“Deus abençoe o
nosso Brasil” - recomendações para o retorno às aulas presenciais das crianças:
a travessia da biopolítica à necropolítica
“God bless our Brazil” -
Recommendations for the comeback of the return of presential classes to the
children: the transition from biopolitics to necropolitics
Célia Ratusniak
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil.
celiaratusniak@ufpr.br - https://orcid.org/0000-0002-0608-8838
Vanderlete Pereira da Silva
Universidade Estadual do Amazonas, Manaus, Amazonas, Brasil.
vanderletesilva@yahoo.com.br - https://orcid.org/0000-0001-9353-3110
Recebido em 01 de outubro de 2021
Aprovado em 17 de dezembro de 2021
Publicado em 16 de abril de 2022
RESUMO
O artigo discute a travessia das escolas
públicas que atendem crianças pela pandemia da COVID-19. Problematiza o
discurso do ministro da educação, tomando-o como um exemplo de pós-verdade que
cria um cenário de segurança sanitária para convencer o retorno às aulas
presenciais. O texto mapeia as distorções, invenções e interpretações
equivocadas de dados, estratégias para produzir a pós-verdade, apresentadas
pelo MEC, pela SEED/PR e pela SEDUC/AM, contrapondo esses discursos com dados
que apresentam o cenário real da pandemia no Brasil, retirados do Ministério da
Saúde, de revistas científicas e agências oficias de notícias. Considera a
decisão do retorno imediato uma tentativa de esconder a situação do ensino
remoto emergencial (ERE), bem como a falta de planejamento e investimento nas
condições sanitárias recomendadas, expostas em documentos e pesquisas oficiais.
Para construir essa tese, busca na Sinopse Estatística do Questionário Resposta Educacional à Pandemia de COVID-19 no Brasil,
Educação Básica dados que mostram alguns aspectos do ERE na rede municipal
brasileira, paranaense e amazonense, que concentram grande parte das matrículas
de crianças. Para fundamentar a análise, utiliza os conceitos de biopolítica e
de necropolítica, que acionam o racismo de Estado. Conclui que o argumento da
defesa do futuro das crianças legitima a exposição delas, de suas famílias e
profissionais da escola onde trabalham, deixando morrer populações
subalternizadas.
Palavras-chave: Educação básica; Biopolítica; Necropolítica.
ABSTRACT
This article
discusses the transition of the public schools that attend children through the
COVID-19 pandemic. It problematizes Brazil’s Ministry of Education’s narrative,
using him as an example of post-truth that creates a scenario of sanitary
security to justify a return of presential classes. The text maps the
distortions, inventions and misinterpretations of data, strategies to produce
the post-truth, presented by the MEC, the SEED/PR and the SEDUC/AM, contrasting
these speeches with information that shows the real scenario of the pandemic in
Brazil, taken from the Ministry of Health, scientific journals and official
news agencies. It considers the decision of the immediate return an attempt of
hiding the situation of the emergency remote education (ERE), as well as the
lack of planning and investment in the recommended health conditions, exposed
in official documents and research. To build this thesis, it searches the Statistical
Synopsis of the Educational Response to the Pandemic of COVID-19 in Brazil,
Basical Educational data that show some aspects of the ERE in the Brazilian
municipal network, from Paraná and Amazonas, which concentrate a large part of
children. To support this analysis, it is used the concepts of biopolitics and
necropolitcs, which trigger the State racism. They conclude that the argument
of defending the future of the children legitimizes the exposure of them, their
families and the professionals of the school, letting subalternized population
die.
Keywords: Basic Education;
Biopolitics; Necropolitics.
Introdução
Quarta-feira, 20 de julho de 2021.
O Ministro da Educação, o pastor presbiteriano, teólogo,
advogado e professor Miltom Ribeiro faz um pronunciamento em rede nacional,
conclamando ao retorno às aulas
presenciais que, segundo ele, é uma
necessidade urgente e não pode mais ser adiada. Conclamar é um chamado insistente, uma convocação. Não há nenhuma menção sobre a situação da pandemia no Brasil ou à Sinopse Estatística do Questionário Resposta Educacional à Pandemia de COVID-19 no Brasil, Educação Básica, feita pelo Censo
Escolar entre fevereiro e maio de 2021, e que usou como instrumento o Questionário Resposta Educacional à Pandemia de COVID-19 no Brasil, Educação Básica.
Para
mostrar aquilo que o ministro omitiu, distorceu ou apresentou de maneira
equivocada em seu discurso, trazemos dados e informações acessadas on line
em meios de comunicação oficiais, instituições governamentais e jornais. Os
dados mostram que a não oferta de estrutura pelos órgãos gestores impediu que
grande parte das crianças pudesse se beneficiar do ensino remoto emergencial.
Desse modo, esse trabalho entende que conclamar a reabertura das escolas é uma
estratégia para ignorar a situação de abandono na travessia da pandemia. Em vez
de ofertar as condições necessárias para o ensino o remoto, o governo opta por
reabrir as escolas como se não houvesse a COVID-19, para ver o que acontece.
Deixar morrer. Efeito colateral.
As
análises aqui apresentadas contemplaram de maneira separada escolas municipais
urbanas e rurais, e mostram como estas últimas são mais afetadas pela falta de
políticas públicas durante o ensino remoto. É na rede municipal onde estudam
grande parte das crianças nos estados do Paraná e Amazonas, nos dando uma
amostra da situação do ensino remoto e das condições em que este está sendo
ofertado, bem como a utilização das medidas sanitárias e a contaminação da
comunidade escolar. A rede municipal concentra 82% das matrículas do ensino
ofertado no Brasil (Educação Infantil e Anos Iniciais) (INEP, 2020).
Esse
trabalho se propõe a problematizar o discurso do ministro, apresentando dados
que foram omitidos, distorcidos ou interpretados de forma equivocada, criando
uma situação de travessia da pandemia que não reflete aquilo que encontramos
nas escolas, que aliada às estratégias discursivas utilizadas no
pronunciamento, produzem o contexto que caracteriza a pós-verdade, acionadas
para tornar o dito verdadeiro. O dicionário Oxford incorporou essa expressão em
2016, definindo-a como um adjetivo. "Relating to or denoting circumstances in which
objective facts are less influential in shaping public opinion than appeals to
emotion and personal belief” (OXFORD, s.d)[1]. Hanna Arendt já nos alertava sobre a forma
como a política moderna se utiliza dessa estratégica para criar realidades
paralelas que dariam veracidade aos discursos:
(...)
se as mentiras políticas modernas são
tão grandes que requerem um
rearranjo completo de toda a trama fatual, a criação de outra realidade, por
assim dizer, na qual elas se encaixem sem remendos, falhas ou rachaduras,
exatamente como os fatos se encaixavam em seu próprio contexto original, o
que impede essas novas estórias, imagens e pseudofatos de se tornarem um substituto adequado
para a realidade e fatualidade? (Arendt, 2014, p. 313).
