Os saberes docentes dos enfermeirospara atuação noensino superior
The nursing teachers 'knowledgefor higher education
El saber docente de los enfermeros para actuar en la enseñanza superior
Universidade Pitágoras Unopar, Londrina, PR, Brasil.
camilavsenf@gmail.com
andzomp@yahoo.com.br
Recebido em 01de novembro de 2021
Aprovado em 02 de setembro de 2022
Publicado em 15 de agosto de 2023
RESUMO
Este estudo objetivou investigar na literatura pesquisas que abordam os saberes docentes de professores enfermeiros. Pesquisa com abordagem qualitativa, descritiva e exploratória. A busca ocorreu nas bases de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), em teses e dissertações publicadas no período de 2001 a março de 2021, idioma português e na área do conhecimento de Enfermagem no Ensino Superior.Obtiveram-se dez publicações para a coleta de dados. Para a análise dos dados, utilizou-se a proposta de Gomes (2002), em que o material obtido foi decomposto, estabeleceu-se Unidades de Registro e suas respectivas Categorias. Verificou-se que ocorre uma formação deficitária para a docência nos cursos de Enfermagem, evidenciado pelos enfermeiros quando ingressam em sala de aula. Os conteúdos relacionados à prática pedagógica durante a graduação em Enfermagem são pouco explorados. Os saberes curriculares e disciplinares foram pouco citados, e os experienciais são os que mais se destacaram. Conclui-se que os enfermeiros, quando ingressam na área da docência, acreditam que o saber da experiência profissional é suficiente para ser professor. Os demais saberes são negligenciados e manifestam sua carência à medida que, a prática docente demonstra necessidade de conhecimentos específicos para a atuação.
Palavras-chave: Saberes docentes; Enfermagem; Ensino Superior; Formação Docente.
ABSTRACT
This study aimed to investigate in the literature researches that address the teaching knowledge of nursing professors. Research with a qualitative, descriptive and exploratory approach. The search took place in the databases of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (CAPES) and the Virtual Health Library (BVS), in theses and dissertations published from 2001 to March 2021, Portuguese language and in the area of knowledge of Nursing in Higher Education. Ten publications were obtained for data collection. For data analysis, the proposal by Gomes (2002) was used, in which the material obtained was decomposed, and Registration Units and their respective Categories were established. It was found that there is a deficient training for teaching in Nursing courses, evidenced by nurses when they enter the classroom. Contents related to pedagogical practice during undergraduate nursing are little explored. Curricular and disciplinary knowledge were rarely mentioned, and the experiential ones stood out the most. It is concluded that nurses, when they enter the teaching area, believe that knowledge from professional experience is enough to be a teacher. The other knowledge is neglected and manifests its lack as the teaching practice demonstrates the need for specific knowledge for the performance.
Keywords: Teaching knowledge; Nursing; University education; Teacher Training.
RESUMEN
Este estudio tuvo como objetivo investigar estudios en la literatura que abordan el saber docente de los profesores de enfermería. Investigación con enfoque cualitativo, descriptivo y exploratorio. La búsqueda se realizó en las bases de datos de la Coordinación para la Perfeccionamiento del Personal de Educación Superior (CAPES) y de la Biblioteca Virtual en Salud (BVS), en tesis y disertaciones publicadas desde 2001 hasta marzo de 2021, en portugués y en el área de conocimiento de Enfermería en la Educación Superior. Se obtuvieron diez publicaciones para la recolección de datos. Para el análisis de los datos se utilizó la propuesta de Gomes (2002), en la cual se descompuso el material obtenido, se establecieron Unidades de Registro y sus respectivas Categorías. Se constató que existe una deficiente formación para la docencia en los cursos de Enfermería, evidenciada por los enfermeros cuando ingresan a las aulas. Los contenidos relacionados con la práctica pedagógica durante la graduación en Enfermería son poco explorados. Los conocimientos curriculares y disciplinarios rara vez se mencionaron, y el conocimiento experiencial se destacó más. Se concluye que los enfermeros, cuando ingresan al campo docente, creen que los conocimientos de la experiencia profesional son suficientes para ser docente. Otros saberes se descuidan y manifiestan su carencia a medida que la práctica docente demuestra la necesidad de saberes específicos para el desempeño.
Palabras llave: Saber didáctico; Enfermería; Enseñanza superior; Formación de Profesores.
Introdução
Numa conjuntura de crescente aumento da expectativa de vida da população brasileira e, atestado por dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o acréscimo de pessoas idosas, há uma preocupação sobre os impactos que essa mudança trará à sociedade e aos indivíduos. A partir da perspectiva de muitas pessoas estarem “vivendo mais”, os cuidados e o tratamento de doenças relativas aos idosos também é ascendente.
Em decorrência dos fatos, a área da saúde, sobretudo a enfermagem, exerce papel fundamental nessa seara, o qual é atestado por dados de uma pesquisa realizada em 2017 pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), comprovando que esses profissionais são o maior contingente nacional de prestadores de cuidados de saúde no Brasil. Desse modo, a enfermagem, atuando na prática assistencial e social para a sociedade brasileira, apesar de indispensável, não possui um número suficiente de profissionais capazes para suprir a demanda, de tal forma que ocorre sobrecarga e déficit na qualidade dos serviços prestados (MAGALHAES, RIBOLDI, DALL'AGNOL, 2009).
Devido a essa demanda, houve um aumento significativo nos cursos de graduação em Enfermagem e na quantidade de enfermeiros formados pelas instituições. Nesse sentido,surgem inquietações quanto à formação desses profissionais para a docência.
A maior parte de cursos de graduação em Enfermagem é de bacharelado, assim os enfermeiros preparados são inseridos na docência e deparam-se com algumas dificuldades para a atuação no ramo (SCHERER, 2010). Por isso, é importante ressaltar que a formação docente deve ser discutida para o aperfeiçoamento do professor enfermeiro, visto a necessidade crescente de docentes comprometidos com a área pedagógica, visando a um benefício maior de sua atuação no mundo de trabalho.
