Representa��es de professoras aposentadas: imagens, discursos e sentidos para a leitura

Representations of retired teachers: images, speeches and meanings for reading

Representaciones de docentes jubilados: im�genes, discursos y sentidos para la lectura

 

Ant�nio Dur�es de Oliveira Neto

Universidade Estadual de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil

antonioneto_2010@hotmail.com

 

Geisa Magela Veloso

Universidade Estadual de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil

velosogeisa@gmail.com

 

 

Recebido em 28 de junho de 2021

Aprovado em 18 de janeiro de 2023

Publicado em 02 de agosto de 2023

 

RESUMO

Nas sociedades contempor�neas, a leitura assume um papel de grande centralidade, presente nas mais diversas atividades cotidianas. Destarte, este artigo tem como objeto de estudo a leitura de professoras. O objetivo � analisar representa��es de leitura de docentes aposentadas, buscando compreender a constitui��o de suas pr�ticas leitoras e as cren�as nelas impl�citas. Foi realizada pesquisa qualitativa e aplicado um question�rio a 55 professoras com idades superiores a 60 anos e que j� se aposentaram. Como revis�o de literatura, lan�ou-se m�o dos estudos de Chartier (1996, 1999, 2007); Batista e Galv�o (1999); Britto (1998); Corsino (2010); Moscovici (2015), Guareschi e Jovchelovitch (1995), dentre outros. Constatou-se que as representa��es foram ancoradas em tr�s categorias de sentidos para a leitura: instrumento para intera��o, ferramenta para a forma��o do indiv�duo, possibilidade de frui��o e entretenimento. Nestas representa��es, o livro e a tela s�o imagens que se despontaram, sendo que a leitura assume um car�ter valorativo em todos os discursos das participantes.

Palavras-chave: Leitura; Representa��es de leitura; Professoras aposentadas.

 

ABSTRACT

In contemporary societies, the reading takes a role of great centrality, present in the most diverse daily activities. Thus, this article has as object of studying the reading of teachers. The objective is to analyze reading representations of retired professors, seeking to understand the constitution of its reading practices and their implicit beliefs. Qualitative research was carried out and a questionnaire was applied to 55 teachers aged over 60 years old and who have already retired. As a literature review, we used the studies by Chartier (1998, 1999, 2007); Batista and Galv�o (1999); Britto (1998); Corsino (2010); Moscovici (2015), Guareschi e Jovchelovitch (1995), among others.It was found that the representations were anchored in three categories of senses: instrument for interaction, tool for the formation of the individual, possibility of enjoyment and entertainment. In these representations, the book and the screen are images that have emerged, and the reading takes on a value character in all discourses of the participants.

Keywords: Reading; Reading representations; Retired teachers.

 

RESUMEN

En las sociedades contempor�neas, la lectura asume un papel de gran centralidad, presente en las m�s diversas actividades cotidianas. As�, este art�culo tiene como objeto de estudio la lectura de los docentes. El objetivo es analizar las representaciones de lectura de profesores jubilados, buscando comprender la constituci�n de sus pr�cticas lectoras y las creencias impl�citas en ellas. Se realiz� una investigaci�n cualitativa y se aplic� un cuestionario a 55 docentes mayores de 60 a�os y que ya se jubilaron. Como revisi�n bibliogr�fica se utilizaron los estudios de Chartier (1996, 1999, 2007); Batista y Galv�o (1999); Brito (1998); Corsi�o (2010); Moscovici (2015), Guareschi y Jovchelovitch (1995), entre otros. Se constat� que las representaciones estaban ancladas en tres categor�as de significados para la lectura: instrumento para la interacci�n, herramienta para la formaci�n del individuo, posibilidad de fruici�n y entretenimiento. En estas representaciones, el libro y la pantalla son im�genes que emergen, y la lectura asume un car�cter evaluativo en todos los discursos de los participantes.

Palabras llave: Lectura; Representaciones de lectura; Profesores jubilados.

 

 

 

Introdu��o

Numa sociedade grafoc�ntrica, em que in�meras a��es cotidianas s�o centradas na leitura e na escrita, credita-se ao ato de ler a capacidade de promover o desenvolvimento do indiv�duo e das sociedades. Al�m da aquisi��o de informa��o e conhecimento, existem outros pap�is em que a leitura se entrela�a com o desenvolvimento cognitivo e cultural: entretenimento, amplia��o do vocabul�rio, intera��o, comunica��o, apoio � mem�ria, orienta��o para a a��o e tomada de decis�o, tamb�m reverberando em quest�es de ordem econ�mica e pol�tica.

Ao conviver com livros e leitura e fazer parte da cultura letrada, o indiv�duo assume uma representa��o absoluta de leitura, que toma o saber ler e escrever como um valor, um instrumento que pode refletir de forma positiva na perspectiva individual e social. Em contrapartida, n�o saber ler � visto como condi��o que pode impactar negativamente e excluir pessoas que n�o tiveram acesso a essa tecnologia. Para al�m de uma atividade individual, a leitura tem um car�ter social, compreendida como pr�tica que promove a intera��o, sendo um alicerce para a sociedade moderna.

Inserida nas mais diferentes esferas, ler � uma pr�tica valorizada socialmente, sobretudo por seus aspectos cognitivos e culturais. Conforme assertiva de Soares (2009), a leitura � compreendida por compet�ncias que v�o desde a decodifica��o de s�labas � leitura de um livro complexo, sendo composta por habilidades, comportamentos e conhecimentos que determinam um longo caminho de aprendizagens.

Fundamental para a informa��o e difus�o cultural, � na escola que a leitura se encontra de forma institucionalizada, j� que esta � a principal ag�ncia de letramento (Kleiman, 1995), inst�ncia respons�vel por ensinar e promover a pr�tica leitora e inser��o na cultura escrita. Nesse ambiente, o trabalho do professor � essencial para conduzir o aluno pelo caminho dos saberes relacionados direta ou indiretamente �s pr�ticas de leitura, indiferente de qual seja o conte�do ministrado. Ler pode ser considerado como aprendizagem primeira, inserida no projeto da escola. Como afirma Tardif (2010, p. 13), �o professor n�o trabalha apenas um �objeto�, ele trabalha com sujeitos e em fun��o de um projeto: transformar os alunos, educ�-los e instru�-los�. Considerando o seu poder transformador, a leitura torna-se primordial para atua��o em sala de aula. Dada a circunst�ncia, o professor faz uso da leitura como instrumento do seu of�cio, e o seu contato com essa pr�tica � constante.

Mas h� de se pensar em como passa a ser a rela��o desses profissionais com a leitura, a partir do momento em que n�o mais exercem a doc�ncia, ou seja, quando se aposentam. A aposentadoria pode ser vista como resultado de uma vida de trabalho, significando uma ruptura com o of�cio exercido durante anos. Para o profissional docente, ao se aposentar, suas pr�ticas � principalmente as de leitura � podem ganhar novas configura��es, dada a disponibilidade de tempo ou a vontade de exercer atividades que n�o eram comuns outrora. Se antes o professor tinha a necessidade de fazer uso da leitura para se preparar profissionalmente, depois de aposentar-se essa pr�tica pode apresentar outras significa��es.

