Inserção de haitianos na Educação Básica em Mato Grosso: percepção de gestores, professores e estudantes

 

Insertion of haitians in Elementary Education in Mato Grosso: perception of managers, teachers and students

 

Inserción de haitianos en la Educación Básica en Mato Grosso: percepción de gestores, docentes y alunos

 

Natália Alves de Moraes

Universidade Federal de Mato Grosso, Mato Grosso, Brasil

dnataliamoraes@hotmail.com

 

Maria Aparecida Campos

Universidade Federal de Mato Grosso, Mato Grosso, Brasil

cidacampos2010@uol.com.br

 

Jane Teresinha Domingues Cotrin

Universidade Federal de Mato Grosso, Mato Grosso, Brasil

janecotrin@gmail.com

 

Recebido em 29 de junho de 2021

Aprovado em 29 de junho de 2021

Publicado em 02 de agosto de 2023

 

RESUMO

Este artigo é fruto de uma pesquisa, de caráter qualitativo, realizada por meio do Programa de Iniciação Científica. O objetivo foi analisar o processo de escolarização de alunos haitianos na cidade de Cuiabá, visando a compreensão dos processos de inserção e adaptação desse público nas escolas de ensino fundamental, assim como apontar as maiores dificuldades e elementos facilitadores nas relações dos haitianos com os profissionais e demais estudantes no ensino brasileiro. Utilizou-se como dados para análise entrevistas semiestruturadas com professores, gestores, alunos haitianos e brasileiros de três escolas públicas de ensino fundamental de Cuiabá. Efetuou-se uma análise de conteúdo, a partir da definição de núcleos de sentido e da organização de temas para análise, sendo todo o processo norteado pela teoria Histórico Cultural e por uma revisão bibliográfica que englobou artigos, livros, dissertações e teses. Os resultados apontam que as dificuldades enfrentadas concernem ao aprendizado da Língua Portuguesa, medo do desconhecido, racismo e xenofobia, fatores desencadeadores de outras dificuldades acadêmicas. Evidencia-se, o esforço dos docentes em acolher os haitianos, que recorrentemente envolve ações despadronizadas dentro da própria instituição de ensino devido à falta de políticas públicas e formação que orientem as escolas e profissionais na recepção dos imigrantes.

Palavras-chave: Imigração haitiana; Educação brasileira; Psicologia escolar e educacional.

 

ABSTRACT

This article is the result of a qualitative research that was desenvolved through the Scientific Initiation Program. The objective was to analyze the schooling process of Haitian students in the city of Cuiabá, aiming to understand the processes of insertion and adaptation of this public in elementary schools, as well as pointing out the greatest difficulties and facilitating elements in the relations of Haitians with professionals and other students in Brazilian education. Semi-structured interviews with teachers, managers, Haitian and Brazilian students from three public elementary schools in Cuiabá were used as data for analysis. A content analysis was realized, based on the definition of sense cores and the organization of themes for analysis, with the whole process guided by Historical Cultural theory and a bibliographic review that encompassed 62 articles, books, dissertations and theses. The results show that the difficulties faced are related to the learning of the Portuguese language, fear of the unknown, racism and xenophobia, factors that trigger other academic difficulties. It is evident, the effort of teachers to welcome Haitians, which recurrently involves actions that are standardized within the educational institution itself due to the lack of public policies and training to guide schools and professionals in how they should receive these immigrants.

Keywords: Haitian immigration; Brazilian education; School Psychology.

 

RESUMEN

Este artículo es el resultado de una investigación cualitativa realizada a través del Programa de Iniciación Científica. El objetivo fue analizar el proceso de escolarización de los estudiantes haitianos en la ciudad de Cuiabá, con el objetivo de comprender los procesos de inserción y adaptación de este público en las escuelas primarias, además de señalar las mayores dificultades y elementos facilitadores en las relaciones de los haitianos con los profesionales y otros estudiantes de la educación brasileña. Se utilizaron como datos para el análisis entrevistas semiestructuradas con profesores, administradores, estudiantes haitianos y brasileños de tres escuelas primarias públicas de Cuiabá. Se realizó un análisis de contenido, a partir de la definición de significados centrales y la organización de temas de análisis, con todo el proceso guiado por la teoría de la Historia Cultural y por una revisión bibliográfica que incluyó artículos, libros, disertaciones y tesis. Los resultados indican que las dificultades enfrentadas se refieren al aprendizaje de la lengua portuguesa, el miedo a lo desconocido, el racismo y la xenofobia, factores que desencadenan otras dificultades académicas. Es evidente, el esfuerzo de los docentes por acoger a los haitianos, que recurrentemente implica acciones no estandarizadas dentro de la propia institución educativa por la falta de políticas públicas y de formación que orienten a escuelas y profesionales en la acogida de inmigrantes.

Palabras-clave: Inmigración haitiana; Educación brasileña; Psicología escolar y educative.

 

Introdução

Esta pesquisa surgiu a partir do contato com a população de imigrantes haitianos na cidade de Cuiabá, Mato Grosso, por meio da experiência de atuação no Grupo de Extensão Multidisciplinar de Apoio a Imigrantes (GEMAIs) da Universidade Federal de Mato Grosso. O Haiti é um país caribenho que passou por diversos desastres naturais durante sua história, sendo mais conhecido o terremoto ocorrido em 2010, que matou aproximadamente duzentas mil pessoas e deixou três milhões desabrigadas (COSTA, 2014). Nesse período, o Brasil estreitou os laços com o Haiti, disponibilizando apoio em forma de vistos humanitários para acolhimento daqueles que migrassem para o território brasileiro (CASTRO; BERNART; BAPTISTA, 2016), o que resultou num exponencial aumento do fluxo migratório de haitianos para o Brasil.

Com o passar dos anos, notou-se um processo de reagrupamento familiar que se dá primeiro com a migração do homem e depois da esposa com seus filhos, o que tem se mostrado como um processo recorrente e cultural do Haiti (SITTA, 2017). A partir desse reagrupamento, as crianças haitianas foram trazidas para o Brasil visando melhores condições de vida e de educação (SANTOS; SANTOS; COTINGUIBA, 2015).