O enfermeiro que exerce a docência necessita de formação específica na área de ensino, para que seu ofício seja realizado com excelência e reconhecimento profissional, em vez de ser articulado como uma opção secundária, sem preparação adequada. Considerando que o enfermeiro, em sua graduação, possui apenas uma ou poucas disciplinas pedagógicas, ocorre a necessidade de mais estudos quanto aos saberes que desenvolve na atuação docente (BRASIL, 2001).
Em função dessa perspectiva de reflexões e indagações da inserção do enfermeiro na docência e o conhecimento acerca dos saberes dessa área e de sua importância, esta pesquisa propõe responder o que os estudos apresentam sobre os saberes docentes dos professores enfermeiros.Dessa forma, o objetivo geral é investigar na literatura estudos que abordem a temática sobre os saberes docentes de professores enfermeiros.
Revisão da literatura
O termo profissionalização docente começou a ser discutido a partir dos anos 1980, quando a temática expôs a necessidade de mudança na atuação profissional e no sistema escolar vigente. Essa terminologia reflete, pois, em tornar o trabalho do professor uma profissão reconhecida, que exige formação criteriosa e específica (TARDIF, 2000).
Partindo da premissa de que o ato de ensinar é um ato profissional, Tardif (2000) destaca a importância do profissional de ensino se qualificar para o exercício da docência. Portanto, para ensinar, é preciso se aprimorar. Segundo ele, “[...] no mundo do trabalho, o que distingue as profissões das outras ocupações é, em grande parte, a natureza dos conhecimentos que estão em jogo” (TARDIF, 2000, p. 6). Desse modo, é necessário que os conhecimentos profissionais especializados sejam construídos com formação de alto nível e de natureza universitária.
Roldão (2008, p. 116) define “o profissional de ensino: alguém que sabe – e por isso pode, e a sociedade espera que o faça – construir a passagem de um saber ao aluno. ” Essa significação do trabalho docente contribui para sua profissionalização, demonstrando que o professor necessita, além do conhecimento científico, desenvolver habilidades necessárias e distintivas à docência.
Sendo assim, a prática docente corresponde às características da profissão: métodos, técnicas, habilidades de organização, leitura, oratória e os saberes. Dentro delas, a técnica diz respeito aos métodos utilizados para a execução da atividade docente, nos quais se incluem as metodologias utilizadas. As habilidades, por sua vez, englobam a organização do trabalho, a leitura, a oratória e a dicção, o gerenciamento de tempo, o relacionamento interpessoal e outras que devem ser desenvolvidas para o aperfeiçoamento do profissional. Nesse viés, os saberes abrangem uma série de conhecimentos importantes para o docente tornar-se “profissional” (NUNEZ; RAMALHO, 2008; ROLDÃO, 2008; TARDIF, 2002).
Tardif (2010, p. 36) sustenta que o saber docente é "um saber plural, formado pela combinação mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais". Para o autor esse saber docente é formado pelos saberes profissionais(conjunto de conhecimentos transmitidos pelas instituições durante o processo de formação inicial e/ou continuada, englobando os pedagógicos (ciências da educação); os disciplinares(organizados pelas instituições educacionais, pertencentes aos diferentes campos do conhecimento (matemática, história, geografia); os curriculares(relacionados à forma como as instituições de ensino apresentam os programas escolares (objetivos, conteúdos, métodos) e a aprendizagem e aplicação dos mesmos e os experienciais: são os que resultam da vivência diária dos professores, no exercício de suas funções. É de extrema importância a discussão acerca dos saberes docentes para o aperfeiçoamento desse ofício.Pimenta (1999) também aborda os saberes docentes em suas pesquisas. Para a autora, eles compreendem: experiência, conhecimento e pedagogia.
Para D´Ávila e Leal (2015, p. 476), é necessário reconhecer “[...] que saberes pedagógicos e didáticos que presidem as práticas pedagógicas dos professores universitários são constituintes de sua identidade profissional e de sua própria profissionalização. ” Observa-se que esses saberes são fundamentais para a prática docente, demonstrando-lhe característica profissional. Uma série de competências, habilidades e saberes são extremamente importantes para o sucesso e desempenho do profissional docente. Libâneo (2000) afirma que a profissionalidade é um critério relacionado a qualquer profissão.De acordo com o autor, a profissionalidade refere-se às competências – habilidades, atitudes e saberes- que se desenvolvem durante o processo de profissionalização do docente. A profissionalidade pode acontecer desde o processo da formação inicial/ continuada e também à medida que o docente vai exercendo as funções específicas da área de ensino. Estes saberes vão se ressignificando no exercício da profissão e as transformações que ocorrem na vida dos docentes é que leva ao profissionalismo.
Masetto e Gaetta (2016) abordam que as competências para a docência no Ensino Superior necessitam ser desenvolvidas em três grandes áreas: conhecimento, pedagogia e dimensão política.
Da mesma maneira que outros profissionais se preparam durante anos para desenvolver a profissão, como um médico ou um engenheiro, também o docente deve se preparar para seu exercício ocupacional. Não mais é suficiente ter um diploma e “dar aulas”, é preciso “ser professor e desenvolver a aprendizagem” (GAETA; MASETTO, 2013).
De acordo com Pimenta e Anastasiou (2005), na maioria das instituições de Ensino Superior, embora os professores possuam experiência significativa e, mesmo, anos de estudos em suas áreas específicas, predomina o despreparo e até um desconhecimento científico acerca das questões relativas ao processo de ensino e de aprendizagem, pelo qual passam a ser responsáveis a partir do instante em que ingressam na sala de aula para formar outros sujeitos.
Por sua vez, Junges e Behrens (2016) relatam que o profissional proveniente de um curso de bacharelado, quando ingressa na docência no Ensino Superior, recorre, em sala de aula, às experiências que vivenciou como aluno e às suas representações do que é ser professor. Esse professor bacharel, como não conheceu e estudou a área pedagógica, obriga-se a tentar encontrar um “modelo” de profissional docente, baseando-se em suas experiências escolares, na maioria das vezes representadas por seus ex-professores.
