A variação linguística nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa: teoria e prática no livro didático

Linguistic Variation in the National Curriculum Parameters for Portuguese Language: Theory and Practice in the Textbook

La variación lingüística en los Parámetros Curriculares Nacionales de Lengua Portuguesa: teoría y práctica en el libro de texto

 

Jailson Batista dos Santos

Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil

jaylsonbatysta@gmail.com

Vânia Maria de Vasconcelos

Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil

vania-maria-2@hotmail.com

 

Recebido em 23 de julho de 2024

Aprovado em 02 de outubro de 2024

Publicado em 09 de junho de 2025

 

RESUMO

Este artigo analisa a abordagem da variação linguística nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCNs) e sua aplicabilidade em um livro didático do 6º ano do ensino fundamental. O estudo tem como objetivo verificar se as propostas pedagógicas do livro didático estão alinhadas com as diretrizes dos PCNs, enfatizando a importância de tratar a variação linguística como um fenômeno inerente ao processo de ensino-aprendizagem. A metodologia empregada é qualitativa e exploratória, baseada em pesquisa bibliográfica e documental, utilizando conceitos de variação linguística, preconceito linguístico e livro didático, conforme autores como Labov (1972), Farias (2023) e Bagno (2001). Os resultados indicam que os PCNs reconhecem a variação linguística como um componente fundamental do processo linguístico, especialmente ao considerar as diferenças entre os padrões da linguagem oral e escrita. A análise do livro didático mostra que suas propostas pedagógicas estão de acordo com as diretrizes dos PCNs, oferecendo atividades práticas que abordam a variação linguística de maneira eficaz. Conclui-se que o professor de língua portuguesa tem um papel essencial na promoção de uma educação crítica e comprometida com a transformação social, utilizando as diretrizes dos PCNs para ensinar variação linguística de forma inclusiva.

Palavras-chave: Variação Linguística; Preconceito Linguístico; Livro Didático.

 

ABSTRACT

This article analyzes the approach to linguistic variation in the National Curricular Parameters for Portuguese Language (PCNs) and its applicability in a 6th-grade textbook. The study aims to verify whether the pedagogical proposals of the textbook are aligned with the guidelines of the PCNs, emphasizing the importance of addressing linguistic variation as an inherent phenomenon in the teaching-learning process. The employed methodology is qualitative and exploratory, based on bibliographic and documental research, utilizing concepts of linguistic variation, linguistic prejudice, and textbooks, as outlined by authors such as Labov (1972), Farias (2023), and Bagno (2001). The results indicate that the PCNs recognize linguistic variation as a fundamental component of the linguistic process, especially considering the differences between oral and written language patterns. The analysis of the textbook shows that its pedagogical proposals are in accordance with the PCNs' guidelines, offering practical activities that effectively address linguistic variation. It is concluded that the Portuguese language teacher plays an essential role in promoting a critical education committed to social transformation, using the PCNs' guidelines to teach linguistic variation inclusively. The study highlights the need for continuous teacher training to face the challenges associated with linguistic prejudice and to promote a more equitable and inclusive education.

Keywords: Linguistic Variation; Linguistic Prejudice; Textbook.

 

RESUMEN

Este artículo analiza el enfoque de la variación lingüística en los Parámetros Curriculares Nacionales de Lengua Portuguesa (PCNs) y su aplicabilidad en un libro de texto de sexto grado de educación primaria. El estudio tiene como objetivo verificar si las propuestas pedagógicas del libro de texto están alineadas con las directrices de los PCNs, enfatizando la importancia de tratar la variación lingüística como un fenómeno inherente al proceso de enseñanza-aprendizaje. La metodología empleada es cualitativa y exploratoria, basada en investigación bibliográfica y documental, utilizando conceptos de variación lingüística, prejuicio lingüístico y libro de texto, según autores como Labov (1972), Farias (2023) y Bagno (2001). Los resultados indican que los PCNs reconocen la variación lingüística como un componente fundamental del proceso lingüístico, especialmente al considerar las diferencias entre los patrones del lenguaje oral y escrito. El análisis del libro de texto muestra que sus propuestas pedagógicas están de acuerdo con las directrices de los PCNs, ofreciendo actividades prácticas que abordan la variación lingüística de manera eficaz. Se concluye que el profesor de lengua portuguesa tiene un papel esencial en la promoción de una educación crítica y comprometida con la transformación social, utilizando las directrices de los PCNs para enseñar variación lingüística de forma inclusiva.

Palabras clave: Variación Lingüística; Prejuicio Lingüístico; Libro de Texto.

 

Considerações iniciais

O debate sobre a variação linguística nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e sua aplicação nos livros didáticos do ensino fundamental é de suma importância para a sociedade contemporânea. Reconhecer e valorizar as diversas variedades linguísticas não só enriquece culturalmente, mas também promove inclusão social e educacional. Ignorar essas diversidades pode perpetuar estigmas e exclusões, prejudicando a convivência e o aprendizado nas escolas. Tal abordagem é fundamental para promover uma educação que respeite e valorize a pluralidade linguística do Brasil. Incorporar esses princípios nos livros didáticos do 6º ano do ensino fundamental, além de seguir as diretrizes educacionais, prepara os alunos para um convívio mais harmonioso e respeitoso em uma sociedade multicultural.