Para
ganhar esse efeito, formas de poder que compõem essas novas realidades são
acionadas, e agem a partir do dispositivo. Discutiremos aqui as práticas
utilizadas pelo poder pastoral, biopoder e necropoder, nos apoiando nas chaves
teóricas de Michel Foucault e Achille Mbembe, que nos ajudam a compreender a
produção desse discurso e o tipo de racionalidade de governo em que ele opera.
O
texto está dividido em três partes. A primeira problematiza o discurso do
ministro da educação, numa tentativa de mapear as táticas que produzem o
borramento da realidade e a produção de um cenário inventado de ações políticas
que ofertariam o direito à educação para as crianças durante a pandemia e a
garantia do seu futuro. A segunda parte discute o conceito de biopolítica, o
acionamento do poder pastoral como uma tática poderosa na produção do discurso
do ministro, que conclama e mostra o caminho para a travessia da pandemia, que
se sobrepõe e potencializa o biopoder. Por fim, o texto aciona o conceito de
necropoder para analisar aquilo que o governo insiste em esconder: as mortes,
os efeitos das mortes na vida de quem fica e a quem é mais suscetível de
morrer.
A conclamação
Nas
palavras do ministro: “O Brasil não pode continuar com as escolas fechadas,
gerando impactos negativos nestas e nas futuras gerações. Não devemos privar
nossos filhos do aprendizado necessário para a formação acadêmica e profissional deles” (RIBEIRO, 2021).
Primeiro equívoco: as escolas não estiveram fechadas e o ensino, mesmo com
todas as dificuldades impostas pela falta de estrutura, acontece.
A Sinopse Estatística mostra que, dentre as estratégias e ferramentas adotadas
no desenvolvimento das atividades de ensino, a que teve maior alcance foi a
disponibilização de atividades impressas, o que mostra que as escolas estiveram
abertas, elaborando, fotocopiando ou imprimindo, entregando-as nas escolas ou
nas residências, recolhendo-as, produzindo planos de estudos individualizados,
atendendo à comunidade escolar. Tudo isso somado à carga de trabalho remoto. A
tabela a seguir apresenta estas tarefas específicas:
Quadro 1 - Estratégias e
ferramentas adotadas no desenvolvimento das atividades de ensino-aprendizagem
[possível assinalar mais de uma categoria]
Entrega
materialmpress
na
escola e/ou em domicílio (%)
|
Disponibilização
de materiais na internet(%)
|
Aulas
ao vivo (%)
|
Transmissão de aulas ao vivo
(síncronas) por TV ou rádio (%)
|
Transmissão de aulas ao vivo
(síncronas) pela internet (%
|
Transmissão de aulas previamente
gravadas por TV ou rádio (%)
|
Disponibilização de aulas
gravadas pela internet (%)
|
Avaliações remotas ou com
envio/devolução atividades (%)
|
Suporteestudantes ou responsáveis -
planos de estudos(%)
|
Atendimento virtual ou presencial
escalonado (%)
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
93
|
95
|
92
|
85
|
86
|
30
|
31
|
14
|
5,9
|
4
|
4
|
15
|
20
|
10
|
6,3
|
12
|
19
|
2,7
|
56
|
56
|
3,4
|
57
|
61
|
47
|
54
|
56
|
9,3
|
60
|
60
|
36
|
Fonte: INEP, 2021 [Organização das autoras].
Muitas
dificuldades foram impostas ao desenvolvimento do trabalho docente. A pesquisa
mostra as condições de trabalho as quais a categoria foi submetida:
predominância de reuniões e mecanismos de controle, pouco treinamento técnico,
não disponibilidade de equipamentos e internet e exigência de adequação do
planejamento.
Quadro 2 - Estratégias adotadas
pela escola/secretaria de educação junto aos/as professores/as [escolas podiam
assinalar mais de uma categoria]:
Reuniões virtuais de
planejamento, coordenação e monitoramento das atividades (%)
|
Treinamento
para uso de métodos/materiais dos programas de ensino não presencial (%)
|
Disponibilização
de equipamentos para os professores - computador, notebook, tablets,
smartphones etc. (%)
|
Acesso
gratuito ou subsidiado à internet em domicílio (%)
|
Reorganização/adaptação
do planejamento com priorização de habilidades e conteúdos específicos
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
85
|
86
|
50
|
53
|
47
|
51
|
19
|
36
|
7,1
|
2,2
|
1,9
|
2,7
|
89
|
93
|
84
|
Fonte: INEP, 2021
[Organização das autoras].
Para
dar credibilidade à sua conclamação, o ministro da educação cita
relatórios da UNESCO, UNICEF e OCDE, para os quais o fechamento de escolas
traria consequências devastadoras: perda de aprendizagem, do progresso, do
conhecimento, da qualificação para o trabalho, aumento do abandono escolar,
implicações emocionais. Acionar a ruína de um futuro tem sido um argumento
muito presente nas políticas e ações implementadas pelo governo atual,
apostando numa multiplicidade de riscos que impediriam à concretização do sonho
do emprego formal e da estabilidade financeira.
Esse
argumento traz a falsa premissa de que a Educação é o passaporte certeiro para
uma uma boa condição econômica e para a seguridade social, afastando o risco do
desemprego. Nessa lógica, estão fora do mercado de trabalho as pessoas
desqualificadas, e não o excedente de mão-de-obra produzido pelas relações de
trabalho contemporâneas. Robert Castel (2005) nos alerta para o fenômeno de
desqualificação de massa, os/as inempregáveis, populações que tiveram
seus postos de trabalho suprimidos ou que não possuem a qualificação necessária
imposto pelo mercado, dentre as quais estão as pessoas jovens. É preciso seguir
em frente, mesmo que não haja garantia nenhuma de se chegar a algum lugar.
O
ministro
menciona
que Portugal, Chile, França, Espanha, Austria e Rússia retornaram às aulas
presenciais em 2020 e que adotaram como medidas sanitárias o uso de álcool em
gel, de máscaras e distanciamento social. Segundo ele, nesse período, as
escolas desses países reabriram sem sequer haver previsão de vacinação, o que não é verdade. A Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada em maio desse ano apurou que a
farmacêutica Pfizer entrou em contato com o governo brasileiro em agosto de
2020 para oferecer vacinas que seriam entregues em dezembro do mesmo ano (AGÊNCIA SENADO, 2021). Logo, havia previsão de
vacinação sim. Nessa época, não haviam as variantes Alfa e Delta, mais
transmissíveis e que provocam mais óbitos (VALENTE, 2021).
