Reflexões sobre a soletração datilológica na educação de surdos e o ensino da língua de sinais e da língua portuguesa
Reflections on fingerspelling in the deaf education and the teaching of sign language and Portuguese
Reflexiones sobre la dactilología en la educación de sordos y la enseñanza de la lengua de signos y del portugués
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
cassiasofiato@usp.br
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
barbosafelipevenancio@gmail.com
Recebido em 05 de julho de 2024
Aprovado em 29 de agosto de 2024
Publicado em 20 de maio de 2025
RESUMO
No Brasil, a modalidade de educação bilíngue para surdos está assegurada pela Lei nº 14.191 de 2021 (Brasil, 2021), que garante o acesso à língua brasileira de sinais (Libras) e a língua portuguesa na modalidade escrita aos estudantes surdos. Assim sendo, o trabalho linguístico na escola bilíngue, considera, ao menos, o ensino de duas línguas de modalidades distintas, pois uma é espaço-visual e a outra é oral-auditiva. Faz parte deste contexto, o uso do alfabeto manual ou datilologia, que contribui com o trabalho de ambas as línguas e exerce, ao longo da escolarização, importante papel para a compreensão da língua portuguesa. Desta forma, este estudo objetiva refletir a respeito da soletração datilológica como um meio de favorecer a compreensão do processo de acesso às palavras da língua portuguesa e seus respectivos sinais em Libras, com o intuito de ampliar o repertório linguístico do surdo, lançando mão de habilidades metalinguísticas que mobilizam itens lexicais e a estrutura sintática das duas línguas. O estudo tem uma abordagem qualitativa e é tipo bibliográfico e documental. Além de referências teóricas da área da educação de surdos, faz parte do corpus iconografias com datilologias correspondentes ao alfabeto em língua portuguesa e livros destinados ao público ouvinte e surdo sobre o tema. Espera-se que o desenvolvimento deste estudo possa contribuir com o debate sobre o uso da datilologia na escolarização de surdos como mais uma das estratégias visando a educação bilíngue.
Palavras-chave: Educação de surdos; Soletração datilológica; Letramento.
ABSTRACT
In Brazil, the bilingual education for the deaf is guaranteed by the Law No. 14,191/2021 (Brazil, 2021), which has the compromise to give access to the Brazilian sign language (Libras) and the Portuguese language in written form for deaf students. Therefore, linguistic work in bilingual schools considers, at least, the teaching of two languages of different modalities, as one is spatial-visual and the other is oral-auditory. Part of this context is the use of the manual alphabet or fingerspelling, which contributes to the work of both languages and plays, throughout schooling, an important role in understanding the Portuguese language. In this way, this study aims to reflect on fingerspelling as a means of favoring the understanding of the process of accessing words in the Portuguese language and their respective signs in Libras, with the aim of expanding the linguistic repertoire of deaf people, using skills metalinguistics that mobilize lexical items and the syntactic structure of the two languages. The study has a qualitative approach and is bibliographic and documentary (Gil, 2002). In addition to theoretical references in the area of deaf education, the corpus includes iconography with typing corresponding to the alphabet in Portuguese and books aimed at hearing and deaf audiences on the subject. We wait that the development of this study can contribute to the debate on the use of typing in the schooling of deaf people as another strategy aimed at bilingual education.
Keywords: Deaf Education; Fingerspelling; Literacy.
RESUMEN
En Brasil, la educación bilingüe para sordos está garantizada por la Ley nº 14.191/2021 (Brasil, 2021), que tiene el compromiso de dar acceso a la lengua de signos brasileña (Libras) y a la lengua portuguesa en forma escrita para estudiantes sordos. Por tanto, el trabajo lingüístico en las escuelas bilingües considera, al menos, la enseñanza de dos lenguas de modalidades diferentes, siendo una espacial-visual y la otra oral-auditiva. Parte de este contexto es el uso del alfabeto manual o dactilología, que contribuye al trabajo de ambas lenguas y juega, a lo largo de la escolarización, un papel importante en la comprensión de la lengua portuguesa. De esta manera, este estudio pretende reflexionar sobre la dactilología como medio para favorecer la comprensión del proceso de acceso a las palabras en lengua portuguesa y sus respectivos signos en Libras, con el objetivo de ampliar el repertorio lingüístico de las personas sordas, utilizando habilidades metalingüísticas. que movilizan elementos léxicos y la estructura sintáctica de las dos lenguas. El estudio tiene un enfoque cualitativo y es bibliográfico y documental (Gil, 2002). Además de referencias teóricas en el área de educación de sordos, el corpus incluye iconografía con tipificación correspondiente al alfabeto en portugués y libros dirigidos a oyentes y sordos sobre el tema. Esperamos que el desarrollo de este estudio pueda contribuir al debate sobre el uso de la mecanografía en la escolarización de personas sordas como una estrategia más dirigida a la educación bilingüe.
