Apresentação do dossiê temático: “Educação, Feminismos de Terreiros e Histórias Entrelaçadas em Améfrica”
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
carlameinerz@gmail.com
Rosinalda Côrrea da Silva Simoni
Universidade Federal do Tocantins, Palmas, TO, Brasil
rosinegra@gmail.com
Universidad Santo Tomás, Bogotá, DC, Colômbia
maricelmena@usantotomas.edu.co
Recebido em 11 de abril de 2024
Aprovado em 21 de abril de 2024
Publicado em 17 de outubro de 2024
As acontecências
Nem sempre acontecem
Acontecem como aconteciam
Em meandros da vida
As acontecências
Nem sempre acontecem
Na gente
(As acontescências por Beatriz Nascimento, 2015, p. 52).
Fazer acontecer esta reunião de textos, num contexto de aumento das desigualdades sociais e raciais, agravadas por desastres sanitários, ambientais e conflitos armados desencadeados pela ação da espécie humana, é considerar os meandros da vida, as acontescências que nem sempre acontecem na gente, porém nos tocam e nos impulsionam a pensar e agir em busca do bem viver. É como se ouvíssemos as mais velhas dizendo: eu sou dessas e faço assim, faço tudo que é possível pelos meus, nas terras que pisamos e que fazemos germinar, para nós e para os demais nos arredores. Não se trata apenas de inscrever um conjunto de produções sábias e potentes ou inserir um acúmulo científico em um periódico qualificado na área da Educação, mas de desestabilizar e fazer borrar trajetórias capazes de canonizar produções historiográficas e teorizações pedagógicas eurobrancas, reverberando aqui o argumento construído no texto de Fernanda Oliveira da Silva, melhor apresentado a seguir.
Reunir e fazer entrelaçar corporeidades expressas em dinâmicas de escritas distintas é desafio especial quando os deslocamentos do pensar se forjam por mãos de mulheres pretas em Améfrica (Gonzalez, 1998), entrelaçadas em ancestralidades afrodiaspóricas. Manter a particularidade que as une e garantir a singularidade que as diferencia, fazendo eco e acontescência, é o que nos desafia na apresentação que temos por dever realizar como convite prévio e apreciação posterior dos saberes interseccionais (Gomes, 2017) aqui registrados. Por saberes interseccionais, compreendemos aqueles construídos de forma particular por mulheres negras organizadas em distintos tempos e espaços, capazes de criar estratégias de combate ao racismo. São saberes emancipatórios, passados entre gerações que se movimentam em cuidados mútuos, especialmente agregadas pelas mãos das mulheres mais velhas, potentes e sábias nas artes do bem viver.
Como conduzir essa particularidade que une senão pela escolha em compartilhar pesquisas profundas acerca da Educação na perspectiva dos Feminismos de Terreiros?
Conforme formulação cunhada originalmente por Rosinalda Corrêa da Silva Simoni (2019; 2020; 2021; 2023), compartilhada em coautorias, os “feminismos de terreiros” são fenômenos que emergem dos discursos e histórias de vida de mulheres que impulsionaram e impulsionam outras mulheres negras a serem protagonistas de suas próprias histórias. É assim que surgem as mães de santo da Bahia, como a Iyalorixà Obà Biyi[i] (Mó juba Yà, Ẹ̀mí yín ngbe nínú mí), Eugênia Ana dos Santos, fundadora do Ilè Opô Afonjá, conhecida por sua força, poder de articulação política e social. Tal realidade também possibilitou a formulação dos afrocatolicismos[ii], nas irmandades negras[iii] do passado, nas pastorais negras, nas congadas, nas universidades e nas organizações civis e políticas do presente. O conceito de Feminismos de Terreiros é cunhado na esteira dos pensadores decoloniais e nos convida a refletir e registrar uma história outra, nascida nos pensamentos e ações insurgentes, nos entrelugares.
