Educação Musical de Pessoas Idosas no Brasil: Uma Revisão de Escopo

Music Education with Elderly People in Brazil: A Scoping Review

Educación Musical de Personas Mayores en Brasil: Una Revisión de Alcance

Lincoln Thiengo Ferreira

Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil

lincolnthiengo@gmail.com

Hermes Soares dos Santos

Universidade Estadual do Paraná, Curitiba, PR, Brasil

hermes.santos@ufpr.br

Mariana Lacerda Arruda Arruda

Universidade Estadual do Paraná, Curitiba, PR, Brasil

marianalarruda@gmail.com

Valdomiro de Oliveira

Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil

oliveirav457@gmail.com

Gislaine Cristina Vagetti

Universidade Estadual do Paraná, Curitiba, PR, Brasil

gislainevagetti@hotmail.com

Recebido em 13 de dezembro de 2022

Aprovado em 18 de janeiro de 2023

Publicado em 18 de março de 2024

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a produção científica brasileira a respeito da Educação Musical em grupo com pessoas idosas no Brasil, a partir da vigência do Estatuto do Idoso (Lei federal nº 10.741/03). Foi feita uma revisão de escopo com busca nas bases de dados da CAPES, ERIC, Redalyc, Scielo, Lilacs, ABEM, Amplificar e Google Academics, a partir de 2003, ano de criação do Estatuto. Foram considerados em todas as bases os descritores “Educação Musical”, “Idoso”, “Idosos”, “Ensino de Música”, “Musicalização”, “Música” e os operadores booleanos OR e AND. Foram analisadas as características gerais, tais como locais, métodos, intervenções e objetivos, a contagem quantitativa no software Iramuteq das palavras mais utilizadas e as atividades realizadas. As buscas retornaram 9.877 trabalhos, na qual foram selecionados 24, entre artigos, dissertações e TCC’s direcionados à Educação Musical da pessoa idosa no Brasil. Por meio da contagem, da análise das características das pesquisas e das atividades realizadas, foi constatado que essas pesquisas são em sua maioria empíricas, qualitativas, com intervenções e observações em campo, tendo sido realizadas em sua maior parte (79,17%) na região sudeste do país. Os resultados apontaram a influência positiva do aprendizado musical na qualidade de vida das pessoas idosas, mostrando benefícios cognitivos e emocionais, além de mostrar a necessidades de mais estudos sobre o assunto.

Palavras-chave: Educação Musical, Educação, Musicalização, Música, Idosos

ABSTRACT

The aim of this study was to analyze the Brazilian scientific production regarding Music Education in group with elderly individuals in Brazil, based on the enactment of the Elderly Statute (Lei federal nº 10.741/03). A scoping review was conducted by searching the databases of CAPES, ERIC, Redalyc, Scielo, Lilacs, ABEM, Amplificar, and Google Scholar, starting from 2003, the year of the statute's creation. The following descriptors were used in all databases: "Music Education," "Elderly," "Teaching Music," "Music Training," "Music," along with the boolean operators OR and AND. The general characteristics, such as locations, methods, interventions, and objectives, were analyzed, along with the quantitative word count using the software Iramuteq for the most frequently used words and the activities conducted. The searches returned 9,877 studies, out of which 24 were selected, including articles, dissertations, and undergraduate theses focused on Music Education for elderly individuals in Brazil. Through the word count, analysis of the research characteristics, and examination of the conducted activities, it was found that the majority of these studies are empirical, qualitative, involving field interventions and observations, and were predominantly conducted (79.17%) in the southeastern region of the country. The results indicated a positive influence of musical learning on the quality of life of elderly individuals, demonstrating cognitive and emotional benefits, as well as highlighting the need for further studies on the subject.

Keywords: Music Education, Education, Music Teaching, Music, Elderly

RESUMEN

El objetivo de este estudio fue analizar la producción científica brasileña sobre Educación Musical em grupo con personas mayores en Brazil, a partir de la entrada en vigor del Estatuto del Anciano(Lei federal nº 10.741/03). Se realizó una revisión de alcance mediante la busqueda en las bases de datos de CAPES, ERIC, Redalyc, Scielo, Lilacs, ABEM, Amplificar y Google Academics, a partir de 2003, año de creación del Estatuto. Se consideraron en todas las bases los descriptores "Educación Musical", "Anciano", "Ancianos", "Enseñanza de Música", "Musicalización", "Música", y los operadores booleanos OR y AND. Se analizaronlas características generales, como ubicaciones, métodos, intervenciones y objetivos, además del recuento cuantitativo de las palabras más utilizadas mediante el software Iramuteq y las actividades realizadas. Las búsque das arrojaron 9.877 trabajos, de los cuales se seleccionaron 24, entre artículos, tesis y TCC (Trabajos de Conclusión de Curso) enfocados en la Educación Musical para personas mayores en Brasil. A través del recuento, el análisis de las características de investigación y las actividades realizadas, se encontró que estas investigaciones son principalmente empíricas, cualitativas, con intervenciones y observaciones de campo, y se llevaron a cabo en su mayoría (79,17%) em la región sureste del país. Los resultados indicaron la influencia positiva de la prendizaje musical em lacalidad de vida de las personas mayores, demostrando beneficios cognitivos y emocionales, además de resaltar la necesidad de investigacion es adicionales sobre el tema.

Palabras clave: Educación Musical, Educación, Aprendizaje musical, Musica, Personas mayores

Introdução

O envelhecimento é uma questão que instiga os humanos desde o início da civilização (ALBUQUERQUE, 2008). O envelhecimento da população brasileira vem ocorrendo gradativamente, transformando o perfil demográfico de nosso país (IBGE, 2018). Como resultado disso, o governo brasileiro promulgou a Lei n° 10.741 de primeiro de outubro de 2003, também denominada Estatuto do Idoso, que orienta que “a família, a comunidade, a sociedade e o Poder Público devem garantir a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária” (BRASIL, 2018). Tal lei representa um marco na garantia dos direitos das pessoas idosas no Brasil, orientando que a família, a comunidade, a sociedade e o Poder Público devem garantir o direito à vida, à saúde, à cultura, ao lazer, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência comunitária (BRASIL, 2018).

            O estatuto determina, entre o artigo 20 e 25, que as pessoas idosas precisam ter direito à educação, cultura, esporte e lazer, respeitando as peculiaridades das condições desta faixa etária. É preciso que os espaços e a dinâmica das atividades e produtos culturais sejam inclusivos para essa população, oportunizando o “acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados” (BRASIL, 2018, p.20). Segundo Chachamovich (2005), atividades que mobilizam para uma vida saudável e ativa na velhice precisam ser uma necessidade para esta população.

