A questão dos estereótipos de beleza no livro didático de inglês: a importância das pautas feministas para o debate

The issue of beauty stereotypes in the English didactic book: the importance of feminist guideliness for the debate

La cuestión de los estereotipos de belleza en el libro didáctico de inglés: la importancia de las pautas feministas para el debate

 

Silvio Ribeiro da Silva

Universidade Federal de Jataí, Jataí, GO, Brasil

shivonda@ufj.edu.br

Paula Jeane Prado

Centro de Educação Profissional de Jataí, Jataí, GO, Brasil

paulajeanep@gmail.com

 

Recebido em 02 de maio de 2023

Aprovado em 02 de outubro de 2023

Publicado em 09 de abril de 2024

 

RESUMO

Neste artigo, analisa-se a presença da Mulher no Livro Didático de Inglês (LDI) na coleção Alive High, Ensino Médio. Averígua-se se estereótipos estabelecidos socialmente estão presentes em uma coleção de livro didático de Inglês, observando se a coleção, ao longo da coletânea de textos e atividades, problematiza estereótipos de beleza. Para a realização do estudo, utilizou-se a abordagem quantitativo-qualitativo-interpretativista e a análise de conteúdo. Os resultados indicam que o índice de ocorrências de atividades que abrangem o objetivo estabelecido é muito pequeno, silenciando, dessa maneira, pautas feministas tão importantes para toda a sociedade, em especial as que dizem respeito a problematizar estereótipos de beleza. Com isso, nota-se que a coleção pouco contribui no que diz respeito a apresentar a Mulher como protagonista, emancipada, silenciando as diferenças políticas e sociais entre Mulheres e homens, assim como as lutas das Mulheres por direitos. Entende-se que a abordagem do LDI em relação ao objetivo central do estudo impede que, através dele, as(os) alunas(os) possam se beneficiar com discussões acerca da sociedade patriarcal vigente, considerando questões como machismo, violência contra a Mulher e desigualdade entre os sexos, além de refletir sobre suas experiências e vivências, de modo que a sociedade possa ser mais justa e menos machista.

Palavras-chave: Livro didático de Inglês; Mulher; Feminismo.

 

ABSTRACT

In this article, it is analyzed the presence of Woman in English Textbook (ET) in the collection Alive High, Ensino Medio. It is examined if stereotypes established socially are in an English Textbook collection, noting if the collection, through the collection of texts and activities, problematizes beauty stereotypes. For the achievement of the study, it was used the quantitative-qualitative-interpretative approach and the content analysis. The results indicate that the rate of occurrences of activities that cover the established goal is very small, silencing, in this way, important feminist staves to all society, specially the ones that are concerning to problematize beauty stereotypes. With that, it is noticed that the collection does little with regard to show the Woman as protagonist, emancipated, silencing the political and social differences among Women and men, as the Women’s struggle for rights. It is understood that the ET approach with regard to the main goal of the study undermines that, through it, the students can benefit with discussions about the current patriarchal society, considering issues as sexism, violence against Woman and sex inequality, besides reflecting about their experiences and perceptions, in a way that society can be fairer and less sexist.

Keywords: English Textbook; Woman; Feminism.

 

RESUMEN

En este artículo, se analiza la presencia de la Mujer en el Libro Didáctico de Inglés (LDI) en la colección Alive High, de la Enseñanza Secundaria. Se investiga si existen presentes estereotipos establecidos socialmente en una colección de libros didácticos de Inglés, estudiándo se la colección, alo largo del repertorio de sus textos yactividades, problematiza estereotipos de belleza. Para la realización del estudio, se ha utilizado el abordaje cuali-cuantitativo e interpretativo, así como el análisis de contenido. Los resultados indican que la tasa de ocurrencias de actividades que comprenden el objetivo establecido es muy pequeña, silenciando, de esta forma, pautas feministas que son importantes para toda la sociedad en su conjunto, en especial las que se refieren a problematizar estereotipos de belleza. A partir de esto, es posible notar que la colección poco contribuye en lo que se refierea presentar la Mujer como protagonista, emancipada, silenciando las diferencias políticas y sociales entre mujeres y hombres, así como las luchas de las Mujeres por SUS derechos. Se entiende que elabordaje del LDI enrelación al objetivo central del estudio impide que, a través de él, las (los) Estudiantes puedan beneficiar se com discusiones sobre la sociedad patriarcal vigente, considerando temas como el machismo, violencia contra la Mujer y la desigualdad entre los sexos, además de reflexionar sobre sus experiencias, de modo que la sociedad pueda ser más justa y menos machista.

Palabras clave: Libro didáctico de Inglés; Mujer; Feminismo.

 

Introdução e discussões teóricas pertinentes

Decidimos investigar e pesquisar a presença da Mulher[i] nos livros didáticos (LD) devido ao interesse em explorar como esses materiais podem ser usados como uma ferramenta de diálogo dentro da comunidade escolar. Defendemos que os LD têm o potencial de problematizar questões importantes, como o machismo, a desigualdade entre os sexos, além de esclarecer que o feminismo busca a emancipação feminina.

Esclarecemos que o termo feminismo deriva da palavra feminino, usando o sufixo -ismo, que também é utilizado na palavra homossexualismo. Na palavra homossexualismo, o sufixo -ismo atribui um significado de patologia. Apenas em 1990, a Assembleia Mundial de Saúde, órgão máximo decisório da Organização Mundial de Saúde, acordou que “a orientação heterossexual, bissexual e homossexual por si mesma não deve ser vista como um transtorno” (Quinet, 2013, p. 43). Embora a palavra feminismo utilize o sufixo -ismo, atribuindo ao termo homossexual,a palavra primitiva, um sentido patológico, o mesmo não ocorre com feminismo, já que não houve nenhuma problematização associada ao termo com qualquer patologia, como já houve outrora associado ao termo homossexualismo, que foi substituído por homossexualidade.