Nossa perspectiva é ancorada nessa definição de feminismo de terreiro, conceito que vem sendo cunhado gradativamente, no intuito de seguir transgredindo, na perfectiva de bell hooks (2013), reiterando e somando com a potência do que foi construído na qualidade de feminismo negro por Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro e tantas outras mulheres amefricanas (Gonzalez, 1988). O feminismo de terreiro nasce e se expande a partir das histórias e dos protagonismos de mulheres negras em tempos diversos e nas mais variadas condições e esferas da vida. Destaca-se nessa diversidade a perspectiva do entrelugar (Hanciau, 2005), pois o terreiro, articulado a este conceito, vem menos para demarcar espaços religiosos e mais para enfatizar que o aprendizado, as lutas, os grandes e pequenos feitos, podem ocorrer e ocorrem em qualquer lugar de elaboração de estratégias femininas negras. Estratégias de forjar a vida em condições adversas, agregar pessoas em comunidades, cuidar e curar dores, escutar e projetar sonhos, de si e das suas famílias, comunidades, nações. São estratégias que ganham força como prática cultural educativa e melhor compreensão ao considerarmos suas interseccionalidades, a partir da escrita e compreensão de Carla Akotirene (2018). São mulheres com singularidades e, por isso, com direito a diversas espiritualidades e cultos, éticas e estéticas, formas de viver e de se organizar. Elas possuem particularidades em comum e, igualmente, o direito de escolha e a pluridiversidade de saberes e fazeres. Não são iguais e são belamente diferentes.
As histórias entrelaçadas neste dossiê observam uma desigualdade profunda entre mulheres que cavam a paridade e a equidade em ações que atravessam territórios/terreiros do passado e do presente. Emicida (2021) fez ecoar sua voz negra ao afirmar que “nada é mais desigual do que tratar com igualdade os desiguais”, e sua assertiva mobiliza as memórias e narrativas aqui conduzidas. Uma particularidade dos feminismos de terreiros, agora escrito no plural, é o compromisso com a educação e a luta antirracista, implementada pelo reconhecimento das diversas estratégias forjadas por mulheres negras. Nossa perspectiva de continuidade, do que se aprende por intermédio dos Feminismos de Terreiros, tem uma dimensão de temporalidade espiralar, conforme Leda Maria Martins (2021), que se tece entre passado e presente, rompendo tradições lineares de construção de narrativas hegemônicas patriarcais e colonialistas. É uma continuidade que se faz na vida dos povos afrodiaspóricos em contato com aqueles outros, das Américas e Europa. A continuidade dos Feminismos de Terreiros somente é possível pelo movimento de pesquisas articuladas com a ancestralidade, na qualidade de força vital que, como um novelo, faz-se como meio e começo de estratégias de bem viver em coletividades.
Toda escrita se torna um novo laço no fio tecido pela diáspora africana na América e produz a experiência reverberada por Lélia Gonzalez (1988) como Améfrica, essa “categoria política-cultural” que produz uma perspectiva de entrelaçamento e cruzo de experiências indígenas e afrodiaspóricas em territórios como o Brasil, parte do que se denomina Américas.
Trata-se de escrita entrelaçada aqui, através da condução às leituras e releituras de mulheres que já estiveram e que retornam, como Eugênia Ana dos Santos, Luiza Bairros, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, bell hooks, Sueli Carneiro, Nilma Lino Gomes, Vilma Piedade, Carolina de Jesus, Conceição Evaristo, Carla Akotirene. Histórias começadas a escrever por mãos outras, recalcadas, não escritas ou não abordadas realmente (Nascimento, 2021), majoritariamente sobre a potência educativa da mulher negra na sociedade brasileira, capaz de criar estratégias de resistência às violências raciais e patriarcais cotidianas.
