A volta às aulas presenciais em meio à Pandemia

 

Returning to classroom lessons amid pandemic times

Regreso a clases presenciales en medio de la pandemia

 

 

Fausto dos Santos Amaral Filho

Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

faustodossantos@outlook.com

 

 

Recebido em 13 de abril de 2022

Aprovado em 16 de outubro de 2023

Publicado em 31 de janeiro de 2024

 

 

RESUMO

O presente artigo é uma reflexão sobre a volta às aulas presenciais em 2022, após o período mais grave da pandemia, quando as referidas aulas foram interrompidas. Tem como pano de fundo a experiência do autor, Professor e Coordenador de um Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação em uma Universidade Privada. Para tanto, relembra o modo como as aulas presenciais foram interrompidas subitamente em 2020, bem como o processo de adaptação pelo qual professores, alunos e instituições universitárias passaram para dar conta da situação inusitada. Também busca compreender o espírito do tempo naquela ocasião. Apresentando, fundamentalmente, as declarações públicas de pensadores eminentes, como Giorgio Agamben e Slavoj Zizek. Para, então, relatar as experiências vividas pelo autor, supondo que tais vivências tenham sido compartilhadas, de uma forma ou de outra, por praticamente todos os envolvidos nos processos educacionais, mormente no setor privado. Para tanto, utiliza como método a construção compartilhada do conhecimento. Ao final, propõe pensar os desafios que a volta às aulas presenciais impõem, fundamentalmente, aos envolvidos nos processos educacionais nas universidades privadas.

Palavras-chave: retorno às aulas presenciais; Pandemia Covid-19; universidades privadas.

 

ABSTRACT

The present text reflects about classroom lessons in 2022, after the most serious pandemic period we lived, when the mentioned classes were interrupted. It has as background the author’s experience as a teacher and a Strict Sensu Post-graduation Program’s coordinator, in a private University. The text reminds us about the way how classrooms lessons were interrupted in 2020, as well as the university’s adaptation process in order to make remote classes be accomplished. Also, the text seeks for understanding the Spirit of Age of that time. The text presents, mainly, public declarations of eminent thinkers, such as Giorgio Agamben and Slavoj Zizek. Secondly, the text describes the writer’s experiences, supposing that those experiences had been shared, in a way or in another, by pratically all who were involved in educational processes, specially in private sector. For that, it uses as a method the shared construction of knowledge. Finally, the text suggests thinking about the challenges returning to classroom classes enforces, mainly, to people involved in educational processes in private universities.

Keywords:  return to classroom lessons; Covid-19 Pandemic; Private universities.

RESUMEN

Este artículo es una reflexión sobre la vuelta a las clases presenciales en 2022, tras el periodo más grave de la pandemia, cuando se interrumpieron las citadas clases. Tiene como antecedente la experiencia del autor, Profesor y Coordinador de un Programa de Posgrado Stricto Sensu en Educación en una Universidad Privada. Para ello, recuerda cómo las clases presenciales se interrumpieron repentinamente en 2020, así como el proceso de adaptación por el que pasaron docentes, estudiantes e instituciones universitarias para hacer frente a la insólita situación. También busca comprender el espíritu de la época en ese momento. Presentando, fundamentalmente, las declaraciones públicas de eminentes pensadores como Giorgio Agamben y Slavoj Zizek. Para, entonces, relatar las experiencias vividas por el autor, asumiendo que tales experiencias han sido compartidas, de una forma u otra, por prácticamente todos los involucrados en los procesos educativos, especialmente en el sector privado. Al final, propone reflexionar sobre los desafíos que impone el retorno a las clases presenciales, fundamentalmente, a quienes intervienen en los procesos formativos en las universidades privadas.

Palabras clave: Clases presenciales; Pandemia de COVID-19; Universidades privadas.

 

Introdução

 

            Estávamos recém começando o primeiro semestre de 2020 quando a Covid-19[1], já alastrada em nosso país, forçou-nos a interromper as aulas presenciais. Diante da novidade, um alvoroço tomou conta de todos: professores, alunos, dirigentes institucionais... Que a verdade seja dita, não sabíamos propriamente o que fazer! Apenas e tão somente sabíamos, pelas autoridades sanitárias, que as aulas presenciais deviam ser interrompidas. O que aconteceria depois, bem como o tempo que isso levaria, era um completo mistério. É claro que já conhecíamos outras pandemias ocorridas no decorrer da história, embora assepticamente, imunizados pelo hiato do tempo. Sabíamos, inclusive, que tais pandemias não haviam acabado de uma hora para outra, mas, antes, levaram um bom tempo para se extinguirem, ceifando milhares de vidas. Lembremos aqui da Peste Negra (1346-1352) e da Gripe Espanhola (1918-1920). Entrementes também sabíamos que geralmente é do não-saber que frequentemente surge a insegurança e o medo, quando não o pânico. E, à época, praticamente não sabíamos nada a respeito tanto do coronavírus SARS-CoV-2 quanto da doença provocada por ele, a Covid-19. Tínhamos conhecimento apenas de que os dois estavam se espalhando rápido e letalmente pelo mundo, sem que ainda se pudesse fazer muita coisa[2].

