O discurso e o acontecimento no ensino de filosofia: apontamentos sobre a noção de escrita de si
The discourse and the event in the teaching of philosophy: notes on the notion of self-writing
Discurso y acontecimiento en la enseñanza de la filosofía: notas sobre la noción de autoescritura
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná, Coronel Vivida, Paraná, Brasil
daniel.vandresen@ifpr.edu.br
Universidade Estadual Paulista, Marília, São Paulo, Brasil.
rodrigo.gelamo@unesp.br
Recebido em 13 de abril de 2022
Aprovado em 12 de agosto de 2022
Publicado em 23 de janeiro de 2024
RESUMO
O objetivo deste texto é refletir sobre o ensino de filosofia no ensino médio, problematizando um certo uso do discurso representacional como um modo de produção de relações de assujeitamento e buscando pensar o discurso como liberação por meio da atitude de coabitar problemas. Esse diagnóstico apoia-se em um trabalho de revisão bibliográfica percorrendo os conceitos foucaultianos de cuidado de si e escrita de si, bem como, das ideias de Pierre Hadot sobre a filosofia antiga. O percurso descritivo deste trabalho parte inicialmente da problematização do discurso filosófico como diagnóstico de dois modos de fazer filosofia: um que é o discurso representacional e o outro, que é de uma filosofia como coabitação de problemas. Em seguida, desenvolvemos a noção da escrita de si como modo de tensionar a relação consigo, com os outros e com o mundo, o que contribui para pensar a filosofia como um exercício de si, ou seja, como uma atitude de inquietação, que faz da formação filosófica uma problematização das práticas cotidianas como forma de atenção ao presente e uma relação menos abstrata no ensino. Enfim, concluímos que pensar a escrita filosófica enquanto problematização de si constitui-se em um modo de liberar o indivíduo do assujeitamento produzido pelos processos de uma escrita reprodutora e, então, abrir-se para o encontro com o inusitado, com o estranho, com aquilo que nos desassossega e nos provoca a mudança.
Palavras-chave: Cuidado de si; Escrita de si; Ensino de filosofia; Coabitação de problemas.
ABSTRACT
The purpose of this text is to reflect on the teaching of philosophy in high school, questioning a certain use of representational discourse as a way of producing subjection relations and seeking to think of discourse as liberation through the attitude of cohabiting problems. This diagnosis is supported by a bibliographic review, covering the Foucauldian concepts of self-care and self-writing, as well as Pierre Hadot's ideas on ancient philosophy. The descriptive course of this work starts initially from the problematization of philosophical discourse as a diagnosis of two ways of doing philosophy: one, which is the representational discourse and the other, which is of a philosophy as a cohabitation of problems. Then, we developed the notion of writing the self as a way of stressing the relationship with oneself, with others and with the world, which contributes to thinking about philosophy as an exercise of the self, that is, as an attitude of restlessness, which makes from philosophical training, a problematization of everyday practices as a form of attention to the present and a less abstract relationship in teaching. Finally, we conclude that thinking about philosophical writing as a problematization of the self constitutes a way of freeing the individual from the subjection produced by the processes of a reproductive writing and, then, opening up to the encounter with the unusual, with the strange, with what makes us uneasy and causes us to change.
Keywords: Care of yourself; Self-writing; Philosophy teaching; Problems cohabitation.
RESUMEN
El objetivo de este texto es reflexionar sobre la enseñanza de la filosofía en la escuela secundaria, problematizando un cierto uso del discurso representacional como forma de producir relaciones de sujeción y buscando pensar el discurso como liberación a través de la actitud de cohabitación de los problemas. Este diagnóstico se basa en una revisión bibliográfica que abarca los conceptos de cuidado de sí y autoescritura de Foucault, así como las ideas de Pierre Hadot sobre la filosofía antigua. El camino descriptivo de este trabajo parte inicialmente de la problematización del discurso filosófico como diagnóstico de dos maneras de hacer filosofía: una que es el discurso representacional y la otra, que es la filosofía como cohabitación de los problemas. A continuación, desarrollamos la noción de autoescritura como una forma de tensionar la relación con uno mismo, con los demás y con el mundo, lo que contribuye a pensar la filosofía como un ejercicio de sí, es decir, como una actitud de inquietud, que hace de la formación filosófica, una problematización de las prácticas cotidianas como forma de atención al presente y una relación menos abstracta en la enseñanza. Finalmente, concluimos que pensar la escritura filosófica como una problematización del yo constituye una manera de liberar al individuo del sometimiento producido por los procesos de escritura reproductiva y, luego, abrirse al encuentro con lo inusitado, con lo extraño, aquello que nos inquieta y nos provoca a cambiar.