Em meio ao leque de atividades que ajudam a promover a atividade na velhice, temos a música. Ela está presente nas sociedades humanas em diversos contextos, desde as primeiras civilizações, surgindo como uma necessidade de expressão humana, intensa e profunda, presente em comemorações ou eventos significativos de qualquer povo, instaurando a integração e transcendência (KATER, 2012, p.42).

Apesar de envolver processos cognitivos complexos, a música é acessível, podendo ser realizada de maneira simples por todos que queiram dela se acercar, independentemente de faixa etária e grau de conhecimento formal (FONTERRADA, 2012, p.96). De acordo com Vygotsky (1999), o prazer na arte, incluindo aqui a música, está diretamente relacionado com a necessidade de catarse humana, ou seja, o alívio na liberação de energia e sentimentos que se acumulam no cotidiano do homem, ao longo de sua vida. O canto coletivo de trabalho, por exemplo, é uma forma de organizar o serviço e também trazer alívio para a tensão angustiante do labor (VYGOTSKI, 1999).

O educador musical canadense Keith Swanwick afirma que uma educação musical abrangente precisar envolver atividades de composição, performance e apreciação musical, além do ensino da técnica e dos estudos literários relacionados à música (SWANWICK, 1979). O ensino de música precisa levar à exploração e expressão sonora, desenvolvendo a musicalidade individual e coletiva, incentivando a “Cantar e tocar, ouvir e escutar, perceber e discernir, compreender e se emocionar, transcender tempo e espaço” (KATER, 2012, p.43). Seguindo este a caminho, o ensino de música oportuniza o “cultivo da sensibilidade, criatividade, escuta, percepção, atenção, imaginativo, liberdade de experimentar, coragem do risco, respeito pelo novo e pelo diferente, (…) e integração no coletivo” (Ibidem).

Ao desenvolver o ensino de música com esta faixa etária, é necessário considerar suas realidades e anseios. Souza e Leão (2006, p.58) afirmam que o ensino com as pessoas idosas “deve trazer uma perspectiva diferenciada ao educador musical, de forma que este realize um trabalho consciente das necessidades do grupo delimitado, bem como das práticas musicais”. Assim, o educador musical que trabalha com esta faixa-etária precisa considerar as características dessa faixa etária.

Com base nisto, foi realizada aqui uma revisão de escopo que teve por objetivo principal analisar a produção científica brasileira a respeito da Educação Musical em grupo com pessoas idosas no Brasil, a partir da vigência do Estatuto do Idoso (Lei federal nº 10.741/03). Foram coletados os conteúdos e dados que esses trabalhos desenvolveram, tais como as metodologias, tipos de estudo, autores, principais palavras, cidades e estados. Para orientar esta pesquisa, foram levantadas e respondidas as seguintes questões: Quais aspectos podem ser observados nas pesquisas brasileiras sobre a Educação Musical com pessoas idosas desenvolvidas após o Estatuto do Idoso? Como a educação musical com pessoas idosas vem sendo desenvolvida e estudada neste contexto? Quais metodologias e objetivos podem ser observados nesses estudos? Quais são os principais conceitos e palavras relatadas nestes estudos? Como as intervenções foram realizadas com os participantes?

Metodologia

Trata-se de um estudo de um Scoping Review, conforme o método de revisão proposto pelo Instituto Joanna Briggs (AROMATARIS; MUNN, 2020). Tal método tem por objetivo identificar as evidências disponíveis em um determinado campo de estudo ou identificar as principais características e fatores que um conceito se relaciona. Foi considerado o protocolo PCC, ou seja, pessoa, conceito e contexto. A pessoa deste estudo é a população idosa, o conceito é a Educação Musical e o contexto é o Brasil. Os artigos encontrados foram analisados no software Iramuteq, objetivando quantificar e analisar as principais palavras utilizadas.

Como critérios de inclusão, foram escolhidos somente estudos relacionados com a Educação Musical com pessoas idosas em artigos originais, revisões, teses, dissertações e trabalhos de conclusão de curso (TCC) desenvolvidos no Brasil a partir de 2003, ano de início do Estatuto do Idoso, Lei Federal n.º 10.741/03. Foram excluídos os estudos com duplicidade em diferentes bases, estudos não relacionados com a educação musical da pessoa idosa, estudos anteriores a 2003 e estudos de fora do Brasil. Também foram excluídos estudos que tratavam somente de aulas particulares de música, já que o foco desta revisão de escopo foram pesquisas sobre educação musical de pessoas idosas no contexto de musicalização em grupo, envolvendo experiências e vivências coletivas, e não o aprendizado de algum instrumento musical específico.

As bases de dados em que as buscas foram feitas foram a CAPES, ERIC, Redalyc, Scielo, Lilacs, ABEM, Amplificar e Google Academics. As buscas foram feitas entre os meses de maio e agosto de 2021. Foram considerados os descritores “Educação Musical” “Idoso” “Idosos”, “Ensino de Música”, “Musicalização”, “Música”, e os operadores booleanos “ AND” e “OR” em todos os bancos de dados.

            Foram realizadas três fases distintas para a seleção de documentos: (1) a fase de busca, na qual foram coletados os estudos nas bases indexadas, (2) a fase de seleção, cujo objetivo foi filtrar os achados, considerando os critérios de inclusão e duplicidades apuradas e (3) a fase de eleição, em que foram definidos os estudos para a análise. As buscas dos trabalhos foram feitas em par, com dois pesquisadores, nas mesmas bases de dados e utilizando os mesmos descritores, e depois juntadas e cruzadas para fazer a seleção final. Após a busca e seleção dos trabalhos, foram selecionados 24 estudos para essa revisão de escopo:

Figura 1 - Fases da pesquisa

            As buscas foram feitas utilizando os descritores nos bancos de dados citados anteriormente. Foram obtidos os seguintes resultados:

Quadro 1 - Busca com os descritores

PERIODICOS CAPES:

● Educação Musical AND Idoso OR idosos: 70 resultados, 1 escolhido

● Ensino de Música AND Idoso. OR idosos: 36 resultados, 0 escolhidos

● Musicalização AND Idosos. OR idosos: 4 resultados, 0 escolhidos

● Música AND Idoso OR Idosos: 238 resultados, 0 escolhidos

ERIC:

● Educação Musical AND Idoso OR Idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Musicalização AND Idoso. OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Ensino de música AND Idoso: OR idosos, 0 resultados. 0 escolhidos

● Música AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

REDALYC:

● Educação Musical AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Musicalização AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Ensino de Música AND Idoso OR Idosos OR idosos: 2 resultados, 0 escolhidos

● Música AND Idoso OR Idosos: 0 resultados, 0 escolhido

SCIELO:

● Educação Musical AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Musicalização AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Ensino de Música AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Música AND Idoso OR idosos: 5 resultados, 1 Escolhido

LILACS:

● Educação Musical AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Musicalização AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Ensino de Música AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Música AND Idoso OR idosos: 69 resultados, 0 escolhidos

ABEM:

● Educação Musical AND Idoso OR idosos: 1 resultado, 0 escolhidos

● Ensino de Música AND Idoso OR idosos: 1 resultado, 0 escolhidos

● Musicalização AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Música AND Idoso OR idosos: 1 resultado, 1 escolhidos

AMPLIFICAR:

● Educação Musical AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Ensino de Música AND Idoso OR idosos: 0 resultados, 0 escolhidos

● Musicalização AND Idoso OR idosos: 2 resultados, 1 escolhido

● Música AND Idoso OR idosos: 15 resultados, 4 escolhidos

GOOGLE ACADEMICS:

● Ensino de Música AND Idoso OR idosos: 860 resultados, 15 escolhidos

● Educação Musical AND Idoso OR idosos: 831 resultados, 4 escolhidos

● Musicalização AND idoso OR idosos: 1.100 resultados, 2 escolhidos

● Música AND Idoso OR Idosos: 6.659 resultados, 0 escolhidos

Resultados e discussão

Serão discutidos, agora, os resultados das pesquisas apresentadas, considerando as características gerais, os dados quantitativos das palavras e as atividades realizadas. Tais resultados serão apresentados e discutidos em cada uma das três categorias de análise de dados.

Características gerais das pesquisas

Das vinte e quatro pesquisas escolhidas, 16 eram artigos, duas eram trabalhos de conclusão de curso (TCC) e seis eram dissertações de mestrado. Nenhuma delas era tese de doutorado. Além destes trabalhos selecionados para o estudo, também foram encontrados quatro artigos que eram “gêmeos” de outros artigos já selecionados, ou seja, eram a mesma pesquisa, publicada em locais diferentes e com títulos alterados. Também foram achadas 12 pesquisas duplicadas. As cópias foram descartadas, ficando-se com a primeira encontrada. Além disso, nove pesquisas eram duplicadas, de modo que a primeira encontrada foi mantida e a segunda descartada. Os dados estão no quadro a seguir, dispostos em ordem crescente por ano:

Quadro 2 - Características dos estudos selecionados

Título	Tipo	Autor e ano	Cidade	Objetivo	Método	Instrumentos de coleta	Participantes
A educação musical na terceira idade: uma proposta metodológica de sensibilização e iniciação à linguagem musical	Dissertação	Marcelo Caires Luz, 2005	São Paulo - SP	Sistematizar e analisar os resultados obtidos com a implementação da metodologia de sensibilização e iniciação musical, vivenciados por grupos de idosos	Estudo de caso	Observação participante, Fotografias	Pessoas idosas
Terceira idade e música: perspectivas para uma educação musical	Artigo	Cristiana Miriam Souza; Eliane Leão, 2006	Brasília - DF	Fomentar o ensino da música para a terceira idade e discutir os benefícios decorrentes desta prática	Revisão bibliográfica	Levantamento bibliográfico	Não se aplica
A flauta doce em um processo de musicalização na terceira idade	Dissertação	Meygla Rezende Bueno, 2008	Goiânia - GO	Discutir o processo de musicalização na terceira idade, abordando alguns procedimentos metodológicos que podem ser utilizados como meio de propiciar uma melhor condição de vida	Pesquisa de campo (intervenção)	Pesquisa-ação. Observação	Pessoas idosas
Educação musical na maturidade: um estudo com adultos médios	TCC	Maria Eunice Dornelles Corrales, 2009	Porto Alegre - RS	Elucidar as razões, os motivos que levam esses adultos a procurarem uma aprendizagem musical nesta fase de suas vidas	Estudo de Caso	Entrevistas individuais semiestruturadas	Adultos médios entre 45 e 65 anos
Coral canto que encanta: um estudo do processo de educação musical com idosos em madre de deus, região metropolitana de salvador, bahia	Dissertação	Michal Siveiro Figuerêdo, 2009	Salvador - BA	Estudar o processo de educação musical com idosos na região metropolitana de salvador, Bahia	Estudo de caso explanatório	Observação participante, filmagem e gravação, formulários e avaliação	Pessoas idosas
Aprendizagem musical na maturidade: diálogo entre teoria e prática	Artigo	Andréa Cristina Cirino, 2010	Belo Horizonte - MG	Discutir o significado de aprendizagem musical e sua relação com a teoria e a prática, levando em conta a intenção e a habilidade musical de adultos maduros	Etnografia escolar	Entrevistas semiestruturadas	Pessoas partir de 50 anos
Educação musical e musicoterapia: um relato de experiência de estágio com a terceira idade	Artigo	Valéria Peres Asnis; Daniela Dotto Machado, 2011	São Carlos - SP	Relatar a experiência com o projeto “Arte, música e movimento – proposta de estimulação global em Terapia Ocupacional junto a grupo de idosos com necessidades especiais”	Relato de experiência	Diário de campo	Pessoas idosas
A relação do idoso com o aprendizado musical	Dissertação	Carolina Giordano Bergmann, 2012	Campinas - SP	Saber qual a influência da educação musical na memória, concentração, coordenação motora, socialização e disposição	Estudo de caso	Observação direta não participante e entrevista semiestruturada	Pessoas idosas
Ensino e aprendizagem musical com idosos: situação do campo no banco de teses da capes	Artigo	José Davison da Silva Júnior, 2012	Salvador - BA	Apresentar uma listagem das dissertações e teses contidas no Banco de Teses da Capes	Pesquisa exploratória	Levantamento bibliográfico	Não se aplica
A formação do professor de música e sua atuação com alunos idosos: que saberes são necessários?	Artigo	Eunice Dias da Rocha Rodrigues, 2013	Brasília - DF	Investigar os saberes que norteiam a formação e a atuação de professores de música que atendem alunos idosos	Survey de pequeno porte	Questionário autoadministrado, com questões fechadas e abertas.	Professores de música
Música e idosos: a relação ensino/aprendizagem em três oficinas de música na cidade de são paulo	Dissertação	Kátia Milene Lima da Conceição, 2013	São Paulo - SP	Verificar e descrever como foram desenvolvidas as atividades, o ensino musical e as relações que se estabeleceram em três oficinas de música ministradas nas instituições UNATI/UNESP, SESC Consolação, UNATI/USP	Pesquisa de Campo (intervenção)	Observação	Pessoas idosas
Composição musical com idosos: re-arranjando a felicidade	Artigo	Tatiane Andressa da Cunha Fugimoto; Viviane Beineke, 2014	Maringá-PR	Investigar os significados construídos por um grupo de idosas ao longo de uma experiência de composição musical colaborativa	Pesquisa de Campo (intervenção)	Observação participante, diários elaborados pelas participantes	Pessoas idosas
Ter tempo para aprender música: experiências vividas e compartilhadas por aposentados	Dissertação	Hosana Rodrigues Ferreira da Mata, 2014	Uberlândia - MG	Compreender a aprendizagem musical no momento da aposentadoria, bem como entender de qual maneira as experiências musicais são vividas e compartilhadas com/por essas pessoas aposentadas em espaços de ensino/aprendizagem	Estudo de Caso	Entrevista	Pessoas idosas
Oficinas artísticas na universidade aberta para a terceira idade: contribuições para a qualidade de vida de idosos	Artigo	Baldin, Talita MagnabosoMartins, Claudia Regina 2015	Irati – PR	Engendrar novas formas de pensar a velhice, direcionando o olhar para a educação, tendo por instrumento oficinas de teatro e apresentações artísticas para/com a população mais envelhecida	Relato de experiência	Diário de campo	Pessoas idosas
Música, memória autobiográfica e idosos: Interfaces de uma pesquisa experimental na educação musical	Artigo	José Davison da Silva Júnior, 2016	Curitiba - PR	Investigar o efeito da participação em atividades musicais de composição, apreciação e performance sobre o conteúdo das memórias autobiográficas com idosos entre 65 e 85 anos e sem déficit cognitivo sugestivo de demência	Estudo experimental	Entrevista autobiográfica	Pessoas idosas
Inclusão de idosos na área da educação musical por meio da musicalização com flauta doce e o canto coral	Artigo	Jovenildo da Cruz Lima, 2016	Vitória - ES	Analisar a prática de inclusão de pessoas acima dos 60 anos por meio da musicalização com flauta doce, bem como o canto coral, buscando identificar possibilidades para a inclusão do idoso no âmbito da educação musical.	Estudo de caso	Observação, Entrevista	Professores de Música Alunos (Idosos)
Inclusão de idosos na área da educação musical por meio da musicalização com flauta doce e o canto coral	Artigo	Jovenildo da Cruz Lima, 2016	Vitória - ES	Analisar a prática de inclusão de pessoas acima dos 60 anos por meio da musicalização com flauta doce, bem como o canto coral, buscando identificar possibilidades para a inclusão do idoso no âmbito da educação musical.	Estudo de caso	Observação, Entrevista	Professores de Música Alunos (Idosos)
Educação musical com idosos: potencialidades e contribuições	Artigo	Marcelo Nogueira Mattos, 2016	Rio de Janeiro - RJ	Investigar as potencialidades e contribuições da educação musical para os idosos.	Pesquisa de Campo (Intervenção)	Entrevistas semiestruturadas	Pessoas idosas
Música e terceira idade: a aprendizagem da música e a qualidade de vida de idosos	TCC	Eliana Carlo Nogueira, 2017	Atibaia - SP	Expor os benefícios da aprendizagem da música na qualidade de vida dos idosos.	Pesquisa bibliográfica exploratória	Levantamento bibliográfico	Não se aplica
Política de educação musical no brasil: uma lacuna aos idosos	Artigo	Jessé Piveta Balbinoti Thibes; Erickson Rodrigues Do Espírito Santo, 2017	Joaçaba - SC	Analisar as políticas de educação musical no Brasil no período que corresponde à juventude de quem hoje está na maturidade da vida, ou seja, 60 anos ou mais.	Revisão e análise bibliográfica	Levantamento bibliográfico	Não se aplica
O estado da arte nas pesquisas envolvendo eja e educação musical	Artigo	Cristina Rolim Wolffenbüttel; Sita Mara Lopes Sant’anna, 2018	Montenegro - RS	Identificar e discutir sobre o que tem sido pesquisado a respeito da Educação de Jovens e Adultos e divulgado em revistas da área da Música, notadamente a Revista da ABEM e a Revista Opus	Revisão bibliográfica	Levantamento bibliográfico	Não se aplica
Musicalização: memórias, experiências e sensibilidades na terceira idade	Artigo	Hilda Natumei; Silvia Sell Duarte Pillottoii; Mirtes Antunes Locatelli Strapazzon, 2018	Joinville - SC	Analisar as práticas educativas em musicalização na terceira idade, mobilizando memórias e experiências como construção de sentidos e relações com o cotidiano	Cartográfica	Entrevista	Musicalização: Memórias, Experiências E Sensibilidades Na Terceira Idade
Efeitos da improvisação musical como intervenção cognitiva e motora para idosos	Dissertação	Marcelo Rabello dos Santos, 2019	Porto Alegre - RS	Investigar se a improvisação teria efeito positivo no funcionamento executivo e na motricidade de idosos saudáveis	Pesquisa de campo	Entrevista estruturada; Mini mental; Entrevista de engajamento musical (Baseada no MUSE − The Music Use Questionnaire	Pessoas idosas
Educação musical para a terceira idade: experiências sensoriais, motoras e vocais	Artigo	Marlise Doris Xavier Garcia; Ellen De A. B. Stencel, 2020	Hortolândia - SP	Apresentar os fundamentos pedagógicos da educação musical, mostrando metodologias e didáticas diferenciadas para serem usadas na alfabetização musical do adulto	Pesquisa de Campo	Teste	Pessoas entre 45 e 75 anos

Observando as cidades e estados onde estas pesquisas foram realizadas, percebemos uma predominância nos estados do sul e do sudeste brasileiro, com dezenove pesquisas (79,17%), uma menor parte nos estados no centro-oeste, com três pesquisas (12,50%), somente o estado da Bahia da região Nordeste, com duas pesquisas (8,33%) e nenhum estado do Norte do país.

As pessoas idosas foram a maioria dos participantes destas pesquisas, de modo que quinze delas realizaram estudos de campo exclusivamente com esta população. Além destes, três pesquisas envolviam adultos com mais idade e pessoas idosas juntos, duas envolviam professores de música de idosos e cinco trabalhos não tinham participantes em trabalho de campo, ou seja, eram revisões teóricas.