O livro didático desempenha um papel central como ferramenta pedagógica no ensino da língua portuguesa e, portanto, deve adotar uma abordagem que contemple as diversas variedades linguísticas, incentivando uma reflexão crítica sobre os preconceitos linguísticos presentes na sociedade. Suas complexas dimensões, que abrangem desde a escolha dos conteúdos até suas metodologias de ensino, tornam-no um objeto de pesquisa essencial para educadores, pesquisadores e formuladores de políticas educacionais comprometidos com a melhoria da qualidade do ensino. Nesse sentido, é fundamental que as propostas pedagógicas nos livros didáticos estejam alinhadas com as diretrizes educacionais, promovendo uma educação que respeite e valorize as diferentes formas de expressão linguística dos alunos.

Diante desse desafio, surge a questão central para esse debate: como a variação linguística é abordada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua Portuguesa e qual é sua aplicação prática nos livros didáticos do ensino fundamental? Para responder essa questão, realizou-se um estudo exploratório durante a disciplina “Prática de Leitura e Produção de Textos Acadêmicos”, do curso de Letras Português da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), analisando a abordagem da variação linguística nos PCNs e sua repercussão nos materiais didáticos. Tal análise proporciona uma compreensão valiosa sobre como promover uma educação mais inclusiva e sensível às diversidades linguísticas e culturais dos estudantes.

Metodologicamente, as análises se baseiam em uma revisão bibliográfica e documental, utilizando conceitos fundamentais como “variação linguística”, “preconceito linguístico” e “livro didático” (Labov, 1972; Farias, 2023; Bagno, 2001), entre outros relevantes para o tema. Essa metodologia foi escolhida porque permite uma compreensão aprofundada e contextualizada das teorias e práticas existentes na literatura. A revisão bibliográfica oferece uma visão abrangente das principais discussões e descobertas anteriores sobre variação linguística, enquanto a análise documental permite examinar como essas teorias são aplicadas nos PCNs e nos livros didáticos.

O debate proposto neste artigo está estruturado em três tópicos principais. No primeiro, “A importância da variação linguística no combate ao preconceito linguístico”, é enfatizada a relevância de compreender e respeitar as diferenças linguísticas como um meio eficaz de combater o preconceito linguístico. O segundo tópico, “Variação linguística e preconceito linguístico: concepções e relações”, explora as interações entre variação linguística e preconceito linguístico, elucidando suas concepções e relações. O terceiro tópico, “A variação linguística nos PCNs e sua aplicação no livro didático: discussão e resultados”, analisa como a abordagem da variação linguística nos PCNs se manifesta na prática do livro didático do ensino fundamental. Por fim, são apresentadas as considerações finais, sintetizando as principais conclusões do estudo.

 

A importância do estudo sobre variação linguística no enfretamento ao preconceito linguístico

A variação linguística é um fenômeno intrínseco a todas as línguas, caracterizado pelas diferenças nas diversas formas de falar e escrever uma mesma língua, as quais podem variar conforme a região geográfica, classe social, idade e gênero do falante. Este fenômeno reflete a própria natureza heterogênea das línguas humanas (Bagno, 2006). Apesar da ilusão de uniformidade e homogeneidade que a palavra "língua" pode sugerir, essa diversidade linguística desafia concepções tradicionais de língua como um sistema estático e uniforme, fomentando uma compreensão mais ampla e inclusiva das dinâmicas linguísticas na sociedade contemporânea.

Conforme argumentado por Bagno (2006), ao nos referirmos a línguas como o português, francês, chinês, árabe, entre outras, estamos utilizando termos genéricos que abarcam uma diversidade de formas de falar resultantes das diferentes sociedades e culturas onde essas línguas são empregadas. Cada uma dessas formas é reconhecida como uma “variedade linguística” (Bagno, 2006), o que leva muitos estudiosos a definirem a língua não como um sistema único, mas como um polissistema composto por múltiplas variedades. Nesse contexto, o preconceito linguístico persiste como uma realidade enfrentada por muitas pessoas, baseando-se na percepção de que certas formas de falar e escrever são superiores ou inferiores às outras.

Segundo Bagno (2001), o “preconceito linguístico” refere-se à discriminação e ao julgamento de valor negativo atribuído a determinadas variedades linguísticas faladas por grupos sociais menos privilegiados. Esse preconceito é resultado de uma visão hierárquica e injusta que favorece a língua padrão, associada às elites educadas e econômicas, em detrimento das formas populares de falar (Bagno, 2001). Além disso, conforme argumenta o referido autor,

 

O preconceito linguístico é a atitude que um indivíduo ou um grupo social assume diante de algum modo de falar que é diferente do seu. Pode ser uma variedade linguística social (usada por determinada classe social) ou regional, mas também pode ser uma outra língua, no caso de sociedades plurilíngues. Como todo preconceito, o linguístico é a manifestação, de fato, de um preconceito social, porque o que está em jogo não é a língua que a pessoa fala, mas a própria pessoa como ser social. (Bagno, s.d., citado em UNE, 2014).