Palabras clave: Cuidado de sí; Autoescritura; Enseñanza de la filosofía; Cohabitación de los problemas.
Introdução
No presente artigo, pretendemos pensar o ensino de filosofia em meio aos vários desafios da educação contemporânea, principalmente neste momento em que predomina uma conjuntura política de desvalorização das ciências humanas e, em particular, de ataque à filosofia e seu ensino pelos agentes políticos. Um desses registros pode ser verificado na divulgação da pesquisa realizada em 2018 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, no qual se aponta o “[...] efeito negativo da inclusão dessas disciplinas sobre diversas áreas do conhecimento, principalmente sobre o desempenho em matemática.” (NIQUITO; SACHSIDA, 2018, p. 5).
No cenário educacional nacional, a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), regida pela Lei nº 13.415/2017, que propõe a reformulação do ensino médio, prioriza o que denomina de itinerários formativos e torna o currículo flexível a partir da delimitação da formação por áreas de conhecimento. Esse processo rompe com a busca pela formação integral dos estudantes, pois direciona a formação para conhecimentos específicos, muitas vezes para atender mais aos interesses econômicos do que à formação propriamente dita. Para contemplar tal demanda, várias propostas de reorganização curricular do ensino médio têm sido desenvolvidas. Essas propostas, quase sempre indicam a redução da carga horária e dos componentes curriculares que contribuem para a formação humanística para priorizar neles as áreas exatas e técnicas.
Diante desse contexto, nossa proposta é olhar para o ensino de filosofia como elemento indispensável na formação humana ético-política em uma prática existencial. A experiência do pensamento filosófico é fundamental para o fortalecimento da formação humana integral e autônoma, da vivência problematizadora dos lugares comuns (êthos filosófico), do domínio do conhecimento histórico-filosófico e para a formação de um pensamento crítico. Esta é uma condição formativa importante para o discernimento de decisões e atitudes, bem como para o julgamento das informações, principalmente neste momento de desinformação e negacionismo na ciência. Desse modo, nossa reflexão sobre a filosofia e seu ensino constitui-se como uma maneira de marcar a resistência aos projetos governamentais neoliberais que produzem a diminuição da carga horária da filosofia do currículo de ensino médio (como também de outras disciplinas da área de humanas), os quais não contribuem para a formação de um olhar atento e cuidadoso para consigo mesmo, com o outro e com o mundo.
Por outro lado, muitas vezes o modo tradicional de ensinar a filosofia não colabora para que os objetivos que acabamos de apresentar sejam alcançados. Muitas vezes, os professores de filosofia, marcados pelos processos pedagógicos que primam pela formação que tem como princípio os conteúdos a serem ensinados e métodos que, por assim dizer, seriam milagrosos na transmissão desses conteúdos, transformam a filosofia em mais um saber técnico e esquemático. Distanciando-nos dessa relação, nossa proposta é de deslocamento das questões processuais de ensino-aprendizagem para pensar a filosofia e seu ensino como uma atitude (êthos filosófico), ou seja, como uma abordagem ético-política que problematiza como determinadas práticas em filosofia tensionam o exercício de si como modo de vida. E nesse exercício sobre a vida, como criação de experiências singulares e de atitudes peculiares, a filosofia tem um papel indispensável na formação de uma educação para a diferença. Parece-nos que esse modo de trabalhar com a filosofia na sala de aula poderia confrontar o atual cenário social de crescimento de comportamentos preconceituosos e de espaços de intolerância que se intensificaram pelo desenvolvimento das redes sociais.
Esse movimento do exercício de si faz-se necessário no processo formativo, pois, como aponta Agamben (2005), atualizando o diagnóstico feito por Benjamin, o homem contemporâneo foi expropriado de sua experiência, porque não nos é dada mais a possibilidade de produzir e transmitir experiências. Para o autor, essa expropriação da experiência desenvolveu-se de forma implícita no projeto científico na modernidade, que afastou a experiência do princípio de autoridade (experiência interior de quem transmite) e a circunscreveu ao processo infinito do conhecimento. A experiência tornou-se calculável, tornou-se técnica. Essa mudança fez com que a experiência se deslocasse do que se podia ter para o que se pode apenas fazer, ou seja, a experiência foi lançada para fora do homem.