Ao longo da história, as Mulheres foram frequentemente invisibilizadas ou restritas ao ambiente doméstico na sociedade. Consideramos urgente e necessário representar a Mulher como protagonista de sua própria história, com suas lutas, conquistas e destacar a opressão imposta pelo gênero em uma sociedade patriarcal, em todos os meios possíveis. Concordamos com a afirmação da escritora, artista e educadora Katherine Murray Millet (2000, p. 29), de que o sexo é biológico, mas o gênero é uma construção social. Com base em uma visão fundamentada no feminismo como movimento social, esta pesquisa investigou se as atividades propostas pelo LD Alive High para o Ensino Médio, publicada pelas Edições SM, adotada pela maioria das escolas públicas na cidade de Jataí, sudoeste do estado de Goiás, problematizam estereótipos de beleza.

Convém deixar claro que o feminismo não é um movimento anti-homem, nem busca tornar as Mulheres iguais aos homens. Protagonizado por Mulheres, o feminismo é um movimento que busca a emancipação feminina e, como resultado,combater o sexismo, a exploração sexista e a opressão em uma sociedade patriarcal. De acordo com a historiadora, professora e escritora Gerda Lerner (1986, p. 239), o patriarcado é a manifestação e institucionalização da dominação masculina sobre Mulheres e crianças na família, e a extensão dessa dominação na sociedade como um todo. A autora, professora e teórica feminista Gloria Jean Watkins, mais conhecida como bell hooks (2018), encoraja os homens a se engajarem na revolução feminista, afirmando que a erradicação do patriarcado só ocorrerá quando os homens assumirem a responsabilidade pela transformação de sua própria consciência e da consciência da sociedade como um todo.

Em "O Livro do Feminismo" (McCann et al., 2019, p. 341), o sexismo é definido como o "uso de estereótipos para oferecer vantagens ou desvantagens a um gênero em detrimento de outro; discriminação sistêmica contra as mulheres; falta de respeito pelas mulheres”. É importante destacar também a observação de Gerner (1986, p. 239), a qual afirma que o sexismo e o patriarcado se reforçam mutuamente.

Na sociedade patriarcal, é comum que pensamentos e ações sexistas sejam normalizados. É importante ressaltar que Mulheres também podem reproduzir o sexismo, porém não se beneficiam do patriarcado. Conforme a definição de hooks (2018), o feminismo é um movimento que busca acabar com o sexismo, a exploração sexista e a opressão.

Historicamente, é possível identificar duas posturas feministas distintas. Por um lado, a vertente liberal e pós-moderna considera o gênero como um aspecto inato da identidade, focando no indivíduo e sendo ambígua em relação à pornografia e prostituição, além de reconhecer diversas identidades de gênero. Por outro lado, a vertente radical compreende o gênero como um sistema hierárquico que possibilita o poder masculino sobre o feminino, buscando a emancipação coletiva e se opondo claramente à pornografia e à prostituição, reconhecendo que a opressão contra a Mulher está relacionada à sua materialidade e biologia (corpo).

A escritora e ativista feminista Finn Mackey (2015) destaca que o Feminismo Radical tem contribuído significativamente na luta contra a violência direcionada às Mulheres, abordando suas causas e consequências e buscando soluções efetivas. A autora enfatiza que o feminismo não busca o matriarcado, que seria uma supremacia feminina tão desigual quanto o patriarcado, e que essa é uma ideia equivocada ainda presente em muitas percepções sobre o movimento feminista. Além disso, a autora ressalta que o feminismo não prega o ódio aos homens, mas sim promove a ideia de que todas e todos podem mudar. A autora destaca que os homens não são naturalmente violentos ou abusivos, mas sim que a violência perpetrada pelos homens contra as Mulheres é uma forma de controle social.

O feminismo não é um movimento recente e tem uma base de princípios e ideias que foram desenvolvidas ao longo do tempo. De acordo com Rowland et al. (1997, p. 5), publicado pelo jornal feminista francês Questions Feministes, alguns princípios básicos do feminismo radical incluem a compreensão de que a existência social das diferenças entre homens e Mulheres foi criada e não é baseada em fatores biológicos, a luta pelo direito das Mulheres em serem autônomas e a luta contra a opressão fundamentada na premissa de que as Mulheres formam uma classe social baseada no sexo.

As Mulheres são consideradas uma classe social oprimida pelos homens, e é por isso que a ação coletiva é considerada necessária no movimento feminista. A luta contra o feminicídio é uma das principais pautas, visto que os números de homicídios de Mulheres têm crescido de forma alarmante, como indicado pelo Atlas da Violência, que apontou um aumento de (30,7%) no número de homicídios entre 2007 e 2017.Além disso, o feminismo busca garantir direitos como a licença maternidade, que possibilita às Mulheres terem tempo adequado para cuidar de seus filhos recém-nascidos, e o direito aos corpos, o que inclui o direito de se vestir da forma que se sentir melhor, sem serem julgadas ou limitadas por padrões de gênero. O acesso seguro ao aborto também é uma pauta importante, visando a garantir que as Mulheres possam tomar decisões sobre seus próprios corpos de forma autônoma e segura.

Essas são algumas das demandas coletivas do movimento feminista na luta por igualdade de gênero e pelo fim da opressão contra as Mulheres.