 

Ao rejeitar uma forma de linguagem, seja ela socialmente determinada, regional ou mesmo uma língua diferente em contextos multilíngues, não se está simplesmente recusando um meio de comunicação, mas excluindo também a pessoa como um todo dentro de sua comunidade. Isso reflete uma forma de exclusão que não se limita ao aspecto linguístico, mas transcende para o âmbito social e cultural, impactando negativamente a autoestima e a integração dos indivíduos em suas próprias comunidades. Como observado por Bagno (2001), o preconceito linguístico não se resume a julgar formas de expressão, mas sim a discriminar indivíduos com base em características profundamente ligadas à sua identidade e pertencimento social (apud UNE, 2014). Portanto, combater esse tipo de preconceito não é apenas uma questão de valorizar a diversidade linguística, mas também um imperativo ético de respeitar a dignidade humana e a pluralidade cultural.

Um exemplo de preconceito linguístico que pode ser combatido por meio do estudo da variação linguística é o estereótipo de que apenas a norma culta é a forma “correta” de falar e escrever. Na realidade, a norma culta representa apenas uma das variedades linguísticas existentes, originada historicamente por convenções sociais e utilizada em contextos formais de comunicação. Conforme diversos livros didáticos, a norma culta é vista como uma das variedades da língua destinada a padronizar a escrita. Contudo, outras variedades linguísticas, como as populares ou regionais, são igualmente legítimas e merecem respeito. Outro exemplo de preconceito linguístico ocorre com o estigma associado a certos sotaques ou pronúncias, o que pode resultar em discriminação e isolamento social para aqueles que falam de maneira diferente. O estudo da variação linguística pode contribuir para desconstruir esses estereótipos ao mostrar que a pronúncia e o sotaque são aspectos naturais desse fenômeno linguístico.

Contudo, vale ressaltar que,

 

Quando se trata de língua, só se pode qualificar de erro aquilo que comprometa a comunicação entre os interlocutores. Se uma pessoa disser ‘os menino tudo veio’, ninguém, por mais preconceituoso e tradicionalista que seja, vai poder alegar que “não entendeu” o que aquela pessoa quis dizer. Uma análise lingüística mais rigorosa vai demonstrar com toda clareza e com argumentos mais do que convincentes que a construção ‘os menino tudo veio’ tem regras gramaticais próprias, segue uma sintaxe que difere daquela (única) que está registrada nas gramáticas normativas (Bagno, 2001, p. 26).

 

Nesse contexto, o estudo da variação linguística desempenha um papel crucial na luta contra o preconceito linguístico, ao possibilitar a compreensão de que todas as formas de falar e escrever são igualmente válidas, e que a diversidade linguística constitui um patrimônio cultural a ser preservado e valorizado. Além disso, esse estudo pode contribuir para mitigar a discriminação linguística, que pode prejudicar a autoestima e a qualidade de vida das pessoas que utilizam variedades linguísticas estigmatizadas.

Considerar as diversidades linguísticas presentes na sociedade é essencial para promover uma educação mais inclusiva e justa. No contexto escolar, é frequente a predominância de uma norma linguística que muitas vezes serve como critério para avaliar a competência comunicativa dos estudantes. Isso pode resultar em preconceito linguístico, que desvaloriza e desqualifica formas de falar diferentes da norma padrão. É crucial reconhecer essas diversidades para combater o preconceito linguístico, especialmente em ambientes educacionais onde as diferenças sociais se manifestam intensamente. Conforme Aquino e Silva (2016) destacam, compreender as diversidades linguísticas também permite uma reflexão sobre o preconceito associado às formas de comunicação alheias.

De acordo com Bagno (2007), a língua é um fenômeno social moldado e modificado pelas interações humanas, refletindo as distintas experiências culturais e históricas de cada indivíduo. Contudo, a supervalorização da norma padrão em detrimento de outras variantes pode excluir aqueles que não a dominam, como muitos estudantes que utilizam dialetos regionais ou outras formas não-padrão. Segundo Labov (2008), esse preconceito linguístico constitui uma forma de discriminação capaz de prejudicar a autoestima e a identidade dessas pessoas, além de interferir negativamente em sua aprendizagem e integração social.

O estudo da variação linguística é fundamental para desmistificar a ideia de superioridade da norma padrão sobre outras variantes, demonstrando que todas as formas de expressão são igualmente válidas e merecedoras de respeito. Por meio da compreensão da dinâmica da variação linguística, é possível identificar diferentes dialetos, sotaques e gírias presentes em uma língua, compreendendo suas origens, características e funções sociais (Bortoni-Ricardo, 2004). Nesse sentido, é imperativo que as escolas e demais instituições de ensino promovam a conscientização sobre a importância da diversidade linguística e a necessidade de combater o preconceito linguístico, criando um ambiente educacional acolhedor e inclusivo para todos os estudantes, independentemente de sua forma de expressão verbal.