Contudo, ajudava a nos consolar, mantendo as nossas esperanças, o atual desenvolvimento da ciência. Desde o Iluminismo, confluindo sempre para a nossa redenção. O que nos fazia acreditar que, “[...] graças à técnica imunológica, já deixamos para trás essa época” (HAN, 2017, p. 7), a das pandemias virais e que, portanto, não devíamos nos preocupar tanto, pois, logo logo a ciência nos salvaria, trazendo-nos o alívio tão desejado. Talvez nunca dantes tenhamos esperado tanto da ciência e, pelos mesmos motivos, reconhecido os seus limites[3].

Mas não é só isso, pois, àquela altura também podíamos desconfiar das coisas, achando que a nova doença não passava de uma gripezinha, sobrevalorizada por interesses escusos, um conluio internacional para restringir a liberdade dos povos, oportunidade para naturalizar uma espécie de estado de exceção já posto em marcha pelos governos há algum tempo[4] e que, portanto, não havia motivos para pânico algum, sendo antes, tal alarde, uma atitude desproporcional[5]. Cabendo, antes, a denúncia e a luta contra estes perversos ardis.  Afinal, naquele momento, podíamos até mesmo escutar um filósofo eminente como Agamben nos dizendo que:

 

A desproporção frente ao que, segundo a CNR, é uma gripe normal, não muito diferente daquelas que se repetem a cada ano, é surpreendente. Levando-nos a crer que, havendo esgotado o terrorismo como causa de medidas excepcionais, a invenção de uma pandemia pode oferecer o pretexto para estendê-las para além de todos os limites. (AGAMBEN, 2020a, p. 19).

 

Tal momento também foi um período intenso de crítica ao capitalismo neoliberal globalizado, acusado, não poucas vezes, de proporcionar a pandemia, quando não, até mesmo de produzi-la[6]. Muitas foram as vozes que se levantaram contra o modo de produção da existência contemporâneo, das mais variadas formas, identificando a crise pandêmica como uma crise do próprio capitalismo[7].  Afinal, se “[...] cada sociedade tem suas próprias enfermidades e tais enfermidades dizem a verdade acerca de cada sociedade” (PETIT, 2020, p. 57), a pandemia revelaria, então, a verdade a respeito do modo de produção capitalista. Desta maneira, não sem razão, inclusive o Papa Francisco admitia que vivemos em um mundo adoentado. Pelo que, em nossa época, até agora “[...] avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente” (PAPA FRANCESCO, 2020, p. 22). É por isso que, falando de suas esperanças em relação ao futuro da humanidade, o Papa nos diz:

 

Espero que esse momento de perigo nos tire do piloto automático, sacuda nossas consciências adormecidas e permita uma conversão humanística e ecológica que termine com a idolatria do dinheiro e coloque a dignidade e a vida no centro. Nossa civilização, tão competitiva e individualista, com suas taxas frenéticas de produção e consumo, seus luxos excessivos e lucros desmedidos para poucos, precisa mudar, se repensar, se regenerar. (PAPA FRANCESCO, 2020, p. 41).

 

Diante da situação, da necessidade factual de repensarmos o modo como a humanidade se conduz no seu habitat, houve inclusive quem tenha pensado que, agora sim, chegou a hora de uma revolução comunista definitiva que, como sempre promete a sua escatologia, transforme a terra em uma espécie de paraíso solidário. Este foi o caso, por exemplo, de Slavoj Zizek, para quem “[...] o corona vírus também nos obrigará a reinventar o comunismo, baseado na confiança nas pessoas e na ciência” (ZIZEK, 2020a, p. 22)[8], convencido de que “[...] a pandemia demonstrava que o ‘comunismo global’ era a única solução futura” (SANTOS, 2020, p. 14) para o bem da humanidade.