Sabendo do papel que a leitura sustenta, sobretudo para aqueles que est�o ligados � educa��o e � profiss�o docente, este artigo tem como objeto de estudo as representa��es de leitura de professoras aposentadas, compreendidas � luz da Teoria das Representa��es Sociais, conceito cunhado por Serge Moscovici, em 1961. Representa��es sociais s�o compreendidas como teorias do senso comum, produzidas pelos sujeitos na qualidade de seres sociais. N�o se trata de um fen�meno exclusivamente individual, pois s�o constru�das a partir da rela��o cotidiana na qual o sujeito busca entender a realidade da qual faz parte (Moscovici, 2015).

Ao optar por compreender as significa��es de leitura de docentes aposentadas, com base na teoria de Moscovici (1978; 2015), intenciona-se ir al�m de meros levantamentos sobre as pr�ticas leitoras e como s�o realizadas. O interesse estende-se em compreender as cren�as e valores acerca da leitura, constitu�dos durante a vida das professoras e que orientam as pr�ticas no tempo presente, em que n�o existe mais a necessidade de atuarem em sala de aula. Por essa intencionalidade, esta investiga��o parte da seguinte problem�tica: quais as significa��es que constituem as representa��es e ancoram as pr�ticas de leitura de professoras aposentadas?

A escolha de professoras aposentadas foi feita devido ao papel outrora desempenhado por elas no processo de ensino da leitura e da forma��o de leitores no espa�o escolar, j� que s�o respons�veis por estabelecer media��es e interven��es pedag�gicas para promover a rela��o entre a crian�a e a cultura escolar. A aten��o especial dada a essa classe � uma forma de valorizar as profissionais que dedicaram anos de suas vidas � profiss�o docente e aos processos de ensino e aprendizagem. Al�m de reconhecimento e prest�gio, entender suas representa��es de leitura permite lan�ar um olhar para a sua constitui��o enquanto leitoras e intuir sobre as media��es de leitura por elas exercidas em sala de aula durante a doc�ncia.

Este artigo divide-se em quatro se��es: na primeira � apresentada a metodologia; na segunda � feito um levantamento de conceitos te�ricos sobre leitura; na terceira aborda-se as significa��es de leitura a partir dos discursos das professoras. A quarta se��o constitui-se da discuss�o dos conceitos te�ricos da representa��o social, de suas faces simb�lica e figurativa para que possamos compreender como se objetivam e ancoram as pr�ticas de leitura das professoras aposentadas.

 

Percurso metodol�gico

O artigo, que se insere no campo das representa��es e pr�ticas de leitura, foi desenvolvido por uma perspectiva qualitativa que, segundo Minayo (2010), trabalha com o universo das significa��es, cren�as, valores, alicer�ados na realidade vivida pelo ser humano e seus semelhantes, viabilizando a interpreta��o dos dados colhidos.

Para obter informa��es que permitissem identificar e analisar as significa��es e sentidos para a leitura, foi aplicado question�rio para um total de 55 docentes, constitu�dos por 53 mulheres e 02 homens. O question�rio foi escolhido como instrumento para coleta de informa��es pela possibilidade de alcan�ar um maior n�mero de sujeitos, sendo que a modalidade impressa permitiu a inclus�o de professoras que n�o s�o usu�rias de ferramentas digitais. Para sua elabora��o, foram priorizadas as perguntas subjetivas � dez das dezessete quest�es foram abertas � por considerarmos o alerta de Moscovici (1978), ao afirmar que quest�es padronizadas n�o exprimem todo o conte�do da representa��o, que pode ser melhor identificado por meio de entrevistas e quest�es mais abertas.

Para aplica��o do question�rio foi constru�da uma rede de contatos e colabora��o, em que as pr�prias participantes indicaram outros sujeitos que atendiam aos crit�rios de inclus�o definidos na proposta de pesquisa. Essa op��o metodol�gica foi pensada pela dificuldade de localizar docentes aposentadas a partir de �rg�os oficiais consultados � Instituto Municipal de Previd�ncia dos Servidores P�blicos de Montes Claros (Prevmoc) e Diretoria de Desenvolvimento de Recursos Humanos (DDRH) da Universidade Estadual de Montes Claros �, que n�o puderam compartilhar informa��es e contatos, em fun��o de quest�es �ticas.

Ap�s contatadas, por telefone ou presencialmente, as docentes receberam informa��es sobre a pesquisa � objetivos, m�todo, riscos e cuidados �ticos, direitos do participante. Nesse ato, foi coletada assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, momento em que as docentes receberam o question�rio impresso e agendaram a data em que poderia ser buscado. As respostas foram digitadas, tabuladas e organizadas em tabelas, que facilitaram a an�lise e os cruzamentos que se mostraram essenciais para a identifica��o das representa��es e pr�ticas das participantes.

Como crit�rio de inclus�o das professoras n�o foi determinada uma disciplina ou modalidade de ensino espec�ficas, pois, pensamos com Yunes (1995, p. 190) que, �todas as disciplinas � todas � carecem do dom�nio da leitura para se desenvolver: das humanidades �s ci�ncias, das artes �s matem�ticas�. Sendo assim, obteve-se docentes graduadas em: Pedagogia (36,36%); Letras (18,18%); Magist�rio (9,09%); Direito (7,27%); Geografia (5,45%); Hist�ria (5,45%); Normal Superior (5,45%); Ci�ncias Sociais (3,64%); Estudos Sociais (3,64%); outras forma��es (14,55%).

 

No que se refere � aplica��o, buscou-se fazer uma rede de contatos a partir da indica��o das pr�prias participantes. Esta op��o metodol�gica se originou a partir da dificuldade de localizar professoras aposentadas que comporiam o corpus. Assim, foi poss�vel ter question�rios respondidos por docentes das mais distintas regi�es da cidade de Montes Claros e com variadas caracter�sticas. O instrumento foi respondido pelas participantes sem a presen�a do pesquisador, visando a maior tranquilidade na elabora��o das respostas e uma menor disrup��o na vida cotidiana das docentes.

Decidimos utilizar o termo professora/professoras para nos referirmos aos participantes, dada a predomin�ncia feminina n�o apenas neste estudo, mas tamb�m no of�cio docente, al�m de colocar em evid�ncia a atua��o das mulheres no campo da educa��o.

Visando garantir a confidencialidade das informa��es prestadas e preservar a identidade das participantes, elas foram referidas como PA (professora aposentada) seguido de um n�mero sequencial. Tendo em vista que trabalhos que envolvem seres humanos necessitam de procedimentos �ticos, submetemos a pesquisa ao Comit� de �tica em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, via Plataforma Brasil, sendo aprovada em 26 de dezembro de 2019, sob parecer 3.790.539.