Vale destacar que a luta feminista não é apenas individual, mas sim uma luta coletiva a qual envolve todas as pessoas, independente de sua classe social ou raça. É importante reconhecer que as Mulheres negras enfrentam uma opressão interseccional, ou seja, uma opressão que é resultado da interseção de gênero e raça, e que essa opressão é ainda mais intensa e sistemática.

Dados do Atlas da Violência 2019[ii] evidenciam que as Mulheres negras são particularmente vulneráveis à violência, representando (66%) de todas as Mulheres assassinadas no Brasil. Isso ressalta a importância de abordar o feminismo de forma interseccional, reconhecendo que as opressões se entrelaçam e afetam de forma diferenciada as Mulheres de diferentes grupos sociais.

O feminismo, portanto, precisa ser inclusivo e abordar as múltiplas formas de opressão que as Mulheres enfrentam, levando em consideração não apenas o gênero, mas também raça, classe social, orientação sexual, entre outros aspectos. É fundamental que a luta feminista seja interseccional, buscando enfrentar as desigualdades e injustiças de forma integrada e promovendo a inclusão e empoderamento de todas as Mulheres, especialmente aquelas que são mais marginalizadas.

De fato, o feminismo tem sido um movimento transformador na sociedade, questionando e subvertendo as normas e valores que perpetuam a opressão e a desigualdade de gênero. As conquistas feministas já trouxeram avanços significativos na vida de todas as pessoas, desde o direito ao voto até o acesso à educação e ao mercado de trabalho.

Além disso, o feminismo tem contribuído para a desconstrução de ideias e comportamentos sexistas e opressores, promovendo uma cultura de respeito e igualdade entre os gêneros. O movimento feminista também tem sido importante na visibilidade e luta por questões como a violência doméstica, o assédio sexual, a exploração sexual e a desigualdade salarial.Dessa forma, o feminismo não é apenas uma luta das Mulheres, mas uma luta pela justiça e igualdade para todas as pessoas, independentemente de gênero, raça, classe social ou orientação sexual.

Esclarecemos que, de acordo com Delphy (2009), o conceito de gênero tem diferentes acepções, podendo designar apenas a “variável sexo”, mas também o conceito de gênero como definição de papéis na sociedade patriarcal. Observa-se que no contexto há pouco citado, gênero se refere apenas ao sexo. Como pesquisadores, utilizamos o termo gênero para referir à definição de papéis na sociedade patriarcal.

Para mostrar como a pauta feminina é abordada em atividades de Livro Didático de Inglês (LDI), este artigo traz, após esta parte inicial, a organização geral da coleção de LD em análise, mostrando as partes principais que a constituem. Na sequência, trazemos os resultados obtidos com base nos referenciais teóricos que nos dão suporte necessário para nossas considerações analíticas. Posteriormente, apresentamos as considerações finais e as referências bibliográficas usadas ao longo do texto.

 

Apresentação da coleção em observação

A coleção analisada é Alive High,Ensino Médio. De um total de 22 (vinte e duas) escolas da cidade de Jataí (região sudoeste de Goiás), 10 (dez) confirmaram que adotam esta coleção, o que totaliza (45%) de adoção.

A imagem das capas dos volumes constituintes da coleção aparece na sequência.


 

Figura 1: Alive High Ensino Médio– Inglês

Uma imagem contendo geladeira, foto, diferente, mesa

Descrição gerada automaticamente

 

Fonte:  https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-1397816341-alive-high-vera-menezes-coleco-ensino-medio-v-12-e-3-_JM#redirectedFromSimilar. Acesso em: 10/04/2023.

 

Tipicamente, o ensino de Inglês se organiza nas quatro habilidades linguísticas (compreensão escrita e compreensão oral, produção escrita e produção oral). A integração hipertextual de texto escrito, imagem e som evidencia a conexão entre as diferentes habilidades. De acordo com os autores da coleção, ela visa a fazer referência às quatro habilidades, ressaltando os multiletramentos necessários para o alunado agir e interagir no contexto social.

Por razões didáticas, segundo os autores, a coleção apresenta algumas seções que se referem a apenas uma das quatro habilidades, mas o objetivo não é compartimentalizá-las na prática social, por isso a criação de seções que integram duas ou mais habilidades linguísticas.

            A obra traz ainda uma série de ferramentas digitais gratuitas para que a aprendizagem esteja associada também ao letramento tecnológico. Sendo assim, a(o) aluna(o) passa a ser também produtora(or) de textos digitais e multimodais, e não apenas usuária(o) de conteúdo.

            De acordo como livro do professor da coleção, o livro do aluno é composto por oito unidades, que se organizam em quatro blocos de duas unidades, constituindo as quatro partes do livro.

Cada unidade inicia com a abertura, intitulada Lead-in, cujo objetivo é ativar o conhecimento prévio dos alunos sobre os conteúdos das duas unidades que compõem cada parte, sendo quatro aberturas, uma para cada parte. Em cada abertura, é apresentada uma ferramenta digital gratuita que auxiliará a(o) aluna(o)no seu letramento digital. A abertura contém imagens e pequenos textos. Já no final de cada unidade, a(o) aluna(o) é levada(o) a refletir sobre sua própria aprendizagem na seção Time to reflect. Ao final de cada parte, questões semelhantes às do Enem estão incluídas, para revisão e aprofundamento dos conteúdos apresentados nas duas unidades.

O livro do aluno ainda traz duas unidades especiais chamadas Time for Literature, as quais apresentam textos literários seguidos de atividades de leitura e glossário específico (exceto no Volume 3).

