Longevidade escolar de estudantes de camadas populares na pós-graduação stricto sensu

 

School longevity of students from popular social strata in stricto sensu post-graduation

 

Longevidad escolar de los estudiantes de los estratos sociales populares en el postgrado stricto sensu

 

 

Elaine Gonçalo Bento  

Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, Brasil.

elaine.bento@aluno.ufop.edu.br

 

Marlice de Oliveira e Nogueira

Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, Brasil.

marlicenogueira@ufop.edu.br

 

Recebido em 28 de março de 2022

Aprovado em 05 de junho de 2022

Publicado em 12 de janeiro de 2024

 

RESUMO

Este artigo traz resultados de uma pesquisa desenvolvida no campo da Sociologia da Educação e que teve como objetivo principal investigar as trajetórias escolares de estudantes oriundos de camadas populares matriculados em programas de Pós-graduação stricto sensu da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). A pesquisa realizou-se por meio de uma abordagem qualitativa e da aplicação de entrevistas semiestruturadas com cinco estudantes de camadas populares. Pode-se concluir com base nos dados obtidos e respaldando-se na teoria, que de um modo geral, o envolvimento das famílias com a escolarização dos estudantes investigados se deu de modo heterogêneo e sem um projeto escolar intencional; as trajetórias escolares dos cinco estudantes de camadas populares, perpassadas por mobilizações familiares e individuais, evidenciaram que os estudantes vivenciaram a condição de bons alunos na educação básica e na universidade,  gostavam da escola e tinham bons resultados escolares; e construíram variadas estratégias de escolarização de curto prazo que, associadas, possibilitaram um percurso de longevidade escolar e o acesso aos níveis mais altos da escolarização, ingressando no mestrado acadêmico. Além disso é importante mencionar a relevância das recentes políticas públicas de democratização da universidade, especificamente das Ações Afirmativas que permitiram que esses estudantes vivenciassem a vida universitária, permanecessem no Ensino Superior, primeiramente na graduação e, posteriormente, na pós-graduação stricto sensu.

Palavras-chave: Longevidade Escolar. Camadas Populares. Pós-graduação stricto sensu.

 

ABSTRACT

This article brings the results of a research developed in the field of Sociology of Education, which had as main objective to investigate the school trajectories of students from low-income backgrounds enrolled in graduate programs at the Federal University of Ouro Preto (UFOP). The research was carried out through a qualitative approach and the application of semi-structured interviews with five low-income students. Based on the data obtained and supported by the theory, it can be concluded that, in general, the involvement of families with the schooling of the investigated students was heterogeneous and without an intentional school project;  The schooling trajectories of the five students from low-income backgrounds, permeated by family and individual mobilizations, showed that the students experienced the condition of good students in basic education and at university, liked school and had good school results; and built several short-term schooling strategies that, associated, enabled a long schooling path and the access to higher levels of schooling, entering the academic master's degree. Furthermore, it is important to mention the relevance of recent public policies for the democratization of the university, specifically the Affirmative Actions that allowed these students to experience university life, to remain in Higher Education, first in undergraduate studies, and later in graduate studies stricto sensu.

Keywords: School Longevity. Graduation. Post-graduation stricto sensu.

 

RESUMO

Este artículo trae los resultados de una investigación desarrollada en el ámbito de la Sociología de la Educación, cuyo objetivo principal fue investigar las trayectorias escolares de estudiantes de clases sociales populares matriculados en programas de posgrado stricto sensu en la Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). La investigación se llevó a cabo mediante un enfoque cualitativo y la aplicación de entrevistas semiestructuradas a cinco estudiantes de clases sociales populares. A partir de los datos obtenidos y apoyados en la teoría, se puede concluir que, en general, la implicación de las familias con la escolarización de los alumnos investigados fue heterogénea y sin un proyecto escolar intencionado;  Las trayectorias escolares de los cinco estudiantes de bajos ingresos, permeadas por movilizaciones familiares e individuales, mostraron que los alumnos experimentaron la condición de buenos estudiantes en la educación básica y en la universidad, les gustó la escuela y tuvieron buenos resultados escolares; y construyeron variadas estrategias de escolarización de corta duración que, asociadas, permitieron una ruta de longevidad escolar y el acceso a los niveles más altos de escolarización, ingresando a la maestría académica. Además, es importante mencionar la relevancia de las recientes políticas públicas de democratización de la universidad, específicamente las Acciones Afirmativas que permitieron a estos estudiantes experimentar la vida universitaria, permanecer en la Educación Superior, primero en los estudios de pregrado y luego en el postgrado stricto sensu.

Palavras-chave: Longevidad escolar. Clases populares. Postgraduación stricto sensu.

 

 

Introdução

 

Este artigo tem como intenção divulgar os resultados de uma pesquisa de mestrado recentemente finalizada que discute as condições que possibilitam o fenômeno, estatisticamente improvável, da longevidade escolar nas camadas populares, entendida como a permanência no sistema de ensino até a entrada no Ensino Superior (VIANA, 1998). A pesquisa se insere nos estudos da Sociologia da Educação, e investigou as trajetórias[1] escolares de estudantes oriundos de camadas populares [2]matriculados em programas de Pós-graduação stricto sensu da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a saber: Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas; do Programa de Pós-graduação em Ciências da Computação; do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental; e o Programa de Pós-graduação em Saúde e Nutrição. Nessa investigação procurou-se identificar as estratégias[3] desenvolvidas pelos estudantes e suas famílias provenientes das camadas populares em prol de um percurso de longevidade escolar e da ascensão ao mestrado acadêmico em uma universidade federal.

