Educomunicação e Ecossistema Comunicativo: uma Revisão Sistemática

 

Educcommunication and Communicative Ecosystem: a Systematic Review
 
    Educomunicación y Ecosistema Comunicativo: una Revisión Sistemática
 
 
Ademilde Silveira Sartori
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
ademildesartori@gmail.com
 
Ana Flávia Garcez
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
afgarcez74@gmail.com
 
Wanessa Matos Vieira
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
wanessamvieira93@gmail.com
 

Recebido em 16 de julho de 2021

Aprovado em 20 de outubro de 2022

Publicado em 06 de junho de 2023

 

 

RESUMO

Este estudo tem por objetivo analisar como o conceito de Ecossistema Comunicativo está sendo concebido pelos pesquisadores no campo da Educomunicação. O estudo é uma Revisão Sistemática da Literatura - RSL, realizada nas seguintes bases de dados: REdAlyc (Rede de Revistas Científicas da América Latina y el Caribe, España y Portugal), Scopus, Scielo e ASP (Academic Search Premier), com os descritores “Ecossistema Comunicativo”, “Ecossistemas Comunicativos” e “Educomunicação”. Foram selecionados sete artigos para análise considerando apenas os que apresentavam uma concepção própria dos autores acerca do conceito de Ecossistema Comunicativo. Na análise dos resultados obtidos na RSL foi identificado que o conceito de Ecossistema Comunicativo, na concepção dos autores, apresenta características de um modelo de comunicação dialógico, participativo e democrático. A partir da análise dos resultados, este trabalho se propõe a uma reflexão acerca do conceito de Ecossistema Educomunicativo, o qual se configura quando os Ecossistemas Comunicativos e os Ecossistemas de Aprendizagem se caracterizam como dialógicos e em rede, ou seja, estando em acordo com os princípios da Educomunicação.

Palavras-chave: Educomunicação; Ecossistema Comunicativo; Educação.

 

ABSTRACT 
This study aims to analyze how the concept of Communicative Ecosystem is being conceived by researchers in the field of Educommunication. The study is a Systematic Literature Review - RSL, carried out in the following databases: REdAlyc (Network of Scientific Journals of Latin America and the Caribbean, Spain and Portugal), Scopus, Scielo and ASP (Academic Search Premier), with the descriptors “Communicative Ecosystem”, “Communicative Ecosystems” and “Educommunication”. Seven articles were selected for analysis considering only those that presented the authors' own conception of the concept of Communicative Ecosystem. In the analysis of the results obtained in the RSL, it was identified that the concept of Communicative Ecosystem, in the authors' conception, presents characteristics of a dialogical, participatory and democratic communication model. From the analysis of the results, this work proposes a reflection on the concept of Educommunicative Ecosystem, which is configured when Communicative Ecosystems and Learning Ecosystems are characterized as dialogical and networked, that is, being in agreement with the principles of Educommunication.

Keywords: Educommunication; Communicative Ecosystem; Education.

 

Resumen

 

Este estudio tiene como objetivo analizar cómo el concepto de Ecosistema Comunicativo está siendo concebido por investigadores en el campo de la Educomunicación. El estudio es una Revisión Sistemática de Literatura - RSL, realizada en las siguientes bases de datos: REdAlyc (Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal), Scopus, Scielo y ASP (Academic Search Premier), con los descriptores “ Ecosistema Comunicativo”, “Ecosistemas Comunicativos” y “Educomunicación”. Siete artículos fueron seleccionados para el análisis considerando sólo aquellos que presentaban la concepción propia de los autores sobre el concepto de Ecosistema Comunicativo. En el análisis de los resultados obtenidos en la RSL, se identificó que el concepto de Ecosistema Comunicativo, en la concepción de los autores, presenta características de un modelo de comunicación dialógico, participativo y democrático. A partir del análisis de los resultados, este trabajo propone una reflexión sobre el concepto de Ecosistema Educomunicativo, el cual se configura cuando los Ecosistemas Comunicativos y los Ecosistemas de Aprendizaje se caracterizan como dialógicos y en red, es decir, en concordancia con los principios de la Educomunicación.

Palabras llave: Educomunicación; Ecosistema Comunicativo; Educación.

 

 

Introdução

Os estudos no campo da Educomunicação abordam conceitos importantes e centrais para pensarmos a interface entre a Educação e a Comunicação. Sendo assim, no intuito de contribuir com os estudos deste campo emergente e visto que não há um consenso na utilização e apropriação de conceitos, uma vez que são polissêmicos, o presente trabalho se propõe a investigar como o conceito de Ecossistema Comunicativo é concebido pelos pesquisadores no campo da Educomunicação. Para tanto, realizamos uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL) nas bases de dados REdAlyc (Rede de Revistas Científicas da América Latina y el Caribe, España y Portugal), Scopus, Scielo e ASP (Academic Search Premier), com os descritores “Ecossistema Comunicativo”, “Ecossistemas Comunicativos” e “Educomunicação”. Consideramos nas análises dos artigos as bases de dados, autores, ano, título, o termo utilizado e as bases epistemológicas do conceito de Ecossistema Comunicativo.

