Reflex�es sobre p�s-extrativismo a partir da percep��o de educandos do curso de turismo
Reflections on post-extraction from the perception of the students of the tourism course
Reflexiones sobre el posextractivismo desde la perspectiva de los estudiantes de un curso de turismo
Rodrigo Machado Vilani
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
rodrigo.vilani@unirio.br - https://orcid.org/0000-0002-8286-1677
Maria Am�lia Silva Alves de Oliveira
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
m_amali@hotmail.com - https://orcid.org/0000-0002-5702-5511
Carlos Jos� Saldanha Machado
Funda��o Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil
saldanha@fiocruz.br - https://orcid.org/0000-0001-7642-1379
Recebido em 01 de abril de 2021
Aprovado em 01 de abril de 2021
Publicado em 15 de maio de 2023
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo discutir o ecoturismo como alternativa econ�mica �s atividades de minera��o na Bacia do Rio Doce e avaliar a relev�ncia do tema para a forma��o dos turism�logos. O rompimento das barragens de minera��o localizadas nos mun�cipios de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, resultaram em centenas de mortes e uma devasta��o socioambiental sem precedentes no Brasil. Diante dos impactos negativos dessa atividade toma-se o padr�o prim�rio-exportador como quest�o estruturante para a cr�tica proposta. A discuss�o pauta-se sobre levantamento realizado junto a educandos de Turismo de uma universidade federal da regi�o Sudeste e pesquisa bibliogr�fica e documental. Como resultado, tem-se a discuss�o incipiente sobre p�s-extrativismo no Brasil, particularmente na sua rela��o com (eco)turismo, e a relev�ncia da tem�tica apontada pelos educandos. S�o tecidas considera��es gerais e espec�ficas acerca das possibilidades do ecoturismo na regi�o da Bacia do Rio Doce e prop�e-se a inclus�o da tem�tica na grade curricular do curso de Turismo.
Palavras-chave: Turismo; Educa��o; Unidades de Conserva��o.
ABSTRACT
The aim of this study is to discuss ecotourism as an economic alternative to mining activities in the Rio Doce Basin and to evaluate the importance of the topic for the training of tourism professionals. The disruption of mining dams located in the municipalities of Mariana, in 2015, and Brumadinho, in 2019, caused hundreds of deaths and an unprecedented socio-environmental devastation in Brazil. In the face of the negative impacts of this activity, we choose the primary export pattern as a structuring issue for the proposed criticism. The discussion is based on a survey carried out with Tourism students from one federal university in the Southeast region as well as bibliographic and documentary research. As a result, there is an incipient discussion about post-extraction in Brazil, particularly in its relationship with (eco)tourism, and the relevance of the theme pointed out by Tourism students. We make general and specific considerations about the possibilities of ecotourism in the Rio Doce Basin region and finally, we propose to include the theme in the curriculum of the Tourism course.
Keywords: Turism; Education; Protected areas.
RESUMEN
Con el presente art�culo se pretende discutir el ecoturismo como alternativa econ�mica a las actividades mineras en la Bacia do Rio Doce y evaluar la relevancia del tema para la formaci�n de profesionales del turismo. El colapso de las presas mineras ubicadas en los municipios de Mariana, en 2015, y Brumadinho, en 2019, estado de Minas Gerais, provoc� cientos de muertes y una devastaci�n socioambiental sin precedentes en Brasil. Dados los impactos negativos de esta actividad, se toma el patr�n primario-exportador como cuesti�n estructurante de la cr�tica propuesta. La discusi�n se basa en una encuesta realizada a estudiantes de turismo de una universidad federal de la Regi�n Sudeste y en investigaciones bibliogr�ficas y documentales. De ah� la incipiente discusi�n sobre el posextractivismo en Brasil, particularmente en su relaci�n con el (eco)turismo, y la relevancia del tema se�alado por los estudiantes. Se plantean consideraciones generales y espec�ficas sobre las posibilidades del ecoturismo en la regi�n de la Bacia do Rio Doce y se hace una propuesta para incluir esta cuesti�n en el plan de estudios del curso de turismo.
Palabras clave: Turismo; Educaci�n; Unidades de Conservaci�n.