A hipótese central era a de que tais sujeitos empreendem estratégias de curto prazo e trabalharam conjuntamente com suas famílias na perspectiva de construir uma longevidade escolar de sucesso. Essa hipótese, derivada de pistas  levantadas por estudos sociológicos desenvolvidos por Portes (1993; 2001), Maria José Viana (1998), Silva (1999), Nogueira e Fortes (2004), Setton (2005), Almeida (2006), Zago (2006), Souza (2009), Lacerda (2006; 2010), Piotto (2007) e Gonçalves (2021) que trazem em seu escopo elementos intrínsecos às trajetórias de longevidade escolar de estudantes oriundos de camadas populares no âmbito da realidade brasileira e trouxeram importantes indagações para contextualização da presente pesquisa. Além destes estudos, buscamos fundamentos teóricos na obra clássica do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1998a) sobre as desigualdades sociais e escolares e nos estudos de Bernard Lahire (1997) acerca do improvável sucesso escolar de crianças originárias de camadas populares. Este último sociólogo buscou compreender como crianças de camadas populares, tendo forte probabilidade de fracassar, conseguiam “escapar desse risco e, até mesmo, em certos casos, ocupar os melhores lugares nas classificações escolares” (LAHIRE, 1997, p. 12).                                                               A definição desse objeto de pesquisa está situada no contexto das investigações realizadas no Brasil, a partir da década de 1990, no campo da Sociologia da Educação e, especialmente, no eixo da relação família-escola, sobre o tema da “longevidade escolar nas camadas populares’’. Estes estudos se inspiraram inicialmente, na literatura francesa considerada como produtora de investigações sociológicas empíricas e pioneiras de grande porte sobre o tema (VIANA, 2011), e se estabeleceu na Sociologia da Educação brasileira com os trabalhos de Écio Portes (1993), Maria José Viana (1998) e Jailson Souza e Silva (1999), tendo como centralidade investigativa as estratégias e mobilizações de escolarização desenvolvidas por sujeitos de camadas populares e seus familiares.                                    A partir de uma revisão específica da literatura sobre o fenômeno da longevidade escolar, verificamos a escassez de publicações brasileiras sobre trajetórias escolares de estudantes oriundos de camadas populares que ascenderam à pós-graduação stricto sensu em universidades públicas, principalmente, quando nos referimos às estratégias e mobilizações construídas pelos sujeitos no mestrado acadêmico, bem como as experiências neste nível de ensino. No Brasil, localizamos duas dissertações (ARAÚJO, 2015; e ALVES, 2017) e um artigo derivado de uma pesquisa publicado em periódico científico (OLIVEIRA; PORTES, 2014).

Esses estudos supracitados demonstram que este esse campo de investigação, no âmbito da pós-graduação stricto sensu, é ainda lacunar na Sociologia da Educação, o que remete a questões de investigações a serem analisadas e aprofundadas para compreensão das nuances e singularidades que envolvem as trajetórias de estudantes das camadas populares até esse nível de ensino.

Deste modo, a questão central desta investigação é: de que forma sujeitos provenientes de famílias das camadas populares construíram percursos de longevidade escolar e ascenderam à pós-graduação stricto sensu? Para responder tal questão, este trabalho destaca elementos que contribuíram para a constituição de trajetórias escolares longevas. E coloca em destaque as estratégias desenvolvidas pelos estudantes e suas famílias em prol de um percurso de longevidade escolar e da ascensão ao mestrado acadêmico em uma universidade federal.

É nesse contexto que abordaremos as estratégias e mobilizações de estudantes de camadas populares, pressupondo que essas estratégias possibilitam a inserção na universidade pública e a obtenção, ao “final” desse percurso, de um sucesso longevo e da ascensão aos níveis mais elevados de ensino, neste caso o mestrado acadêmico.                      Para tanto, este artigo encontra-se dividido em três seções, além dessa introdução e das considerações finais. Primeiramente apresentam-se os aspectos metodológicos da pesquisa para, em seguida, proceder à apresentação das características sociais e educacionais dos cinco estudantes investigados, todos pertencentes às famílias detentoras de pouco capital cultural e escolar [4]. Na segunda seção são apresentados os resultados da pesquisa relativos aos processos sociais e educacionais vivenciados pelos estudantes e que os mobilizaram a alcançar e construir suas trajetórias escolares longevas. E, por fim, elaboram-se algumas considerações finais.

Aspectos metodológicos

 

A escolha do lócus da pesquisa, a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), se deu pelo seu prestígio no estado de Minas Gerais e pela necessidade de produzir conhecimento sobre a realidade social e acadêmica da universidade. A proposta metodológica desenvolvida nesta pesquisa se apoiou na revisão da literatura sobre o tema tratado, e é pautada em uma abordagem qualitativa conforme os pressupostos de Minayo (2001) e Flick (2005), utilizando como instrumento metodológico para a coleta de dados, as entrevistas semiestruturadas.                               Tais entrevistas foram realizadas com cinco estudantes de camadas populares matriculados em cursos de pós-graduação stricto sensu ofertados pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a saber:  Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas; Programa de Pós-graduação em Ciências da Computação; Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental; e o Programa de Pós-graduação em Saúde e Nutrição.                                                                                                     Para a verificação das condições de pertencimento às camadas populares, foram observados os seguintes indicadores: renda familiar/ e renda individual, grau de escolaridade e ocupação dos pais e das mães, tipo de moradia individual, tipo de moradia da família de origem ou da família de procriação, rede de ensino frequentada na Educação Básica, condições socioeconômicas para manutenção do estudante no curso de mestrado acadêmico.                     

Em virtude da pandemia da Covid-19, e consequentemente, da orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que fossem observados o distanciamento e o isolamento social e a suspensão das atividades presenciais das universidades federais, a realização das entrevistas ocorreu virtualmente meio da plataforma Google Meet.  O roteiro utilizado para as entrevistas seguiu uma estrutura genealógica, pela qual analisamos o percurso escolar dos sujeitos deste a Educação Infantil até a chegada ao Ensino Superior e à pós-graduação stricto sensu.            Os procedimentos para a análise tiveram como base o estudo dos fenômenos internos da longevidade escolar, articulados aos campos teórico e empírico, ou seja, por meio da articulação entre a análise dos dados obtidos e os objetivos da pesquisa. Para tanto, foram elencados os seguintes eixos temáticos e transversais (DUARTE, 2004):  a) Características socioeconômicas do estudante e da família, b) Dinâmicas familiares; c) Educação básica e acompanhamento escolar; c) O ingresso no Ensino Superior; e d) O ingresso na pós-graduação stricto sensu.                         Salienta-se que a pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética da Universidade Federal de Ouro Preto e recebeu aprovação com o Parecer n° 3.613.180, bem como realizamos todos os procedimentos para garantir o anonimato dos participantes e as condições éticas da investigação.                               