Para iniciar esse trabalho, contextualizamos o campo da Educomunicação no intuito de demonstrar sua relevância nos estudos das inter-relações entre a Comunicação e Educação e a centralidade do conceito de Ecossistema Comunicativo para a compreensão dos estudos no campo. A seguir apresentamos a metodologia utilizada na RSL e um quadro com os artigos selecionados. Na sequência demonstramos os resultados obtidos apresentando individualmente os sete artigos analisados quanto aos objetivos do estudo, a concepção dos autores acerca do Conceito de Ecossistema Comunicativo e as bases epistemológicas utilizadas pelos autores. Para a análise demonstramos graficamente as palavras-chave mais recorrentes nas citações dos autores, buscando evidenciar como o conceito de Ecossistema Comunicativo é concebido pelos pesquisadores no campo da Educomunicação. Nas considerações e proposições iniciais sugerimos uma reflexão acerca do conceito de Ecossistema Educomunicativo o qual se configura quando os Ecossistemas Comunicativos e os Ecossistemas de Aprendizagem, se caracterizam como dialógicos e em rede, ou seja, estando em acordo com os princípios da Educomunicação.

 

Educomunicação e o Ecossistema Comunicativo

Vivemos em um mundo altamente permeado por diferentes mídias, diferentes linguagens midiáticas e inúmeros dispositivos comunicacionais, ou seja, somos rodeados e atravessados por múltiplas referências midiáticas e dispositivos tecnológicos.  Diante desse contexto está posto para a educação, sobretudo para a educação formal, a necessidade de repensar as suas práticas pedagógicas levando em conta a presença das mídias no cotidiano escolar. A presença das mídias não pode se limitar ao seu caráter instrumental, a uma inclusão desconexa no espaço escolar, mas sim a uma mudança nos modos de comunicação que propiciem o diálogo, a participação, a autonomia e a autoria de todos os sujeitos a saber, professores, estudantes, gestores e demais membros da comunidade escolar.

A relação entre os campos da Comunicação e da Educação, desde meados do século XX, vem sendo tema de pesquisas e de debates por estudiosos de ambos os campos do conhecimento. Considerando, sobretudo a autonomia epistemológica e metodológica desses dois campos, os estudiosos indicam e defendem uma possível aproximação entre a Comunicação e a Educação a partir de diferentes perspectivas. 

Soares (2014) salienta que não há um consenso entre os teóricos em relação à inter-relação entre os campos da Comunicação e da Educação. O autor destaca, dentre os estudos nessa interface, a mídia-educação oriunda da tradição europeia de Media Education e a Educomunicação herdeira de uma tradição latino-americana de luta político-ideológica que coloca sua centralidade na defesa do direito à expressão e à comunicação. Para Soares,

Cada conceito carrega seus referenciais e metodologias, mas os atendidos - os alunos - são indistintamente beneficiados. O grande diferencial está na meta de cada prática: uma trabalha para que a criança e o adolescente sejam capazes de produzir conhecimentos a respeito de suas relações com a mídia e de usufruir de seu potencial inovador, dominando processos produtivos; já a outra tem como meta transformar a comunidade educativa num ecossistema comunicativo aberto, dialógico e participativo. Quanto à produção comunicativa, no caso da educomunicação, o que mais importa é aquela que as próprias crianças e os adolescentes produzem, colaborativamente. (SOARES, 2014, p. 22)

Nesse sentido, preocupado com a inter-relação entre Comunicação e Educação nos contextos educativos formais e não formais, Ismar de Oliveira Soares, no final da década de 1990 no Brasil, como coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação NCE/USP, ressemantizou o conceito de Educomunicação, um campo interdisciplinar e interdiscursivo de estudos e práticas sociais.  Para Ismar (2011), esse novo campo do conhecimento se configura como

 

O conjunto das ações voltadas ao planejamento e implementação de práticas destinadas a criar e desenvolver ecossistemas comunicativos abertos e criativos em espaços educativos, garantindo, dessa forma, crescentes possibilidades de expressão a todos os membros das comunidades educativas. (SOARES, 2011, p.36)

 

Tendo em vista a constituição do novo campo de conhecimento, Soares (2011) a partir de uma pesquisa realizada pelo NCE/USP, com especialistas de 12 países latino-americanos, evidenciou e sistematizou as práticas sociais que já estavam acontecendo na interface entre a Comunicação e Educação na América Latina. Na pesquisa, o NCE/USP identificou um espaço de produção de sentidos referente à essencialidade do direito à comunicação em todos os espaços sociais, incluindo a escola e o próprio espaço comunicacional. Em síntese, um direito à palavra defendido nos escritos de Paulo Freire em sua luta pela democratização de todas as formas de expressão dos sujeitos. Ao seu final, a investigação concluiu que efetivamente um novo campo de saber absolutamente interdisciplinar e com certa autonomia em relação aos tradicionais campos da Comunicação e da Educação, mostrava indícios de sua existência, e que já pensava a si mesmo, produzindo uma metalinguagem, elemento essencial para sua identificação como “objeto interdisciplinar de conhecimento”. (SOARES, 2011, p 35)

 Diante das evidências obtidas na pesquisa, Soares (2011) define as áreas de intervenção do campo da Educomunicação nos contextos educativos, a saber:

Educação para a Comunicação: Tem como objeto a compreensão do fenômeno da comunicação, tanto no nível interpessoal e grupal no nível organizacional e massivo. Volta-se, em consequência, para o estudo do presente, entre outros modos, pela implementação de programas de recepção pedagogicamente organizados (media education, educación en medios) fundamentados na contribuição das ciências humanas.