Palabras clave: Educación para Sordos; Deletreo manual; Literatura.
Introdução
No Brasil, a educação de surdos tem acumulado muitas conquistas no âmbito legal e este aspecto reflete no planejamento e desenvolvimento do trabalho escolar. A escola bílingue, lócus específico para a escolarização de estudantes surdos, assumiu uma outra dimensão a partir do Decreto nº 5626 de 2005 (Brasil, 2005) e outras leis afins, considerando a singularidade deste tipo de educação que envolve, ao menos, o uso e ensino de duas línguas, consideradas línguas de instrução: a língua brasileira de sinais (Libras) e a língua portuguesa, na modalidade escrita. Ainda, a educação de surdos abarca outras especificidades, tais como, o uso de didática condizente com o público-alvo, a valorização da pedagogia visual, a garantia de professores bilíngues com formação adequada, espaço físico arquitetado para uma ampla experiência visual, entre outros.
A lei nº 14191 de 2021 (Brasil, 2021), altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394 de 1996) para dispor sobre a modalidade de educação bilíngue para surdos e, neste sentido, convoca as escolas à valorização das línguas de sinais, da cultura surda, além de “garantir aos surdos o acesso às informações e conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades surdas e não surdas.” (Brasil, 2021). Nessa esteira, o acesso a conhecimentos científicos está atrelado ao aprimoramento linguístico, um dos alvos de todo processo educacional. Assim sendo, na educação de surdos, o trabalho linguístico inicia-se a partir do ingresso do estudante surdo no espaço escolar e ocorre gradativamente, contemplando, ao menos, a língua de sinais e a língua portuguesa, usadas para o acesso ao conhecimento socialmente acumulado, caso a opção seja o bilinguismo[1].
Porém, tanto o ensino de língua de sinais quanto o de língua portuguesa, necessitam de planejamento e sistematização, além de serem ministrados por profissionais bílíngues, com fluência nas duas línguas e formação específica na área. O decreto nº 5626 de 2005 (Brasil, 2005) recomenda que o ensino de língua de sinais seja promovido por profissional surdo. Além disso, o ensino de língua portuguesa na modalidade escrita exige o uso de estratégias significativas e específicas, uma vez que o estudante surdo não acessa tal língua como um estudante ouvinte e mesmo com o reconhecimento da língua de sinais como um meio de comunicação e expressão da comunidade surda, a lei nº 10436 de 2002 prevê que “a Língua Brasileira de Sinais – Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa” (Brasil, 2002).
O trabalho línguístico com surdos teve início no Brasil no período Imperial, com a fundação do Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, em 1857, no Rio de Janeiro. Desde que tal instituição foi criada, um programa para o ensino da língua portuguesa foi delineado, ganhando diferentes contornos ao longo de todo o século XIX (Sofiato, 2018). Ressaltamos que desde o referido período havia uma preocupação com a comunicação e aprendizado da língua escrita pelos estudantes surdos e que diferentes estratégias eram sugeridas para os processos de instrução. Entre elas podemos citar a linguagem dos fatos que comportava processos de significação; o uso do desenho (linguagem pictórica) com o intuito de facilitar as explicações do professor; a presença da língua de sinais (na época não reconhecida como língua, mas usada como uma estratégia para o trabalho, pois a abordagem de trabalho com surdos era oralista[2]); a leitura labial e a articulação artificial (aprendidas pelo olhar e pelo tato); o ensino da escrita (que seguia um protocolo que levava em consideração o tamanho das letras, o uso de linhas mais curtas e espaço entre as proposições, sem espaçamento entre as palavras) e o uso da datilologia ou alfabeto manual. Este último aspecto estava ligado ao desenvolvimento da escrita como um apoio visual (Leite, 1881). O uso da datilologia adentrou o século XX nesta instituição, e em alguns momentos, principalmente nas primeiras décadas, foi utilizada como uma forma de ensinar aos surdos a língua portuguesa (Costa, 2010).
Ao longo do século XX surgiram outras instituições voltadas para a educação de surdos no Brasil e outras abordagens educacionais, tais como a comunicação total[3] e o bilinguismo. Entretanto, o uso da datilologia na educação de surdos parece ser atemporal e, ao que tudo indica, esteve presente em várias práticas pedagógicas. De acordo com Gesser (2009, p. 28), a datilologia é “um código de representação das letras alfabéticas” e tem funções na interação entre usuários de língua de sinais, tais como a soletração de nomes próprios, palavras que não possuem sinais na língua de sinais, entre outros. Mesmo com a adoção da prática do oralismo, a datilologia se fez presente como uma estratégia com a finalidade desenvolver a língua escrita, o que se tornou mais recorrente, assumidamente, com a adoção da comunicação total e isso se espraiou no ensino da língua portuguesa. Na abordagem do bilinguismo, em função da valorização e reconhecimento do ensino da língua de sinais e da língua portuguesa na modalidade escrita (no caso do Brasil), o uso da datilologia tem feito parte das práticas de letramento nas escolas contemporâneas.