Ao que parece, alguns de nós, talvez muitos, acreditavam que a pandemia criaria, “[...] por ela mesma, uma consciência mais solidária na humanidade” (OTONI, 2020, p. 176). Como o Papa Francisco e Slavoj Zizek, cada um ao seu modo, esperamos muito da pandemia, considerando-a uma espécie de expiação pela qual deveríamos passar para nos convencermos de que a humanidade deve de fato repensar as suas atitudes e, finalmente, decidir-se pelo caminho do bem. Contudo, pelo menos por enquanto, quando a pandemia parece amainar um pouco e muitas das atividades anteriormente interrompidas vão voltando ao antigo normal, nada, ou muito pouco nos faz crer que aprendemos com a doença, tornando-nos seres humanos melhores, mais propícios para a consecução do bem. Pois, o que se vê no presente momento, poder-se-ia dizer, ao final da pandemia, é o início de uma guerra que, em um mundo globalizado, nunca é tão somente um conflito regional. Ao fim e ao cabo, em última instância, colocando em risco o futuro da humanidade. Prolongando, assim, o estado de tensão ao qual fomos submetidos durante a pandemia. Ao que tudo indica, no presente momento, a humanidade, de uma forma ou de outra, parece estar sempre às voltas com o seu final, ratificando, a todo o momento, uma espécie de crise permanente. O que, evidentemente, desconstitui, inclusive, o conceito de crise[9]. Sim, com isso podemos pensar que é o próprio mundo que vai se desconstituindo, mais rápido do que podemos apreender, ou até mesmo do que desejaríamos. 

Porém, voltemos a falar de nós, professores, que, no mais das vezes, estamos comprometidos com a constituição e preservação do mundo e não com a sua desconstituição, ainda que muito daquilo que ensinamos também possa servir para tanto. Sigamos, então.

 

 

As Aulas não podem parar

 

Estávamos recém começando o primeiro semestre de 2020, quando a Covid-19, já alastrada em nosso país, forçou-nos a interromper as aulas presenciais. Diante da novidade... Sim, desde o princípio, retornemos daqui.

Naquela sexta-feira, no final da tarde, lembro-me de me despedir dos alunos com um sorriso nervoso no canto dos lábios. Pelo andar da carruagem, algo me dizia que na próxima semana já não os veria mais, pelo menos por um tempo, quem sabe por duas ou três semanas, talvez até mesmo por um mês inteiro! E foi isso mesmo o que aconteceu, as aulas presenciais foram interrompidas. Agora, estávamos todos em casa, em meio a um semestre letivo já iniciado. Nós da iniciativa privada de alguma forma sabíamos que, até mesmo para justificar o nosso salário, teríamos que continuar trabalhando, bem como os alunos, para justificar a mensalidade paga, teriam que continuar estudando. Afinal, a empresa não pode parar, pura e simplesmente.

Foi assim que não interrompemos as nossas atividades uma semana sequer. Claro, me refiro aqui, prioritariamente, às atividades que desenvolvemos junto aos alunos. Pois, por conta dos nossos estudos e das nossas pesquisas, já passávamos um bom tempo dedicado ao trabalho em casa, na companhia dos nossos livros, teclando em nossos computadores. Dessa maneira, mantivemo-nos presentes, ainda que à distância. Possibilidade, essa, da qual já tínhamos consciência plena. Afinal, a educação a distância (EAD) já era uma realidade presente nos meios educacionais há um bom tempo, embora não poucos de nós nunca tivessem entrado em contato com ela, muitos sendo, inclusive, severos críticos da modalidade.

Contudo, gostando ou não, reconhecendo ou não a excepcionalidade do caso, fomos aderindo, um tanto quanto abruptadamente, àquilo que se passou a denominar ensino remoto. Expressão cunhada para diferenciar o que passamos a fazer da tradicional EAD. Aulas síncronas, assíncronas, vídeos, WhatsApp, Zoom, Google Meet, Microsoft Teams, foram palavras não apenas acrescentadas ao nosso vocabulário mas, concomitantemente, coisas que foram substituindo a sala de aula. Nem é preciso falar que tal mudança repentina não foi fácil de ser assimilada, tanto pelos professores quanto pelos alunos.

Assim passamos o primeiro semestre, com muitos de nós se sentindo como na música de Ozzy Osbourne: “I’m going off the rails on a crazy train[10]. Creio que quase ninguém imaginou que ficaríamos tanto tempo em casa. Contudo, àquela altura, com a pandemia se alastrando mortalmente sem sinal de recuo ou outros meios que não o isolamento social e o álcool gel para nos proteger, a maioria já estava se conformando com o fato da coisa poder durar por um tempo bem maior do que pensávamos que duraria no início.