Expressão comunicativa através das artes: Está atenta ao potencial criativo e emancipador das distintas formas de manifestação artística na comunidade educativa como meio de comunicação acessível a todos. Todo o estudo da história e da estética das artes- que representam valor em si mesmo- está a serviço da descoberta da multiplicidade das formas de expressão, para além da racionalidade abstrata. Esta área aproxima-se das práticas identificadas com a Arte –educação, sempre que primordialmente voltadas para o potencial comunicativo da expressão artística, concebida como uma produção coletiva, mas como performance individual.

Mediação tecnológica na educação: Preocupa-se com os procedimentos e as reflexões sobre a presença das tecnologias da informação e seus múltiplos usos pela comunidade educativa, garantindo, além da acessibilidade, as formas democráticas de sua gestão. Trata-se de um espaço de vivência pedagógica muito próximo ao imaginário da criança e do adolescente, propiciando que não apenas dominem o manejo dos novos aparelhos, mas que criem projetos para o uso social das invenções que caracterizam a Era da Informação. Esta área aproxima-se das práticas relacionadas ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), sempre que entendidas como uma forma solidária e democrática de apropriação dos recursos técnicos.

Pedagogia da comunicação: Referenda-se na educação formal (o ensino escolar), pensando-a como um todo. Mantem-se atenta ao cotidiano da didática, prevendo a multiplicação da ação dos agentes educativos (o professor e o aluno trabalhando juntos), optando, quando conveniente, pela ação através de projetos.

Gestão da Comunicação: Volta-se para o planejamento e a execução de planos, programas e projetos referentes às demais áreas de intervenção, apontando, inclusive, indicadores para a avaliação de ecossistemas comunicacionais. Converte-se, nesse sentido, numa área central e indispensável, exigindo o aporte de um especialista, de um coordenador, de um “gestor”, enfim. Cabe a este não apenas incentivar os educadores para que façam a melhor opção em termos das áreas de intervenção, mas também suprir as necessidades do ambiente no que diz respeito aos espaços de convivência e às tecnologias necessárias.

Reflexão Epistemológica: Dedica-se à sistematização de experiência e ao estudo do próprio fenômeno constituído pela inter-relação entre educação e comunicação, mantendo atenção especial à coerência entre teoria e prática. (SOARES, 2011, pgs. 47 e 48)

A definição de Educomunicação para Soares (2011) tem como centralidade a criação e o fortalecimento de Ecossistemas Comunicativos em espaços educativos, com vistas a promover e ampliar as relações de comunicação entre educadores, comunicadores e demais agentes da comunidade educativa.

Jesús Martín-Barbero, filósofo e expoente pesquisador na área da Comunicação e dos Estudos Culturais na América Latina, tornou-se importante referência ao fazer menção ao conceito de Ecossistema Comunicativo para representar as transformações que vêm ocorrendo em nossa sociedade destacando a sua relação direta com a vida social e com a aprendizagem. Para Martín-Barbero (2002), o Ecossistema Comunicativo constitui-se do entorno que nos envolve, caracterizado por ser difuso e descentrado. Difuso pelas diversas linguagens e saberes que circulam por meio de dispositivos midiáticos interconectados e descentrados porque os dispositivos midiáticos vão além dos meios que tradicionalmente estão presentes na educação, tais como a escola e livros.

 

     No mesmo sentido atribuído por Martín-Barbero e buscando refletir sobre a Educomunicação no contexto da Cultura Digital, Orozco-Gómez (2014) destaca que

Viver em um ecossistema comunicativo, em que o intercâmbio com as diferentes telas e plataformas requer uma exploração criativa e descobertas, faz com que estejamos sempre em condições de educar-nos e de aprender. O paradigma que estamos abandonando é aquele da imitação através da memorização das repetições ou da cópia de modelos. O paradigma ao qual estamos transitando supõe a própria direção do educando, uma exploração criativa, ensaio e erro e, finalmente, um descobrimento. (OROZCO-GÓMEZ, 2014, p. 281)

 

     Para Martín-Barbero e Orozco-Goméz os Ecossistemas Comunicativos contemporâneos caracterizam-se por espaços que apresentam novas formas de produção e circulação de conhecimento, fazendo com que ele circule por outros meios que não apenas a escola e os livros. Dessa forma, difuso e descentrado, altera a nossa forma de ler a realidade permitindo que o conhecimento possa se dar em vários outros espaços e em outras temporalidades que não apenas no espaço/tempo escolar.