O tema em questão coloca a Sociolinguística no centro das discussões, sendo entendida como “uma ciência que busca relacionar as variedades linguísticas presentes nas comunidades de uma mesma língua às diferenças observadas na estrutura a que pertencem” (Cyranka, 2014, p. 48). Assim, discutir as diversas formas de uso da língua implica também abordar as relações de poder envolvidas em seu uso, especialmente no que se refere à perpetuação do preconceito linguístico. Portanto, torna-se essencial adotar o ensino das variações linguísticas como prática pedagógica em sala de aula para mitigar esse preconceito.

A discussão sobre linguagem, focalizando especialmente a variação linguística, é fundamental para o ensino de língua portuguesa, indo além do ensino das regras gramaticais. Embora essas regras sejam fundamentais para compreender e aprender a língua, é igualmente crucial não as fixar de modo a excluir as diversas variedades linguísticas das práticas pedagógicas. Ao incorporar as diferentes formas de fala dos alunos em sala de aula, podemos apreciar a riqueza dessas diferenças linguísticas.

A inclusão da variação linguística nos PCNs de Língua Portuguesa e sua aplicação nos livros didáticos contribuem significativamente para o Curso de Licenciatura em Letras Português, proporcionando aos estudantes a oportunidade de compreender e respeitar as diversidades linguísticas. Através de debates claros e discussões em sala de aula sobre as implicações da variação linguística no contexto escolar e social, podemos enfrentar o preconceito linguístico de forma eficaz. Portanto, essa reflexão não apenas enriquece a compreensão da linguagem como fenômeno social e cultural, mas também prepara os futuros educadores para uma prática mais inclusiva e consciente, onde todas as formas de expressão linguística são valorizadas e respeitadas.


 

Variação linguística e preconceito linguístico: concepções e relações

Além de examinar as diversas modalidades de expressão oral e escrita de uma língua, o debate sobre variação linguística e preconceito linguístico investiga também como essas variações são estigmatizadas ou valorizadas em diferentes contextos sociais. Labov (1972) pioneiramente demonstrou como as variedades linguísticas são sistematicamente organizadas, podendo ser vistas como sistemas completos e coerentes, desafiando visões simplistas de inferioridade ou superioridade linguística. Farias (2023), ao estudar a variação linguística regional nordestina através de reflexões mediadas pelo cinema, contribuiu destacando a importância da valorização e do respeito pela diversidade linguística regional. Bagno (2001) acrescenta que o preconceito linguístico é uma manifestação de um preconceito social mais amplo, onde a rejeição de certas formas de fala muitas vezes reflete hierarquias sociais e culturais.

Segundo Labov (1972), a variação linguística não é aleatória, mas estruturada socialmente, correlacionada com fatores como classe social, idade, sexo e contexto social. Isso significa que as diferentes modalidades de expressão oral e escrita de uma língua não ocorrem de maneira arbitrária, mas são influenciadas pelo ambiente social e cultural em que os indivíduos estão inseridos. Além disso, certos estereótipos são socialmente estigmatizados, o que pode acelerar a mudança linguística e, eventualmente, levar à extinção da forma estigmatizada (Severo, 2008). Por outro lado, há estereótipos que variam em prestígio de um grupo para outro, sendo considerados positivos por alguns e negativos por outros (Labov, 1972). Nesse sentido, Labov (1972) argumenta que as variedades linguísticas não padrão são tão gramaticalmente complexas e sistematicamente organizadas quanto a norma padrão, desafiando assim as hierarquias linguísticas e sociais.

Segundo argumentado por Farias (2023, p. 25),

 

A constatação de que a variação linguística é inerente à língua revela a existência de fatores condicionantes que influenciam a escolha de variantes linguísticas pelos falantes. Esses fatores, classificados em categorias internas e externas, desempenham um papel fundamental nesse processo. Os fatores internos dizem respeito às variações estruturais da língua. Por outro lado, os fatores externos estão relacionados a influências sociais.

 

A análise proposta por Farias (2023) sugere que a variação linguística é uma resposta dinâmica e adaptativa às condições sociais e estruturais específicas de cada comunidade linguística. Compreender esses fatores é essencial para uma visão mais abrangente sobre o funcionamento da língua dentro das sociedades humanas, além de contribuir para práticas educacionais e políticas linguísticas mais inclusivas e sensíveis à diversidade linguística. Nesse contexto, a variedade linguística não se resume apenas a diferentes vocabulários ou formas alternativas de comunicação falada, mas abrange também aspectos como sotaques e expressões.

Conforme argumentado por Bagno (2015), um indivíduo do Nordeste que vive no Sudeste frequentemente é identificado pelo seu sotaque, o que muitas vezes resulta em experiências de discriminação. Sob essa perspectiva, Farias (2023) explica que essa situação é frequentemente ilustrada pela representação estereotipada de personagens nordestinos em novelas televisivas, interpretados por atores não naturais da região, que usam um sotaque caricato e exagerado, muitas vezes para efeitos humorísticos ou de menosprezo. É importante ressaltar que não há uma maneira correta ou incorreta de falar; o que existe são adaptações necessárias para que a linguagem esteja em sintonia com a situação, o ambiente ou as interações sociais presentes no momento da comunicação.