A exigência ao docente bacharel demonstra quanto os cursos de formação docente contribuem para sua prática, aliando os conhecimentos pedagógicos desconhecidos à base de conhecimento da área de formação do professor. Dentro desse contexto, é possível que a maior parte dos docentes bacharéis, ao assumirem a profissão docente, não estejam completamente preparados para o desempenho da função. Fica evidente, então, que muitos cursos possuem, em sua grade curricular, poucas disciplinas que norteiam a temática da área pedagógica.
Deve-se lembrar que mesmo os profissionais que não possuem a intenção de atuar como docentes necessitam ter contato com conceitos básicos do ensino durante a graduação. No caso do enfermeiro, sua função, também durante a assistência ao paciente, é permeada por uma série de aspectos pedagógicos, que envolvem: orientações aos pacientes e acompanhantes, treinamento de novos funcionários que ingressam à equipe de enfermagem e atualização de técnicas e procedimentos específicos em palestras e reuniões de serviço.
Segundo Rodrigues e Mendes Sobrinho (2007, p. 457), “[...] nas universidades brasileiras, observa-se a questão dos professores bacharéis que, mesmo sem ter qualquer formação pedagógica, exercem atividades próprias da docência. ” Ainda se constata que a formação pedagógica fica em segundo plano para esses docentes. Por isso, é importante que estes reconheçam a necessidade de formação específica, fortalecendo suas atividades e, consequentemente, a profissão. A prática assistencial do enfermeiro serve como um complemento às competências que se precisa adquirir para a área da docência. Diante desse contexto, o professor enfermeiro é levado a tentar formular uma ação educativa, mas isso acarreta, muitas vezes, inquietação, incômodo e autoquestionamento, pela falta de preparo adequado ao processo de ensino e aprendizagem.
É necessário que o enfermeiro perceba que a docência é uma atividade complexa, que requer os saberes pedagógicos inerentes ao ensinar, bem como o conhecimento da disciplina ministrada (RODRIGUES; MENDES SOBRINHO, 2008).
Procedimentos metodológicos
A pesquisa realizada tem abordagem qualitativa. Para Gerhardt e Silveira (2009), a pesquisa qualitativa enfoca aspectos da realidade que não se propõe a quantificar, com a perspectiva de compreender e explicar a dinâmica das relações sociais. Busca-se explicar o porquê das coisas, manifestando o que convém ser feito, pois os dados a serem analisados se valem de diferentes abordagens.
No que tange aos objetivos, a pesquisa é descritiva e exploratória e, segundo Gil (2007), esta almeja proporcionar maior familiaridade com o problema, visando a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses.
O processo de busca das publicações, ocorreu em bases de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Optou-se por essas duas bases de dados, pois houve buscas na base Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), mas os trabalhos encontrados foram similares aos disponibilizados pelo Capes. Para a investigação, utilizaram-se os seguintes descritores: saberes, docentes, enfermagem, ensino, superior. Aplicaram-se os descritores tanto isolados quanto combinados com duas palavras-chave: saberes docentes e Ensino Superior. Foi realizado o levantamento das publicações, com a leitura das seguintes partes das publicações: título e resumo.
Os filtros utilizados para a inclusão das publicações foram: teses e dissertações que abordam os saberes docentes dos professores enfermeiros na atuação profissional, período de 2001 a março de 2021, idioma português, área de conhecimento Enfermagem. Tal recorte, relacionado à seleção do ano de início da investigação, considerou a introdução das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem, em 2001. Como critérios de exclusão selecionamos os estudos relativos aos níveis técnico e profissionalizante da enfermagem; as pesquisas que não atenderam ao objetivo do estudo; a repetição de publicações já analisadas e a não disponibilização de uma pesquisa por completo, somente o resumo.
Na base de dados do Capes, obtiveram-se cento e quarenta e duas publicações. Como critérios de inclusão para o refinamento, selecionaram-se apenas teses e dissertações, totalizando cento e quinze publicações. Prosseguindo na busca, incluíram-se as pesquisas publicadas no período de 2001 a 2021, no idioma português.
Após esse refinamento, foram encontradas trinta e nove publicações. Admitiu-se ainda o critério de inclusão, isto é, a utilização do filtro referente às publicações na área do conhecimento de enfermagem, resultando em vinte e oito publicações. Ao proceder a leitura dos resumos dessas publicações, identificou-se a incompatibilidade de dezenove pesquisas, em que selecionaram-se nove publicações para coleta de dados.
Na base de dados da BVS, obtiveram-se vinte publicações. Avançando na procura, incluíram-se publicações no idioma português no período de 2001 a 2021. Após esse refinamento, foram encontradas dezessete publicações. Prosseguindo, selecionou-se também como filtro apenas teses e dissertações na área do conhecimento de enfermagem, que delimitou a busca em sete publicações.
Ao proceder a leitura do título e dos resumos dessas publicações, identificou-se a incompatibilidade de duas pesquisas. Ocorreu também nessa busca a repetição de três trabalhos que foram excluídos, conforme critério indicado anteriormente. Outro trabalho foi excluído por não disponibilizar o acesso ao texto completo, somente o resumo. Ao final do refinamento, apenas uma publicação permaneceu para a coleta dos dados. Portanto, a seleção de teses e dissertações para a coleta de dados, nas duas bases, totalizaram dez publicações. A seguir será apresentado o fluxograma dos procedimentos de busca nas bases de dados CAPES e BVS.
Quadro1 – Fluxograma do procedimento de busca das publicações na base de dados CAPES
Fonte: Elaborado pela autora.
Quadro 2 – Fluxograma do procedimento de busca das publicações na base de dados BVS
Fonte: Elaborado pela autora.
A partir da busca procedeu-se às análises das publicações selecionadas conforme detalhado a seguir, e as discussões dos resultados obtidos com a fundamentação teórica utilizada.