Entrementes, considerando a importância da ação comunicativa nos espaços educativos formais e não formais, Soares (2011, p.44) acrescenta um novo sentido ao conceito proposto por Martín-Barbero ao definir o Ecossistema Comunicativo como “algo a ser construído, no horizonte do devir: um sistema complexo, dinâmico e aberto, conformado como um espaço de convivência e de ação comunicativa integrada”.

Diante do exposto e considerando a importância e a centralidade da concepção de Ecossistema Comunicativo para o campo da Educomunicação é necessário compreender como esse campo entende o Ecossistema Comunicativo. Para isso, realizamos uma RSL dos artigos de pesquisadores da Educomunicação. Descreveremos a seguir a metodologia utilizada para a seleção e análise dos artigos científicos.

 

Metodologia

O estudo foi desenvolvido por meio de uma RSL com a qual procuramos mapear as contribuições acerca da temática em questão.

Kitchenham e Charters (2007) afirmam que a RSL tem o objetivo de identificar, avaliar e interpretar estudos já realizados a respeito de um determinado tema. Para a realização do método, os autores destacam que ele é pensado em três momentos: planejando, conduzindo e por fim, relatando a RSL. O primeiro momento, segundo os autores, é reservado para a definição da pergunta que guiará a RSL, bem como para a definição das palavras-chave e das bases de dados, além disso os autores também propõem o refinamento das palavras-chave a partir de uma primeira busca. O segundo momento é reservado para a execução das buscas nas bases definidas, para o download e armazenamento das buscas, a definição dos critérios de inclusão e exclusão e por fim a seleção dos artigos. Já a última etapa proposta pelos autores é a extração das respostas relacionadas às questões e objetivos da RSL. Dentre as vantagens da RSL os autores elucidam que, se feita corretamente, o método torna menos provável que os resultados da literatura sejam repetidos. Ainda de acordo com Kitchenham e Charters (2007), a principal desvantagem da RSL é que ela exige um esforço consideravelmente maior do que as revisões tradicionais da literatura.

O objetivo da presente RSL é apresentar e analisar a concepção de Ecossistema Comunicativo de pesquisadores do campo da Educomunicação. Sendo assim, buscamos resposta para a seguinte questão: como o conceito de Ecossistema Comunicativo é concebido pelos pesquisadores no campo da Educomunicação?

 As buscas ocorreram nos meses de abril a setembro de 2020 nas bases da Scielo, REdAlyc (Red de Revistas Científicas da América Latina y el Caribe, España y Portugal), ASP (Academic Search Premier) e Scopus, nos quais buscamos artigos com os descritores “Ecossistema Comunicativo”, “Ecossistemas Comunicativos” e “Educomunicação”. Delimitamos como critérios para a escolha dos artigos a serem estudados que os mesmos apresentassem o conceito de “Ecossistema Comunicativo” relacionado ao campo da Educomunicação. Após a primeira busca pelas bases de dados, citadas anteriormente, encontramos 149 artigos com os descritores “Ecossistema Comunicativo”, “Ecossistemas Comunicativos” e “Educomunicação” em Português. A partir dos critérios adotados, foram selecionados 04 estudos na base de dados REdAlyc (Red de Revistas Científicas da América Latina y el Caribe, España y Portugal), 01 na Scielo, 01 na ASP (Academic Search Premier) e 01 na Scopus, totalizando 07 artigos, de acordo com o Fluxograma apresentado na figura 1.

 

 

Quadro 1 - Etapas da pesquisa

 

 

Descrição

Etapa 01

Resultado geral de 149 artigos encontrados nas bases de acordo com os descritores: “Ecossistema Comunicativo”; “Ecossistemas Comunicativos” e “Educomunicação”.

Etapa 02

Seleção para análise conforme critérios de inclusão após a leitura do título, resumo e desenvolvimento dos artigos: foram considerados apenas os 20 estudos em que o termo “Ecossistema Comunicativo” é apresentado na perspectiva da Educomunicação.

Etapa 03

Após a leitura dos artigos, foram considerados apenas os 07 estudos que apresentaram explicitamente o conceito de “Ecossistema Comunicativo” na perspectiva própria dos autores, ou seja, sem estarem apresentados por meio de citação de outro(s) autor(es).

 

Fonte: Elaborado pelas autoras

 

 

 

 

 

 

Figura 1 – Fluxograma dos artigos selecionados para o estudo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


            Fonte: Desenvolvido pelas autoras

 

Após a leitura dos sete artigos selecionados, elaboramos um quadro considerando os seguintes itens: base de dados, autor, ano, título do artigo, termo utilizado e base epistemológica do conceito.

 

 

 

Quadro 2 – Estudos envolvendo o conceito de Ecossistema Comunicativo na perspectiva da Educomunicação

 

 

Base, Autor e Ano

Artigo

Termo Utilizado

Base Epistemológica do Conceito

REDALYC

Nádia C. Lauriti

(1999)

Ecologia das relações comunicacionais: de paredes... a pontes...