A
Universidade Johns Hopkins analisou letalidade e a mortalidade provocada pela
COVID-19. Os dados são de 20 de julho de 2021. Dos países citados pelo
ministro, a taxa de letalidade em Portugal, que é o 290 nesta lista
é
de
1,8%, com 167 mortes/100 mil habitantes. Chile está em 240, com 2,2%
de letalidade e 182 óbitos por 100.000 pessoas. França é o 300 país, com
1,9% de mortes de pessoas contaminadas e 166 mortes para cada 100.000
francesas/es. A Espanha está em 270, com 1,9% de letalidade e 173
mortes para 100.000 habitantes.. Áustria, também citada pelo ministro, é a 450, com 1,6%
de mortes de infectadas/os, sendo 120 óbitos/100 mil austríacos/as. Por fim a
Rússia, que está em 540 nessa lista, com uma alta letalidade de
2,5%, mas com uma taxa de mortalidade de 102/100.000 habitantes, que é menos da
metade da nossa. O Brasil é 90 país com maior taxa de
mortalidade: 2,8%, sendo que a cada grupo de cem mil brasileiras/os, 257
pessoas morreram. Dentre todos os países citados pelo ministro, temos a maior
taxa de letalidade e de mortalidade (UNIVERSITY JOHNS HOPKINS, 2021). No
Brasil, o Painel Coronavirus, ligado ao Ministério da Saúde, apresentava no
dia 21 de julho 544.180 mortes, com uma taxa de letalidade de 2,8%, com 259
mortes por 100 mil habitantes (BRASIL, 2021a).
A
Sinopse
Estatística do Questionário Resposta Educacional à Pandemia de
COVID-19 no Brasil, Educação Básica analisou o percentual
de trabalhadoras/es e discentes das escolas municipais afastadas/os por estarem
contaminadas/os com o coronavírus após o retorno das atividades presenciais, e
os resultados são preocupantes: no Brasil, foram 57,4%. No Amazonas, temos
54,8% e no Paraná, 68,2% de profissionais, alunos e alunas, o que mostra que,
mesmo com os protocolos de biossegurança recomendados, não houve proteção
contra o contágio (INEP, 2021). Com a chegada da variante Delta, mais contagiosa e com potencial de
transmissão antes de aparecerem os sintomas, retornar às aulas no inverno rigoroso
do Paraná, por exemplo, compõe uma condição favorável à contaminação.
Milton
Ribeiro menciona que profissionais da Educação Básica estão sendo vacinadas/os, mas afirma
que a vacinação da comunidade escolar não pode ser condição para reabertura das escolas. No site Vacinômetro,
consultado em 21/07/21, o gráfico Doses Aplicadas de Vacina contra a COVID,
Segundo os Grupos Prioritários mostra que 843.119 trabalhadoras/es da
Educação Básica foram vacinadas/os com a primeira dose e 110.462 com a segunda
dose ou dose única (BRASIL, 2021b). Notícia publicada no site do Ministério da Educação em janeiro
desse ano contabiliza 2,2 milhões de professoras/es e 161.183 diretoras/es
atuando nas 179.553 escolas de Educação Básica no Brasil (BRASIL, 2021c). Ou
seja, ainda não foram vacinados/as nem metade dessas/es profissionais. Se a
vacina, aliada às medidas sanitárias, é a forma de conter a contaminação,
nenhuma dessas condições estão garantidas. O governo expõe, assim, a comunidade
escolar ao risco de se contaminar, de adoecer e, por não estar completamente
imunizada, de desenvolver formas mais agressivas de manifestação do vírus.
No
pronunciamento, o ministro nos informa que temos um Comitê Interativo de
Emergência, cujo nome que consta no
site do Ministério da Educação é Comitê Operativo de Emergência (COE/MEC), criado pela
portaria n. 329/2020, e que tem como objetivo “gerenciar questões inerentes a
assuntos sensíveis, de repercussão nacional” (BRASIL, 2020, s. p.). No
parágrafo segundo, está previsto que esse comitê deve analisar eventos que
provoquem mudanças significativas das atividades e que demandem estudos de
medidas para o retorno à normalidade. O artigo terceiro discorre sobre
componentes do Comitê, que conta com um/a representante de cada uma
dessas instâncias e instituições: Gabinete
do Ministro de Estado da Educação; Secretaria-Executiva do MEC; Secretaria de
Educação Básica do MEC; Secretaria de Educação Superior do MEC; Secretaria de
Educação Profissional e Tecnológica do MEC; Subsecretaria de Planejamento e
Orçamento do MEC; Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE; Empresa Brasileira
de Serviços Hospitalares – EBSERH; Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira – INEP; Conselho Nacional de Secretários de
Educação
–
CONSED; duas vagas para a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME; duas vagas para o
Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional e
Tecnológica - CONIF; duas vagas
para a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino
Superior – ANDIFES. De 16 representações, 7 são ligadas
diretamente ao MEC.
As
competências do COE/MEC são listadas
no artigo 5º:
I - reunir informações para diagnóstico da operação emergencial, permitindo estabelecer metas
e focos de atuação;
II - convocar esforços e conhecimentos de
profissionais que possam integrar, a convite, o COE/MEC;
III - analisar o histórico da situação e o desenrolar de ocorrências semelhantes, de forma a subsidiar as tomadas de
decisões;
IV - planejar ações, definir atores e determinar a adoção de
medidas para mitigar ameaças e restabelecer a normalidade da situação; e
V - acompanhar a execução das medidas propostas
e avaliar a necessidade de revisão e planejamento (BRASIL, 2020, s. p.)
Na página inicial do MEC
disponível no endereço https://www.gov.br/mec/pt-br, consultada no dia 21 de
julho de 2021, não existe nenhum link para acessar o COE. Existe um espaço
chamado CORONAVÍRUS – Ações do MEC em Resposta à Pandemia da
COVID 19. Clicando nesse espaço, existe o Relatório de
Atividades Ações do MEC em Resposta à Pandemia da COVID 19 marco de 2020/marco de
2021, dividido
em Eixo 1: Educação Básica, que apresenta as ações feitas pela Secretaria de
Educação Básica (SEB), de Alfabetização (SEALF), de Modalidades de Educação
(SEMESP) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE); e Eixo 2,
que trata do Ensino Superior, Pós-Graduação e Educação Profissional e
Tecnológica (BRASIL, 2021d).