Discutindo os resultados

 

A seguir no Quadro 1, apresentamos uma breve caracterização social dos estudantes de camadas populares pesquisados que ascenderam ao mestrado acadêmico da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

 

Quem são os sujeitos pesquisados?

 

Foram entrevistados cinco estudantes de camadas populares, identificados por pseudônimos, sendo eles: Luiza (31 anos) do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas; Marcelo (35 anos) do Programa de Pós-graduação em Ciências da Computação; Geraldo (26 anos) do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental; Maura (30 anos) e Mel (26 anos), ambas do Programa de Pós-graduação em Saúde e Nutrição. Esses estudantes viveram sempre no interior do estado de Minas Gerais, na época da entrevista informaram que eram solteiros e sem filhos, com exceção de Marcelo que era separado, mas não tinha filhos.

 

Quadro 1Características sociais dos estudantes entrevistados

 

Entrevistado

 

Curso

 

Ocupação  Profissional  do pai e escolaridade

 

Ocupação  Profissional  da mãe e escolaridade

 

Renda Familiar

 

Luiza

 

Mestrado em Ciências

Biológicas

Ensino Fundamental/ Servente de obras

(Falecido)

Ensino Fundamental / Faxineira, doméstica e lavadeira de roupas.

Até 2 salários mínimos

 

 

Marcelo

 

 

Mestrado em Ciências da Computação

Ensino Fundamental/ Servente de obras

(Falecido)

Ensino fundamental incompleto/ Funcionária pública municipal

Até 2 salários mínimos

 

 

Geraldo

Mestrado em Engenharia Ambiental

Ensino Fundamental/ Autônomo/Mecânico

(Falecido)

Ensino Médio completo integrado com Magistério/ Copeira de alimentos

Até 2 salários mínimos

 

 

Maura

 

Mestrado em Saúde e Nutrição

Ensino Fundamental /

Auxiliar de serviços gerais

Ensino Fundamental/ Faxineira

Até 2 salários mínimos

 

 

Mel

 

Mestrado em Saúde e Nutrição

Ensino Fundamental/ Autônomo/ aposentado

Ensino Fundamental/ empregada doméstica

Até 2 salários mínimos

Fonte: Bento (2021), com algumas adaptações.

 

Luiza[5]: “a única oportunidade que eu teria era de estudar” - é oriunda da cidade de Ouro Branco, interior de Minas Gerais, no momento da entrevista tinha 31 anos de idade, era solteira e se autodeclarou negra. Engenheira de Bioprocessos e bacharela pela UFSJ, ela cursava o mestrado em Ciências Biológicas no Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da UFOP (PG-CBIOL/UFOP), residia em uma república na cidade de Ouro Preto-MG.

Os dados sobre a origem social da família de Luiza revelam uma realidade comum às camadas populares: seus avós e pais tinham pouca escolaridade, ocorrida na zona rural. Dos avós, apenas o avô paterno frequentou a escola, contudo, não chegou a cursar o Ensino Fundamental I; os demais não tinham nenhuma instrução escolar e tanto seus avós paternos quanto maternos eram trabalhadores rurais.

Sua família restrita é composta por quatro membros: a mãe e três filhas, sendo que Luiza é a caçula. A mãe de Luiza não completou o Ensino Fundamental e trabalhava como faxineira, doméstica e lavadeira de roupas. O pai também não completou esta etapa de ensino e trabalhou como servente de obras ao longo da vida, todavia faleceu quando ela tinha apenas um ano de idade, e suas irmãs, dois e três anos de idade.

Marcelo: “Não vou ser mestre não, vou ser o doutor da cidade’’ - estudante do curso de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências da Computação (PPGCC/UFOP). Ele é natural da cidade de Itamarandiba, localizada no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, se autodeclarou pardo e, no momento da entrevista, estava com 35 anos de idade. Graduado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela Universidade Estácio de Sá (ESTÁCIO), residia sozinho em um quarto alugado na cidade Ouro Preto-MG durante a realização do mestrado.

As origens sociais de Marcelo remontam a um passado com avós tanto paternos quanto maternos sem escolaridade, com ocupações profissionais manuais, pesadas e pouco rentáveis em um meio rural do interior de Minas Gerais, todos eram lavradores. Assim, em relação às condições de vida dos avós paternos e maternos, podemos constatar uma realidade social em que o trabalho duro se fazia presente e, provavelmente, mais do que necessário para o sustento de suas respectivas famílias.

O pai de Marcelo tinha ocupação de servente de obras e não completou o Ensino Fundamental, tendo falecido muito jovem, quando o estudante tinha três anos de idade. A mãe era funcionária pública municipal e exercia a ocupação de auxiliar de serviços gerais e, também, não completou o Ensino Fundamental. De origem humilde e de família numerosa, é o mais velho de sete filhos. Com o pai de Marcelo, sua mãe teve quatro filhos, sendo que, posteriormente, teve mais três filhos de outros relacionamentos.                                         Geraldo: “vi nos estudos uma oportunidade de mudar de vida” - é natural de Itabira, cidade situada na região sudeste de Minas Gerais. No momento da entrevista, o estudante tinha 26 anos, era solteiro, se autodeclarou pardo, era graduado em Engenharia Ambiental e Sanitária pela UEMG e cursava o mestrado no Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PROAMB/UFOP), residia em Ouro Preto-MG, em uma república estudantil.

De origem humilde, os avós maternos de Geraldo estudaram até a 4ª série (5°ano) e exerciam ocupações manuais em mineradoras da região de Itabira-MG. Já sobre os avós paternos, esses eram semianalfabetos, no que diz respeito à ocupação exercida por eles, o entrevistado não soube informar.

Geraldo é o filho mais novo de três irmãos. Sua mãe era copeira de alimentos, trabalhava no Hospital de Itabira-MG, e possuía Ensino Médio completo integrado com Magistério. Apesar de ter feito o curso Técnico em Magistério, a mãe nunca exerceu a profissão de professora. Seu pai hoje é falecido, mas ele fazia serviços autônomos, como mecânico, tendo estudado até 8ª série (9°ano).            