Ecossistema Comunicativo

Ecossistema Educomunicativo

DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix (1995);

MARTÍN-BARBERO, Jesús (1997);

SOARES, Ismar de Oliveira (1995).

Juvenal Zanchetta Jr

(2009)

Educação para a mídia: propostas europeias e realidade brasileira

Ecossistema Comunicativo

MARTÍN-BARBERO, Jesús (1997);

SOARES, Ismar de Oliveira (1995, 2009).

Ismar de Oliveira Soares

(2009)

Caminos de la educomunicación: utopías, confrontaciones, reconocimientos

Ecossistema Comunicativo

MARTÍN-BARBERO, Jesús (2002);

SOARES, Ismar de Oliveira (1998, 1999, 2000, 2002, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008).

Felipe Chibás Ortiz

(2012)

Educomunicação na gestão educacional criativa em projetos corporativos ead: um estudo de caso

Ecossistema Comunicativo

CITELLI, Adilson Odair (2011);

SOARES, Ismar de Oliveira (2003, 2011).

ASP

Doriele Andrade  Duvernoy

Jean-Claude Régnier

(2012)

A educomunicação como princípio indissociável da extensão universitária, do protagonismo juvenil e da coesão social: o caso da Rede Coque Vive

Ecossistema Comunicativo

 

FREIRE, Paulo (1977);

KAPLÚN, Mario (1997);

SOARES, Ismar de Oliveira (2005).

SCIELO

Camila Alvarenga,

Rafael Aquino,

José Marcio Barros,

Núbia Braga Ribeiro.

   (2014)

A comunicação no plano nacional de educação do Brasil: uma aproximação crítica

 

Ecossistema Comunicativo

Ecossistemas Comunicativos

Ecossistemas Comunicacionais

 

 

LÉVY, Pierre. (2004);

MARTÍN-BARBERO, Jesús. (1997, 2014)

OROZCO GOMES, Guillermo (2014)

SOARES, Ismar de Oliveira (2002, 2011).

SCOPUS

Bianca Liège Barreiro de Araujo;

Jackson Bandeira do Nascimento;

Jaedis Dutra Caiçara;

Lígia Beatriz Carvalho de Almeida

    (2017)

Educomunicação: a inovação da práxis através da expressão fotográfica

 

Ecossistemas Comunicativos

Ecossistema Comunicativo

 

 

ALMEIDA, Ligia B. C.  (2016)

MARTÍN-BARBERO, Jesús. (2002)

SOARES, Ismar de Oliveira. (1999, 2002, 2011, 2014)

 

 

                                            Fonte: Desenvolvido pelas autoras

 

A partir dos dados dos artigos selecionados, demonstrados no quadro acima, a seguir nos propomos a apresentar os resultados obtidos na RSL quanto às concepções de Ecossistema Comunicativo apresentadas pelos pesquisadores do campo da Educomunicação.

 

Apresentação dos resultados obtidos na RSL

Nessa seção, conforme os objetivos do estudo, demonstramos os resultados obtidos na RSL identificando os objetivos dos artigos, as concepções de Ecossistema Comunicativo apresentadas pelos pesquisadores do campo da Educomunicação, bem como as bases epistemológicas que ancoram os conceitos de Ecossistema Comunicativo. Apresentaremos os resultados a partir de cada artigo, individualmente.

Ecologia das relações comunicacionais: de paredes... a pontes...

O estudo de Lauriti (1999) buscou trazer à reflexão os processos envolvidos numa pedagogia da comunicação, considerando o papel nuclear da emoção como moduladora dos processos cognitivos. De acordo com a autora o Ecossistema Comunicativo configura uma ecologia das relações interpessoais e pode ser entendido como “pluricêntrico, que se reconstrói a cada instante a partir de cada um dos seus centros, sempre em constante interação” (LAURITI, 1999, p. 39-40). Sem fazer distinção dentre os termos, a autora nos alerta acerca do desafio dos espaços educativos na criação de um Ecossistema Educomunicativo

que contemple, ao mesmo tempo, experiências sensoriais e culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da comunicação, além de ressignificar o espaço educacional como lugar onde a construção do conhecimento preserve o seu encanto de encontro dialógico.  (LAURITI, 1999, pg. 42).

Lauriti (1999) apresenta como base epistemológica para o conceito os autores:  DELEUZE e GUATTARI (1995); SOARES (1995) e MARTÍN-BARBERO (1997).

Educação para a mídia: propostas europeias e realidade brasileira

Zanchetta Jr. (2009) partiu do estudo das práticas relacionadas à educação para a mídia propostas no cenário europeu para evidenciar que, embora as sugestões europeias dialoguem com boa parte das ideias prestigiadas no Brasil, por tratarem de um contexto diverso, elas tendem a dificultar o tratamento de questões essenciais a um programa de trabalho sobre mídia na escola brasileira.