Contudo, no segundo semestre de 2020, já estávamos bem mais preparados, para não dizer plenamente adaptados, com as coisas, diante da factualidade presente, já meio que nos trilhos. Professores adquiriram novos equipamentos, assinaram novos planos de internet, assim como contrataram plataformas de reuniões on-line. Multiplicaram-se as lives, os webnários, as reuniões e bancas remotas. As aulas, já engrenadas, prosseguiram sem a sofreguidão de antes. Tornamo-nos íntimos dos nossos alunos e eles de nós, uns adentrando na casa dos outros através da câmera do computador. Ainda que nem todos estivessem dispostos a mostrar suas casas e que tal intimidade às vezes gerasse algum constrangimento. O que criou entre nós alguma dissensão. Uns reclamando pelo fato de muitos alunos não permanecerem com as câmeras abertas durante as aulas, havendo, inclusive, aqueles que acusavam os alunos de faltarem com o devido respeito para com o professor. Outros não se importando tanto com a questão, compreendendo que muitos alunos sentiam a necessidade de preservar a intimidade das suas casas. Os primeiros desconfiados de que os alunos não estavam prestando atenção nas aulas. Já os segundos, seguros de que estavam lecionando para adultos que continuavam a pagar a universidade mensalmente, aceitando a responsabilidade de cada um por si mesmo. Ainda que para ambos não fosse muito fácil a sensação que tínhamos algumas vezes de estarmos falando com figurinhas na tela de um computador, sem saber de fato se falávamos para alguém ou falávamos sozinhos. Também passamos a ouvir frases que nunca pensamos que ouviríamos dentro das formalidades do contexto educacional, pelo menos com a frequência que passaram a ser ditas: “Fulano caiu!”; Sicrano, você está aí?”; “o professor está travado!”. Afinal, era um fato, tudo havia mudado, o que foi chamado de o novo normal. Expressão criada, creio eu, mais para nos confortarmos diante de um mundo que não poucas vezes parecia estar de ponta cabeça.

Normalidade deveras estranha, visto que não trouxe apenas novidades com as quais tivemos que nos haver pedagogicamente. Em um dado momento, por meses, nossos salários foram reduzidos em 25%, ainda que sentíssemos que o trabalho remoto exigia muito mais de nós, inclusive um tempo maior dedicado ao labor. Paradoxo instalado: à distância estávamos mais disponíveis às demandas dos nossos alunos e dos nossos gestores do que quando convivíamos com eles tête-à-tête. Em casa o tempo todo, as necessidades familiares nem sempre eram compatíveis com a disponibilidade necessária para o trabalho. Quantos de nós se sentiram inseguros em relação a sua empregabilidade? Quantos foram, de fato, demitidos? Vendo as matrículas diminuírem semestre após semestre, o que é que se passou na cabeça dos nossos gestores? Sim, a dita nova normalidade, ainda que não poucas vezes badalada, também pôde ser cruel.

Prova maior de que tudo estava mudado, exemplo de como a pandemia mexeu com as relações humanas há muito estabelecidas, foi que a tradicional relação trabalhista, onde o capitalista, que detém os meios materiais de produção compra a mão de obra necessária para a efetivação plena do seu empreendimento, também foi radicalmente alterada. Agora éramos nós professores que estávamos de posse não apenas da nossa força de trabalho, como tradicionalmente acontecia, mas, também, passamos a estar de posse de uma boa parte dos meios materiais necessários para a manutenção do empreendimento universitário. Contudo, sem que tenhamos nos tornado sócios de instituição alguma, continuamos, como tradicionalmente acontecia, recebendo o salário pago por nossa mão-de-obra. Ainda que, para prosseguirmos com o nosso trabalho, mantendo o funcionamento da universidade, já não precisássemos mais dos seus prédios, das salas de aula, da lousa, do power point, da energia elétrica, da água, das suas instalações sanitárias, nem mesmo do seu cafezinho. Cada um de nós manteve-se empregado com os seus próprios recursos materiais. De fato, uma grande novidade nas relações trabalhistas. Mesmo sabendo que a universidade, obviamente, manteve a sua estrutura para continuar funcionando, o que nos permitiu manter os nossos empregos. Mas, inegavelmente, muita coisa mudou diante da pandemia.

Se tanta novidade não bastasse, também tivemos que lidar especificamente com os males oriundos diretamente da própria doença que, a passos largos, foi se aproximando de nós. Deixando de se confundir com os distantes e assépticos números estatísticos que víamos através do écran da televisão. Quando, então, ficávamos sabendo de colegas, alunos, amigos, familiares e vizinhos infectados, sofrendo das mais variadas maneiras com a doença, quando não nós mesmos nos infectamos, tendo que pagar o preço exigido pelo vírus. Em última instância, tivemos que nos haver com a morte, tanto de pessoas distantes, quanto dos mais próximos. Tivemos, enfim, que lidar com a nossa própria finitude, aquela mais emblemática, que diz respeito a cada um de nós, “[...] possibilidade mais-própria, irremetente e insuperável” (HEIDEGGER, 2012, p. 691). Mas que, contudo, sempre procuramos encobrir. Diante do que, muitos foram afetados também psicologicamente. Esgotamento, ansiedade, fobia, depressão, certamente nos atingiram ainda mais durante a pandemia.