Com base na Constituição de 1988 e na Lei nº 13.445, todos os residentes do Brasil possuem direito ao acesso igualitário à educação pública (BRASIL, 1988). Entretanto, como exposto por Cotinguiba e Cotinguiba (2014), existe uma escassez tanto de políticas educacionais que englobem os imigrantes quanto de pesquisas sobre sua inserção nas escolas brasileiras. Os autores citam, ainda, que há algumas dificuldades a serem enfrentadas com a inserção dos haitianos no ensino brasileiro e expõem a barreira linguística como principal desafio encontrado pelos profissionais de ensino e imigrantes.

Diante desse cenário surgiram os seguintes questionamentos: como tem acontecido os processos de inserção e adaptação dessa população nas escolas de ensino fundamental localizadas em Cuiabá? Quais as maiores dificuldades enfrentadas? Há instrumentos facilitadores no estabelecimento das relações e na inserção dos haitianos no ensino brasileiro?

Para responder a essas perguntas desenvolvemos esta pesquisa, de natureza qualitativa, que teve como objetivo central a compreensão do processo de escolarização de crianças haitianas na cidade de Cuiabá, estado de Mato Grosso. Como objetivos específicos visamos fazer um levantamento do número de alunos haitianos matriculados nas escolas cuiabanas; investigar as dificuldades envolvidas na inserção de imigrantes haitianos no ensino fundamental em escolas cuiabanas; realizar uma análise sobre a percepção dos agentes formadores no que se refere à forma como se dá a inclusão escolar dos haitianos; relatar experiências sobre o processo de socialização entre estudantes brasileiros e haitianos e profissionais das escolas.

A produção de dados para análise foi feita por meio de entrevistas semiestruturadas com alunos brasileiros, haitianos, professores e gestores de três escolas públicas de ensino fundamental localizadas na cidade de Cuiabá. Juntas, no início do ano de 2020, essas instituições de ensino possuíam vinte e dois alunos haitianos, sendo onze da primeira, dez da segunda e um da terceira.

Inicialmente, as escolas foram contatadas para concessão de carta de anuência para a realização da pesquisa. Após o projeto ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Federal de Mato Grosso, credenciado ao Sistema CEP/CONEP, termos de consentimento livre e esclarecido (em português e crioulo) e de assentimento foram entregues aos possíveis participantes e seus responsáveis. Os que concordaram em participar da pesquisa passaram por uma entrevista semiestruturada realizada individualmente num único encontro nas escolas.

Esta pesquisa teve como fundamentação teórica, a Psicologia Histórico-Cultural, cujo maior expoente é L. S. Vygotsky (1896-1934), e se fundamentou na noção de que desenvolvimento e conhecimento estão relacionados ao contexto social e cultural no qual o sujeito se insere, estando esse último em constante reconstrução individual por meio do coletivo (MOREIRA,1999; OLIVEIRA, 2010). Ampara-se ainda, na visão de que a aprendizagem é “necessária e universal no desenvolvimento de características humanas não inatas, mas historicamente formadas” (OLIVEIRA, 2010, p.33). Esse artigo se baseou também em uma revisão de literatura a partir da base de dados do Google acadêmico que englobou livros, dissertações e teses. Os resultados encontrados estão no decorrer do texto.

A realização deste estudo se justificou pela percepção[1] da existência de dificuldades de inserção e de alcance do sentimento de pertencimento da população haitiana na educação brasileira, além de um reduzido número de pesquisas realizadas com ênfase nessa realidade. Essa visão foi corroborada pelos autores Santos, Santos, Cotinguiba (2015), Cotinguiba, Cotinguiba (2014), Castro, Bernart e Baptista (2016). Por fim, cabe trazer a importância de realizar esse estudo focando em seus múltiplos agentes (gestores, professores e alunos haitianos e brasileiros) e nas dificuldades e desafios enfrentados por estes imigrantes no campo da educação brasileira.

Outrossim, cabe aqui citar que, como a pesquisadora que realizou as entrevistas era uma falante somente da língua portuguesa, branca, desconhecida pelas crianças e em posição de autoridade, os alunos podem ter tido dificuldade de se expressar de forma genuína. Portanto, é possível que os resultados obtidos com as crianças reflitam parte da realidade em que estão inseridos e, por isso, buscamos compreender as falas dentro do contexto em que foram emitidas.

 

Metodologia

A entrevista com sete perguntas norteadoras pré-definidas foi realizada com 4 gestores, 10 professores, 9 alunos haitianos e 12 estudantes brasileiros, totalizando 35 entrevistados com idades que variavam de 34 a 57 anos entre os profissionais e de 6 a 10 anos entre os estudantes. Para manter o anonimato dos entrevistados, os gestores foram identificados como G1 a G4, os professores como P1 a P10, os estudantes haitianos como H1 a H9 e os alunos brasileiros como B1 a B12. Houve a citação de um aluno como H na fala de uma gestora, pois o mesmo não foi entrevistado e nem contado como participante da pesquisa. Em duas das entrevistas com alunos haitianos foi necessária a cooperação de uma segunda aluna para tradução simultânea, devido às dificuldades com a língua portuguesa das crianças recém chegadas no Brasil.

A entrevista foi registrada com um gravador de voz e, posteriormente, transcrita e analisada a partir das três fases da Análise de Conteúdo, na modalidade temática, trazida por Gomes (1994): pré-análise; exploração do material; e tratamento dos resultados obtidos com interpretação. As falas foram separadas em núcleos de sentido e organizadas em temas para análise. A partir dessa etapa, a análise dos dados foi efetuada a partir da Psicologia Histórico-Cultural e a revisão de literatura realizada. A apresentação dos resultados foi segmentada pelos temas escolhidos para discussão, tendo esses sido definidos após as entrevistas.

 

Resultados e Análise

Os resultados e análise foram organizados em três grandes temas: dificuldades de alunos haitianos na adaptação à escola brasileira, racismo no cotidiano escolar dos haitianos e acolhimento aos alunos haitianos.

 

Dificuldades de alunos haitianos na adaptação à escola brasileira

Para os gestores, as maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos haitianos no processo de adaptação à escola brasileira se referiram ao idioma, contudo, destacaram que, em geral, aprendem rapidamente o português.