Nesse contexto, o autor relaciona os Ecossistemas Comunicativos com os Meios de Comunicação. Ele afirma que com a criação de Ecossistemas Comunicativos, a partir do uso dos Meios de Comunicação, “os estudantes encontrariam espaço para a expressão e para a compreensão da dinâmica da comunicação midiática” (ZANCHETTA JR, 2009, p. 1114).

Como base epistemológica para o conceito de Ecossistema Comunicativo, o autor apresenta MARTÍN-BARBERO (1997) e SOARES (1995, 2009).

Caminos de la educomunicación: utopías, confrontaciones, reconocimientos

O estudo de Soares (2009) intitulado “Caminos de La Educomunicación: utopías, confrontaciones, reconocimientos” assumiu a hipótese de que a educomunicação se consolida como campo de diálogo que mobiliza grandes estruturas. Identificou quatro movimentos que se articulam para garantir sua especificidade: a recepção qualificada, a educação popular, a articulação coletiva para a mudança social e, a partir dos últimos anos, o reconhecimento da educomunicação como direito de todos, alcançado tanto mediante ações de um sem-número de organizações não governamentais que a assumem como metodologia de ação, quanto mediante de planos globais de políticas públicas.

O autor entende os Ecossistemas Comunicativos, nos contextos educativos formais e informais, como espaços

abiertos y dialógicos, favorecedores del aprendizaje colaborativo a partir del ejercicio de la libertad de expresión, mediante el acceso y la inserción crítica y autónoma de los sujetos y sus comunidades en la sociedad de la comunicación, teniendo como meta la práctica ciudadana en todos los campos de la intervención humana en la realidad social (SOARES, 2009, p. 202).

O autor apresenta MARTÍN-BARBERO (2002) e SOARES (1998, 1999, 2000, 2002, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008) como bases epistemológicas para o conceito de Ecossistema Comunicativo.

Educomunicação na gestão educacional criativa em projetos corporativos ead: um estudo de caso

O estudo de Ortiz (2012) teve como objetivo principal mostrar a aplicabilidade e as vantagens em se utilizar o enfoque educomunicacional no ensino a distância de adultos em ambiente corporativo. Para alcançar o seu objetivo, o autor debateu sobre o conceito de Gestão Educacional e apresentou uma aproximação ao conceito de Gestão Educacional Criativa, distinguindo-o da Gestão Educacional Tradicional.

Ortiz (2012, p. 12), a partir da perspectiva educomunicacional, afirma que os Ecossistemas Comunicativos se caracterizam por espaços que “podem ser virtuais ou presenciais, formais ou não formais.” Ainda de acordo com o autor, tais espaços comunicacionais se configuram como:

sistemas abertos, complexos e dinâmicos no qual convivem e se comunicam de forma integrada e criativa diversas linguagens (escrita, visual, auditiva, multimídia, etc.) provenientes de diversas fontes (professor, alunos, comunidade, redes sociais, instituições, outros atores sociais, etc.) (ORTIZ, 2012, p. 12).

Ortiz (2012) apresenta como base epistemológica para o conceito os autores: CITELLI (2011) e SOARES (2003, 2011).

A educomunicação como princípio indissociável da extensão universitária, do protagonismo juvenil e da coesão social: o caso da rede Coque Vive

Andrade-Duvernoy e Régnier (2012) buscaram discutir a importância da intersecção entre a extensão universitária e os princípios da   Educomunicação com a apresentação do   projeto de extensão “Coque Vive:  comunicação, educação e cultura” (UFPE- Recife).  As ações desenvolvidas no projeto permitiram aos autores identificar como os princípios da Educomunicação podem contribuir no enriquecimento das ações extensionistas, na promoção do protagonismo juvenil e da coesão social.

Nesse sentido, Andrade-Duvernoy e Régnier (2012, p. 159) ancorados na perspectiva da Educomunicação, destacam que o Ecossistema Comunicativo se configura como um espaço de comunicação regido pelos princípios de “acesso democrático à produção e à difusão da informação, de uso criativo das Mídias, de expressão comunicativa dos membros de uma comunidade e de gestão comunicativa”.

Os autores apresentam FREIRE (1977), KAPLÚN (1997) e SOARES (2005) como base epistemológica para pensar os Ecossistemas Comunicativos.

A comunicação no plano nacional de educação do brasil: uma aproximação crítica

O objetivo de Alvarenga et.al (2014) no artigo é refletir sobre o tratamento que o atual Plano Nacional de Educação no Brasil (PNE 2014-2024) dá à questão da comunicação. Para tanto, os autores partem dos conceitos de Educomunicação e Ecossistema Comunicativo, em sua primeira parte, buscando estabelecer uma relação conceitual entre comunicação e educação. Após a reflexão conceitual proposta no artigo, os autores caracterizam o Ecossistema Comunicativo como dinâmico e plástico, marcando a vida nas sociedades contemporâneas, especialmente dos jovens.