Na
página do MEC também há uma notícia informando sobre o Guia de
Implementação de Protocolos de Retorno das Atividades Presenciais nas Escolas
de Educação Básica. Clicando nela, há um texto, publicado em 20/07/21,
mesma data do pronunciamento do ministro, que explica que o material tem o
objetivo de “orientar sistemas e redes de ensino da educação básica sobre o funcionamento
e o desenvolvimento de atividades administrativas e educativas nas escolas, com
vistas ao retorno das atividades presenciais” (BRASIL, 2021e). Ao clicarmos no
link Confira o Guia, somos redirecionados para uma página que diz:
“Desculpe, mas esta página não existe…”. A tentativa foi feita nos dias 20 e
21/07/2021. Encontramos esse documento fazendo uma busca com o seu nome na
ferramenta de buscas Google.
Miltom
Ribeiro deixa bem claro em seu pronunciamento que a decisão de reabrir as
escolas ou fechá-las foi delegada aos estados e municípios, mas que o MEC é favorável ao retorno
imediato das aulas presenciais em todo o Brasil, independente de como esteja a
situação
de contaminação,
internações, óbitos ou das condições das
escolas se adequarem aos protocolos apresentados pelo Guia de Implementação
de Protocolos de Retorno das Atividades Presenciais nas Escolas de Educação
Básica.
No
Amazonas, em 23 de agosto, o Estado determinou o retorno das aulas 100%
presencial. No site da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC/AM), reforça-se
protocolos de segurança como "o uso de máscaras, o não compartilhamento de itens
pessoais e a manutenção das mãos sempre higienizadas”
(AMAZONAS, 2021a, s. p.), não mencionando o distanciamento social recomendado
pelo Protocolo Geral de Prevenção à COVID-19, elaborado pela Fundação de
Vigilância em Saúde do Amazonas, e que é mencionado pela própria SEDUC
(AMAZONAS, 2021b) como documento referência para as medidas sanitárias.
No
início, o Protocolo Geral já informa em suas recomendações
o distanciamento social, uso correto de
máscaras e EPI, higienização e desinfecção de superfícies e objetos,
higiene pessoal (principalmente a lavagem frequente das mãos com água e
sabão ou álcool em gel a 70%) e etiqueta respiratória, devendo ser
implementadas de forma conjunta e conforme as características de cada local ou
ambiente (AMAZONAS,
2021, p. 3).
Nas
recomendações especificas para instituições públicas, o item 7 do Protocolo
determina que: "As estações de trabalho e de atendimento ao público devem estar com
espaçamento mínimo de 1,5m (um metro e meio) entre as suas posições" (AMAZONAS, 2021, p
16).
Na foto publicada no
site da SEDUC, materializa-se e normaliza-se a ausência do distanciamento
social como medida sanitária:
Figura
1 - Atividades integralmente presenciais foram retomadas em toda a
rede pública estadual de Manaus
Fonte: SEDUC/AM (Foto sem autoria)
Abrir
as escolas é uma estratégia para apagar o fracasso que foi o ensino remoto no
Brasil. No Estado do Paraná, as declarações do Secretário Estadual da Educação
Renato Feder anunciaram investimentos em TV Aberta, aplicativos para smartphone,
parcerias com operadoras de telefonia com acesso via 3G e 4G, que totalizam 15
milhões. Feder ressaltou as aulas dadas pela plataforma Meet, com o
alcance de 150 mil aulas por dia: "Todos os dias os alunos têm aulas nas
quais podem enxergar os professores, os professores enxergam os alunos e eles
se enxergam em suas turmas. As aulas acontecem no Paraná” (PARANÁ, 2021a). Cabe
ressaltar que esse acesso era ofertado para os Anos Finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio, sem estender o serviço aos municípios que atendem
os Anos Iniciais e a Educação Infantil.
A
condição apresentada pelo secretário de educação não é a mesma relatada pela
própria SEED:
Atualmente, o Paraná atende um grande
percentual de estudantes por meio de material impresso em escolas que não
possuem conexão de internet adequada para que sejam ofertadas aulas
síncronas, situação que corrobora para o aumento da dificuldade na
aprendizagem e da desigualdade social entre a população, e causa prejuízos
à saúde mental de crianças e adolescentes (PARANÁ, 2021c, s. p.).
O
documento orienta a necessidade dos pais justificarem por escrito o motivo de
não enviar suas/seus filhos/as para as escolas. Os desdobramentos desse ofício
são diretoras/es eleitas/os afastados por não conseguirem o retorno presencial,
sendo substuídas/os por profissionais designados pela SEED (PIRES, 2021).
Essa
condição é apresentada Sinopse já citada. Com relação às estratégias de comunicação e apoio tecnológico disponibilizadas às/aos alunas/os da rede
municipal no Brasil, 98% não teve acesso gratuito ou subsidiado à internet. No Amazonas, o
índice de quem teve acesso é 0,6% e no Paraná 0,8%. O percentual de
equipamentos disponibilizados também foi baixo: 4,3% à nível nacional, 0,8% no
Amazonas e 4,3% no Paraná (INEP, 2021).
O
canal mais utilizado de comunicação direta das crianças com suas professoras e
seus professores foi e-mail, telefone, redes sociais e aplicativos de
mensagens. Isso significa trabalhar para além das aulas virtuais, visto que o
envio dessas mensagens não é regulado pelo horário de trabalho, mas pela disponibilidade
de quem envia.
O
uso das plataformas/ferramentas digitais nas atividades desenvolvidas pela
internet também foi questionada pela pesquisa. A questão aonde aparece a utilização
do WhatsApp é a que conta com o maior frequência de respostas.
Quadro 3 - Plataformas/ferramentas digitais utilizadas pela escola
nas atividades desenvolvidas pela internet
Plataforma
desenvolvida especificamente para a secretaria de educação municipal ou
estadual ou para a escola (%)
|
Google
Classroom (Google sala de aula) (%)
|
Microsoft
Teams
for Education (Microsoft Teams para educação)
(%)
|
Aplicativos
ou ferramentas para realização de videoconferências
(WhatsApp, Zoom, Youtube etc.) (%
|
BRA
|
PR
|
AM
|
BRA
|
PR
|
AM
|
BRA
|
PR
|
AM
|
BRA
|
PR
|
AM
|
23,9
|
19
|
17
|
24
|
27
|
9,4
|
5,4
|
1,4
|
1,0
|
84,3
|
84
|
62,8
|
Fonte: INEP, 2021. [Organização das autoras]
O monitoramento da
participação e da frequência das/os alunas/os também foi avaliado no Eixo II da
pesquisa. A modalidade que mais teve alcance foi recolhimento das atividades
pedagógicas impressas, o que
mostra que, ao contrário do que o ministro disse, as escolas estiveram abertas,
funcionando. Na rede municipal, a chamada eletrônica ficou em 25% nas escolas
urbanas e 19% nas rurais, o que indica que o ensino remoto não estava se
utilizando da internet como recurso para as aulas.