Ao final do livro, foram incluídas atividades extras que podem ser usadas como revisão e aprofundamento dos conteúdos apresentados nas unidades. Também foram acrescentados ao final do livro quadros e listas de referência sobre aspectos linguísticos organizados nas seções Language Reference. Finalmente, o livro do aluno apresenta o Glossary (inglês-português), com seção de vocabulário utilizado em cada livro, estando registrados apenas os significados que aparecem nos textos da obra.

A coleção contém ainda CD de áudio, que acompanha o livro da(o) aluna(o) e também da(o) professora(or). No CD, estão áudios das músicas e dos textos orais nas seções com atividades de compreensão oral Turn on the jukebox!, Let’s listen and talk! e seções que conjugam atividades de compreensão oral envolvendo outras habilidades. Este CD permite que a(o) professora(or) e alunas(os) ouçam a pronúncia e a entonação da língua inglesa, em diversas situações, e com diferentes sotaques, pretendendo diminuir possíveis preconceitos e inseguranças que podem surgir atrelados à produção oral.

Assim como o Guia do PNLD preconiza, a coleção aborda propostas que favorecem a reflexão e a ação social, evidenciando diversidade cultural, aspectos de gênero e direitos humanos. Reflexão e ação social são utilizados como meio de comunicação no ensino da língua, partindo da abordagem de que as línguas nos constituem como sujeitos e expressam valores construídos nas práticas sociais.

            Os textos da coleção contemplam variedade de gêneros do discurso verbais, não-verbais e verbo-visuais, de diferentes suportes e esferas, como, por exemplo, charges, tirinhas e poemas. Os textos propiciam o engajamento acerca de temas importantes, valorizando o comportamento ético, reconhecimento dos direitos humanos. Além disso, a coleção retrata nos textos e ilustrações aspectos de gênero (masculino ou feminino), etnia e faixa etária.

            Buscando motivação e criatividade das(os) alunas(os), a coleção apresenta ferramentas digitais, com o intuito de criar oportunidades de uso da língua. Segundo o Manual, ao produzir textos no ambiente digital, as(os) estudantes passam a ser produtoras(es) de linguagem multimodal e não apenas consumidoras(es) de textos.

            O Manual ainda afirma que questões interdisciplinares estão presentes na coleção, motivando o alunado a refletir sobre seu papel. Tais questões são mais exploradas na seção Crossing bundaries. O Guia esclarece que cabe à(o) professora(or) a dimensão da colaboração com outras(os) professoras(es) da escola.

            A coleção está de acordo com o que o MEC (Ministério da Educação) preconiza sobre o Ensino Médio inovador (Brasil, 2009, p. 19-20, in Menezes et al., 2016, p.195), citando, entre outros, o estímulo à iniciação científica, construção de conhecimento que supera a memorização, fomento ao comportamento ético, como ponto de partida para o reconhecimento dos deveres e direitos da cidadania, praticando um humanismo contemporâneo” e “estímulo ao autodidatismo e autonomia.

            O Manual ainda reforça que as atividades propostas têm como principal objetivo inserir as(os) aprendizes em práticas sociais de linguagem, estimulando reflexão pessoal, comunicação e interação. Argumenta também sobre os diferentes processos de aquisição do alunado e afirma que cabe aos professores estimular e manter os sistemas de aprendizagem e também sobre a importância do estímulo do material didático através de atividades criativas e que incentivem a autonomia da(o) aprendiz.

            As quatro habilidades linguísticas (compreensão escrita e oral, produção escrita e oral) não ocorrem de modo isolado na prática social e o Manual recorre aos termos letramento, letramentos e multiletramentos para referir-se à multiplicidade de usos da linguagem e habilidades envolvidas no contexto de criação e/ou recriação de negociação de sentidos. Ao longo da coleção, informações sobre ferramentas digitais gratuitas são disponibilizadas para que a aprendizagem esteja também associada ao letramento tecnológico.

Ressaltamos o compromisso da coleção no estímulo aos alunos para que elaborem propostas de intervenção na realidade.

 

Um olhar analítico sobre os dados

Nesta parte, trazemos a análise qualitativa com a finalidade de averiguar se as atividades propostas pelo LD problematizam acerca de estereótipos de beleza. Com isso, exploramos se a coleção oferece condições de levar as(os) alunas(os) a refletir sobre o que são estereótipos de beleza e como tais estereótipos refletem no mercado de trabalho, na maneira como consumimos e como nos enxergamos, além de como as Mulheres acabam sendo as maiores prejudicadas por tais estereótipos.

Entendemos estereótipos de beleza como ideias ou concepções pré-concebidas e padronizadas que estabelecem um conjunto de características físicas consideradas socialmente atraentes e desejáveis em uma pessoa, geralmente baseadas em características como peso, altura, cor da pele, tipo de cabelo, formato do rosto e outras características físicas. Esses estereótipos são frequentemente divulgados pela mídia, como na televisão, na publicidade e nas redes sociais, e muitas vezes são influenciados pelas normas culturais e sociais.

Os estereótipos de beleza podem ter um impacto negativo nas pessoas que não se encaixam nesses padrões, o que pode levar a problemas de autoestima, ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental. Eles também podem levar a comportamentos prejudiciais, como dietas extremas, uso excessivo de maquiagem e cirurgias plásticas desnecessárias.

É importante ressaltar que os estereótipos de beleza são construções sociais e culturais que mudam ao longo do tempo e podem variar em diferentes culturas e sociedades. É fundamental promover a diversidade e a inclusão em relação à aparência física e incentivar a autoaceitação e o amor-próprio, independentemente do tamanho, cor da pele, formato do rosto ou qualquer outra característica física.

