Formação em Educação Física na UEL: trajetória histórica de três cursos (1968-2018)
Training in Physical Education at UEL: historical trajectory of three courses (1968-2018)
Formación en Educación Física en la UEL: trayectoria histórica de tres cursos (1968-2018)
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil
matheuschiconato18@gmail.com
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil
tony@uel.br
Recebido em 26 de julho de 2022
Aprovado em 14 de junho de 2023
Publicado em 05 de setembro de 2023
RESUMO
O presente estudo tem por objetivo descrever e analisar, por meio dos projetos pedagógicos de curso (PPCs), a trajetória histórica dos cursos de Educação Física (licenciatura e bacharelado) e Esporte da Universidade Estadual de Londrina – UEL (1968-2018). Para a pesquisa empírica foi identificada, consultada e catalogada a documentação histórica dos respectivos cursos, localizada nos acervos da UEL. Como sustentação teórica contou-se com a história do tempo presente (Chauveau & Tétart, 1999), a história das instituições educativas (Magalhães, 2004; 2005; 2007) e o currículo como construção social (GOODSON, 2018). A análise dos PPCs possibilitou explicitar uma singularidade da UEL na realidade nacional que foi a oferta, em concomitância, de três tipos diferentes de formações profissionais. As trajetórias dos três cursos investigados revelaram formação inicial no campo da educação, do esporte e da saúde, tendo como referência os dispositivos legais, as relações de poder e os contextos sociais. No fechamento, são apresentadas as razões de continuidades e descontinuidades das formações acadêmicas profissionais na instituição universitária em foco.
Palavras-chave: Currículo; Formação de professores; História da Educação Física.
ABSTRACT
The present study aims to describe and analyze, through pedagogical course projects (PPCs), the historical trajectory of the Physical Education (licence and bachelor's degree) and Sport course sat the State University of Londrina - UEL (1968-2018). For the empirical research, the historical documentation of ther espective courses, located in the UEL collections, was identified, consulted and cataloged. As the oretical support, the history of the present time (CHAUVEAU & TÉTART, 1999), the history of educational institutions (MAGALHÃES, 2004; 2005; 2007) and the curriculum as a social construction (GOODSON, 2018) were used. The analysis of the PPCs made it possible to explain a singularity of the UEL in the national reality, which was the simultaneous offer of three different types of professional training. The trajectories of the three courses investigated revealed initial training in the field of education, sport, and health, having as a reference the legal provisions, power relations and social contexts. In closing, the reasons for continuities and discontinuities of professional academic training at the university in focus are presented.
Keywords: Curriculum; Teacher training; History of Physical Education.
RESUMEN
Para este estudio el objetivo es describir y analizar, a través de proyectos pedagógicos de los cursos (PPCs), la trayectoria histórica de los cursos en Educación Física (licenciatura y bachillerato) y Deporte de la Universidade Estadual de Londrina-UEL (1968-2018). Esta investigación de origen empírica, fue identicada, consultada y catalogada la documentación histórica de los respectivos cursos, encontrados en los acervos de la UEL. Como sustentación teórica se respalda en la historia del tiempo presente (CHAUVEAU & TÉTART, 1999), la historia de las instituciones educativas (MAGALHÃES, 2004; 2005; 2007) y por el currículo como construcción social (GOODSON, 2018). El analisis de los PPCs permitió explicar una singularidad de la UEL a realidad nacional que fue la oferta, en concomitancia, de los tres tipos de formación profesional. Las trayectorias de los tres cursos investigados revelan una formación inicial en el campo de la educación, del deporte y de la salud, usando como referencia los dispositivos legales, las relaciones de poder y los contextos sociales. Al final, son presentadas las razones de continuidad y descontinuidad en las formaciones académicas profesionales en la instituición universitaria investigada.
Palabras clave: Currículo; Formación de profesores; Historia de la Educación Física.
Introdução[i]
O processo histórico da formação profissional em Educação Física na Universidade Estadual de Londrina (UEL) é bastante singular no cenário nacional, já foram implementados três tipos de graduações resultantes em diferentes diplomações: Licenciatura em Educação Física, Bacharelado em Ciências do Esporte e Bacharelado em Educação Física. As três graduações demandaram projetos pedagógicos de curso (PPCs) distintos.
Partiu-se do entendimento de que essas propostas curriculares careciam de ser melhor compreendidas, visto que a Educação Física e o Esporte são práticas e fenômenos representativos da cultura, da educação do corpo, das instituições sociais, das organizações societárias, das formas políticas, das cidades e do ethos humano, e as marcas de suas experiências passadas têm sido esquecidas e vêm desaparecendo na efemeridade da vida contemporânea, o que é um problema a ser enfrentado de ordem local, regional e nacional. Situamos que tal realidade observada dificulta a leitura complexa do campo de formação acadêmico-profissional em Educação Física objetivado nas universidades. Nesse sentido, observa-se a problemática referente à trajetória dos cursos de Educação Física e de Esporte da UEL.
A problemática apresentada está em diálogo com a história da Educação Física e seu campo de investigação. O campo da História da Educação Física, nas últimas décadas, intensificou intersecções com o campo da História e da História da Educação. Para compreender as trajetórias históricas dos cursos de Educação Física e de Esporte da UEL, logrando aos acontecimentos da formação profissional no Brasil, pôde-se considerar os aspectos sociais e as relações de poder que atuaram perante o contexto histórico em instituições educativas específicas.
No Brasil, até a década de 1930, não existiam instituições civis de nível superior destinadas à formação de professores de Educação Física. Até 1929, a formação era estabelecida por meio de cursos provisórios de Ginástica e de Educação Física, nas escolas atreladas ao Exército. Na década de 1930, ocorreu a institucionalização da Educação Física, fomentada por meio dos primeiros cursos de formação de professores. “A formação de professores é, nesse sentido, posterior a uma prática que já se constituía como parte do processo de escolarização” (FIGUEIREDO, 2016, p. 24). O fato é que o ensino da ginástica, dos jogos lúdicos, dos esportes e da educação física já se fazia presente como matéria dos programas escolares do ensino primário e secundário, bem como, conforme Melo & Peres (2014) e Fonseca, Honorato & Souza Neto (2021), a vivência das práticas corporais sistematizadas também já se faziam presentes na sociedade brasileira com registros desde os tempos imperiais.
Em 1933, na então capital brasileira, Rio de Janeiro, ocorreu a transformação do CMEF em EsEFEx (Escola de Educação Física do Exército), além de oficiais e sargentos/militares, alguns civis como monitores de Educação Física seriam formados. Já em 1939, com a criação da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD) da Universidade do Brasil (UB), estabeleceu-se o primeiro curso superior de formação em Educação Física fora das instituições militares (MELO, 1996; 1999; CASTELLANI FILHO, 1988; AZEVEDO; MALINA, 2004; SOUZA NETO et al., 2004; NÓBREGA; SECCO, 2016).