Esses
dados foram coletados até abril de 2021, no início da segunda onda de
COVID-19 produzida pela variante Gamma, surgida no Amazonas, mais letal nas
populações mais jovens; e da variante Delta, que nesse momento está com
transmissão comunitária no Paraná. No dia 21 de julho, o governo do Paraná
determinou o retorno das aulas presenciais no modelo híbrido, nas condições
sanitárias apresentadas aqui. Em 28 de julho, tínhamos 29 casos e 12 óbitos por essa variante (PARANÁ, 2021b). A
Agência Brasil de Comunicação (EBC) informa que o Ministério da Saúde recebeu
em agosto um ofício de governadores/as solicitando ações para o apoio ao
combate da variante Delta, informando que ela é 100% mais transmissível que a
primeira CEPA, e 30% mais transmissível que a variante GAMA (VALENTE, 2021). O
governo continua negando os efeitos da pandemia e insistindo em nos obrigar a
viver como se ela não existisse ou não fosse letal.
Milton
Ribeiro afirmou que o Ministério da Educação fornece todos os protocolos de
biossegurança sanitários a todas as escolas de Educação Básica e de Ensino
Superior. Pesquisando quais seriam esses protocolos e investimentos feitos para
efetivá-los, encontrei o documento Ações do MEC em Resposta à Pandemia da
COVID-19 (BRASIL, 2021f), que estava disponível no site do MEC no dia
21/07, mas já indisponível no dia seguinte (22/07). Sua Ação 8 diz respeito
ao Programa Dinheiro Direto na Escola Emergencial, informando que foram
destinados em 2020 em torno de 672 milhões de reais às escolas das redes estaduais,
municipais e distrital para a preparação do retorno às aulas presenciais. Esse
valor é dividido a 116.899 escolas e mais de 36 milhões de estudantes, ou
seja, R$ 5.748,55 por escola ou R$ 18,66 por estudante, para o ano todo. O ministro
fala de um valor de 1,7 bilhão de reais para enfrentamento da COVID nas
escolas públicas, mas não explica como esse dinheiro foi disponibilizado e em
que pode ser gasto. Se ele existir e se for encaminhado, totaliza R$ 47,22 por
aluno e R$ 14.542,00 por instituição por ano, variando para mais ou para menos,
conforme o número de alunos e alunas de cada escola.
O
dinheiro pode ser aplicados da seguinte maneira:
I. na aquisição de
itens de consumo para higienização do ambiente, das mãos, assim como na
compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), com o objetivo de
prevenir o contágio dos profissionais da escola, bem como dos estudantes neste
momento de pandemia;
II. na contratação de serviços especializados em desinfecção de ambientes;
III. na realização de pequenos reparos, adequações e serviços necessários à
manutenção dos procedimentos de segurança para
tramitação dentro das dependências da
unidade escolar;
IV. no investimento com acesso e/ou melhoria de acesso à
internet para estudantes e professores; e
V. na aquisição de material permanente (BRASIL, 2021, p. 13).
O
Guia de Implementação de Protocolos de Retorno das Atividades Presenciais
nas Escolas de Educação Básica recomenda as seguintes medidas sanitárias:
EPIs para estudantes: “Máscara tripla camada (deve ser trocada a
cada 4 horas ou assim que estiver úmida) – observando a contraindicação para
crianças com idade inferior a 2 anos; frasco individual de álcool em
gel/álcool 70%” (BRASIL, 2021e; p. 14). Cozinheiras/as precisam do mesmo tipo
de máscara, protetor facial (face shield), álcool em gel a 70%, luvas de
proteção descartáveis
e touca descartável (BRASIL, 2021e). Responsáveis pela limpeza, além de todos esses itens,
precisam de avental impermeável de mangas longas e botas ou sapatos impermeáveis,
e o face shield pode ser substituído por proteção ocular. Demais
profissionais da escola necessitam de máscara tripla camada; protetor facial (face
shield) e frasco individual de álcool em gel a 70% (BRASIL, 2021e)”. O
dinheiro não é suficiente.
A Sinopse Estatística já citada também investigou as
medidas sanitárias adotadas pelas escolas para o retorno das atividades
presenciais. O primeiro aspecto avaliado foi a adequação/ampliação da
infraestrutura física: instalação de pias para a lavagem das mãos, construção
de salas para reduzir o número de alunas/os por turma, aumento da ventilação
natural. Os dados mostram que ainda não há as adequações. O segundo item avaliou a
formação de profissionais da educação para reconhecimento e avaliação do
cumprimento das medidas sanitárias como identificação dos sintomas da COVID-19,
e para o monitoramento dos motivos de ausência das/os alunas/os, com resultados que
também colocam o Paraná abaixo da média brasileira. Note-se o aumento na carga
de trabalho docente com essas novas tarefas.
Quadro 4 - Medidas sanitárias adotadas pela escola para o retorno
das atividades presenciais
Adequação/ampliação da
infraestrutura física das escolas (%)
|
Capacitação dos profissionais (%)
|
Comunicação
e divulgação de informações e orientação para a comunidade escolar (%)
|
Aumento
na frequência da limpeza rotineira (%)
|
Monitoramento
da temperatura (%)
|
Uso
constante de EPIs (%)
|
Redução de pessoas no ambiente da escola(%)
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
BR
|
PR
|
AM
|
37
|
27
|
34
|
70
|
50
|
41
|
92
|
95
|
64
|
90
|
95
|
93
|
78
|
90
|
41
|
93
|
95
|
99
|
82
|
95
|
48
|
Fonte: INEP, 2021. [Organização das autoras].
Mesmo com os recursos insuficientes, o ministro assume o compromisso de
de garantir as condições necessárias para o retorno às aulas presenciais “pelo bem dos
filhos e pelo futuro do país”, sem dizer como vai fazer isso e nem com qual
orçamento. Por fim, o pronunciamento termina com “Deus abençoe o nosso Brasil.
Meu desejo e minha oração”, atendendo a um dos aspectos que definem a
pós-verdade: "fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião
pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais” (Oxford, s. d, s. p.).