Quanto às metodologias, a mais utilizada nestes estudos foi o estudo de caso, com sete dos trabalhos utilizando esse método. Seis trabalhos utilizaram somente a denominação pesquisa de campo, quatro foram pesquisas de revisão bibliográfica, dois relatos de experiência, uma pesquisa cartográfica, uma pesquisa-ação, uma de survey, uma pesquisa exploratória, um exploratório e um estudo experimental.

Os instrumentos de coletas de dados mais comuns foram relativos à pesquisa qualitativa, tais como entrevistas, diários de campo e observação. Alguns instrumentos mais comuns à pesquisa quantitativa também foram encontrados, como testes, avaliações e formulários, com destaque ao formulário sociodemográfico, ao de autoavaliação e ao de saúde.

Análise quantitativa das palavras

            Os títulos, resumos, objetivos e referências dos artigos foram coletados e separados para a análise no software Iramuteq, objetivando encontrar as palavras mais utilizadas. Nos objetivos gerais, foi feita a análise dos principais verbos (ver), adjetivos (adj) e substantivos (nom) utilizados nos textos. A análise mostrou uma predominância de palavras que envolviam música, pessoa idosa e educação, além de palavras que dizem respeito a pesquisas empíricas, tais como prático, experiência e discussão. Percebemos que as palavras mais utilizadas objetivaram encontrar resultados na área ensino de música, pesquisa, educação e qualidade de vida de pessoas idosas, buscando estudar e trabalhar a educação musical com esta faixa etária, conforme mostram os quadros a seguir:

Quadro 1 - Palavras nos objetivos

Quadro 2 - Palavras nos objetivos

Nos títulos das pesquisas, foram analisados os principais verbos (ver), adjetivos (adj) e substantivos (nom) utilizados nos textos. A predominância também ocorreu com palavras relacionadas à educação, música, pessoa idosa e pesquisas empíricas, como experiência, coral, oficina. Foram achadas as seguintes palavras:

Quadro 3 - Palavras nos títulos

Quadro 4 - Palavras nos títulos

            Após a passagem de todas as referências bibliográficas na análise do software Iramuteq, foi revelado que os verbos mais citados estavam relacionados com o ensino, o envelhecimento e experiências, como “cantar”, “ensinar”, “aprender”, “envelhecer”, e “educar”. É possível perceber uma perspectiva em que a experiência, expressão e a partilha são valorizadas no fazer e aprender musical. Também houve significante presença de palavras que remetem à ideia de experiência e superação, tais como “continuar”, “crer”, “agir”, “descobrir”, “falar”, “dispor”, “viver” e “recuperar”, mostrando características do aprendizado nesta fase da vida, ajudando assim a caracterizar os aspectos da educação musical com estas pessoas. Tais verbos foram:

Quadro 5 - Verbos nas referências parte 1

Quadro 6 - Verbos nas referências parte 2

Nos resumos de todos os 24 trabalhos, foram analisados os substantivos, verbos e adjetivos mais utilizados. A maioria se relacionava à música, à experiência empírica, ao social e ao aprendizado. Houve a predominância de “musical”, “idoso”, “prático”, “adulto”, “contribuir”, “realizar”, “social”, “apresentar”, dentre outros. Isso nos mostra que os resumos e palavras-chave falam a respeito de pesquisas práticas e qualitativas em grupo com pessoas idosas, com intervenções e estudos de campo na área de Educação Musical, em semelhança com os títulos e objetivos da pesquisa. Foram encontradas as seguintes palavras, conforme mostrado nestes quadros abaixo, com suas frequências e tipo:

Quadro 7 - Palavras nos resumos parte 1

Quadro 8 - Palavras nos resumos parte 2    

Atividades realizadas

As atividades realizadas nas pesquisas envolveram de forma significativa a musicalização da pessoa idosa, explorando a expressão e descoberta sonora, o movimento corporal, o canto, a tocar instrumentos, compor e escutar música. Os contextos foram principalmente o canto coral e aulas de música em grupo, e os principais locais foram centros de vivências da pessoa idosa, projetos de extensão em universidades e também Instituições de Longa Permanência. Em cinco pesquisas não foram feitas intervenções, tendo sido estudos unicamente bibliográficos:

Quadro 9 - Pesquisas unicamente bibliográficas

NOME	AUTOR/ANO	ATIVIDADES
Música e terceira idade: a aprendizagem da música e a qualidade de vida de idosos	NOGUEIRA, 2017	Pesquisa bibliográfica a respeito das relações entre aprendizagem musical e qualidade de vida da pessoa idosa.
Terceira idade e música: perspectivas para uma educação musical	SOUZA; LEÃO, 2006	Revisão bibliográfica a respeito de perspectivas de educação musical com pessoas idosas
Ensino e aprendizagem musical com idosos: situação do campo no banco de teses da capes	JÚNIOR, 2012	Levantamento de pesquisas sobre educação musical de pessoas idosas no banco de dados da Capes
Política de educação musical no brasil: uma lacuna aos idosos	THIBES; SANTO, 2017	Pesquisa bibliográfica sobre política de educação musical no Brasil em relação à pessoa idosa
A formação do professor de música e sua atuação com alunos idosos: que saberes são necessários?	RODRIGUES, 2013	Pesquisa bibliográfica sobre os saberes necessários para a educação musical com pessoas idosas

Cinco pesquisas buscaram observar o aprendizado da pessoa idosa em cursos regulares de música. Tais pesquisas estão descritas no quadro a seguir:

Quadro 10 - Pesquisas que observaram o aprendizado da pessoa idosa em cursos regulares de música

NOME	AUTOR/ANO	ATIVIDADES
A relação do idoso com o aprendizado musical	BERGMANN, 2012	Estudo da participação de pessoas idosas em um curso de música que envolvia teoria musical, instrumentos, percepção e regência
Aprendizagem musical na maturidade: diálogo entre teoria e prática	CIRINO, 2010	Foram ministradas aulas de musicalização com pessoas idosas em um curso de extensão da UFMG, realizando atividades que objetivavam a aquisição de percepções e habilidades básicas no campo da música, a partir do treino auditivo, exercício de solfejo, leitura rítmica e escrita musical
Educação musical com idosos: potencialidades e contribuições	MATTOS, 2016	Estudo com oito idosos que fizeram aula de canto em uma escola particular situada na cidade do Rio de Janeiro
O estado da arte nas pesquisas envolvendo EJA e educação musical	WOLFFENBÜTTEL; SANT’ANNA, 2018	Busca de estudos a respeito da educação musical na EJA envolvendo adultos e pessoas idosas
Educação musical na maturidade: um estudo com adultos médios	CORRALES, 2009	Entrevistas com pessoas idosas e adultos médios que fazem aulas de instrumento, a respeito de suas motivações para o estudo

