Fatores associados à evasão, conclusão, mobilidade e retenção na Universidade Federal da Fronteira Sul[1]

 

Factors associated with dropout, completion, mobility and retention in Federal University of Fronteira Sul (Brazil)

 

Factores asociados al abandono, conclusión, movilidad y retención en la Universidad Federal de Fronteira Sul (Brasil)

 

 

Rosileia Lucia Nierotka

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Chapecó, SC, Brasil.

rnierotka@gmail.com    

                       

Karina Carrasqueira

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 

karina.carrasqueira@gmail.com 

 

 

Recebido em 08 de julho de 2022

Aprovado em 07 de setembro de 2022

Publicado em 17 de fevereiro de 2024

 

 

RESUMO

Este trabalho objetiva investigar fatores relacionados com a trajetória de uma coorte de estudantes de uma Instituição de Ensino Superior pública brasileira. Foi investigada a associação entre características socioeconômicas dos estudantes, aspectos pré-universitários e aspectos institucionais com a conclusão, evasão, mobilidade acadêmica e retenção em um estudo de caso na Universidade Federal da Fronteira Sul, que possui mais de 90% dos universitários oriundos de escola pública. Observou-se a situação de matrícula no segundo semestre de 2019 de 1.882 estudantes que ingressaram na Instituição em 2013 por meio do Exame Nacional do Ensino Médio. Desse grupo, 11,2% ainda permaneciam na Instituição (retenção); 27,4% haviam concluído; 54,6% evadiram e 6,9% haviam transferido para outro curso na mesma ou em outra Instituição (mobilidade). Foram realizadas análises descritivas bivariadas a partir de dados secundários obtidos na própria Instituição. Os resultados encontrados indicam que as características da instituição, dos cursos e as características pré-universitárias dos estudantes, como o tipo de escola frequentada no Ensino Médio, fazem diferença na trajetória dos estudantes. Da mesma forma, observou-se que homens, não-brancos e estudantes mais velhos evadem mais. Por outro lado, estudantes que recebem apoio social e que moram na zona rural concluem mais.

Palavras-chave: Ensino superior; Evasão; Conclusão, Mobilidade.

 

ABSTRACT

This paper aims to investigate factors related to the trajectory of a cohort of students from a Brazilian Public Higher Education Institution. The association between students' socioeconomic and pre-university characteristics and institutional aspects with the completion, dropout, mobility and retention was investigated in a case study at Federal University of Fronteira Sul, which has more than 90% of students from public schools. It was observed the enrollment situation in the second semester of 2019 of 1.882 students who entered the Institution in 2013 through National High School Exam. Of this group, 11.2% were still studying at the institution (retention); 27.4% had completed their studies; 54.6% had dropped out and 6.9% had managed to transfer to another graduation course at the same or at another institution (mobility). Bivariate descriptive analyses were made by using secondary data obtained in the institution itself. The results found indicate that the characteristics of the institution, the courses, and the pre-university characteristics of the students, such as the type of school attended in high school, make the difference in the student's trajectory. Likewise, men, non-white, and older students' dropout more. On the contrary, students who receive social support and live in the rural area conclude more.

Keywords: Higher education; Dropout; Completion, Mobility.

 

RESUMEN

Este trabajo tiene como objetivo investigar factores relacionados con la trayectoria de una cohorte de estudiantes de una institución pública de educación superior brasileña. Se investigó la asociación entre las características socioeconómicas de los estudiantes, los aspectos preuniversitarios y los aspectos institucionales con la conclusión, el abandono, la movilidad académica y la retención en un estudio de caso en la Universidad Federal de Frontera Sul, que tiene más del 90% de estudiantes universitarios provenientes de escuelas públicas. Se observe la situación de matrícula en el segundo semestre de 2019 para 1,882 estudiantes que ingresaron a la Institución en 2013 a través del Examen Nacional de Bachillerato. De este grupo, el 11,2% aún permanecía en la Institución (retención); el 27,4% lo había completado; El 54,6% abandonó y el 6,9% se había trasladado a otra carrera en la misma u otra institución (movilidad). Se realizaron análisis descriptivos bivariados utilizando datos secundarios obtenidos de la propia Institución. Los resultados encontrados indican que las características de la institución, los cursos y las características preuniversitarias de los estudiantes, como el tipo de escuela a la que asistieron en la secundaria, marcan una diferencia en la trayectoria de los estudiantes. Asimismo, se observó que los hombres, los no blancos y los estudiantes de mayor edad abandonan más los estudios. En cambio, los estudiantes que reciben apoyo social y que viven en zonas rurales completan más.

Palabras clave: Educación superior; Evasión; Conclusión, Movilidad.

 

Introdução

Há pelo menos cinco décadas, pesquisadores investigam os fatores que influenciam na conclusão ou não de um curso universitário. No Brasil, essa discussão tomou mais força com as mudanças na educação superior que ampliaram o acesso e promoveram a diversificação dos estudantes (SALES JUNIOR et al., 2016). Ao analisar o desempenho, em 2015, de uma coorte de ingressantes em 2010, em todas as Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras, Fritsch, Jacobus e Vitelli (2020) constataram que, ao final de seis anos, cerca de 50% dos ingressantes desistiram da graduação e apenas 37,10% concluíram a graduação, com maior taxa de desistência acumulada entre as IES privadas (58,26%), em relação às públicas (44,43%). Com à conclusão dos cursos os percentuais são semelhantes, ainda que ligeiramente superior nas IES públicas (37,61%), em relação às IES privadas (34,54%).