 

Leitura: entre concep��es distintas e caminhos diversos

Leitura � palavra poliss�mica. Conceitu�-la torna-se uma tarefa densa ao levarmos em considera��o que pode ser pensada como uma atividade cognitiva ou como uma pr�tica inserida no cotidiano das pessoas. Fischer (2006) ressalta que definir leitura n�o � um ato simples, j� que se trata de uma pr�tica vari�vel e n�o absoluta, na qual �o leitor emprega os s�mbolos para orientar a recupera��o de informa��es de sua mem�ria e, em seguida, cria, com essas informa��es, uma interpreta��o plaus�vel da mensagem do escritor� (Fischer, 2006, p. 11).

A leitura implica a constitui��o de sentidos, possibilita diferentes interpreta��es de um mesmo texto, atentando para diversos fatores que consideram o leitor, a �poca e a circunst�ncia em que ele se encontra, como tamb�m o texto e o autor. O texto n�o vem com uma interpreta��o pronta. O leitor, muitas vezes sem perceber, faz investimentos afetivo e cognitivo para se apropriar do texto que l�. Para Chartier (Bourdieu; Chartier, 1996, p. 241), �[...] os leitores s�o sempre plurais, s�o eles que constroem de maneira diferente o sentido dos textos, mesmo se esses textos inscrevem no interior de si mesmos o sentido de que desejariam ver-se atribu�dos�.

O autor concebe a leitura no trip� autor, texto, leitor.� E, ao discutir a hist�ria da leitura, Chartier (1999) identifica tr�s grandes revolu��es na hist�ria da leitura, que n�o se relacionam � inven��o da imprensa e �s transforma��es advindas desta tecnologia. A primeira se situa na Idade M�dia e consiste na passagem de uma leitura oral para uma puramente silenciosa. A segunda acontece no s�culo XVIII e op�e a leitura tradicional, dita intensiva, a uma leitura extensiva, que se tornou poss�vel pelo crescimento da produ��o de livros e expans�o das bibliotecas, possibilitando um acesso maior a diferentes livros, principalmente por meio do empr�stimo de obras. J� a terceira revolu��o de leitura � situada na contemporaneidade, em que a transmiss�o eletr�nica de textos produziu mudan�as, n�o apenas o suporte material, mas tamb�m a maneira do leitor lidar com a leitura (Chartier, 1999). Ainda conforme o autor, nessa nova revolu��o, o leitor pode �index�-lo, mud�-lo de um lugar para outro, decomp�-lo e recomp�-lo� (Chartier, 2007, p. 27).

Goulemot (1996, p. 108) define ler como �dar um sentido de conjunto, uma globaliza��o e uma articula��o aos sentidos produzidos pelas sequ�ncias�. Para a autora, ler vai al�m de encontrar o sentido desejado pelo autor, em raz�o de que isso determinaria que o prazer do texto somente se origina no encontro entre o sentido desejado e o percebido. Deste modo, ler trata de constru��o e n�o reconstru��o de sentido.

A partir da tr�ade autor, texto e leitor, a materialidade textual permite a propaga��o de informa��es, levando em conta a organiza��o textual, que vai desde a produ��o at� a recep��o por parte dos leitores, considerando o contexto em que o sujeito vive. De acordo com Marinho (1998, p. 13), �autor, texto e leitor est�o aprisionados por la�os m�veis, que se movimentam segundo uma din�mica de restri��es e possibilidades do indiv�duo no jogo social�. Segundo a autora, a materialidade do texto, al�m de acompanhar os indiv�duos leitores em seus espa�os sociais e culturais, tamb�m concebe um meio de compreens�o.

Para Koch e Elias (2008), a concep��o de leitura vai al�m de um conhecimento lingu�stico, posto que o leitor � estimulado a utilizar estrat�gias tanto de ordem lingu�stica quanto cognitivo-discursiva para envolver-se ativamente com a constru��o do texto e, assim, �levantar hip�teses, validar ou n�o as hip�teses formuladas, preencher as lacunas que o texto apresenta� (Koch; Elias, 2008, p. 07). As autoras tra�am uma concep��o de leitura que pode focar o autor, o texto ou a intera��o autor-texto-leitor. Quando o foco � o primeiro, a leitura �� entendida como a atividade de capta��o do autor, sem se levar em conta as experi�ncias e os conhecimentos do leitor� (Koch; Elias, 2008, p. 10). Por se tratar de um produto l�gico do pensamento do autor, cabe ao indiv�duo que l� apenas a recep��o passiva, que consiste em captar inten��es j� definidas por quem escreveu.

Quando o foco � o texto, este � visto apenas como algo a ser decodificado por aquele que l�, atividade para a qual � necess�rio apenas o conhecimento do c�digo utilizado, para que haja o reconhecimento das palavras com rela��o ao sentido e a estrutura��o do texto. �A leitura � uma atividade que exige foco no texto, em sua linearidade, uma vez que tudo est� dito no dito� (Koch; Elias, 2008, p. 10, grifo das autoras). Esta � uma concep��o cognitivista de leitura, associada � extra��o de significados, desconsiderando o papel do leitor no processo de produ��o de sentidos.

No que tange � intera��o autor-texto-leitor, existe uma distin��o dos focos anteriores, j� que, de acordo com Koch e Elias (2008, p. 10), �os sujeitos s�o vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que � dialogicamente � se constroem e s�o constru�dos no texto� (grifos das autoras). Nesse foco, o sentido � constitu�do a partir da intera��o entre sujeitos e texto e n�o de algo que anteceda essa intera��o. Nessa concep��o, em que se focaliza a intera��o autor-texto-leitor, a leitura � vista como �uma atividade interativa altamente complexa de produ��o de sentidos� (Koch; Elias, 2008, p. 10, grifo das autoras), que considera os elementos lingu�sticos e a forma de organiza��o do texto, entretanto, leva em conta, principalmente, o conjunto de saberes dentro desse evento comunicativo. Nessa concep��o na qual a leitura � vista como um ato interacional, a pr�tica leitora leva em considera��o as informa��es presentes no texto, bem como o conhecimento pr�vio do leitor e a inten��o do autor, constituindo o sentido daquilo que est� sendo lido.