  Nesse sentido, para Alvarenga et.al (2024) o Ecossistema Comunicativo

é conformado por novas máquinas e meios, mas principalmente por novas linguagens, novos padrões de escrita e novos saberes, além da hegemonia da experiência audiovisual e a integração da imagem no campo da produção de conhecimentos. (ALVARENGA et.al, 2014, p. 71-72)

 Como base epistemológica, para o conceito de Ecossistema Comunicativo, os autores apresentam LEVY (2004); MARTÍN-BARBERO (1997, 2014); OROZCO GOMES (2014) e SOARES (2002, 2011).

Educomunicação: a inovação da práxis através da expressão fotográfica

O artigo de Araujo et.al (2017) tem por objetivo geral apresentar uma intervenção Educomunicativa, conforme designada pela Educomunicação, na área de intervenção de Expressão Comunicativa pelas Artes. O trabalho mostra os resultados obtidos na proposta de expressão através da linguagem fotográfica, onde os alunos mesmos tiveram voz retratando temas como: machismo, racismo, gordofobia, estrutura escolar, entre outros temas de interesse coletivo. Nesse contexto, para os autores os Ecossistemas Comunicativos são redes de comunicação caracterizadas conforme os objetivos da Educomunicação, ou seja, 

espaços de fluxos comunicativos sem hierarquias, emancipatórios, com informações acessíveis, que facilitem a aprendizagem e que possibilitem aos alunos, na educação formal, o poder de ter voz no ambiente escolar. (ARAUJO, et.al. 2017, p. 402)

Os autores apresentam ALMEIDA, Ligia B. C. (2016), MARTIN-BARBERO (2002) e SOARES (1999, 2002, 2011, 2014) como base epistemológica para o conceito de Ecossistema Comunicativo.

 

Discussão dos artigos acerca da concepção de ecossistema comunicativo

 Com o objetivo de analisar como pesquisadores concebem o conceito de Ecossistema Comunicativo, na perspectiva da Educomunicação, percebemos que as primeiras produções científicas que fazem menção ao conceito de Ecossistema Comunicativo coincidem com início dos estudos no campo da Educomunicação no final da década de 1990. No ano de 1999, registramos o artigo de Lauriti e após dez anos uma maior produção. Dos sete artigos selecionados na RSL observamos que no período de dezoito anos, de 1999 a 2017, tivemos um aumento significativo na produção científica a partir de 2009, momento em que o campo da Educomunicação começa apresentar indícios da sua consolidação com a criação de dois cursos de graduação na área, um bacharelado, na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba (2010), uma licenciatura, pela USP, em São Paulo (2011), bem como a criação de cursos de Especializações.

Na RSL evidenciamos ainda a expressiva influência e contribuição epistemológica de Jesús Martín-Barbero e Ismar de Oliveira Soares na concepção de Ecossistema Comunicativo dos autores. A visão de Martín-Barbero é observada quando os autores caracterizam o Ecossistema Comunicativo como um espaço complexo, permeado pelas tecnologias as quais alteram as novas formas de ser, estar e de construir o conhecimento no mundo e, consequentemente, nos contextos educativos escolares. Já a influência de Soares pode ser evidenciada nos autores que entendem os Ecossistemas Comunicativos como um espaço de comunicação que deve ser criado e fortalecido nos contextos educativos formais e não formais com características específicas e condizentes com uma comunicação dialógica, participativa e democrática, conforme os princípios que deram origem ao campo da Educomunicação.  

 Na RSL evidenciamos também que os autores utilizam os conceitos: Ecossistema Comunicativo, Ecossistemas Comunicativos, Ecossistema Comunicacional e Ecossistema Educomunicativo como sinônimos, apresentando semelhanças nas suas concepções, demonstradas por meio de uma nuvem de palavras onde constam as palavras-chave mais recorrentes nos artigos selecionados.


Figura 2 - Nuvem de palavras-chave da concepção de Ecossistema Comunicativo

 

 

Fonte: Desenvolvido pelas autoras

 

Na nuvem de palavras-chave, elaborada a partir dos resultados obtidos na RSL, evidenciamos que os autores do campo da Educomunicação se referem ao conceito de Ecossistema Comunicativo como um espaço de comunicação, dinâmico e complexo que deve ser criado e fortalecido na área de gestão da comunicação. Contudo, não se trata de qualquer modelo de comunicação. Os autores destacam a necessidade de promover uma gestão da comunicação mais aberta, dialógica, participativa e democrática, se favorecendo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) contemporâneas e das mídias. Sendo assim, os Ecossistemas Comunicativos têm o potencial de promover a expressão, dando voz aos jovens no processo de aprendizagem, em diferentes contextos educativos presenciais ou virtuais, formais e não formais.

Nesse sentido, destacamos que, para os autores da RSL, os Ecossistemas Comunicativos na perspectiva da Educomunicação devem estar ancorados num modelo de comunicação específico, ou seja, condizente com uma prática pedagógica educomunicativa que se caracteriza por ser dialógica, participativa e democrática desenvolvida nos contextos educativos formais e não formais, presenciais e virtuais.