Introdu��o
O presente artigo objetiva avaliar a relev�ncia do tema �ecoturismo como alternativa econ�mica� para a forma��o dos turism�logos. Para tanto, parte de uma abordagem decolonial para analisar o extrativismo. Adota como marcos centrais os rompimentos das barragens de minera��o nos munic�pios de Mariana e Brumadinho, em 2015 e 2019 respectivamente, que ocorreram em localidades situadas em �reas de interesse tur�stico, condi��o que implica na problematiza��o das formas de apropria��o da natureza e o contexto em que se realizam.
A degrada��o ambiental e as desigualdades sociais nos pa�ses de economia pautada pela exporta��o de commodities, como na Am�rica Latina, refletem os limites sociais, econ�micos e ambientais do crescimento capitalista (SVAMPA, 2019), engendrados em uma estrutura colonial de domina��o e explora��o social, material e intersubjetiva, e classifica��o racial/�tnica da popula��o mundial (QUIJANO, 2000).
A pandemia de COVID-19, causada pelo coronav�rus SARS-CoV-2, � o exemplo mais atual e dram�tico desses limites. Em 19 de outubro de 2020, segundo dados da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS, 2020), eram 39.944.882 casos confirmados e 1.111.998 mortes nos 216 pa�ses alcan�ados pela COVID-19. No Brasil, a partir de dados do Minist�rio da Sa�de (BRASIL, 2020) atualizados at� 19 de outubro de 2020, havia 5.224.362 casos confirmados e 153.675 mortes. Harvey (2020) acentua que as modifica��es causadas ao meio ambiente pelo capital n�o configuram, portanto, um desastre natural. No caso da COVID-19, afirma que �as circunst�ncias nas quais uma muta��o [dos v�rus] se torna uma amea�a � vida dependem das a��es humanas� (HARVEY, 2020, p. 15) e seus impactos s�o resultantes das �fissuras e vulnerabilidades preexistentes no modelo econ�mico hegem�nico� (HARVEY, 2020, p. 16). Nesse sentido, �i�ek (2020, p. 44) trata a pandemia como �um sinal de que n�o podemos continuar no caminho em que temos estado at� agora, de que � necess�ria uma mudan�a radical�.
A reflex�o aqui exposta caminha a fim de apresentar uma proposta para compor o conjunto de esfor�os te�ricos e metodol�gicos existentes para essa mudan�a de paradigma. Na express�o de Oliveira e Candau (2010) essa mudan�a implica uma (re)constru��o epistemol�gica para se refletir sobre os curr�culos existentes e, portanto, pensar a cria��o de espa�os cr�ticos para uma pedagogia decolonial. Nessa dire��o, o recorte, orientado a partir do modelo colonial-capitalista e a consequente domina��o e explora��o social e ambiental dos pa�ses de economia perif�rica e dependente, como o Brasil, � o (neo)extrativismo, compreendido como a remo��o de �grandes volumes de recursos naturais n�o processados (ou processados apenas parcialmente) e que se destinam sobretudo � exporta��o� (ACOSTA, 2016, p. 50).
Na esteira de uma (re)constru��o curricular, a presente pesquisa assenta-se sobre as premissas das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Gradua��o em Turismo (Resolu��o 13/2006 do Conselho Nacional de Educa��o) entre as quais est� definida como elemento estruturante do curso de Turismo a rela��o dos objetivos do curso com a sua inser��o pol�tica, geogr�fica e social, bem como a forma��o interdisciplinar abarcando quest�es ambientais, econ�micas, culturais, a serem definidas a partir dos aspectos regionais existentes.
Portanto, a an�lise da relev�ncia do tema �ecoturismo como alternativa econ�mica� justifica-se diante da constata��o de que a transi��o para uma economia p�s-extrativista deve estar calcada sobre o decrescimento planejado do extrativismo e o desenvolvimento de atividades sustent�veis como o (eco)turismo (ACOSTA, 2016).
A reflex�o e o di�logo sobre a realidade conflituosa social e ambientalmente vivida nos munic�pios dependentes da atividade miner�ria direciona os esfor�os te�rico-metodol�gicos da presente discuss�o e aponta para a necessidade de uma forma��o multidimensional e cr�tica em turismo como base para o fortalecimento de a��es voltadas para a supera��o dos riscos sociais e ambientais da minera��o na Bacia do Rio Doce, pois se reconhece que:
[...] educando e educador s�o agentes sociais que atuam no processo de transforma��es sociais e nesse processo se transformam; portanto, o ensino � teoria-pr�tica, � pr�xis. Ensino que se abre para a comunidade com seus problemas socioambientais, sendo a interven��o nesta realidade a promo��o do ambiente educativo e o conte�do do trabalho pedag�gico. (GUIMAR�ES, 2016, p. 17).