Maura: “professora doutora desde o primeiro dia na graduação” - é natural da cidade de Dores de Campos, no estado de Minas Gerais. No momento da entrevista, a estudante tinha 30 anos de idade, era solteira e se autodeclarou branca. Ela era licenciada e bacharela em Educação Física pela UFOP, mestra em Saúde e Nutrição pelo Programa de Pós-graduação em Saúde e Nutrição (PPGSN/ UFOP) e residia em um imóvel alugado na cidade de Ouro Preto-MG.                                    A origem dos avós de Maura aponta para uma realidade de poucos recursos materiais e culturais. Seus avós paternos não possuíam nenhuma escolaridade, seu avô era tropeiro e sua avó lavradora. Os pais de Maura também eram pouco escolarizados e não completaram o Ensino Fundamental. A mãe trabalhava como faxineira e o pai como auxiliar de serviços gerais. Maura é a quarta filha de seis irmãos – ela tem três irmãos mais velhos, que concluíram o Ensino Fundamental I, isto é, a 4ª série (5ºano), sendo que, dos dois irmãos mais novos, um cursou o Técnico em Administração no IFMG, e a outra cursava o Ensino Superior em Administração.                 

Mel- “não importa o que eu vou fazer, sempre vou fazer bem”: é natural da cidade de Ouro Preto, localizada na região central de Minas Gerais, tinha 26 anos à época de realização da entrevista, era solteira e se autodeclarou branca. É graduada em Nutrição pela UFOP com período sanduíche na University College Dublin, pelo programa Ciência Sem Fronteiras. É mestra em Saúde e Nutrição pelo PPGSN/UFOP, vivia em Ouro Preto-MG, com seus pais e sua irmã. As suas origens sociais remontam a um passado com avós paternos e maternos de pouca escolaridade, ambos assinavam somente o nome e tinham profissões de trabalho pesado e pouco rentáveis em um meio rural do interior de Minas Gerais. A avó paterna era dona de casa e o avô paterno, pequeno comerciante. Já do lado materno, a avó era dona de casa e descendente de indígena, e o avô era agricultor e descendente de português. Mel é fruto da união de uma empregada doméstica e de um aposentado/autônomo, sendo que seu pai, antes de aposentar-se, exercia trabalhos autônomos de serigrafia. Nenhum dos dois concluiu o Ensino Fundamental, e o fizeram até a 4ª série (5° ano). Mel é a mais nova de três filhos, sendo que o irmão mais velho é seu meio-irmão, somente por parte materna.                     

Na próxima seção teceremos os resultados interpretativos da pesquisa para a constituição singular desses percursos em níveis mais elevados de ensino, considerados improváveis para estudantes oriundos de famílias das camadas populares.                                                                                                                    

 

Diálogo entre os casos de longevidade escolar na pós-graduação stricto sensu de uma Universidade Pública: alguns fios de uma tecitura 

 

As trajetórias escolares de estudantes oriundos de camadas populares advêm de um contexto social e de circunstâncias que derivam do reduzido capital econômico, cultural e escolar da família à qual o estudante pertence. Na perspectiva de Bourdieu (1998b), os diferentes tipos de capital são instrumentos de apropriação e acumulação de vantagens, sobretudo de caráter econômico e de prestígio social. Esses estudantes, com as estratégias de curto prazo de suas famílias, favoráveis a seus percursos escolares, romperam com a lógica da causalidade do provável (BOURDIEU, 1998c), ascendendo ao mestrado acadêmico. É importante mencionar que, à época da investigação, Maura e Mel já cursavam o doutorado acadêmico.

A literatura sociológica estabelece fartamente a correlação entre condição socioeconômica e escolarização. As trajetórias de Luiza, Marcelo, Geraldo, Maura e Mel estão permeadas por desigualdades sociais, econômicas e escolares, que foram aos poucos dando lugar a novas estratégias desenvolvidas (nem sempre consciente ou racionalmente) estruturadas pelo habitus [6]  socialmente reconfigurado. Os cinco estudantes investigados, como bons jogadores, fazem a “[...] todo instante o que deve ser feito, o que o jogo demanda e exige. Isso supõe uma invenção permanente, indispensável para se adaptar às situações indefinidamente variadas” (BOURDIEU, 2004, p. 81). Mediante a associação de variadas estratégias, eles passaram a construir suas possibilidades de longevidade de escolar de acordo com as condições disponíveis, o que permitiu o acesso ao mestrado acadêmico da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).                                                                         Ao analisar as trajetórias dos cinco estudantes, alguns fios puderam ser tecidos com o intuito de compreender e explicar sua longevidade escolar e o alcance do topo da hierarquia acadêmica.  Oliveira e Nogueira (2019) pontuam que as trajetórias escolares de estudantes oriundos de camadas populares devem ser vistas como um fenômeno de natureza multifatorial e interdependente que abrange diversas dimensões familiares, sociais e educacionais, e que não podem ser compreendidas de forma isolada, mas por um conjunto dinâmico de relações, configurações e experiências. Se faz necessário atentar para o fato de que as estratégias e mobilizações de escolarização empreendidas pelos estudantes e suas famílias se definiram a partir de uma multiplicidade de ações que as singularizam quando considerarmos a história de vida de cada sujeito.

Os dados indicam que as trajetórias de Luiza, Marcelo, Geraldo, Maura e Mel foram permeadas por uma escolarização precoce, o que contribuiu para o desenvolvimento do ‘’ gosto” pelos estudos (no sentido bourdieusiano), além disso, caracterizam-se pela mobilização individual e confiança no processo de escolarização longevo como forma de ascensão social, pela condição de bons alunos e pela obtenção frequente de excelentes resultados escolares. Esse bom rendimento escolar foi mantido também durante a vida acadêmica no Ensino Superior, embora com alguns percalços derivados da adaptação à vida universitária, sempre motivado por interesses pessoais e/ou profissionais dos estudantes. Os estudantes, durante suas trajetórias, foram incorporando disposições que propiciaram a aquisição de um habitus propenso à longevidade escolar que, ainda que de forma particular a cada um, conferiu-lhes certa vontade de buscar a ascensão aos níveis mais elevados de ensino, como o mestrado acadêmico (PORTES, 2001).

