A pesquisa qualitativa em educação em tempos de pandemia: aplicação do grupo focal online sob o aporte da psicologia histórico-cultural

 

La investigación cualitativa en educación en tiempos de pandemia: aplicación del grupo focal en línea bajo la perspectiva de la psicología histórico-cultural.

 

Qualitative research in education in pandemic times: the application of the focal group online under the support of cultural-historical psychology

 

 

Silvia Segovia Araujo Freire

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Corumbá, MS, Brasil.

ssafsm@gmail.com     

 

Adaline Franco Rodrigues

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil.           

adalinefranco@gmail.com        

                       

Sonia da Cunha Urt

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil.

surt@terra.com.br

 

Recebido em 18 de agosto de 2022

Aprovado em 27 de julho de 2023

Publicado em 29 de fevereiro de 2024

 

RESUMO

Considerando que a pandemia da COVID-19 gerou incertezas, angústias e dúvidas quanto às diferentes atividades do sujeito, limitando até mesmo as possibilidades de pesquisas e a modalidade para coleta de dados, a internet transformou-se no meio propulsor e facilitador para a continuidade dos estudos. Este trabalho tem como objetivo analisar as possibilidades da aplicação online do método do grupo focal para coleta de dados nas pesquisas qualitativas em educação e sua contribuição para a continuidade dos estudos em tempos de pandemia, além da utilização da teoria da Psicologia Histórico-Cultural para a análise e discussão dos dados, por entender as relações e a apropriação do conhecimento como formas peculiares no desenvolvimento e na emancipação do sujeito.

Palavras-chave: Pesquisa qualitativa em Educação; Aplicação online de Grupo focal; Pandemia; Psicologia Histórico-Cultural.

 

RESUMEN

 Considerando que la pandemia de COVID-19 provocó incertidumbre, angustia y dudas, en lo que respecta a las diferentes actividades del sujeto, dado que limitó incluso la posibilidad de realizar investigaciones y el modo de recoger datos, Internet se convirtió en el medio propulsor y facilitador para dar continuidad a los estudios. Este trabajo tiene como objetivo analizar la posibilidad de aplicar el método de grupo focal trabajando de forma remota para realizar la recogida de datos en investigaciones cualitativas en educación y su contribución para dar continuidad a los estudios en tiempos de pandemia,  además la utilización de la teoría de la Psicología Histórico-Cultural para analizar y  discutir los datos, por entender las relaciones y la apropiación del conocimiento, como formas peculiares en el desarrollo y la emancipación del sujeto.

Palabras clave: Investigación cualitativa en Educación; Aplicación en línea de Grupo focal; Pandemia; Psicología Histórico-Cultural.

 

ABSTRACT

Considering that the COVID-19 pandemic generated uncertainties, anxieties and doubts regarding the different activities of the subject, even limiting the possibilities of research and its ways of collecting data, the internet has become the driving force and facilitator for the continuity of studies. The paper aims to analyze the possibilities of online application of the focus group method for data collection in qualitative research in education and its contribution to the continuity of studies in times of pandemic, besides the use of the theory of historical-cultural psychology for the analysis and discussion of data, as it views the relations and the appropriation of knowledge as peculiar forms in the subject’s development and emancipation.

Keywords: Qualitative research in Education; Focus group; Pandemic; Cultural-Historical Psychology.

 

 

Introdução

Com o surgimento da pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), cuja doença é conhecida como COVID-19, o mundo experiencia, hoje, uma situação atípica. A infecção carrega, além das inseguranças, o medo, a dor, a fadiga e preocupações com as atividades essenciais que contribuem para o desenvolvimento humano, entre elas, a educação.

A educação é fator fundamental para a apropriação do conhecimento, o desenvolvimento das funções psicológicas superiores e a difusão da cultura. Conforme Vigotski[1], o início da mudança individual encontra-se na sociedade e na cultura; o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas (VIGOTSKI, 1991).

A partir das mudanças exigidas no cotidiano, devido à pandemia da COVID-19, algumas atividades tiveram que se recriar, para continuar a existir e a contribuir com o processo de sobrevivência humana e cultural. Em meio a elas, estão as pesquisas em educação, que se apropriaram da tecnologia, a fim de propiciar a continuidade do processo de coleta de dados, por meio das atividades online.

Em seu conceito mais abrangente, entendemos a pesquisa como uma afluência de operações ou atividades que objetivam desvendar novos conhecimentos em vários domínios, principalmente no âmbito científico (GIL, 1999; CERVO; BERVIAN, 2002). Damasceno et al. (2014) infere que, no âmbito científico, a pesquisa abarca um processo sistemático de busca e análise que procura investigar e/ou compreender uma realidade, um contexto, ou um problema.