Sobre os benef�cios proporcionados pela leitura, h� um consenso de que ler possibilita: amplia��o de conhecimento, melhoria da capacidade de memoriza��o, aprimoramento das habilidades lingu�sticas, desenvolvimento da capacidade intelectual e cr�tica, dentre outros. Al�m disso, � atribu�do � leitura o poder de estimular a imagina��o, atributo oportunizado pela leitura liter�ria, que proporciona a frui��o est�tica e o prazer em ler, sendo capaz de contribuir para a constitui��o humana, dada a profus�o de sentidos do texto liter�rio, que conduz o leitor para novas perspectivas e influi sobre a vis�o acerca do mundo e da vida. Corsino (2010) argumenta que a literatura, para al�m da introdu��o do indiv�duo no mundo da escrita, traz dimens�es �tica e est�tica, desempenhando um papel fundamental na constitui��o do sujeito, pois �literatura ensina a liberdade, a alteridade fundamental para a constitui��o da subjetividade, possibilita a troca, a comunidade de ouvintes, o desfrute individual e coletivo� (Corsino, 2010, p. 199). A literatura abre-se como possibilidade de promo��o das rela��es do indiv�duo consigo e com os outros, com a cultura e o conhecimento, preenchendo espa�os ligados � humaniza��o, � empatia, � subjetividade e � identidade.�

Considerando a pluralidade de perspectivas pelas quais se pode abordar a leitura, lan�amos nossos olhares para aquelas que contemplam a produ��o de sentidos, intera��o, constitui��o do ser humano e frui��o para que, na pr�xima se��o, sejam descritas as representa��es sociais e as significa��es constitutivas dos discursos das professoras.

 

Representa��es de leitura de professoras: entre discursos e significa��es

A proposi��o das representa��es sociais, teoria desenvolvida por Moscovici (1978), � definida como formas de conhecimento elaboradas socialmente e encontram nas rela��es cotidianas, por meio de discursos, mensagens e comportamentos, formas de circular e se fixar. Desse modo, as representa��es sociais nos orientam a compreender, interpretar e nos posicionar acerca de fatos cotidianos, conduzindo-nos para que possamos nomear e determinar as circunst�ncias da realidade.

A base te�rica das representa��es sociais encontra no indiv�duo e no social o seu campo de discuss�o. Trata-se de saberes populares, em muitos casos, do pensamento cient�fico que se tornou comum e passa a constituir o conte�do das representa��es. � �uma modalidade de conhecimento particular que tem por fun��o a elabora��o de comportamentos e a comunica��o entre indiv�duos� (Moscovici, 1978, p. 26). Sua constru��o se d� pela intera��o entre sujeitos de um grupo social, resultado da busca de um modo de organiza��o da realidade por meio da comunica��o. De acordo com Minayo (1995), as representa��es sociais manifestam-se por meio de palavras, sentimentos e condutas. Sua an�lise deve partir do entendimento das estruturas e das condutas sociais, mediada pela linguagem, que � a principal respons�vel pela intera��o social. Sendo assim, ap�s colher as respostas das docentes participantes, identificamos significa��es individuais que permitiram compreender os valores e cren�as coletivas acerca da leitura, pois muito do conte�do de suas representa��es foi constitu�do a partir de seus processos de forma��o e de suas experi�ncias como leitoras. Suas representa��es multifacetadas indicaram temas emergentes que mostraram os investimentos cognitivos, afetivos e sociais delineados em suas atividades representacionais.

Dentre as representa��es produzidas pelos sujeitos, a leitura foi concebida como busca e amplia��o de conhecimento (74,55% - 41 participantes), frui��o (16,36% - 09 participantes) e intera��o (9,09% - 5 participantes). Majoritariamente, no �mbito da leitura institu�da como busca e amplia��o de conhecimento, o ato de ler � representado como ferramenta que visa � forma��o do indiv�duo, � constitui��o do ser humano e ao aprimoramento em diferentes inst�ncias da vida, apontando para dois direcionamentos � o espa�o escolar e a vida social, conforme sinalizado nos depoimentos das professoras, ao definirem o que � leitura:

A leitura � parte fundamental no processo educacional, resultando na constru��o do indiv�duo (PA29, 72 anos, graduada em Pedagogia, aposentada h� 26 anos).

Leitura, em seu sentido amplo, � o ato de ler, com prazer e espontaneidade, textos narrativos, descritivos e dissertativos, escritos em prosa, em verso, difundidos pelos meios de comunica��o e Redes Sociais. Ao fazer uma leitura, penso que o leitor seja capaz de interpretar, compreender o que o autor mostra no texto (PA36, 71 anos, graduada em Letras, aposentada h� 29 anos).

Direcionado para a escola, os discursos das professoras trazem um olhar formador � mesmo aposentadas, revelam preocupa��es docentes que as constituem, de modo que n�o pensam a leitura para si. � a leitura como procedimento voltado para a educa��o, parte da constru��o do estudante, conte�do a ser ensinado pela institui��o educacional, que atende �s necessidades de interpretar e compreender. Esse modo pelo qual as professoras concebem o ato de ler se encontra com proposi��es de Chartier (1996), ao discutir a leitura como o resultado mais universalmente partilhado do aprendizado escolar. Para o autor, � importante reconhecer o contraste �[...] entre grandes leitores e leitores de ocasi�o, entre lectores profissionais, para os quais ler � sempre mais ou menos gesto de trabalho, e todos aqueles para quem o encontro com os textos � simples informa��o ou puro divertimento� (1996, p. 19).

Em nosso estudo, as representa��es que se voltam para dentro da escola mostram a for�a do exerc�cio docente na vida das professoras que, mesmo aposentadas, reportam-se aos conte�dos da vida profissional na constru��o de sentido para a leitura. A pr�tica docente mostra-se presente nas falas que concebem a leitura como dever da escola e a professora como respons�vel pelo seu ensino. Segundo Batista (1998), para grande parte da popula��o brasileira, �a escola representa a principal possibilidade de acesso � escrita, seus professores s�o vistos como leitores e exercem a tarefa de fazer com que suas crian�as se tornem leitoras� (Batista, 1998, p. 29).

Referir-se � leitura como forma de conhecimento n�o a limita ao �mbito escolar e cognitivo. A curiosidade intelectual e a necessidade de enriquecer as ideias permitem ampliar n�o apenas o saber intelectivo, mas tamb�m o conhecimento nas v�rias esferas com as quais os seres humanos se relacionam, indo desde o relacionamento interpessoal at� o contato com a natureza, o que permite ampliar a perspectiva sobre as mais distintas tem�ticas, conforme as falas a seguir:

Leitura � uma forma de conhecer o mundo, as pessoas, os fatos, a natureza, te proporcionando uma vis�o maior de v�rios assuntos (PA02, 65 anos, graduada em Hist�ria, aposentada h� 02 anos).

O ato de ler nos leva a novos conhecimentos, descobertas, melhora a compreens�o dos fatos, acontecimentos, se descobre o mundo (PA23, 71 anos, graduada em Pedagogia, aposentada h� 29 anos).