Um primeiro fio de análise, refere-se ao papel das famílias nessas trajetórias e a influência das práticas educativas no processo de escolarização dos estudantes. No caso dos estudantes pesquisados, percebemos que a intervenção das famílias, sucedeu-se de forma periférica ao estritamente escolar, mediante práticas socializadoras que levaram à construção de disposições favoráveis aos processos de escolarização (LAHIRE, 1997) e à longevidade escolar (VIANA, 1998).                             Observamos a presença de uma certa ordem moral doméstica [7]e de uma ‘’ solidariedade familiar”, além de uma forte transmissão de valores como honestidade, ética e disciplina, e de valores positivos sobre a escola e os estudos (LAHIRE, 1997, p. 195). Os estudantes pesquisados trabalharam com o apoio (nem sempre material, mas sempre afetivo e moral) de suas famílias na perspectiva de construir um percurso de longevidade escolar, contribuindo assim para a inserção na universidade pública e o ingresso ao mestrado acadêmico. Tais dinâmicas estavam presentes fortemente em, pelo menos, quatro das famílias, permeando os processos de socialização dos entrevistados.                                                                                             No caso de Maura, em que não havia um controle dos pais sobre a vida diária dos filhos, nem um incentivo mais claro em relação aos estudos, valores morais eram transmitidos e, de algum modo, a mãe possibilitava, mesmo que de modo frágil, de acordo com as precárias condições de vida da família, que Maura continuasse na escola e se empenhasse em seus estudos. Assim, no caso de Maura, mesmo observando-se a ausência de “investimentos específicos e deliberados” (VIANA, 2000, p. 54) por parte da família no decorrer da sua trajetória escolar, ainda assim, foram configuradas práticas socializadoras que contribuíram para que ela vivenciasse e se apropriasse da lógica dos estudos e obtivesse êxito escolar.

Em alguns casos, pode ser observada certa solidariedade familiar, que visava proteger os filhos contra influências externas, quando essas são consideradas inadequadas, prática educativa também relatada por Lahire (1997). Outro aspecto das dinâmicas das famílias refere-se à presença de relações estreitas entre os irmãos, que se auxiliavam ao longo de sua escolarização, bem como faziam esforços para que os estudantes se mantivessem na escola e pudessem chegar ao Ensino Superior. Constatou-se, ainda, o protagonismo da figura materna para a inculcação de uma ordem moral doméstica, com o propósito de regular os procedimentos sociais e as disposições, sendo essas ações favoráveis à escolarização dos estudantes (LAHIRE,1997). Nos percursos dos cinco estudantes entrevistados, a figura da mãe foi preponderante na educação e no apoio escolar, dado encontrado também por Almeida (2006), Piotto (2007) e Lacerda (2006) e que corrobora a tese de Lahire (1997) quanto ao mito da omissão parental em relação às camadas populares.

Embora saibamos que existem famílias omissas em relação à vida escolar dos filhos, os dados sobre as famílias dos cinco estudantes contribuem para a desconstrução do estereótipo de que as famílias dos meios populares não participam da vida escolar dos seus filhos. Ainda que não tivessem um projeto escolar claro e objetivo de escolarização de longo prazo, as famílias pesquisadas realizaram um “sobre-esforço para incutir, no filho, um valor – a escola – com tudo de bom que ela simboliza socialmente e pode possibilitar” (PORTES, 1993, p. 158). Segundo Piotto (2007, p. 305),

 

[o] investimento familiar na escolarização de um filho é fenômeno bastante complexo, no qual podem estar presentes, entre outros, fatores que vão desde características de personalidade de cada genitor, aspectos não conscientes da dinâmica interna familiar, envolvendo afetos e preferências paternas, passando por seus sonhos e projetos, pelo capital cultural e escolar disponível, bem como pelo momento da trajetória de cada unidade familiar.

 

As formas de investimento pedagógico das famílias pesquisadas, embora muitas vezes fragmentadas e frágeis, quase sempre se referiam a um projeto de escolarização de curto prazo, nem sempre muito claro de ascensão social via escola, entretanto, os pais e as mães valorizavam os estudos e a escola e deixavam claro para seus filhos que só seria possível romper com o destino traçado pelas condições socioeconômicas por meio dos estudos (LAHIRE,1997).

Nota-se uma regularidade no controle sistemático das atividades escolares, e nos “limites temporais e estruturantes” impostos à educação dos filhos (LAHIRE,1997, p.24). As mães foram aquelas que mais se mobilizaram na escolarização dos filhos, empreendendo um certo número de estratégias educativas, como podemos observar no Quadro 2:

 

Quadro 2 Estratégias educativas empreendidas pelas famílias dos estudantes

·         A atenção voltada para a vigilância da vida escolar e de ordem moral, como estipular horários para brincar e vigiar o círculo de amizades.

·         Contatos com as instituições escolares.

·         A escolha da instituição escolar e mudanças de estabelecimento de ensino em busca de outro considerado mais favorável.

·         O auxílio financeiro nos estudos.

·         O incentivo aos estudos.

·         Acompanhamento e auxílio nas tarefas escolares (mesmo que apenas nos anos iniciais da Educação Básica).

·         Rede de relações sociais favoráveis por meio de igrejas, associações.

·         O comparecimento às reuniões pedagógicas.

·         O apoio moral e afetivo em questões escolares.

·          A compra de materiais que pudessem contribuir para a escolarização dos filhos.

·         A valorização dos estudos por meio do controle da frequência escolar (frequentemente as mães repreendiam os filhos quando se ausentavam das aulas sem justificativa e advertiam-nos no sentido de que a ascensão social se daria por meio da escola).

Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

 

As mães desempenharam papéis importantíssimos nas trajetórias de longevidade escolar dos sujeitos pesquisados, assumindo, muitas das vezes, sozinhas, a educação dos filhos devido à ausência da figura paterna – em dois dos cinco casos analisados, isso se deu em função do falecimento do pai. Já a figura paterna como responsável pela implementação das práticas de apoio à escolarização só apareceu nos casos de Mel e Geraldo, conduta paterna não tão recorrente na literatura sociológica, como pontua Lacerda (2006). Ressalta-se, ainda, que os esforços dos pais consistiram principalmente, em “educar para a vida”, mais do que dentro de uma expectativa de longevidade escolar (PORTES, 2001).

Embora os pais dos sujeitos fossem portadores de um fraco capital escolar e, também, material e econômico, ainda assim esses mobilizavam esforços para incutir nos filhos o valor da educação, e não deixaram de empreender estratégias, que não somente mantiveram os filhos no interior do sistema escolar, mas que lhes possibilitaram alcançar gradativamente os níveis mais altos de escolaridade, a ascensão a um mestrado acadêmico (PORTES, 2001).