Em meio a tudo isso, também não foi fácil conviver com a maneira como, não apenas, mas principalmente, o Governo Federal do nosso país se portou durante a pandemia. Dificultando, ainda mais, a vida de todos nós brasileiros[11].  

 

Retornando ao presencial

 

Mas finalmente hoje, enquanto escrevo estas linhas, com a vacinação avançada, embora ainda estejamos em um estado pandêmico, ainda que possamos dizer, em remissão, dentre tantas outras atividades que já voltaram a atuar como dantes, as aulas presenciais estão de volta na Universidade! Evidentemente, não é de agora que esta volta está sendo preparada. Tal retorno exigiu e certamente continuará exigindo muito, tanto dos dirigentes universitários quanto dos professores e alunos, sem esquecermos de todos aqueles que insuflam com muito trabalho a vida na Universidade.

Contudo, é preciso ressaltar: tal retorno para uns é motivo de festa, para outros nem tanto.

Se por um lado a ida para casa no começo de 2020 gerou certamente apreensão e descontentamento por parte de todos os envolvidos no processo educacional universitário, também podemos perceber que agora, no começo de 2022, com a volta das atividades presenciais, existe, pelo menos por parte de alguns, uma boa dose de resistência com o nosso regresso. Sendo que, evidentemente, os que resistem é que sentem a necessidade de que suas vozes sejam ouvidas, antepondo suas narrativas para justificar seus desejos.

O fato é que, alguns professores e alguns alunos, ainda que minoritariamente, parecem ter se afeiçoado àquilo que o forçoso período em casa possa ter lhes trazido de benefícios. E, agora, sentem dificuldade em voltar às salas de aulas de concreto, tijolo e argamassa. Embora, ao que parece, uma imensa maioria deseje retomar as suas vidas tal como as viviam antes da pandemia. Aviões, estádios de futebol, bares e casas noturnas, além de todo o comércio regular, bem como as praias ensolaradas e lotadas nos finais de semana atestam o que acaba de ser dito. Até o uso das máscaras, este símbolo mor da sociedade pandêmica, começa a ser abolido em alguns Estados, pelo menos ao ar livre. O que não significa, evidentemente, que a Covid-19 tenha sido completamente erradicada e que não precisamos mais tomar nenhuma medida para que ela não continue se alastrando. Até mesmo porque, provavelmente, daqui para frente tenhamos que conviver com a Covid-19, assim como já convivemos com tantas outras patologias virais. Assim sendo, parece que tinha razão Boaventura quando falava que:

 

No curto prazo, o mais provável é que, finda a quarentena, as pessoas se queiram assegurar de que o mundo que conheceram afinal não desapareceu. Regressarão sofregamente às ruas, ansiosos por voltar a circular livremente. Irão aos jardins, aos restaurantes, aos centros comerciais, visitarão parentes e amigos, regressarão às rotinas que, por mais pesadas e monótonas que tenham sido, parecerão agora leves e sedutoras. (SANTOS, 2020, p. 29).

 

Porém, como já dito, pelos mais variados motivos, dos mais individualmente subjetivos, aos mais objetivamente coletivos, que aqui não nos cabe julgar, respeitando-os antes, para alguns de nós o regresso às aulas presenciais não parece ser tão leve e sedutor assim. Antes pelo contrário, trazendo uma boa dose de sofrimento para aqueles que prefeririam continuar em casa.

Sim, creio que já podemos dizer que é um fato: o regresso da pandemia será tão ou mais complexo do que o início da quarentena. Seja por questões individuais, seja por questões coletivas. Trazendo desafios imensos para o nosso meio educacional que, certamente, não será ipsis litteris mais o mesmo. Incorporando muitas, ou, no mínimo algumas, das práticas efetuadas durante o período de exceção. Como, obviamente, aquelas disponibilizadas pelos recursos tecnológicos à disposição. O que, de resto, para nós não será novidade alguma. Pois parece ser o típico da nossa época tanto o uso das tecnologias da informação quanto a constante adaptação ao devir acelerado. Como já observava Anísio Teixeira:

 

Ao contrário da civilização anterior, que institucionalizara a não-modificação, a nova civilização institucionalizou a modificação. Somos, agora, uma civilização que muda de dia para dia e que se orgulha de mudar. Criou-se a ’tradição’ de mudar (TEIXEIRA, 1977, p. 117).