A partir deste diagnóstico, procuraremos pensar um modo de tratar o ensino em filosofia que seja capaz de recolocar a experiência de volta à cena das relações humanas. Para isso, vamos nos amparar em Foucault, em especial na noção de experiência de si. Em nosso entender, essa noção possibilita que se realize um pensamento que produza uma relação inquietante consigo mesmo. Essa hipótese parece ser referendada por Deleuze (2005) ao afirmar que pensar é experimentar, é problematizar uma maneira de afetar-se a si mesmo. Seguindo esse horizonte, a questão norteadora que tem orientado nossas pesquisas em filosofia (do ensino de filosofia) é a de como praticar uma filosofia para além da obrigação de falar e escrever que caracteriza nossa tradição filosófica, de uma escrita reprodutora e um discurso retórico sem vinculação com a vida que se exercita a si mesma. Ao colocá-la, entendemos que, no ensino de filosofia, quando predomina a transmissão abstrata do conhecimento, seja pelo discurso ou pela escrita, não se permite que o exercício de si como prática da liberdade aconteça. Isso porque, nesse tipo de ensino, produz-se uma relação técnica em que a transmissão da verdade apenas reproduz o conhecimento sem se produzir uma tensão ética na relação, a qual é imprescindível para a problematização de si e para repensar as práticas existenciais.
Nossa estratégia para esse artigo é olhar para o “sujeito” que se desloca sob ação dos saberes e poderes, presentes nos discursos que agem sobre ele. Esses discursos podem ser tanto de dominação quanto de liberação, ou seja, tornam-se dominação quando aprisionam o indivíduo em determinados modos de ser, como os discursos de reclusão do comportamento sexual, e de liberação quando possibilitam rupturas e aberturas para a criação de novas formas de viver.
Como tensionamento do processo de liberação, pensamos o uso da escrita de si como modo de expressão da experiência, como uma ferramenta fundamental no ensino de filosofia. Embora seja algo presente nas aulas de filosofia e nos livros didáticos como técnica de aprendizagem, seu uso não é problematizado no filosofar enquanto ato, mas, na maioria das vezes, meramente como produto final de um processo avaliativo. O que se evidencia é que a escrita de si tornou-se um tema menor em relação à hegemonia do discurso filosófico. O predomínio do discurso em detrimento da escrita inicia-se já em Platão no diálogo “Fedro” (1975), no qual, já no final do texto, defende o discurso vivo em oposição à escrita como simulacro.
Enfim, o percurso deste trabalho de investigação parte inicialmente da problematização do discurso como diagnóstico de dois modos de fazer filosofia: um, que é o representacional e o outro, que é de uma filosofia como coabitação de problemas, marcada pela criação. Em seguida, desenvolvemos a noção da escrita de si como modo de constituir uma relação inquietante consigo, uma atenção ao presente e uma relação menos abstrata no ensino.
Por uma problematização do discurso em filosofia
A proposta teórica deste trabalho é abordar o ensino de filosofia pela problematização do discurso como acontecimento[1]. A concepção de uma filosofia como acontecimento interpela-nos a pensar o ensino de filosofia como um diagnóstico da relação de forças que nos atravessam e isso deve nos levar à problematização do próprio sentido da filosofia que se quer praticar. Ora, a filosofia e seu ensino têm como principal ferramenta de expressão o discurso, seja pelo modo de uma fala expositiva, que pode ser dialógica ou não, seja também pela escrita do texto filosófico ou da escrita como técnica de ensino. Por isso, estar atento ao discurso enquanto acontecimento é fundamental para compreender o modo como cada sujeito constitui-se pelas relações de saber-poder nele instituídas.
Pierre Hadot (2014b; 2016), ao analisar o discurso filosófico, aponta uma distinção importante no pensamento estoico, que se dá entre dois modos de tomar a filosofia: um como prática vivida das virtudes e outro em que predomina o ensino teórico da filosofia. Embora entre esses dois sentidos haja uma distinção, pois a escolha existencial e a experiência de certas disposições interiores escapam à expressão do discurso filosófico, para a filosofia estoica, a vida filosófica e o discurso filosófico são incomensuráveis, como afirma Hadot: “[...] não há vida filosófica se não está estreitamente vinculada ao discurso filosófico.” (2014b, p. 251).
Com isso, Hadot (2014b) evidencia que o discurso filosófico necessita comunicar-se com a vida, isto é, deve transformar-se em um modo de vida. Para os estoicos, só se é filósofo não pelo peculiar discurso filosófico, mas em função da maneira pela qual se vive e se busca tornar-se melhor. Por isso, o autor também menciona que todas as escolas denunciavam o perigo que corre um filósofo ao imaginar que seu discurso filosófico pode bastar-se a si mesmo e, assim, não o praticar em uma vida filosófica.