Diante deste panorama, este estudo objetiva refletir a respeito da soletração datilológica como um meio de favorecer a compreensão do processo de formação de palavras e seus respectivos sinais em Libras, com o intuito de ampliar o repertório linguístico do surdo na língua portuguesa, lançando mão de habilidades metalinguísticas que mobilizam itens lexicais e a estrutura sintática das duas línguas. O estudo tem uma abordagem qualitativa e é do tipo bibliográfico e documental. Gil (2002) considera que:
O desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos passos da pesquisa bibliográfica. Apenas cabe considerar que, enquanto na pesquisa bibliográfica as fontes são constituídas sobretudo por material impresso localizado nas bibliotecas, na pesquisa documental, as fontes são muito mais diversificadas e dispersas (Gil, 2002, p. 46).
As fontes utilizadas neste estudo são livros e iconografias que trazem a datilologia ou alfabeto manual e que ganharam visibilidade na educação de surdos, considerando alguns marcos históricos na idade média, moderna e contemporânea destinadas ao público ouvinte e surdo.
Datilologia: primeiras representações
O uso da datilologia na educação de surdos é antigo e pode estar relacionado ao trabalho de vários religiosos, uma vez que este tipo de educação, inicialmente, constituiu-se dentro do contexto religioso. Reily (2007) elucida alguns fatos históricos que envolvem o papel da igreja monástica na invenção do alfabeto manual e diferentes usos dos sinais monásticos em função do voto do silêncio, seguido por algumas ordens, e da língua de sinais usada pelas pessoas surdas.
Podemos encontrar a representação de letras do alfabeto manual em obras da idade média, tais como a produzida pelo frei franciscano Melchior de Yebra (1526- 1586), denominada Refugium Infirmorum[4], que segundo Reily (2007), foi publicada postumamente, em Madri, em 1593. A obra é formada por seis páginas de ilustrações de configurações manuais, muitas parecidas com as grafias das letras e tentava colaborar com as necessidades de comunicação e confissão de pacientes enfermos e moribundos, seguindo a tradição de religiosos dos países do sul da Europa. De acordo com Reily (2007, p. 316), “o livro era ilustrado com as posições do alfabeto manual, seguindo o alfabeto de São Boaventura, contendo uma coleção de aforismos para orientar a conduta cristã, cada qual iniciado por uma letra do alfabeto”. À princípio, não seria um alfabeto manual para pessoas surdas, mas o contato entre religiosos ocorria e as iniciativas de Pedro Ponce de Léon, considerado um precursor na educação de surdos nobres a partir do século XVI, já evidenciavam o uso de um “alfabeto manual”, supostamente o alfabeto desenvolvido por Melchior Yebra. Reily (2007), afirma que mesmo sendo de ordens distintas, alguns pesquisadores suspeitam que Ponce de León e Melchior Yebra tiveram a ocasião de encontrar-se, pois ambos circulavam entre a nobreza espanhola e os alfabetos manuais manuscritos também. Alguns pesquisadores tais como Oviedo (2007) e Ricao (2013) também questionam a origem dos alfabetos manuais e as suas respectivas autorias.
Figura 2. Letra C
Fonte: Refugium infirmorum (1593)
Em relação à obra Refugium Infirmorum, outro fato também chama a atenção. Em 1620, foi publicada outra obra denominada Reduccción de las letras y arte de ensenâr a hablar los mudos, por Juan Pablo Bonet. Alguns autores tais como Reily (2007), Rée (2000), entre outros, suspeitam que Juan Pablo Bonet tenha plagiado a obra de Melchior Yebra, pois há muitas semelhanças entre as ilustrações que compõem ambas as obras e não há menção da fonte por parte de Bonet. Ocorre que a obra de Bonet ganhou muita notoriedade na história da educação de surdos, por sistematizar um sistema pedagógico empregado para a reeducação de pessoas surdas, além de trazer o alfabeto manual que foi seguido por vários países.
Ricao (2013, n.p.) reforça a hipótese de plágio no trabalho de Juan Pablo Bonet e afirma que os alfabetos manuais conhecidos até hoje são sete, “cronológicamente, Yebra (1585), Pablo Bonet (1620), Bouttats (1683), García Hidalgo (1693), Hervás y Panduro (1795), Goya (1812), y Marti (1815)”, excetuando-se outros ainda em estudo. É provável que os alfabetos contemporâneos derivem dos mencionados anteriormente. Ao que tudo indica, o uso dos alfabetos manuais era recorrente na educação de surdos, mesmo com a opção pelo ensino da língua oral, servindo como um apoio para o ensino da língua escrita.