A fim de contribuir com esta discussão, o objetivo desse artigo é investigar fatores relacionados com os fenômenos de retenção, evasão, mobilidade e conclusão da graduação em uma Instituição de Ensino Superior (IES) pública federal, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Esta IES é multicampi e encontra-se localizada no interior dos três Estados da Região Sul do Brasil. Esse estudo complementa pesquisas de Nierotka (2021) e de Nierotka; Bonamino; Carrasqueira (2022), que indicam a evasão e a conclusão dos cursos na UFFS mais associadas com aspectos institucionais (apoio social, turno do curso), com o desempenho do estudante e características como de gênero, idade e de localização da moradia.

Este estudo é exploratório e considerou a situação de matrícula em 2019/2 de uma coorte de ingressantes na UFFS no ano de 2013, por meio do Enem, que é a principal forma de ingresso nesta IES. Este ano foi escolhido por ser o primeiro ano de aplicação da Lei de Cotas. Foram realizadas análises descritivas bivariadas utilizando variáveis de características socioeconômicas e educacionais dos estudantes e características institucionais.

Além desta introdução, o artigo encontra-se dividido em mais cinco partes: a primeira apresenta aspectos da literatura acerca dos fatores associados às trajetórias universitárias; a segunda situa a UFFS e suas principais políticas de acesso; a terceira apresenta o método, seguido dos resultados e das conclusões.

 

Fatores associados às trajetórias universitárias

Pesquisadores vêm se debruçando na tentativa de explicar quais fatores mais influenciam na conclusão ou evasão de um curso universitário. O modelo de integração estudantil desenvolvido por Vicent Tinto, a partir de 1975, foi pioneiro em tratar de forma longitudinal a persistência do estudante até a sua graduação e os fatores relacionados. Para o autor, a evasão seria motivada principalmente por fatores como o desempenho acadêmico e a falta de integração acadêmica e social do estudante no ambiente universitário (DA COSTA; GOUVEIA, 2018).

Em uma revisão sistemática de estudos sobre permanência e abandono estudantil na América Latina e Caribe, do período de 1990 a 2016, Munizaga, Cifuentes e Beltrán (2018) identificaram fatores de cunho individual, acadêmico, institucional, econômico e cultural. Já, os autores Da Costa e Gouveia (2018) apontaram como fatores relacionados à permanência: preparação acadêmica; integração social e acadêmica; compromisso com a Instituição e com o objetivo; ambiente (relacionado a questões financeiras, familiares e de trabalho) e questões associadas a características demográficas.  

No Brasil, estudos como de Sales Junior et al. (2016), Adachi (2017), Costa (2018) e de Sacarro, França e Jacinto (2019) mostram que a permanência ou evasão no ensino superior estão associados a características individuais, familiares e de desempenho dos estudantes e às experiências e características institucionais. A evasão é maior também no início dos cursos, e, principalmente, em cursos cuja nota de ingresso e relação candidato/vaga é mais baixa, enquanto que, em cursos mais concorridos a evasão é menor. Homens, autodeclarados pretos, que frequentam cursos noturnos, licenciaturas e de instituições no interior e na Região Sul tendem a evadir mais. Estudantes que recebem apoio social e que participam de atividades extracurriculares tendem a evadir menos.

O fenômeno da evasão, segundo Zago, Paixão e Pereira (2016), em pesquisa realizada com estudantes evadidos em um dos campi da UFFS, encontra-se relacionado também como mobilidade intra e interinstitucional; ocorre de forma significativa ainda no primeiro ano de graduação, e está atrelada mais especificamente à condição de estudante e trabalhador. A pesquisa de Fassina (2018) corrobora com o fato de que o estudante que trabalha tem suas condições de permanência reduzidas.

Em consonância com os resultados encontrados por Zago, Paixão e Pereira (2016) em relação à evasão e à mobilidade dos estudantes - entendida com a transferência de um curso para o outro na mesma ou em outra IES -, buscamos neste estudo separar os conceitos de evasão e mobilidade. Conforme destacam os autores Ristoff (1999; 2021), Li e Chagas (2017) e Coimbra, Silva e Costa (2021) a evasão nem sempre deve ser vista como um problema, uma vez que, em algumas situações, indica apenas uma situação de mobilidade dos estudantes, em busca de melhores perspectivas de vida e realizações pessoais.

Coimbra, Silva e Costa (2021) destacam a necessidade de observar a evasão sempre a partir de suas causas, buscando separar o que de fato seriam problemas públicos a serem enfrentados. Neste sentido os autores sugerem três tipos de evasão: “evasão por exclusão”; “evasão para inserção” e “evasão por externalidades”. A primeira delas ocorre com a perda de vínculo do estudante e isso pode acarretar um problema social e até um fracasso da própria Instituição. Essa evasão seria motivada, por exemplo, por práticas pedagógicas dos docentes; falta de infraestrutura e apoio social aos estudantes e dificuldades na relação ensino-aprendizagem. A “evasão por inserção” ocorre com a transição dos estudantes entre cursos, instituições e sistemas de ensino superior e que são originadas pela busca de novas e/ou melhores oportunidades, sendo não necessariamente tomado pelas Instituições como um problema. E, a “evasão por externalidades” ocorre com a perda do vínculo de modo involuntário, por causas externas, a exemplo, de óbito, motivo graves de saúde e problemas com a justiça.

Na trajetória dos estudantes do ensino superior, cujo desfecho a partir do ingresso seria a conclusão do curso, encontramos também o fenômeno da retenção, ou seja, o período que o estudante leva para concluir o curso além do tempo de integralização do curso. Em alguma medida, também pode ser vista como um problema, uma vez que sinaliza dificuldades que o estudante possa estar enfrentando, a exemplo, das reprovações, e que, em muitos casos também pode levar à desistência e/ou o prolongamento da vida acadêmica (TEIXEIRA; QUITO, 2021).