A partir disso, como entender a comunicação entre discurso e vida filosófica? Sobre isso, Hadot cita uma passagem em que Plutarco (séc. II d.C.) fala sobre a filosofia de Sócrates: “[...] a vida cotidiana dá a possibilidade de filosofar.” (HADOT, 2014b, p. 68). Desse modo, praticar a filosofia pelo discurso e por um modo de vida passa pela atenção ao presente e ao modo como nos deixamos afetar pelo que nos acontece.
A partir desse registro teórico do discurso, pretendemos questionar o modo como a filosofia, a partir da modernidade, intensificou o deslocamento da arte de viver e apresentou-se como uma técnica de produção de representações. Entendemos que na história da filosofia e no ensino de filosofia tem predominado um modo de produzir e transmitir o conhecimento que é o da representação da verdade. Esse modo de proceder é fruto de uma tradição kantiana da analítica da verdade em que se interroga sobre as condições do sujeito para ter acesso à verdade e, a partir disso, o conhecimento verdadeiro é produzido por um discurso representacional que visa a captar o significado das coisas e uma constante histórica. Como consequência dessa tradição, o ensino de filosofia tem sido praticado limitando-se à construção de um discurso crítico como capacidade de julgar o verdadeiro, tornando-se a regra e a representação criada a partir de condições universais e necessárias aos moldes do conhecimento científico.
Segundo Rodrigues e Gelamo (2018), predomina no ensino de filosofia uma relação com a tradição filosófica que é da ordem da compreensão, assimilação e repetição de discursos filosóficos, atitude que toma o conhecimento como algo acabado e abstrato e faz do aluno um ser passivo no processo de ensino. Para esses autores, o discurso precisa ser compreendido não pelo seu uso unilateral de informar, mas pela sua potencialidade de formar.
Nesse sentido, a filosofia e seu ensino têm como especificidade, em sua forma mais difundida de trabalho, a tarefa de revisitar textos e conceitos da tradição filosófica. Essa relação com o ensino encontra na analítica da verdade sua sustentação e tem como consequência a repetição de conceitos trazidos pela tradição filosófica que, muitas vezes, não (ou não necessariamente) contribuem para o pensar reflexivo acerca da existência. Por isso, não faz sentido fazer do ensino de filosofia uma prática de transmissão/reprodução da história do pensamento filosófico, porque demarca o discurso em uma função de repetição de representações (verdadeiras) sem vínculo necessário com a vida. Como já abordado em outro momento (VANDRESEN, 2021), o problema não é a repetição, pois todo revisitar é, de certo modo, uma repetição que, assim, permite potencializar um processo reflexivo e criativo. No entanto, o problema é sua utilização nos processos de ensino como um fim em si mesmo, ou seja, a repetição para a recognição.
No ensino de filosofia, quando predomina a prática de um discurso como reconhecimento de si na repetição do conteúdo representacional, não há espaço para a problematização de si. Por isso, torna-se o que denominamos, a partir dos conceitos de Foucault (2008), um saber-poder biotécnico, ou seja, o ensino de filosofia assume um papel bem definido como elemento técnico-moral: técnico, quando o ensino objetiva construir capacidades de assimilar e representar significados; e moral, quando o ensino visa a formar determinadas competências críticas de julgamento, circunscritas, muitas vezes, pelas políticas públicas de ensino, como demanda para construir um sujeito supostamente emancipado. Assim, tornam-se modos de governo que agem sobre a vida por meio de técnicas de saber-poder, portanto, biotécnicos.
A função técnico-moral na filosofia pode ser observada quando se recorre à história da filosofia apenas com o objetivo de encontrar uma verdade originária ou de situar um filósofo em uma racionalidade linear. Isto, porque demarca o ensino em filosofia como um procedimento técnico de representação de uma verdade a-histórica e supõe que tais competências são suficientes para um agir autônomo.
Nesse modo de fazer filosofia, o discurso filosófico compõe-se de relações de poder de assujeitamento que mantêm o indivíduo em um procedimento de repetição e empobrecimento de si. De outro modo, compreendemos o ensino de filosofia como acontecimento de liberação. Com isso, queremos dizer que o discurso filosófico está diretamente relacionado à forma como o sujeito se modifica pela problematização de suas práticas de liberação, isto é, pelo modo como uma prática discursiva tensiona os acontecimentos em sua existência.