A atividade apresentada como ilustrativa para a questão dos estereótipos de beleza está no primeiro volume da coleção (p. 85), Parte 3 (Make yourartsparkle!), Unidade 5 (Ontherunway). A Unidade 5 tem como objetivo levar o alunado a ler propagandas, aprender vocabulário relacionado a roupas e acessórios, aprender a expressar necessidades lógicas, obrigações pessoais, deduções e proibições, falar sobre ações em progresso, criar propagandas, falar sobre artes visuais e sobre o passado e escrever uma biografia. 

Na atividade em análise, as(os) alunas(os) devem ouvir uma transmissão de notícias sobre um desfile de moda e responder a algumas perguntas. Inicialmente, devem observar duas imagens e levantar hipóteses sobre quais palavras e efeitos sonoros serão ouvidos na atividade e justificados. Na pergunta seguinte, o alunado deve levantar hipóteses sobre qual será o tema do áudio, com base apenas nas imagens. Então, as(os) discentes ouvem as notícias sobre o desfile de moda e respondem algumas perguntas.

A atividade ilustrativa é exibida na sequência.


 

Figura 2: Exemplo ilustrativo

 

Interface gráfica do usuário, Site

Descrição gerada automaticamente

 

Fonte: Coleção Alive High Ensino Médio (Vol. 1, p. 85)

 

Trazemos a tradução da atividade na sequência para uma melhor compreensão acerca da referida.

 

Antes de ouvir...

a) Olhe as imagens abaixo. Quais palavras e efeitos sonoros você irá provavelmente ouvir na gravação? Por quê?

 

 

 

 

b) Com base nessas imagens, o quê você acha que será o tópico da gravação?

 

1. Ouça a primeira parte das notícias sobre um desfile de moda. Escreva no seu caderno as respostas corretas.

 

a) De acordo com o texto, a sociedade espera que as mulheres hoje em dia aparentem:

saudáveis / boa aparência / modernas / felizes

b) O desfile de moda em South Auckland apresenta:

modelos magras / modelos de tamanho grande

c) Para a(o) palestrante de estudos sobre gordura da Universidade Massey, existe um mito de que pessoas gordas são:

preguiçosas / tristes / não-saudáveis / desmotivadas / felizes

 

No Manual do Professor, não existe sugestão para debate, apenas as respostas, que são: a) A sociedade espera que as Mulheres tenham boa aparência; b) O desfile de moda em South Auckland apresenta modelos de tamanho grande; c) Para a(o) palestrante de estudos sobre gordura da Universidade Massey, existe um mito de que pessoas gordas são tristes, preguiçosas, não-saudáveis e desmotivadas.

É fácil observar através da televisão, redes de comunicação, jornais, revistas e outros veículos um modelo de beleza feminina como Mulher magra, branca e jovem. A mídia constrói tal estereótipo de beleza e reforça o mito da beleza com ampla propaganda de produtos para emagrecer, tirar rugas, alisar o cabelo, por exemplo. Pesquisa realizada por Evangelista e Baptista (2017), que analisaram capas de uma revista goiana, concluiu o que acreditamos ser perceptível no nosso cotidiano: capas são elaboradas para perceber as Mulheres na expectativa que a sociedade espera, como sendo dóceis, discretas, obedientes e sensuais. Esses comportamentos estão intrinsecamente ligados ao sistema patriarcal da nossa sociedade. Sobre isso, ressaltamos Wolf (1992), quem afirmou que o que é considerado belo por uma sociedade são símbolos do comportamento feminino. A autora exemplifica citando a virgindade, por representar a falta de experiência sexual, e que um dos motivos do envelhecimento ser “feio” é porque as Mulheres adquirem poder com o passar do tempo. 

 

Acerca da problemática do envelhecimento feminino, destacamos queele é um processo natural e inevitável da vida. Na sociedade em que vivemos, porém, a aparência jovem é considerada o padrão de beleza ideal, e as Mulheres em particular são constantemente pressionadas a se conformarem a esse padrão. A mídia, a publicidade e a cultura popular reforçam a ideia de que a juventude é sinônimo de beleza, e que a aparência física é a principal forma de valorizar e medir o sucesso das Mulheres.

O envelhecimento é frequentemente associado a características negativas, como perda de beleza, vitalidade e capacidade sexual. Mulheres que não conseguem atender a esse ideal são frequentemente marginalizadas e discriminadas, enfrentando estereótipos negativos e preconceitos que as desvalorizam e as desumanizam.

A ideia de que o envelhecimento é feio para as Mulheres é prejudicial em muitos níveis, pois contribui para a perpetuação de um padrão de beleza irrealista e excludente. Isso pode levar a uma série de problemas emocionais e psicológicos. É importante, portanto, desconstruir essa ideia e valorizar a beleza em todas as suas formas, incluindo o processo natural e inevitável do envelhecimento.

O mito de beleza está ligado à subordinação feminina, bem como à subordinação do corpo feminino. E assim como Wolf (1992) afirmou, o amor-próprio da Mulher está ligado à aprovação externa. A pesquisa de Evangelista e Baptista (2017) evidencia que o corpo magro se aproxima do belo, enquanto o gordo precisa ser combatido. É evidente a importância de discutir estereótipos de beleza impostos pela sociedade e o LD pode desconstruir estereótipos de beleza, em especial por não experenciar a influência midiática direta, como ocorre em veículos como TV, sites, blogs, etc.

A ideia de beleza sempre esteve associada à perfeição corporal e à proporção física, e isso foi aplicado especialmente às Mulheres, que eram avaliadas em termos de seu valor estético e sua capacidade de atrair homens.