No cotidiano das professoras, a leitura era exercida como instrumento de trabalho, mas agora, tamb�m tem o prop�sito de informar, entreter, divertir e aprender, tanto que n�o se limita a um tipo espec�fico � vai da leitura formativa, passa pela informativa e aporta na distra��o. Tais depoimentos seguem o mesmo discurso de Yunes (1995, p. 185), ao afirmar que ler � �um ato da sensibilidade e da intelig�ncia, de compreens�o e de comunh�o com o mundo; lendo, expandimos o estar no mundo, alcan�amos esferas do conhecimento antes n�o experimentadas�. Essas concep��es se fizeram presentes para uma minoria dos sujeitos � apenas 25,45% dos participantes veem a leitura para al�m do acesso ao conhecimento. Tais concep��es encontram-se com ideias discutidas por Chartier (1996), ao afirmar as dificuldades dos leitores profissionais em aceitar que existem outras leituras diferentes da sua, que ultrapassam os gestos de trabalho, para se constitu�rem como simples informa��o ou puro entretenimento.��

Ao estabelecerem um conceito, algumas professoras definem leitura como um modo de apreens�o de conhecimento que � realizado pela linguagem, em suas mais variadas vertentes. Em sua elabora��o conceitual, PA54 apresenta uma amplia��o da ideia de leitura e se reporta aos diferentes c�digos, assim como PA43, que se aproxima de uma defini��o que vai al�m do signo lingu�stico, considerando a leitura em diferentes modalidades:

[A leitura �] Um processo de compreens�o de informa��o encontrada em suportes com diferentes c�digos (visual, auditivo e t�ctil) como a linguagem (PA54, 60 anos, graduada em Pedagogia, aposentada h� 2 anos).

Para mim, leitura � um processo de absor��o do ou de conhecimento por meio de qualquer t�cnica de comunica��o da linguagem, seja escrita, falada, desenhada, audiovisual, etc. (PA43, 69 anos, graduada em Contabilidade, aposentada h� 5 anos).

Nos depoimentos, as docentes reportam para possibilidades audiovisuais e t�teis presentes no mundo social e no espa�o da institui��o de ensino, j� que a pr�tica leitora pode ser definida como a capacidade de ler outras linguagens e n�o exclusivamente o texto escrito. Belmiro (2014) lembra-nos que as teorias lingu�sticas atuais ampliam a concep��o de texto, conceituando-o �como uma produ��o, seja verbal, sonora, gestual, imag�tica, em qualquer situa��o de comunica��o humana, estruturada com coer�ncia e coes�o� (Belmiro, 2014, on-line).

Tendo em vista que a produ��o das representa��es ocorre a partir de investimentos de cunho afetivo e cognitivo, h� nos discursos das professoras a frui��o como elemento constitutivo das suas significa��es. A leitura, vista por essa perspectiva, relaciona-se � aprecia��o est�tica, ao prazer de ler, caracterizando-se por sua gratuidade, sem que haja o cumprimento de uma rotina estabelecida ou que atenda necessidades pragm�ticas. Dentre as professoras, 16,36% associam a leitura a um car�ter fruitivo, que visa ao prazer, ao entretenimento. O ato de ler, sem a obriga��o de exerc�-lo, segundo Batista (1998), trata-se de um bem em si mesmo: �� por meio dele � e do direito de parar de ler, de saltar partes, de �levantar os olhos� e mesmo de negar uma leitura que � controlada e controladora � que o sujeito afirmaria o desejo e a frui��o� (Batista, 1998, p. 54, grifo do autor).

H� professoras que citam o prazer em ler, mas se alicer�am no aprendizado: exercitar a l�ngua, vivenciar outras culturas, buscar e ampliar os conhecimentos, interpretar, conforme poder ser observado nos discursos a seguir:

Ler � interpretar, saber apreciar um bom livro. Ler � sentir prazer em ler. Mas a correria n�o me sobrava tempo (PA18, 74 anos, graduada em Ci�ncias Sociais, aposentada h� 21 anos).

Ler � prazer, � viajar pelo desconhecido, � buscar conhecimentos, � lazer. (PA33, 62 anos, graduada em Letras, aposentada h� 02 anos).

 

A leitura como frui��o desperta, al�m do prazer, a contempla��o da obra, a amplia��o cultural, sensa��es diversas e multiplicidade de sentidos. N�o sendo o prazer do texto exclusividade da literatura, essa caracter�stica � comumente relacionada � leitura liter�ria, que tem a finalidade de �tornar o mundo compreens�vel transformando a sua materialidade em palavras de cores, odores, sabores e formas intensamente humanas� (Cosson, 2012, p. 17). Essas sensa��es, unidas ao prazer de ler, t�m como destino um mundo de entretenimento e distra��o, sem se desvencilhar da capacidade de contribuir para a forma��o do ser humano, pois, �a literatura se abre a m�ltiplas interpreta��es e permite o encontro de si mesmo e do outro, instaurando a linguagem na sua dimens�o expressiva� (Corsino, 2010, p. 184). A autora recorre �s palavras de Todorov (2009) para mostrar que a experi�ncia humana � a realidade que a literatura busca compreender. Nessa perspectiva, PA26 relaciona o prazer com a possibilidade de ampliar o conhecimento, tanto pessoal quanto cultural:

Leitura � um meio prazeroso de ampliar conhecimento do mundo, do outro e de si mesmo; de exercitar o uso da l�ngua p�tria, de vivenciar outras culturas (PA26, 64 anos, graduada em Letras, aposentada h� 16 anos).

 

A professora demonstra a preocupa��o em exercitar a l�ngua p�tria, provavelmente pensando em apropria��o de conhecimentos sobre a l�ngua: expans�o do vocabul�rio, melhoria da escrita e amplia��o das habilidades de compreender os textos lidos, sem desvincul�-la da frui��o e do prazer.

Um terceiro grupo de professoras (9,09%) associa a leitura a um instrumento de intera��o. Segundo Castanheira (2014), intera��o é o uso que se faz da linguagem escrita e falada no cotidiano, sobretudo no conv�vio com pessoas. A intera��o pode ocorrer em conversas descontra�das, informais ou pela via dos textos. O sentido de intera��o ganhou maiores propor��es a partir dos avan�os tecnol�gicos digitais, sobretudo pela ascens�o das m�dias e redes sociais que permitiram �s pessoas interagirem por meio de aparelhos eletr�nicos, possibilitando que a leitura seja feita nas telas, visando, principalmente, � busca de informa��es. Esse sentido � identificado nas falas das professoras que, ao serem perguntadas se as tecnologias digitais interferiram em suas rela��es com a leitura, disseram:

No caso do computador sim. Porque d� para ler rapidamente aquilo que n�o se tem em m�os. Eu acho que o e-mail e importante, rapidamente voc� tem a informa��o que precisa. Voc� pede, a pessoa te manda, um texto que est� precisando, por exemplo (PA50, 75 anos, graduada em Pedagogia, aposentada h� 06 anos).

Atualmente leio muito, principalmente not�cias e reportagens, no celular (PA12, 61 anos, graduada em Normal Superior, aposentada h� 06 anos).

A gente troca leitura de jornais e revistas, muitas vezes, pelas dos celulares e computadores (PA18, 74 anos, graduada em Ci�ncias Sociais, aposentada h� 21 anos).