A flauta doce foi um instrumento utilizado para fins de musicalização a pessoa idosa em duas pesquisas. Tais pesquisas estão descritas no quadro abaixo:

Quadro 11 - Pesquisas sobre musicalização utilizando a flauta doce

NOME	AUTOR/ANO	ATIVIDADES
A flauta doce em um processo de musicalização na terceira idade	BUENO, 2008	Aulas de musicalização e flauta doce com idosos na Associação dos Idosos do Brasil - AIB em Goiânia - GO
Inclusão de idosos na área da educação musical por meio da musicalização com flauta doce e o canto coral	LIMA, 2016	Aulas de musicalização com pessoas idosas por meio da flauta doce e o canto coral

As atividades de musicalização, de maneiras variadas, foram trabalhadas em sete pesquisas. Tais pesquisas estão descritas no quadro abaixo:

Quadro 12 - Pesquisa que trabalharam atividades de musicalização

NOME	AUTOR/ANO	ATIVIDADES
Coral Canto que Encanta: um estudo do processo de educação musical com idosos em Madre de Deus, região metropolitana de Salvador, Bahia	FIGUERÊDO, 2009	Atividades de musicalização no canto coral com pessoas idosas, dividindo os ensaios em duas partes: aquecimento (com atividades de musicalização, preparação vocal, brincadeiras, etc.) e Repertório
Coro–Cênico, uma alternativa para musicalização de idosos	CARVALHO, 2016	Foram observadas as atividades em um coro cênico com pessoas idosas, com atividades de teatro, musicalização e canto
Oficinas artísticas na Universidade Aberta para a terceira idade: contribuições para a qualidade de vida de idosos	MAGNABOSO; MARTINS, 2015	Oficinas de teatro musical e musicalização com pessoas idosas
Educação musical para a terceira idade: experiências sensoriais, motoras e vocais	GARCIA; STENCEL, 2020	Aulas de musicalização com idosos, com atividades de audição, sensibilização, fenômeno sonoro, as propriedades do som, o ritmo com o uso de materiais de sucata e a dança como expressão corporal e sensibilização
Ter tempo para aprender música: experiências vividas e compartilhadas por aposentados	MATA, 2014	Entrevistas com aposentados a respeito das experiências musicais vividas e compartilhadas por eles e atividades de musicalização
Educação musical e musicoterapia: um relato de experiência de estágio com a terceira idade	ASNIS; MACHADO, 2011	Atividades musicais de musicoterapia e educação musical com pessoas idosas com necessidades especiais na Unidade Saúde Escola da Universidade Federal de São Carlos
A educação musical na terceira idade: uma proposta metodológica de sensibilização e iniciação à linguagem musical	LUZ, 2005	Pesquisa de campo de ensino de música, com sensibilização e iniciação à linguagem musical, vivenciada por grupos de idosos

As atividades de apreciação musical foram a temática principal de três pesquisas. Tais pesquisas estão descritas no quadro a seguir:

Quadro 13 - Pesquisas que focaram na apreciação musical

NOME	AUTOR/ANO	ATIVIDADES
Música e idosos: a relação ensino/aprendizagem em três oficinas de música na cidade de São Paulo	CONCEIÇÃO, 2013	Observação de oficinas de escuta musical e canto coral com idosos
Música, memória autobiográfica e idosos: interfaces de uma pesquisa experimental na educação musical	JÚNIOR, 2016	Atividades de apreciação musical com idosos, de músicas de suas épocas
Musicalização: memórias, experiências e sensibilidades na terceira idade	NATUMEI; PILLOTTOII; STRAPAZZON, 2018	Atividades de musicalização e apreciação musical com idosos em um Centro de Artes e três oficinas de musicalização no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).

Dois trabalhos se concentraram no tema da composição musical. Tais pesquisas estão descritas no quadro abaixo:

Quadro 14 - Pesquisas que focaram na composição musical

NOME	AUTOR/ANO	ATIVIDADES
Efeitos da improvisação musical como intervenção cognitiva e motora para idosos	SANTOS et al., 2019	Composições musicais com pessoas idosas por meio da improvisação em instrumentos de percussão
Composição musical com idosos: re-arranjando afelicidade	FUGIMOTO; BEINEKE, 2014	Atividades de composição musical com um grupo de canto em um Centro de Convivência de Idosos.

A análise das atividades desenvolvidas nas pesquisas mostrou uma prevalência de estudos de campo (79,17%), e uma minoria de estudos unicamente bibliográficos (20,83%). Cinco pesquisas focaram em atividades de apreciação e composição musical, enquanto sete delas desenvolveram, além dessas, outras atividades de musicalização, e duas trabalharam a musicalização com flauta doce.

Podemos observar, com isso, que os estudos desenvolveram atividades de variadas em educação musical, explorando a técnica, a composição, a escuta, a performance e o conhecimento cultural musical. Tais atividades corroboram com a abordagem C(L)A(S)P, cunhada pelo educador musical Keith Swanwick (1979), que afirma que um ensino de música abrangente deve envolver atividades de composição, performance e apreciação, apoiados pelo ensino da técnica e os estudos literários.

Considerações finais

Com este estudo, pudemos ter um vislumbre do que foi produzindo sobre Educação Musical com pessoas idosas no Brasil após a promulgação do Estatuto do Idoso, em 2003. Essas pesquisas têm explorado uma variedade de aspectos e abordagens, buscando compreender os benefícios da música na vida dos idosos e desenvolver práticas pedagógicas adequadas para esse público. Alguns dos principais aspectos observados nessas pesquisas foram os benefícios cognitivos, investigando os efeitos da Educação Musical na saúde cognitiva dos idosos, mostrando que o aprendizado e a prática musical podem estimular habilidades como memória, atenção, linguagem e raciocínio, contribuindo para a preservação cognitiva e a melhoria da qualidade de vida.

Os estudos também mostraram benefícios emocionais e sociais, já que a música tem o poder de despertar emoções e promover a interação social, podendo ser uma fonte de prazer, expressão emocional e conexão com os outros, auxiliando no combate à solidão, isolamento e depressão entre os idosos. Também vimos práticas pedagógicas inclusivas, adaptadas às necessidades e capacidades dos idosos, envolvendo a valorização das experiências musicais prévias, o respeito às individualidades e o estímulo à participação ativa, visando promover o aprendizado e a autonomia. Muitas das práticas musicais presentes nos estudos mostraram o potencial da Educação Musical como uma intervenção terapêutica, especialmente aqueles com condições de saúde mental ou física comprometidas, revelando os efeitos positivos da música na redução do estresse, na melhoria do humor, na estimulação motora e na reabilitação, além de contribuir para o bem-estar.