No contexto de meados dos anos de 1940 emergiu a proposta curricular que estabeleceu o estudo do processo pedagógico como uma dimensão da formação em Educação Física, o que significou a existência de certa preocupação em fortalecer a formação do professor como agente de ensino de exercícios físicos, motores, lúdicos, competitivos, artísticos, gímnicos. A proposta de 1945, além da formação de professor, previa a formação de instrutores de ginástica, técnicos desportivos, técnicos em massagem e de médicos especialistas em Educação Física.
A partir da década de 1970, ampliou-se a constituição de faculdades e departamentos de Educação Física e Desportos, isso atrelado ao projeto da Reforma Universitária (RU) de 1968 (FÁVERO, 2006). Souza Neto et al (2004) registram que sob a RU passou a se edificar como modelo um novo currículo, inclinando-se para uma universidade mais técnica, científica e de pós-graduação.
A Universidade Estadual de Londrina foi criada por decreto em 1970 e o seu curso de Educação Física iniciou as atividades com a primeira turma em 1972. No início o curso integrava-se ao Departamento de Educação do CECA (Centro de Educação, Comunicação e Artes), e em 1986 migrou-se ao antigo CEFD (Centro de Educação Física e Desportos). “Em 1980, foi criado o Curso de Pós-Graduação, em nível de Especialização em Ciência e Técnica do Treinamento Desportivo, aproveitando o potencial dos recursos treinados no país e no exterior” (CEFE, 2019, s/p). Contudo, na década de 1980, houve uma tentativa significativa em propor mudanças com o objetivo de diversificar a formação inicial em Educação Física no Brasil, possibilitando a abertura de bacharelados. No caso do atual Centro de Educação Física e Esporte (CEFE) da UEL, a licenciatura plena/generalista em Educação Física foi o único curso até 1998 quando houve a implantação do curso de Bacharelado em Ciências do Esporte e em 2004 houve a criação do curso de Bacharelado em Educação Física.
Considerando o processo de institucionalização do curso de Educação Física no Brasil, em específico na UEL, alguns acontecimentos fornecem a sustentação e potencializam uma historicidade do objeto em análise: 1) 1939 – com a ENEFD houve o estabelecimento de um campo específico voltado à formação de professores de Educação Física e houve a regularização do curso; 2) 1945 – com a criação de um currículo mínimo houve maior preocupação com a formação pedagógica; 3) 1968 – com o projeto da Reforma Universitária, que estabelecia a obrigatoriedade da prática de educação física, desportiva e recreativa para todos os alunos do ensino superior, houve o momento de reformulações internas das IES e aumento quantitativo de departamentos e cursos de Educação Física no Brasil; 4) 1968 – foi elaborado o primeiro projeto de curso de Educação Física que serviu de base para a proposta do curso de Educação Física da UEL que teve a sua primeira turma de ingressantes em 1972; 5) 1987 – a Resolução CEF n. 03/1987 instruiu a possibilidade de criação de licenciaturas, bacharelados e licenciaturas generalistas em Educação Física. 6) 2004 – diretrizes curriculares para formação do graduado em Educação Física fixou nacionalmente a divisão da formação em Educação Física em licenciatura e bacharelado, com entradas diferentes por meio de vestibulares.
Esses acontecimentos provocam à historiografia da Educação Física outras questões a dispor de seu currículo formador. Focando na experiência da UEL, onde dispõem uma trajetória singular da Educação Física no Brasil (Bacharelado em Ciências do Esporte e Bacharelado e Licenciatura em Educação Física), é que esse artigo está focado e objetiva descrever e analisar, por meio dos projetos pedagógicos de curso (PPCs), a trajetória histórica dos cursos de Educação Física e Esporte da UEL (1968-2018). O ano de 1968 justifica-se por ser o período de proposição curricular da criação do primeiro curso de Educação Física que, a partir de 1971 esteve vinculado à UEL, e 2018 por ser o ano de publicação da Resolução CNE n. 6 de 18 de dezembro de 2018 que estabelece as novas diretrizes curriculares para a graduação em Educação Física no Brasil, o que resultou, especificamente, em novas reformulações curriculares.
Em termos metodológicos a pesquisa foi orientada pelo entrecruzamento de fronteiras disciplinares e pelo diálogo com diferentes matrizes teóricas para leitura da realidade complexa. Teve-se como base conhecimentos da história do tempo presente (CHAUVEAU; TÉTART, 1999), da história das instituições educativas (MAGALHÃES, 2004; 2005; 2007) e do currículo como construção social (GOODSON, 2018). A trajetória histórica dos cursos de Educação Física e Esporte da UEL foi investigada pela identificação e análise dos PPCs como fontes históricas, pois, de acordo com Goodson (2018), os currículos estabelecem construções sociais sob a amplitude da teoria e prática, corroborando assim com a leitura da realidade formativa. Uma formação profissional, de um curso superior e seu currículo, tem entrelaces sociais, disputas de poder e seu tempo-lugar histórico.
Como base empírica teve como referência os PPCs e seus derivados referentes aos cursos de Licenciatura[ii], Bacharelado[iii] em Educação Física e de Bacharelado[iv] em Esporte da UEL (1968-2018). Os documentos físicos estão disponíveis no arquivo da Pró Reitoria de Graduação (PROGRAD) e no Sistema de Arquivos (SAUEL). A documentação resultou na identificação de 18 processos. A escolha desse material para análise consistiu em abordar as diferentes dimensões presentes nas propostas curriculares de formação inicial em um curso de nível superior universitário. Desse modo, pôde-se evidenciar a trajetória histórica de cada curso e suas continuidades e descontinuidades.
Licenciatura em Educação Física (1968-2018)
A proposta de criação do primeiro curso de Educação Física, em 1968, remete ao momento em que o país e a região de Londrina/PR passavam pela Ditadura Civil-Militar. Em Londrina, o projeto de 1968 argumentou que para criar o curso a principal justificativa era a falta de professores de Educação Física, principalmente nas escolas da região onde havia déficit. Outro fator se deu pelo rendimento esportivo, visto que as equipes, que não tinham professores formados em Educação Física como treinadores, apresentavam um rendimento inferior em comparação à outras equipes. E, também, por causa do município de Londrina ser representante maior de uma região promissora no setor agrícola, populacional e regional, abarcando outros municípios próximos e sendo um ponto satélite de Curitiba. Ainda, fortalecia a ideia de criação na localidade de um centro esportivo para a região (PARANÁ, 1968).