Contudo, é fundamental ressaltar que a variação linguística, tema central da Sociolinguística, ramo dedicado ao estudo das interações entre língua e sociedade, revela a natureza intrinsecamente diversa da língua. Conforme refletido nas perspectivas sociolinguísticas, a língua é caracterizada por regras não fixas, mas variáveis e sujeitas a transformações ao longo do tempo (Horta, 2018). Segundo Labov (2008), a variação linguística não é aleatória; ao contrário, está intimamente ligada a fatores linguísticos e extralinguísticos. Nesse sentido, a língua é um fenômeno heterogêneo, presente em diversos grupos sociais, nos quais os indivíduos utilizam diferentes variantes conforme o contexto e a situação (Labov, 2008). Portanto, compreende-se que o ensino da língua portuguesa deve ser contextualizado para refletir essa diversidade linguística.

Por outro lado, Santos, Santana e Santana (2015) definem variação linguística como a diversidade de formas de expressão sobre um mesmo tema, competindo entre si devido a condições que envolvem contexto linguístico, classe social, faixa etária, gênero, nível educacional, entre outros. Eles ressaltam que essa competição muitas vezes evoca uma percepção de superioridade de uma forma sobre as outras. Para Horta (2018), a tradição no ensino de língua portuguesa muitas vezes impôs a variedade culta como a única aceitável, resultando em um ensino que, para atingir esse objetivo, perpetua ideias contestadas há tempos pelos sociolinguistas (Horta, 2018, p. 2). Tais estudos desempenham um papel crucial ao proporcionar uma nova perspectiva para o ensino da língua portuguesa no contexto escolar.

Além disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997) enfatizam que a variação linguística é um traço natural e essencial das línguas, demonstrando a riqueza e a capacidade de adaptação da linguagem aos diferentes contextos sociais e culturais. Portanto, é imperativo que o ensino de língua portuguesa adote uma abordagem que não apenas reconheça, mas também valorize todas as formas de expressão linguística, promovendo não apenas a compreensão, mas também o respeito pela diversidade linguística como um reflexo da diversidade humana.

Na prática docente do ensino da língua portuguesa, muitos linguistas enfatizam que mais importante do que a simples análise dos componentes da língua e suas classificações é o desenvolvimento da capacidade dos estudantes de se expressarem eficazmente nos diversos contextos comunicativos. Assim, a compreensão da heterogeneidade linguística emerge como um aspecto central no estudo da variação linguística, promovendo uma educação que prepara os alunos para uma comunicação efetiva e inclusiva em uma sociedade diversa.

 

A variação linguística nos PCNs e sua aplicação no livro didático: discussão e resultados

Os PCNs constituem uma coleção de documentos que delineiam diretrizes educacionais fundamentais para orientar a prática pedagógica. Este conjunto é considerado uma referência nacional essencial para o ensino fundamental, estabelecendo metas educacionais que orientam as políticas do Ministério da Educação (Ribeiro, 2003). O objetivo primordial dos PCNs é direcionar o trabalho dos professores em sala de aula, oferecendo orientações que são amplamente reconhecidas e legitimadas socialmente, conforme salientado por Carvalho e Santana (2013, p. 1): “Os PCNs correspondem a um documento oficial relevante e socialmente legitimado quanto ao objetivo de orientar os professores para sua prática”.

Os PCNs de Língua Portuguesa são diretrizes fundamentais que orientam o ensino da língua em todas as escolas do país, devendo refletir a diversidade linguística e cultural dos alunos (Brasil, 1997). É crucial que reconheçam a variação linguística como um tema relevante e ofereçam orientações claras sobre como integrá-la adequadamente no ensino fundamental. Nesse contexto, o livro didático, com sua longa trajetória como ferramenta educacional, não apenas manteve sua importância ao longo do tempo, mas sua relevância nos processos pedagógicos tem se ampliado (Díaz, 2011). Ademais, Díaz (2011) argumenta que as diversas dimensões complexas que envolvem a utilização do livro didático na sala de aula torna-o um objeto de pesquisa e reflexão cada vez mais relevante e atual.

As diretrizes presentes nos PCNs abordam de maneira significativa os regionalismos e a diversidade linguística do Brasil, um país marcado por sua vasta diversidade cultural e linguística. Os PCN contribuem de forma substancial para a prática de ensino de Português ao oferecer uma série de propostas educativas para serem implementadas em sala de aula. Entre essas propostas destacam-se:

 

[...] Análise da força expressiva da linguagem popular na comunicação cotidiana, na mídia e nas artes, analisando depoimento. Levantamento das marcas de variação lingüística ligadas a gênero, gerações, grupos profissionais, classe social e área de conhecimento, por meio da comparação de textos que tratem de um mesmo assunto para públicos com características diferentes: elaboração de textos procurando incorporar na redação traços da linguagem de grupos específicos; comparação de textos de um mesmo autor, produzido em condições diferentes; análise de fatos de variação presentes nos textos dos alunos; • análise e discussão de textos de publicidade ou de imprensa que veiculem qualquer tipo de preconceito lingüístico; Análise comparativa entre registro da fala ou escrita e os preceitos normativos estabelecidos pela gramática tradicional (Brasil, 1997, p. 83-84).