 

De qualquer forma, nada tão novo assim. Pois, desde Heráclito de Éfeso sabemos que tudo flui, nada permanece, daí não podermos “[...] entrar duas vezes no mesmo rio” (HERÁCLITO, 1980, fr. 91). Mesmo tendo consciência de que “[...] há mudança e mudança” (TEIXEIRA, 1977, p. 177). E que, portanto, mesmo cientes de que há um mundo em contínua e acelerada modificação, trazendo novidades a cada dia, não podemos pura e simplesmente identificar toda e qualquer mudança necessariamente com a instauração do bom e do melhor, como a ideologia Iluminista do progresso constante ainda procura inculcar em nossas mentes desde o seu surgimento, tendo à disposição para tanto a sua filosofia da história já tão arraigada entre nós [12]. Por isso é adequado que questionemos a ideia de progresso. Pois não podemos mais concebê-lo “[...] como uma espécie de ganho permanente do melhor” (MORIN, 2011, p. 36). Até mesmo porque, é fácil constatar que o dito progresso, embora possa trazer benefícios para alguns, também é capaz de prejudicar uns tantos. Não poucas vezes, até mesmo o meio ambiente no qual todos nós estamos necessariamente inseridos.

Portanto, parece óbvio dizer, mas, desacelerando um pouquinho, não aderindo tão de imediato às narrativas ideológicas que sustentam a contemporaneidade, creio que ninguém durante a sua vida faz plenamente a experiência legitimadora dos benefícios de toda e qualquer novidade. Ainda que seja um fato que o novo sempre vem. Bem como, também é um fato que a multiplicação dos “[...] meios técnicos e científicos a nosso dispor, que fazem com que as mudanças sejam cada vez mais rápidas” (ALVES, 2015, p. 75), não nos fornece “[...] ideia alguma de ‘para onde’ navegamos” (ALVES, 2015, p. 75). O que não significa dizer que não tenhamos um rumo precisamente certo, antes pelo contrário. Só não sabemos propriamente para onde estamos nos encaminhando.

Por isso, antes de aderirmos às fantasias escatológicas de que caminhamos inexoravelmente para a consecução teleológica do bem, é preciso enfrentar francamente a possibilidade demasiada humana do erro. Pois, só assim, reconhecendo-o, seremos capazes de lidar com ele, na hora exata em que ele mostrar as consequências da sua face.

É dessa maneira, em meio a todas as inerentes incertezas da condição humana, que retornamos às salas de aula. Munidos de esperanças, certamente, mas sem que nos alienemos por demais.

Alienado é aquele que se apartou de algo. Separando-se, permanece afastado. Desviando-se da sua poiésis mais própria, desvirtuou-se, tomando um rumo indesejável. Podendo até, em vista de tal atitude, ser considerado louco, doido, alucinado, ao fim e ao cabo, por renunciar, antes de tudo, a si mesmo.  Sendo humano, renuncia a si mesmo quem, sobretudo, renuncia ao Outro, constitutivo de cada um de nós. Afinal, desde Aristóteles sabemos, ánthropos phýsei politikón zóion (ARISTÓTELES, 1991). Ou seja, o ser humano é um animal cujo pertencimento a sua espécie só se realiza efetivamente em conjunção com outros da sua mesma espécie. Dito de outra maneira, o ser humano é um animal social. Sendo um mamífero como todos os demais, no mínimo, necessita do contato direto entre pares para que possa se reproduzir. Mas é claro que não é só isso. Se a mãe humana não acolher o seu filhote logo após o parto, segurando-o em suas próprias mãos, dará a luz, praticamente, a um natimorto. Exemplos extremos, sim, mas que são o ponto de partida para que possamos reconhecer – e ter que dizer isto já parece soar bem estranho – que, simplesmente, para que a espécie prossiga, precisamos sim, do contato direto uns com os outros.

Contudo, tratando-se de seres Humanos, complexos que somos, também é certo que muitas vezes o melhor é que mantenhamos a distância uns dos outros. O que, não poucas vezes, não garante o afastamento almejado. Mesmo porque, como nos diz Heidegger:

 

Proximidade não é pouca distância. O que, na perspectiva da metragem, está perto de nós, no menor afastamento, como na imagem do filme ou no som do rádio, pode estar longe de nós, numa grande distância. E o que, do ponto de vista da metragem, se acha longe, numa distância incomensurável, pode-nos estar bem próximo. Pequeno distanciamento ainda não é proximidade, como um grande afastamento ainda não é distância. (HEIDEGGER, 2002, p. 143).

lomando um rumo indesej de algoneranças, certamente, mas sem que nos alienemos por demais.