Voltado para a formação de professores, destacam-se alguns dos motivos para a contratação e formação de professores:
Conforme se observa 487 professores sem conhecimento e preparo adequados ministram aulas de Educação Física, que mesmo considerando-se a boa vontade de que são imbuídos não podem oferecer resultados satisfatórios. Não fosse apenas os dados acima, mas considerando-se o enorme aumento de matrículas que se verifica anualmente e o pequeno número de formandos das Escolas Superiores de Educação Física (de 1956 a 1963 apenas concluíram curso 11.519 professores de Educação Física no Brasil) mostra claramente que a situação tende a agravar-se à medida que os anos passam. No caso específico do Estado de Paraná, que possui a maior rede de Ensino Médio do País, no mesmo período concluíram curso como Licenciados apenas 90 professores: paralelamente Senhores Conselheiros, sabem Vv. Ex.ªs do grande aumento de número de Estabelecimentos de Ensino Médio do Paraná e sobretudo na Região Norte do Estado, [...]. Embora o campo de trabalho seja muito vasto a maioria dos Licenciados continua ainda restrito à Capital do Estado que os absorve distribuindo-os na sua grande rede escolar, que sofre o mesmo aumento de escolaridade anual que se observa também nesta região do Estado. (PARANÁ, 1968, p. 9-10).
Com criação da UEL em 1970, o projeto de curso de Educação Física proposto em 1968 foi assumido pela instituição universitária e em 1971 foi aprovado. No ano seguinte, iniciou-se a sua implantação com o ingresso da primeira turma de estudantes.
O curso de Educação Física e Técnica Desportiva, criado pela Resolução UEL n° 053/1971 (Art. 1° - de 26 de outubro de 1971), foi marcado pelo tecnicismo esportivo. Mais tarde, dentre as renovações e implementações em seu PPC, definir-se-ia um curso que se voltaria para a formação profissional que questionasse criticamente o seu campo. Contudo, na década de 1980, com a Resolução CEF n. 03/1987, estabeleceu-se a possibilidade de duas diretrizes curriculares destinadas para a formação em Educação Física, sendo a primeira para atuação escolar (licenciatura) e a outra para a área não escolar (bacharelado). A posição da UEL foi continuar com único curso, Educação Física plena/generalista.
Em 2004, o curso de licenciatura propunha formar um professor crítico e social-histórico com seu campo, e o induzia a problematizar a realidade educacional. Uma formação crítica e reflexiva (UEL, Licenciatura, 2004a).
Ao longo do tempo (1968-2018) o curso de Licenciatura em Educação Física passou por diversas modificações em seu currículo. Transitou de uma formação esportiva tecnicista para a formação pedagogicamente crítica. O projeto de renovação do reconhecimento do curso, em 2014, propunha por meio de suas diretrizes:
Art. 2° - O Curso de Licenciatura em Educação Física está voltado para a formação de professores com vista à atuação na Educação Física na escola junto à Educação Básica nos diferentes níveis e nas modalidades de ensino.
Art. 3° - Os saberes da Educação Física devem ser articulados objetivando capacitar o estudante a superar a leitura do mundo feita em nível do senso comum para um nível de consciência crítica.
§ 1° - A prática docente não se resumirá em buscar adaptação de técnicas de ensino e programas às novas diretrizes instituídas, exigindo uma nova concepção relativa à relação conteúdos-métodos, à escola, à cidadania, à participação e ao compromisso social.
§ 2° - A Licenciatura em Educação Física parte do princípio de que educar é um ato político e que a escola está comprometida com uma concepção de mundo fundada na idéia de que estudante e professor são sujeitos da construção do processo de formação.
§ 3° - A prática pedagógica deve ser pautada por princípios filosóficos e educacionais que busquem criar condições para que o estudante seja sujeito do processo de sua formação profissional.
§ 4° - As questões técnico-profissionais serão contextualizadas política, ética, história e socialmente, pois a técnica é assumida como unidade complexa, socialmente produzida e apropriada, não neutra, visto ser ela síntese das correlações estabelecidas entre as ciências da natureza e humanidades no desenvolvimento de seu processo de produção.
§ 5° - O eixo central do curso será a experiência vivida dos estudantes, seus saberes e desejos, condições básicas para que o professor desenvolva um ‘fazer’ pedagógico voltado à formação de uma consciência crítica e domínio da competência de analisar o mundo, a história, a ciência, a cultura, o universo do trabalho e suas relações com o movimento humano e sua cultura corporal.
Art. 4° - O professor, ao pensar sua disciplina, terá de considerar as transformações de natureza sociais e econômicas de grande transcendência que estão em andamento nas sociedades, a existência de uma nova ordem mundial, globalização, e que estas interferem de forma decisiva na construção das práticas sociais cotidianas. (UEL, 2014a, p.10)
Os artigos e seus respectivos parágrafos definem a missão do curso formador de professores para a atuação em escolas da Educação Básica em seus diferentes níveis e modalidades. O docente deveria levar aos alunos um pensar crítico sobre as questões do movimento humano e da cultura corporal no mundo, tendo o educar como um ato político, ético e transformador da realidade. Para tanto, o movimento humano e a cultura corporal deveriam estar apoiados em saberes filosóficos, históricos, educacionais, psicológicos, biológicos e motores.
Em 1989, o PPC do curso propôs a formação do licenciado voltada ao âmbito escolar, porém no currículo a formação era plena/generalista, por contar com as necessidades locais e regionais da comunidade escolar e esportiva/recreativa para além da escola. O currículo estava organizado em duas dimensões: a humanística (conhecimento humano; conhecimento da sociedade) com 750 horas; e a técnica (formação pedagógica) com 1.545 horas. Havia disciplinas obrigatórias e optativas, e atividades complementares, integralizando assim a organização curricular com carga horária mínima de 2.880 horas/aulas.
Outra reformulação ocorreu em 2009, o currículo se modificou considerando quatro dimensões do conhecimento: dimensões pedagógicas; o movimento culturalmente construído; acadêmico profissionalizante; e, dimensões epistemológicas. Segundo o PPC de 2017, além do conjunto de disciplinas a serem cursadas, o estudante deveria cumprir:
[...] 200 horas em Atividades Acadêmicas Complementares (Monitoria Acadêmica, Projetos de Pesquisa em Ensino, de Pesquisa, de Extensão e Interligados, Programas de Extensão e de formação complementar no ensino de graduação, Disciplinas Especiais, Curso de Extensão, Eventos, Estágios curriculares não obrigatórios e Disciplinas Eletivas), resultando em uma carga horária total para o curso de 2.850 horas”. (UEL, 2017a, p. 05)
Havia a preocupação do curso com atividades extracurriculares, sendo um dos objetivos a vivência/experiência do aluno em programas de pesquisa e extensão. O desafio formativo consistia em proporcionar ao licenciando a possibilidade de explorar sua área de formação inicial para além da sala de aula universitária, buscando assim a integração entre ensino-pesquisa-extensão que reverberaria na formação do professor como agente pesquisador e propositor de soluções aos problemas da realidade social.