O estudo de Teixeira e Quito (2021) sistematizou a aplicação de uma metodologia, de caráter longitudinal, que analisou a trajetória de estudantes de graduação, a partir de ingressantes em cursos de graduação presencial da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), de 2008 a 2017, envolvendo cerca de 54.000 discentes. Apresentaram três indicadores alternativos: Taxa Longitudinal de Evasão (TLE), Taxa Longitudinal de Diplomação (TLD) e Taxa Longitudinal de Trancamento (TLT). A metodologia de cálculo da evasão considerou apenas os ingressantes desvinculados, seja por conta do próprio estudante ou por conta de normas institucionais, levando em consideração o prazo mínimo e o prazo máximo de integralização de cada curso. As taxas foram calculadas de forma anual. Os resultados mostraram que, dos ingressantes, de 2008 a 2017, considerando a média ponderada, 22% dos estudantes concluíram o curso no período mínimo de integralização do curso e 44%, no período máximo (que considera um tempo de 50% a mais em relação ao período mínimo). Os resultados também sinalizaram para um aumento da evasão nos cursos, cuja oferta ocorre em turnos vespertinos e noturnos e em curso de licenciaturas (20% dos ingressantes evadiram no período mínimo de integralização do curso e 33% no período máximo), em relação aos bacharelados (17% evadiram no período mínimo e 27% no período máximo).

Tendo em vista que as variadas metodologias e formas de olhar para o percurso dos estudantes do ensino superior, desde o seu ingresso até a conclusão do curso, buscamos neste estudo, acompanhar uma coorte de ingressantes na UFFS, em 2013, e os principais fatores associados à sua situação de matrícula após seis anos de ingresso (2019/2), considerando: conclusão do curso; evasão do curso; mobilidade e retenção.

Contexto da UFFS e suas políticas de ingresso 

A UFFS foi criada em 2009 e possui seis campi distribuídos no interior dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Segundo Trevisol, Cordeiro e Hass (2011), o processo de criação da UFFS situa-se no contexto das políticas de expansão e de interiorização do ensino superior público. Seu projeto de universidade se define como pública e “popular”, desde as suas origens, pela sua constituição movida pela luta dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada, em prol do ensino superior público para uma região historicamente marginalizada desse acesso.

O ingresso nesta Universidade, desde o início,ocorre majoritariamente por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nos primeiros três anos, a UFFS aplicava um bônus sobre a nota do Enem, considerando 10% para cada ano do Ensino Médio cursado em escola pública. Com isso, em 2012, ano da aprovação da Lei de Cotas[2] (Lei n. 12.711/12), a UFFS possuia mais de 90% de estudantes oriundos de escolas públicas. A adesão à referida Lei, em 2013, ocorreu de forma integral e o critério adotado para a reserva das vagas para escola pública se deu a partir do percentual de estudantes que conclui o ensino médio na escola pública, considerando o Censo da Educação Básica de cada Estado, em que se encontra localizado os campi (UFFS, 2012). Dentro desse percentual, ocorre a reserva de vagas para estudantes com baixa renda e para pretos, pardos e indígenas. Além disso, foi criada uma ação afirmativa própria da UFFS, destinada para estudantes que concluíram o ensino médio parcialmente em escola pública ou em escola de direito privado sem fins lucrativos.

 

Método

Os dados utilizados foram fornecidos pela Diretoria de Registro Acadêmico e Diretoria de Sistemas de Informação da UFFS[3] e continham: informações acadêmicas e pessoais de todos os ingressantes na UFFS, em 2013, e sua situação de matrícula no segundo semestre de 2019; informações socioeconômicas, respondidas pelos ingressantes no momento da inscrição aos Processos Seletivos de 2013; e informações sobre o apoio social recebido da Assistência Estudantil naquele ano. A decisão foi manter apenas os ingressantes pelo Enem, por serem os únicos que haviam respondido os questionários socioeconômicos. O banco de dados final apresentou 1.882 ingressantes.

A variável dependente nesta análise é a situação de matrícula dos alunos no segundo semestre de 2019. Considerando que os estudantes ingressaram em 2013 e os cursos têm tempo médio previsto de formação entre 4 a 6 anos esperava-se que, em uma situação ideal, a maioria dos estudantes já tivesse concluído o curso.

As categorias de situação de matrícula utilizadas neste trabalho são agregações das categorias existentes nas bases de dados, a saber: a) retenção – se aplica quando os estudantes ainda estão frequentando o curso e os que estão com a matrícula trancada[4];  b) concluída - são os estudantes graduados e alunos formandos; c) evasão - são os estudantes desistentes[5], jubilados[6] e com matrícula cancelada[7]; e d) mobilidade - são os estudantes que saíram do curso para ingressar em outro curso e/ou turno na UFFS ou em outra Instituição, por meio transferência interna ou externa. A tabela 1, apresenta a variável dependente desse estudo.

 

Tabela 1 - Situação de matrícula em 2019/2

Situação de matrícula

Frequência

Percentual

Retenção

210

11,2

Concluída

515

27,4

Evasão

1.027

54,6

Mobilidade

130

6,9

Total

1.882

100

Fonte: Base de dados da DRA/UFFS

 

Enquanto limitações apontam-se as seguintes: não se tem informações sobre qual ano ou semestre o estudante concluiu ou evadiu do curso e nem o período que a matrícula esteve trancada; não sabermos a situação de matrícula dos estudantes transferidos para outros cursos e/ou turno na mesma universidade e/ou em outra Instituição. Portanto, ao tratar de evasão neste trabalho, estamos nos referindo à evasão do curso e apenas sinalizando os casos de mobilidade.

Foram realizadas análises bivariadas da variável dependente com as variáveis independentes: características pessoais e socioeconômicas dos estudantes (sexo, raça/cor, idade, situação de trabalho, renda, escolaridade do pai, escolaridade da mãe, local de moradia); características pré-universitárias (tipo de ensino médio e escola pública) e características institucionais e do curso (campus, apoio estudantil, curso, grau acadêmico, turno).