Resultados
Para organização dos dadosfoi realizada a caracterização dos trabalhos analisados, conforme demonstra a Figura 3. De acordo com Gomes (2002, p. 79): “[...] devemos compreender o contexto da qual faz parte a mensagem que estamos analisando”. As denominações P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9 e P10 correspondem à nomenclatura publicação e ao número adotado para cada uma. Das dez publicações analisadas, obtiveram-se quatro de dissertação de mestrado e seis de tese de doutorado.
Quadro 3– Caracterização das publicações analisadas
Fonte: Elaborado pela autora.
Para a análise das publicações tomou-se por base a proposta de Gomes (2002). De acordo com o autor, inicialmente, é realizada a decomposição do material obtido, dividindo-o em partes. Em seguida, essas partes separadas são incluídas em categorias. Após isso, apresentam-se os resultados das categorias com as partes selecionadas e, por fim, realiza-se a discussão desses resultados obtidos com a fundamentação teórica utilizada. Conforme já mencionado, realizou-se a leitura das seguintes partes das publicações: título, resumo, introdução, metodologia, análise de resultados e conclusão. Nessa leitura, observaram-se quais termos e ideias se repetiam.
Posteriormente a isso, as informações com similaridade foram agrupadas e divididas, inicialmente, em unidades de registros e, a partir dessas unidades, estabeleceram-se categorias, até restarem as informações que não se enquadravam no objeto de estudo. As unidades de registro e categorias foram elaboradas aposteriori da leitura aprofundada das publicações e selecionadas de acordo com a repetição de termos e ideias.
A partir da leitura das publicações estabeleceu-se 3 Unidades de Registro, sendo respectivamente: “Formação para a docência”; “Saberes Docentes”; e “Práticas Docentes”. Para a elaboração da Unidade de Registro “Formação para a docência”, verificou-se a repetição dos seguintes termos na leitura das publicações: formação, docente e capacitação. A partir dessa repetição de termos, emergiram as seguintes categorias: “Auxílio na prática docente”, em que ocorreu a reincidência da ideia de que a formação docente auxilia na atuação da prática do professor; “Ausência de formação para a docência”, na qual se repete a existência de dificuldades e desafios para a atuação do professor enfermeiro devido à ausência de formação pedagógica; “Capacidades necessárias para o exercício da docência”, quando a reiteração reportou-se às habilidades e competências específicas para a docência.
Para a construção da Unidade de Registro “Saberes Docentes”, verificou-se a repetição dos seguintes termos na leitura das publicações: saberes, docentes. A partir dela, emergiram as categorias: “Significado dos saberes docentes”,em que ocorreu a recorrência do conhecimento dos saberes docentes para os professores enfermeiros; “Ressignificação dos saberes docentes”, na qual há uma remodelação dos saberes docentes; “Saber experiencial e da vivência profissional”, em que o saber experiencial é muito citado; “Saber da formação profissional/ saber pedagógico”, que também é lembrado nas pesquisas, indicando a repetição de ideia.
Na elaboração da Unidade de Registro “Práticas Docentes”, constatou-se a repetição dos seguintes termos na leitura das publicações: práticas docentes, fazer docente, trabalho docente. A partir dessa repetição de termos, emergiram as
categorias: “Reflexão sobre a Prática Docente”, em que ocorreu a repetição da ideia acerca da melhora da prática docente com o processo reflexivo do professor; “Método de Ensino”, no qual a ideia descreve uma quebra de paradigma do ensino tradicional nas práticas docentes e do perfil do professor. O quadro 4 apresenta uma síntese das unidades de registros e suas respectivas categorias, com a descrição de cada uma e as publicações relacionadas.
Quadro 4- Unidades de Registro e Categorias
Unidade de Registro - Formação para a Docência |
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CATEGORIAS |
DESCRIÇÃO |
PUBLICAÇÕES |
1. Auxilio na prática docente. |
A formação docente/ pedagógica facilita e possibilita uma melhor atuação do professor. |
P1; P6; P5. |
2. Ausência de formação para a docência. |
A ausência de formação pedagógica evidencia as dificuldades e desafios para o professor enfermeiro. |
P8; P2; P3; P1, P6. |
3. Capacidades necessárias para o exercício da docência. |
A formação docente necessita de habilidades e competências específicas para a docência. |
P1; P5; P2. |
Unidade de Registro - Saberes Docentes |
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CATEGORIAS |
DESCRIÇÃO |
PUBLICAÇÕES |
1. Significado de saberes docentes. |
Os professores sabem o que são os saberes docentes e conhecem sua importância. |
P8; P6; P7. |
2. Ressignificação dos saberes docentes. |
Aquisição e remodelação dos saberes, para suprir o ensino atual. |
P10; P4; P2. |
3. Saber experiencial e da vivência profissional. |
Os saberes docentes provêm de fontes distintas, principalmente dos produzidos na atividade profissional dos professores. |
P10; P8; P2; P3; P4; P6; P9; P7. |
4. Saber da formação profissional/ saber pedagógico. |
Saberes da formação profissional/ Conhecimentos pedagógicos relacionados às técnicas e métodos de ensino. |
P9; P6; P5. |
Unidade de Registro - Práticas Docentes |
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CATEGORIAS |
DESCRIÇÃO |
PUBLICAÇÕES |
1. Reflexão sobre a prática docente. |
A melhora da prática docente está ligada ao processo crítico-reflexivo do professor. |
P2; P8; P10; P1; P4; P6. |
2.Método de Ensino |
Quebra do paradigma do ensino tradicional/ mudança da postura do docente. |
P8; P10; P4. |
Fonte: elaborada pela autora |
Discussão
Na categoria “Auxílio na prática docente”, classificaram-se três publicações relacionadas ao contexto; na categoria “Ausência de formação para a docência”, cinco publicações; e, na categoria “Capacidades necessárias para o exercício da docência”, três publicações.