 

Os PCNs enfatizam a importância de reconhecer e valorizar a diversidade linguística no contexto educacional, propondo atividades que exploram as diferenças entre a linguagem oral e escrita, além de investigar a variação linguística associada a diferentes grupos sociais. A transcrição e edição de textos orais permitem aos alunos discernir as nuances entre fala e escrita, enquanto a análise da linguagem popular e das variações linguísticas proporciona uma compreensão mais profunda das influências sociais na comunicação. A comparação de textos e a incorporação de características linguísticas específicas ajudam a identificar e discutir preconceitos linguísticos, desafiando normas estabelecidas e fomentando uma reflexão crítica sobre o uso da língua. Esta abordagem, além de enriquecer a competência linguística dos estudantes, também contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva e consciente da diversidade cultural representada pela diversidade linguística.

As propostas presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) abordam a língua portuguesa como um conjunto de variedades, destacando que “a discriminação de algumas variações, como qualquer outro preconceito, resulta da avaliação subjetiva dos grupos sociais e deve ser combatida com vigor e energia” (Brasil, 1997, p. 81). Isso ressalta a importância de combater firmemente essas formas de discriminação, promovendo uma educação que valorize e respeite todas as formas de expressão linguística. Nessa direção, é necessário adotar uma abordagem educacional que não apenas reconheça essa diversidade linguística, mas também trabalhe ativamente para combater o preconceito linguístico.

Além disso, o domínio da língua é essencial para uma participação social eficaz e para o acesso ao conhecimento, e a variação linguística, inerente à própria língua, reflete os diversos valores sociais e realidades diferentes, não devendo ser motivo de preconceito (Brasil, 1997). Assim, cabe à escola e aos seus professores ensinar aos alunos as possíveis adaptações linguísticas para que possam compreender e ser compreendidos na comunicação. Nesse sentido, é responsabilidade da escola garantir que nenhum tipo de preconceito se perpetue, abordando a variação linguística sob uma perspectiva que transcenda o conceito de certo e errado. Desse modo, espera-se que os professores utilizem estratégias que desenvolvam a percepção dos alunos quanto à natureza heterogênea da língua, manifesta em diferentes esferas sociais, contextos diversos, ao longo do tempo e em culturas variadas.

Ao considerar as análises sobre a abordagem da variação linguística nos PCNs de Língua Portuguesa, é fundamental avaliar sua aplicabilidade em um livro didático do 6º ano do ensino fundamental. Conforme observado por Díaz (2011), o livro didático é uma ferramenta tradicional e crucial nos processos de seleção e transmissão de conhecimentos escolares, organizando conteúdos de maneira sistemática e orientando o ensino-aprendizagem tanto para professores quanto para alunos. Nesse contexto, a avaliação da presença e do tratamento dado à variação linguística neste material pedagógico não apenas contribui para a formação linguística dos estudantes, mas também para a promoção de uma educação inclusiva e consciente das diversidades culturais presentes na sociedade brasileira. Portanto, entender como o livro didático aborda a variação linguística pode oferecer uma compreensão efetiva sobre como os conceitos dos PCNs estão sendo efetivamente integrados ao cotidiano escolar, influenciando diretamente na forma como os alunos percebem e utilizam a linguagem em diferentes contextos e situações comunicativas.

Para analisar a aplicabilidade da variação linguística na prática, selecionamos como objeto de estudo o livro “Singular & Plural: Leitura, Produção e Estudo de Linguagem” (6º ano), de Laura de Figueiredo, Marisa Baltazar e Shirley Goulart, publicado pela Editora Moderna em 2014. Foram escolhidas, para essa análise, atividades diretamente relacionadas à temática abordada.

 

Figura 1 – Livro Didático de Língua Portuguesa do 6º ano.

Fonte: Acervo da pesquisa.

 

O referido livro didático escolhido para análise é amplamente adotado nas escolas e reconhecido por sua qualidade pedagógica, sendo uma escolha ideal para avaliar a eficácia das diretrizes dos PCNs em sala de aula. Dividido em três unidades, o material contempla estudos sobre língua e linguagem na primeira unidade, enquanto as unidades subsequentes abordam aspectos da gramática normativa, ortografia e pontuação, com algumas atividades e textos que também tratam da temática da variação linguística ao longo do livro.

No início do capítulo 2, da unidade 1, observa-se uma abordagem cuidadosa em relação à variação linguística, que é enfatizada como um fenômeno intrínseco à diversidade linguística. A atividade proposta consiste na análise de fragmentos de anúncios publicitários que apresentam variações em relação à norma padrão, convidando os estudantes a refletirem sobre a eficácia de sua comunicação, mesmo quando não redigidos conforme essa norma. Essa prática, além de ampliar a compreensão dos alunos sobre a dinamicidade da língua, também os incentiva a considerar como diferentes registros linguísticos podem influenciar a recepção da mensagem em diversos contextos sociais e culturais.