O abade francês Charles Michel de l’Épée, destacado na educação de surdos por ter fundado um espaço público para este tipo de educação, em 1760, e por tornar público seu método de ensino, de acordo com Reily (2007), provavelmente teve contato com o alfabeto manual espanhol em 1764. Segundo a autora, o próprio abade declarou que adquiriu o livro produzido em água forte, intitulado Arte para ensenãr a hablar a los mudos. Em contato com o material, percebeu que as configurações unimanuais eram mais eficientes do que as bimanuais e acabou abandonando-as. Defensor da língua de sinais afimava que “ a única maneira de chegar ao espírito dos surdos era pela via dos mesmos sinais pelos quais a natureza os inspira” (Reily, 2007, p. 323).
Figura 2. Finger Alphabet
Fonte: Bonet (1620)
No contexto brasileiro, no Compêndio para o ensino dos Surdos-Mudos, livro traduzido e publicado em 1881, pelo diretor do Imperial Instituto dos Surdos-Mudos Tobias Rabello Leite, havia uma menção ao alfabeto manual no capítulo dois. Este livro foi um dos materiais elaborados pelo referido diretor, com o intuito de subsidiar as ações pedagógicas nesta instituição que foi a primeira destinada ao público surdo. É interessante destacar que, à época, a abordagem escolhida para o desenvolvimento do trabalho com alunos surdos era o oralismo[5], mas mesmo assim, o uso da datilologia não foi suprimido da obra derivada do trabalho do professor francês J.J. Valadde Gabel.
No capítulo mencionado, intitulado: Dos differentes meios em uso para ser comprehendido pelo surdo-mudo, a datilologia era apresentada como uma “pronunciação manual das palavras de uma língua”, uma escrita volante”, que representa as letras do alfabeto. No caso da Língua Portuguesa, à época eram 26 letras e 26 configurações de mãos que as representam. Neste período, Leite (1881), reconhecia que este alfabeto era para ser utilizado com alunos surdos instruídos, além da palavra artificial (palavra aprendida pela visão e pelo tato) e da escrita. Segundo consta no Compêndio para o ensino dos Surdos-Mudos, “o surdo-mudo que estuda suas lições pela dactylologia, grava as palavras na memoria muito mais facilmente do que se estudasse por transcripções repetidas. [...] o alphabeto manual offerece o meio de formar palavras que desapparecem á proporção que são formadas; é pois conveniente fazer delle o uso frequente” (Leite, 1881, p. 27,25).
Figura 3. Dactilologia: Alphabeto Manual dos Surdos-Mudos
Fonte: MELLO (1881)
Na obra em pauta, havia algumas questões orientadoras para os professores de surdos, a saber:
É pela dactylologia que convem começar a instrucção do surdo-mudo? R. (resposta) Não há grande inconveniente em ensinar logo no começo a dactylologia, quando se tem um alumno humilde, dócil e intelligente. P. (pergunta) E quando o alumno não tem estas qualidades? R. (resposta) É melhor começar por faze-lo comprehender um certo numero de palavras. P. (pergunta) Por que? R. (resposta) Porque as lições que têm por objetivo o ensino da língua, interessão e divertem o alumno, entretanto, que a formação de letras com os dedos nada diz à sua inteligência (Leite, 1881, p. 27-28).
Essa diferenciação do uso da datilologia era prescrita a depender do perfil do aluno surdo, mas percebe-se que o seu uso era recomendado como um apoio para o processo de aquisição da língua escrita, com a preferência em relação ao alfabeto manual espanhol, embora, ao que tudo indica, o alfabeto utilizado era o de origem francesa. Fazemos essa afirmação com base na obra publicada por Flausino José da Gama em 1875, a Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos. Segundo Sofiato (2011), tal obra reunia 382 sinais, produzidos por meio de gravuras, a partir do livro do surdo francês Pierre Pélissier. Foi o primeiro material publicado no Brasil que tinha como objetivo: “vulgarizar a linguagem dos signaes, meio predilecto dos surdos-mudos para a manifestação de seus pensamentos e mostrar o quanto deve ser apreciado um surdo-mudo educado” (Gama, 1875). Além dos sinais, a obra também trazia um alfabeto manual em sua introdução.