O papel do ecoturismo em uma transi��o envolve, assim, as dimens�es pol�tica, jur�dica, c�vica, cultural, social, de ensino e de pesquisa, n�o sendo, portanto, trivial ou ating�vel em curt�ssimo prazo. Ainda que iniciativas de turismo comunit�rio sejam uma realidade em v�rios munic�pios do pa�s, uma articula��o ampla, regional ou nacional, requer apoio institucional, como Minist�rios e Secretarias de Turismo, por exemplo, organiza��o das comunidades interessadas e das que j� realizam o turismo comunit�rio, participa��o de institui��es de ensino e pesquisa, entre outros. A presente reflex�o, por desdobramento, pretende cumprir um papel introdut�rio e fomentar esse debate te�rico-metodol�gico no turismo.
Fundamenta��o Te�rica
O rompimento da barragem de Fund�o, ocorrido em 05 de novembro de 2015, � o marco da discuss�o ora proposta acerca da constru��o de alternativas ao extrativismo. A barragem fazia parte do complexo miner�rio de Germano, localizado no munic�pio de Mariana, no Estado de Minas Gerais (MG), e possu�a 50 milh�es de m� de rejeitos de minera��o de ferro, segundo laudo t�cnico do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov�veis (IBAMA, 2015). De acordo com o laudo, os rejeitos percorreram e impactaram 663,2 km de corpos h�dricos at� alcan�ar a foz do Rio Doce no Oceano Atl�ntico (IBAMA, 2015).
Do mesmo documento podem ser extra�das, entre as consequ�ncias listadas pelo �rg�o ambiental:
a)���������� morte de trabalhadores e moradores (total de 19 mortos);
b)���������� desalojamento;
c)���������� devasta��o de localidades e a consequente desagrega��o social;
d)���������� destrui��o de estruturas p�blicas e privadas;
e)���������� interrup��o da gera��o de energia el�trica;
f)����������� destrui��o de �reas de preserva��o permanente e vegeta��o nativa de Mata Atl�ntica;
g)���������� mortandade de biodiversidade;
h)��������� assoreamento de cursos d��gua;
i)����������������������� interrup��o do abastecimento de �gua;
j)����������� interrup��o da pesca;
k)���������� interrup��o do turismo.
Em 25 de janeiro de 2019, ocorreu o rompimento da barragem da mina C�rrego do Feij�o, da mineradora Vale S.A. O evento levou � morte mais de 250 pessoas e cobriu de lama uma extens�o territorial de cerca de 300 ha com diversos e severos impactos para o meio ambiente, a sa�de f�sica e mental da popula��o residente e a economia local (PEREIRA; CRUZ; GUIMAR�ES, 2019). Do total da �rea atingida, cerca de 130 ha s�o de vegeta��o nativa de Mata Atl�ntica e 70 ha de �reas de preserva��o permanente (IBAMA, 2019).
A partir da extens�o dos danos sociais e ambientais e do n�mero de mortes causados pelos rompimentos das duas barragens, constata-se que �[...] as comunidades em cujos territ�rios ou arredores s�o realizadas essas atividades extrativistas sofreram e sofrem os efeitos de uma s�rie de dificuldades socioambientais derivada desse tipo de explora��o.� (ACOSTA, 2016, p. 61).
Os impactos do padr�o prim�rio-exportador n�o resultaram em desenvolvimento ou progresso no campo social, ou da conserva��o da natureza. Pelo contr�rio, no Brasil � v�lida a assertiva de que os pa�ses dependentes dos �recursos minerais ou petrol�feros s�o economicamente atrasados, e seus problemas ambientais crescem no ritmo em que se expande o extrativismo� (ACOSTA, 2016, p. 62). Destarte, releva-se a import�ncia de esfor�os coletivos e colaborativos caminharem ao encontro de alternativas econ�micas sustent�veis e socialmente inclusivas, como defendido nesse artigo. O percurso, portanto, tem seu vetor na contra-hegemonia. Logo, justifica-se a op��o por uma discuss�o calcada na rela��o entre turismo e educa��o.