Para eles é a comunicação. [...] eles têm facilidade de aprender outras línguas. (G1)

 Eu acredito que a fala [...] a H2 chegou faz pouco tempo, acho que ela deve ter 20 dias aqui no Brasil e na hora que eu estava falando, era um bingo, eu percebia que ela ficava desatenta. Aí eu falei, “Mas o que que tá acontecendo?” Porque eu mostrava a numeração e ela não entendia, aí o H, que também é [haitiano]: “Ela não sabe”, “Ela sabe sim, a dificuldade dela é porque ela sabe de uma outra maneira. (G2)

 O entendimento. Para criança é mais fácil, mas eu acho que principal é a língua. (P1)

 

A dificuldade imposta pela língua se caracteriza como um problema majoritário dos imigrantes, pois a linguagem tem papel fundamental no desenvolvimento humano. A fala e a oportunidade do falar se mostram essenciais para a ocorrência da comunicação e, por assim dizer, da interação social, da troca de significados e conseguinte formação de sentido para cada signo intrapsíquico existente; fomentam também o desenvolvimento das funções psicológicas superiores e do processo de ensino-aprendizagem (MOREIRA, 1999). Entretanto, para que a linguagem seja compreendida por ambas as partes, deve estar dentro do mesmo sistema simbólico, sendo nesse caso, a língua portuguesa.

Os pesquisadores Santos, Santos e Cotinguiba (2015) constatam que, para que crianças haitianas sejam incluídas na comunidade brasileira local, necessitam aprender o português e se inserir nas escolas. É por meio da compreensão do idioma falado que se permite “a transmissão dinâmica (de inter para intrapessoal) do conhecimento social, histórico e culturalmente construído” (MOREIRA, 1999, p.112). Além disso, André (2016) aponta que se deve ter como prioridade, num primeiro momento, não o domínio completo da língua, mas o ensino do vocabulário básico do cotidiano para que esse imigrante se torne capaz de socializar com seus colegas e professores, dando-lhe a capacidade de se fazer entender e se sentir seguro no ambiente escolar.

Uma atenção especial deve ser dirigida a esse tópico, pois “o crescimento intelectual da criança depende de seu domínio dos meios sociais de pensamento, isto é, da linguagem” (VIGOTSKI, 2003, p. 63). É interessante notar que a fala da G2 valoriza o conhecimento anterior da H2, compreendendo a necessidade de se ressignificar os signos da criança imigrante, dando-lhes novos significados e sentidos através do ensino na nova língua.

Já no caso dos haitianos, a maior parte deles expressou não se recordar de empecilhos. Apenas quando questionados especificamente sobre o aprendizado da Língua Portuguesa relataram:

 

Conhecer melhor os brasileiros. Aprender alguns nomes, foi muito difícil pra mim. [...] Pra entender o que eles falavam, porque eu só sabia algumas coisas. (H8) 

Você não falava português, né, quando você chegou?[2] Não. [...] Muito difícil. E você aprendeu como? Foi em casa, foi aqui (na escola)? Foi aqui. E demorou muito? Demorou. (H4)

 

A fala da H8 confirmou a discussão realizada sobre a importância do aprendizado da linguagem e Santos, Santos e Cotinguiba (2015, pp.4-5) apontam que:

Os primeiros meses são sempre os mais difíceis, pois a língua, a cultura e o sistema em que está organizado o país é diferente do país de onde veio. Inserir-se em uma nova sociedade requer tempo, o impacto causado por essa nova realidade faz com que o imigrante de um modo geral, principalmente as crianças, se fechem. O que é natural, mas tem caráter negativo para a inserção. 

 

Entretanto, aprender uma nova língua nem sempre se configura como um dificultador, como no caso do H3 que aprendeu a língua portuguesa rapidamente. Sua colocação corrobora a fala dos profissionais que apontam um rápido aprendizado. A rapidez na aprendizagem de uma segunda língua por crianças se mostra possível devido à neuroplasticidade cerebral nesse período do desenvolvimento ser mais intensa (BONI; WELTER, 2016).

Os estudantes brasileiros, quando perguntados se viam os haitianos passando por alguma dificuldade na escola, citaram:

 

Ele tinha dificuldade de falar o português correto e às vezes ele tinha dificuldade para escrever. (B7)

Às vezes, na hora de escrever. [...] Eu pensei, que ele devia ser diferente da gente, que ele não ia entender. [...] ele não entendeu um pouco. Mas ele tá conseguindo agora (B10)

Parte de ler. Ele tem muita dificuldade nisso. (B12)

 

Ao mesmo tempo que se nota as dificuldades dos haitianos, compreende-se que há profissionais que apresentam distintas maneiras de lidar com as diferenças e necessidades dos alunos. O manejo já cotidiano com os alunos, pela existência das mais diversas dificuldades, mesmo antes da chegada dos alunos imigrantes, pareceu contribuir para essa relação.

Todavia, constatou-se não haver políticas educacionais que orientem os profissionais com relação aos imigrantes ainda que haja projetos não oficiais da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso, como o “Educação para Imigrantes” [3](FRANÇA, 2016). O projeto não foi citado nenhuma vez pelos entrevistados da pesquisa, o que representa que não foi socializado e/ou reconhecido por eles.

A diferença linguística aqui aparece como problema central enfrentado pelos haitianos, seguido pelo medo do desconhecido:

 

[...] essa questão mesmo do medo, de não conhecer, do novo. (P8)

 

As crianças haitianas enfrentam um processo mais intenso por não se tratar apenas de um ambiente e núcleo social novo, mas também de todo um contexto cultural e linguístico nunca visto. Como exposto por André (2016, p.60), o imigrante deve se adaptar aos “tipos de comidas existentes no lugar, ao clima, ao idioma, aos horários sociais, ao estilo de vida, às estruturas gerais que já estão preestabelecidas”.

Racismo no cotidiano escolar dos haitianos

O racismo, no Brasil, situa-se nas condições estruturais da sociedade e que perpassam as dimensões políticas e econômicas, trazendo graves consequências para a dimensão subjetiva de seus principais alvos, que são os grupos de populações afrodescendentes.