O texto “A língua e o tempo” (pág. 100), do livro analisado, faz importante ressalva ao identificar a língua como “algo vivo”, conforme ilustração a seguir:

 

Figura 2Texto “A língua e o tempo” - Livro Didático de Língua Portuguesa do 6º ano.

Fonte: Acervo da pesquisa.

 

O texto “A língua e o tempo” reforça essa perspectiva ao descrever a língua como “algo vivo”, destacando sua capacidade de evoluir e se transformar ao longo do tempo. Essa visão é crucial para promover uma atitude de valorização e respeito pelas variações linguísticas, desafiando preconceitos e contribuindo para uma compreensão mais ampla e inclusiva do uso da língua na sociedade. Nesse sentido, o referido texto mostra ao aluno que a língua está sujeita às mudanças temporais e que as pessoas a utilizam de maneiras diversas.

O livro analisado também utiliza frequentemente charges como método para demonstrar a comunicação oral. O uso desse gênero textual é bastante apropriado, pois possibilita ao estudante entender as situações em que a linguagem mais coloquial deve ser usada e compreender o contexto enunciativo, como ilustrado a seguir:

 

Figura 3 – Tirinha do capítulo 3 - Livro Didático de Língua Portuguesa do 6º ano.

Fonte: Acervo da pesquisa.

 

A utilização de charges como estratégia pedagógica revela-se eficaz para demonstrar a comunicação oral e explorar a linguagem coloquial. Essas ferramentas didáticas combinam elementos visuais e textuais, capturando a atenção dos estudantes e facilitando a compreensão de contextos comunicativos específicos. Segundo argumentado por Souza (2017, p. 30), “utilizar um texto que reflita a realidade e a fase de desenvolvimento dos alunos é um fator crucial para o sucesso da atividade, despertando o interesse deles pela leitura e pela reflexão”. Ao abordar situações cotidianas e temas contemporâneos, as charges permitem que os alunos identifiquem quando e como a linguagem mais informal e coloquial é empregada de maneira adequada.

Além disso, o humor e a crítica presentes nas charges contextualizam a linguagem em situações enunciativas reais, proporcionando uma compreensão prática e relevante das variações linguísticas. Essa abordagem, além de tornar o aprendizado mais envolvente, também prepara os estudantes para reconhecer e valorizar a riqueza e a diversidade da comunicação oral em diferentes contextos sociais.

As atividades propostas do livro analisado, após as tirinhas, buscam refletir sobre os diferentes contextos de fala, como por exemplo, na questão 7, da página 200, conforme ilustração a seguir:

 

Figura 04 – Atividade da questão 7 - Livro Didático de Língua Portuguesa do 6º ano.

Fonte: Acervo da pesquisa.

 

Com propriedade, os autores afirmam: “O preconceito linguístico nasce da ideia de que quem não fala ou não domina essas variedades prestigiadas é inferior. Como você verá, esse modo de pensar é um equívoco! Um erro na compreensão do que é a língua!” (Figueiredo; Baltazar; Goulart, 2014, p. 200). Ao abordarem o tema do preconceito linguístico de maneira explícita e crítica, os autores alertam sobre os equívocos associados à hierarquização das variedades linguísticas e incentivam uma reflexão profunda sobre a natureza dinâmica e diversa da língua.

A afirmação de que o preconceito linguístico surge da ideia errônea de inferioridade daqueles que não dominam as variedades consideradas prestigiadas é um passo significativo para desafiar estereótipos e promover uma educação linguística mais inclusiva. Essa abordagem, além de capacitar os estudantes a valorizarem todas as formas de expressão linguística, também contribui para a construção de uma sociedade mais justa e respeitosa em relação à diversidade cultural e linguística.

Além disso, o material analisado destaca que cada comunidade de fala estabelece suas próprias normas nas diferentes situações de uso da língua. Dessa forma, as variedades linguísticas possuem suas próprias regras internas, que são distintas da variação considerada padrão. Um exemplo elucidativo é o poema de cordel “Ai! Se sesse...”, de autoria do cordelista Zé da Luz, conforme ilustrado anteriormente.


 

Figura 05 – Texto 3: Poema de Cordel - Livro Didático de Língua Portuguesa do 6º ano.

Fonte: Acervo da pesquisa.

 

Nessa atividade, os autores explicam que a regra da variação é baseada na economia, onde apenas uma palavra da oração, como o pronome nós, indica o plural, sem que as demais palavras precisem concordar (Figueiredo; Baltazar; Goulart, 2014). Essa abordagem não apenas enriquece o ensino da língua, mas também promove a valorização das diversas manifestações culturais presentes no país. É crucial destacar que frequentemente as pessoas se expressam oralmente de uma forma e por escrito de outra.

Santos, Santana e Santana (2015) enfatizam que a norma gramatical está intimamente ligada às instruções ou convenções que conferem à língua uma estética específica ou a alinham com determinado contexto sociocultural, estabelecendo assim a ‘língua padrão’. Segundo Aquino e Silva (2016), compreender as diferenças linguísticas também implica reconhecer os preconceitos associados às formas de comunicação alheias. Diferenças de sotaque e vocabulário não implicam superioridade ou inferioridade, mas refletem a realidade, a origem e o contexto social de cada indivíduo.