Adicionalmente, foram realizados testes de Qui-Quadrado de Pearson - teste estatístico para verificar se o resultado encontrado é fruto do acaso - entre a variável dependente e as variáveis independentes supracitadas (resultados no apêndice 1). 

 

Resultados

Características pessoais e socioeconômicas

Ao analisar a trajetória dos estudantes com relação ao sexo, observa-se que as mulheres concluem mais que os homens, evadem menos e apresentam menor retenção. A transferência de cursos (mobilidade) ocorre de modo parecido entre os sexos. O teste de qui-quadrado apresentou resultados significativos, indicando que há diferenças na trajetória de homens e mulheres na UFFS.

 

Gráfico 1 - Situação de matrícula, segundo sexo

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

Ao analisar a situação de matrícula dos estudantes, segundo raça/cor observou-se que entre os que se autodeclaram amarelos (17 estudantes) nenhum concluiu o curso; 15 evadiram; um continua no curso e outro transferiu para outro curso. Observa-se uma grande evasão entre os que não se declararam quanto à raça/cor, além de possuírem o menor percentual de conclusão dos cursos, seguido dos estudantes autodeclarados pretos e indígenas. Os estudantes indígenas apresentaram os maiores percentuais de retenção, indicando que demoram mais tempo para se formar, podendo sinalizar também um contexto maior de reprovações. Dos sete estudantes, apenas um concluiu o curso; três evadiram e três ainda permaneciam com a matrícula ativa. Os estudantes brancos possuem maior percentual de conclusão.

Para o teste de Qui-quadrado os não declarados foram excluídos da análise. Os resultados foram estatisticamente significativos indicando que realmente há uma diferença nas trajetórias de estudantes de grupos étnico-raciais diferentes.

 

Gráfico 2 - Situação de matrícula, segundo raça/cor

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

 

Gráfico 3 - Situação de matrícula, segundo a faixa etária

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

 

Com relação à idade, observa-se que os percentuais de conclusão são maiores entre os estudantes que ingressaram na faixa etária de 17 a 20 anos. Os percentuais de retenção e mobilidade são próximos para todas as faixas etárias. Os maiores percentuais de evasão encontram-se na faixa etária acima de 25 anos.

O teste de Qui-quadrado foi estatisticamente significativo mesmo utilizando as variáveis dependente e independente originais, o que nos indica que há diferenças entre as faixas etárias que precisam ser exploradas, não apenas para evasão e conclusão, mas também para o tempo que demoram para se graduar e a mobilidade.

Com relação à condição de trabalho, constatou-se uma evasão maior entre os que trabalhavam no momento do ingresso, e, principalmente, em tempo integral ou parcial. Os estudantes que mais se formam são os que não trabalhavam no momento do ingresso, seguido dos que apenas desenvolviam trabalhos autônomos. A situação de mobilidade é maior também para esse último grupo. Este achado é reforçado pelo teste de Qui-quadrado que teve resultado estatisticamente significativo para a variável dependente com quatro categorias. Vale destacar que não sabemos a situação de trabalho dos discentes ao longo do curso, tendo apenas a informação na sua matrícula.

 

Gráfico 4 - Situação de matrícula, segundo condição de trabalho do estudante

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

A maior parte dos estudantes possui renda familiar entre um e três salários mínimos (56,4%). Com relação à situação de matrícula e a condição de renda, observa-se que os estudantes mais abastados evadem menos e possuem um percentual maior de retenção e de conclusão nos cursos. Contudo, o teste de Qui-quadrado não foi significante. Foi tentado também outras combinações de faixa de renda, pois algumas tinham pouca incidência de casos, de modo que obtivemos significância de 5% com a renda nas categorias apresentadas no gráfico 5.

Esse resultado pode ser explicado pelo fato da renda estar correlacionada com outras variáveis como o sexo, a cor/raça - sendo os testes de Qui-quadrado estatisticamente significativos. Desde modo, a renda pode estar confundida com outras características sociodemográficas dos estudantes.

 

Gráfico 5 - Situação de matrícula, segundo a renda familiar

Nota: s.m. = salários mínimos

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

           

A maioria dos estudantes da UFFS é a primeira geração da família a ingressar no Ensino Superior, uma vez que seus pais, em sua maioria, frequentaram até o ensino fundamental. São esses estudantes que mais concluem os cursos na UFFS. Ao cruzar a escolaridade da mãe dos estudantes com a situação de matrícula observa-se que os percentuais de evasão são próximos e ligeiramente maiores com relação aos estudantes, cujas mães não estudaram. Também nesse grupo são maiores os percentuais de retenção e mobilidade e o menor percentual de conclusão dos cursos.

 

 

Gráfico 6 - Situação de matrícula, segundo escolaridade da mãe

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

 

Com relação à escolaridade do pai dos estudantes o fenômeno é semelhante com relação a escolaridade da mãe. Apenas a maior evasão está no grupo de estudantes cujos pais possuem ensino superior. Os maiores percentuais de mobilidade e de retenção estão no grupo em que os pais não estudaram, e a conclusão também é menor nesse grupo, em relação aos demais.

 

Gráfico 7 - Situação de matrícula, segundo escolaridade do pai

 

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

Em relação ao teste de Qui-quadrado, tanto escolaridade do pai, quanto a escolaridade da mãe não foram estatisticamente significativas. Devemos considerar também que o número de estudantes com pais e mães que não estudaram representam apenas 2%, sendo um número muito inferior ao das outras categorias, e por isso cada caso nesta categoria representa uma alta porcentagem. Deste modo, mesmo que este grupo parece diferente dos outros entre termos de proporção, estatisticamente pode não ter diferença real.