Assim, entendemos que na filosofia e em seu ensino faz-se necessário apontar os deslocamentos, as relações de forças, as escolhas estratégicas, os conflitos travados entre os filósofos e seus tempos. Para isso, e aqui nos inspiramos fortemente em Foucault, é preciso fazer do ensino de filosofia um “discurso batalha e não discurso reflexo.” (FOUCAULT, 2011, p. 221).
Diante disso, com essa outra forma de pensar a filosofia e seu ensino, compreendemos a filosofia como um modo de “coabitar problemas” (FOUCAULT, 2010, p. 225), o qual constitui uma relação consigo que permite estar atento ao que nos acontece e nos afeta no cotidiano de nossa existência. É essa atenção problematizadora com as práticas cotidianas que propomos evidenciar, como afirma Plutarco, “a possibilidade de filosofar” e pensar a singularidade de nossa existência.
Neste registro, pensamos que no ensino de filosofia o principal não seja a transmissão de um conteúdo cuja apreensão é o suficiente. Ao contrário, a filosofia precisa ser praticada em uma coexistência, em um coabitar problemas, onde não haja respostas imediatas e definitivas, mas que se realize como um “[...] longo caminho da filosofia, isto é, tomar a via rude dos exercícios e práticas [...].” (FOUCAULT, 2010, p. 224). Diferentemente da lógica atual em que estamos acostumados a produzir resultados, o coabitar problemas em filosofia exige um novo modo de habitar o caminho da aprendizagem em filosofia, que é a constante problematização de si.
Na obra “O governo de si e dos outros”, Foucault (2010) retoma a “Sétima Carta” (ou Carta VII) de Platão, na qual o filósofo grego indica que a filosofia não deve ser praticada por fórmulas (mathémata) a serem aplicadas, mas como uma maneira de coabitar problemas. E defende que é necessário frequentar por muito tempo os problemas e que somente convivendo com eles é que se torna possível a verdade brotar na alma. Nas palavras de Platão:
Não é possível encontrar a expressão [mathémata] adequada para problemas dessa natureza, como acontece com outros conhecimentos. Como consequência de um comércio prolongado e de uma existência dedicada à meditação de tais problemas é que a verdade brota na alma como a luz nascida de uma faísca instantânea, para depois crescer sozinha. (PLATÃO, 1975, p. 155, grifos nossos).
Desse modo, a filosofia como um modo de coabitar problemas é uma prática fundamental no presente contexto de um ensino-aprendizagem em que a imediatez de produzir resultados tornou-se a pauta central da educação básica. Coabitar problemas é estar atento não aos resultados matematizáveis pelos rankings e pelas avaliações internacionais, mas ao caminho percorrido em seus questionamentos, tensões, experiências singulares, na diferença no e do pensamento etc. Enfim, é coabitar o discurso enquanto acontecimento, no momento vivo de seus problemas.
A formação filosófica de um sujeito crítico não implica dominar “fórmulas discursivas” como ferramentas de análise, isto é, transpor o conteúdo filosófico do passado para o presente, mas utilizar um conjunto de discursos que nos permita construir a problematização da atualidade e um posicionamento crítico pelo modo de vida transformador. A formação filosófica constitui-se em um modo de (des)aprendizagem do filosofar que se realiza em grande parte pelo modo discurso, mas a posse do discurso filosófico historicamente construído não é garantia de uma formação autônoma, pois não se pode ficar restrito apenas ao seu modo arbitrário de informar.
No ensino de filosofia como transmissão, a posse da verdade conduz a um modo de ser em que as relações de saber-poder se constituem como autoritárias, como por exemplo, em práticas de ensino em que o professor se coloca como detentor da verdade a ser transmitida e cuja consequência é o aluno ser entendido apenas como receptor e reprodutor desse saber. Isso tem consequências éticas na formação humana, porque, para Foucault, torna-se perigoso o modo de proceder daqueles que praticam a mathémata, como afirma: “Seria perigoso para os que efetivamente, não sabendo que a filosofia não tem outro real senão suas próprias práticas, imaginariam conhecer a filosofia, tirando disso vaidade, arrogância e desprezo pelos outros [...].” (FOUCAULT, 2010, p. 226, grifos nossos). Platão já nos alertava que a filosofia como mathémata conduz a ideia de que “dava-se ares de saber muitas coisas e de dominá-las” (PLATÃO, 1975, p. 155) e isso, para Foucault (2010, p. 224), acarreta na ideia de que “agora que já sabia o bastante, não precisava se formar mais”.