Com o tempo, esse ideal de beleza se consolidou e se tornou cada vez mais restrito, imposto por meio de propagandas, mídias e padrões sociais. Mulheres são

 

 

pressionadas a se adequar a esse ideal e acreditam que sua aparência é uma medida de sua autoestima e valor pessoal.

Ao mesmo tempo, essa pressão está intimamente ligada à subordinação feminina. Mulheres que não se enquadram nesses padrões de beleza são frequentemente estigmatizadas e discriminadas, enquanto homens são vistos como mais valorizados por outros atributos, como a inteligência ou a personalidade.

Essa subordinação também está ligada à subordinação do corpo feminino, que é visto como um objeto a ser moldado e transformado em vez de ser aceito e celebrado em sua diversidade. Como resultado, muitas Mulheres passam por procedimentos cirúrgicos e gastam muito dinheiro em produtos de beleza e moda para tentar se adequar a esse ideal, enquanto suas verdadeiras necessidades e potenciais são frequentemente ignorados ou diminuídos.

Desconstruir esse mito de beleza e promover a aceitação e celebração da diversidade corporal é crucial para a promoção da igualdade entre sexos e para garantir que todas as Mulheres tenham a liberdade de serem quem são, sem serem julgadas ou discriminadas com base em sua aparência física.

Defendemos que discutir os estereótipos de beleza impostos pela sociedade é importante porque esses padrões influenciam negativamente a autoestima, a saúde mental e física e a qualidade de vida de muitas pessoas, especialmente das Mulheres. A mídia e a publicidade promovem imagens de corpos e rostos perfeitos, irreais e inatingíveis, que geram ansiedade, baixa autoestima, distúrbios alimentares, depressão e outros problemas emocionais e físicos. Além disso, esses estereótipos são excludentes e discriminatórios, pois não consideram a diversidade de corpos, raças, etnias e identidades. A discussão sobre os estereótipos de beleza permite questionar esses padrões impostos e promover a aceitação e valorização da diversidade, a desconstrução de preconceitos e a ampliação de perspectivas.

Na coleção em observação, o índice de ocorrência de dados que problematizam acerca de estereótipos de beleza foi de (1,7%) no segundo volume, o que mais apresentou considerações a esse respeito. No primeiro volume, o índice de ocorrência foi de (1,2%) e no terceiro volume de apenas (0,2%). Novamente, ressaltamos que a invisibilidade do tema foi maior do que as possibilidades de discussão. Na atividade em análise, acreditamos que a intervenção no debate da(o) professora(or) pode ser fundante para a discussão, pois as perguntas podem levar a uma discussão para reforçar estereótipos de beleza, em especial se considerarmos o primeiro questionamento do áudio, o qual interroga o que a sociedade espera das Mulheres e também a última questão da atividade (item C), a qual questiona acerca do mito de pessoas gordas serem preguiçosas(os), tristes, sem saúde, desmotivadas(os).

Ressaltamos que, de acordo com pesquisa feita pela ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, perfumaria e Cosméticos), o Brasil é o quarto maior mercado de beleza do mundo e, mesmo com as restrições devido à Covid-19, o setor cresceu (5,8%)[iii]. Esse crescimento evidencia a preocupação que temos, como sociedade em geral, com a aparência e com a higiene pessoal. De acordo com Cerqueira et al (2013), a maioria dos consumidores do mercado de cosméticos é do sexo feminino (65%), embora os homens estejam aderindo cada vez mais ao mercado de cosméticos.

Uma pesquisa feita pela Universidade de São Paulo (USP) ainda afirma que (74%) das Mulheres compram produtos de beleza no mínimo uma vez por mês. A preocupação com a estética vai ainda mais além, com cirurgia plástica, sendo que o Brasil é líder em cirurgia plástica de jovens[iv].

Ao estudar o comportamento do consumidor, Infante et al. (2016) verificou que grande parte dos homens acredita que estar aparentemente bem cuidado e vestido pode criar melhores oportunidades de emprego, além da satisfação pessoal na construção da própria imagem. Com esse aumento na procura de produtos, a indústria de cosméticos passou a desenvolver linhas específicas para o público masculino

Ainda de acordo com a pesquisa de Cerqueira et al (2013), entre as cirurgias mais procuradas, estão os implantes de silicone, rinoplastia e lipoaspiração. Ressaltamos que Wolf (1992) afirma ainda que estamos imersos no conceito de beleza, obsessão com o físico e medo de envelhecer. Por conseguinte, ao discutir e problematizar padrões de beleza estabelecidos, podemos nos atentar às consequências em nossa realidade em relação às consequências a tal padrão excludente que se intensifica cada vez mais.

Atualmente, Mulheres gordas também são socialmente pressionadas para se adequarem a padrões de beleza machistas, os quais tratam a Mulher como mercadoria. De acordo com Wolf (1992), manter o peso abaixo do que é ‘natural’ pode prejudicar seriamente a saúde da Mulher, que, na busca por esse padrão de beleza, pode sofrer perturbações emocionais e de comportamento devido ao estresse gerado na busca pelo mito da beleza.

A gordofobia é um tipo de discriminação baseada no peso ou na aparência corporal e pode resultar em exclusão social, preconceito, estigma e discriminação no local de trabalho, na escola e na vida pessoal.

Como já dito, os estereótipos de beleza impostos pela sociedade geralmente são baseados em uma imagem idealizada de uma Mulher magra e jovem, com curvas acentuadas e pele perfeita. Esse padrão de beleza pode ser difícil ou impossível de alcançar para muitas Mulheres, especialmente para aquelas que têm corpos que não se enquadram nesse ideal.