Fazer viver - entendendo a biopolítica para
compreender a necropolítica
No seu discurso, o ministro
da Educação exerce sua função de pastor que conduz seu rebanho, misturada à de
soberano, que governa. Discutiremos aqui essa sobreposição de figuras que
exercem o poder, e que têm como função a garantia de condições para que a
população viva. Para tanto, nos apoiaremos em chaves teóricas foucaultianas.
Michel
Foucault problematiza o momento em que as tecnologias utilizadas pelo poder
pastoral passam a fazer parte da arte de governar operada pelo Estado Moderno,
sobreposta a duas outras formas de poder: o disciplinar e o biopoder.
Compreender a composição das estratégias de governo da população nos
permite identificar as biopolíticas que produzem as infâncias e adolescências a
partir do dispositivo pedagógico, e que colocam a escola como um espaço
privilegiado de proteção, de formação e de produção de subjetividades alinhada
às demandas dos modelos econômicos.
O
conceito de dispositivo pedagógico é utilizado inicialmente pelo filósofo francês René Schérer, a partir das leituras de Michel Foucault, e que aqui utilizamos
problematizado por Silvio Gallo e Alexandre Carvalho (2017). Esse dispositivo é
composto por “[...] discursos e pensamentos, mas também instituições e
arquiteturas, leis e ações de administração, proposições filosóficas e verdades científicas, máximas morais e
religiosas” (CARVALHO; GALLO, 2017, p. 627), onde “[...] alguém só aprende quando um outro (o mestre) ensina,
gerando uma hierarquização na aquisição e na relação com os saberes que
impossibilitam uma efetiva emancipação intelectual” (CARVALHO;
GALLO, 2017, p. 624).
Esse dispositivo age, por
exemplo, pelos jornais televisivos, notícias na internet, discursos de
representantes do Estado e de figuras públicas (artistas, celebridades, youtubers),
pronunciamentos e documentos das instituições de proteção da infância e da
adolescência, que compõem uma narrativa que ressalta e repete de várias formas
os riscos de se estar fora da escola. Para além do direito à Educação, as
instâncias de poder sabem que as escolas são um espaço privilegiado de
regulação das subjetividades, de disciplinamento dos corpos e de produção de
capital humano (FOUCAULT, 2008b).
O
acionamento do poder pastoral no nosso governo atual é mais uma das táticas de um
modelo ultra conservador. O pastor é a figura que liga o povo à Deus e, por
essa ligação direta, questioná-lo é questionar a Deus. Sua função é conduzir o
rebanho à salvação de suas almas, protegendo-o dos desvios e das tentações do
demônio, que se metamorfoseia na figura de inimigos imaginários. Possui uma
função vigilante, atenta a todas as pessoas e a cada uma, impedindo o
desgarramento.
O
poder pastoral surge no Oriente pré-cristão e ganha força no cristianismo. Para
Foucault, é somente a partir do século XVIII que o poder pastoral passa a ser
acionado como tática de governo da população. Se antes existiam redes de
influência entre o soberano e a igreja, estas permaneciam distintas: um era
responsável pela condução das almas à salvação, e o outro tinha o poder de vida
e morte de cada um/a (FOUCAULT, 2008a).
As
técnicas
e táticas do poder pastoral vão se deslocando para a racionalidade de governo
do Estado Moderno, que nasceu “[...] da combinação entre o – ou talvez
melhor: da invasão do – poder pastoral e/sobre o poder de soberania” (VEIGA-NETO,
2011, p. 69). Se antes o problema do soberano era aumentar seu território,
agora o problema do governante passa a ser conduzir a população para extrair dela o máximo de trabalho com
o mínimo de custo. Para tanto, é preciso cuidar, deixar viver.
Para
essa condução,
outra forma acionada para a regulação dessas subjetividades é o poder
disciplinar. Ele opera a partir das práticas das instituições que surgem com o
objetivo de moldar os corpos e torná-los dóceis, como a escola, o quartel, a
família, preparando-os para o trabalho nas indústrias. Age a partir de táticas
como o esquadrinhamento do tempo e do espaço, por onde corpos devem seguir o
fluxo. Essa disposição também é produzida a partir do exame e do olhar
vigilante (FOUCAULT, 2009). Cada pessoa no seu lugar. Um tempo para cada coisa.
O lugar e o tempo da infância é na escola, pois é na criança que habita a
pessoa adulta.
O
Estado não
promete a salvação das almas, mas o bem-estar social: condições mínimas de moradia, emprego, um tanto de
seguridade social, saúde, salário, alimentação. O que Michel Foucault não
poderia imaginar é que essas táticas seriam operadas pelo próprio pastor, nosso
ministro, explodindo com a laicidade do Estado e o cuidado com a população.
Sobreposta
a estas formas de poder, Foucault vai identificar outra forma que vai agir
naquilo que cada um/a de nós temos em comum: a vida. Chamou-a de
biopoder, onde “o conjunto dos mecanismos pelos quais aquilo que, na espécie
humana, constitui suas características biológicas fundamentais vai poder
entrar numa política, numa estratégia política, numa estratégia geral de
poder” (FOUCAULT,
2008a, p. 3).
O
biopoder age a partir da biopolítica, aquilo: “[…] que faz com que a vida e
seus mecanismos entrem no domínio dos cálculos explícitos” (FOUCAULT, 1988, p. 134), ou seja,
políticas de condução e de controle da vida da população. Essa nova
racionalidade de governo vai se utilizar de saberes produzidos sobre a vida por
várias áreas: Biologia, Medicina Social, Economia, Pedagogia, constituindo
assim uma área de conhecimentos sobre as coisas do Estado, a Estatística:
“Etimologicamente, a estatística é o conhecimento do Estado, o conhecimento
das forças e dos recursos que caracterizam um Estado num momento dado” (FOUCAULT, 2008a, p. 364). Nessa nova racionalidade,
diferente do soberano que tinha o poder de matar ou deixar viver, o Estado
administra a vida da população a partir de cálculos que lhes indicam quem deve
viver e quem se deve deixar morrer. A Estatística, aliada à Economia, garante o
fortalecimento do Estado a partir da máxima extração das forças da população.
Por isso, não nos estranha que o discurso de salvar a Economia tenha sido tão
acionado no período da pandemia.