Como vimos, atividades que promovem a inclusão de idosos, tal como o ensino de música, devem ser uma prioridade nos tempos atuais. A Educação Musical, seja no contexto formal ou não-formal, promove a inclusão social, o envelhecimento ativo e a qualidade de vida, além de estimular a expressão artística e a interação social, com formação de grupos musicais, promovendo a colaboração e a troca.

Além disso, a educação musical com pessoas idosas precisa ser acessível, adaptando as atividades musicais às necessidades e capacidades individuais dos participantes. Isso pode incluir o uso de instrumentos adaptados, técnicas de ensino diferenciadas e a valorização de repertórios e estilos musicais significativos para os participantes. Muitas instituições, como universidades, escolas de música, centros comunitários e ONGs, têm desenvolvido projetos de educação musical com idosos, oferecendo aulas, oficinas, corais, grupos instrumentais e outras atividades musicais. Esses projetos também costumam contar com a colaboração de profissionais da música, como músicos, professores e pesquisadores, que buscam adaptar suas práticas pedagógicas para atender às necessidades e interesses dos idosos.

No entanto, é importante ressaltar que a educação musical com pessoas idosas em um contexto como o do nosso país pode ainda enfrentar desafios, como a falta de recursos financeiros e estruturais, a falta de formação específica para os profissionais envolvidos e a necessidade de maior articulação entre as instituições e projetos existentes. Também há inda o preconceito de que esta população é incapaz e inválida, que eles não aprendem ou que não vale a pena investir atividades musicais com esta população. Os estudos encontrados mostraram, contudo, a importância e o potencial da educação musical para a qualidade de vida dos idosos.

Apesar de haver um número considerável de dissertações de mestrado que tratam da Educação Musical de pessoas idosas no Brasil, a pesquisa não encontrou nenhuma tese sobre o assunto, revelando uma lacuna a ser preenchida em pesquisas ao nível de doutorado a respeito disso. Os resultados também revelaram que a maior parte dos estudos se concentram a região sul e sudeste do Brasil, havendo uma necessidade de envolver pessoas idosas e pesquisadores de outras regiões do país.

Quanto à população, esta revisão de escopo mostrou que os estudos envolveram, em sua maior parte, pessoas idosas. Alguns envolveram professores de música que trabalham com essa faixa etária, o que também é importante, já que são estes educadores quem trabalham o ensino de música com essa população, atuando diretamente na formação e transformação deles.

A revisão mostrou que os estudos de campo tiveram maior presença como metodologia, ou seja, os pesquisadores realmente trabalharam e observaram a população na construção da pesquisa, tendo a abordagem qualitativa como quase a totalidade. Também foram encontrados alguns estudos somente bibliográficos, que também podem ajudar a trazer luzes sobre o ensino de música com essa faixa etária.

A análise quantitativa das palavras dos títulos, resumos, objetivos e referências dos estudos revelou que estas pesquisas visam, em sua maioria, o contexto social, tendo palavras como educação, idosos, música forte representatividade, envolvendo contextos como o canto coral, as aulas de música e locais como centro de vivências e casas de acolhimento de pessoas idosas. Observamos que estes estudos buscaram soluções e compreensões a respeito de aprendizados musicais que vêm acontecendo com idosos no contexto social, real e atual, com ênfase no fazer musical coletivo, envolvendo qualidade de vida e inclusão.

            Os contextos dos estudos foram principalmente o canto coral e as aulas de música em grupo, revelando uma gama de possibilidades de desenvolvimento de estudos em Educação Musical com pessoas idosas. A variedade de locais onde as pesquisas foram realizadas, indo desde Instituições de Longa Permanência para Idosos a centros de vivência e cursos de música, mostram que a Educação Musical pode ser desenvolvida com esta população em diversos contextos, indo além do ensino tradicional de conservatórios e aulas particulares de instrumentos. Assim, ela pode acontecer de maneira mais democrática, com possibilidades em diversas instituições e espaços, permitindo a descoberta, a sensibilização e a criação sonora.

As intervenções realizadas nas pesquisas mostraram propostas de atividades variadas em Educação Musical, envolvendo a composição, a performance e a apreciação, indo de acordo com a proposta de Educação Musical da abordagem C(L)A(S)P, de Keith Swanwick (1979). Isso mostra que estes conteúdos podem ser desenvolvidos com idosos, não somente com crianças ou jovens no contexto escolar.

Em resumo, foram conduzidas pesquisas bibliográficas e levantamentos de estudos sobre educação musical para idosos, estudos da participação de idosos em cursos e aulas de música, entrevistas com idosos e adultos sobre suas motivações musicais, além de uma variedade de atividades práticas de ensino musical, como aulas de musicalização, instrumentos, canto coral, coro cênico e composição. Diversas atividades visavam explorar as relações entre aprendizagem musical e qualidade de vida, adquirir habilidades musicais básicas, promover a sensibilização musical, proporcionar experiências de apreciação musical, expressão corporal e melhorar a saúde e o bem-estar dos participantes.

Podemos apontar aqui a importância da experiência musical dos idosos, reconhecendo o conhecimento prévio e incentivando-os a compartilhá-los, como tais como as canções antigas. Devemos adaptar as atividades musicais às necessidades físicas, cognitivas e sensoriais, utilizando instrumentos e arranjos adaptados. Para tal, é possível utilizar uma variedade de atividades para atender às preferências individuais e proporcionar uma experiência diversificada, além de criar um ambiente inclusivo, encorajando a participação ativa, a colaboração e formação de grupos.

As aulas e oficinas precisam ser preparadas adequadamente, com professores sensíveis ao ritmo de aprendizado. A criação musical pode ser estimulada, promovendo composição, improvisação e reinterpretação de canções conhecidas. Apresentações e encontros musicais são importantes para que os idosos compartilhem seus aprendizados e se conectem com a comunidade, com a ajuda de parcerias com instituições locais para obter recursos e oportunidades de participação.

            Essa revisão de escopo mostrou que o campo da Educação Musical com pessoas idosas no Brasil precisa ainda de mais estudos, buscando envolver esta população no fazer e aprender musical nos mais diversos ambientes, tais como espaços sociais, projetos universitários, corais e igrejas. As limitações encontradas neste estudo foram estar concentrado no contexto brasileiro, e também não envolver a aprendizagem musical que pode ocorrer em atividades musicais grupais variadas e fora do contexto da Educação Musical como principal objetivo, como uma orquestra, banda ou coral, ou até mesmo as mídias., como rádio, TV e internet.