Figura 4. Dactylologia dos Surdos-Mudos
Fonte: Gama (1875)
A referida obra foi a única produzida no século XIX no Brasil. Outras com o intuito de ensinar a língua de sinais foram produzidas ao longo do século XX e isso continua sendo uma tendência na contemporaneidade (Sofiato, 2005). Observa-se a inserção da datilologia na introdução das obras, fazendo parte das primeiras aquisições nos estudos de língua de sinais e para dar subsídios ao aprendiz no que diz respeito ao uso deste tipo de código de representação. Contudo, conforme aponta Gesser (2009, p. 30), “soletrar não é um meio com um fim em si mesmo”, ou seja, a maioria das palavras possuem sinais e não necessitam do recurso da soletração. O alfabeto manual brasileiro conta com 27 formatos, cada um corresponde a uma letra do alfabeto em língua portuguesa e mais o cê-cedilha. A autora ainda destaca que a soletração implica letramento, tanto do ponto de vista de quem lê (forma receptiva), quanto de quem realiza (forma produtiva).
Com este histórico, é possível observar que a soletração manual consiste em um recurso utilizado quando a língua de sinais e a língua oral estão em contato. As publicações de alfabetos manuais usados em diversas línguas de sinais e as pesquisas linguísticas que se propõem a estudar as relações entre as línguas de sinais a partir de seus alfabetos manuais (Power; Grimm; List, 2020) se debruçam sobre grupos em que a escrita exerce influência fundamental, o que pode não se aplicar a comunidades surdas isoladas ou línguas de sinais indígenas.
Entretanto, nas comunidades potencialmente bilíngues-bimodais, o esforço para a eficácia comunicacional acaba por mobilizar componentes linguísticos e semióticos das línguas em questão (Lee e Kristen, 2022), fazendo com que a soletração manual venha a emergir como importante recurso translinguístico.
O uso da datilologia na educação de surdos na contemporaneidade
As contribuições dos estudos sobre o ensino de línguas tem progredido para discussões que observam as dinâmicas linguísticas e cognitivas das interações entre duas ou mais línguas. A translinguagem, vista como uma prática pedagógica, tem sido presente na educação bilíngue de surdos. Professores e alunos entram em uma dinâmica de engajamento com usos diferentes das línguas que dominam para que se estabeleça uma comunicação eficaz e promovam o aprendizado do aluno, assim como suas identidades, para além do conhecimento linguístico em si (Garcia, 2009; Musyoka, 2023). Destacamos que as diferentes modalidades que estão à mesa para esta população também exercem influência sobre as escolhas no processo comunicacional. A visualidade, paradigma sensorial da comunidade surda (Luz, 2013), ganha destaque nos processos de ensinar e aprender as línguas.
Estudantes surdos, independentemente da escola em que estudam, são submetidos ao ensino da língua portuguesa, a depender do contexto, na modalidade escrita, oral ou ambas. Pesquisas sobre o processo de aquisição de língua portuguesa são abundantes na área da educação de surdos (Gesueli e Moura, 2006; Formagio e Lacerda, 2016; Fuini, Spinelli e Kumada, 2015; Figueiredo e Guarinello, 2013); e algumas enfatizam a necessidade de uma aprendizagem significativa, efetiva, permeada pelo uso de imagens, apoiada em diferentes gêneros textuais e valorizando a intertextualidade (Paixão e Sofiato, 2016).
Nesta perspectiva, uma série de recursos são mobilizados para o processo de letramento visual, ou seja:
O letramento visual, o alfabetismo ou a alfabetização visual significa sistematização e, até mesmo, empoderamento de sujeitos que se apropriam das habilidades e técnicas de leitura de imagens, criando deste modo um corpo comum, um universal de significações e um refinamento de leitura próprio dos mais cultos, letrados (Taveira; Rosado, 2016).
O letramento visual impele ao uso de estratégias visuais e materiais de apoio permanentes para constantes consultas no contexto escolar. A rigor, uma sala de aula para estudantes surdos contempla uma disposição diferenciada do mobiliário escolar de forma que a experiência visual seja valorizada, além do uso de recursos tecnológicos, materiais confeccionados pelos próprios professores, tais como etiquetas com os nomes de objetos presentes em sala de aula, calendário, rotina da semana, fotos dos estudantes da sala, entre outros, com o uso da língua de sinais. Além disso, Taveira e Rosado referem (2016, p. 183) “observar, classificar, organizar (catalogar) os produtos da prática pedagógica dos surdos (artefatos) que combinam com o uso da visualidade é um imperativo na atualidade”. Materiais produzidos pelos próprios estudantes também se somam aos esforços de promover o letramento visual, em maior ou menor escala.