No final da década de 1990, o curso de Licenciatura em Educação Física da UEL passou a compartilhar a formação profissional na área com o recém-criado curso de Bacharelado em Ciências do Esporte.
Bacharelado em Ciências do Esporte (1998 – 2015)
O conceito de esporte tem variado com o tempo e geralmente em função da evolução da sociedade nas quais se desenvolveu, razão pela qual se faz necessário analisar a etimologia da palavra esporte com o objetivo de compreender seu verdadeiro significado. O termo esporte, em novo idioma, é utilizado para traduzir a expressão inglesa sport, que por sua vez tem sua origem no francês antigo desport que deriva do verbo se déporter (divertir-se, distrair-se). (UEL, 2006, p. 7)
O curso de Ciências do Esporte da UEL, habilitação bacharelado, iniciou suas aulas em 1999, e, posteriormente, passou a ser denominado somente como Bacharelado em Esporte, nos termos da resolução CEPE/UEL nº. 68/2006 e a partir da publicação do Decreto nº 2081 em 2008. Como o próprio nome diz e a epígrafe provoca a pensar, foi um curso com foco no âmbito esportivo. Todavia, era um curso que correlacionava as ciências sociais, psicológicas, culturais, biológicas com o estudo, ensino e o trabalho no esporte.
O curso de Esporte, após análise realizada pelo Conselho Estadual de Ensino, foi reconhecido pela primeira vez por meio do Decreto Estadual n° 2082 de 07.11.2003. Um novo reconhecimento chegou com o Decreto Estadual n° 2081 de 23.01.2008 e o mais atual através do Decreto N° 7346 – 08/06/2010. (UEL, 2004b, p. 16)
O curso de Esporte foi proposto para preencher a lacuna do bacharelado e da licenciatura em Educação Física no que diz respeito à formação específica e aprofundada de um profissional do campo esportivo. A formação recairia na atuação profissional em atividades do alto nível competitivo que se exige treinadores, preparadores físico e gestores do esporte. Em termos de campo de atuação, identificam-se as seguintes possibilidades:
Academias, clubes, associações, centros comunitários, condomínios, entidades públicas ou privadas ligadas ao esporte. O Bacharel em Ciências do Esporte deverá atuar de forma mais plena na área esportiva, como técnico (na formação de atletas e alto rendimento), preparador físico e dirigente esportivo. Estará habilitado para atuar nas academias, clubes, associações, condomínios, municípios, comunidade de bairros, centros comunitários, emprego público em órgãos municipais, Centros de Condicionamento Físico, supervisionar o desenvolvimento de programas de exercícios físicos voltados à promoção da saúde, esporte e natação para portadores de necessidades especiais. (UEL, 1998, n. p.).
Na mesma temporalidade do curso de Bacharelado em Esporte da UEL (1997-2015), outras três universidades contavam em suas ofertas de graduações com tal formação inicial: Universidade de São Paulo (USP) – curso de Bacharelado em Esporte; Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com o curso de Educação Física – Treinamento Esportivo; e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP – Campus Limeira) com o curso de Ciências do Esporte.
Por sua vez, o curso de Bacharelado em Ciências do Esporte da UEL foi criado por meio da Resolução CEPE/CA n° 1, de 12/02/98 e implantado em 1999. A sua oferta era em período integral. O curso pautou-se em objetivos gerais e específicos:
Objetivos Gerais
· Formar profissionais para atuarem nas diferentes dimensões do esporte, estimulando-os ao aperfeiçoamento permanente;
· Disponibilizar e construir conhecimentos científicos e profissionalizantes nas diferentes dimensões do esporte, permitindo a intervenção em diferentes contextos da sociedade contemporânea, que mantenham o atendimento ao público com atividades relacionadas ao esporte;
· Buscar a transdisciplinaridade em coerência com os eixos de desenvolvimento curricular, integrando as dimensões biológicas, psicológicas, sociais, culturais, filosóficas e ambientais, entre outras;
· Assegurar os princípios de autonomia institucional, de flexibilização, de integração estudo/trabalho e de pluralidade no currículo.
Objetivos Específicos
· Contribuir para a geração e transformação do conhecimento nas diferentes dimensões do esporte;
· Articular o ensino, a pesquisa e a extensão garantindo um ensino crítico e reflexivo, que leve à construção do perfil profissional;
· Estimular a realização de intervenções e/ou de projetos socializando o conhecimento do esporte produzido no transcorrer das ações pedagógicas;
· Desenvolver atividades teóricas e práticas, de forma interdisciplinar;
· Implementar metodologias no processo ensino/aprendizagem que estimulem o acadêmico a refletir sobre a realidade do esporte antevendo a sua inclusão social;
· Valorizar ações éticas e humanistas no esporte, que desenvolvam no acadêmico, atitudes e valores orientados para a cidadania;
· Proporcionar a interdisciplinaridade em coerência com os eixos de desenvolvimento curricular, buscando integrar os setores: profissionalizante, biodinâmica, sócio-cultural e produção do conhecimento científico e sócio cultural;
· Utilizar os diferentes cenários de ensino/aprendizagem, permitindo ao acadêmico conhecer e vivenciar situações variadas de organização da prática e do trabalho em esporte;
· Buscar a transdisciplinaridade das manifestações do esporte com profissionais das áreas afins (UEL, 2011, p. 09; UEL, 2013, p. 11).
Os objetivos gerais e específicos revelam que o curso proporcionaria a formação profissional para o campo esportivo considerando diversos setores, tendo como base os conhecimentos transdisciplinares fundamentados nos aspectos biológicos, psicológicos, sociais, culturais, filosóficos e ambientais. Desse modo, formaria o bacharel para o trabalho que exige vivências de situações variadas de organização e articulação da teoria e da prática a favor do beneficiário das manifestações esportivas.
O curso propunha a articulação do ensino, pesquisa e extensão, como também atenderia o ensino na teoria e na prática atrelado às atividades extracurriculares proporcionando experiências em diversas situações, principalmente no que se refere ao campo esportivo. O PPC de 2013, reitera: “faz-se necessária a formação de um profissional capaz de atuar especificamente com o esporte em suas diferentes manifestações” (UEL, 2013, p. 152).