A categoria “Auxílio na prática docente” aponta que a formação docente com ênfase na qualificação pedagógica colabora e possibilita, de forma significativa, para uma melhor atuação na prática do professor. Já a categoria “Ausência de formação para a docência” descreve a carência de formação pedagógica que cria dificuldades e desafios para a prática do professor enfermeiro. Por sua vez, a categoria “Capacidades necessárias para o exercício da docência” estabelece as contribuições da formação docente para aquisição de habilidades e competências específicas para a docência.
Das dez publicações analisadas, três se enquadram na categoria 1. De acordo com Pinhel (2006) – P1, a capacitação pedagógica funciona como um aspecto facilitador do trabalho docente, apontado pelos professores pesquisados. A pesquisa de Silva (2013) – P6 revela que, de forma discreta, os professores sentem a necessidade de formação pedagógica, a qual facilitaria a atuação na docência universitária. Por isso, a autora cita, em sua pesquisa, que os professores concordam ser relevante a formação pedagógica e docente para o desenvolvimento profissional. No estudo de Nunes (2011) – P5, para a maioria dos docentes, a formação pedagógica se torna essencial e colabora para a prática do professor, na qual o processo ensino-aprendizagem e o conhecimento acerca dos saberes docentes estão em constante apropriação pelo professor.
Essas pesquisas corroboram os estudos de Pimenta (1999) e Tardif (2009), cujos dados apontam que o professor precisa construir um conjunto de conhecimentos específicos para atuar como profissional da educação. Para os autores, esses conhecimentos necessitam ser construídos a partir da formação docente, contribuindo na sua profissionalização.
De dez publicações analisadas, cinco correspondem à categoria 2: “Ausência de formação para a docência”. Segundo Calheiros (2014) – P8, a ausência de conhecimentos pedagógicos para a docência universitária gera dificuldades para a atuação do professor, fazendo-o buscar cursos de capacitação para suprir essa deficiência de formação. Essa falta de formação é citada na pesquisa e reforça os obstáculos vivenciados pelos professores quando assumem uma sala de aula. Assim, a carência dessa formação se torna um fator dificultador na profissionalização docente.
A pesquisa de Barbosa (2007) – P2 aponta que a falta de capacitação pedagógica é uma dificuldade diária na atuação do professor de Ensino Superior, a qual atinge o contexto de qualidade do trabalho executado em sua profissão. Para Riegel (2008) – P3, a formação pedagógica do professor enfermeiro é essencial, e a carência desta trouxe desafios próprios para a atuação dos docentes, na qual os conteúdos próprios da área pedagógica se tornam imprescindíveis no exercício da docência. Para Pinhel (2006) – P1, entre todos os dificultadores para a atuação docente, a falta de capacitação pedagógica foi a mais enfatizada, uma vez que os professores participantes da pesquisa citam como obstáculos para sua atuação os conhecimentos da área pedagógica. A pesquisa de Silva (2013) – P6 revela uma preocupação pela formação docente do professor e é vista como uma dificuldade de atuação para o enfermeiro.
As publicações analisadas confirmam as pesquisas de Vendrusloco et al. (2018), Rodrigues e Mendes Sobrinho (2008), Braga e Bôas (2018) e Medeiros et al. (2018), que apontam a dificuldade de elaboração e aplicação da prática docente no trabalho do professor enfermeiro devido à carência de formação pedagógica dos egressos do Curso de Graduação em Enfermagem. Segundo Vendruscolo et al. (2018), as dificuldades com estratégias pedagógicas ocorrem em função de a formação dos enfermeiros direcionar-se mais ao bacharelado, o que resulta na carência de conteúdos, durante a graduação, que ajudariam no preparo para o exercício de ser professor.
De acordo com Medeiros et al. (2018), os próprios professores enfermeiros sentem a necessidade de preparação para a docência, inclusive para ajudá-los a lidar com as necessidades dos graduandos que hoje chegam às universidades. Para Rodrigues e Mendes Sobrinho (2008), os docentes enfermeiros encontram obstáculos didáticos para a prática pedagógica, em razão de os cursos de Enfermagem não fornecerem a base pedagógica para os enfermeiros atuarem como docentes.
Na categoria 3, “Capacidades necessárias para o exercício da docência”, três publicações se enquadraram. No estudo de Pinhel (2006) – P1, as habilidades e competências para o professor são descritas como um novo modo de pensar e agir no contexto da educação em enfermagem e estão inseridas no desenvolvimento e na apropriação dessas capacidades. De acordo com a autora, as relações humanas que acontecem no dia a dia do docente contribuem para o desenvolvimento de competências na esfera social. Isso demonstra quanto são fundamentais os relacionamentos interpessoais no aperfeiçoamento profissional do professor. Observa-se que as competências docentes são adquiridas na vivência profissional diária, em que o docente apropria-se dos saberes e tenta aplicá-los em sua vida profissional e também pessoal. Dentro desse contexto, as habilidades e competências devem ser desenvolvidas pelos professores enfermeiros, visando a uma atuação com excelência e comprometimento na área do ensino.
No estudo de Nunes (2011) – P5, é enfatizado que a docência exige formação específica para o desenvolvimento de competências, a qual pode ser adquirida em cursos de pós-graduação ou nas licenciaturas. Para o autor, os profissionais inseridos na docência precisam compreender a busca pela formação exclusiva para obterem sucesso no processo de ensino-aprendizagem, baseada em suas habilidades e em seu desenvolvimento das relações interpessoais. A pesquisa de Barbosa (2007) – P2 explica o fortalecimento da atuação do professor, com o desenvolvimento das capacidades específicas para a docência.
As três publicações confirmam o que Masseto e Gaetta (2016) definem ao defenderem as competências necessárias para a profissionalização docente, que devem ser desenvolvidas em três grandes áreas: do conhecimento, pedagógica e dimensão política da ação docente. O aperfeiçoamento dessas competências poderá ser desenvolvido com a formação e a prática docente.