As entrevistas trouxeram relatos de estudantes de ambas as nacionalidades e de uma gestora que apontam o racismo presente no cotidiano escolar.

 Aqui todo mundo é preconceito. [...] Não é só comigo não. É com todos. (H5)

 Alguns coleguinhas da sala ficavam dizendo que ele veio da África, coisas assim, e ele fica meio sem graça. Quando algum colega fala umas coisas sobre a raça dele. (B6) 

 Antes ele sofria vários bullyings por ele ser do Haiti. Só que hoje em dia ele não tem mais esse preconceito. (B7)

 [...] o menino [brasileiro] falou assim pro filho [haitiano] dele “Você não tem que ficar aqui, você tem que voltar pro Haiti”, então nisso ele ficou muito chateado. Aí a gente foi e fez a intervenção [...] Teve um que falou assim “você não pode estudar aqui, porque você não é brasileiro”, eu falei assim “não, ele tem o mesmo direito, o mesmo direito que você tem, eles têm! Ainda mais ainda, porque eles sofreram em outro país e eles estão sendo acolhidos aqui". Aí a gente sempre busca dos professores serem orientados a estar atentos, a observar o que que tá se passando. (G1)

 É como se fosse uma pessoa normal de cor.… de outra cor. Eu como professor, eu considero ela... acima de tudo ser humano. Então, para mim eu trato assim, como se fosse... normal. (P3)

Inicialmente, entendemos a fala de G1 como xenofobia, ou seja, um preconceito contra aquilo que está estranho ao meio. Porém, com o aprofundamento das discussões, entendemos que é o racismo, na sua dimensão institucional e pessoal. Nesse caso, a xenofobia, que existe, está balizada pelo racismo. Assim, com ou sem intenção, as crianças sentem diferentes medidas adotadas pelos professores como preconceito. O relato do aluno H5 trouxe duas experiências em que se sentiu desfavorecido por professores de sua escola e associa tais experiências com o fato de ser haitiano:

 A tia não deixou eu ir beber água... “Eu posso ir beber água?”, “Não” [...] eu estava sentado em uma mesa, e ela (professora) falou pra eu sair, pra eu sentar no chão, tava todo mundo sentado no chão. E outro guri brasileiro sentou (na cadeira) e aí depois (professora) deixou. Depois eu falei “por que você deixou?”, “Porque não é só você” [...] eu fiquei tão bravo porque ela nunca vê. (H5)

Já os artifícios linguísticos no discurso do P3 revelaram a presença intensa do racismo quando dá ênfase à tentativa de tratar pessoas de cores diferentes “como se fosse uma pessoa normal de cor” e “trato assim, como se fosse... normal”. O racismo nem sempre aparece de forma explícita e pode também não ser percebido pelo próprio falante por estar enraizado nos discursos. Nesse contexto, Alexandre (2019, p.95) expõe que “os haitianos aqui experimentam o racismo que ora se manifesta por ações polidas, ora por brincadeiras e ora por detalhes, um olhar, um aceno, uma recusa de toque, uma crítica indireta”.

O racismo vai além do plano consciente, individual e familiar, sendo também estrutural, permeando todas as instituições brasileiras. Bersani (2017) aponta que o racismo está intrínseco no inconsciente da sociedade e visa manter e recriar tanto as desigualdades para a população negra, quanto a posição dos que estão em situação de privilégio. O autor, explica o racismo estrutural como:

 

 [...] um sistema de opressão cuja ação transcende a mera formatação das instituições, eis que perpassa desde a apreensão estética até todo e qualquer espaço nos âmbitos público e privado, haja vista ser estruturante das relações sociais e, portanto, estar na configuração da sociedade, sendo por ela naturalizado (pp. 380-381).

Com base em pesquisas realizadas por Oliveira (2012 apud CUNHA, 2015), André (2016), Assumpção e Aguiar (2019), e Dutra e Gayer (2015), pode-se constatar que esse tipo de tratamento aparece de forma regular direcionado à população imigrante, mais especificamente, às populações originadas de países vistos como inferiores culturalmente no imaginário da população de acolhida (ANDRÉ, 2016). Neste cenário, a interseccionalidade de fatores que fazem parte da constituição do imigrante fará toda a diferença pois “a experiência de ser um aluno estrangeiro americano branco não vai ser a mesma de ser um aluno da África do Sul negro ou um aluno chileno indígena em uma escola brasileira” (ANDRE, 2016, p. 62). Desta forma, deve-se considerar que a possível exclusão dessa população pela comunidade brasileira vai além da visão única acerca dos imigrantes, mas reúne fatores como a discriminação racial, situações socioeconômicas e problemas de comunicação, por conta da falta do domínio do português (DE SÁ; SILVA, 2016).

O racismo é um fenômeno ancestral e está totalmente imbrincado na nossa cultura que dispõe de instrumentos que o perpetuam. E é ao longo do desenvolvimento que “pelas esferas da apropriação, subjetivação e objetivação da cultura”, as funções psicológicas superiores são constituídas a partir da apresentação do mundo exterior, absorvido para o intrapsíquico, ganhando novos significados (CAMARGO, 2019, p.63), sendo esses também mutáveis com o passar do desenvolvimento da criança (FONTES, VIGOTSKY, 1998).

A partir da teoria Histórico Cultural, pode-se dizer que a visão cultural construída pelos brasileiros acerca dos imigrantes haitianos vai sendo passada entre gerações e internalizada desde o desenvolvimento infantil. Ao mesmo tempo, sabe-se que a cultura e a constituição dos signos não são estáticas e mesmo servindo de base não se configuram como forma final, podendo ser alteradas. Encontra-se, na escola, como ambiente transformador, a tarefa de modificar a visão xenófoba e racista perante a imigração haitiana, auxiliando na ressignificação de signos e sentidos e, trabalhando a questão da igualdade e valorização da cultura de outros povos. Já que, como exposto por Vygotsky (2003, p.151), “o significado das palavras evolui”.