Tudo isso parece muito certo quando o que está em jogo é a existência humana pensada em sua generalidade. Porém, estamos falando dos processos educacionais que se realizam no meio universitário. E, ainda mais precisamente, do retorno às aulas presenciais agora que a pandemia de Covid-19 está amainando. Bem como, não é o caso contrapormos aqui aulas presenciais com aulas remotas. Agindo como se estivéssemos em uma disputa futebolística.

Contudo, não é possível não falar dos ganhos que a volta ao convívio social nos meios universitários inexoravelmente trazem para a formação humana. Pelo menos para aqueles que estão dispostos ou até mesmo possuem as condições materiais necessárias para tanto. Em momento algum defenderíamos a necessidade de uma formação que fosse rigidamente a mesma para todos.  Resguardamos, assim, as idiossincrasias polissêmicas da nossa espécie.

Mas preste atenção! Não estamos falando apenas dos ganhos unicamente prazerosos que o convívio social pode nos trazer. Como já foi dito, estamos falando dos ganhos que o convívio direto pode trazer à formação integral do ser humano. Para a qual, até o desprazer pode ser educativo.

Ainda que estejamos cada vez mais próximos de esquecer, por isso mesmo, lembremos: formação humana que, mesmo para os matriculados em uma instituição de ensino superior, não se realiza apenas e tão somente na clausura imposta pelas quatro paredes de uma sala de aula, na medida em que o professor ensina um conteúdo institucionalizado e o aluno aprende institucionalmente o dito conteúdo. Até a formação estritamente profissional, se é que de fato ela existe, não se reduz a isso. Pois, todo e qualquer profissional, por mais especializado que seja, é, antes de tudo, um ser humano. Ou seja, um ser-no-mundo que irá exercer a sua profissão junto aos outros. Sendo que, de tal convívio, também dependerá o seu sucesso profissional. É por isso que nossa arquitetura é bem mais ampla, permitindo outras formas de aprendizado. Dito de outra forma, como uma convicção: o que se passa no cafezinho entre os colegas no intervalo da aula, ou mesmo a cerveja no bar da frente ao seu final, são experiências tão formativas quanto a aula propriamente dita. Para muitos, não poucas vezes, a oportunidade de sair do ambiente doméstico diariamente, para passar algumas horas convivendo com colegas e professores, pode ensinar muito mais sobre a liberdade – e, portanto, sobre a experiência humana – do que qualquer tratado filosófico.

 

Considerações Finais

 

De qualquer forma, é fato, estamos voltando às aulas presenciais. Até mesmo porque, assim como não há uma legislação que nos obrigue a realizar todo ensino superior presencialmente, também não há, pelo menos ainda, uma legislação que ampare a possibilidade de que apenas o ensino a distância seja realizado em todo o país. Havendo cursos credenciados em ambas as modalidades. Em uma sociedade liberal, mas, sobretudo, capitalista, muito provavelmente porque ambas as modalidades possuem seu nicho próprio de mercado. Inclusive, independentemente da capacidade pedagógica de cada uma.

Sabemos, não será nada fácil! Para muitos, dois anos em casa terão sido o suficiente para arraigar hábitos sentidos como seculares. E, para justificar desejos, sempre podemos lançar mão de uma série de narrativas que lhes emprestem alguma dose de legitimidade: o trânsito, as finanças, o tempo, a segurança... Como se não tivéssemos que enfrentar tais questões anteriormente e entrincheirarmo-nos em nossas casas fosse a única solução para elas.

É claro, a convivência humana não é nada fácil, mesmo entre aqueles que se amam. Porém, se evitando a todo custo a convivência direta podemos ter a prazerosa sensação de que o outro não me ameaça, também é certo que, assim, o outro também não me abraça.

Dessa maneira, voltando às aulas presenciais, mantenhamos aquela dupla capacidade que faz de nós seres humanos minimamente saudáveis, que de doença já estamos cheios: a capacidade de amar e a de trabalhar. Dito isso, adentremos confiantes em nossas instituições, para, assim, marcarmos a nossa presença.

 

Referências

 

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OTONI, Pedro. Presente e Futuro: sete apontamentos. In: TOSTES, Anjuli; MELO FILHO, Hugo (orgs.). Quarentena: reflexões sobre a pandemia e depois. Bauru: Canal 6, 2020.

PAPA FRANCESCO. Vida após a Pandemia. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2020.