Unidade de Registro “Saberes Docentes”
Na categoria “Significado dos saberes docentes”, classificaram-se três publicações relacionadas ao contexto; na categoria “Ressignificação dos saberes docentes”, três publicações; na categoria “Saber experiencial e da vivência profissional”, oito pesquisas; e, na categoria Saber da formação profissional/saber pedagógico”, três publicações.
A categoria 1 “Significado de saberes docentes” aborda o conhecimento dos professores acerca do conceito e da importância sobre a temática. Já a categoria 2 trata da ressignificação dos saberes diante das inovações na área educacional. Enquanto isso, na categoria 3, é descrito o saber experiencial que resulta do próprio exercício da atividade profissional dos professores e da vivência profissional na área da enfermagem. Por sua vez, a categoria 4 aborda os saberes da formação profissional, com destaque para o saber pedagógico/conhecimentos pedagógicos relacionados às técnicas e aos métodos de ensino.
Na categoria 1 “Significado dos saberes docentes”, três publicações se enquadraram, das dez analisadas. Calheiros (2014) – P8, ao entrevistar os professores enfermeiros e questioná-los quanto aos saberes da docência, constatou certo desconhecimento e dúvida sobre o tema. Para Silva (2013) – P6, sua pesquisa com professores enfermeiros cita que não ocorreu uma compreensão assertiva a respeito dos saberes docentes. Já na pesquisa de Peixoto (2013) – P7, os saberes constituintes do trabalho docente e de sua prática pedagógica não estão claramente definidos para os pesquisados, preceptores de enfermagem.
As publicações supracitadas confirmam Pimenta e Almeida (2011), que constatam a predominância de despreparo e desconhecimento científico de todo o processo de ensino-aprendizagem entre os professores universitários brasileiros, quando passam a ser responsáveis por uma sala de aula. Segundo D´Ávila e Leal (2015), a relação entre esses saberes e a significação desse conceito para o profissional docente interfere diretamente no desenvolvimento de sua profissionalização. Para os autores, o conhecimento acerca dos saberes docentes está relacionado à apropriação destes pelos professores, portanto o aspecto profissional da docência engloba sua compreensão.
Na categoria 2 “Ressignificação dos saberes docentes”, das dez publicações analisadas, três citam a remodelação dos saberes. Delibório (2016) – P10 descreve que as práticas pedagógicas e os saberes docentes necessitam de um novo significado devido às mudanças na área educacional que acompanham as inovações em sociedade. Para Lauxen (2009) – P4, em sua pesquisa com docentes da área de saúde, a ressignificação dos saberes pedagógicos, disciplinares e curriculares é citada por eles e ocorre com a experiência de sua prática, sendo confirmados nessa relação de reelaboração de saberes e práticas. De acordo com o estudo de Barbosa (2007) – P2, a ressignificação dos saberes se confirma quando os professores necessitam recriar os saberes iniciais conforme suas experiências práticas, possibilitando adequar ao contexto diário a sua atuação com as necessidades encontradas.
Segundo D´Ávila e Batista Leal (2015), a relação entre os saberes e a significação desse conceito para o profissional docente recai diretamente no desenvolvimento de sua profissionalização.
Na categoria 3 “Saber experiencial e da vivência profissional”, ocorreu o maior número de publicações relacionadas à temática, oito, das dez analisadas. Em Delibório (2016) – P10, são citados professores enfermeiros que utilizam o AVA e o saber da experiência na docência como o mais relevante para sua prática.
Calheiros (2014) – P8 aponta que os saberes experienciais surgem como núcleo vital do próprio saber docente, cujas fontes são diversas. Porém, o desenvolvido durante a prática docente é o mais enfatizado pelos professores entrevistados. Aquele proveniente da atuação na área de enfermagem também é citado e colabora, de forma importante, na atuação do professor. Essa pesquisa reforça a concepção de que o saber experiencial destaca-se dos demais, tornando-o essencial para o desenvolvimento dos outros saberes. Na entrevista com professores enfermeiros, é citada a experiência na assistência de enfermagem para embasar a atuação do professor enfermeiro. Observa-se que isso contribui sim, de forma significativa, para sua atuação, todavia não necessariamente determina o sucesso profissional do professor enfermeiro.
Em seu trabalho, Barbosa (2007) – P2 afirma que o saber pedagógico é produzido com o trabalho diário do docente, tornando-o profissional, ou seja, a experiência diária na prática docente auxilia a prática pedagógica do professor. Para Riegel (2008) – P3, os professores relataram que a prática profissional de enfermagem é fundamental para a docência. Lauxen (2009) – P4 explica que os professores embasam sua atuação na prática docente, conforme vivenciam suas experiências tanto em sala de aula quanto fora dela. A autora confirma que ocorre uma articulação entre os saberes da experiência e de formação para a consolidação de sua prática.
Silva (2013) – P6 descreve que, para os professores enfermeiros pesquisados, em relação aos saberes docentes, a incidência maior foi dos saberes advindos da experiência, e estes são a base para o desenvolvimento da prática docente. Na pesquisa de Silva (2014) – P9 com professores enfermeiros entrevistados, os saberes da vivência profissional na área de enfermagem contribuíram para o desenvolvimento da atuação docente nas atividades práticas de estágio, que facilitaram a realização das ações e também do domínio dos conteúdos teóricos.
No estudo de Peixoto (2013) – P7, a experiência profissional na área de enfermagem foi citada pelos enfermeiros preceptores pesquisados como relevante em sua atuação. Também é enfatizado que a prática da preceptoria demonstra, para o preceptor, a melhor forma de ensinar, ou seja, seu saber experiencial da prática de ensino o auxilia na construção de uma identidade docente.