 

O acolhimento aos alunos haitianos

A despeito das dificuldades citadas, entendemos que a escola se mostrou acolhedora. Utilizamos a definição de acolhimento que implica em trabalhar com o aluno e sua família (LAMARE, 2018) através de uma escuta sensível que tem como objetivo compreender suas necessidades e pensar possíveis formas de reorganização escolar para atendê-las (KRAMER, 2009). O acolhimento envolve:

[...] cuidar e educar, como forma de garantir a aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o estudante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na comunidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que lhe possibilitem ainda sentir-se como produtor valorizado desses bens (BRASIL, 2013, p.70).

Compreendemos que tanto professores quanto alunos brasileiros e, fundamentalmente, os próprios colegas haitianos criaram situações de acolhimento e integração do aluno haitiano na escola.

Os professores, todo mundo... é como se eles fossem meus parentes, minha família. Eu amo tudo aqui na escola. (H8)

Os estudantes brasileiros, ao lembrarem do primeiro dia em que o colega haitiano participou das atividades escolares, dizem ter pensado:

É legal ter uma pessoa diferente. [...] Aí eu conversei com ele e... Foi aumentando a minha amizade com ele. (B4)

A professora foi explicando que ele era de outro país, aí eu fui começando a gostar dele. Aí ele foi virando meu amigo. (B9)

Ah, eu achei meio estranho de ele ter chegado aqui. Mas aí depois eu acostumei com ele. A sua professora falou alguma coisa?  Não. Ele só chegou. (B12)

As falas analisadas apontaram que muitos alunos brasileiros se mostraram espontaneamente receptivos, começando contatos amigáveis com os haitianos. Segundo Aita e Tuleski (2017), a comunicação com os demais alunos possibilita à criança ser capaz de transmitir e receber conhecimentos, o que servirá de base para impulsionar seu desenvolvimento. É, portanto, através das primeiras interações (comunicação) dos alunos brasileiros com os estrangeiros que o acolhimento poderá se iniciar e é a partir desse que se origina uma comunicação  mais integrativa, o que pode propiciar uma criação de vínculo e melhores condições de desenvolvimento para as crianças de ambas as nacionalidades.

No caso da aluna B12, percebeu-se um estranhamento perante a inserção do colega haitiano em sua classe, mostrando que sua entrada na escola, para essa aluna específica, foi repentina e aparentemente, não explicada pelos professores, fator que pareceu fazer falta. Ainda assim, com o passar do tempo, esse estranhamento foi superado.

Por parte da gestão das escolas, profissionais informaram não existir um processo de acolhimento específico:

 

Igualzinho pra todos. (G3)

O acolhimento é normal, com as famílias. (G4)

Alguns professores citaram ações diferenciadas como a preparação dos alunos brasileiros, através de conversas prévias à chegada dos haitianos sobre suas origens e prováveis dificuldades linguísticas; o uso da sala de apoio e de figuras para um processo de alfabetização mais rápido; o agrupamento de alunos haitianos já fluentes no português com os ainda não fluentes para auxiliar na comunicação; a inclusão da família no acolhimento; a orientação pedagógica específica para os servidores; e o direcionamento de um olhar mais atento aos haitianos nessa fase. Cabe dizer, que essas ações se dividem entre as escolas visitadas, não sendo necessariamente adotadas em todas. Até mesmo nas escolas em que ocorrem essas intervenções, as mesmas não são desenvolvidas obrigatoriamente por todos os professores, já que o modo de realizar esse acolhimento é decidido individualmente por cada docente, em alguns casos sendo orientado pela gestão da instituição.

[...] a gente tá fazendo um trabalho com ela [H3], até aqui na sala de apoio, usei ela muito. Falava que ela era minha intérprete porque ela sempre me auxiliava no acolhimento com os novos haitianos. Porque ela entrou, se adaptou, aí daqui a pouco vinha outros haitianos e a gente fazia o agrupamento com eles para que eles pudessem se comunicar. (P2)

Eu conversei muito com os alunos sobre ele, a dificuldade que ele tinha de se comunicar [...] mas eu também conversava muito com ele. (P8)

Na questão pedagógica, na questão da aprendizagem. A gente tem sempre que estar preparando atividades diferenciadas para eles [haitianos] e esse contato com a família também tem que ser mais ativo. (P1)

            A cada escola cabe o papel de definir quais serão as medidas de acolhida aos imigrantes, sendo essas iguais ou diferentes das existentes para os brasileiros. Isso se dá devido à falta de políticas que orientem as instituições em relação ao acolhimento e inclusão desses alunos nas escolas brasileiras (RODRIGUES; RAMOS; RAMOS, 2018). Esta realidade é facilmente observável na forma como cada professor lida com a acolhida em sua sala de maneira diferente. Notamos que, por recomendação de duas das três gestoras, a conversa com a família do imigrante tornou-se parte do processo de acolhimento, enquanto ações específicas para o acolhimento dos haitianos pelos estudantes brasileiros ainda são decididas pelos professores, individualmente, não aparecendo nos relatos de alguns dos docentes.

Os profissionais enfrentam diversos desafios devido à falta de orientações, já que o acolhimento de um estudante haitiano tem muitas questões a serem consideradas, devendo-se, como exposto por Roldão e Souza (2020, pp.4-5), “conhecer sua história, inseri-lo no sistema educacional local, romper as barreiras culturais e do idioma, promover seu aprendizado e combater as formas corriqueiras e às vezes veladas de discriminação e preconceito”.

            As pesquisadoras Mahl e Cella (2018) expõem a necessidade da equipe gestora incluir também a família do imigrante, pois esse acolhimento integrado auxiliará no processo de permanência e inclusão de ambos na comunidade escolar. Além desse ponto, é levantada por André (2016, p.74), a necessidade de se pensar que “a questão da acolhida não está relacionada só com a recepção do novo aluno ou das atitudes culturais de respeito. Esta acolhida tem a ver também com as atitudes pedagógicas desenvolvidas pela escola”.

            Alguns profissionais relataram que incluem os alunos haitianos em todas as atividades que os brasileiros participam. É importante destacar que, quanto mais interação houver entre estes grupos de alunos, maior a chance de comunicação e consequente transmissão de conhecimentos, impulsionando o desenvolvimento dos envolvidos (AITA; TULESKI, 2017), devendo-se considerar que “o ambiente pode favorecer ou inibir a competência e motivação das crianças num determinado contexto” (MOREIRA; SOUZA, 2016).

