assinatura ou a digital infantil.

As crianças participantes foram estimuladas, durante as atividades, a observarem as áreas e os espaços verdes da escola e a fotografarem. Foi disponibilizado um celular. As atividades foram propostas, considerando um diálogo com os conteúdos escolares relacionados à Educação Ambiental.

A pesquisa utilizou, para a análise dos dados, os registros fotográficos produzidos por meio do uso de um celular e as observações registradas em um diário de campo, pelos pesquisadores, durante as atividades. Após a coleta de dados, os resultados foram organizados e discutidos e a pesquisa concluída.

 

Projeto - Minhoca Milu (produzido e desenvolvido pela professora regente da turma)

Foi apresentada, pela professora da turma de Educação Infantil a estória do livro intitulado - "Minhoca Milu: a natureza está onde você pisa!" das autoras - Fabiana da Conceição e Rosália de Oliveira (2021), disponível na Internet. A professora realizou algumas pequenas alterações, para adequar o conteúdo à turma, indicando a minhoquinha como uma visitante da escola, além de confeccionar um modelo de pelúcia para interagir com as crianças. Introduziu também uma atividade de compostagem com minhocas e uma atividade interativa com o bichinho vivo em sala de aula. Com a passagem do ano para a ano seguinte, a organização da escola mudou e a professora foi transferida à outra instituição escolar. Dessa forma, as turmas foram reorganizadas de forma que inicialmente as 14 crianças, que se propuseram a participar da pesquisa, ficaram distribuídas em turmas diferentes ou saíram da escola. No final três crianças participaram do início ao fim da pesquisa.

Devido as intercorrências, as pesquisadoras tiveram a oportunidade de direcionar o estudo de forma mais individualizada, analisando as interações individuais e o uso do celular, durante as atividades, de forma mais minuciosa. O contexto permitiu, em especial, favorecer além de um acompanhamento mais individualizado o registro de observações personalizadas.

 

Resultados

A pesquisa foi realizada durante um período de quatro semanas. Abaixo informações quanto a frequência das crianças que participaram do estudo:

Quadro de frequência dos participantes

 

Semana 1

Semana 2

Semana 3

Semana 4

Criança 1

X

X

X

X

Criança 2

X

 

X

X

Criança 3

 

 

X

 

Fonte: Autoras

 

Breves Registros: Diário de campo

Semana 1:

O estudo na primeira semana teve início a partir de uma conversa, pelos jardins da escola, sobre a natureza e os pequenos insetos encontrados no jardim.

Durante o diálogo a criança 1 relatou que sentia medo dos animais que mordem. A criança 2 conversou de forma mais expressiva, relatando não gostar de nenhum bichinho a não ser da joaninha, pois a considerava bonita.

Cada criança procurou uma planta e um animal para fazer o registro fotográfico. Apresentaram, durante a atividade, um pouco de dispersão ocorrendo dessa forma uma orientação mais específica, em relação a dinâmica da atividade visando a atenção das crianças para as plantas e insetos do jardim sem, no entanto, direcionar ou indicar as escolhas durante os processos de seleção para os registros.

Criança 1:

Após a definição da planta e do bichinho a serem fotografados, a criança 1 se interessou em tocar a formiguinha e a planta escolhida. Visualizou atentamente a tela do celular, para o registro da foto, procurando realizar o enquadramento.

Criança 2:

A princípio, a criança 2 apresentava-se apreensiva diante da possibilidade de se aproximar dos insetos e, mais dispersa na atividade, preferiu conversar para relatar sobre o seu cotidiano e desenhou uma joaninha, conforme apresentado na figura 1.

 

Registros das crianças – Semana 1 e Semana 2

Figura 1- Joaninha

Uma imagem contendo homem

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Registro da criança Nº 2


 

Figura 2- Grilo

Grama verde e árvores

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Fonte: Registro da criança Nº 1

 

Semana 2:

Somente a criança 1 esteve presente, já que as crianças 2 e 3 não compareceram à escola devido a resfriados, segundo informações da professora responsável.

Criança 1:

Na segunda semana a criança 1 apresentava-se um pouco mais dispersa, em relação a atividade relacionada à procura da planta e do bichinho. Escolheu um grilo no jardim, conforme a figura 2 e buscou um enquadramento para o registro no celular, abrindo a galeria de fotos para analisar a foto registrada, tentando com cuidado pegar o grilo. Fez a escolha e o registro da planta mais rapidamente, seguindo para a galeria de fotos e repetindo a análise.

Semana 3:

Todas as crianças compareceram e participaram das atividades na terceira semana. Com a colaboração da criança 1 e da criança 2 a atividade foi apresentada à criança 3. Após o início da atividade, a criança 3 demonstrava um pouco de nervosismo, perto das outras crianças, apresentando-se mais dispersa durante a atividade. Em função disso, visando um acompanhamento melhor das crianças, uma pesquisadora acompanhou as crianças 1 e 2 e outra pesquisadora acompanhou a criança 3.