No que se refere às diferentes manifestações, abaixo lê-se uma sistematização:
[...] no domínio do sentido abrangente e plural do termo esporte, preponderantemente orientado para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de um profissional que atue nesse segmento. O direcionamento é para a formação de um profissional que possa atuar nos campos profissionais e acadêmicos nas dimensões do Esporte: rendimento, educacional, lazer e saúde, nos diferentes contextos da sociedade contemporânea. (UEL, 2015, p. 15. Negrito nosso)
Não o bastante, o PPC de 2015 assim descreveu as quatro dimensões formativas das quais o curso se apoiava:
Art. 2° O Curso de Esporte, visando atender aos diversos graus de necessidades na prática esportiva, apóia-se em quatro dimensões diferenciadas de expressão:
ESPORTE RENDIMENTO: onde predominam os aspectos parciais de comportamento corporal e motor, possível de observação e ·de mensuração, em que se aplicam os propósitos fundamentais de padronização, sincronização e maximização;
ESPORTE EDUCAÇÃO: em que primam as possibilidades normativas na formação de valores, atitudes, habilidades e conduta humana;
ESPORTE LAZER: em que se minimizam a formalidade e o rigor típico dos regulamentos institucionalizados e abre-se oportunidade para a modificação na forma, no espaço, na técnica e na participação;
ESPORTE SAÚDE: em que se consideram as diversas possibilidades físicas, motoras e orgânicas dos participantes, configurando-se coadjuvante de elevado significado nas estratégias de conservação, promoção, reabilitação e educação para a saúde, prevenção e controle das doenças (UEL, 2015, p. 75).
As dimensões formativas e de perspectiva de atuação profissional – rendimento, educação, lazer e saúde – eram desenvolvidas durante o curso, articulando-se com os eixos do ensino, da pesquisa e da extensão. Almejava-se assim a formação do bacharel em Esporte com competências acadêmicas profissionais para atuar frente às demandas de maximização em prol do rendimento esportivo, de formação educativa das condutas humanas por meio da prática do esporte, de estratégias para melhorar os quadros de saúde da população praticante de esportes e de valorizar a participação esportiva como mecanismo de pouca formalidade distanciando-se dos rigorosos regulamentos institucionalizado e se aproximando das atividades de passatempo típicas de lazer.
Os princípios gerais de formação do egresso do curso de Bacharelado em Esporte da UEL pouco se diferenciavam dos princípios da formação em Educação Física, isto é, formar um profissional perito e crítico com sua realidade buscando relações entre a teoria acadêmica e mundo prático, experimentando vivências no campo. Contudo, a principal distinção estava relacionada aos lugares de atuação, enquanto um curso estava voltado a formar para o campo esportivo, o outro volta-se a formar para a atuação na Educação Básica e em outros lugares educativos para além da escola onde se poderia atuar pedagogicamente, pois a formação da licenciatura generalista na UEL deixou de ser ofertada somente a partir do ingresso da turma de Bacharelado em Educação Física, isso a partir de 2005.
O curso de Bacharelado em Esporte da UEL apresentou ao longo dos anos diferentes organizações curriculares, tendo mudanças no ano de 2006 quando sofreu reformulações em seu projeto pedagógico e no de 2013 quando houve modificações quanto à carga horária das séries, totalizando 3.225 horas (UEL, 2013, p. 24).
A proposta do PPC de 2013 promoveu polêmicas em razão de agregar Educação Física em seu nome. O curso ficaria intitulado Bacharelado em Educação Física – Esporte e com isso a UEL passaria a ter dois cursos praticamente com o mesmo nome. A questão é: o que levou a tal proposição? Entre os fatos, tem-se que os egressos do curso de Esporte enfrentavam dificuldades para efetivação do registro no órgão regulador do exercício profissional.
Em adiamento aos preceitos pedagógicos, um outro aspecto relevante e motivador da reformulação curricular foi iniciado por meio de um termo de ajuste de conduta pelo qual, especificamente o curso de Esporte (bacharelado), precisou se submeter. Brevemente, desde o ano de 2005, o Centro de Educação Física e Esporte da Universidade Estadual de Londrina passou a oferecer três cursos reconhecidos, cada qual focado em um determinado perfil profissional, a saber: dois cursos de Educação Física (habilitação em licenciatura e bacharelado) e um curso de Esporte (habilitação Bacharelado). Entretanto, no ano de 2010, o Ministério de Educação e Cultura (MEC) mediante a nota técnica SESU n° 03 determinou a adequação dos cursos de bacharelado e licenciatura na área da Educação Física, estabelecendo diretrizes quanto às respectivas cargas horarias e nomenclaturas empregadas. A partir de então, houve o entendimento por parte do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) que o credenciamento profissional seria destinado a dois tipos de formação, a saber: o bacharel em educação física e o licenciado em educação física. Com isso, o curso de Esporte, que foi implementado na Universidade Estadual de Londrina no ano de 1999 e desde então possibilitava com que seus egressos fossem credenciados no CONFEF para atuar especificamente no segmento esportivo, passou a enfrentar dificuldades de reconhecimento por parte do CONFEF e, consequentemente, seus egressos passaram a ter dificuldade de conseguir credenciamento para exercer a profissão para a qual eles foram legitimamente formados. (UEL, 2014b, p. 14)
A tensão que se instaurou foi a de que os egressos do curso de Esporte não obtivessem mais seu credenciamento pelo sistema CONFEF/CREF, órgão fiscalizador do exercício profissional. Assim, em uma reunião organizada por representantes da UEL e do Sistema CONFEF/CREF, ficou acordado:
Nesta oportunidade, a assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta entre a UEL e o CREF/PR, com a participação do Ministério Público Federal, por meio do qual o sistema CREF se comprometeria a credenciar os egressos do curso de Esporte até o ano de 2017, sendo que, em contrapartida os dois cursos de bacharelado do CEFE (Bacharelado em Educação Física e Bacharelado em Esporte) passariam por um processo de reformulação, de modo a atender as exigências da legislação em vigor. (UEL, Processo: 28081/2014. Bacharelado. 2014b, p. 15)
Em ambos os cursos, os egressos, até aquele presente momento, obtinham seus registros no CONFEF, respectivamente como bacharel em Esporte e bacharel em Educação Física. Contudo, a compreensão então era a de que a atuação do bacharelado em Educação Física é ampla, envolvendo inclusive o esporte e as diversas manifestações da área, com exceção da área escolar (UEL, 2014b, p. 16-17), e isso era um dos questionamentos da existência do curso de Esporte da UEL. E por isso e outras razões, internamente na UEL, dever-se-ia revisar a necessidade de oferta de três cursos.
A decisão interna da UEL foi ofertar, a partir do vestibular de 2015, duas habilitações – Bacharelado e Licenciatura em Educação Física. Com essa conjuntura encerrou-se a oferta da graduação em Esporte, e os estudantes ingressantes no ano de 2016 já foram matriculados no curso de Bacharelado em Educação Física que estava em funcionamento na instituição desde 2005.