As Mulheres gordas, frequentemente, enfrentam uma série de desafios e barreiras, incluindo a falta de roupas de tamanho adequado, o estigma social e a falta de acesso a serviços de saúde adequados. Elas também são frequentemente retratadas de forma negativa na mídia e na cultura popular, como pessoas preguiçosas, pouco atraentes e sem força de vontade, como apresentado na resposta esperada do LD.

A ideia de que o corpo magro se aproxima do belo e o corpo gordo deve ser combatido está diretamente relacionada ao padrão de beleza imposto pela sociedade, influenciado por valores patriarcais e capitalistas. A indústria da moda e da beleza, por exemplo, tem interesse em vender um ideal de corpo magro, pois isso gera lucro com a venda de produtos e serviços que prometem emagrecimento.

Além disso, a imagem do corpo magro é associada à disciplina, ao autocontrole e à saúde, enquanto o corpo gordo é estigmatizado como preguiçoso, indisciplinado e doente. Esses estereótipos se baseiam em preconceitos e tendem a ignorar a complexidade das relações entre peso, saúde e bem-estar.

A valorização do corpo magro também está relacionada à subordinação feminina, uma vez que o ideal de beleza imposto às Mulheres é mais rigoroso do que o imposto aos homens. As Mulheres são ensinadas a se preocupar com sua aparência desde cedo e são constantemente avaliadas e julgadas com base em sua aparência física. Essa pressão estética é uma forma de controle social, mantendo as Mulheres focadas em objetivos superficiais e as impedindo de buscar sua realização pessoal e profissional de forma plena.

Dessa forma, a luta contra a discriminação do corpo gordo e a desconstrução do ideal de beleza baseado no corpo magro são importantes para a promoção da igualdade de gênero e para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Acreditamos que é importante discutir esses estereótipos de beleza impostos pela sociedade para aumentar a conscientização sobre a gordofobia e seus efeitos prejudiciais na vida das Mulheres. É fundamental que as Mulheres sejam valorizadas por suas habilidades, personalidade, conquistas e outras características pessoais, em vez de serem avaliadas apenas por sua aparência.

As imagens propostas pela atividade mostram Mulheres que não se encaixam no padrão de beleza eurocêntrico. Aguiar (2007) afirma que no Brasil o padrão estético tem forte ligação com o padrão eurocêntrico, considerando belo o que é associado à pele branca, cabelos lisos e olhos claros, reforçando um padrão de beleza que coloca a Mulher negra na inferioridade. 

Esse padrão de beleza que coloca a Mulher negra na inferioridade é resultado de um processo histórico e social de construção de estereótipos e preconceitos. A sociedade ocidental eurocêntrica impõe um ideal de beleza que privilegia a pele branca, o cabelo liso e longo, o nariz fino e outras características físicas que são associadas à "raça" branca. Esse padrão de beleza se torna ainda mais evidente na indústria da moda, da beleza e do entretenimento, valorizando a estética eurocêntrica em detrimento de outras belezas.

Com isso, a Mulher negra acaba sendo marginalizada e estigmatizada por não se encaixar nos padrões de beleza impostos pela sociedade. Elas são vítimas de uma espécie de racismo estético, que consiste na discriminação e exclusão de pessoas com características consideradas "não brancas" dentro dos padrões de beleza estabelecidos.

Esse racismo estético pode levar a diversas consequências negativas para a autoestima e o bem-estar das Mulheres negras, como a insatisfação com a imagem corporal, a busca por procedimentos estéticos invasivos e a internalização de estereótipos negativos sobre sua beleza e identidade. Além disso, a exclusão da Mulher negra dos padrões de beleza hegemônicos pode contribuir para sua invisibilidade social e profissional, prejudicando suas oportunidades de trabalho e ascensão social.

Por isso, defendemos a importância de se discutir e se combateresse racismo estético, valorizando a diversidade de belezas e corpos, reconhecendo que não existe um único padrão de beleza válido para todas as Mulheres. A promoção de uma estética inclusiva e diversa pode contribuir para o empoderamento e a valorização da Mulher negra, assim como de todas as Mulheres que são excluídas e estigmatizadas pelos padrões de beleza impostos pela sociedade.

Damos destaqueà importância da primeira imagem apresentada pela atividade em observação, a qual mostra uma Mulher gorda e negra. Carneiro (2003) fala da importância de enegrecer o movimento feminista, discutindo sobre algumas questões fundamentais ligadas a alguns mecanismos usados pelo mercado de trabalho. Como exemplo, cita a “boa aparência”, que mantêm desigualdades entre Mulheres brancas e negras. Para a autora, historicamente, a opressão sofrida por Mulheres negras se difere do discurso clássico de opressão, que não consegue qualificar seu efeito na vida das Mulheres negras.

Após a atividade ilustrativa, o alunado deve ouvir a segunda parte da entrevista e colocar itens na ordem correta. Na sequência, as(os) alunas(os) devem responder as seguintes perguntas: a) A beleza está nos olhos da mídia? A exposição à mídia tem alguma influência na percepção das pessoas sobre beleza?; b) Quais são algumas coisas que as(os) consumidoras(es) devem fazer antes de comprar roupas? Faça uma lista em seu caderno.