Figura 5. Sala de aula de estudantes surdos
Fonte: Taveira e Rosado (2016)
Outro elemento visual que comumente faz parte do cenário pedagógico é o alfabeto manual (podemos vislumbrar na figura 5). Na figura mencionada, tal código de representação aparece como um material de apoio e, ao mesmo tempo, compondo o deaf space[6]. O uso do alfabeto manual como um apoio para as práticas de ensino da língua portuguesa ainda é recorrente e, como vimos anteriormente, historicamente foi se consolidando como uma “estratégia”, “recurso”, “apoio”, para a compreensão do sistema de escrita e composição de palavras em diferentes países. Podemos vislumbrar esse uso na pesquisa feita por Fernandes e Romeiro (2016, p. 182), que adotou o alfabeto manual num contexto de sala de aula de ouvintes e que obteve resultados significativos no aprendizado do alfabeto da língua portuguesa. A professora entrevistada pelas pesquisadoras afirmou “a datilologia auxiliou como recurso metodológico no ensino sendo uma ótima metodologia, continuarei a utilizar nos demais anos, é simples, fácil, e está na mão do professor a qualquer instante. Estimulou as crianças como uma atividade lúdica e prazerosa”. Diante da experiência compartilhada, destacamos que o uso do alfabeto manual não se restringe ao público surdo e seu uso alargado possibilita avanços no processo de alfabetização e letramento também em contextos de ouvintes.
No contexto da educação de surdos, o uso do alfabeto manual em sala de aula pode propiciar uma melhor compreensão dos processos de formação de palavras em língua portuguesa e, consequentemente, o conhecimento das letras, sua categorização gráfica e funcional na língua em questão. Este aspecto pode contribuir com o processo de produção da escrita:
Apesar de variarem graficamente, as letras – como unidades básicas abstratas do alfabeto – têm valores funcionais fixados pela história das letras, pelo processo de adaptação a uma determinada língua e, principalmente, pela ortografia das palavras. Portanto, não se pode escrever qualquer letra em qualquer posição numa palavra. Se as letras não tiverem esses valores, poderíamos, por exemplo, escrever CASA com as letras APXP (onde A=C, P=A; X=S), ou mesmo MRIT, desde que houvesse uma convenção que permitisse isso. [...] A alfabetização depende crucialmente do conhecimento da categorização gráfica e funcional (Cagliari, 1998, p. 122).
Ademais, o exercício de soletração das letras que formam uma determinada palavra, pode auxiliar no aprendizado da ortografia, pois como afirma Cagliari (1998, p. 123), a ortografia “controla a categorização gráfica e funcional” e permite a leitura por diferentes usuários. Sobre o processo de leitura de estudantes surdos, Fernandes (2006, p. 9) pondera:
No caso dos surdos, a leitura não ocorrerá recorrendo às relações letra-som (rota fonológica). Desde os primeiros contatos com a escrita, as palavras serão processadas mentalmente como um todo, sendo reconhecidas em sua forma ortográfica (denominada rota lexical), serão “fotografadas” e memorizadas no dicionário mental se a elas corresponder alguma significação. Se não houver sentido, da mesma forma não houve leitura.
Em função disso, considera-se importante o trabalho com a ortografia e o alfabeto manual pode potencializar este aspecto, pois os surdos tendem a soletrar as palavras usando o alfabeto manual no “ar” e, somente depois, passam o que foi produzido para o papel. Fernandes (2006, p. 10) considera que a “atividade de leitura se dá em contextos lingüísticos mais amplos, em que as palavras são combinadas para a formação de enunciados”. Nesse sentido, a aprendizagem da língua portuguesa escrita por parte dos estudantes surdos requer a adoção de estratégias específicas pelos professores, considerando-se a importância da pedagogia visual e também do texto como o eixo central do processo, pois a língua portuguesa é para o estudante surdo o que ele pode ver na leitura.
Corroboramos a perspectiva de Soares (2020) em relação ao processo de aprendizagem da língua escrita que, segundo a autora, envolve três camadas, a saber: os contextos culturais e sociais de uso da escrita, os usos da escrita e aprendizagem do sistema de escrita alfabética. No caso da educação de surdos, a consideração destas três camadas é fundamental para que o processo faça sentido para os surdos e que também se torne valorizado e prazeroso, tendo em vista os percalços históricos relacionados ao ensino da língua portuguesa com base no oralismo, por vezes, permeado por práticas descontextualizadas, que nem sempre conseguiram atingir os seus objetivos, considerando os diferentes perfis de aprendizagem de tais educandos.
Assim como em outras épocas, na contemporaneidade também encontramos algumas obras específicas que enfatizam o alfabeto manual com o intuito de colaborar com o processo de aquisição da língua escrita por estudantes surdos. Neste estudo listaremos duas que são mais conhecidas no campo da educação de surdos. Uma delas intitula-se Meus Primeiros Sinais, do autor Paulo Favalli. A outra é denominada ABC em Libras, das autoras Benedicta A. Costa dos Reis e Sueli Ramalho Segala.