Criança 1:

Nesse dia a criança 1 demonstrou mais animação, em comparação aos dias anteriores. Na primeira fotografia relatou sobre a importância de se respeitar as plantas, sempre atenta às formas e cores, direcionado o celular em vários ângulos, antes de realizar o registro final. Após alguns registros e análises, no último registro disse: ‘‘É até que ficou boa, heim!’’

Escolheu registrar algumas moscas e durante a atividades precisou de auxílio para localizar a mosca para o registro. A criança 1 também interagiu com a criança 2, encorajando-a se aproximar mais do jardim para realizar as atividades.   

Criança 2:

A criança 2 apresentou um interesse maior um conversar com a criança 1 e com a pesquisadora, se afastando quando via alguns bichinhos no jardim. A criança 2 optou em registrar a mesma planta e inseto que a criança 1.

Durante a atividades, a criança 2 manifestou-se sobre a incapacidade em realizar as atividades.

Seguindo para o registro da mosca ou "mosquito" como chamava, a criança 2 fez o seu registro, conforme a figura 3. A criança 2 também demonstrou certo incômodo com os insetos. A monitora, que acompanhava a pesquisa, relatou que a criança residia em uma área rural e que não era incomum chegar a escola com picadas de mosquitos sobre a pele.


 

 

Registros das crianças – Semana 3 e Semana 4

Figura 4 – Aranha na árvore

Árvore perto de muro de pedra

Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

Fonte: Registro das crianças Nº 1

 

Figura 3 – Mosca Fonte:

Pessoa sentada na grama

Descrição gerada automaticamente

Registro da criança Nº 2

Criança 3:

Conduzida separadamente, em função das dificuldades sociais apresentadas no momento das atividades, a criança 3 resistiu em se aproximar do inseto escolhido, fotografando-o de muito de longe, apresentando dificuldades em se aproximar de alguma planta para fotografar.

Foi relatado, posteriormente, que a criança 3 não comparecia com frequência à escola e que, apesar de gostar da escola, em sala de aula apresentava dificuldade em interagir com colegas durante as atividades.

Semana 4:

Na última semana as crianças 1 e 2 estavam presentes e empolgadas com as atividades e envolvidas com o passeio pelo jardim.

Criança 1:

Mais empolgada e interessada com a atividade buscou formas diferentes de representação da natureza. No primeiro momento queria fotografar apenas uma planta, depois optou por toda uma paisagem. Para o registro do inseto escolheu uma aranha que estava na árvore, conforme a figura 4. Registrou com cuidado o inseto e após verificar o registro buscou interagir com o inseto.

Criança 2:

A criança 2, estava mais participativa e durante o processo de escolha da planta, optou mais uma vez por acompanhar a criança 1. Completou a atividade com apoio e incentivo da criança 1 e o registro fotográfico da plantinha, conforme a figura 5.


 

Registro da criança 5

Figura 5- Folhas da planta

Planta com folhas verdes

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Fonte: Registro da criança Nº 2

 

Ao final das atividades foi realizada uma roda de conversa com as crianças com algumas perguntas, em relação ao uso de dispositivos eletrônicos. A criança 2 relatou que fazia uso, sem deixar claro se havia algum tipo de acompanhamento, por parte dos responsáveis, já a criança 1 informou utilizar o dispositivo na companhia de familiares.

 

Discussão

O desenho infantil é uma linguagem e uma forma de representação capaz de expressar os pensamentos, os sentimentos e a visão de mundo da criança, essencial para o entendimento e a comunicação infantil (Meredieu, 1974), sendo considerado como exercício de inteligência humana. Além de ser uma forma visual e de representação, realizada e concretizada no imaginário da criança é um elemento importante para a expressão infantil diante da realidade. A fotografia, da mesma forma, pode favorecer o conhecimento e a apropriação sobre a percepção e os processos de seleção, das crianças, em relação aquilo que ela destaca no ambiente e no contexto que a cerca.

É possível afiançar que ainda hoje os impactos da pandemia apresentam consequências não apenas no contexto infantil, mas em diversos contextos etários. Dessa forma, seja em relação a criança ou ao adulto as intercorrências, advindas durante o período da pandemia impactam, de alguma forma, as realidades e os cotidianos no mundo todo.

Os estudos com a participação de crianças permitem uma transposição/travessia para aquilo que é singular e expressivo, já que a criança se apropria de forma legítima da expressão e espontaneidade. Segundo Leite:

 

O que observamos quando fazemos pesquisas com crianças e produção de imagens é um efetivo processo de exposição, de afetação, de experiência. São deslocamentos pelos quais enveredamos por travessias que escapam às certezas dos experimentos e dos protocolos de pesquisas, deslocamentos que nos permitem habitar outros tempos. Tempos distantes e fora das cronologias lineares de suscetibilidades de fatos e eventos, fora dos lugares e espaços seguros e previstos pela pesquisa (2021, p. 329).

 

 Pelos resultados obtidos na presente pesquisa relacionados ao comportamento observado da criança 3, na terceira semana, que apresentou um pouco de nervosismo e um desconforto inicial é possível considerar que, de alguma forma, possa estar relacionado ao período de isolamento social.