Evangelista e Baptista (Swain, 2001 apud Evangelista; Baptista 2017) citam análise das capas das revistas ‘Marie Claire’ e ‘Nova’, as quais têm maior interesse na sedução, contorno do corpo, incentivo às cirurgias no abdômen e enfatizam a luta contra o envelhecimento. A pesquisa evidencia que cinema e revista

são fortes marcadores para disseminar estereótipos de beleza, fazendo conexão direta com demarcação de ascensão e felicidade e até mesmo com a valorização pela coletividade. Na busca por esse padrão inalcançável, as Mulheres estão sempre insatisfeitas(os) com o corpo.

Acreditamos que o LD pode exercer grande influência na desconstrução de estereótipos de beleza, discutindo e problematizando acerca do tema, educando nosso olhar para diferentes tipos de corpos, diferentes tipos de beleza e enfatizando que não somos todas(os) iguais, e que a beleza apresentada pela mídia, na grande maioria das vezes, não é real.

Defendemos que livro didático é um importante recurso pedagógico que pode exercer influência na desconstrução de estereótipos de beleza. Isso porque trata-se de uma ferramenta de ensino que influencia a construção do conhecimento e valores nas crianças e adolescentes.

Um livro didático que aborda questões de gênero, raça e beleza de forma crítica e reflexiva pode questionar a ideia de que somente um tipo de corpo é belo e incentivar a valorização da diversidade de corpos e belezas.Além disso, o livro didático pode apresentar Mulheres negras e gordas como protagonistas de histórias e personagens com diversas habilidades, personalidades e objetivos de vida, rompendo com a ideia de que apenas as Mulheres magras e brancas são capazes de alcançar sucesso e felicidade.

Ao incluir imagens e exemplos de Mulheres negras e gordas de diferentes idades, profissões e estilos de vida, o livro didático pode contribuir para a valorização da autoestima e do autocuidado de crianças e adolescentes. Dessa forma, ele pode ser um importante instrumento de combate à pressão estética imposta pela sociedade, contribuindo para a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa com a diversidade de corpos e belezas.

 


 

Algumas considerações para finalizar

Neste artigo, objetivamos mostrarse as atividades propostas pelo LD Alive High para o Ensino Médio, publicada pelas Edições SM, adotada pela maioria das escolas públicas na cidade de Jataí, sudoeste do estado de Goiás, problematizam acerca de estereótipos de beleza. Para isso, apresentamos dados quantitativos sobre a ocorrência de atividades que abordam a questão em observação, bem como apresentamos um exemplo ilustrativo de como o LD trata esta questão através de textos e atividades.

Os dados nos mostram que o índice de ocorrência de discussões sobre estereótipos de beleza na coleção foi muito baixo, considerando que no primeiro volume houve apenas (1,2%) de ocorrências, no segundo volume (1,7%) e no terceiro volume apenas (0,2%). Fizemos uma reflexão sobre o que são estereótipos de beleza e como refletem no mercado de trabalho, na maneira como consumimos e como nos enxergamos, além de como as Mulheres são as maiores prejudicadas por eles. Retratamos a maneira como a mídia valoriza tais estereótipos e discutimos acerca da importância da sua desconstrução, em especial no LD.

Percebemos ao longo da análise qualitativa, em diversas ocasiões, a possibilidade de retratar o tema sobre os estereótipos de beleza, entretanto as atividades normalmente priorizavam aspectos gramaticais e/ou meramente ligados à superfície textual. Não queremos diminuir a importância desse tipo de atividade, mas defendemos que a escola pode oportunizar diversos questionamentos, debates e mudanças de opinião sobre variados temas, inclusive sobre a temática do feminismo.

Acreditamos que essa pesquisa pode nos levar – docentes, Mulheres e homens – a perceber o quanto o livro didático pode ser um aliado na discussão sobre nossa sociedade atual, suas injustiças e possibilidades de mudanças. Vislumbramos o espaço escolar, assim como o LD, como favorecedores de discussões, de mudanças de paradigmas, de entendimento e enfrentamento das diferenças sociais.

Ressaltamos que os livros didáticos (LD) são importantes ferramentas para a educação formal e para a construção de conhecimento sobre diferentes áreas do saber. Eles têm um papel fundamental na formação do pensamento crítico e na reflexão sobre a realidade social e cultural. Por isso, podem ser um grande aliado na desconstrução de estereótipos de beleza e na promoção da diversidade. O conteúdo apresentado no LD pode influenciar a forma como as pessoas enxergam o mundo e a si mesmas.

É importante que os LD promovam a representatividade, abordando temas relacionados às questões de gênero, raça, orientação sexual e outras diversidades, com o objetivo de desconstruir estereótipos e preconceitos presentes na sociedade. Além disso, é fundamental que apresentem uma visão crítica sobre os padrões de beleza impostos pela mídia e indústria da moda, questionando-os e promovendo a diversidade de corpos e belezas.

Acreditamos que, dessa forma, os LD poderão contribuir para a formação de uma sociedade mais inclusiva e justa, a qual valoriza a diversidade e respeita as diferenças.

 

Referências

 

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[i] Optamos pela grafia em letra maiúscula para ressaltar a Mulher, tão oprimida na sociedade patriarcal em que vivemos.

[ii] Disponível em http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784. Acesso em 15/04/2023.

[iii] Fonte: https://abihpec.org.br/busca-por-bem-estar-faz-crescer-vendas-de-cosmeticos-no-brasil-durante-a-pandemia-2/. Acesso em 21/04.2023.

[iv] Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/cresceu-mais-de-140-o-numero-de-procedimentos-esteticos-em-jovens-nos-ultimos-dez-anos/#:~:text=O%20Brasil%20%C3%A9%20l%C3%ADder%20mundial,at%C3%A9%2018%20anos%20de%20idade. Acesso: 21/04/2023.