Sobre a localização da moradia dos estudantes, a maioria reside na zona urbana e uma parcela significativa na zona rural. Apenas dois estudantes residiam em comunidade indígena. Para a realização do gráfico e testes estatísticos, esta categoria foi incorporada à zona rural. Ao cruzar os dados da situação de moradia com a situação de matrícula observa-se que os estudantes da zona rural concluem mais e evadem menos, em relação ao grupo de estudantes da zona urbana. Este resultado é reforçado pelo teste de Qui-quadrado, indicando uma diferença na trajetória dos estudantes de zona rural e urbana.

Esse é um achado interessante e pode estar associado ao desenho institucional multicampi da UFFS, voltada para a interiorização da educação superior numa região que historicamente carecia dessa modalidade de educação pública (TREVISOL; CORDEIRO; HASS, 2011). O fato de ter campi localizados em municípios no interior e de diferentes portes permitiu maior acesso e mobilidade dos estudantes da própria região, sem a necessidade de migrar de cidade ou Estado para estudar, conforme demonstra o estudo de Reche (2018). 

 

 

Gráfico 8 - Situação de matrícula, segundo localização de moradia

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

 

 

Características pré-universitárias

Quanto ao tipo de Ensino Médio, os estudantes que cursaram supletivo são os que mais evadiram e se transferiram dos cursos. Além disso, são os que apresentaram o menor percentual de conclusão nos cursos. Os que cursaram o Ensino Médio regular ou profissionalizante apresentaram percentuais de conclusão próximos. Os egressos do ensino profissionalizante também apresentaram maior percentual de retenção.

 

Gráfico 9 - Situação de matrícula, segundo o tipo de Ensino Médio

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

Para verificar o tipo de escola do Ensino Médio, foram criadas duas categorias, uma com os estudantes que disseram ter estudado toda ou a maior parte do ensino médio em escola pública e a segunda com os demais estudantes. Ao cruzar o tipo de escola com a situação de matrícula, observou-se que os provenientes de escola pública apresentaram um percentual maior de conclusão de curso. Os percentuais de evasão e de retenção são próximos. O percentual de mobilidade é maior para o grupo dos que não são de escola pública.

Ao cruzar os grupos de inscrição do Processo Seletivo com a situação de matrícula observa-se que os ingressantes apenas pela escola pública e condição étnica e/ou junto com o critério de renda são os que mais evadem e apresentaram percentuais menores de conclusão nos cursos. O grupo de escola pública parcial apresentou o segundo menor percentual de conclusão. Já os grupos de apenas escola pública e/ou junto com renda apresentaram os mais altos percentuais de conclusão. De um modo geral, se juntarmos os grupos como cotistas e não cotistas, os percentuais de conclusão, evasão, mobilidade e retenção são próximos. A conclusão é ligeiramente superior para os cotistas (27,6%), em relação ao grupo de ampla concorrência (25,9%) e inverso com relação à evasão (54,8% para cotistas e 52,6% para não cotistas).

 

Gráfico 10 - Situação de matrícula, segundo tipo de escola onde estudou

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

Ao aplicar o teste de Qui-quadrado encontrou-se que para todas as características pré-universitárias analisadas (escola pública, tipo de escola no Ensino Médio e grupo de inscrição no Processo Seletivo da UFFS) as diferenças observadas eram estatisticamente significantes. Isto indica que tais características podem ter impacto na trajetória do estudante.

 

Gráfico 11 - Situação de matrícula, segundo os grupos de inscrição no PS da UFFS

Nota: REP = Reserva Ensino Público

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

 

Características institucionais e do curso

Ao analisar os cursos por grandes áreas do conhecimento, a área de Negócios e Administração e a área de Saúde são as que mais formam estudantes na UFFS, 39,4% e 38,5%, respectivamente, e apresentam os menores percentuais de evasão. A área de Computação é a que possui o menor percentual de matrículas concluídas (7,5%) e maior retenção (17,2%).

 

Gráfico 12 - Situação de matrícula, segundo o curso de graduação

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

Com relação aos cursos, de uma forma mais geral[8], constatou-se que os maiores percentuais de conclusão estão nos cursos de Pedagogia e Arquitetura e Urbanismo. E os menores estão nos cursos de Filosofia e Ciências Sociais. Os maiores percentuais de evasão foram observados para os cursos de Física e Filosofia. O curso de Medicina tem o menor percentual de evasão e de mobilidade. O maior percentual de mobilidade foi observado para o curso de Engenharia de Aquicultura. A retenção se concentra, principalmente, em cursos como: Engenharia Ambiental, Nutrição e Ciências da Computação.

Com relação ao campus em que os estudantes estão inseridos, os maiores percentuais de evasão e de mobilidade se encontram em Laranjeiras do Sul, que concentra também o menor percentual de conclusão. O Campus Passo Fundo, que possui apenas o curso de Medicina, possui o maior percentual de conclusão e menor de evasão. O alto percentual de retenção se explica pelo fato da de que a integralização desse curso ocorreu apenas no final do primeiro semestre de 2019 e a situação de matrícula foi verificada em 2019/2.

 

Gráfico 13 - Situação de matrícula, segundo campus da UFFS

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

O turno noturno possui o mais alto percentual de evasão e menor percentual de conclusão. A mobilidade ocorre de forma mais acentuada nos cursos do turno matutino. Entre esses cursos destacam-se, principalmente cursos de licenciaturas. A retenção está mais presente em cursos de turno integral.          

 

Gráfico 13 - Situação de matrícula, segundo o turno dos cursos

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

Quanto ao grau acadêmico do curso, em geral os estudantes de cursos de bacharelados possuem maiores percentuais de conclusão e de retenção que as licenciaturas.