A percepção e a curiosidade infantil é algo interessante. No registro quase imperceptível da criança 1, apresentado na figura 4 – Aranha na árvore, o inseto é identificado e selecionado pela dimensão perceptiva e sensível da criança.

A escola é um microssistema que opera como um ambiente relacional fundamental para a reintegração e a interação. Isso pode ser verificado pela relação entre a criança 1 e a criança 2, oportunizando e favorecendo uma reestruturação positiva da autoimagem da criança 2 ao ser incentivada. No estudo foi possível observar essa relação entre as duas crianças, ou seja, a criança 2 que após o contato com a criança 1 demonstrou mais persistência em concluir as atividades. É provável que a interação da criança 2 com a criança 1 e a atenção direcionada das pesquisadoras, tenham corroborado para a criação de um ambiente mais acolhedor e de maior confiança para a criança 2.

Foi possível observar um aumento, durante o estudo, do interesse das crianças pelas plantas e bichinhos do jardim, assim como em relação as próprias produções pela criança 1, que registrou e avaliou seus registros fotográficos. A criança 1 também apresentou mais interatividade e um interesse por suas produções, descobrindo novas formas de registros e apontando sobre a importância do uso do celular para fotografar as imagens.

A aproximação infantil da natureza é um movimento premente e necessário em função das urgências humanas e ambientais, destacando-se que nessa faixa etária o interesse das crianças acontece motivado pela descoberta e encantamento, podendo fomentar a criação de sentidos humanos e ambientais. Portanto, é justamente no tempo e no espaço da infância que a produção de sentidos ambientais poderá ocorrer, efetivamente, como aponta Medina (2021), ou seja, uma incorporação da natureza a partir da relação no contexto infantil.

A expectativa é de que novos estudos possam ser realizados para ampliação do conhecimento sobre as relações das crianças com a natureza, utilizando metodologias nas quais as crianças possam se expressar de forma livre.

 

Considerações Finais

Como conseguiu fazer isso? É impossível que tenha conseguido fazer isso sem quebrar o gelo, sendo tão pequeno com as mãos tão frágeis! Neste instante um ancião que passava pelo local comentou: eu sei como ele conseguiu. E todos perguntaram: podes nos dizer como? É simples: respondeu. Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que não seria capaz.

Albert Einstein

 

Realizar pesquisas com a participação de crianças é se dispor a enveredar por caminhos de sensibilidades e percepções avançando para além das teorias estruturadas, possibilitando uma dinâmica reversa a medida que a experiência com as crianças podem promover uma reestruturação dos arcabouços teóricos anteriormente definidos, baseados em modelos e padrões disseminados.

De acordo com Santos e Santos (2023) é imprescindível que os professores e os agentes escolares tenham conhecimento sobre como lidar com as diversas situações, visto que a humanidade ainda vive o processo de retorno da pandemia. Há casos em que as famílias foram impactadas social e emocionalmente e, embora a saúde emocional e social não esteja sob a égide das instituições escolares, acabam por vezes de alguma forma impactando as crianças.

Segundo Camargo e Leite, “as crianças se arriscam, riscam, rabiscam, ariscam com ‘corpos-câmeras, câmeras-corpos’, em ‘imagens-câmeras em câmera-imagens’” (2020, p. 1452). No universo de imaginação as crianças são capazes de criarem e recriarem o mundo e as relações.

O que as crianças identificaram e registraram na pesquisa, por meio dos desenhos e fotografias, são dados e resultados que contribuíram para atualização de informações sobre como a vida lá fora, no jardim da escola, que resistiu e continuava existindo após a pandemia. Essas representações reverberam sobre o sentido de como a vida se manifesta, bastando apenas a atenção e a sensibilidade da lente de uma criança para identificar e produzir sentidos sobre aquilo que, por vezes, as lentes sociais são incapazes de enxergar.

 

Referências

ALMEIDA, Isabelle Lina de Laia et al. Isolamento social e seu impacto no desenvolvimento de crianças e adolescentes: uma revisão sistemática. Revista Paulista de Pediatria, v. 40, p. 1-9, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rpp/a/ZjJsQRsTFNYrs7fJKZSqgsv/?lang=pt  Acesso em: 03 set. 2024.

 

BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006.

 

BIEGING, Patrícia; BUSSARELLO, Raul; RIBAS, Vania; OLIVEIRA, Lídia. Tecnologia e novas mídias. São Paulo: Pimenta Cultural, 2013.

 

BITES, Cattarina Kathleen Silva. As práticas pedagógicas na educação infantil durante a pandemia da covid-19. 2022. 55 f., il. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia) — Universidade de Brasília, Brasília, 2022. Disponível em: https://bdm.unb.br/handle/10483/31304?mode=full Acesso em: 03 set. 2024.

 

BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, 19, 26–28, 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/Ycc5QDzZKcYVspCNspZVDxC/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 03 set. 2024.

 

BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Lei de diretrizes e bases - LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.

 

_____. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, Brasília, DF: MEC, 1998.

 

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