As pesquisas citadas nessa categoria confirmam o que Tardif (2014) explica sobre a evidência de o saber experiencial ser mais notório pelos professores que os outros saberes. Essa posição de destaque se justifica pela relação exterior que eles mantêm com os demais saberes. O modo exterior de se relacionar com os demais saberes – curriculares, disciplinares e da formação pedagógica – reforça a valorização dos saberes experienciais pelos professores, pois é sobre aqueles que estes mantêm o controle, tanto em sua produção quanto na mobilização. No cotidiano de sua função, os docentes vivenciam situações concretas nas quais se fazem necessárias habilidades, capacidade de interpretação e improvisação, levando-os a decidir qual melhor estratégia para a solução das ocorrências. Dentro desse contexto, o professor vai desenvolvendo as habilidades e competências intrínsecas à profissão.
Na categoria 4 “Saber da formação profissional/Saber pedagógico”, três publicações descrevem a temática na conjuntura das dez analisadas. Segundo Silva (2014) – P9, os professores participantes da pesquisa citaram os saberes pedagógicos como desenvolvidos na prática docente. Assim, o estudo evidenciou mais o saber pedagógico para os entrevistados, em que a valorização desse saber se tornou imprescindível para sua formação profissional.
De acordo com a pesquisa de Silva (2013) – P6, os professores participantes concordam com a importância do desenvolvimento do saber pedagógico para a atuação eficiente em sua prática, visando às reconfigurações da docência no Ensino Superior. Para Nunes (2011) – P5, em seu estudo com professores enfermeiros, a aquisição de conhecimentos pedagógicos para a docência no nível superior em Enfermagem é de vital importância.
A valorização do saber pedagógico concorda com a afirmação de Pimenta (1999, p. 24): “[...] para saber ensinar não bastam a experiência e os conhecimentos específicos, mas se fazem necessários os saberes pedagógicos e didáticos.” Isso porque a autora reflete que os saberes pedagógicos e didáticos vão se construindo a partir das necessidades do real em sala de aula, na ação em si, além da importância de se trabalharem os saberes em conjunto, e não isoladamente.
Na categoria “Reflexão sobre a Prática Docente”, classificaram-se seis publicações relacionadas ao contexto; na categoria “Método de Ensino”, três publicações.
A categoria “Reflexão sobre a prática docente” aponta que ocorre uma melhora na prática docente com o processo reflexivo do professor sobre sua ação. Já a categoria “Método de Ensino” descreve o desafio de quebra paradigmática do ensino tradicional nas práticas pedagógicas. Posto isso, a categoria reflexão sobre a prática docente indica a necessidade de transformações na postura do professor.
Das dez publicações analisadas, seis se enquadram na Categoria 1. De acordo com Calheiros (2014) – P8, é necessário o docente passar por um processo de reflexão de sua prática para melhorar sua atuação. O processo de reflexão acerca da prática docente leva o professor a analisar os conhecimentos que possui e quais necessita adquirir para a apropriação dos saberes docentes. Estes também necessitam de uma reflexão para uma ação conjunta na prática do docente.
O estudo de Delibório (2016) – P10 também confirma que o docente reflexivo busca novas estratégias para aperfeiçoar sua prática docente, transformando-a constantemente. Para Barbosa (2007) – P2, a elaboração da ação docente e suas práticas passam pela reflexão constante do professor, incluindo uma formação continuada que possibilite uma renovação do próprio fazer docente. As reflexões docentes devem ser incentivadas e valorizadas, pois a própria prática do professor demonstra maneiras para adequar o seu trabalho de modo mais eficiente, auxiliando nas soluções de que a área do ensino necessita.
Na pesquisa de Pinhel (2006) – P1, os enfermeiros participantes relatam a capacidade de reflexão frente às experiências vivenciadas no trabalho, as quais o auxiliam na superação de dificuldades, criando novas possibilidades de resolução de problemas. A pesquisa de Lauxen (2009) – P4 traz a reflexão como importante mecanismo sobre os saberes e a junção com a formação para melhorar a prática. A autora reforça que o docente terá muito mais autonomia sobre sua ação quando esta passa pelo processo contínuo de reflexão. Para Silva (2013) – P6, é necessário o processo de reflexão do docente com o objetivo de alcançar o crescimento dos discentes mediante o auxílio de sua prática. É a partir dessa reflexão que o docente aprende e ajusta seu trabalho.
Essas pesquisas corroboram o estudo de Pimenta e Ghedin (2006), com a ideia de que o processo reflexivo é primordial para o docente e suas práticas, trazendo contribuições e valorização do trabalho, dos saberes docentes e do próprio professor. Isso porque a autocrítica que o docente desenvolve leva-o a se atentar para as exigências de transformações pelas quais o processo de ensino e aprendizagem tem passado atualmente.
Três publicações, das dez analisadas, correspondem à categoria 2 “Método de Ensino”. De acordo com Calheiros (2014) – P8, é necessária uma alteração no papel do professor para que adote uma nova postura em face das inovações da sociedade e, consequentemente, do ensino. A fim de que a atuação do professor se desenvolva com o objetivo de melhorar suas práticas, é necessária uma transformação desde o planejamento de seu trabalho até sua execução, visando obter o máximo de sucesso para a construção do conhecimento.
A pesquisa de Delibório (2016) – P10 reforça que essa transformação na prática docente é um desafio ainda nos dias atuais. A questão técnica que acompanha a área da enfermagem ainda determina um modelo tradicionalista no ensino superior para alguns professores. A transformação no perfil profissional do professor também deve acontecer com as renovações das práticas, uma vez que o destaque desse profissional se dá pela capacidade de mediar o processo de ensino e aprendizagem atual, cercado de inovações tecnológicas. Segundo a pesquisa de Lauxen (2009) – P4, os próprios entrevistados relatam a mudança de atuação do professor no ensino atual.
A abordagem de uma mudança no ensino e no papel do professor é citada por Tardif (2010) quando descreve que a função do docente compreende não somente formar indivíduos, mas capacitá-los para uma ampla concorrência no mercado de trabalho.
Logo, o direcionamento do professor não seria mais como informador ou condutor de informações, mas como mediador e facilitador da aprendizagem. Com efeito, as modificações nas práticas devem possibilitar um favorecimento ao ensino e à construção do conhecimento, tornando o discente mais autônomo, capaz e competitivo para o mercado de trabalho.