Outro fato que merece destaque nos discursos destes alunos é a recorrente ajuda que eles recebem de colegas haitianos já ambientados a escola, realidade apontada em mais da metade dos relatos.

Para que um estudante imigrante possa se sentir incluído, o processo de acolhimento deve ser desenvolvido, tanto com os profissionais, quanto com os demais colegas. É importante destacar que:

 

A necessidade de pertencimento tem implicações no desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças - e de seus pais/responsáveis, assim como a saudade da pátria, que influencia sua adaptação no contexto escolar (ASSUMPÇÃO; AGUIAR, 2019, p.170).

            Em uma pesquisa realizada por Schleicher (2015), imigrantes da primeira e segunda geração matriculados em escolas brasileiras apontaram que possuíam um sentimento de pertencimento àquele local maior que 60%, enquanto alunos brasileiros não imigrantes indicaram possuir essa sensação superior a 90%. O autor diz ainda que o sentir-se pertencente é um indicativo do quão bem o imigrante está inserido em um ambiente, indo além da noção obtida através do uso de avaliações escolares como parâmetro medidor.

Com base nos dados, os alunos entrevistados relataram ter tido boas experiências de acolhida na escola, menos o estudante H5 que, por se sentir ainda ligado à sua escola antiga e ter sido transferido contra a sua vontade, não parecia conseguir se adaptar à nova escola. Porém, entendemos que houve um grande acolhimento ao aluno na escola antiga.

O tratamento dos alunos brasileiros e haitianos por parte dos profissionais da escola foi considerado igualitário pelos gestores e professores:

 

Mesmo tipo. (G3)

Aqui é igualdade (P7)

 

Apenas dois alunos brasileiros disseram ver um tratamento diferenciado da parte dos professores e gestores em relação aos haitianos. Mas, revelam-se, nas suas falas, o acolhimento no processo pedagógico.

Antes com a H3 era diferente porque assim, ela não sabia muito bem falar a nossa língua. Aí a professora foi ajudando ela. (B3)

Não, é que as vezes ele [H9] tem um pouco mais de dificuldade que a gente, aí a professora tem que... aí a professora passa um.... aí ela tenta ajudar o H9. A gente ela também ajuda. Mas o H9 precisa mais de ajuda do que a gente. [...] Às vezes ela passa tarefa diferenciada pra quem ainda não sabe. (B10)

 

Já os alunos haitianos expuseram:

Eles tratam você igual eles tratam os brasileiros dentro da sala de aula? Sim. As tarefas são iguais? Sim. A minha professora é muito legal. (H3)

Explica para as pessoas primeiro e depois eu. Ah, entendi, então é separado? É. (H4)

Elas te tratam diferente, você falou, mas elas te tratam melhor ou pior do que tratam os brasileiros? Melhor. (H8)

A partir dos relatos, identificamos ações que direcionam maior atenção e aplicação de tarefas diferenciadas aos imigrantes recém-chegados visando sanar suas dificuldades iniciais. Contudo, com um dos alunos, existia separação na hora da explicação, sendo primeiro compartilhado com os brasileiros de sua sala e depois com ele, o que parece se tratar de uma intervenção da professora para dirigir maior atenção a suas necessidades, mas que pode vir a ser compreendido pelo aluno como uma forma negativa de diferenciação dos demais. Há, ainda, a crença, por parte da H8, de que existe um favoritismo que a beneficia e expressa gostar muito dos profissionais da escola.

É interessante notar que, de modo geral, os alunos brasileiros percebem e compreendem as especificidades da atenção dirigida pelo professor aos alunos haitianos. Entretanto, tal compreensão convive com ações que denunciam racismo e xenofobia, como vimos a partir do tema “Racismo no cotidiano escolar dos haitianos”. Nas entrevistas, apenas um aluno haitiano expõe, diretamente, os preconceitos vivenciados e combina esses fatores com não se sentir acolhido na escola em que se encontra matriculado. Ao mesmo tempo, outros estudantes brasileiros também expuseram falas preconceituosas que presenciaram sendo direcionadas aos haitianos, embora não tivessem sido citadas pelos alunos imigrantes.

Deve-se considerar que o ser humano é formado por um aglomerado de relações sociais que introjetadas, tornam-se funções de sua personalidade (VYGOSTKY, 2000); além disso, a subjetividade é uma forma de:

 

[...] organização dos processos de sentido e de significação que aparecem e se organizam de diferentes formas e em diferentes níveis no sujeito e na personalidade, assim como nos diferentes espaços sociais em que o sujeito atua (REY, 1999, p.108).

Portanto, essa diferenciação das compreensões singulares de sentidos e significações; e dos espaços e relações sociais nas quais ocorrem devem ser levadas em consideração no momento do ensino. Mantoan (2006) afirma que mesmo o direito à educação sendo garantido a todos, a permanência e prosseguimento não são assegurados já que pessoas com deficiência ou com possibilidades desiguais acabam por ser colocadas nas mesmas situações de ensino e avaliação que os demais, que não enfrentam essas dificuldades. A autora cita Rawls (2002, p.107) que “sugere, então, uma igualdade democrática, que combina o princípio da igualdade de oportunidades com o princípio da diferença”.

Assim, a diferenciação nos modos de atender as demandas de diferentes alunos pode, também, fazer com que o estudante se sinta deslocado e diferente dos demais, seja por conta de um tratamento diversificado ou de técnicas de ensino distintas. Pensando sobre essa relação, apontamos a necessidade de uma atenção que contemple as distintas necessidades dos alunos, mas com vistas sempre ao coletivo, evitando-se o uso de ações individualizadas que isolem as crianças.

O desafio, neste caso, é proporcionar as mesmas atividades com níveis de aprofundamento diferentes. Leite (2011) explicita que um professor que oferta a um aluno uma atenção individual com uma ação individualizada, por exemplo, como dar uma tarefa de circular letras de um texto para um aluno enquanto os demais realizam uma atividade de operações matemáticas, provavelmente não auxiliará esse estudante como pretende, principalmente se a atividade dada não apresentar relação com o conteúdo que está sendo trabalhado.