Evidenciou-se que as condições sociais familiares entre um estudante e outro não diferem muito, a não ser quanto ao tamanho da família. Marcelo e Maura vêm de famílias extensas, enquanto, nos outros casos, havia um menor número de filhos. O tamanho da família influencia tanto nas condições econômicas de subsistência quanto nos processos de socialização e de escolarização. Da mesma forma, no que concerne à moradia dos pais de Luiza, Geraldo, Maura e Mel, que possuíam casa própria; somente a família de Marcelo sempre residiu em imóveis alugados. Conforme Portes (1993, p. 57), 

 

[a] partir da casa própria – não só por sua importância em se tratando de trabalhadores de baixa renda, em um país com enorme déficit habitacional, mas também pelo significado subjetivo que tal bem assume, sobretudo porque a casa própria parece propiciar – mesmo diante de um quadro geral de dificuldades – condições de vida um pouco melhores para essas famílias em relação à média das famílias populares.

 

Do ponto de vista material, a posse de casa própria, no caso das famílias pesquisadas, oferecia uma certa estabilidade, ou seja, seria uma espécie de “base necessária a partir da qual se pudesse edificar outros sonhos’’ (PORTES, 1993, p.78). As famílias se viam livres de arcar com gastos com aluguel em função de terem a casa própria, e isso pode ser um dos fatores que contribuíram para relações menos tensas com a escolarização dos filhos e com a construção de aspirações de um percurso de longevidade escolar pelos estudantes. Bem como, podemos inferir ainda, que, mesmo desenvolvendo atividades laborais modestas, o fato dos estudantes terem pais com emprego fixo ou serem funcionários públicos ofereceu-lhes uma certa estabilidade.

Um segundo aspecto das trajetórias analisadas refere-se às experiências dos cinco estudantes ao longo da sua escolarização. Embora eles tecessem críticas ao ensino recebido, reconheciam as contribuições das escolas e de seus professores para suas trajetórias (ALVES, 2014). Além disso, os relatos confirmam que a “eterna aproximação dos professores’’ citada por (PORTES, 2001, p. 252) é um fator comum, o incentivo de alguns professores para a continuidade dos estudos, o reconhecimento pelos professores da capacidade intelectual dos estudantes, através da empatia, do incentivo à dedicação, ao esforço e ao desempenho acadêmico, aspectos que contribuíram para construção de trajetórias escolares longevas pelos cinco estudantes. Ressalta-se que a influência dos professores aparece também em vários outros estudos, como em Portes (1993; 2001), Viana (1998), Silva (1999), Piotto (2007) e Almeida (2006). Pelo exposto, corroborando Lacerda (2006, p. 80), nota-se que “o investimento na escola não é um fenômeno individual ou que se realiza num vácuo social, mas é induzido e estimulado, especialmente, pelas famílias e pelas escolas”.

Entretanto, concordamos com Zago (2006, p. 230), “ingressar em uma instituição com forte concorrência no vestibular pressupõe, sem dúvida, uma formação anterior favorável” e as falhas na formação básica marcaram profundamente sobretudo a vida de Mel, Luiza, Geraldo e Maura, obrigando-os a um esforço ainda maior para alcançar os patamares exigidos pelo Ensino Superior. Como afirma Gouveia (1968, p. 232), “qualquer tentativa de democratização do Ensino Superior será inócua enquanto persistirem as desigualdades existentes nos níveis anteriores, primário e secundário”.

Evidencia-se, também, como um terceiro fio de análise, que os estudantes de origem popular têm, comumente, desde cedo, de conciliar trabalho e estudo, como foram os casos de Luiza, Marcelo, Maura e Geraldo, educados, no meio familiar, sob a ética do trabalho. Eles tiveram de conciliar a jornada de trabalho diurna com os estudos à noite para sua subsistência, tornando-se trabalhadores-estudantes desde muito cedo (ALMEIDA, 2006). Marcelo, inclusive, pela falta de recursos econômicos da família, precisou interromper os estudos após o Ensino Médio para construir um “pé-de-meia” e financiar seus próprios estudos superiores (PORTES, 1993; ZAGO, 2006).

Da mesma maneira, Luiza, Maura, Mel e Geraldo, ao traçarem como meta ascender ao Ensino Superior, necessitaram investir financeiramente em cursinhos pré-vestibulares ou aulas particulares com valores mais acessíveis e em turmas noturnas, ou até mesmo frequentar cursos gratuitos, a fim de resolver problemas de desvantagens de aprendizagem acumuladas, investimento/necessidade também identificado por Portes (1993) e Zago (2006) em seus estudos.

Além de trabalharem desde cedo, ao ascenderem ao Ensino Superior, Luiza, Marcelo e Geraldo desempenharam atividades remuneradas em tempo integral, sendo que o ritmo intenso de trabalho era um grande concorrente com os estudos. De fato, “existem fatores extraescolares, econômicos e culturais – que influenciam sobremaneira no desempenho e no aproveitamento do estudante” (BOURDIEU; 1998, p. 42-45).

Um quarto aspecto refere-se à adesão ao mundo acadêmico e à consolidação de uma relação positiva com o saber escolar durante a graduação, que possibilitaram e influenciaram o desejo de continuidade dos estudos na pós-graduação. Nos casos de Luiza, Maura, Mel e Geraldo, constatou-se um bom desempenho acadêmico dos sujeitos, em função do engajamento em pesquisas de Iniciação Científica, experiências de estudos no exterior, participação em grupos de estudos, projetos de ensino, monitoria e extensão universitária, que possibilitaram aos estudantes um desejo maior pelo aprendizado e contribuíram para a aquisição de conhecimento e para continuidade dos estudos na pós-graduação stricto sensu, em nível acadêmico.

No entanto, assim como constatou Almeida (2006), as experiências em processos seletivos, base prévia obtida em cursos técnicos e tecnológicos, no caso de Maura, Marcelo, Mel e Geraldo, foram fatores que contribuíram para que os estudantes investigados tivessem acesso à UFOP, uma instituição pública de Ensino Superior altamente seletiva. Além disso, as novas experiências educativas informais denominadas como “saberes difusos” por Setton (2005, p. 87), neste caso, obtidos por meio da internet, impactaram de forma positiva na trajetória escolar de Marcelo e Geraldo. Tais estratégias incutiram a apropriação da cultura acadêmica e, com isso, esses estudantes desenvolveram projetos futuros de prolongamento dos estudos, almejando cursar uma pós-graduação.