Ademais, as relações entre as diretrizes oficiais, sua materialização no livro didático e os fundamentos teóricos que as embasam, traduzem princípios sociolinguísticos em orientações pedagógicas, que por sua vez se concretizam nas atividades do livro analisado, conforme podemos observer no quadro comparativo a seguir.

 

Quadro 01 – PCNs, Livro Didático e Fundamentos da Sociolinguística: concepções e relações

PCNs (1997)

Livro Didático (Singular & Plural, 2014)

Sociolinguística (Labov, Bagno)

Reconhece a variação linguística como inerente à língua.

Aborda variações regionais em charges e poemas de cordel.

Variação é sistemática e ligada a fatores sociais (classe, região, etc.).

Combate o preconceito linguístico.

Critica estereótipos em atividades sobre “norma culta vs. Popular”.

Preconceito linguístico é uma forma de discriminação social (Bagno, 2001).

Valoriza a “língua viva” em uso.

Usa textos orais (tirinhas) para mostrar contextos comunicativos.

A língua é dinâmica e heterogênea (Labov, 1972).

Fonte:  Elaborado pelos autores com base nas referências bibliográficas supracitadas.

 

Ao comparar os conceitos presentes nos PCNs, no livro didático analisado e nos fundamentos da Sociolinguística, observa-se uma correspondência teórico-metodológica. Enquanto autores como Labov (1972) e Bagno (2001) estabelecem os fundamentos científicos para compreender a variação linguística, os PCNs promovem sua “transposição didática” (Chevallard, 1991), e o livro didático a concretiza por meio de práticas pedagógicas voltadas ao enfrentamento do preconceito linguístico, especialmente por meio de gêneros como o cordel e as charges, que valorizam a “língua viva” (p. 200). Essa triangulação evidencia a adequação do material às diretrizes oficiais e sua consonância com os pressupostos da pesquisa sociolinguística contemporânea.

Em síntese, o livro didático analisado aborda de maneira abrangente o tema da variação linguística e está alinhado com as diretrizes dos PCNs, ao considerar a língua como um produto da diversidade de falas, com variações ligadas a sexo, idade, região e classe social, refletindo sobre seu uso em diversos contextos aos quais os alunos estão expostos. Ao possibilitar uma discussão séria e engajada sobre variação linguística em sala de aula, este material se apresenta como um instrumento fundamental para combater o preconceito linguístico e promover uma sociedade fundamentada no respeito à diversidade.

 

Considerações finais

As análises realizadas revelaram resultados significativos no que se refere à abordagem da variedade linguística nos PCNs de Língua Portuguesa e sua aplicabilidade no contexto dos livros didáticos. Nessa perspectiva, os conceitos de variação linguística, preconceito linguístico e livro didático emergiram como categorias teórico-empíricas fundamentais para a discussão neste estudo. Ao explorar esses conceitos, foi crucial considerar como sua interação influencia diretamente o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa nas escolas, promovendo uma reflexão crítica sobre as normas linguísticas e seus impactos sociais.

Ao analisar os PCNs de Língua Portuguesa, observou-se que esses documentos abordam a variação linguística como um fenômeno intrínseco ao processo comunicativo, especialmente ao destacar as diferenças entre os padrões da linguagem oral e escrita. Essa perspectiva enriquece o entendimento dos alunos sobre a diversidade linguística e valoriza as múltiplas formas de expressão presentes na sociedade brasileira. No contexto do livro didático analisado, verificou-se que ele está alinhado com as diretrizes dos PCNs ao oferecer atividades que exploram e contemplam essa diversidade, permitindo sua aplicação prática em sala de aula.

É fundamental destacar o papel essencial do professor de língua portuguesa como agente transformador na educação, capaz de promover uma visão crítica e inclusiva da linguagem. As escolas devem atuar proativamente para evitar a reprodução de preconceitos linguísticos no ambiente educacional, incentivando uma abordagem da variação linguística que transcenda a dicotomia certo/errado. Reconhecer o aluno como um sujeito socialmente situado, cuja linguagem reflete sua realidade e experiências, é crucial para fomentar um ambiente educacional mais inclusivo e respeitoso.

O estudo da variação linguística não apenas contribui para o desenvolvimento da competência discursiva dos estudantes, mas também para a conscientização da legitimidade das diversas variedades linguísticas. Isso é essencial não apenas do ponto de vista educacional, mas também histórico, social e humano, pois reconhece e valoriza as contribuições de diferentes grupos sociais para a evolução contínua da linguagem e da sociedade como um todo. Assim, compreende-se que o estudo dessas variedades linguísticas não é meramente acadêmico, mas uma prática crucial para promover uma sociedade mais justa e inclusiva.

Portanto, o estudo da variação linguística representa uma contribuição significativa para o desenvolvimento da competência discursiva e a consciência da legitimidade das variedades linguísticas. Compreende-se, através deste estudo, a importância histórica, social e humana dessas variedades para a evolução da própria sociedade.

 

Referências

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