Durkheim (1975) definia o processo educativo como processo de socializa��o dos indiv�duos, ou seja, a introdu��o por vias da intera��o social de valores inerentes ao grupo social no qual o indiv�duo est� vinculado. Tal processo, segundo o autor, objetiva adaptar e formar indiv�duos aptos a cooperar para que a sociedade, enquanto coletivo, se reproduza nos par�metros do que conceitua como �normal�. A concep��o durkheimiana de educa��o incide sobre uma vis�o dessa enquanto agente de promo��o e manuten��o da ordem, do progresso e da harmonia social. Residiria nesse processo a internaliza��o de normas, regras, s�mbolos, pensamentos e padr�es de comportamento que se assentariam na harmonia da conviv�ncia social.
O conceito de educa��o trazido por Durkheim pode ser interpretado como cultura, aqui entendida como transmiss�o de normas e valores sociais de uma gera��o para outra, sendo a amplitude desta vis�o capaz de comportar processos educativos que se constituem em espa�os formais, n�o formais e informais de transmiss�o de normas e valores sociais.
Libedinsky (1997) define educa��o informal de forma semelhante ao que Durkheim (1975) considera como educa��o, ou seja, o conjunto de aquisi��es acumuladas ao longo da vida do indiv�duo proveniente da experi�ncia vivenciada e partilhada com os membros de um mesmo grupo social. A transmiss�o desse conhecimento comum ao grupo � processada nos espa�os sociais, da fam�lia, religi�o, trabalho, entre outros. Para Libedinsky (1997) a educa��o formal � a composta pelo repert�rio apresentado e difundida pelo sistema educacional ou escolar adotado pelos distintos grupos sociais. Tal sistema reafirma valores sociais contidos nos espa�os da educa��o informal e, de acordo com tais espa�os, sedimenta uma proposta que se concretiza na reprodu��o do grupo atrav�s das rela��es de trabalho. Por fim, a educa��o n�o formal seria aquela voltada para a transmiss�o de um conhecimento espec�fico e, embora organizada fora do sistema educacional, em muitos momentos o complementa. A natureza da educa��o n�o formal faculta a possibilidade de inser��o de v�rias formas de transmiss�o de conhecimentos e de aprendizagem, como o turismo.
A discuss�o envolvendo a rela��o entre turismo e educa��o n�o � novidade nos estudos oriundos daquele enquanto campo de saber. Autores como Rebelo (1998) e Fonseca Filho (2007) se dedicaram � reflex�o da necessidade de uma educa��o voltada para o desenvolvimento de vis�o acerca da import�ncia do turismo para distintas localidades e sobre o papel dos cursos e da forma��o de turism�logos. Essa perspectiva envolve a no��o de uma educa��o para valoriza��o do turismo, a ser disseminada em espa�os formais do sistema de educa��o, sendo compreendida enquanto educa��o para ele.
Paralelamente, Portuguez (1999), Ribas (2002), Peccatiello (2005) e Fonseca Filho (2010) t�m considerado o Turismo enquanto ferramenta pedag�gica apta a auxiliar na forma��o de estudantes pertencentes ao sistema de educa��o formal. Em tal perspectiva, o turismo seria inserido no processo ensino-aprendizagem das escolas por meio do Turismo Pedag�gico. Essa vis�o inscreve-se no entendimento de uma educa��o pelo mesmo, pois percebe a pr�tica tur�stica como pass�vel de incutir valores que seriam apreendidos no processo de viv�ncia e/ou experi�ncia tur�stica.
Aprofundando a discuss�o, Oliveira (2019) prop�e o conceito �turismo com base pedag�gica� para sugerir a��es no �mbito escolar onde o deslocamento e a perman�ncia, aspectos inerentes � pr�tica tur�stica, sejam implementadas atrav�s de atividades pedag�gicas facultadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educa��o Brasileira enquanto atividades transversais. Em tal defesa, a autora destaca o papel educativo do turismo, ao mesmo tempo em que recha�a a pr�tica do denominado �Turismo Pedag�gico� por v�-lo como uma primazia do capital em detrimento da relev�ncia do aspecto pedag�gico que a atividade tur�stica pode oferecer. Expandindo esse argumento, a autora destaca que, globalmente, desde 2001, em decorr�ncia do atentado �s Torres G�meas em Nova York e algumas epidemias mundiais, h� uma agenda p�blica e pol�tica para o turismo em que a atividade resultante da pr�tica � evidenciada por seu car�ter educador e fomentador de respeito � identidade cultural dos povos. Assim sendo, o turismo pode tamb�m ser visto pelo vi�s pol�tico pass�vel de assumir contornos de discursos que se deseja disseminar.