Não obstante, Luiza, Maura e Geraldo enfrentaram dificuldades para se engajarem na vida universitária. Logo no ingresso ao curso de graduação, eles descobriram que a adesão à vida universitária, sobretudo nos espaços onde transitavam, era um processo longo e de difícil aceitação. Tendo vivenciado grandes impasses de adaptação, como o sentimento de não fazerem parte do ambiente universitário, eles tiveram dificuldades para aprender “o ofício de estudante” (COULON, 2008, p.1242) e passaram por um processo de adaptação doloroso, uma sensação de não pertencimento, principalmente, pela distância entre o seu mundo social, as suas experiências anteriores, e o mundo universitário, sendo os cursos em que estavam matriculados de alto prestígio social. Luiza teria sentido esse sentimento de não pertencimento de forma mais profunda, a sua vida universitária ainda teria sido marcada por estigmas raciais. Para Piotto (2007, p. 3), “[...] dada a elitização de alguns cursos, tanto nas instituições públicas quanto nas particulares, a presença de alunos das camadas populares neles constitui exceção [...]”. Além disso a distância entre os dois mundos produz um sentimento de não lugar, conforme Bourdieu (2005), ou seja, o próprio habitus clivado do sujeito poderia ter contribuído durante muito tempo para um sentimento de extrema solidão.

Os estudantes estavam imersos “em universos onde os hábitos de gosto são diferentes e até socialmente opostos, sendo então, ‘trânsfugas de classe’, que oscilam de maneira permanente – e às vezes mentalmente esgotante – entre dois hábitos e dois pontos de vista” (LAHIRE, 2002, p.43). Segundo Portes (2001, p.178),

 

[o]s dados vêm mostrando que a filiação é algo complexo e envolve algumas circunstâncias tais como utilização satisfatória do tempo, disposição do estudante para tomar contato real com o curso, aceitação pelos colegas e professores, apresentação de um bom desempenho acadêmico, ocupação de forma significativa do espaço universitário e encaminhamento de forma satisfatória das questões naturais.

 

Contudo, os estudantes não desistiram de afiliar-se institucionalmente, pois sabiam que isso era apenas um dos pilares que constituem a vida universitária e que possibilitam a permanência no Ensino Superior, logo, persistiram na descoberta e apropriação das evidências e rotinas das práticas do Ensino Superior e da pós-graduação (PORTES, 2001). Por fim, apesar de os estudantes passarem por todas as dificuldades já citadas anteriormente, a entrada na universidade se tornou uma grande vitória.

Diante das adversidades de ordem material, cultural e social, observou-se, nos estudantes investigados, uma forte mobilização individual em prol da escolarização. Os cincos entrevistados disseram ser eles os responsáveis por traçarem seu próprio caminho, o que coincide com os resultados dos estudos de Portes (1993; 2001), Viana (1998), Silva (1999), Lacerda (2006), Almeida (2006), Zago (2006), Piotto (2007) , Maria Souza (2009) e Gonçalves (2021), quando observam que, apesar da importância dos incentivos familiares, das redes de apoio, dos parentes e das instituições, uma trajetória escolar longeva tem muito da motivação do sujeito e da sua batalha para alcançar esses objetivos.

E o último aspecto, refere-se às políticas públicas de expansão do Ensino Superior como, Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), o Programa Universidade para Todos (ProUni), o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), sem elas tais estudantes teriam menos possibilidades de ascensão ao Ensino Superior. As ações de assistência estudantil das universidades que fazem parte do PNAES, um programa federal que visa fornecer condições de permanência a estudantes de camadas populares no Ensino Superior, também são importantes para a manutenção desses jovens na universidade. Segundo Sousa e Portes (2013), o público-alvo do PNAES são os estudantes egressos da Educação Básica da rede pública, como é o caso de Luiza, Maura e Mel.

Nesse cenário de adversidades que permeia os processos de permanência dos estudantes de camadas populares na universidade, outro ponto também de destaque é o apoio da universidade, mediante os programas de incentivo à permanência, como as bolsas de assistência e os fomentos. As condições de permanência destes, foram marcadas por dificuldades materiais, simbólicas e subjetivas, as quais apontam para as diferenças sociais experimentadas pelos estudantes, bem como as experiências vivenciadas no interior da universidade e as adversidades que dificultaram a plena fruição do contexto acadêmico.                         Contudo, os programas de auxílios previstos por cada universidade, na maioria dos casos, permitiram que esses estudantes vivenciassem a vida universitária, permanecessem no Ensino Superior, primeiramente na graduação e, posteriormente, na pós-graduação stricto sensu. Sem os auxílios financeiros, o trancamento da matrícula e mesmo a desistência do curso, provavelmente, fariam parte do destino escolar dos entrevistados, dado este também encontrado por Gonçalves (2021), que realizou um estudo com estudantes de camadas populares que chegam aos cursos de mestrado e doutorado. A autora menciona a relevância das bolsas institucionais e de políticas de assistência estudantil para que estes pudessem permanecer na instituição. Barbosa, Picanço e Pires (2022), expõem que as características socioeconômicas interferem nos processos das escolhas e expectativas, muitas vezes, tendo que adequar entre o possível e o desejado, sobretudo quando consideramos os estudantes mais pobres. O que vai ao encontro do que explicitam Sousa e Portes (2013, p. 17) que para os estudantes oriundos de camadas populares “[...]abrir as portas da universidade não é suficiente. É preciso que através de políticas de assistência estudantil, sejam garantidas melhores condições materiais e culturais”.

Os relatos revelam que estratégias e mobilizações de escolarização empreendidas pelos estudantes e suas famílias para a obtenção de uma trajetória longeva de escolarização, podem ser compreendidas não como o produto inevitável de um cálculo custo-benefício nem como mero resultado do acaso. No lugar disso, “certas ações podem ser fruto de decisões explícitas e racionais, outras decorrem do processo de interiorização das regras do jogo social e revelam a intuição prática que marca o bom jogador, o estrategista” (NOGUEIRA, 2000, p. 128).