Bacharelado em Educação Física (2004 – 2018)
O curso de Bacharelado em Educação Física da UEL teve o seu projeto aprovado em 2004, apresentou como base legal a resolução CNE/CES n. 07/2004 (BRASIL, 2004) e a primeira turma foi implantada em 2005. O seu egresso teria como finalidade encontrar-se próximo da atividade prática relacionada ao planejamento, execução e avaliação de programas de atividade física em espaços não curriculares da escola de educação básica. Esse profissional desenvolveria programas de atividade física, esportiva e recreativa com o público, individual ou coletivo, além de ser capacitado para gerenciar empreendimentos do setor. Com esse curso buscava-se formar um profissional generalista com conhecimento no movimento humano focado na promoção de atividade física e saúde para diferentes grupos e ambientes. O curso propôs formar:
Objetivo Geral – Formar recursos humanos compatibilidades e competências necessárias para analisar criticamente a realidade social e nela intervir, possibilitando orientação às pessoas, independentemente de idade, de condições socio econômicas, de condições físicas e mentais, de gênero, de etnia, de crença, conhecimento e possibilidade de acesso à prática das diferentes expressões e manifestações culturais do movimento humano, reafirmando o direito inalienável de todo(a) cidadão(ã), como importante patrimônio histórico da humanidade e do processo de construção da individualidade humana.
Objetivos Específicos – Formar profissionais para atuarem nas diferentes manifestações da Educação Física, estimulando-os ao aperfeiçoamento permanente;
- Disponibilizar e construir conhecimentos científicos e profissionalizantes nas manifestações da Educação Física, permitindo a intervenção em diferentes contextos da sociedade contemporânea;
- Buscar a interdisciplinaridade em coerência com os eixos de desenvolvimento curricular, integrando as dimensões biológicas, psicológicas, sociais, culturais, filosóficas e ambientais, entre outras (UEL, 2014b, p. 20; UEL, 2017b, p.28).
O curso trouxe o aspecto de formar um profissional que tivesse compromisso crítico com sua realidade e seus conhecimentos, e que priorizasse o movimento humano em suas múltiplas expressões como um direito do cidadão, sendo isso “um patrimônio histórico da humanidade” na construção do indivíduo e da sociedade. Já nos objetivos específicos, o curso intentava formar um profissional preocupado com os conhecimentos científicos e interdisciplinares. Propunha-se a formação ligada principalmente à área da saúde relacionando-a com o ser social e culturalmente produzido que se movimenta sistematicamente no mundo, apresentando conhecimentos nas dimensões do homem: orgânica, motora, cognitiva, afetiva, ética, moral, social e histórica.
A formação proposta contava com a organização curricular distribuída em quatro séries e suas respectivas competências previstas:
1. Primeira série do curso: Série da organização do conhecimento acadêmico.
- Capacidades: Observar e conhecer.
2. Segunda série do curso: Série da identificação de métodos e conceitos.
- Capacidades: Analisar e teorizar.
3. Terceira série do curso: Série da avaliação e discussão de valores.
- Capacidades: Teorizar e sintetizar.
4. Quarta série do curso: Série da execução de projetos - Capacidades: Aplicar e transferir o aprendido. (UEL, 2004b, p. 8-9)
Na primeira série, o foco voltava-se para identificar e conhecer os fundamentos do conhecimento acadêmico e suas interfaces com o movimento humano em suas múltiplas manifestações. Na segunda série, a formação focava em discriminar conceitos fundamentais e elementos da metodologia científica, propondo desenvolver modelos de intelecção e intervenção. Já na terceira série, seria necessário inferir uma meta-análise do campo de intervenção e estudar os valores inerentes ao agir profissional, para assim desenvolver, com base nos modelos apreendidos, a capacidade de sínteses resolutivas de problemas da realidade. E, na última série, destinada ao momento de aprofundamentos teóricos e práticas, realização de estágio, desenvolvimento de um estudo acadêmico (TCC), para tanto dever-se-ia considerar a seleção de conteúdos para a intervenção profissional em academias, clubes, postos de saúde pública, clínicas, escolinhas de esportes individuais e coletivos, ambientes de recreação/lazer, salas de dança, escolas de atividades aquáticas, atividades de aventura, entre outros.
Algumas mudanças ocorreram desde o primeiro PPC de 2004 até o último de 2014. Em 2014, o curso foi reformulado e, em razão do fechamento do curso de Esporte, ampliou a sua atenção curricular para as manifestações esportivas. O PPC de 2014 sistematizou a habilitação bacharelado em Educação Física em oito eixos norteadores, divididos em “Formação Ampliada” e “Formação Específica”. A “Formação Ampliada” compreendia outros quatro eixos: biodinâmica do movimento humano; aspectos socioantropológicos do movimento humano; aspectos comportamentais do movimento humano e aspectos científicos e tecnológicos. A “Formação Específica” correspondia a mais quatro eixos: manifestações culturais do movimento humano; aspectos técnico-funcionais do movimento humano; aspectos pedagógicos do movimento humano e vivências profissionais. No interior dos eixos foram distribuídas as disciplinas e seus respectivos saberes e práticas.
Esse novo currículo do Bacharelado em Educação Física veio muito em direção ao atendimento da demanda do então curso de Bacharelado em Esporte que estava com a sua oferta em vestibular da UEL por ser finalizada em 2015. De fato, o novo PPC integrava os dois bacharelados (Educação Física e Esporte) e propôs uma organização curricular sendo comuns a todos graduandos as atividades acadêmicas da 1ª à 3ª séries, e na quarta série o estudante deveria optar apenas por dois dos três Núcleos Temáticos de Aprofundamento (NTA) oferecidos: esporte, saúde e lazer (caso o aluno quisesse optar por fazer os três núcleos, deveria cumprir o terceiro NTA no contraturno).
Assim, seguindo o PPC de 2014, o então único curso de Bacharelado em Educação Física da UEL iniciou a sua primeira turma em 2016. Contudo, essa realidade de formação profissional novamente foi colocada em discussão em 2018.
Continuidades e descontinuidades dos cursos (1968-2018)
Os três cursos analisados são oriundos da mesma área, a Educação Física. Os cursos de Licenciatura em Educação Física, de Bacharelado em Educação Física e de Bacharelado em Esporte apresentaram em seus currículos aproximações e distanciamentos. Nos PPCs, de modo geral, consta a proposição de formar profissionais engajados criticamente no seu campo de atuação e de estudos, além da necessidade de instigar a formação comprometida com a realidade política e social. A diferenciação estava mais ligada ao foco dado por cada curso: educação básica, atividade física/saúde e esporte.