As escritas reunidas no dossiê temático Educação, Feminismos de Terreiros e Histórias Entrelaçadas em Améfrica desejam contribuir para a divulgação e ampliação da pesquisa acerca dos debates teórico-metodológicos sobre a história africana e afrodiaspórica, com ênfase na educação em recorte de gênero e no horizonte das agências, protagonismos e reinvenções negro-africanas no mundo contracolonial. A contracolonialidade, como afirma o ancestre Antônio Bispo dos Santos (2023), é centrada na prática e na vivência; mais do que uma teoria, é uma filosofia ancestral que une os povos indígenas e quilombolas, mais do que uma teoria, pois envolve saberes, fazeres e dizeres. Trata-se de uma forma de defender territórios tradicionais, símbolos, significações e modos de vida; vai ao encontro do conceito de amefricanidade, que propõe uma abordagem interligada do racismo, colonialismo, imperialismo e seus efeitos na vida dos negros afrodiaspóricos. Assim como Nego Bispo, Lélia Gonzalez nos convida a reescrever a nossa história a partir de epistemologias negras e femininas, não apenas para registrá-las e valorizá-las, mas como medida reparatória e possibilidade de protagonismo amefricano na qualidade de tomada para si da própria escrita.
No presente dossiê, aglutinamos estudos, de pesquisadores(as), professores(as) e autoridades das expressões negro-africanas que se dedicam a investigar, aprofundar e difundir experiências de pesquisa, de ensino e de extensão sobre a temática. Interessa-nos pesquisas que considerem e argumentem sobre as lutas e os significados da construção da liberdade, por meio de afrobiografias de pessoas escravizadas, libertas e livres “de cor”, que conquistaram e ampliaram a presença negro-africana nos diversos lugares sociais, destacando-se sua atuação em dimensão educativa e pedagógica.
São artigos/pesquisas que permitem um olhar sobre as construções identitárias, suas implicações políticas, seus conteúdos culturais em perspectiva histórica e educativa: movimento negro educador; emancipação/libertação negra; os associativismos negros; os territórios negros rurais e urbanos; os processos de racialização e os significados políticos das classificações raciais à questão africana na educação básica, além das escrevivências baseada em micro e macro-histórias, em África ou diásporas. Compreendemos a urgência deste compartilhamento pela necessidade de problematizar os currículos e as epistemologias em suas articulações com as fronteiras étnico-culturais, raciais e de gênero.
O dossiê caracteriza-se por abrigar artigos oriundos do Simpósio Internacional da Rede Latino-Americana e Caribenha de Pesquisadoras(es) sobre Feminismos de Terreiros – Histórias e Memórias Entrelaçadas, originário da Rede Latino Caribenha de Pesquisadores sobre Feminismos de Terreiros (RELFET), resultante de quase quatro anos de pesquisas coletivas e individuais realizadas pelas pesquisadoras da RELFET. Tal rede é idealizada e composta por mulheres de várias instituições do Brasil e América Latina que se dedicam a registrar e difundir o protagonismo de mulheres negras entre lugares desde o século XVIII até a atualidade. Nesses quase quatro anos de pesquisas coletivas, as pesquisadoras evidenciaram que a forma como a epistemologia articula-se com os currículos e algumas bibliografias sobre os temas deste dossiê interferem diretamente no processo educacional e de construção das identidades/diferenças socioculturais, bem como nas fronteiras étnico-culturais e da exclusão.
No dossiê, temos textos internacionais, como de João Baptista de Jovita, professor da Universidade Lusíada de Angola, que escreve sobre as diásporas africanas na perspectiva da permanência do projeto colonial e imperialista, também na precariedade da construção autônoma de políticas educacionais no continente africano. Há um entrelaçamento vigoroso de passado e presente que reivindica esperanças e desafios também das nações de Améfrica.
O texto da professora Maricel Mena López, doutora em Ciências Religiosas e docente da Facultade de Teología da Universidade Santo Tomás, traz evidências da espiritualidade negra e feminista latino-americana para analisar doença, cura e redenção nas relações sociais. A partir da experiência da pandemia causada pela doença Covid-19, a autora reverbera pautas éticas produzidas por mulheres negras para a superação dos pandemônios que relacionam saúde e religiosidade na vida das pessoas, em geral, e dos subalternizados, em específico. Faz-se coro ao fato de que a pandemia e o necessário isolamento social cavou mais profundamente o fosso das desigualdades sociais e raciais na América, especialmente expresso nos corpos de mulheres negras. Por outro lado, evidencia que são os mesmos corpos pretos femininos que forjam a cura em coletividades múltiplas marcadas pelas diversas pertenças religiosas. Mais uma vez, a estratégia comunitarista amplia a noção de autocuidado ou cura individual para a confluência com a atenção e a confluência para a família, a comunidade e a sociedade.