PETIT, Santiago López. El coronavirus como declaración de guerra. In: AGAMBEN, Giorgio et al. Sopa de Wuhan: Pensamiento contemporáneo en tiempos de pandemia. [S. I.]: Editorial ASPO, 2020.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A Cruel Pedagogia do Vírus. Coimbra: Edições Almedina, 2020.

TEIXEIRA, Anísio. Educação e o Mundo Moderno. São Paulo: Ed. Nacional, 1977.

ZIZEK, Slavoj. Coronavirus es un golpe al capitalismo al estilo de ‘Kill Bill’ y podría conducir a la reinvención del comunismo. In: AGAMBEN, Giorgio et al.  Sopa de Wuhan: Pensamiento contemporáneo en tiempos de pandemia. [S. I.]: Editorial ASPO, 2020a.

ZIZEK, Slavoj. Pandemia Covid-19 e a reinvenção do Comunismo. São Paulo: Boitempo, 2020b.

Notas



[1] A Covid-19 é uma doença infecto contagiosa transmitida pelo Coronavírus SARS-CoV-2, que, dentre os seus vários sintomas, atinge o sistema respiratório, podendo levar à morte.

[2] “O que provoca pânico é que o vírus escapa ao nosso saber: não o conhece a medicina, não o conhece o sistema imunológico” (BERARDI, 2020, p. 37).

[3]El coronavirus pone de manifiesto las debilidades sistêmicas de la ideología dominante del siglo XXI. Una de ellas es la creencia errónea de que el progreso científico y tecnológico por sí solo puede impulsar el progreso humano y moral. Esta creencia nos incita a confiar en que los expertos científicos pueden solucionar los problemas sociales comunes. El coronavirus debería ser una demostración de ello a la vista de todos. Sin embargo, lo que quedará de manifiesto es que semejante idea es un peligroso error. Es verdad que tenemos que consultar a los virólogos; solo ellos pueden ayudarnos a entender el virus y a contenerlo a fin de salvar vidas humanas. Pero ¿quién los escucha cuando nos dicen que cada año más de 200.000 niños mueren de diarrea viral porque no tienen agua potable? ¿Por qué nadie se interesa por esos niños?” (MARKUS, 2020, p. 131).

[4] “A pandemia torna evidente que o estado de exceção, ao qual os governos nos habituaram há tempos, tornou-se realmente a condição normal” (AGAMBEN, 2020b, p. 19).

[5] “Apesar de todo o risco, que não se deve minimizar, o pânico desatado pela pandemia é desproporcional” (HAN, 2020, p. 107).

[6] “O capitalismo descontrolado produz o vírus que ele mesmo reutiliza mais tarde para controlar-nos” (PETIT, 2020, p. 57).

[7] “Não se pode limitar a pandemia do coronavírus às chaves de explicação biológicas ou da natureza. Trata-se de uma crise eminentemente social e histórica. A reiterada fragilidade da relação humana com a natureza corresponde a uma parcela pequena dos problemas presentes. No fundamental, a dinâmica da crise evidenciada pela pandemia é do modelo de relação social, baseado na apreensão dos meios de produção pelas mãos de alguns e pela exclusão automática da maioria dos seres humanos das condições de sustentar materialmente sua existência, sustento que as classes desprovidas de capital são coagidas a obter mediante estratégias de venda de sua força de trabalho. O modo de produção capitalista é a crise” (MASCARO, 2020, p. 6).

[8]Uma coisa é certa: isolamento, novos muros e mais quarentenas não resolverão o problema. Precisamos de solidariedade incondicional e de uma resposta globalmente coordenada, uma nova forma daquilo que certa vez se chamou de comunismo” (ZIZEK, 2020b, p. 18).

[9] “A ideia de crise permanente é um oximoro, já que, no sentido etimológico, a crise é, por natureza, excepcional e passageira, e constitui a oportunidade para ser superada e dar origem a um melhor estado de coisas” (SANTOS, 2020, p. 5).

[10] “Eu estou saindo dos trilhos em um trem louco” (tradução nossa).

[11] É consabido, sendo divulgado nos mais variados meios de comunicação, tanto nacionais quanto internacionais, a maneira como o Governo Federal, à época, conduziu as questões relacionas à pandemia.

[12] “A filosofia da história tornou-se, em grande parte, herdeira da teologia. Fosse a escatologia cristã modificada sob a forma do progresso secular, fossem elementos gnósticos e maniqueístas subjacentes ao dualismo moral e da política, antigas ciclogias, ou ainda a então recente legalidade das ciências naturais aplicadas à história, tudo isso contribuiu para formar a consciência histórica do século XVIII” (KOSELLECK, 1999, p. 114).

 

 

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