Nos discursos das professoras, a leitura encontra-se associada a uma finalidade imediatista, dada a celeridade com que os fatos acontecem no meio social e a necessidade de se informarem ou acessarem um texto de forma mais r�pida. A leitura feita nas telas dos eletr�nicos se destaca por caracter�sticas de interatividade e interconectividade, que permitem a conex�o com os outros e com o mundo em tempo real. � mais pr�tico acessar o celular para ler as not�cias do que se deslocar at� uma banca de revista ou esperar a entrega do jornal na resid�ncia, por exemplo.

As professoras quando dizem que ler � interagir com o mundo, visam estar atualizadas sobre os acontecimentos e assim discutir o que se passa em diferentes espa�os sociais. Indo al�m da aquisi��o de conhecimentos, ler inspira as professoras que aspiram uma nova rela��o com o mundo, na qual se afirmam como sujeitos sociais e cidad�os cr�ticos. Dessa maneira, a leitura se apresenta por uma perspectiva de socializa��o. Como afirma Cosson (2012), ler � uma troca de sentidos entre leitor, escritor e sociedade, pois os sentidos resultam das partilhas de vis�es de mundo entre os indiv�duos no tempo e no espa�o. Tal compreens�o � expressa nos depoimentos que se seguem:

Leitura � um meio de aprendizagem, entretenimento, distra��o, conhecimento. Uma busca de v�rias descobertas que podemos desenvolver no ato da leitura. � uma pr�tica important�ssima que devemos fazer com frequ�ncia para podermos interagir nos acontecimentos atuais (PA47, 65 anos, forma��o em Magist�rio, aposentada h� 15 anos).

[Leitura] � uma forma de intera��o com o mundo que nos cerca (PA12, 61 anos, graduada em Normal Superior, aposentada h� 06 anos).

Nota-se que a leitura � vista como forma de contato com o mundo e com outros, viabilizando rela��es humanas, acesso �s not�cias, fatos e eventos do cotidiano. Essa intera��o, segundo Leffa (1999), acontece a partir do contato de dois elementos que, al�m do leitor, texto e autor, podem ser �as fontes de conhecimento envolvidas na leitura, existentes na mente do leitor, como conhecimento de mundo e conhecimento lingu�stico, ou ainda, o leitor e os outros leitores� (Leffa, 1999, p. 15).

� por meio da intera��o, mediante di�logos no cotidiano que as ideias se cruzam, constituindo as representa��es. No caso da leitura, � por meio dessas rela��es sociais, incluindo processos educacionais, que se difundiu a cren�a no seu poder. �� atrav�s da a��o de sujeitos sociais agindo no espa�o que � comum a todos, que a esfera p�blica aparece como o lugar em que uma comunidade pode desenvolver e sustentar saberes sobre si pr�pria� (Jovchelovitch, 1995, p. 71). Assim, os sujeitos que integram um grupo social, a partir de refer�ncias constru�das em conjunto, criam imagens que se tornam representa��es, j� que, segundo a autora, a Teoria das Representa��es Sociais ergue-se sobre uma teoria dos s�mbolos.

As professoras produziram cren�as, conceitos e pr�ticas para a leitura, integrando-os ao seu sistema representacional. A partir das suas vozes, percebemos uma s�rie de significa��es, que podem ter sido constitu�das no decurso de suas forma��es, na condi��o de estudantes e tamb�m na de docentes. Isso implica dizer que das professoras se constituem por meio de suas viv�ncias e experi�ncias, investimentos afetivos e cognitivos realizados no decurso de sua trajet�ria pessoal e profissional. Suas representa��es s�o ancoradas em uma face utilit�ria que se complementa por uma face est�tica da leitura. Na perspectiva utilit�ria, a leitura visa � aquisi��o de conhecimentos e a intera��o com os mecanismos de informa��o. J� a perspectiva est�tica tenciona a leitura a um car�ter de frui��o e lazer, al�m de forma��o da sensibilidade e subjetividade. Conhecer o mundo, constituir-se enquanto sujeito social, desenvolver pr�ticas de compreens�o e intera��o, entreter-se e usufruir da arte liter�ria s�o perspectivas que as professoras apresentam ao definirem leitura. Tais aspectos s�o vistos como fundamentais para constituir novos conhecimentos, propiciar reflex�es, formar o cidad�o e possibilitar distra��o.

Os discursos revelam que as professoras conceituam a leitura a partir da pr�tica e de suas finalidades, sobretudo, no espa�o escolar, e a tornam algo quase material. Mesmo sendo abordadas em perspectivas diferentes, � consensual uma vis�o positiva da leitura nas suas representa��es. De todas as respostas, nenhuma docente produziu significa��es que vinculam o ato de ler a uma ideia pessimista ou ineficaz. Isso porque os benef�cios da leitura fazem parte das cren�as que integram as representa��es e circulam nos espa�os que partilham � ver a leitura de forma negativa e at� mesmo caracterizar-se como n�o-leitora poderia ser prejudicial para a imagem da educadora. A leitura � concebida e discutida em fun��o da escola, mesmo depois terem se aposentado.

Considerando as significa��es apontadas nas falas das docentes, contemplaremos na se��o seguinte as imagens e sentidos que constituem as suas representa��es de leitura a partir da perspectiva te�rica de Serge Moscovici (1978, 2015), verificando em quais conte�dos as pr�ticas leitoras s�o ancoradas.

 

Leitura de professoras aposentadas: face figurativa e face simb�lica

Moscovici (1978) pontua que a representa��o atribui a toda imagem um sentido e a todo sentido uma imagem, demonstrando duas faces indissoci�veis: a face figurativa e a simb�lica, como se fossem a frente e o verso de uma folha de papel, e encontra na objetiva��o e na ancoragem a produ��o dessas figuras e suas significa��es.

Esses mecanismos s�o formas de lidar com a mem�ria e comunicar-se com o mundo social. A objetiva��o tem por fun��o elaborar imagens a partir de conceitos, transformar o abstrato em concreto, a ideia em objeto, tornando a palavra quase material. �Objetivar � descobrir a qualidade ic�nica de uma ideia, ou ser impreciso; � reproduzir um conceito em uma imagem� (Moscovici, 2015, p. 71). A ancoragem classifica e rotula aquilo que � estranho, tornando-o familiar e reduzindo-o a categorias e imagens j� conhecidas, pois �coisas que n�o s�o classificadas e que n�o possuem nome s�o estranhas, n�o existentes e ao mesmo tempo s�o amea�adoras� (Moscovici, 2015, p. 61). Segundo o autor, ao nomearmos aquilo que n�o tinha nome, conseguimos imagin�-lo e, assim, represent�-lo.

Foi poss�vel demarcar a presen�a de duas imagens da leitura � o livro e a tela � esta �ltima ganhando maiores propor��es na contemporaneidade, devido � expans�o tecnol�gica que possibilita a leitura em aparelhos eletr�nicos. O livro se vincula � pr�tica da leitura enquanto busca de conhecimento e frui��o, j� a tela relaciona-se � intera��o e busca de informa��es.