Foucault
problematizou como se produzem as biopolíticas e por que táticas e tecnologias
agem a partir de um evento que tem similaridades com a crise sanitária que
estamos vivendo: a prática da inoculação da varíola. O filósofo nos mostra como
a Medicina Social e a Estatística produziram saberes sobre os riscos de
contaminação a partir da observação dos modos de vida, e como essa observação
produziu formas de se gerenciar e controlar as doenças, como a vacina. Foram os
saberes sobre os riscos de contágio que fundamentaram as políticas de saúde
impostas à população, cujos modos de se viver passaram a ser vigiados pelo
Estado. Para essa vigilância, um aparato estatal é criado - a polícia, que
tinha uma função muito diferente da que tem hoje: fiscalizar se as
recomendações e determinações feitas às populações com mais risco de contrair a
doença estavam sendo seguidas e incorporadas ao cotidiano, conduzindo as
condutas e produzindo novas formas de se viver (FOUCAULT, 2008a).
As
biopolíticas objetivavam conduzir as condutas, convencer as pessoas a mudarem
seus hábitos, a saírem do campo para as cidades trabalhando em regimes extensos
e insalubres, garantindo que o capital e poder permanecesse ou circulasse entre
determinados grupos, organizando a vida nas cidades, erigindo instituições que
garantissem o mínimo de bem-estar social e seguridade, mas que regulassem as
subjetividades. Todas essas táticas operam uma nova racionalidade de governo
muito mais complexa: a governamentalidade:
Por governamentalidade entendo o conjunto constituído pelas
instituições, os procedimentos, análises e reflexões, os cálculos e as táticas
que permitem exercer essa forma bem específica, embora muito complexa de poder
que tem por alvo principal a população, por principal forma de saber a economia
política e por instrumento técnico essencial os dispositivos de segurança (FOUCAULT, 2008a, p.
143).
Nessa
nova racionalidade, o retorno às aulas deveria estar condicionado aos cálculos
dos riscos de contaminação da COVID-19, à aplicação e fiscalização de medidas
sanitárias, análise das taxas de letalidade e de mortalidade, às ações
específicas para proteger as populações mais vulneráveis garantindo a criação
de grupos prioritários de vacinação, à imunização pela vacina, à garantia de
alternativas para o ensino remoto para restringir a transmissão do vírus. Esses
cálculos produziriam biopolíticas que permitiriam o controle e gerenciamento da
pandemia, até que voltar às aulas não oferecesse grandes riscos de contágio e
morte.
Os
dados apresentados anteriormente sobre a situação da pandemia no Brasil,
produzidos por agências sanitárias e pelo INEP deveriam servir como fonte de
informações para a elaboração das ações do Ministério da Educação durante a
pandemia, mas nem foram citados pelo Ministro ou pelos documentos publicados
pelo MEC. As ações de governo ignoram esses saberes, o que nos leva a concluir
que suas políticas vêm em outra lógica: expor à morte.
Deixar morrer - a travessia brasileira pela
pandemia e a necropolítica
Achille
Mbembe (2018) nos alerta que a noção de biopoder é insuficiente para
compreendermos como as formas contemporâneas de soberania estabelecem as
condições que resultam na garantia da vida. Por isso, propõe os conceitos de
necropolítica e necropoder para compreender as várias formas de se provocar
“[…] a destruição máxima de pessoas e criar “mundos de morte”, formas únicas e
novas de existência social, nas quais vastas populações são submetidas a
condições de vida que lhe conferem o estatuto de “mortos-vivos” " (MBEMBE,
2018, p. 71). Como efeitos dessa forma de poder, cita vítimas civis nas guerras
e refugiadas/os em campos de concentração. Alinhadas às problematizações do
autor, consideramos as ações do governo brasileiro durante a pandemia da
COVID-19 como estratégias de necropolítica.
Para
Mbembe (2018), a máxima expressão de soberania se materializa no
poder de ditar quem pode viver e quem deve morrer. Ao conclamar que
profissionais da educação retornem imediatamente às aulas presenciais sem
garantir, de fato, as medidas sanitárias que o próprio MEC recomenda, o
ministro da Educação está acionando o necropoder. Se professoras/es,
funcionárias/os, crianças forem infectadas/os, desenvolverem a forma grave da
doença, ficarem com sequelas, morrerem, infectarem seus familiares, esses são
efeitos colaterais de um projeto maior, onde a Economia não pode parar. As
ações do nosso governo entrelaça técnicas do poder pastoral, do biopoder e do
necropoder, que utilizam da pós-verdade para produzir uma realidade de falsa
segurança, onde se exerce o poder de expor à morte. O pastor Milton conduz o
seu rebanho. Não há garantia para a salvação. Somente a da travessia.
O discurso da
necessidade de um futuro para essa geração de crianças coabita com a sua retirada, na prática. Temos uma
legião de crianças órfãs da COVID-19, que pode aumentar com o retorno das aulas
sem a imunização completa da população. A pesquisa publicada recentemente pela
revista The Lanced, conduzida por Susan D. Hillis e colaboradoras/es
analisa a orfandade produzida pela pandemia, com dados coletados entre março de
2020 e abril de 2021: 1.134.000 crianças perderam pelo
menos uma das pessoas que eram suas cuidadoras (pai, mãe, avó ou avô) em
decorrência de complicações provocadas pelo vírus. No Brasil, foram 113.150
crianças, sendo que 87.529 perderam o pai, 25.608 a mãe e 13 ambos (HILLIS et
alli, 2021).
Mbembe nos aponta
que o biopoder divide as pessoas entre as que devem viver e as que podem
morrer, distribuindo as populações em subgrupos, estabelecendo um corte biológico. Os dados da COVID
no Brasil mostram o racismo agindo. A letalidade da COVID-19 varia conforme a
população. O 20 Boletim Socioepidemiológico da COVID-19 nas
Favelas trabalhou com dados das comunidades do Rio de Janeiro, coletados
entre 22/06/20 e 28/09/20, e mostra que as taxas de letalidade giravam entre
10% e 16%. A taxa de mortalidade de pessoas negras era duas vezes maior do que
em bairros não chamados de favelas. Essa população também teve taxa de
mortalidade superior à das pessoas não negras (FIOCRUZ, 2020).