Na seção de textos nacionais, o artigo da doutora Fernanda Oliveira da Silva, intitulado Pensamento-ação de mulheres negras do sul do Brasil borrando os limites da história intelectual, da educação e do pós-abolição, brinda-nos com o pensamento-ação de educadoras negras no sul do Brasil, inserindo a ideia de que sua autêntica produção científica rompe limites e contribui sobremaneira para o conhecimento pluriepistêmico. Traz, pelas mãos de Luiza Bairros, a promissora ideia de que as mulheres negras possuem uma teorização e metodologia analítica particular, nomeada como Marginalidade Peculiar, e que embasa a escrita deste potente trabalho aqui publicado.
O texto Histórias Entrelaçadas de Mulheres Cerradinas é da doutora Rosinalda Corrêa da Silva Simoni, professora convidada na Universidade Tocantins, em escrita compartilhada com a doutora Thais Alves Marinho, professora da PUC Goiás e com a professora doutora Tânia Ferreira Rezende, da Universidade Federal de Goiás. A escrita potencializa a narração das trajetórias entrelaçadas de mulheres afrodiasporizadas do Cerrado goiano, como Leodegária de Jesus, Santa Dica, Maria José Alves Dias, Dona Procópia e Vó Rita, capazes de organizar-se em coletividades de luta pela emancipação das pessoas negras atravessadas pela racialização e pelo colorismo. A potência dessas trajetórias é analisada pela capacidade de tensionar as políticas de controle na relação corpo-território-espiritualidade-linguagem-conhecimento, através de sua liderança em organizações de mulheres nas irmandades, congadas, pastorais, quilombos, movimentos sociais, educação escolar, literatura, comunicação social e nos conselhos da sociedade civil. São benzedeiras, congadeiras, mulheres da pastoral, sempre capazes de entrelaçar as matrizes amefricanas com os afrocatolicismos, criando particularidades nas estratégias de romper binarismos e manter a coesão, a partir dos deslocamentos adversos e desarrumações provocadas pela violência do tráfico transatlântico.
O texto de Mariléa Almeida, Terreiros da reparação: confluências entre as epistemologias de terreiros e a abordagem feminista negra, presenteia-nos com o pretagonismo de Terezinha Fernandes Azedias, líder quilombola e zeladora de terreiro de Umbanda no estado do Rio de Janeiro. A autora refere, dentre outras coisas tendo como premissa a vida de Terezinha, os saberes transgeracionais e o que ela chama de confluências entre as abordagens dos feminismos de terreiro e a pedagogia feminista negra. O texto discorre sobre as coletividades vividas no chão do quilombo, a luta pela permanência na terra, a religiosidade vivenciada na perspectiva do afrocatolicismo e da Umbanda. Menciona, ainda, os saberes e as diversas formas de se relacionar com eles, desde a preocupação em aprender e ensinar os saberes tradicionais e, pela vivência, os saberes ancestrais, demonstrados pela autora ao falar da atuação de Terezinha em transformar o terreiro de sua casa em uma sala de aula, onde os demais aprendiam a ler e escrever; como também em um espaço onde o som do tambor era premissa para as rodas de jongo. O texto, ao abordar as diversas formas de aprender e ensinar, vale-se de outras pensadoras e pensadores que atuam e pensam na perspectiva de pedagogias dos terreiros. Tal perspectiva nos convida a pensar a sala de aula como um grande terreiro, um ‘espaço aberto’, no qual aprender e ensinar são faces da mesma moeda. Afinal, as trocas e vivências são basilares para se pensar o lugar desses saberes dentro e fora da academia. Por esses textos, é possível refletir sobre a linha ancestral que conecta os diversos saberes que compõem espaço tempo e indivíduo, num contexto representado pelo protagonismo de uma mulher quilombola e mãe de santo.