Para se desenvolver uma pesquisa, é imprescindível a escolha dos métodos de coleta das informações e da abordagem teórica que proponha uma análise e uma discussão fundamentadas em uma teoria consistente. Os métodos podem ser qualitativos ou quantitativos e diferem entre si em termos da maneira como abordam o fenômeno, enquanto a teoria deve auxiliar uma apreciação concisa e possível análise crítica dos resultados alcançados.

De acordo com Pessôa, Rückert e Ramires (2017), a pesquisa qualitativa tem apresentado prioridade na produção de conhecimentos nas humanidades e em áreas afins, engrandecida por meio de difusão de cultura científica, aliada à tecnologia de tratamento dos dados, por meio de softwares, no processamento e na sistematização. Essa prática deixa desvanecer a visão de que informações qualitativas não se adequam ao uso de tecnologias.

Em relação à teoria, Gomes, Silva e Alfredo (2018) explicitam que, para compreender o ser humano como síntese de inúmeras relações, é preciso que se levem em consideração aspectos históricos e culturais da vida material que o constituem. Os autores realçam que a Psicologia Histórico-Cultural percebe o ser humano como um ser ativo, que se constitui na história, atuando sobre as situações que vive, produzindo cultura e sendo modificado por essas mesmas situações histórico-sociais.

A pesquisa qualitativa, por meio da aplicação do método do grupo focal online, aliada a uma teoria solidificada, permite reinventar e dar continuidade aos estudos em educação, discutir e explicar os achados e ampliar as possibilidades de conhecimentos. Assim, este trabalho propõe-se a analisar as possibilidades da aplicação online do método do grupo focal para a coleta de dados nas pesquisas qualitativas em educação e sua contribuição para a continuidade dos estudos em tempos de pandemia, sob a perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural (PHC).

 Estruturamos o texto de forma a expor, primeiramente, a relevância social da pesquisa qualitativa em educação, a partir do levantamento teórico de renomados estudiosos da abordagem qualitativa em pesquisa (BOGDAN; BIKLEN, 1994, VILELA, 2003, FERREIRA; SOUZA, 2004, OLIVEIRA et al., 2013, ZANETTE, 2017, CEDRO; NASCIMENTO, 2017), com o objetivo de conceituá-la e contextualizá-la frente ao cenário de pesquisas no Brasil pré-pandemia.

Em seguida, propomos algumas reflexões para a compreensão do sujeito à luz teórico-metodológica da Psicologia Histórico-Cultural, essenciais para as Pesquisas em Educação, lançando mão de alguns conceituados estudiosos da Teoria (ZANELLA et al., 2007, TEIXEIRA, 2015, ROMANELLI, 2011, VIOTTO FILHO, 2007, DUARTE et al., 2020).

O terceiro tópico trata de alguns vieses da aplicação do grupo focal online na pesquisa em educação, diante do cenário pandêmico, com enfoque nas ponderações críticas e dialéticas, provocando, no leitor, a compreensão do ser humano como sujeito constituído histórico e culturalmente, com o embasamento teórico de Gatti (2005), Gomes (2005), Abreu; Baldanza; Gondim (2009); Damasceno et al. (2014), Mello; Cruz (2018) e Duarte et al. (2020). 

As últimas argumentações deste artigo, que não almejam esgotar o tema, mas sugerir mais discussões e a proposição de futuras, problematizam a operacionalização do grupo focal online frente à nossa compreensão de mundo embasada na Teoria Histórico-Cultural, atrelada às vivências pessoais como profissionais e pesquisadoras em Educação em tempos de pandemia.

Pretendemos desvelar algumas inquietudes que as pesquisas remotas podem gerar e dialogar sobre mecanismos de pesquisa-ação transformadora, sem desviar os olhos da nossa atual conjuntura, marcada por uma pandemia inserida em uma sociedade de sistema político e econômico ultraliberalista e capitalista. Há, em nosso país, um cenário de desigualdades sociais e culturais a superar diariamente, que influencia diretamente nos aspectos afetivos, emocionais, motivacionais, nas formas e relações sociais estabelecidas. Desnudam-se entraves no acesso à saúde, à higiene, ao direito de se isolar ou se proteger. Tais óbices agigantam-se, quando se trata do acesso à educação, ao conteúdo digital, às redes de internet, e das condições estruturais a que aluno, professor e pesquisador são submetidos.

Partimos da concepção de que só seremos capazes de superar os obstáculos se seguirmos firmes na prática da pesquisa do ser humano em movimento dialético, pois tanto as pessoas quanto os meios de se fazer pesquisa enfrentam transformações bruscas e requerem atenção e diálogo.

 

A pesquisa qualitativa em educação: seu relevante papel social

Seções secundárias

De acordo com Vilela (2003), o interesse pela abordagem qualitativa nas pesquisas em educação, que foi inicialmente identificada como abordagem sociológica, foi evidenciado nos anos 1960 e 1970. No Brasil, comprovaram-se a expansão e o reconhecimento na facilidade das agências de fomento a projetos de cunho qualitativo e também o acréscimo de volume dessa abordagem de pesquisa nas universidades e centros de pesquisa. A autora também descreve a contribuição inicial de Augusto Comte, ao introduzir a discussão sobre a função social da educação, e de Emile Durkheim, que procurou a relação entre a educação e as manifestações de vida social.