A potencialidade que a pr�tica da atividade tur�stica det�m em disseminar discursos � contemplada em Pereiro e Fernandes (2018) que, citando Fuller (2008), consideram o turismo como uma �maquinaria discursiva� pelo fato da atividade e fen�meno produzir, reafirmar e disseminar representa��es sobre a na��o e as culturas, moldando a hist�ria e a identidade cultural dos variados grupos sociais. Concordando com Fuller (2008), Pereiro e Fernandes (2018) pontuam que o turismo pode ser observado no �mbito da Antropologia como um construtor de relatos cujos efeitos permeiam o imagin�rio social, construindo assim a imagem tur�stica de lugares e culturas. Pelo exposto, a atividade est� sendo aqui percebida como integrante do processo educativo n�o formal que, somado � sua capacidade de comunicar discursos, � ainda um instrumento disseminador de vis�es de mundo.
A rela��o entre turismo e educa��o j� foi aqui apresentada e, trazendo Gadotti (2013), � poss�vel atrelar a rela��o j� exposta ao debate sobre discursos. O autor esclarece que, diante dos novos espa�os de forma��o criados pela sociedade, obriga-se a escola, enquanto institui��o, a repensar seu papel e, nesse esfor�o, retoma as indica��es da Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o Ci�ncia e Cultura (UNESCO) para a necessidade de a educa��o ser baseada no paradigma da sustentabilidade. De acordo com Gadotti (2013), com o objetivo de promo��o do encorajamento de uma nova proposta educativa baseada em um comportamento sustent�vel no que tange a rela��o com o meio ambiente, a UNESCO lan�ou, no ano de 2002, a D�cada da Educa��o para o Desenvolvimento Sustent�vel. As diretrizes buscavam reorientar os modelos de educa��o dos pa�ses membros de forma que viessem incutir compet�ncias, promover conhecimentos, sedimentar valores e perspectivas relacionados � sustentabilidade desde os anos iniciais at� a forma��o universit�ria.
Para Gadotti, o modo de produzir e reproduzir nossa exist�ncia no planeta implica na consequente destrui��o da esp�cie e busca refletir como a categoria sustentabilidade pode colaborar nesse contexto. O autor conclui que, sendo a sustentabilidade compreendida como �sonho de bem viver, em equil�brio din�mico com o outro e com o meio ambiente, harmonia entre diferentes, num mundo justo, produtivo e sustent�vel� (GADOTTI, 2013, p. 16), a preserva��o do meio ambiente se assentaria na emerg�ncia de uma consci�ncia ecol�gica, sendo essa pass�vel de constru��o pela educa��o. Tal processo � denominado pelo autor como Ecopedagogia, definida como �uma pedagogia para a promo��o da aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana, uma pedagogia bi�fila que promove a vida e respeita todas as formas de vida�. Ainda seguindo seu racioc�nio, as pedagogias cl�ssicas s�o antropoc�ntricas e a ecopedagogia partiria de uma consci�ncia planet�ria que deveria perpassar pela educa��o formal, informal e n�o formal, objetivando a amplia��o do olhar sobre o mundo, cujos efeitos incidiriam sobre o deslocamento da vis�o e pr�tica antropoc�ntrica para uma vis�o e pr�tica consciente de uma cidadania planet�ria.
Ao agregar o pensamento de Gadotti (2013) � nossa discuss�o, estabelecemos a rela��o turismo, educa��o e discurso, pois a sustentabilidade seria, nesse sentido, a narrativa transmitida nos processos n�o formais de educa��o manifestados na pr�tica da atividade tur�stica. Entretanto, n�o � poss�vel pensar essa rela��o sem considerar a pol�tica, sendo aqui entendida como rela��o de poder. Pereiro e Fernandes (2018) afirmam que grande parte dos estudos sobre o turismo desconsideram ou subavaliam as rela��es de poder. Para os autores, imperam em tais estudos as perspectivas econ�micas, empresariais e mercadol�gicas que direcionam o olhar investigativo para a atividade tur�stica e n�o para o fen�meno tur�stico. Ao privilegiar tais inst�ncias, o fato pol�tico, as rela��es de poder ficam apagadas ou mesmo esquecidas. Todavia, tem sido aqui defendido que o turismo est� inserido nas pol�ticas de Estado, quer como pol�ticas p�blicas relacionadas a outros temas (protocolos de a��o em casos de ataques terroristas ou de epidemias mundiais), quer como pol�ticas de governo envolvendo a constru��o da imagem da na��o. Assim sendo, no presente trabalho, al�m de evidenciarmos a rela��o turismo, educa��o e discurso, evocamos o �mbito pol�tico que abarca a ocorr�ncia do fen�meno tur�stico.