Nessa perspectiva, no ensino de filosofia como transmissão e na aprendizagem como reconhecimento de si pela verdade, produz-se a dogmatização de posicionamentos, o que tem como consequência o fechamento das relações com o outro. Por isso, pensamos que a filosofia precisa se realizar como um aprendizado do coabitar problemas, no qual a filosofia é um caminho de práticas que jamais se completa. Desse modo, aprender a coabitar problemas pressupõe que o sujeito esteja em uma relação viva com seu presente, ou seja, constitui um modo de estar atento ao que se passa consigo e em seu modo de agir ético em relação aos outros e ao mundo.
A partir do exposto, defendemos a atitude de coabitar problemas como modo de praticar a filosofia. Isso exige uma atitude de contraposição à ideia da transmissão da verdade, a qual é guiada por um processo metódico para dar respostas objetivas para questões superficiais. Ao contrário, coabitar os problemas não implica necessariamente dar respostas, mas produzir um movimento de problematização que conduz ao desprender-se de si mesmo.
A escrita de si como acontecimento no ensino de filosofia
A partir do exposto, pretendemos apresentar a escrita como um elemento discursivo que pode proporcionar o desassujeitamento no processo de aprendizagem em filosofia. Com isso, nosso objetivo não é analisar a escrita em seus aspectos técnicos como ferramenta de memorização de conhecimentos, ou mesmo de registro deles, mas compreendê-la como uma atitude para com a atualidade do que somos. Não como produção e/ou reprodução do conhecimento e, sim, como constituição de uma subjetividade que se produz nos movimentos das relações imanentes à vida. Imanentes ao acontecimento que é a vida. Por isso, perguntamos: como fazer com que a escrita possa ser a manifestação desses acontecimentos? Como o sujeito pode se colocar nesse jogo que é o processo da escrita da vida?
A leitura foucaultiana da escrita como constituição do sujeito precisa ser situada a partir de sua compreensão da noção de cuidado de si (epiméleia heautoû), desenvolvida na obra A Hermenêutica do Sujeito. Nela, Foucault (2004), entende a noção de cuidado de si como atitude, como uma atenção e também como práticas de transformação de si por meio do exercício de si. Desse modo, entende que o cuidado de si constitui-se como “[...] um princípio de agitação, um princípio de movimento, um princípio de permanente inquietude no curso da existência.” (FOUCAULT, 2004, p. 11), uma inquietação que conduz o indivíduo ao permanente exercício de si no devir de sua existência. Contudo, cuidar de si não significa adquirir capacidades ou competências para fazer coisas, como é característico de nossa época, mas, antes, tem o sentido agonístico[2] de transformação de si. A partir desse modo de viver agonístico, Foucault compreende a filosofia como um saber que, por meio de um exercício do pensamento sobre a vida, proporciona um desprender-se de si. Para ele:
De que valeria a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a aquisição dos conhecimentos, e não, de certa maneira, e tanto quanto possível, o descaminho daquele que conhece? Existem momentos na vida em que a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir. (FOUCAULT, 2014, p. 13).
De modo semelhante a esse questionamento do saber realizado por Foucault no início da obra História da Sexualidade 2: o uso dos prazeres, podemos perguntar: de que valeria o ensino de filosofia nas escolas, se tivesse apenas por função adquirir, transmitir e reproduzir o conhecimento e não, de certa maneira, produzir o desprender-se de si mesmo por meio das problematizações das práticas que o constituem?
Nessa perspectiva, o autor atribui outro sentido para se praticar a história da filosofia, a qual deve se realizar como um exercício problematizador que tenha por objetivo “[...] definir as condições nas quais o ser humano ‘problematiza’ o que ele é, o que faz e o mundo em que vive.” (FOUCAULT, 2012, p. 193). A filosofia como um modo de problematizar, de coabitar problemas, é o modo como podemos e devemos cuidar de nós mesmos, de nossa formação e ação no mundo.
Entendemos que é difícil pensar o ensino da filosofia sem recorrer à história da filosofia e, por isso, ao se ocupar da história da filosofia é fundamental não elidir o fazer filosófico como problematização da atualidade. Da mesma maneira, ao se trabalhar com a escrita do texto filosófico, faz-se necessário não o tomar como um fim em si mesmo, mas inquietados pelos acontecimentos de nossa atualidade, olhar para a história da filosofia de modo a fazer coabitar os olhares da tradição e os nossos face aos possíveis entendimentos daquilo que nos acontece.