Segundo Zanette (2017), no Brasil as abordagens qualitativas ganharam maior espaço como novas perspectivas para as pesquisas a partir dos anos 1970. Até então, as concepções epistemológicas geravam mais preocupação com o método utilizado do que com o problema a ser estudado no contexto da educação. Por vezes, a pesquisa qualitativa foi descartada, devido à objetividade desejada, por meio da quantificação, como modo de eliminar as distorções associadas à subjetividade do pesquisador.

Bogdan e Biklen (1994) descrevem as especificidades da pesquisa qualitativa:

Utilizamos a expressão investigação qualitativa como um termo genérico que agrupa diversas estratégias de investigação que partilham determinadas características. Os dados recolhidos são designados por qualitativos, o que significa ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e de complexo tratamento estatístico. As questões a investigar não se estabelecem mediante a operacionalização de variáveis, sendo, outrossim, formuladas com o objetivo de investigar os fenómenos em toda a sua complexidade e em contexto natural (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.16).

Os autores também elencam as cinco características principais da pesquisa qualitativa. Contudo, avaliam que não é necessário possuir todas para ser reconhecida como qualitativa. Trata-se de uma questão de grau. As cinco características podem ser assim sistematizadas:

1.              Na investigação qualitativa, a fonte direta de dados é o ambiente natural. O investigador é o instrumento principal, que se desloca e despende grande tempo em escolas, famílias, bairros e outros locais, tentando esclarecer questões educativas.

2.              A investigação qualitativa é descritiva. Os dados recolhidos são em forma de palavras ou imagens, e não de números. Os dados incluem transcrições de entrevistas, notas de campo, fotografias, vídeos, documentos pessoais, memorandos e outros registos oficiais. Os dados são analisados em toda a sua complexidade.

3.              Os investigadores qualitativos zelam mais pelo processo do que pelos resultados. As situações durante a pesquisa são de extrema relevância para as análises.

4.              Os investigadores qualitativos tendem a examinar os dados de forma indutiva. À medida que as observações vão se agrupando, verificam se as hipóteses se confirmam ou não.

5.              O significado é de suma importância na abordagem qualitativa. Os investigadores respeitam o modo como o sujeito dá sentido às suas experiências e à sua vida, e como percebe o seu mundo social.

Em seu estudo sobre a pesquisa qualitativa em educação, Vilela (2003) explana sobre a trajetória da pesquisa social, sua contribuição nas pesquisas educacionais e a influência de diferentes áreas como a Antropologia, a Filosofia e a Sociologia, de países como os Estados Unidos, a Inglaterra e a Alemanha, e de pesquisadores que favoreceram a compreensão do amplo papel da educação para a sociedade.

A contribuição social da educação, a partir das pesquisas qualitativas, também foi verificada por Zanette (2013):

A pesquisa educacional, em boa parte, vai integrar e acompanhar as transformações sociais ocorridas no Brasil, no momento da passagem de um período ditatorial militar para um mais democrático. As pesquisas, especialmente nas dissertações de mestrado e nas teses de doutorado, passam a ser grande fonte de produção de conhecimento, cuja hegemonia do tratamento das questões tem base em teorias de inspiração e tendência “crítico-reprodutivista” (ZANETTE, 2013, p. 157).

Bogdan e Biklen (1994) ressaltam a importância dos dados sociais,

Os levantamentos sociais têm uma importância particular para a compreensão da história da investigação qualitativa em educação, dada a sua relação imediata com os problemas sociais e a sua posição particular a meio caminho entre a narrativa e o estudo científico (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 23).

 

A relação entre a pesquisa em educação e as questões sociais proporcionou a ampliação da discussão do papel da educação na sociedade, dos seus objetos de estudo e colaborou para a qualidade das análises das discussões e dos resultados, a partir de suportes teóricos consolidados.

As pesquisas realizadas com os diferentes temas relacionados à educação possibilitam uma melhor compreensão do ser humano. Alguns autores abordam a especificidade dessas pesquisas, por integrar diferentes e substanciais contextos que envolvem esse campo. Cedro e Nascimento (2017) enfatizam a abrangência da pesquisa educacional para a sociedade:

A pesquisa educacional assume muitas formas distintas e reveste-se de algumas características específicas. Essa situação acontece pelo fato de que pesquisar em Educação significa investigar questões relacionadas aos seres humanos em seu próprio processo de humanização. Isso faz com que a pesquisa educacional compreenda uma diversidade de questionamentos de variadas conotações que tem em comum a relação com o desenvolvimento humano, das comunidades e da sociedade (CEDRO; NASCIMENTO, 2017, p. 13).