No percurso de se definir o nível de aprofundamento da atividade, Vygosky aponta a necessidade de considerarmos a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) de cada aluno, sendo essa:

 

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1988, p.112).

Nesse processo de aprendizagem, o professor, como mediador, terá papel fundamental como sujeito mais experiente e apresentará os conhecimentos que considera dentro da ZDP de seus alunos; favorecendo a aprendizagem por meio da interação entre os pares (ROZENO, SIQUEIRA, 2011).

Sobre a convivência entre os alunos brasileiros e haitianos, gestores e professores citaram que:

 

Eles interagem muito bem. [...] eu não vejo problema. (P8)

Tem criança que fica encantado com eles, que gosta de ver o penteado, gosta de ver o jeito deles. (G1)

Aqui dentro da unidade eu vejo uma maneira tranquila, porque criança não tem, vamos dizer assim, preconceito com outro. Na verdade, eles querem ajudar, eles querem aprender a língua do colega, eles querem saber como que era a história deles. (P2)

Estas falas nos remetem, novamente, à dicotômica realidade em que alguns brasileiros dirigem tratamentos xenofóbicos a colegas haitianos e demonstram não aceitar sua inserção na escola e, em outros, que os brasileiros se “encantam” com os haitianos e tem uma boa interação. Entendemos que, em um contato inicial, a presença de imigrantes tende a originar nas pessoas “sentimentos de simpatia ou de antipatia que podem condicionar, e que quase sempre condicionam, o modo de se relacionar com o outro. Estes sentimentos podem estar ligados ao pouco conhecimento, ou nenhum, que se tem de um grupo cultural” (CARBONELL, 1997, apud ANDRÉ, 2016, pp.61-62). Todavia, tanto os alunos quanto os professores revelam que essa percepção e sentimentos tendem a se alterar naturalmente através do convívio. Essa aceitação perpassa sentimentos xenofóbicos e de estranhamento ao outro que chega, diferente dos demais.

Quanto à percepção de troca de culturas no dia a dia entre os alunos das diferentes nacionalidades, os professorem apontaram que:

 

Quando eles estão juntos, parece normal. (P3)

Tem mais [imersão] deles na nossa. [...], mas eles não deixam de continuar ainda a tratar deles também, eles não esqueceram [a cultura haitiana] [...]. (P7)

Sim, principalmente nos alunos de 3º e 4º anos... na aula de educação física, eles mostram mais a dança de lá, como é que eram os jogos. Os menores, como ainda não dominam a nossa língua, não tem muito essa troca ainda. (P4)

Tem mais do lado dos brasileiros pra eles, vice-versa é pouca divulgação da cultura dos haitianos. (P10)

O professor é como um mediador, ele precisa abordar, trazer também a origem deles, a cultura deles porque eles estão aqui no Brasil e inseridos numa escola daqui, mas eles também precisam lembrar da onde eles vieram. Não podem esquecer isso. E os alunos daqui também precisam conhecer já que a gente recebe esses outros alunos. Então a gente trabalha bastante a cultura deles. (P1)

Em relação ao compartilhamento de culturas, os professores demonstraram entendimentos diferentes entre si. Enquanto P3 disse não a perceber, outros admitiram notá-la, como expõe P4. Existe ainda aqueles que dizem ocorrer uma grande imersão dos haitianos na cultura brasileira, mas que o inverso não é percebido. Nesse sentido, Cuche (2002, p.115) disserta sobre o processo de aculturação, definindo-o como “conjunto de fenômenos que resultam de um contato contínuo e direto entre grupos de indivíduos de culturas diferentes e que provocam mudanças nos modelos (patterns) culturais iniciais de um ou dos dois grupos”. O autor discorre ainda sobre uma dimensão chamada de assimilação, uma das quatro vertentes possíveis em um processo de aculturação, na qual a cultura de origem é totalmente esquecida em detrimento da apropriação da cultura do grupo de acolhida. Nesse sentido, é imprescindível que a interculturalidade se estabeleça como ponto de partida para o acolhimento e inserção de todos os alunos na escola e, no caso dos alunos haitianos, não haja a possibilidade de perda da conexão com sua cultura de origem, que está na base de sua identidade e no seu modo de expressão.

A partir da fala do P4, compreende-se a linguagem como essencial para o compartilhamento da cultura. Essa afirmação se relaciona com o fato de ser através da “palavra (oral, escrita ou substitutivo dela) que ele [o saber] se constitui e circula entre as pessoas” (PINO, 1999, p.49).

Nota-se, a partir do relato da P1, a importância que alguns professores dão à manutenção da cultura. Essa preocupação se mostrou relevante pois, quando uma criança migra, sua inclusão costuma se desenvolver “por meio da imersão na cultura brasileira em detrimento da sua, posto que não existe uma grande comunidade que vise à preservação da cultura materna ou mesmo escolas direcionadas neste sentido, como existiram, no passado, as escolas étnicas alemã e italiana” (CUNHA, 2015, p.21175). No caso de Cuiabá, sabe-se que os haitianos se encontram mais concentrados em seis bairros da cidade e que essas regiões possuem estabelecimentos e locais de convivência majoritariamente frequentados por haitianos (DIÓZ, 2016), dando espaço para uma possível vivência da cultura materna.

Santos, Bahia e Gomes (2016, p.7) explicam que o ato de migrar além de envolver aspectos de deslocamento geográfico, também impele na ruptura de “laços de familiares, de grupos de pertinência, de costumes, valores, cultura, de relação de produção, dentre outros. No entanto, as rupturas nunca são totais”. Neste sentido, P7 relata que os haitianos “não esqueceram” de sua cultura e história e a forma como a escola lida com isso contribuirá para se sentirem mais ou menos integrados no ambiente atual.