Figura 6. Capas das obras
Fonte: Favalli (2000) e Reis e Segala (2009)
As obras em questão, destacam primeiramente o alfabeto manual usado no Brasil, mas os livros não se resumem a isso. Fazem também a apresentação de cada letra do alfabeto da língua portuguesa destacando uma palavra começada com cada letra. Por exemplo, A (amigo), no caso dos Meus primeiros sinais e A (avião), no livro ABC em Libras. Ademais, demonstram a palavra soletrada em língua portuguesa usando o alfabeto manual. Evidenciam-se também diferentes tipos de letras: a de imprensa e a letra cursiva, maiúsculas e minúsculas. Trazem alguns exercícios relacionados ao alfabeto manual. As obras também exibem os sinais em Libras correspondentes às palavras em destaque (sinal de amigo e sinal de avião), conforme as imagens a seguir, respectivamente, Meus primeiros sinais e ABC em Libras:
Figura 6. Letra A
Fonte: Favalli (2000); Reis e Segala (2009)
Ao que parece, as obras anteriores são destinadas ao público infantil, em processo de alfabetização. Não faz parte deste estudo analisar o tipo de escolha em relação a um determinado método para alfabetização, mas pontuar a semelhança de tais materiais com alguns usados com o público ouvinte, tais como as cartilhas. Cagliari (1998) comenta que adota-se esse tipo de livro didático até hoje e que houve algumas modificações ao longo do tempo em relação a este tipo de material. De acordo com o autor:
[...] a cartilha antigamente era apenas um abecedário, depois tornou-se uma tabela de letras, que representava as escritas dos padrões silábicos da fala, reestruturando-se em seguida em palavras-chave e sílabas geradoras, deixando assim de ser apenas um livro para ensinar a ler e tornando-se um livro para fazer exercícios de escrita. Então começou a apresentar textos com palavras já estudadas pelos alunos, numa ordem crescente de dificuldades, e foram incorporando exercícios gramaticais e estruturais para o aluno desmontar e montar palavras (Cagliari, 1998, p.80).
Não se pode afirmar que as obras em questão são cartilhas, mas a forma de organização de ambas nos remete à alguns aspectos encontrados em tais materiais, acrescidos do alfabeto manual usado pelos surdos. De qualquer forma, são livros instrucionais, pois o seu conteúdo está voltado para, minimamente, ensinar as letras do alfabeto, o alfabeto manual utilizado pelos surdos no Brasil, palavras em língua portuguesa e alguns sinais da Libras. A obra Meus primeitos sinais é mais antiga e em sua introdução utiliza alguns termos não mais utilizados na área da educação de surdos. A qualidade do material em termos gráfico-visuais é interessante, além de expressar a diversidade étnico-racial. Importa salientar que o objetivo da elaboração da obra, segundo o autor é “ o livro Meus primeiros sinais nasceu para integrar essas pessoas tão especiais ao convívio social, profissional e familiar. É o primeiro livro lançado no Brasil para a introdução dos sinais na vida da criança surda” (Favalli, 2000, p. 3). A obra ABC em Libras é mais recente que a anterior e, segundo as autoras, o “objetivo é que os surdos e ouvintes caminhem juntos, utilizando as mãos para o mesmo fim: a comunicação” (Reis; Segala, 2009, p. 3). Assim como a anterior, a obra apresenta um cuidado no que se refere à relação gráfico-visual, optando pelo uso de muitas cores, de forma a atrair o público infantil. Como ambas foram produzidas pela mesma editora, hibridizam o alfabeto da língua portuguesa e o alfabeto manual e acredita-se que pessoas ouvintes também podem ser contempladas e aprender o códido de representação utilizado pelos surdos.
Porém, destacamos que na atualidade existem muitas obras destinadas ao público surdo que enfatizam a língua de sinais e não o alfabeto manual. Sutton-Spence (2021, p. 96) considera que “as narrativas de Libras são especialmente valorizadas pela criação de imagens altamente visuais” e, neste sentido, deve-se evitar o uso da soletração, pois a sequência das letras soletradas não cria uma imagem do referente, “uma vez que as regras da estrutura da palavra são muito diferentes dos sinais não soletrados”. Na contemporaneidade, a literatura surda, ou seja, um tipo de produção literária que “mostra as experiências das vidas dos surdos” (Sutton-Spence, 2021, p. 26), é valorizada pela comunidade surda e faz parte do trabalho educacional nas escolas bilíngues para surdos, pois abarca as experiências visuais dos surdos e o uso da língua de sinais.