 

A pesquisa qualitativa em educação, durante todo o seu processo de validação como metodologia científica, evidenciou a relação direta entre a educação e os fenômenos sociais, patenteando, de forma contundente, a importância da educação, em todo o seu contexto, para a vida do ser humano. 

Na concepção de Oliveira et al. (2013, p. 151), a escola deve ser o local de desempenho da função primordial que lhe é atribuída em uma sociedade: “produzir conhecimento para as pessoas, tendo como ponto de referência o saber científico e o cotidiano”.

Nessa mesma percepção, Ferreira e Souza (2004) assinalam algumas das funções da escola, devido às transformações sociais:

As várias transformações ocorridas na sociedade atual contribuem para que a escola vise a cumprir tarefas como a formação do indivíduo para a vida em sociedade, com desafios relacionados à realidade do aluno, sua cultura, história, objetivando formar indivíduos capazes, diante de situações inusitadas, de serem críticos, relacionando-se à sociedade (FERREIRA; SOUZA, 2004, p. 168).

 

Ferreira e Souza (2004) ainda compreendem que a construção de significados não surge de forma simples. É fundamental que os professores e os pais não pensem em suas crianças como meros ouvintes. A escola deve reconhecê-las como indivíduos sociais, estimulando-as a entender o mundo.

Bogdan e Biklen (1994) citam Walker (1932), que descreveu, como ideia principal, que as crianças e os professores não formam inteligências imateriais, nem máquinas de ensino e de aprendizagem. São seres humanos absolutos, enlaçados em um labirinto complexo de interfaces sociais; a escola é um mundo social, por ser residida por seres humanos.

A educação não desempenha uma única função. Cabe a ela levar em conta o conhecimento prévio do sujeito, e organizá-lo junto ao conhecimento sistemático e científico, para propiciar, ao indivíduo, a construção de um pensamento crítico e consciente. Essa função perpassa os muros da escola. Trata-se de prepará-lo para vida, para viver em uma sociedade onde ainda prevalece a desigualdade e, com isso, fazer do conhecimento uma arma para a sobrevivência. Trata-se de resgatar, preservar e criar novas culturas, compartilhar a história, fazer com que o sujeito participe da construção de uma sociedade democrática.

Assim, as pesquisas em educação enaltecem as diferentes áreas e fenômenos que envolvem o sujeito e a importância da educação, em sua constituição e de toda a sociedade. Esclarecem e ampliam as possibilidades de uma participação ativamente justa do sujeito que, na maioria das vezes, se depara com as disparidades de oportunidades. 

 

Pesquisas em educação: reflexões para a compreensão do sujeito à luz teórico-metodológica da Psicologia Histórico-Cultural

 O percurso selecionado pelo pesquisador para alcançar as respostas ao seu problema engloba a metodologia de pesquisa utilizada, que inclui métodos, técnicas e toda a atuação do pesquisador (TEIXEIRA, 2015).

Ao adotar uma abordagem teórica para analisar os dados de uma pesquisa, o pesquisador deve ter a clareza dos significados, dos conceitos e da forma de perceber e explicar os fenômenos que envolvem o ser humano, por fazer parte desse contexto. Bogdan e Biklen (1994) referem-se à teoria como consistente suporte de compreensão do mundo:

Quando nos referimos a "orientação teórica" ou a "perspectiva teórica", estamos a falar de um modo de entendimento do mundo, das asserções que as pessoas têm sobre o que é importante e o que é que faz o mundo funcionar. Seja ou não explícita, toda a investigação se baseia numa orientação teórica. Os bons investigadores estão conscientes dos seus fundamentos teóricos, servindo-se deles para recolher e analisar os dados. A teoria ajuda à coerência dos dados e permite ao investigador ir para além de um amontoado pouco sistemático e arbitrário de acontecimentos (BOGDAN ; BIKLEN, 1994, p. 52).

 

A adequada escolha dos métodos, metodologias e teorias para a discussão e a análise de dados oriundos das pesquisas é indispensável para a explicação do fenômeno e a compreensão de todo o processo.

A Psicologia Histórico-Cultural buscou, no materialismo histórico-dialético, a sua fundamentação, por compreender as contradições e os constantes movimentos no processo de desenvolvimento humano e o papel da educação em todo esse contexto.

Romanelli (2011) esclarece que Vigotski verificou, no método do materialismo histórico-dialético, a possibilidade do entendimento da formação da psique, que proporcionaria uma compreensão única, genuinamente histórica e social da psique humana.