Na entrevista, a grande maioria dos alunos haitianos mencionou já possuir amigos brasileiros na escola. Constatamos que há mais relatos de integração do que de estranhamento. Entretanto, uma aluna diz:

 

É mais confortável com os haitianos, mas jogo com os brasileiros. Trato igual. (H1) 

 

Essa ideia de um maior conforto em interações que envolvem apenas haitianos coincidiu com a fala de um dos gestores entrevistados em relação à mesma questão:

Agora, o que a gente percebe entre eles mesmos, tem o momento que eles são muito próximos, eles são assim de juntar e fazer o grupo deles [composto só por haitianos]. (G1)

O maior entrosamento entre alunos haitianos apontados nos relatos de H1 e G1 indicam, para além do conforto e facilidade de comunicação entre nativos da mesma língua, o fato de terem as mesmas raízes, se reportarem com facilidade às mesmas coisas e se fortalecerem no sentimento de pertencimento e identificação com um grupo nas mesmas experiências migratórias. A H8 citou ainda que não sente que recebe o mesmo tratamento dado aos demais por parte dos amigos na escola:

Eu sou diferente “do que eles” [brasileiros], mas tem quatro alunos que são iguaizinhos a mim. E ela [professora] trata diferente uns dos outros! Mas eu não sou tratada igual pelos meus outros amigos. Todo mundo deve ser tratado igual. (H8)

Os vínculos formados, sejam eles entre a própria comunidade haitiana com os brasileiros têm vital importância para que os imigrantes se sintam pertencentes ao novo contexto cultural alcançando o sentimento de pertencimento aos grupos e, consequentemente, à sociedade (ANDRÉ, 2016). E, como exposto por André (2016, p.68), “estas novas amizades também favorecem o desenvolvimento de laços afetivos e trocas culturais com os colegas, assim como colaboram com o processo de aprendizagem do idioma como ressaltam alguns professores e gestores”.

Conclusão

A vivência de estudantes haitianos em escolas brasileiras está marcada por dicotomias que vão se sobrepondo no dia a dia. Dados analisados nessa pesquisa revelam que as crianças haitianas que chegam às escolas brasileiras enfrentam grandes dificuldades de integração, ao mesmo tempo que há um esforço por parte dos professores em acolhê-los e os integrarem no novo espaço. Com os colegas brasileiros, tal acolhimento vai ocorrendo com a convivência e, concluímos que, mais ou menos rápido de acordo com as iniciativas dos professores.

Nas dificuldades relativas à inserção e socialização das crianças haitianas nas escolas brasileiras destacam-se a barreira linguística, a xenofobia, o racismo e o medo do desconhecido. No caso da xenofobia, pareceu-nos que a convivência foi minimizando o sentimento de estranhamento. Quanto à barreira linguística, as crianças demonstraram grande capacidade de aprender e adquirir habilidades para se tornarem, rapidamente, usuários da nova língua, o que as auxiliou, fundamentalmente, no processo de aprendizagem de conteúdos e integração nas atividades intra e extra sala de aula. Agora, no caso do racismo, tocamos num ponto delicado, já que estrutura, historicamente, tanto as relações pedagógicas quanto as relações interindividuais na escola e, neste caso, os haitianos não são somente imigrantes, mas são imigrantes negros que vão vivenciar, durante todo o processo de escolarização, os valores eurocentrados que orientam as práticas escolares e que deslegitimam a cultura afrodescendente como formadora da sociedade brasileira.

Neste processo, o acolhimento feito pelos profissionais, as diferentes estratégias pedagógicas e a comunicação com a família do imigrante se mostraram como elementos facilitadores do processo, porém são feitas de forma voluntária pelos professores sem que se tenha uma política para isso.

A inexistência de políticas educacionais que norteiem os processos de inserção, inclusão e socialização dos imigrantes traz dificuldades a todos os envolvidos, principalmente aos profissionais que, sem esse direcionamento específico, devem desenvolver métodos próprios, nem sempre eficazes e potencializadores. Dessa forma, compreendemos que é necessário que sejam implantadas políticas de formação aos profissionais da escola que versem sobre o atendimento educacional aos alunos imigrantes para que práticas inclusivas sejam formalizadas e se tornem rotina nas escolas. No decorrer da pesquisa ficou explícita a diferenciação entre formas de acolhimento e de medidas adotadas em cada uma das escolas, o que resultou em processos de acolhimento e de inserção diferenciados também para os alunos haitianos em sua relação com os demais colegas, o que reforça a necessidade da criação de políticas educacionais nesse âmbito.

Concomitantemente, nota-se como elementos facilitadores da inserção dos haitianos, o fato de grande parte dos professores se mostrar disponível para lidar com as diferenças e especificidades de seus alunos, realizando trabalhos que buscam favorecer a inclusão. A maioria dos professores e das gestoras das escolas visitadas demonstrou, de forma geral, que faz um grande esforço para que o processo de acolhimento seja o mais inclusivo possível, pensando novas formas de fazê-lo e de facilitá-lo.

O processo de ensino e aprendizagem escolar deve considerar cada um e todos ao mesmo tempo e as subjetividades criadas a partir da história de vida e cultura dos alunos recebidos, enaltecendo-as e transformando-as em parte do processo de aprendizagem, sejam eles brasileiros ou haitianos, tendo o professor o papel de mediador e potencializador dessa relação aluno-aprendizagem. As escolas participantes dessa pesquisa revelaram-se como locais que influenciam a comunicação e desenvolvimento destes alunos haitianos, com professores que dão início e prosseguimento a um processo de inclusão da forma que lhes é individualmente possível, mas que ainda assim, precisam ser mais bem capacitados e orientados através de políticas educacionais que visem a amenizar as dificuldades e cessar os casos de discriminação enfrentados pelos alunos imigrantes.

Cabe por fim expor, que a pesquisa atingiu os objetivos propostos ao analisar todos os pontos gerais e específicos em seu plano de trabalho. A partir deste artigo, nota-se a necessidade da realização de novas pesquisas na área educacional envolvendo haitianos, tanto em âmbito regional quanto nacional para uma melhor compreensão do processo de inserção da população haitiana no ensino brasileiro.

 

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Notas



[1] Tais percepções são fruto da experiência vivenciada no GEMAIs.

[2] Destaques em itálico referem-se às falas da entrevistadora.

[3] O programa atende à sete escolas e envolve a contratação de haitianos que completaram o Ensino Médio no Brasil com a função de intérprete. Nos locais atendidos, há também, a capacitação de alguns professores, a separação dos alunos imigrantes em turmas próprias, aulas de reforço e materiais específicos, como dicionários e apostilas diferenciadas.