Imagem 1. Características de cada curso: Licenciatura em Educação Física e Bacharelado em Educação Física e Esporte.
Fonte: (UEL, 2004b, p. 09)
O foco de cada curso se organizou em razão das mudanças dos interesses da sociedade objetivadas nos dispositivos legais orientadores das diferentes perspectivas de formação inicial em Educação Física e Esporte. Assim como aconteceu muito em razão das relações que os cursos e seus respectivos docentes construíram no Centro de Educação Física e Esporte (CEFE) da UEL. No CEFE havia, de certa maneira, um curso de graduação para cada departamento de docentes, a saber: Departamento de Estudos do Movimento Humano – EMH (Licenciatura em Educação Física), Departamento de Esporte – DES (Bacharelado em Esporte) e Departamento de Educação Física – DEF (Bacharelado em Educação Física). A partir de 2015, o CEFE continuou com os três departamentos (EMH, DES, DEF), contudo o DEF e DES juntos se articularam para gerir a demanda do curso único de Bacharelado em Educação Física, isso após a reformulação curricular ocorrida em 2014 e implantada desde 2016.
Por sua vez o curso de Educação Física da UEL, desde o ingresso da primeira turma em 1972, na habilitação licenciatura, viu-se modificar seu currículo e adentrar novos cursos em sua figuração institucional, sendo eles o Bacharelado em Esporte e em Educação Física. Os bacharelados chegaram para ampliar a área da Educação Física na UEL e tais implantações também se deram em razão de o seu histórico curso de licenciatura apresentar muitos docentes vinculados ao campo esportivo e ao da saúde, bem como o aprofundamento dos interesses da sociedade em atividades físicas, rítmicas expressivas, recreativas e esportivas para além da experiência escolar da Educação Básica. De fato, era demandada a ampliação da formação do profissional em Educação Física (SONODA NUNES, et al. 2021).
Não obstante, no ano de 2018, no Brasil, a fim de propor um novo currículo envolvendo ambas as habilitações (licenciatura e bacharelado) em Educação Física, foi promulgada a resolução CNE n° 6 de 18 de dezembro de 2018, que assim “Institui Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Educação Física e dá outras providências” (BRASIL, 2018, p. 48). A formação inicial/etapa comum deverá ser idêntica para as duas habilitações, sendo que, em um dado momento, o discente deverá optar por um núcleo/linha de aprofundamento para prosseguir com a sua formação. Essa política pressupõe mais uma forma de trabalhar a autonomia do graduando enquanto formação, como também aumentará o tempo disponibilizado ao discente para poder optar por qual curso pretende seguir na especialidade Educação Física. Na realidade da UEL, com a publicação da Resolução nº 6/2018, os três departamentos (EMH, DES, DEF) se debruçaram na formulação de um novo e único projeto pedagógico de curso que impactará na formação acadêmica profissional e na organização interna do CEFE/UEL. Isso, conforme a perspectiva de Magalhães (2004), por força da externalidade.
Considerações finais
As trajetórias históricas dos cursos de Educação Física e Esporte da UEL (1968-2018) perduram sobre o tempo presente (CHAUVEAU; TÉTART, 1999), certamente seus currículos proporcionaram formação de muitos professores qualificados, em termos teórico e prático, preocupados com a realidade social e seu meio de trabalho. A trajetória dos cursos iniciou-se em 1972 com o ingresso da primeira turma de licenciatura em Educação Física, em 1999 implantou-se o curso de Bacharelado em Ciências do Esporte que ofereceu vagas em vestibular até 2015 e, na intersecção das temporalidades, a instituição passou a também oferecer o curso de Bacharelado em Educação Física implementado a partir de 2005.
Compreende-se que os três cursos estiveram envolvidos não somente com as obrigatoriedades dos dispositivos legais, mas também pelas relações de poder presentes no CEFE/UEL. Tais relações foram destacadas na existência de um curso de graduação por departamento de docentes, isto é, no CEFE cada instância departamental organizava um curso: Departamento de Estudos do Movimento Humano – EMH (Licenciatura em Educação Física), Departamento de Esporte – DES (Bacharelado em Esporte) e Departamento de Educação Física – DEF (Bacharelado em Educação Física). A existência das instâncias departamentais, com seus respectivos colegiados de curso, representou possibilidades de poder na estrutura da instituição educativa. Pois, conforme Goodson (2018), a organização curricular implica relações sociais e de poder para sustentar as dinâmicas formativas e institucionais, representando assim as lutas e conflitos no interior de uma comunidade educacional, acadêmica, científica e profissional no sentido de instaurar certas concepções de formação, de trabalho, de ciência, de homem e de sociedade.
Com a nova proposta de diretrizes curriculares nacionais para a Educação Física, prescrita pela resolução CNE n° 6/2018, as movimentações em torno da organização da formação em Educação Física no CEFE/UEL, bem como em outras instituições brasileiras, foram intensificadas e, por conseguinte, os jogos de poder também foram/serão intensificados na construção social do currículo. No caso da UEL, em um futuro breve, haverá maiores condições para interpretações de como o processo se deu e quais as relações sócio dinâmicas foram assumidas para a elaboração do novo projeto pedagógico de curso com entrada única, etapa comum de formação e etapa específica (licenciatura e/ou bacharelado) de formação para a conclusão do curso de Educação Física.
Referências
AZEVEDO, Ângela Celeste Barreto; MALINA, André. Memória do currículo de formação profissional em educação física no Brasil. Revista Brasileira Ciências do Esporte - RBCE, Campinas, v. 25, n. 2, p. 129-142, jan. 2004.
BRASIL. Diário Oficial da União. Decreto nº 69.450, de 1 de Novembro de 1971.Regulamenta o artigo 22 da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, e alínea c do artigo 40 da Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968 e dá outras providências. Brasília, 1971. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-69450-1-novembro-1971-418208-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 23 out. 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei 9.394 de 20 de Dezembro de 1996. LDBE. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 7, de 31 de Março de 2004. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Educação Física, em nível superior de graduação plena. Brasília, 2004.
CASTELLANI FILHO, Lino. Educação Física no Brasil: A história que não se conta. Campinas: Papirus, 1988.
CHAUVEAU, Agnes; TÉTART, Philipe. (Orgs.). Questões para a história do presente. Bauru: EDUSC, 1999.
FÁVERO, Maria de Lurdes de Albuquerque. A Universidade no Brasil: das origens à Reforma Universitária de 1968. Educar, Curitiba, n. 28, p. 17-36, 2006.
FIGUEIREDO, Priscila Kelly. A história da educação física e os primeiros cursos de formação superior no Brasil: o estabelecimento de uma disciplina (1929-1958). 2016. 272 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.