Zanella et al. (2007) discorrem que a psicologia de Vygotski vem se solidificando no panorama científico, como referência em pesquisas que discutem o processo de construção do sujeito em diferentes contextos e condições sociais, incialmente no contexto educacional. Os autores descrevem como a Psicologia Histórico-Cultural propõe a análise de um conteúdo:

Neste sentido, a Psicologia Histórico-Cultural caracteriza-se pela concepção da realidade como complexa, da interdependência entre fenômenos, da mútua constituição de sujeitos e sociedade. Cada aspecto contemplado na análise, nesse sentido, não é apenas mais um “apêndice” que faz parte de um todo, pois é, ao mesmo tempo, manifestação da totalidade e determinante desta totalidade, pela maneira como se relaciona com os outros aspectos. Por isso, privilegiam-se os movimentos, transições, aquilo que propicia uma compreensão integral dos fenômenos, por contemplar as relações de constituição recíproca desses e da totalidade que os mesmos compõem, e também a gênese das mudanças de qualidade propiciadas por estas íntimas relações (ZANELLA, et al. 2007, p. 28).

 

Viotto Filho (2007) sublinha que a aplicação do instrumental metodológico da Psicologia Histórico-Cultural propicia ao educador, nesse caso, pesquisador, a apreender os fenômenos humanos e sociais mais verdadeiros na sua totalidade de existir e de se manifestar.

Zanella et al. (2007) salientam que Vigotski se preocupou em explicar a necessidade de o método ser pertinente ao objeto e o cuidado que o pesquisador deve ter com a realidade. Somam-se a esses cuidados a análise de todo o processo e a primordialidade de entendê-lo a partir da sua origem, não apenas o fato em si. A relação entre o objeto, os caminhos e os resultados de uma pesquisa incidem no método de análise utilizado e descreve as contribuições do método criado pelo autor:

 

[...] as contribuições metodológicas de Vygotski são aqui apresentadas em razão de sua atualidade e pertinência, posto o reconhecimento por parte deste autor da inexorável relação entre o que é objeto de pesquisa, os caminhos trilhados na investigação e a produção de conhecimentos daí decorrente, aspectos esses amalgamados pela orientação teórico-epistemológica assumida pelo pesquisador, seja de modo explícito ou não (ZANELLA, et al. 2007, p. 32).

 

Para que uma pesquisa contribua realmente com a apropriação de novos conhecimentos, o método utilizado deve facilitar ao sujeito o entendimento exato do escopo do estudo.  Romanelli (2011) estabelece que o conhecimento não é somente uma cópia, mas uma interpretação do concreto – é o aprendizado.

Ao conduzir uma pesquisa, o pesquisador deve definir um objeto e optar por uma teoria e procedimentos que o auxiliarão na investigação. Cedro e Nascimento (2017) assinalam que a utilização de estratégias de investigação e de métodos de análise deve entrelaçar as suas pesquisas:

As estratégias metodológicas de investigação compreendem um conjunto de habilidades, suposições e práticas que devem ser empregadas pelo pesquisador e que refletem o movimento que vai das concepções teóricas ao mundo empírico e vice-versa. Em outras palavras, as estratégias metodológicas de investigação colocam as concepções de pesquisa em movimento (CEDRO; NASCIMENTO, 2017, p. 20).

 

De acordo com Zanella et al. (2007), o desafio metodológico encontra-se na compreensão dos processos psicológicos humanos mais simples, que se dá pela compreensão dos processos mais complexos. Duarte et al. (2020) elencam as cinco ideias principais da teoria de Vigotski e a forma como as relações sociais e a cultura interferem no desenvolvimento humano.

Considerando as cinco ideias centrais que compõem seus postulados: 1) apresenta o ser humano como resultado da interação sociocultural e do seu eu; 2) propõe que o meio, a cultura e a história modificam o ser humano e as suas concepções; 3) estende essas mudanças para as estruturas biológicas, anteriormente consideradas imutáveis; 4) apresenta a linguagem como mediadora entre o mundo interno (as percepções individuais) e o mundo externo (como o ser humano vê à sua volta) e, 5) apresenta a consciência humana como produto cultural e histórico, mutável e influenciável (DUARTE et al. 2020, p. 8583).

As pesquisas qualitativas em educação envolvem seres humanos e propõem uma análise das relações que contribuem para o desenvolvimento e o aprendizado dos sujeitos. Dominar um aporte teórico metodológico que auxilie o pesquisador durante todo o percurso, que contribua para a compreensão do objeto, a explicação e a discussão dos resultados são, sem dúvida, um meio eficiente de subsidiar as pesquisas e explicar os fenômenos implícitos nesse processo. 

 

Aplicação do grupo focal online na pesquisa em educação: a pesquisa em tempos de pandemia

 

O mundo está vivendo um longo período de insegurança e medo causado pelo SARS-CoV-2, causador da doença COVID-19, que impôs a premência de reinventar maneiras de dar continuidade às diferentes atividades humanas, para a sobrevivência. Pela sua associação a sintomas gripais e tendo como orientação o distanciamento social e a constante higienização das mãos e dos ambientes, o mundo viu-se diante novos estilos de se relacionar.