Concordando com Pereiro e Fernandes (2018), a reflex�o aqui exposta considera que as an�lises sobre turismo n�o devem ser apartadas do contexto pol�tico em que se inserem e observadas a partir de conex�es com contextos locais, nacionais e externos; pois, al�m das pol�ticas espec�ficas de turismo, outras a atravessam, como pol�ticas de transporte, saneamento, seguran�a, entre outras que se insinuam a partir de diretrizes de �rg�os internacionais como a OMT e a UNESCO e as pol�ticas de turismo, ou para o turismo, dos distintos pa�ses. Neste imbricado contexto relacional, emergem discursos que acabam por pautar o comportamento e a vis�o sobre a experi�ncia tur�stica de todos os atores envolvidos no fen�meno. Desta forma, explica-se a perman�ncia da ideologia que atribui aos pa�ses perif�ricos o papel de espa�os a serem consumidos pelos visitantes de pa�ses centrais, l�gica que promove a apropria��o de recursos naturais e culturais sem o devido retorno em termos de benef�cios para as comunidades receptoras.
A supera��o dessa ideologia utilitarista est� ancorada no campo te�rico conhecido como Pensamento Decolonial, especificamente na Pedagogia Decolonial. Para tanto, faz-se necess�ria uma reflex�o acerca dos curr�culos e de como promover a discuss�o da Colonialidade do Poder como estrutura de poder pass�vel de explica��o do modelo extrativista brasileiro. Caminha-se ao encontro do conjunto de esfor�os te�ricos e metodol�gicos que prop�e o Pensamento Decolonial como uma ruptura com o pensamento contempor�neo ocidental e fornecem a base denominada Pedagogia Decolonial (DIAS e ABREU, 2019, 2020; WALSH, 2013).
No livro intitulado Pedagog�as decoloniales: pr�cticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir, Catherine Walsh (2013) destaca que a obra � composta por textos cujos debates v�o �entretecendo caminhos� que juntos revelam a perspectiva decolonial da proposta da obra (p. 20). Nesta dire��o, o pedag�gico equivaleria a um conjunto que re�ne metodologias, pr�ticas e estrat�gias a fim de promover e fortalecer a constru��o de resist�ncias que se estendem para al�m dos espa�os formais de educa��o, lugares esses onde o sentido instrumenta de ensino e de transmiss�o do saber, n�o privilegiam pr�ticas voltadas para lutas sociais, pol�ticas e epist�micas libertadoras. Pautados no pensamento de Walsh (2013), Dias e Abreu (2019) afirmam:
Portanto, a pedagogia decolonial � uma denomina��o gen�rica dada �s pedagogias cr�ticas que, ao se alinharem praxiologicamente ao pensamento decolonial, transgridem �s in�meras express�es da colonialidade e da modernidade como mito sacrificial (p. 1224).
Costard (2017) produz uma reflex�o acerca do curr�culo a partir do ensino de Hist�ria e para tal, apoia-se em autores que discutiram a quest�o por meio da cr�tica ao curr�culo enquanto arranjo que se apresenta de forma anterior � pr�pria pr�tica. Neste esfor�o de revis�o te�rica, a autora destaca que na aus�ncia de uma pedagogia cr�tica, os curr�culos tradicionais adotam padr�es meramente organizativos compostos por conhecimentos espec�ficos e produzidos pela ci�ncia, aspecto que os tornavam �universais e inquestion�veis�, resultando em uma l�gica denominada �racionalidade t�cnica� (COSTARD, 2017, p. 161). Entretanto, no contexto da pedagogia cr�tica, consideram-se as rela��es que envolvam escola-sociedade-cultura, produzindo
um �curr�culo na a��o�, ou seja, que se forja na pr�tica, com distintas formas de media��o did�tica e com sele��o dos temas e conte�dos que ser�o efetivamente ensinados e aprendidos, de acordo com as injun��es e demandas de cada realidade escolar. (COSTARD, 2017, p. 162).