O texto de Lúcia Helena Oliveira, Educação e formação: valores e mediação de mundos na Angola colonial, convida-nos a refletir sobre os impactos da chegada dos missionários espiritanos em Angola a partir da segunda metade do século XIX. A autora discorre sobre conflitos entre educação formal (baseada nos deveres cristãos) e saberes tradicionais, base das filosofia negra-africana.
Uma expressão da coletividade teorizada aqui é a escrita compartilhada em diversos textos, ofertados neste dossiê à democrática publicidade. Mãos pretas que escrevem juntas, fazem forma e conteúdo transbordarem nos recipientes da vida acadêmica, ressoando um outro fazer possível, em rede, em coesão possível de diferenças postas em comunhão e afeto.
São formas particulares de olhar para o mundo com uma mirada feminina, africanizada pela diáspora e pelos terreiros, por vezes subterrâneas. A cosmopercepção de mulheres negras é distinguida, porém não se trata de uma mirada desde uma África idílica, como podemos compreender pelas esperanças e desafios do texto do professor angolano, João Baptista. Temos aqui a urgência e a possibilidade de reconstrução da história da educação a partir da mulher negra em Améfrica. Tal reconstrução tem base no amor e na intimidade, compreendida por Sobonfu Somé como uma canção do espírito. A intimidade, em termos gerais, é uma canção do espírito, que convida duas pessoas a compartilhar seu espírito. É uma canção que ninguém pode resistir. Acordados ou dormindo, em comunidade ou sozinhos, ouvimos a canção. Não conseguimos ignorá-la (Somé, 2007, p. 25).
Essa intimidade vislumbra o terreiro como território do afeto que permite o encontro entre múltiplas pertenças espirituais, geracionais, de raça e gênero. Reverbera-se o desejo de que todes nos encontremos bem e fazendo o bem. São quintas, hortas, salões, espaços múltiplos marcados pela coletividade e energia vital da ancestralidade que cobra a continuidade da busca do bem viver e da reparação aos crimes perpetuados e reinventados nas práticas de racismo, colonialismo, patriarcalismo e capitalismo.
Balançamos juntes, estamos aqui e não queremos ver ninguém cair sem alcançar as mãos estendidas de um ser ao seu lado. Nossas mãos agora desejam uma saborosa e comprometedora leitura, que desequilibre e busque o espelho para devolver a imagem em forma de pergunta: o que mais é possível fazer hoje na luta pela emancipação amefricana?
Referências
AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte: Letramento: Justificando, 2018.
BISPO DOS SANTOS, Antônio. A Terra Dá, a Terra Quer. São Paulo: Ubu Editora PISEAGRAMA, 2023.
GOMES, Nilma Lino. O movimento Negro Educador: Saberes construídos nas lutas por emancipação. São Paulo: Editora Vozes, 2017.
GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, n. 92/93, p. 69-82, jan./jun. 1988.
HANCIAU, Núbia J. Entre-Lugar. In: FIGUEIREDO, Eunice (Org.). Conceitos de Literatura e Cultura. Juiz de Fora: Editora UFJF; Niterói: EdUFF, 2005.
hooks, bell. Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
MARINHO, Thais; SIMONI, Rosinalda Corrêa da Silva. O matriarcado negro nos terreiros: da cosmovisão do feminino ao feminismo de terreiro. In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE GÊNERO E RELIGIÃO, 6., 2020, São Leopoldo, Centro de Estudos Bíblicos. Anais [...]. São Leopoldo: Centro de Estudos Bíblicos, 2020. p. 137-168.
MARINHO, Thais; SIMONI, Rosinalda Corrêa da Silva. Coletividades femininas negras na história de Goiás: do afro catolicismo aos feminismos de terreiros. In: SOARES, Ana Carolina Eiras Coelho; SILVA, Murilo Borges. História das mulheres, relações de gênero e sexualidade em Goiás. São Paulo: Paco Editorial, 2021a. p. 473-498.