 

Gráfico 14 - Situação de matrícula, segundo grau acadêmico do curso

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

Com relação ao apoio social, recebido por meio da assistência estudantil da UFFS, os estudantes beneficiários são os que menos evadem e mais concluem, com percentuais bastante distintos entre os dois grupos (mais que o dobro). Os percentuais de mobilidade e de retenção são próximos, levemente superior para os que recebem esse tipo de apoio institucional.

O teste Qui-quadrado para as variáveis que compõem as características institucionais e do curso indicou que há diferença estatisticamente significativa entre os cursos. Observando pelo campus, turno e grau acadêmico (bacharelado ou licenciatura) as características do curso também são estatisticamente significantes. Isso indica que a trajetória dos estudantes pode estar relacionada à instituição e ao curso. Além disso, o estudante receber ou não apoio social também foi estatisticamente significante, indicando que as políticas de Assistência Estudantil contribuem para a permanência e conclusão dos cursos. Essa característica é observada na maioria das pesquisas.

 

Gráfico 15 - Situação de matrícula, segundo apoio social

Fonte: DRA/UFFS, elaboração própria

 

De um modo geral, a partir deste estudo podemos traçar um perfil das principais características dos estudantes que evadem do curso, concluem, fazem mobilidade e permanecem retidos por mais tempo na IES. O quadro 1 resume este perfil, considerando as variáveis analisadas e que foram estatisticamente significativas no teste de Qui-quadrado.

Desse modo os principais achados deste estudo indicam tendências de que: a) mulheres concluem mais do que os homens; b) estudantes pretos demoram mais para se formar; c) estudantes que ingressaram na universidade logo após a conclusão do ensino médio concluem mais o curso; d) estudantes que trabalham em tempo integral tendem a evadir mais; e) egressos de escola pública e da zona rural se mostram mais persistentes; f) apoio social faz diferença nas trajetórias e desfechos; g) escolaridade dos pais e renda familiar parecem não influenciar na trajetória dos ingressantes; e, h) ingressantes em cursos de bacharelados e de tempo integral tendem a concluir mais os cursos, ainda que demoram mais tempo para se formar.

 

Quadro 1 – Resumo das características dos estudantes e sua condição de matrícula

Características

Evasão

Conclusão

Retenção

Mobilidade

Sexo

Homem

Mulher

Homem

Mulher

Raça/cor

Amarelo/pardo

Branco

Indígena/Preto

Pardo

Idade

25 a 28 anos

17 a 20 anos

29 a 32 anos

17 a 20 anos

Situação de trabalho

Tempo integral

Não trabalha

Não trabalha

Freelancer

Local de moradia

Zona urbana

Zona rural

Zona urbana

Zona urbana

Tipo de ensino médio

Supletivo

Profissional

Profissional

Supletivo

De escola pública

Não

Sim

Não

Não

Tipo cota

REP Étnico

REP Social

REP Parcial

REP Étnico e Social

Campus

Laranjeiras do Sul

Passo Fundo

Passo Fundo

Laranjeiras do Sul

Apoio estudantil

Não

Sim

Sim

Sim

Curso

Física

Pedagogia

Eng. Ambiental

Eng. Aquicultura

Grau acadêmico

Licenciatura

Bacharelado

Bacharelado

Licenciatura

Turno

Noturno

Integral

Integral

Matutino

Nota: REP = Reserva de Ensino Público

Fonte: Elaboração própria

 

Conclusões

Os dados deste estudo traduzem algumas especificidades em relação a outros estudos e que precisam ser analisados sempre no contexto do próprio desenho institucional da UFFS, a partir de suas políticas de acesso diferenciadas, seu perfil universitário, os tipos de cursos, a estrutura multicampi e a localização dessa IES no interior. Este trabalho buscou verificar os fatores associados às trajetórias estudantis a partir da experiência desta Universidade que conta com mais de 90% de estudantes provenientes de escola pública. O fenômeno da evasão se mostra preocupante, pois acomete mais de 50% dos ingressantes na UFFS. Esse dado se aproxima da realidade apontada por Fritsch, Jacobus e Vitelli (2020) para as IES privadas, que possuem evasão acumulada de 58,26%

Os resultados mostraram que características socioeconômicas, educacionais e aspectos institucionais são fatores que estão associados nas trajetórias de permanecer, evadir e concluir os cursos de graduação na UFFS. Estudantes mulheres, ingressantes mais jovens, autodeclarados brancos, que não trabalham e os que residiam na zona rural tendem a concluir mais e evadir menos dos cursos.

Observa-se, principalmente a questão de sexo, idade e raça e sua relação com a trajetória dos estudantes é bastante explorada nos diferentes estudos e, tendem a apontar questões semelhantes a este estudo e algumas situações que se diferenciam.  Nierotka (2021) ao verificar os efeitos destas características da UFFS, por meio de regressão logística, apontou que a questão de sexo e raça encontra-se mais associada à conclusão de curso e não necessariamente à evasão: as mulheres brancas concluem mais. E para evasão de curso, não encontrou significância estatística na questão de sexo e raça, renda, escolaridade dos pais, apenas da idade. Costa (2018) em sua pesquisa a nível nacional encontrou resultados de que os homens pretos, estudantes em cursos de licenciaturas e noturnos evadem mais. Enquanto que no estudo de Li e Chagas (2017), os estudantes negros apresentaram menores probabilidades de evasão. Também, o estudo recente de Klitzke Martins (2022), a partir de uma análise longitudinal sobre evasão na UFRJ apontou que as características de origem social dos estudantes, como renda, raça e gênero, não tiveram efeitos sobre a evasão de curso e sim fatores mais associados principalmente à escolha de curso, rendimento acadêmico antes e depois do ingresso na Universidade. Estudo de Costa, Bispo e Pereira (2018) indicaram o desempenho e a reprovação como questões preditoras da evasão e da conclusão de curso, com mais efeito que características sociais dos estudantes.