A partir desse registro, pensamos o uso da escrita como prática existencial em contraponto ao uso técnico do discurso e da escrita enquanto sua reprodução. Foucault, no texto de 1983 “A escrita de si” (2012), ao analisar as correspondências espirituais entre os filósofos antigos, afirma que: “A carta que se envia age, por meio do próprio gesto da escrita, sobre aquele que a envia, assim como, pela leitura e releitura, ela age sobre aquele que a recebe.” (FOUCAULT, 2012, p. 150). Foucault, ao estudar as cartas de Sêneca, descreve que o objetivo era examinar a vida cotidiana para se preparar diante de outros acontecimentos. O exame da vida constitui um exercício que “[...] lança sobre si mesmo ao comparar suas ações cotidianas com as regras de uma técnica de vida.” (FOUCAULT, 2012, p. 157). Isso significa que é preciso examinar a maneira como se vive tendo como referência a criação da arte de viver, ou seja, da construção da melhor forma de viver. A partir desse horizonte, Foucault entende a filosofia como preparação, no entanto, não apenas no sentido de adquirir competências para um porvir, mas como exercício de deslocamento de si no acontecimento que todos nós coabitamos: a vida.
Foucault (2010) também descreve que Platão na “Sétima Carta” relata sobre o fracasso de Dionísio na prova da filosofia, recusando a filosofia como exercício de práticas e escolhendo escrever um tratado de filosofia. Platão afirma que o seu “[...] primeiro cuidado foi certificar-me se Dionísio era mesmo unha e carne com a filosofia.” (PLATÃO, 1975, p. 154) e explica que ele, apesar de se pretender filósofo, não praticava a escrita como atividade existencial. Assim como no Fedro, aqui também Platão desconfia do uso da escrita por Dionísio, pois Foucault interpreta essa passagem descrevendo que a experiência da escrita de Dionísio está restrita à função de reprodução, esquecendo-se de que a filosofia deve se realizar como modo de vida, em que a própria vida deve ser modificada por meio de práticas cotidianas. Com isso, Foucault compreende a filosofia como exercício de si que se realiza por práticas. “Aquilo que a filosofia encontra seu real é a prática da filosofia, entendida como conjunto das práticas pelas quais o sujeito tem relação consigo mesmo, se elabora a si mesmo, trabalha sobre si. O trabalho de si sobre si é o real da filosofia.” (FOUCAULT, 2010, p. 221).
Diante do exposto, entendemos que a escrita como uma relação inquietante consigo permite estarmos atentos ao que nos acontece e fazer do ensino de filosofia o seu real. Isto, porque o real da filosofia não é a reprodução do conhecimento por si mesmo, mas o modo como esse conhecimento é apropriado pelo indivíduo em seu modo de pensar e agir no mundo. Por isso, na escrita de si, como exercício filosófico, é preciso estar atento a esse real, isto é, ao modo como a constituição da relação consigo se dá pela expressão das experiências cotidianas. Tensionar a relação consigo a partir do modo como o presente nos afeta constitui, na perspectiva foucaultiana, a relação ontológica de quem nós somos e do que fazemos com nós mesmos, pois, para o autor, a filosofia é a atitude “[...] de interrogar novamente as evidências e os postulados, sacudir os hábitos, as maneiras de fazer e de pensar, dissipar as familiaridades aceitas [...].” (FOUCAULT, 2012, p. 243).
Já Hadot (2014b), ao descrever sobre o tema do discurso como modo de operar mudança sobre si mesmo, também resgata a importância da escrita como exercício. Ele afirma que, para os estoicos a escrita não deve ser entendida como um modo de resolver problemas teóricos e abstratos ou de fórmulas destinadas a ser aplicadas mecanicamente, mas deve ser entendida como máximas, como regras de viver, que orientam a ação. Na escrita “[...] o que conta é o ato de escrever, de falar-se para si mesmo.” (HADOT, 2014b, p. 255). Para os estoicos, o filosofar consiste em uma série de exercícios existenciais, dentre eles, a escrita se revela um modo singular de experiência e formação de si mesmo.
Hadot (2016) também descreve que o tema da escrita na Antiguidade estava sempre associado ao ensino e aponta que, durante quase três séculos (desde Sócrates até o século I d.C.), ela correspondia a um jogo de perguntas e respostas. E a escrita não consiste em expor algo de maneira sistemática, como também descreve Platão na experiência da escrita de Dionísio, mas em um diálogo em que mestre e discípulo estão tratando de questões circunstanciais aos seus problemas, seja de ordem da problematização do saber seja da ordem do estado moral. Desse modo, tanto Foucault como Hadot compreendem a escrita como uma atitude inquietante para consigo.