 Duarte et al. (2020) apontam que a teoria de Vigotski consegue subsidiar uma reflexão de como as mudanças nas relações devido à pandemia influenciam o ser humano:

Pontos fundamentais na mudança de comportamento para o controle do avanço da doença e adoção das medidas de precaução devem resgatar a teoria Vygostkyana de que o ser humano deve ser afetado pelo meio no qual está inserido no sentido de transformá-lo. E não apenas o que está intimamente ao redor do indivíduo, de modo particularizado, mas de acordo com Vygotski o que se encontra na universalidade  social que em graus diferentes afeta as interações culturais constitutivas da vida particular de cada ser humano (DUARTE et al., 2020, p. 8588).

 

As mudanças causadas para prevenir a contaminação em massa pela COVID-19 afetaram toda a humanidade e influenciaram as pesquisas em educação. Após compreender o momento e o que estava acontecendo, imaginaram-se novas formas de prosseguir com a produção de conhecimento.

A internet tornou-se ferramenta essencial para o ser humano, sua comunicação, seu aprendizado e suas relações. No Brasil, o uso de computadores com acesso à internet tem aumentado substancialmente. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2011), o percentual de pessoas com 10 anos ou mais de idade que acessaram a internet passou de 20,9% (31,9 milhões) em 2005 para 46,5% (77,7 milhões) em 2011. Dos 77,7 milhões que acessam a internet, 47,5% o fazem em suas casas.

Apesar de o uso da internet para as pesquisas online não ser exclusivamente por consequência da COVID -19, esse meio ganhou maior visibilidade no momento de pandemia. Em função da necessidade de manter o distanciamento social, evitar aglomerações e ter cuidado com ambientes e mãos, a internet tornou-se um meio eficaz e possível de aquisição de novos aprendizados. Damasceno et al. (2014) ressaltam a importância da internet para a população em geral, mas principalmente para os pesquisadores:

A chegada da internet gerou um dinamismo muito grande para a população e também para os pesquisadores, pois é possível testar uma pesquisa e depois aplicá-la com centenas de pessoas num curto espaço de tempo e com grande flexibilidade, visto que a internet está disponível vinte e quatro horas por dia (DAMASCENO et al., 2014, p. 5).

 

A flexibilidade que a internet propiciou às pesquisas contribuiu para a aplicação de diferentes técnicas na coleta de dados, entre elas, a técnica do grupo focal. Gatti (2005) frisa que essa técnica está sendo cada vez mais utilizada nas pesquisas sociais. A autora a caracteriza da seguinte forma:

Em geral, podemos caracterizar essa técnica como derivada das diferentes formas de trabalho com grupos, amplamente desenvolvidas na psicologia social. Privilegia-se a seleção de participantes segundo alguns critérios – conforme o problema em estudo -, desde que eles possuam algumas características em comum que os qualificam para a discussão da questão que será o foco do trabalho interativo e da coleta do material discursivo/expressivo. Os participantes devem ter alguma vivência com o tema a ser discutido, de tal modo que sua participação possa trazer elementos ancorados em suas experiencias cotidianas (GATTI, 2005, p. 7).

 

Gomes (2005) define grupo focal como um grupo

[...] constituído por um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto da pesquisa, a partir de suas experiencias pessoais.

Trata-se de uma técnica qualitativa e não-diretiva, inspirada em técnicas de entrevistas não-direcionadas e grupais usadas na psiquiatria, que tem sido adaptada e empregada, há muito tempo, com diversas finalidades e em diversos contextos (GOMES, 2005, p. 41).

 

O grupo focal é uma técnica utilizada desde 1920, nas pesquisas em marketing, por Merton, nos grupos sociais em 1940, e em 1970 e 1980, nas pesquisas de mercado, comunicação, campanhas eleitorais, na avaliação de materiais diversos ou de serviços, pesquisas-ação ou pesquisas-intervenção (GATTI, 2005, GOMES, 2005). Contudo, Gatti (2005) explicita quehouve uma espécie de redescoberta dos grupos focais no início dos anos 1980, momento em que a preocupação em adaptar essa técnica ao uso na investigação científica cresceu” (p. 8).

A confiabilidade do grupo focal como técnica na coleta de dados nas pesquisas científicas tem concorrido para a sua utilização nas pesquisas pela internet. Abreu, Baldanza e Gondim (2009) listam algumas especificidades da aplicação da técnica no ambiente virtual:

O grupo focal on-line é um método de coleta de informações semelhante ao grupo focal presencial. Sua principal característica, não obstante, é a de ser realizado em ambiente virtual, dispensando a presença física dos participantes para que haja interação e consequente comunicação entre eles. Essa diferenciação é apontada como uma das principais vantagens dos grupos focais on-line. Por ser realizado em um ambiente relativamente novo, levando em conta o tempo em que a Internet efetivamente está sendo utilizada de modo mais amplo, bem como o avanço dos estudos na área que ainda são recentes, os grupos focais on-line apresentam outras vantagens e desvantagens em relação aos grupos presenciais (ABREU, BALDANZA e GONDIM, 2009, p.10).