Entre as características educacionais dos estudantes antes do ingresso, destaca-se que o tipo de escola do ensino médio importa na trajetória universitária, uma vez que os que realizaram curso técnico profissionalizante possuem mais vantagens em relação aos demais. Os estudantes cotistas de escola pública, renda e condição étnica tendem a evadir mais dos cursos e concluir menos, em relação aos demais grupos. A condição de cotistas e não cotistas, por exemplo, vem sendo investigada em estudos e que apontam diferentes resultados para as trajetórias dos estudantes. Estudo longitudinal realizado por Santos, de Lima e Ramos (2022), na UFRN, por exemplo, não encontraram diferenças estatisticamente significativas entre cotistas e não cotistas na permanência aos cursos. Enquanto que o estudo de Sales Junior et al. (2016) encontrou resultados de maior risco de evasão entre estudantes cotistas.

Com relação aos aspectos institucionais, destacam-se diferenças nas trajetórias entre os ingressantes, conforme o tipo de curso, campus, turno e grau acadêmico. Cursos mais concorridos, como Medicina, ou com maior possibilidade de inserção no mercado de trabalho, como Pedagogia, podem incentivar os estudantes a concluírem. O recebimento de apoio social revelou impactos positivos na permanência e conclusão dos estudantes, conforme já apontado em outros estudos como de Sales Junior et al. (2016), Li e Chagas (2017), Costa (2018), Saccaro, França e Jacinto (2019) e Nierotka (2021). Conforme Sales Junior et al.(2016), o recebimento de assistência estudantil reduz em cerca de 65% as chances de evasão. Apesar da expansão da educação superior ter ocorrido para todos os grupos sociais, segundo Barbosa (2019), a categoria raça/cor - assim como gênero, observado nos estudos de Saccaro, França e Jacinto (2016), Sales Junior et al.  (2016) e Costa (2018), e classe - ainda traduzem desigualdades nas trajetórias dos estudantes, também marcadas pela condição de trabalho (ZAGO; PAIXÃO; PEREIRA, 2016) escolha por cursos noturnos e licenciaturas (ADACHI, 2017) e pela idade com que inicia a graduação (SACCARO; FRANÇA; JACINTO, 2016). 

Importante situar os achados desse estudo num panorama ainda recente da expansão da educação superior, acompanhada por políticas, cujos efeitos ainda estão sendo avaliados, como é o caso da Lei de Cotas, Enem e Sistema de Seleção Unificada (SiSU). Sugerem-se, portanto, outros aprofundamentos, principalmente sobre a evasão, com ênfase nas características institucionais, tomando por exemplo, os cursos e os campi como unidades de análise.

Como limitações deste estudo apontamos que, a análise descritiva dos dados, associada ao teste de Qui-quadrado apenas possibilitam indicar algumas associações nas trajetórias dos estudantes, mas não indicam o quão forte estas associações são. Por este motivo, outros estudos e metodologias se fazem necessárias para aprofundar os reais efeitos destas características nas chances de evasão e conclusão dos cursos.

Estudos futuros também se fazem necessários no sentido de aprofundar os dados relacionados a retenção nos cursos, tendo como uma grande hipótese a reprovação, que constitui um problema a ser enfrentado, assim como a evasão. Outras variáveis precisam ser incluídas também nas análises como o rendimento acadêmico e outras questões relacionadas à integração acadêmica e social.

 

Referências

ADACHI, Ana Amélia Chaves Teixeira. Evasão de estudantes de cursos de graduação da USP: ingressantes nos anos de 2002, 2003 e 2004. 294p. Tese (Doutorado) - Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação, São Paulo, 2017.

BARBOSA, Maria Lígia. Democratização ou massificação do Ensino Superior no Brasil? Revista de Educação PUC-Campinas, Campinas, SP, 24 (2), p. 240-253, maio/ago. 2019.

BRASIL. Presidência da República. Lei n. 12.711, de 29 de agosto. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Seção 1, p. 1, 30 ago. 2012.

BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.409, de 28 de dezembro. Altera a Lei no 12.711, de 29 de agosto de 2012, para dispor sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência nos cursos técnico de nível médio e superior das instituições federais de ensino. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Seção 1, p.3, 28 dez. 2016.

COIMBRA, Camila Lima; SILVA, Leonardo Barbosa; COSTA, Natália Cristina Dreossi. A evasão na educação superior: definições e trajetórias. Educação e Pesquisa, v. 47, 2021.

COSTA, Fabiana Pereira. Acesso e permanência no ensino superior: uma análise para as universidades federais brasileiras. 81f. Dissertação (Mestrado profissional em Políticas Públicas). Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2018.

COSTA, Francisco José da; BISPO, Marcelo de Souza; PEREIRA, Rita de Cássia de Faria. Dropout and retention of undergraduate students in management: a study at a Brazilian Federal University. RAUSP Management Journal, v. 53, p. 74-85, 2018.

DA COSTA, Oberdan Santos da; GOUVEIA, Luis Borges. Modelos de retenção de estudantes: abordagens e perspectivas. REAd. Revista Eletrônica de Administração (Porto Alegre), v. 24, n. 3, p. 155-182, 2018.

FASSINA, Alessandre Luis. Conciliação entre estudo e trabalho e sua influência na permanência de estudantes de graduação da UFFS. 110 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal da Fronteira Sul. Chapecó, 2019.

FRITSCH, Rosangela; JACOBUS, Artur Eugênio; VITELLI, Ricardo Ferreira. Diversificação, mercantilização e desempenho da educação superior brasileira. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior (Campinas), v. 25, n. 1, p. 89-112, 2020.

KLITZKE MARTINS, Melina. Fatores associados à evasão e conclusão de curso na educação superior brasileira: uma análise longitudinal. 245 f. Tese de Doutorado (Doutorado em Educação). Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2022.