Financiamento

O presente trabalho foi realizado com apoio da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, S. M. L. Envelhecimento ativo: desafio do século. São Paulo: Andreoli, 2008.

AROMATARIS, E.; MUNN, Z. JBI reviewer'smanual. JBI, Joanna Briggs Institute, 2020. doi:https://doi.org/10.46658/JBIRM-19-01

ASNIS, V. P.; MACHADO, D. D. Educação musical e musicoterapia: um relato de experiência de estágio com a terceira idade. São Carlos: UFSCAR, 2011.

BALDIN, T.; MAGNABOSCO-MARTINS, C. R. Oficinas artísticas na universidade aberta para a terceira idade: contribuições para a qualidade de vida de idosos. Ponta Grossa: Revista Conexao UEPG, 2015.

BERGMANN, C. G. A relação do idoso com o aprendizado musical. São Paulo: Dissertação apresentada ao Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista, 2012.

BRASIL. Estatuto do idoso. 2018. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/pessoa-idosa/biblioteca/estatuto-do-idoso-2018-edicao-15-anos.pdf. Acesso em: 01 out. 2020.

BUENO, M. R. A flauta doce em um processo de musicalização na terceira idade. Goiânia: dissertação apresentada ao curso de mestrado em música da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, 2008.

CARVALHO, B. E. A. Coro–cênico, uma alternativa para musicalização de idosos. Rio de Janeiro: ABEM, 2016.

CIRINO, A. C. Aprendizagem musical na maturidade: diálogo entre teoria e prática. Belo Horizonte: PER MUSI, 2015. DOI:10.1590/permusi2015a3107

CHACHAMOVICH, C. Qualidade de vida em idosos: desenvolvimento e aplicação do módulo WHOQOL-OLD e teste do desempenho do instrumento WHOQOL-BREF em uma população idosa brasileira. Dissertação de mestrado – programa de pós-graduação em ciências médicas: psiquiatria, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.

CONCEIÇÃO, K. M. L. Música e idosos: a relação ensino/aprendizagem em três oficinas de música na cidade de São Paulo. São Paulo: dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Música do Instituto de Artes da UNESP, 2013.

CORRALES, M. E. D. Educação musical na maturidade: um estudo com adultos médios. Porto Alegre: Trabalho de conclusão de curso de música para obtenção do título de Licenciatura em Música-ênfase Piano da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2009.

FIGUERÊDO, M. S. Coral canto que encanta: um estudo do processo de educação musical com idosos em madre de deus, região metropolitana de Salvador, Bahia. Salvador: Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Música, Escola de Música, Universidade Federal da Bahia, 2009.

FONTERRADA, M. T. O. Educação musical: propostas criativas. 2012. Disponível em: http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/Marisa_Foterrada.pdf. Acesso em: 01 out. 2020.

FUGIMOTO, T. A. C. Composição Musical Com Idosos: Re-arranjando A Felicidade. Blumenau: ABEM, 2014.

GARCIA, M. D. X.; STENCEL, E. A. B. Educação musical para a terceira idade: experiências sensoriais, motoras e vocais. Belo Horizonte: Poisson, 2020.

IBGE. Projeção da população do Brasil. 2018. Disponível em

https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/. Acesso em: 01 out. 2020.

JÚNIOR, J. D. S. Música, memória autobiográfica e idosos: interfaces de uma pesquisa experimental na educação musical. Curitiba: SIMPOM, 2016.

___________. Ensino e aprendizagem musical com idosos: situação do campo no banco de teses da capes. Salvador: SIMPOM, 2012.

KATER, C. Porque música na escola. In: JORDÃO, G; ALLUCCI R. R.; MOLINA S.; TERAHATA A. M. Música na escola. 1 ed. São Paulo: Allucci& Associados Comunicações, 2012.

LIMA, J. C. Inclusão de idosos na área da educação musical por meio da musicalização com flauta doce e o canto coral. Rio de Janeiro: ABEM, 2016.

LUZ, M. C. A educação musical na terceira idade: uma proposta metodológica de sensibilização e iniciação à linguagem musical. São paulo: dissertação apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Gerontologia, 2005.

MATA, H. R. F. Ter tempo para aprender música: experiências vividas e compartilhadas por aposentados. Uberlândia: Dissertação submetida como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Artes, apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Artes/Mestrado do Instituto de Artes da Universidade Federal de Uberlândia, 2014.

MATTOS, L. M. Educação musical com idosos: potencialidades e contribuições. Rio de Janeiro: ABEM, 2016.

Natumei, H.; Pillottoii, S. S. D.; Strapazzoniii, M. A. L. Musicalização: memórias, experiências e sensibilidades na terceira idade. Santa Maria: Revista Digital do LAV, 2018. http://dx.doi.org/10.5902/1983734830932

NOGUEIRA, C. E. Música e terceira idade: a aprendizagem da música e a qualidade de vida de idosos. Atibaia: Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel e/ou Licenciado em Artes Visuais pelas Faculdades Atibaia, 2017.

OMS, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE - Envelhecimento ativo. Um projeto de política de saúde. Madrid: OMS,2006. [Consultado em 01 de agosto de 2021]. Disponível em: http://www.crdeunati.uerj.br/doc_gov/destaque/Madri.doc. Acesso em: 20 out. 2020.

RODRIGUES, E. D. R. A formação do professor de música e sua atuação com alunos idosos: que saberes são necessários? Londrina: revista da ABEM, 2013.

SANTOS, M. R.; KRUG, M. S.; BRANDÃO, M. R.; LEON, V. S.; MARTINOTTO; FONSECA, J. D.; BRASIL, A. C.; MACHADO, A. G.; OLIVEIRA, A. A. Efeitos da improvisação musical como intervenção cognitiva e motora para idosos. Campinas: Psicologia do desenvolvimento, 2019.

SOUZA, C. M.; LEÃO, E. Terceira idade e música: perspectivas para uma educação musical. In: XVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM), Brasília, 2006. https://doi.org/10.1590/1982-0275202138e190132.

SWANWICK, Keith. A Basis for Music Education. London: Routhedge, 1979.

THIBES, J. P. B.; SANTO, E. R. E. Política de educação musical no brasil: uma lacuna aos idosos. Joaçaba: Unoesc & Ciência, 2017.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

__________. Psicologia da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

WOLFFENBÜTTEL, C. R; SANT’ANNA, S. M. L. O estado da arte nas pesquisas envolvendo ejae educação musical. Rio de Janeiro: 26º Seminário Nacional de Arte e Educação, 2018.

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0)