A despeito do trabalho de Costard colocar a discuss�o no �mbito da escola e, portanto, de um conjunto de discuss�es que se referem a um grupo de educandos espec�ficos, � poss�vel levar a cr�tica aos curr�culos de gradua��o em universidades. A autora demonstra ainda que curr�culo � sele��o e, assim sendo, implica em rela��es de poder ao congregar, como no caso do presente estudo, rela��es que perpassam os interesses de uma forma��o em n�vel de gradua��o voltada para um mercado de trabalho (turismo) altamente consumidor de recursos naturais e culturais.
Pelo exposto, pensar o curr�culo dos cursos de gradua��o em Turismo favorece reflex�o multidimensional que implica, entre outras possibilidades, no sentido atribu�do � atividade tur�stica, em pol�ticas p�blicas fomentadas para a utiliza��o de recursos naturais e culturais e no papel social do bacharel em Turismo. Esses debates ganham destaque quando analisados a partir do contexto hist�rico-cultural de cria��o dos cursos de Turismo no Brasil na d�cada de 1970. Por meio do Parecer n.� 35/71 do Minist�rio de Educa��o, realizado pelo relator conselheiro Roberto Siqueira Santos e aprovado em 28/01/1971 pelo Conselho Federal de Educa��o, passou-se a existir na burocracia governamental a Habilita��o em Turismo. A atual Faculdade Anhembi-Morumbi, em 1971 foi a primeira a estabelecer o Curso de Bacharelado em Turismo no Brasil. Naquele contexto social, a grande preocupa��o era com a forma��o profissional que gerasse m�o-de-obra especializada em servi�os tur�sticos que elevassem a atividade tur�stica no pa�s para a categoria semelhante � de outros pa�ses considerados modelos em operacionaliza��o de viagens.
Hallal et al (2010) refor�am a afirmativa anterior ao destacarem que a d�cada foi marcada por um conjunto de mudan�as sociais que caracterizavam n�o somente a acelera��o, mas principalmente a sedimenta��o do processo de urbaniza��o no pa�s. A esse processo somam-se a difus�o dos meios de comunica��o, a internacionaliza��o da economia e os desdobramentos pr�ticos da reestrutura��o do ensino superior iniciada em 1968. Sobre a reestrutura��o do ensino superior, cabe destacar, acompanhando as autoras citadas, que a rede privada de ensino superior se expande justamente nessa ocasi�o, sendo legitimada pelo discurso de incapacidade de atendimento a uma demanda crescente por parte das universidades p�blicas e a valoriza��o atribu�da ao diploma universit�rio no mercado de trabalho.
�Em contexto externo, como apontam Jafari (1994) e Pereiro e Fernandes (2018), nas d�cadas de 1960 e 1970, o turismo � percebido como um elemento gerador de divisas e empregos, de incremento e movimenta��o de renda e fator de desenvolvimento econ�mico da economia de distintos pa�ses, especialmente dos pa�ses at� ent�o denominados subdesenvolvidos. Desta forma, ambos contextos demonstram-se favor�veis � abertura de cursos de gradua��o. Rejowski (2002, p. 134) qualifica como um �per�odo pol�tico de repress�o, censura e viol�ncia caracter�stica da linha dura do governo militar [...] neste cen�rio, o turismo aparecia como atividade econ�mica do futuro�. A despeito da legitima��o de um discurso de atividade econ�mica do futuro, autores como Alfonso (2006) e Santos Filho (2008) chamam a aten��o para o papel que o �rg�o m�ximo do turismo brasileiro da ocasi�o, a Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR), deteve na divulga��o de uma imagem do pa�s assentada no mito da democracia racial e na explora��o do corpo da mulher brasileira.
Hallal e M�ller (2014) chamam a aten��o para o termo atribu�do � atividade tur�stica, a ind�stria sem chamin�s. Tal denomina��o marcou a concep��o de turismo na d�cada de 1970 e 1980 no Brasil, pois somente com a introdu��o de novos referenciais conceituais oriundos da percep��o dos impactos negativos que a atividade tur�stica pode infligir ao meio ambiente e �s culturas, a �nfase na perspectiva econ�mica foi sendo reduzida e, em tal contexto, foi poss�vel emergir a reflex�o que considera que a atividade tur�stica se insere em um fen�meno mais amplo, sendo esse de cunho cultural e n�o somente econ�mico.