Essas imagens foram constru�das no decurso das trajet�rias pessoal e profissional das professoras, de maneira que, em rela��o � face simb�lica, foram produzidas quatro categorias de sentido para a leitura: amplia��o de conhecimentos; prazer e frui��o; leitura como sobreviv�ncia; e intera��o. Na constru��o destas significa��es, as professoras veem o livro � t�cnico, did�tico ou liter�rio � como possibilidade de conhecer e ampliar o repert�rio cultural. J� a tela � vista como possibilidade de leituras mais r�pidas, para intera��o e acesso �s informa��es.

A respeito do sentido de leitura como amplia��o de conhecimento, trata-se de um discurso amplamente disseminado, usado para incentivar os estudos, pois tornou-se convencional que, para novos aprendizados, aqueles sujeitos que n�o fazem uso da leitura enfrentam dificuldades maiores do que aqueles que o fazem. Nesta significa��o, a leitura � apresentada como instrumento para a aprendizagem e ganha for�as na esfera escolar, a partir das pr�prias experi�ncias das professoras. Segundo Batista e Galv�o (1999, p. 18), na sociedade grafoc�ntrica, divulgar o poder ben�fico do ato de ler � essencial para �que se veja na leitura um bem em si mesmo, um valor e uma necessidade a ser transmitida e difundida�. Assim enfatiza Cagliari (1993, p. 148), ao dizer que a leitura � a �extens�o da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida ter� de ser conseguido atrav�s da leitura fora da escola. A leitura � uma heran�a maior do que qualquer diploma.�

Ao tomarem o livro como imagem para a leitura, as professoras constru�ram o sentido de ler como frui��o, prazer e entretenimento do leitor. Esse sentido abarca uma perspectiva mais sens�vel da leitura, que a associa aos livros de literatura e permite que ler seja visto como viagem. Para al�m de uma vis�o que privilegia o conhecimento escolar ou conte�dos educacionais, ver a leitura pela met�fora da viagem possibilita ao leitor ler por prazer, distrair e acessar outras culturas, realizando essa pr�tica como hobby e como experi�ncia sens�vel ao mundo do outro, como pontua PA14 e PA24 ao dizerem que leitura

� intera��o, uma viagem para outras realidades ou mundo fant�stico (PA14, 60 anos, graduada em Geografia, aposentada h� 11 anos).

� conhecer o mundo. � ser transportada, �s vezes indo ao �pice. J� li bastante e at� hoje na idade que tenho (PA24, 77 anos, graduada em Pedagogia, aposentada h� 22 anos).

Viaja-se, comumente, com a inten��o de se distrair, divertir, ter prazer e experimentar novos saberes, culturas e experi�ncias. Estas possibilidades s�o caracter�sticas da frui��o, possibilitadas pela leitura, sobretudo, a liter�ria. O indiv�duo, ao associar a leitura � viagem, traz � tona aspectos que s�o comuns tanto � pr�tica de ler quanto � de viajar: a concentra��o para observar os detalhes; a sensibilidade para aproveitar cada instante; a identifica��o com personagens e situa��es; a empatia que permite a viv�ncia de sentimentos; a possibilidade de conhecer lugares, desfrutando de uma atividade prazerosa que entret�m e desvencilha dos problemas e tamb�m da realidade. Tudo isso culmina em outro atributo comum: a experi�ncia e a lembran�a daquilo que se viveu, seja na viagem, seja na leitura.

Nas representa��es das professoras, a gratuidade da leitura se faz presente nas suas significa��es, pois quando realizado com a fun��o de distrair, o ato de ler faz com que o leitor se transporte para um mundo imaginativo, permeado pela magia e pelo devaneio. Corsino (2010, p. 184) pontua que o texto liter�rio tem a fun��o de transformar, possibilitando aos indiv�duos �experimentarem sentimentos, caminharem em mundos distintos no tempo e no espa�o em que vivem, imaginarem, interagirem com uma linguagem que muitas vezes sai do lugar-comum�. Assim, o leitor � convidado a imaginar cen�rios, personagens, situa��es, adentrando outros mundos e vivendo outras realidades, constituindo sua humanidade pelas viv�ncias contidas nas forma��es imagin�rias produzidas no texto liter�rio. Essa perspectiva se faz presente nas falas de PA32 e PA33, que definem o ato de ler a partir da leitura liter�ria:

[Ler] � mergulhar em sonho, pois a leitura provoca a sensa��o de que estamos numa viagem que nunca vai acabar. A leitura nos d� a oportunidade de nos integrarmos na cultura atual e de desenvolvermos nossa express�o criadora, indispens�vel e autorrealiza��o (PA32, 80 anos, graduada em Pedagogia, aposentada h� 22 anos).

Ler � prazer, � viajar pelo desconhecido, � buscar conhecimentos, � lazer (PA33, 62 anos, graduada em Letras, aposentada h� 02 anos).

Nos discursos das professoras, outra significa��o para o livro, enquanto objeto que materializa a leitura, � o sentido de sobreviv�ncia. Para viver, precisa-se compreender o mundo, conectar-se, raciocinar. Ao fazer essa refer�ncia, as docentes relacionam ao ato de ler a adjetivos que caracterizam a vida, deixando entendido que ambas s�o essenciais. Equiparar a leitura � vida e � sobreviv�ncia mostra que a representa��o vai al�m de conhecimento e lazer: a leitura faz com que o indiv�duo viva! PA17 e PA42 trazem essas afirma��es no tempo presente, o que mostra a leitura com forte presen�a em suas vidas, mantendo a sua relev�ncia:

Leitura � vida. Lemos para entender o mundo, para viver melhor. A leitura desenvolve o racioc�nio, o senso cr�tico e a capacidade de interpretar e decifrar o mundo em que vivemos. Ele se situa entre a conflu�ncia do s�rio e do l�dico (PA17, 68 anos, graduada em Letras, aposentada h� 12 anos).

Leitura para mim significa sobreviv�ncia, aquisi��o de novos conhecimentos e entretenimento. A leitura sempre fez parte da minha vida. O meu instrumento de trabalho era a leitura. Leio de tudo, desde bulas de rem�dios a livros, revistas cat�logos, etc. A leitura me ajuda a divertir, a passar o tempo me faz companhia nos momentos de solid�o e principalmente a aprender coisas novas. Leitura � um impulso para a vida (PA42, 60 anos, graduada em Pedagogia, aposentada h� 03 anos).

Associado ao sentido de leitura como vida, h� nas representa��es das professoras a ideia da leitura como rem�dio, que institui o sentido de prevenir doen�as e preservar a mem�ria. As conex�es neurais produzidas pela pr�tica da leitura s�o fundamentais em sua fun��o protetora e preventiva da doen�a mental, como recurso que ativa o c�rebro, evita o envelhecimento das estruturas neuronais, agindo para acalmar e para estimular as fun��es mentais:

Quando estou lendo desligo da turbul�ncia do mundo. Para mim, a leitura � essencial, principalmente, para preservar a mente jovem (PA15, 73 anos, graduada em Servi�o Social, aposentada h� 30 anos).