Embora a soletração manual seja abordada de forma mais proeminente na translinguagem, o estudo dos processos de interiorização desse recurso na língua de sinais tem sido alvo de estudos pela linguística teórica e aplicada. Ensinar a língua de sinais como primeira língua acaba por empreender fenômenos metalinguísticos e metacognitivos de forma recorrente (Barbosa, 2022), extrapolando o ensino focado no uso e incluindo aspectos gramaticais da língua de sinais (São Paulo, 2018-SME).
A influência da soletração manual pode ser observada, por exemplo, na formação de sinais da Libras. O contato entre as línguas e a translinguagem usada na comunicação provocam o uso de empréstimos linguísticos com base na língua oral, que acabam sendo incorporados ao léxico da língua de sinais, absorvendo regras fonológicas da língua de sinais. O sinal NUNCA da Libras tem seu início na soletração manual da palavra do português. Com o uso deste sinal nas interações entre usuários de Libras, a soletração exata da palavra acaba perdendo sua parte final com a permanência das três letras iniciais NUN com um movimento mais rápido e, em algumas variantes, com a perda do movimento de dobramento de pulso. No processo de ensino de Libras como primeira língua, a mobilização da consciência metalinguística para o ensino das regras da língua podem mobilizar conhecimentos deste tipo. Os atuais currículos de Libras como primeira língua, entretanto, têm explorado pouco este tipo de conhecimento linguístico.
Considerações finais
A incursão na história da educação de surdos evidenciou alguns indícios relacionados à criação da datilologia e seus usos em práticas pedagógicas preconizadas pelos precursores neste tipo de educação. Destaques às primeiras obras que continham a datilologia também fizeram parte do universo do nosso estudo, que buscou refletir a respeito da soletração datilológica como um meio de compreensão do processo de formação de palavras, com o intuito de ampliar o repertório linguístico do surdo, principalmente na língua portuguesa. Pudemos contemplar que o uso da datilologia mostrou-se atemporal e ainda é valorizado no cotidiano escolar e em outras situações que envolvem os surdos e a necessidade de comunicação, tendo as práticas voltadas à translinguagem como um dos principais recursos para o desenvolvimento educacional do estudante surdo.
Constatamos que a datilologia, independentemente da abordagem escolhida para a educação de surdos, pode ser utilizada como uma estratégia pedagógica para o conhecimento do alfabeto da língua portuguesa, para o processo de formação de palavras em língua portuguesa, considerando-se as especificidades desta língua. Ademais, a literatura destaca o seu uso como um recurso mnemônico, uma vez que existe uma categorização funcional e gráfica estabelecida pelo sistema de escrita para a formação de palavras que deve ser respeitada para que a língua se torne universal.
A datilologia, assim como outrora, na contemporaneidade é abordada na literatura, porém hoje assume a centralidade como tema em obras didáticas e paradidáticas. Intenta-se, dessa forma, colaborar com a divulgação deste código de representação e favorecer a comunicação entre surdos e ouvintes na sociedade. Contudo, é importante lembrar que tal código tem finalidades específicas, conforme apontado neste estudo, e que a língua de sinais é a língua da comunidade surda que permite a comunicação efetiva entre usuários desde que tenham conhecimento e fluência.
Estudos sobre o uso da datilologia na educação de surdos precisam ser potencializados e, a depender do tipo de escola (inclusiva, bílingue ou polo-bílingue), permite vários tipos de abordagem e até mesmo relações com a língua de sinais, uma vez que alguns sinais da Libras são produzidos com as configurações de mãos presentes no referido código. Por derradeiro, faz-se necessário destacar a importância do resgate histórico no campo da educação de surdos e seu aprimoramento constante, algo que assumimos neste estudo, pois vislumbramos que ainda existem questões seculares a serem melhor compreendidas e que dialogam com o trabalho desenvolvido no presente século nos mais variados contextos e espaços geográficos.
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Notas
[1] Bilinguismo é uma abordagem educacional que defende a aquisição da língua de sinais como primeira língua e a língua portuguesa como segunda língua a educação de surdos (Quadros, 2005).
[2] Baseada no ensino da linguagem oral.
[3] A Comunicação total é considerada uma filosofia de acordo com Ciccone (1990). Voltada para a educação de surdos, preconizava a liberdade de escolha de qualquer estratégia que permitisse o resgate da comunicação do surdo (Barbosa, Sofiato, Capovilla, 2022).
[4] Tradução: Consolo para os enfermos (Reily, 2007).
[5] Oralismo é uma abordagem educacional da educação de surdos que se baseia no ensino da língua oral, sem a presença da língua de sinais (Sá, 1999).
[6] Deaf space, segundo Barbosa; Sofiato e Capovilla (2022), é um conceito oriundo da Universidade de Gallaudet que sugere um melhor aproveitamento dos espaços com o intuito de favorecer a experiência visual para o público surdo.