Enfim, perguntamos: em que a escrita de si se diferencia de outra forma de escrita? No desenvolvimento deste texto defendemos o exercício da escrita como uma forma de problematização de si que potencializa o fazer filosófico, tornando-se um instrumento fundamental para combater certas práticas de ensino em que o conhecimento é demarcado pela produção de repetições. Isto, porque em um ensino como repetição apenas se gera imitação, pois nesse processo de transmissão do conhecimento o indivíduo se deixa operar pelos outros, e sua resposta nada mais é que a reprodução da informação recebida. Por isso, por meio da leitura foucaultiana da noção de escrita de si, procuramos descrever uma inquietação por meio de uma escrita filosófica problematizadora das práticas como forma de atenção ao presente e uma relação menos abstrata no ensino. Isto quer dizer que, diferentemente da repetição do conteúdo como reprodução, em que o indivíduo se deixa operar pelo comando do outro, tornando-se um sujeito autômato, na escrita de si como prática existencial, torna-se possível construir uma relação transformadora consigo mesmo.
Considerações finais
Diferentemente da lógica atual que direciona a educação para a formação de competências para produção de resultados e problematizando certas práticas de ensino de filosofia que se limitam à transmissão de um pensamento representacional sem vinculação com a vida, buscamos na exposição deste texto pensar a filosofia e seu ensino como um coabitar problemas. Com isso, entendemos que se faz necessário em filosofia partilhar e coabitar o caminho, isto é, a filosofia como um caminhar é uma inquietação ao que acontece conosco, aos acontecimentos existenciais em seus problemas, conflitos e angústias.
A característica do pensar filosófico é a problematização e crítica da atualidade que nos constitui, atitude que pode ser potencializada, ou não, dependendo do modo como se organiza e se pratica o ensino de filosofia. Por isso, pensar a filosofia e seu ensino como acontecimento exige dar-se tempo, rompendo com certos modelos de ensino que buscam a economia do tempo através de uma metodologia que visa a dar respostas prontas e imediatas para problemas que não são apropriados pelos estudantes. Desse modo, entendemos que a diminuição da carga horária da filosofia do currículo de ensino médio não contribui para a formação de um olhar atento e cuidadoso consigo mesmo, com o outro e com o mundo.
Nesse sentido, em uma filosofia como um caminhar atento ao que nos acontece, buscamos nesse trabalho deslocarmo-nos de uma prática representacional da escrita para pensar a escrita como uma prática problematizadora da atualidade. Por meio da leitura foucaultiana da noção de escrita de si, procuramos descrever a escrita filosófica como um modo de tensionar as práticas cotidianas. E, assim, a escrita de si torna-se um instrumento fundamental para combater um ensino em que a repetição, enquanto imitação, torna-se um processo de submissão ao outro.
Enfim, o que é o “si” da escrita de si? Não é um eu como identidade fundamental, mas a formação de uma subjetividade singular. A escrita filosófica como problematização de si constitui-se em um modo de liberar o indivíduo do assujeitamento produzido pelos processos de uma escrita reprodutora. Deste modo, a escrita de si é um acontecimento em que o próprio indivíduo está em jogo, ou seja, ele se apropria da escrita quando deixa-se afetar pelo acontecimento de uma experiência ou pensamento de liberação. Pensar a escrita como acontecimento é abrir-se para o encontro com o inusitado, com o estranho, com a que nos desassossega e nos provoca a mudança.
Referências
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Notas
[1] Para Hadot (2014a), na filosofia antiga, principalmente entre estoicos, a noção de acontecimento é um modo de pensar uma filosofia da existência, em que viver a vida é estar atento ao momento presente que nos constitui e às possibilidades de ultrapassagem. Como afirma: “Nós experimentamos a nós mesmos como um momento, como um instante desse movimento, desse acontecimento imenso, que nos ultrapassa, que já está aqui sempre antes de nós, sempre além de nós” (HADOT, 2014a, p. 325). Essa relação problematizadora da atualidade do que nós somos possibilita a experiência de ultrapassagem que o acontecimento provoca em nós. Neste trabalho, utilizamos esse sentido para pensar o discurso filosófico como um acontecimento.
[2] Frédéric Gros cita uma passagem de Foucault, no dossiê Cultura de Si: “A agonística estrita que caracteriza a ética antiga não desaparece [...]. Ser mais forte do que si implica que se esteja e se permaneça à espreita, que se desconfie sem cessar de si mesmo, e que não apenas no decurso da vida cotidiana, como também no próprio fluxo das representações, se faça atuar o controle e o domínio.” (Foucault apud GROS, 2004, p. 648).
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