MARINHO, Thais; SIMONI, Rosinalda Corrêa da Silva. Decolonialidade e Mulheres Negras em Goiás: do afrocatolicismo aos feminismos de terreiros. Numen - Revista de Estudos e Pesquisa da Religião, Juiz de Fora, v. 24, n. 1, jan./jun. 2021b.
MARTINS, Leda Maria. Performances do Tempo Espiralar: poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.
NASCIMENTO, Beatriz. Por uma história do homem negro. In: RATTS, Alex (Org.). Uma história feita por mãos negras. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
_____Todas (as) distâncias: poemas, aforismos e ensaios de Beatriz Nascimento. Organizado por Alex Ratts e Bethania Gomes. São Paulo: Editora Ogum’s Toques Negros, 2015.
SIMONI, Rosinalda Côrrea da Silva. Ancestralidade Feminina: da Essência do Sagrado aos Movimentos Feministas, Mulheres Negras e Representatividade. Fragmentos de Cultura, Goiânia, v. 29, p. 293-300, 2019.
SIMONI, Rosinalda Correa da Silva; SOUZA, Robson Max de O. Não é Sobre Elas, é Sobre Nós: Eugênia Anna dos Santos (OBÁ BIYÍ) e o Matriarcado ancestral negro africano. Revista Mosaico/Revista de História, Goiânia, v. 16, p. 43-56, 2023.
SOMÉ, Sobonfu. O espírito da intimidade: ensinamentos ancestrais africanos sobre relacionamentos. 2. ed. Tradução: Deborah Weinberg. São Paulo: Odysseus, 2007.
VASCONCELOS, Pedro de Almeida. Cultura, religião e escravidão na Bahia (1549 - 1888). Revista Espaço Cultural, Salvador, n. 2, p. 08-18, jun. 1996.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0)
Notas
[i] A Iyálorixá Eugênia Ana dos Santos, Obá Biyí, nascida em 13 de julho de 1869, em Salvador, na Bahia; filha de Sérgio dos Santos, Aniió, e Lucinda Maria da Conceição, Azambrió, ambos da etnia grunce. Mãe Aninha, Fundadora do Ilê Opô Afonjá, uma das casas de Candomblé mais tradicionais da Bahia, fundada em 1910. Para além do sacerdócio, Mãe Aninha era uma grande articuladora política e social e seus feitos projetaram as mulheres negras em instâncias que nem as mulheres brancas podiam galgar naquele período (Simoni; Souza, 2023).
[ii] Esse conceito permite pensar os diversos festejos religiosos populares, nascidos ou ressignificados no Brasil colônia, e que trazem em seus ritos vestígios, indumentárias, mitos e cosmologia, algum elemento das cosmopercepções da África negra, fundidos com o catolicismo lusitano, com ênfase nas Congadas, nos Congos, nas folias, em suas indumentárias, em seus capacetes, coroas e patuás, em algumas das diversas matrizes da Umbanda (Simoni, 2017 apud Marinho; Simoni, 2020).
[iii] As irmandades de Pretos, ou Irmandades Negras, eram associações leigas, religiosas e hierárquicas mantidas por fiéis e que tinham como função, além das atividades e assistência religiosas, como procissões e enterros, serem locais de reuniões e assembleias, assim como responderem “às necessidades sociais ignoradas pelo Estado” (Vasconcelos, 1996). As irmandades se tornaram, portanto, espaços de devoção e resistência, numa tentativa de restituir a liberdade perdida. Durante a festa aos oragos, os devotos revivem suas danças e sua origem com a coroação de seus reis e rainhas. Nesse período, pessoas comuns, subalternizadas pela história, passam a compor a realeza, reverenciando, mesmo que simbolicamente, os vestígios que as ligam a seus/suas ancestrais, que, ainda que escravizados/as, conseguiram transpor sua cultura para novas terras, reafirmando, assim, sua identidade étnica (Marinho; Simoni, 2021a; 2021b).