Em suma, pode-se observar claramente que os estudantes de camadas populares ascendem ao Ensino Superior e vão além, ingressam nos cursos de pós-graduação stricto sensu estes matriculam em cursos de mestrado e doutorado. Tais situações são relativamente recentes na história da educação brasileira, construída em um contexto social de múltiplas desigualdades que afetam os estudantes (BARBOSA, PICANÇO e PIRES, 2022). Guardando as dimensões relativas às trajetórias longevas de escolarização nas camadas populares, permeadas pelas dinâmicas das famílias, grande parte do panorama atual que reflete um maior número de jovens de camadas populares no Ensino Superior brasileiro se deve também às recentes políticas públicas de democratização da universidade, especificamente as de Ações Afirmativas.                                                                       Portanto, pode-se concluir que os estudantes desenvolveram uma “inteligência institucional”, no que se refere à capacidade de compreender e saber jogar as regras escolares, construídas socialmente (SILVA, 1999, p. 139), e tiveram um “aprendizado positivo do jogo da sobrevivência escolar” (PORTES, 1993, p. 179). Tendo superado as dificuldades encontradas no ensino básico e na universidade, eles criaram oportunidades para combater as desigualdades, a partir de suas redes de apoio, para permanecer no sistema educacional, ou seja, no Ensino Superior e ir ainda mais longe, alcançando o ápice da hierarquia acadêmica, a pós-graduação stricto sensu

 

Considerações Finais

 

Por meio dos relatos de Luiza, Marcelo, Geraldo, Maura e Mel, pode-se notar que seus posicionamentos diante das novas vivências estavam muito atrelados, por exemplo, ao suporte familiar para se manterem na Educação Superior e ao valor atribuído pela família à educação. Mesmo a universidade não sendo um projeto familiar, na maioria dos casos, a família constituiu-se como ponto de apoio a esses sujeitos. Isso, possibilitou-lhes um investimento, em maior ou menor grau, em relação ao envolvimento com os cursos e atividades acadêmicas, o que repercutiu diretamente em suas experiências. A permanência desses sujeitos na Educação Superior estava atrelada, para além da ajuda familiar, à renda advinda do trabalho.

As trajetórias “estatisticamente improváveis” dos cinco estudantes de cursos de pós-graduação stricto sensu da UFOP analisados neste artigo nos revelam que a construção de trajetórias escolares longevas camadas populares é sempre heterogênea e múltipla, não podendo ser tomada como “modelo para [...] outros jovens provenientes do mesmo meio social, justamente porque ela encerra um caráter de complexa singularidade na sua constituição” (PORTES, 2001, p. 82). Não obstante, compreendemos que as trajetórias desses cinco estudantes revelam estratégias e mobilizações de escolarização em prol da longevidade escolar, pois eles atingiram altos níveis de ensino acadêmico, neste caso, o mestrado acadêmico.      Os resultados revelam claramente que a presença de estudantes de camadas populares nos níveis mais elevados de ensino não representa superação das desigualdades sociais e escolares, assim como observaram Bourdieu e Champagne (1998c). Os efeitos dos excluídos do interior estão presentes antes mesmo do acesso do estudante das camadas populares ao Ensino Superior e, mesmo diante de uma recente expansão da pós-graduação stricto sensu no Brasil, ainda não podemos falar de plena democratização. Embora o Ensino Superior esteja se expandindo, podemos notar a sua insuficiência na promoção da democratização das oportunidades escolares, do acesso e da permanência. Para os sujeitos pesquisados, nas vivências acadêmicas da pós-graduação, a sobrevivência material se unia a outros custos pessoais, que eram também muito dolorosos (BENTO, 2021).       Podemos confirmar nossa hipótese de que estudantes de camadas populares, mesmo em meio às condições socioeconômicas e culturais adversas prolongam suas trajetórias escolares para além da graduação ao traçarem estratégias de curto prazo e em consonância com o apoio familiar. Os estudantes pesquisados trabalharam com o apoio (nem sempre material, mas sempre afetivo e moral) de suas famílias na perspectiva de construir um percurso de longevidade escolar, por meio de uma solidariedade familiar.                                      Dessa forma esta pesquisa contribui para o campo da Sociologia da Educação ao trazer subsídios para a construção de novos olhares e discussões acerca da relação entre família e escola. Em suma, esperamos que as análises e interpretações apresentadas também sejam significativas para estudos sobre longevidade escolar nas camadas populares e para o aprofundamento de investigações que se ocupem de temáticas relacionadas à implementação de políticas públicas de acesso à pós-graduação brasileira.

 

Referências

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Agradecimentos:

A pesquisa contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

 

Notas



[1] Conforme Portes (1993, p. 14), trajetória é o “caminho percorrido pelos atores sociais ao longo do sistema escolar e o significado atribuído pelos próprios atores a esse percurso. ”

[2] O termo camadas popular tem sido utilizado de forma recorrente em estudos e pesquisas que tratam do fenômeno das improbabilidades estatísticas no campo educacional brasileiro (PORTES, 1993; 2001; VIANA, 1998; 2011; PIOTTO, 2007). Viana (1998) considera indicadores de pertencimento às camadas populares como a baixa renda familiar, o baixo nível de escolaridade e ocupação predominantemente manual dos pais.

[3] A noção de estratégia utilizada aqui está apoiada em Portes (1993, p. 14), que define como “conjunto de práticas e atitudes ideológicas ou morais que – consciente ou inconscientemente – cada grupo social põe em prática com uma determinada finalidade (no caso presente, a longevidade escolar)’’.

[4] Ver Bourdieu, "Os três estados do capital cultural" Cap. 2, pp. 71-80, apud NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio (Orgs.) Escritos de educação ,1998. 

[5] Foram utilizados nomes fictícios para preservar o anonimato dos sujeitos pesquisados.

[6] O habitus pode ser entendido como um estilo de vida exteriorizado pelo sujeito, sendo ‘’ [um] sistema de disposições duráveis e intransponíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções’’ (BOURDIEU, 1983, p. 65).

[7] A ordem moral doméstica é compreendida como as ações de controle que a família realiza sobre determinadas circunstâncias (LAHIRE, 1997).

 

 

 

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