Os resultados obtidos na RSL nos fazem refletir sobre a necessidade de compreendermos a qual Ecossistema Comunicativo se refere o campo da Educomunicação.  Para tanto, na seção das considerações e proposições iniciais buscamos refletir sobre a possibilidade de pensarmos em um Ecossistema Comunicativo específico: um Ecossistema Educomunicativo

 

Considerações e proposições iniciais

Entendemos que a Educomunicação é ainda um campo de conhecimento emergente, por isso, ressaltamos a importância da realização de pesquisas que construam o conhecimento do campo levando em conta conceitos centrais tais como o de Ecossistema Comunicativo.

O conceito de Ecossistema Comunicativo é utilizado em diferentes áreas do conhecimento para se referir aos espaços comunicativos, quer seja no ambiente empresarial, associação de bairros, hospitais, dentre outros. Contudo, foi nos contextos educativos formais e não formais que, a partir da concepção de Martín-Barbero, Soares (2011, p.44) amplia o conceito referindo-se ao Ecossistema Comunicativo como “algo a ser construído, no horizonte do devir: um sistema complexo, dinâmico e aberto, conformado como um espaço de convivência e de ação comunicativa integrada”.

Considerando a concepção de Soares e refletindo sobre a criação e fortalecimento de Ecossistemas Comunicativos, no contexto da educação formal, concordamos com Sartori (2010, p. 46) quando a autora afirma que “preocupar-se com ecossistemas comunicativos em espaços educacionais é levar em conta que a escola é espaço complexo de comunicações, no qual o educador deve considerar o entorno cultural do aluno e seus pares de diálogo.”

 Para estabelecer uma relação dialógica nas escolas, de acordo com a autora, será necessário repensar as práticas pedagógicas. A escola inserida no contexto da Cultura Digital deve considerar as diferentes maneiras de relação e apropriação que seu estudante mantém com o conhecimento e a cultura. Já não pode mais acreditar que, baseando-se em uma comunicação vertical e unilateral, no desenvolvimento de suas práticas pedagógicas será capaz de atender as necessidades que emergem diariamente junto com as referências midiáticas que cercam seu estudante.

Pensar em Ecossistemas Comunicativos é pensar na maneira como sujeitos de um determinado espaço se relacionam e dialogam. Esses modos de comunicação na escola impactam no ecossistema de aprendizagem configurando-o como mais ou menos colaborativo, mais ou menos participativo, mais ou menos autônomo. Nesse sentido, considerando o contexto da educação escolar, faz-se necessário pensar os Ecossistemas Comunicativos numa perspectiva que considere não somente as tecnologias, mas também os modos de comunicação e os processos de aprendizagem. A ênfase, portanto, não se encontra em pensar o papel das tecnologias como elementos que colaboram com as “[...]exigências econômicas e sociais do mundo contemporâneo” (SILVA, 2019, pg. 4), mas sim em desenvolver práticas pedagógicas educomunicativas.

Cabe ressaltar, dentre os artigos selecionados na RSL aqui apresentada, o artigo de Lauriti (1999) no qual faz menção ao termo Ecossistema Educomunicativo como um espaço de aprendizagem que deve preservar o seu encanto de encontro dialógico. A autora anunciava no final da década de 1990, momento em que os estudos do campo da Educomunicação estavam surgindo no Brasil, que o grande desafio da Educomunicação seria o de não sucumbir ao messianismo tecnológico. Além, disso, de acordo com Lauruti, outro desafio seria o de incluir nos espaços educativos um Ecossistema Educomunicativo que

[...] contemple, ao mesmo tempo, experiências sensoriais e culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da comunicação, além de ressignificar o espaço educacional como lugar onde a construção do conhecimento preserve o seu encanto de encontro dialógico”. (LAURITI, 1999, pg. 42).

 

 

Sartori (2021), referindo-se aos processos de aprendizagem e de comunicação nos contextos educativos, contribui com importantes reflexões acerca do conceito de Ecossistema Educomunicativo, afirmando que

Ecossistemas Comunicativos e Ecossistemas de Aprendizagem partilham do mesmo projeto: proporcionar educação no contexto da Cultura Digital.  Quando a concepção de aprendizagem e de comunicação se dá pela ideia da dialogicidade e da ação em rede, temos um Ecossistema Educomunicativo. (SARTORI, 2021, p. 74).

 

Considerando a concepção de Ecossistema Comunicativo de Soares (2011) e os resultados obtidos na RSL, podemos afirmar que o conceito, na perspectiva da Educomunicação, se ancora em um modelo de comunicação específico, caracterizando-se necessariamente como espaços de comunicação dialógicos, democráticos e participativos em contextos educativos formais e informais, presenciais e virtuais. No sentido de ampliar as reflexões e discussões acerca do conceito de Ecossistema Comunicativo, na perspectiva da Educomunicação, consideramos as contribuições de Lauruti (1999) e concordamos com Sartori (2021) quando a autora afirma que se constituem Ecossistemas Educomunicativos, nos espaços educativos, quando os Ecossistemas Comunicativos e os Ecossistemas de Aprendizagem, se configuram como dialógicos e em rede, ou seja, estando em acordo com os princípios da Educomunicação.

 

Referências

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