 

Mello e Cruz (2018) identificam, como uma das primeiras vantagens da aplicação do grupo focal online, a facilidade na realização dos encontros, por dispensar a presença física dos participantes e, com isso, evitar gastos com a locomoção. A participação pode se dar em um ambiente familiar, confortável, como em suas residências ou escritórios. Ainda há a descontração, por não estar no convívio com outras pessoas, por vezes desconhecidas. Além disso, sublinham a viabilidade de registrar os dados em menor tempo, a confiabilidade e a análise do material. Em contrapartida, entre as desvantagens, reconhecem a necessidade de o pesquisador estar atento aos gestos, expressões corporais, tom de voz e postura, e de dominar o manejo para manter a atenção dos participantes. São itens que podem passar despercebidos no ambiente virtual. Damasceno et al. (2014) comentam que

[...] o método online apresenta vantagens que podem também minimizar os custos da realização da pesquisa, tais como: facilidade de agendamento da entrevista; possibilidade de executar outras tarefas durante a condução da entrevista; possibilita ao pesquisador e pesquisado não estarem necessariamente na mesma localidade e; por fim, permite uma maior reflexão e objetividade das respostas (DAMASCENO, 2014, p.8).

 

Na utilização da técnica do grupo focal, Gatti (2005) cita alguns cuidados inerentes à sua aplicação. Por exemplo, o problema precisa estar claro junto às questões contextualizadas que serão levadas para discussão. Além disso, o roteiro deve ser bem elaborado, mas pode ser flexível, conforme a participação, o andamento e a escolha dos integrantes do grupo.

 Do mesmo modo, Abreu, Baldanza e Gondim (2009) realçam o valor da preparação para a aplicação online, o escopo bem definido, a elaboração do roteiro para a dinâmica da discussão grupal, os participantes, o registro das atividades e a disponibilização do link para o acesso. Exemplificam a realização:

Nas datas programadas, os participantes acessam o endereço do site e digitam o nome de usuário para entrar na sala de debate previamente definida pelo pesquisador. Uma dinâmica de apresentação é então conduzida pelo moderador, a fim de que todos os participantes tenham conhecimento inicial sobre os demais: nome, formação, local onde reside etc. Em seguida, é feita uma apresentação geral dos objetivos da realização dos grupos e esclarecidas as dúvidas iniciais quanto à participação, à análise e divulgação dos resultados. Na sequência, o moderador digita uma pergunta com base no tópico-guia, e espera alguns participantes responderem ou questionarem o moderador, dando início assim ao processo de discussão. O tempo de realização de cada grupo varia entre uma e duas horas, no que não se diferenciam dos grupos focais presenciais (ABREU, BALDANZA; GONDIM, 2009, p.13).

 

As pesquisas utilizando a técnica do grupo focal na modalidade online têm crescido a cada dia, apesar de precisar de adequações. Durante o período de pandemia, têm ocasionado a continuidade dos estudos científicos e, como consequência, aperfeiçoado o uso da tecnologia.

 

Considerações Finais: Propondo reflexão e problematização da operacionalização do grupo focal online com base na Teoria Histórico-Cultural

 

A partir do exposto, enfatizamos a necessidade de continuarmos a realizar pesquisas cientificas de abordagem qualitativa no campo educacional, mesmo em tempos de isolamento social e apesar das dificuldades de efetivação de atividades coletivas. Tais pesquisas são fundamentais para a compreensão do ser humano, suas relações e de toda a sociedade. São, sobretudo, propulsoras de um exercício de práxis.

 Uma boa pesquisa qualitativa, cunhada no método crítico e dialético, permite ao pesquisador manter uma relação com o pesquisado, enquanto se desenvolve uma observação minuciosa, que conduz, ao mesmo tempo, ao enriquecimento da coleta de dados e ao potencial transformador. Admitimos, também, que a pesquisa se constrói em um processo e a partir de uma vivência coletiva. Enquanto pesquisamos, também nos modificamos e modificamos o mundo.

A teoria criada por Vigotski trouxe, para o campo científico, a fundamentação necessária de compreensão de homem, de desenvolvimento humano, das transformações durante o processo de apropriação do conhecimento e sua postura no coletivo. A análise e discussão de dados baseado nesse suporte contribui para a explicação do fenômeno; o percurso do processo garante ao pesquisador o entendimento de todo o conjunto e do contexto que envolve o objeto de estudo. Nesse âmbito, o grupo focal como técnica para coleta de dados nas pesquisas qualitativas tem se mostrado um ótimo instrumento. É uma forma de entender os diferentes processos que envolvem o sujeito e como se constituem suas relações com aspectos internos e externos, além de ser uma opção frente ao cenário pandêmico atual. 