MUNIZAGA, Felipe; CIFUENTES, Maria Betariz; BELTRÁN, Andrés. Retención y Abandono Estudiantil en la Educación Superior Universitaria en América Latina y el Caribe: Una Revisión Sistemática. Education Policy Analysis Archives, v. 26, 2018.

NIEROTKA, Rosileia Lucia. Desigualdade de oportunidades no ensino superior: Um estudo de caso sobre acesso e conclusão na UFFS. 293p. Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Educação, Rio de Janeiro, 2021.

NIEROTKA, Rosileia Lucia; BONAMINO, Alicia Maria Catalano de; CARRASQUEIRA, Karina. Acesso, evasão e conclusão no Ensino Superior público: evidências para uma coorte de estudantes. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, v. 31, p. e0233107, 2022.

RECHE, Daniela. A produção do espaço urbano de pequenas cidades no contexto regional de inserção da Universidade Federal da Fronteira Sul. 317p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, Porto Alegre, 2018.

SACCARO, Alice; FRANÇA, Marco Túlio Aniceto; JACINTO, Paulo de Andrade. Fatores Associados à Evasão no Ensino Superior Brasileiro: um estudo de análise de sobrevivência para os cursos das áreas de Ciência, Matemática e Computação e de Engenharia, Produção e Construção em instituições públicas e privadas. Estudos Econômicos (São Paulo), v. 49, n. 2, p. 337-373, 2019.

SALES JUNIOR, Jaime et al. Fatores Associados à Evasão e Conclusão de Cursos de Graduação Presenciais na UFES. Revista Meta: Avaliação, v. 8, n. 24, p. 488-514, 2016.

SANTOS, Ythalo Hugo da Silva; DE LIMA, Luciana Conceição de.; RAMOS, Iloneide Carlos de Oliveira. Permanência no Ensino Superior: um estudo para uma coorte de ingressantes cotistas e não cotistas na UFRN. Novos Olhares Sociais, v. 5, n. 1, p. 131-155, 2022.

TEIXEIRA, Maria Daniele de Jesus; QUITO, Fábio de Moraes. Taxas longitudinais de diplomação, evasão e trancamento: método para análise da trajetória discente na educação superior. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior (Campinas), v. 26, p. 546-567, 2021.

TREVISOL, Joviles Vitório; CORDEIRO, Maria Helena; HASS, Mônica (org.). Construindo agendas e definindo rumos: I Conferência de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFFS. Chapecó: UFFS, 2011.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - UFFS. Resolução n. 006/2012 – CONSUNI/CGRAD. Aprova o modelo de implantação da reserva de vagas para a política de ingresso nos cursos de graduação da UFFS. Sala das Sessões da Câmara de Graduação do Conselho Universitário, Chapecó, SC, 03 dez, 2012.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - UFFS. Resolução Nº 4/CONSUNI/CGRAD/UFFS/2014 (alterada). Sala das Sessões da Câmara de Graduação do Conselho Universitário, em Chapecó, SC, 26 de jun. 2014.

ZAGO, Nadir; PAIXÃO, Lea Pinheiro; PEREIRA, Thiago Ingrassia. Acesso e permanência no ensino superior: problematizando a evasão em uma nova universidade federal. Educação em Foco, v. 19, n. 27, p. 145-169, 2016.

Notas



[1] O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

 

[2] A Lei de Cotas prevê a reserva de 50% das vagas em cada curso das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) para estudantes que tenham cursado o Ensino Médio integralmente em escolas públicas, sendo a metade para estudantes também com baixa renda e outra metade apenas escola pública. Ainda, cada um desses grupos deve reservar vagas proporcionalmente para pretos, pardos, indígenas e, mais recentemente, pessoas com deficiência, conforme o Censo do IBGE de cada Estado (Brasil, 2012, 2016). 

 

[3] Os dados fornecidos mantiveram o anonimato dos estudantes.

 

[4] O trancamento ocorre pela interrupção do curso por meio de solicitação do próprio estudante. O período do trancamento é de um semestre letivo, podendo ser renovado por até 4 semestres.

 

[5] Ocorre quando o/a estudante formaliza a desistência do curso, devidamente justificada (UFFS, 2014).

 

[6] Ocorre nos casos em que: “I - o discente não concluir o curso no dobro do tempo de integralização da matriz prevista no Projeto Pedagógico do Curso; II - o discente que reprovar em todos os componentes curriculares nos quais esteja matriculado em três semestres letivos, consecutivos ou não. III - o estudante que reprovar por frequência em todos os componentes curriculares nos quais esteja matriculado em um semestre letivo” (UFFS, 2014, p. 31).

 

[7] Ocorre de forma automática quando o/a estudante não procede a renovação da matrícula nos prazos previstos no Calendário Acadêmico (UFFS, 2014).

 

[8] Ocorre de forma automática quando o/a estudante não procede a renovação da matrícula nos prazos previstos no Calendário Acadêmico (UFFS, 2014).

 

 

 

 

Apêndice 1

 

 

Qui-quadrado de Pearson

Características pessoais e socioeconômicas

Sexo

(0,000)**

Raça/cor

 (0,000)**

Faixa etária

(0,000)**

Condição de trabalho

(0,000)**

Renda familiar

(0,049)*

Escolaridade do pai

(0,051)-

Escolaridade da mãe

(0,185)-

Localização de moradia

(0,000)**

Características pré-universitárias

Tipo de ensino médio

(0,002)**

Escola pública

(0,046)*

Grupo de Inscrição

(0,000)**

Características institucionais e do curso

Curso

(0,000)**

Campus

(0,000)**

Turno

(0,000)**

Grau acadêmico

(0,000)**

Apoio social

(0,000)**

Nota: ** significante a 1%; * significante a 5%; - não significante.

 

 


CC.png 

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0)