Para concluir, realizou-se um levantamento relacionando as publicações e o número de Categorias que cada uma se enquadrou, sendo P6 – seis Categorias; P2 e P8 – cinco Categorias cada publicação; P1, P4 e P10 – quatro categorias cada publicação; P5 – três Categorias e P3, P7 e P9 – duas Categorias cada publicação. A que se enquadrou em um maior número de Categorias foi a P6. Vale ressaltar que todas as publicações analisadas se enquadraram em uma ou mais categorias elaboradas.
Conclusões
Ao realizar esta pesquisa com o objetivo de investigar na literatura estudos que abordam os saberes docentes de professores enfermeiros, buscou-se compreender os aspectos profissionais da docência, a formação docente para o professor enfermeiro, além de levantar pesquisas que discutem esses saberes.
Mediante a possibilidade de aprimoramento, o enfermeiro tem a oportunidade de se inserir profissionalmente na docência, necessidade advinda do aumento crescente do número de cursos de Enfermagem no Brasil. Desse modo, os saberes docentes desses professores são de extrema relevância para uma atuação eficiente e competente na formação de novos profissionais. Averiguou-se que a docência é permeada de especificidades e há preocupação pelos docentes quanto à necessidade de preparação adequada para exercê-la, por influenciar todo o processo de ensino e aprendizagem. Por isso, os profissionais que ingressam na área da docência necessitam conhecer e se engajar à profissionalização docente.
Com base no corpo de conhecimentos produzidos pelas teses e dissertações analisadas, observou-se que a aquisição e o aperfeiçoamento dos saberes docentes são construídos também na formação para docência. Assim, a busca pelo aperfeiçoamento da atuação do professor é amplamente discutida em várias áreas, porém constatou-se, conforme os resultados, que a temática dos saberes docentes dos enfermeiros ainda é pouco explorada pelas pesquisas e necessita de mais estudos. No mais, a preocupação de se terem professores enfermeiros capacitados para a área de ensino também é descrita de forma muito discreta nas pesquisas efetuadas.
Verificou-se, ainda, com os estudos, que ocorre uma formação deficitária para a docência nos cursos de Enfermagem, visto que essa temática na área de Enfermagem, durante a graduação, é pouco abordada, não contribuindo para a valorização e o incentivo da área de ensino. Por isso, os cursos de graduação em Enfermagem necessitam serem revistos em sua matriz curricular para que contemplem os conteúdos relacionados à área pedagógica e didática, possibilitando que o enfermeiro seja capacitado para exercer, concomitantemente, a profissão docente.
Relacionado a isso, o enfermeiro, em sua atuação assistencial, executa atividades de ensino e também pode atuar em serviços que demandem a formação pedagógica, como no setor de Educação Continuada. Essa qualificação durante a graduação contribuiria, portanto, de forma a beneficiar o desenvolvimento profissional do enfermeiro nessas funções. Com a formação pedagógica adequada, os saberes docentes serão elaborados e ressignificados, possibilitando ao enfermeiro uma aproximação maior com a docência.
Relativamente aos saberes docentes, verificou-se que os experienciais são os que mais se destacam nas pesquisas, de modo que o professor enfermeiro vai construindo seus saberes com a prática do ensino. Juntamente a isso, observou-se o desenvolvimento desses saberes com a qualificação própria à docência. Nesse sentido, o reconhecimento dos saberes docentes pelos professores enfermeiros vai se tornando significativo, em face dos desafios e vivências da prática profissional, pois eles recorrerão a cursos direcionados ao aperfeiçoamento da área pedagógica.
Entre as pesquisas analisadas, sete, das dez publicações, relatam que, após a inserção do enfermeiro na docência, o profissional buscou cursos de capacitação para melhorar e atenuar a carência de formação docente. A partir dessa busca, os professores enfermeiros conseguem diminuir as dificuldades de atuação na prática docente.
Segundo as pesquisas, os saberes da área profissional de enfermagem também foram citados como muito importantes para a atuação do professor enfermeiro, já que a experiência da prática em enfermagem embasa todo o contexto educacional no Ensino Superior e, consequentemente, o professor enfermeiro estará muito mais seguro e confiante na sua prática docente.
Visto isso, os saberes curriculares e disciplinares são pouco citados nas pesquisas, confirmando que os professores ainda recorrem mais ao saber experiencial, por estarem em constante prática e reflexão da sua atuação. Detectou-se, com este estudo, que o conhecimento acerca dos saberes docentes causa dúvidas e contradições para os professores enfermeiros, pois estes não sabem e não atribuem o devido significado para os saberes docentes no desenvolvimento da prática profissional.
Observou-se e concluiu-se que os professores enfermeiros, quando ingressam na área da docência, acreditam que o saber da experiência profissional é suficiente para ser professor. Por essa via, os demais saberes são negligenciados e manifestam sua carência à medida que a prática demonstra a necessidade de conhecimentos específicos para a atuação. Consequentemente, a maior parte desses docentes recorre a cursos de pós-graduação para o aprofundamento da área de ensino e como auxílio para suas dificuldades práticas.
Também se averiguou, de acordo com as publicações, a extrema necessidade de os docentes passarem por um processo reflexivo quanto às suas práticas. O ensino nos dias atuais requer dele uma postura inovadora, segura e condutora do conhecimento. Assim, suas práticas devem permitir uma efetiva interação aluno-professor-instituição de ensino, priorizando a qualidade no processo de ensino e aprendizagem.
Por fim, esta pesquisa ressalta a importância da discussão dos aspectos que englobam a docência para o professor enfermeiro, com a sugestão para a elaboração de trabalhos que abordem a temática. Infelizmente, os saberes docentes são pouco conhecidos pelos enfermeiros, por isso necessitam ser discutidos em conjunto. Afinal, a combinação dos saberes e formação docente proporciona ao professor domínio e segurança de sua prática, contribuindo, ao mesmo tempo, para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem.
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