Devido à pandemia da COVID-19, as formas de se relacionar com o mundo se modificaram, ou no mínimo alavancaram, aceleraram essas mudanças. As pesquisas online, que já eram utilizadas, passaram a ser praticamente a única maneira de dar continuidade aos estudos. Isso exige, dos pesquisadores, explorar a aplicação de técnicas qualitativas por meio online como, por exemplo, o grupo focal. Contudo, é crucial que o pesquisador esteja atento às vantagens e desvantagens constantes desse meio, para garantir a qualidade na execução e na finalização de uma pesquisa.

Este texto visou a verificar a possibilidade da aplicação da técnica do grupo focal online nas pesquisas qualitativas em educação e o quanto a Psicologia Histórico-Cultural colabora ricamente para a fundamentação teórica e a compreensão dos fenômenos abordados em uma via de mão dupla: no que tange ao propósito ou ao objeto da pesquisa, a priori, e nos fenômenos emergentes pela atual conjuntura.

 Além das instruções operacionais de um grupo focal online, que se assemelham às ocorrências presenciais, como ter em mente o papel do moderador, cuja função é reger a discussão e propiciar que o grupo empreenda, ao máximo, o assunto em questão; o papel do observador, que ajuda a tomar nota das questões verbais e não verbais; a escolha dos participantes, que depende do objetivo da pesquisa; e um roteiro ou guia de discussão bem estruturado,  é imprescindível, ainda, considerar as especificidades de uma atividade remota, que não raro exige, por parte do pesquisador, muito mais criatividade e dinamismo para ‘chamar a atenção’ dos participantes.

Na atualidade, praticamente todas as atividades de ensino, reuniões e qualquer situação formal que envolva a coletividade estão sendo desenvolvidas mediante programações remotas, síncronas ou assíncronas, com as peculiaridades do ambiente virtual, que nos fornece um acesso muito maior a esses momentos. Isso pode causar uma sobrecarga de informações, aulas, debates e reuniões para participar. Tal situação, que é um fenômeno social, ao mesmo tempo em que viabiliza meios de se fazer pesquisa online e que a transforma em prática comum, com inúmeros avanços tecnológicos e estratégias para a execução, também pode levar os participantes da pesquisa a uma exaustão, encarando o evento como "mais uma atividade online...". 

Por outro lado, temos os ambientes virtuais frequentemente utilizados para atividades coletivas, como ocorre nos grupos focais que, mesmo ‘virtualmente’, se transformam e se caracterizam pela semelhança com uma sala de aula tradicional: monótona, repleta de regras, com assuntos que, às vezes, não despertam motivação, além das dificuldades específicas do meio, como as oscilações de conexão, ruídos e falhas na transmissão de áudio e imagens, inseguranças e despreparo técnico para o manuseio de ferramentas digitais. Por vezes, a atenção fica dividida entre o encontro virtual e a realidade presencial, normalmente vivenciada em domicílio, em meio às rotinas próprias desse espaço, além das peculiaridades inerentes ao perfil dos participantes: idade, condição socioeconômica e nível de instrução, entre outras.

Em meio a esses e tantos outros pormenores abrangidos pelas facilidades e dificuldades, benefícios e subtrações das atividades remotas, como podemos aplicar grupos focais, a fim de que sejam mais do que tecnicamente corretos? Como podemos alcançar nosso público de maneira satisfatória? Como pretendemos atrelar o envolvimento dos participantes à sua realidade, sem fazer do ambiente online uma espécie de laboratório? Seriam os grupos focais de maneira online ou síncrona a melhor opção, ou talvez mediante fóruns de discussão e roteiros escritos assíncronos poderíamos alcançar melhores resultados? Quais seriam os melhores resultados?

 Se for com o sentido de obter respostas satisfatórias, que apreendam o seu objeto ou o problema de pesquisa que o pesquisador almeja abarcar, este não está totalmente influenciado e transformado pelas circunstâncias atuais? Inclusive o instrumento: também não está modificado e, consequentemente, o indivíduo e a relação estabelecida entre pessoa e instrumento, pesquisador e pesquisado também não se alteram?

Por fim, abordamos o tema da pesquisa qualitativa e a aplicação do grupo focal online e, a partir disso, elencamos algumas problematizações, com o intuito de expor uma parcela das reflexões que devem ser ponderadas no itinerário de uma pesquisa na atualidade. Também intentamos denunciar as dificuldades encontradas pelo pesquisador, que devem ser levadas em conta. Por último, esperamos que as nossas reflexões sirvam como motriz para mais pesquisas e discussões, com vistas a suscitar a superação dessas dificuldades e promover transformação na práxis da pesquisa como processo e meio para a emancipação humana e o desenvolvimento consciente da sociedade.

 

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Notas



[1] Nas referências ao psicólogo soviético, a grafia do seu nome é registrada de diversas formas, como Vigotski, Vigotsky, Vygotsky. Neste trabalho, adotamos a forma Vigotski, para preservar a grafia usada por diferentes autores brasileiros consultados. 

 

 

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