Outra
população
que sofre de forma mais intensa os efeitos da necropolítica é a indígena. Dados
do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) da mesma época mostram
que a taxa de mortalidade nessa população é 150% maior do que a média
brasileira, com 6,8% dos/as infectados/as (IPAM, 2020). Cabe ressaltar que o
primeiro contágio de indígena se deu em contato com médico da Secretaria
Especial de Saúde
Indígena (SESAI), e que a
necessidade de buscar o auxílio emergencial nas cidades aumentou o número de
casos. O corte nas cestas básicas enviadas pela FUNAI, a presença de não
indígenas nos territórios, a não testagem em larga escala, o aumento do garimpo
e o não reconhecimento dos direitos de indígenas são táticas da necropolítica
que colaboraram para esses índices. Em 28 de julho desse ano, eram 57.415 casos
confirmados, com 1144 mortes e 163 povos infectados (PLATAFORMA COVID E OS
POVOS INDÍGENAS, 2021). Essa situação é resultado de “um longo processo de
ferocidade contra
às vidas, direcionadas à destruição das florestas, dos rios, dos
animais e, consequentemente das pessoas que lá viveram, resistem e tiram seu sustento
ainda hoje na Amazônia” (RATUSNIAK; MAFRA; SILVA, 2020, p. 1365).
Em
Curitiba, o dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGEB) do
primeiro trimestre de 2021 informa que o total de desligamentos por morte de
profissionais da limpeza, portaria, cobradoras/es e vigilantes aumentou em mais
de 500% no primeiro trimestre de 2021 (KOWALSKI, 2021). São postos de trabalho
compostos por trabalhadores/as em sua maioria terceirizados, com “baixos
rendimentos, jornada de trabalho indeterminada, rotatividade do emprego,
discriminação social e de direitos e, por fim, invisibilidade de classe
para o empregado, que é rebaixado ao papel de ser inferior
(RODRIGUES, SANTOS, SILVA; 2020). Descartáveis. Um subgrupo que não precisa viver.
Essa
racionalidade seleciona, classifica, hierarquiza as populações, definindo quem pode
seguir o fluxo:
[...]
a biopolítica é uma tecnologia de governo que “faz viver” aqueles grupos
populacionais que melhor se adaptam ao perfil de produção necessitado pelo
Estado capitalista e, ao contrário, “deixa morrer” aos que não servem para
fomentar o trabalho produtivo, o desenvolvimento econômico e a modernização
(CASTRO-GÓMEZ, 2007, p. 157).
Nessa racionalidade, a
escola é tutelada e potencializa essa função sobre a infância e a adolescência,
cujo objetivo já não deve ser a formação humana, mas a produção de capital
humano, que é definido como o “[...] conjunto de todos os fatos físicos e psicológicos
que tornam uma pessoa capaz de ganhar este ou aquele salário" (FOUCAULT,
2008b, p. 308), e que compõe competências, aptidões e características exigidas
pelo mercado de trabalho. Ela se alia com instituições e instâncias que se
apropriam de discursos e saberes, e que produzem uma narrativa ancorada em
dados estatísticos e econômicos analisados de forma distorcida e tendenciosa (a
pós-verdade), e que produzem uma realidade que objetiva fazer acreditar que
tudo esta bem, e se não está, é por causa dos inimigos do povo brasileiro.
Podemos
identificar essas táticas no discurso do ministro: sua performance
corporal, tom de voz, uso de palavras como conclamar, ameaça do futuro de uma
geração inteira, proteção contra a fome e as violências, uso dos nomes de
instituições que monitoram e regulam as infâncias no mundo, comparação com
países, distorção de dados, invenção de verdades, aliança com as religiões
cristãs, acionamento da proteção divina. São estratégias de governamento que,
nesse pronunciamento, têm o claro objetivo de fazer a população exigir das
escolas o retorno imediato, garantindo assim a vontade do governo que não se
preocupa em deixar morrer quem se infectar e desenvolver a forma mais agressiva
da doença.
A
aposta na escola como o espaço que produz um futuro é uma estratégia
biopolítica, onde se objetiva produzir o sujeito um tanto docilizado, um tanto
empreendedor de si, um tanto alienado, um tanto convertido. Escolas militares,
reforma do Ensino Médio, Nova Base Comum Curricular, congelamento de salários
do funcionalismo público, criminalização de práticas docentes, presença de
evangelizadores/as na gestão pública, corte de orçamentos nas agências de
fomento à pesquisa e à formação docente, ausência de concursos públicos são
ações orquestradas que atendem a esse projeto de produção de sujeitos no modelo
das aspirações do governo que está posto.
O
necropoder está presente nas atitudes desse governo: na negação da eficácia de
medidas sanitárias como o uso de máscaras e distanciamento social, no incentivo
do uso de medicamentos não eficazes no tratamento da COVID, no atraso na compra
de vacinas e na demora da imunização de toda a população, na propagação de um
falso cenário favorável ao retorno das aulas presenciais que expõe à morte as
crianças. As chances de morrer acompanham grupos específicos que estão mais
expostos ao vírus e cujas vidas importam menos. Essas são deixadas morrer.
Efeito colateral.
Considerações finais
Esse
texto é um exercício de indignação. Conviver com um cenário de pós-verdades,
com o absurdo nos bombardeando cotidianamente, até que as ausências, omissões e
contra-produções dos nossos governos sejam naturalizadas é desolador. E esse é
um dos efeitos desejados: que percamos as nossas forças para resistir.
As
tentativas de apagamento dos dados, sucessivas nesse governo, aparecem na
ausência da Sinopse Estatística do Questionário Resposta Educacional à Pandemia de
COVID-19 no Brasil feita pelo Censo Escolar como elemento para a
tomada de decisões do Ministério da Educação sobre a condução da Educação
Básica no período da pandemia.
As
ações de vigilância que vigiam apenas as crianças, as famílias e os docentes
não se debruçam sobre o controle social. Obrigar profissionais da educação a
retornar ao trabalho presencial sem estarem imunizados, tirar qualquer
possibilidade de participação na organização desse retorno, criar uma realidade
paralela completamente diferente do que estão vivenciando em sala de aula,
monitorar as aulas, exigir que trabalhem com atividade planejadas e elaboradas
por outras pessoas, vigiar semanalmente o trabalho em sala de aula, deslocando
a função da Pedagogia para a controle das práticas, todo esse cenário objetiva
destruir a autonomia e qualquer tentativa de resistência ou revolta. O
treinamento toma o lugar da formação. Isso, aliado ao retorno ao ensino
presencial com alto risco de contaminação de si e de quem esta no entorno expõe
à morte de várias formas: à pessoa que habita a/o profissional da educação, às
práticas que configuram a função docente e que configuram o ato de ensinar, à
infância de uma criança que não está sendo pensada no presente, e que também
está atravessando a pandemia.
As
ações orquestradas pelo Estado, para além de expor ao vírus, se aproveitam
desse momento de insegurança social trazido pela pandemia para destruir, junto
com a vida, uma educação para a formação humana das crianças, para a autonomia
e para cidadania. Rebanho moldado é mais fácil de ser conduzido.
Referências
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Notas