Leitura para mim � algo muito bom, amplia os conhecimentos, ativa a mem�ria, etc. (PA20, 73 anos, graduada em Biologia, aposentada h� 10 anos).

A leitura funciona como ant�doto que ativa e exercita a mem�ria. Desse modo, assumindo discursos do senso comum, as professoras diagnosticam e prescrevem a leitura para a prevenir doen�as como Alzheimer, depress�o, ansiedade e estresse:

A leitura mant�m a mente ativa. N�o h� como amenizar a depress�o e o Alzheimer se n�o a leitura (PA51, 65 anos, graduada em Letras, aposentada h� 04 anos).

A pessoa auto domina os conhecimentos e desenvolve e fortalece a mem�ria, se informa e alivia a ansiedade e o estresse (PA30, 66 anos, graduada em Pedagogia, aposentada h� 22 anos).

O quarto sentido dado pelas professoras para a leitura � a intera��o � � representado pela leitura nas telas dos dispositivos eletr�nicos, tendo em vista que essa pr�tica se tornou comum para a busca de informa��es e not�cias do mundo, sobretudo, no atual momento de populariza��o de smartphones e aplicativos de mensagens. O contato das docentes com aparelhos eletr�nicos fica vis�vel quando ressaltam a presen�a de celulares e computadores em seus cotidianos:

Hoje, logo pela manh� a minha primeira leitura � no celular. � uma fonte de informa��o r�pida e atualizada. Os jornais escritos j� n�o s�o importantes como antes da internet (PA03, 70 anos, graduada em Geografia, aposentada h� 12 anos).

[As tecnologias digitais] N�o deixaram de mexer comigo. Gosto da tecnologia, leio not�cias no celular e computador (PA16, graduada em Psicologia, aposentada h� 03 anos).

A leitura por meio da tela tem como caracter�stica a dinamicidade, por ser feita de forma mais r�pida, visando um car�ter mais utilit�rio ou descomprometido. S�o leituras de mensagens e not�cias, que circulam com mais facilidade, tornando-se uma das principais fontes de informa��o e intera��o, j� que as docentes n�o relataram ler livros de literatura pela tela do computador ou por outros recursos digitais.

Dado o car�ter abstrato da leitura, ao defini-la, as professoras materializam-na buscando concretude em suas defini��es. Desse modo, gera-se o processo de objetiva��o, que se trata da representa��o de algo abstrato em concreto, como se realmente transformasse a ideia em um objeto. Dizer que a leitura � conhecimento, intera��o, viagem e sobreviv�ncia � uma forma de objetiv�-la no livro e na tela, pois s�o instrumentos que possibilitam que a leitura seja vista dessa forma, conferindo materialidade a algo n�o material que � o ato de ler. Entretanto, algumas professoras afirmam que a leitura � �tudo�, facultando um grande valor a ela. Mas essa associa��o torna-se imprecisa ao levarmos em considera��o que n�o existe uma objetiva��o concreta que possa ser associada a essa palavra.

[A leitura �] Tudo. O saber vem da leitura (PA38, 73 anos, graduado em Direito, aposentada h� 06 anos).

[A leitura �] Tudo de bom. Prazer, alegria, desconstru��o, crescimento e aprofundamento cultural e espiritual (PA21, 75 anos, graduada em Letras, aposentada h� 16 anos).

No entanto, ap�s dizerem que a leitura � �tudo�, as docentes deixam de lado a imprecis�o ao afirmar que a intera��o, o conhecimento e o prazer, buscando um modo de torn�-la concreta, tendo o objeto livro como materialidade para a pr�tica leitora, possibilitando a busca de conhecimento e a leitura por frui��o.

J� por meio do segundo mecanismo de produ��o das representa��es � a ancoragem �, as professoras ancoram a leitura em suas cren�as e valores, reconhecendo-a como uma pr�tica positiva para a forma��o cultural e intelectual do ser humano. A leitura � ancorada em pr�ticas utilit�rias e est�ticas, de modo que a veem como ferramenta para o conhecimento, instrumento para a intera��o, possibilidade de frui��o e sobreviv�ncia, conferindo uma concretude � pr�tica leitora, j� que ela pode ser materializada e classificada em categorias j� existentes na mente.

Ao mapear as representa��es, nota-se que as cren�as e valores das professoras acerca da leitura acompanham as ideias em circula��o, dado que, por consenso, foi atribu�do � leitura um papel indiscutivelmente otimista. Relacionada aos interc�mbios de conhecimentos, informa��es, ideias e pensamentos, as representa��es de leitura constituem um mosaico, no qual o ato de ler toma sentido a partir da necessidade, concebendo a leitura como uma pr�tica utilit�ria quando visa � busca de conhecimento e intera��o, e tamb�m uma pr�tica est�tica, ao ser associada ao entretenimento, beleza, prazer e frui��o.

 

Considera��es finais

As representa��es sociais de professoras aposentadas estruturam-se por imagens e sentidos diversos, sendo o pilar que sustenta os modos como praticam ou prescrevem a leitura, formas que ecoam valores, cren�as e possibilidades. Destarte, procuramos analisar representa��es de leitura de docentes aposentadas, buscando compreender a constitui��o de suas pr�ticas leitoras e as cren�as nelas impl�citas.

Suas representa��es de leitura se estruturam em duas perspectivas � utilit�ria e est�tica �, dispondo de elementos consensuais que, mesmo percorrendo caminhos diferentes, direcionam-se para um mesmo lugar, real�ando o car�ter assertivo da leitura, constru�do a partir de suas forma��es como discentes e, sobretudo, enquanto docentes, em conson�ncia com os discursos difundidos no meio social.

A partir dos dados colhidos e da an�lise � luz da Teoria das Representa��es Sociais de Moscovici (1978; 2015), concluiu-se que as representa��es das docentes se apresentam como um mosaico, ancorando em tr�s eixos de sentidos: ferramenta para o conhecimento; instrumento para intera��o e frui��o da linguagem. A face figurativa da leitura se configura como ferramenta, instrumento, viagem e sobreviv�ncia, e a face simb�lica constitui a leitura em conhecimento, intera��o e prazer.

O estudo permitiu ver que, independentemente das pr�ticas realizadas, ao se apropriarem de discursos socialmente difundidos, a leitura se apresenta com um papel valorativo e essencial para vida cotidiana. Al�m disso, � por meio dela que as professoras veem a possibilidade de preservar a mente jovem e prevenir doen�as que atingem o c�rebro, ressaltando a import�ncia do ato de ler. Tais perspectivas foram fundamentais para ver que a leitura � um bem em si, mesmo quando n�o realizada, ela � preservada em sua fun��o vital, encontrando-se inscrita no imagin�rio social, elemento central nas representa��es das professoras.

 

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