FONSECA, Rubiane Geovane; HONORATO, Tony; SOUZA NETO, Samuel. As práticas corporais na legislação imperial e a construção de uma sociologia da profissão para a educação física. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 28, p. 509-526, 2021.
GOODSON, Ivor Frederick. Currículo: teoria e história. Petrópolis: Vozes, 2018.
MAGALHÃES, Justino Pereira de. Tecendo nexos: história das instituições educativas. Ed. Universidade São Francisco, 2004.
MAGALHÃES, Justino Pereira de. História da educação em perspectiva: ensino, produção e novas investigações. Campinas Autores Associados, Edufu, 2005.
MAGALHÃES, Justino Pereira de. A construção de um objecto do conhecimento histórico. Do arquivo ao texto – a investigação em história das instituições educativas. Educação Unisinos. v.11, n. 2, mai./ago, 2007.
MELO, Victor Andrade de. Escola Nacional de Educação Física e Desportos: uma possível história. 1996. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade de Campinas, Campinas, 1996.
MELO, Victor Andrade de. História da Educação Física e do Esporte no Brasil: panorama e perspectivas. São Paulo: IBRASA, 1999.
MELO, Victor Andrade de; PERES, Fábiode Faria. O corpo da nação: posicionamentos governamentais sobre a educação física no Brasil monárquico. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 21, p. 1131-1150, 2014.
NÓBREGA, Luiz Fernando Medeiros; SECCO, Mauro B. G. Evolução da educação física no exército brasileiro. Navigator: Subsídios para a história marítima do Brasil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 23, p. 91-101, 2016.
PARANÁ. Conselho Estadual de Educação. Processo nº 198/68. Solicitação de Parecer Técnico para criação de Escola Superior de Educação Física. Londrina, 1968.
UEL. CEFE. Histórico. Londrina, [20--?]. Disponível em: http://www.uel.br/cefe/portal/pages/historico.php. Acesso em: 15 nov. 2019.
UEL. Centro de Educação Física e Desportos. Currículo III do curso de graduação em Educação Física. OF. CEF. DIR. Nº 129/89. Proposta de alteração curricular em obediência à RESOLUÇÃO nº 03/87, resultante do PARECER n° 215/87, ambos do Conselho Federal de Educação. Londrina, 1989.
UEL. Governo Estadual do Paraná. Decretonº 18.110.1970. Cria, sob a forma de Fundação, a Universidade Estadual de Londrina. Londrina, 1970. Disponível em: http://www.uel.br/gabinete/portal/pages/arquivos/Legislacao/Decreto%2018110%20-%20Cria%20a%20UEL.pdf. Acesso em: 18 jan. 2022.
UEL. Processo nº 257247/1991. Proposta de elaboração do currículo do curso de Educação Física - Hab. Licenciatura. Londrina, 1991.
UEL. Protocolo nº 370204/1997. Proposta de bacharelado em Ciência do Esporte. Londrina, 1997.
UEL. Processo: 14903/2004. OF. CEF/COL. 03/04 – Projeto Político Pedagógico do Curso de Educação Física – Licenciatura. 2004a.
UEL. Processo nº 7290/2004. OF. COL.EDF. Nº 23/03. Criação da habilitação em bacharelado no curso de Educação Física. Londrina, 2004b.
UEL. Parecer CNE nº 058, de 18 de fevereiro de 2004. Processo: 30086/2004. Projeto Político-Pedagógico do Curso de Educação Física- Bacharelado. Londrina, 2004c.
UEL. Processo nº 9737.2006. OF. CEF/COL N° 010. Reformulação do curso de ciências do esporte. Londrina, 2006.
UEL. Processo nº 102498429. Renovação de reconhecimento Curso Esporte. Londrina, 2009.
UEL. Processo nº 14352.2010. Proposta de alteração do projeto político pedagógico do curso de educação física – habilitação bacharelado. Londrina, 2010.
UEL. Processo nº 17044.2011. Reformulação curricular do curso de bacharelado em esporte. Londrina, 2011.
UEL. Processo nº 28420.2013. Projeto Político Pedagógico do Curso de Ciência do Esporte. Londrina, 2013.
UEL. Protocolo 13.254.312-7. OF.R.N. 501/2014 – Encaminha o pedido de renovação de reconhecimento do curso de Educação Física – Licenciatura. 2014a.
UEL.Processonº 28081/2014. Projeto político Pedagógico de Curso em Educação Física – Bacharelado. Londrina, 2014b.
UEL. Protocolo nº 13.572.879-9. OF. R. Nº 145/2015. Encaminha pedido de renovação de reconhecimento do curso de graduação em Esporte. Londrina, 2015.
UEL. Processo nº 2103.2017. OFÍCIO.COL/LIC N°. 003/2017. Solicita adequações curriculares para serem implantadas no ano letivo de 2017a. Londrina, 2017a.
UEL. Protocolo nº 14.915.064-1. OF. R. N° 614/2017b. Encaminha pedido de renovação de reconhecimento do curso de graduação em Educação Física – Bacharelado. Londrina, 2017b.
Notas
[i]O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –Brasil (CAPES), da Rede CEDES-Paraná e do projeto “Ações municipais e educação no Brasil: o processo de escolarização em Londrina (1942-1992)” financiado pelo CNPq (Edital 09/2022) e Fundação Araucária/SETI (Edital-CP 09/2021).
[ii] Foram identificados os seguintes documentos históricos (1968-2017): parecer / Criação - Escola Superior de Ed. Física (1968); proposta de alteração do currículo do curso de Educação Física (1989); proposta de elaboração do currículo do curso de Educação Física - Hab. Licenciatura (1991); reestruturação do currículo Licenciatura Educação Física (2003); PPC de Educação Física – Licenciatura (2004); proposta de adequações curriculares do projeto pedagógico do curso de Licenciatura em Educação Física (2009); renovação do reconhecimento do curso de Educação Física – Licenciatura (2014); adequações curriculares (2017).
[iii] Foram identificados os seguintes documentos históricos (2004-2017): PPC do Bacharelado em Educação Física (2004); proposta de alteração do PPC de Educação Física – Bacharelado (2010); PPC do novo Curso de Educação Física – Bacharelado (2014); pedido de renovação de reconhecimento do curso de Educação Física – Bacharelado (2017).
[iv] Foram identificados os seguintes documentos históricos (1997-2015): proposta de criação do curso de Bacharelado em Ciências do Esporte (1997); reconhecimento do Curso de Ciências do Esporte (2003); reformulação do Curso de Esporte (2006); reformulação do Curso de Esporte (2011); PPC do Bacharelado em Esporte (2013); processo de renovação de reconhecimento do curso de Esporte (2013).
This work is licensed under a Creative Commons
Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0)