Revendo a trajet�ria hist�rica que possibilitou a cria��o dos cursos de gradua��o em Turismo, considerando o contexto da pr�tica mineradora e defendendo uma pedagogia decolonial, pois os curr�culos do curso ainda mant�m uma vis�o e pr�xis que privilegiam o vi�s economicista, detendo-se em reproduzir conhecimentos t�cnicos e n�o reflexivos pautados na percep��o de que em realidade estamos lidando com um fen�meno cultural, se faz necess�rio repensar os curr�culos para que o papel social do Turismo alcance seu potencial pedag�gico em Unidades de Conserva��o (UCs).
As UCs s�o espa�os territoriais privilegiados para a valoriza��o dos atributos naturais e culturais do pa�s. Logo, s�o compreendidas enquanto substrato para realiza��o das atividades de ecoturismo. Na regi�o da Bacia do Rio Doce, que engloba os estados de Minas Gerais e Esp�rito Santo, existem 187 UCs segundo dados do Minist�rio do Meio Ambiente (BRASIL, 2019). Desse total, 29 s�o parques, tr�s federais, doze estaduais e catorze municipais. De acordo com o Instituto Estadual de Florestas:
Os Parques de Minas, que se destacam pela grande beleza c�nica e relev�ncia ecol�gica, s�o criados com a finalidade de preservar recursos h�dricos (como mananciais, veredas, cachoeiras, etc.), forma��es geol�gicas e geomorfol�gicas (como cavernas, c�nions, picos, etc.), proteger patrim�nio cultural, hist�rico, paleontol�gico e arqueol�gico, a fauna e flora nativas, especialmente as esp�cies amea�adas de extin��o, e propiciar pesquisas cient�ficas, educa��o e interpreta��o ambiental e turismo de natureza (MINAS GERAIS, 2019, [n.p.]).
A valoriza��o das UCs pode contribuir para �evitar a expans�o irracional dos processos produtivos sobre os remanescentes de ecossistemas silvestres, garantindo, ao mesmo tempo, a conserva��o da biodiversidade para as sociedades no presente e no futuro� (VALLEJO, 2009, p. 188-189). In�cio (2003, p. 34) acentua �que o turismo, e menos ainda o ecoturismo, constitui a base de um processo de desenvolvimento territorial sustent�vel.�.
No campo institucional, a cr�tica foi desenvolvida pelo Tribunal de Contas da Uni�o (BRASIL, 2014, p. 22), segundo o qual, �o Brasil carece de uma pol�tica de turismo voltada �s suas �reas protegidas, fazendo com que o tema sustentabilidade ocupe posi��o perif�rica na estrat�gia de turismo no pa�s�.
A realidade disfuncional do ecoturismo, em termos de alternativa econ�mica, contrasta com os resultados obtidos por Medeiros et al. (2011), os quais apontam que a extra��o de produtos florestais, a preserva��o de estoques de carbono, o uso p�blico e a conserva��o de fluxos h�dricos possuem um potencial de arrecada��o superior ao pr�prio custo de manuten��o das UCs. Os autores estimaram o potencial impacto econ�mico da visita��o em parques estaduais para o ano de 2016:
A visita��o nos 144 parques estaduais registrados no CNUC tem potencial para atrair cerca de 1,4 milh�o de pessoas, entre brasileiros e estrangeiros, em 2016. Esse fluxo de visitantes pode gerar entre R$ 90 milh�es (cen�rio conservador) e R$ 103,3 milh�es (cen�rio otimista) para as regi�es onde est�o localizadas essas unidades de conserva��o, garantindo recursos para sua manuten��o e dinamizando a economia local (MEDEIROS et al., 2011, p. 23).
Constata-se, portanto, que o ecoturismo pode produzir efeitos positivos diversos em favor da biodiversidade e do conhecimento tradicional associado, das pr�ticas e costumes de comunidades tradicionais, da disponibiliza��o de informa��es ambientais confi�veis, da promo��o de pol�ticas de turismo para o desenvolvimento de atividades de educa��o e interpreta��o ambiental, de recrea��o e de turismo ecol�gico em �reas protegidas e da recupera��o/implanta��o de infraestrutura de apoio � pesquisa e � visita��o em UCs no Pa�s. (VALLEJO, 2009; BENSUSAN, 2006; BRASIL, 2014). Logo, parece ser poss�vel compreender o ecoturismo como uma alternativa econ�mica por meio da qual promove-se gera��o de renda e empregos, associada � conserva��o da biodiversidade, com grande demanda internacional (MIKHAILOVA e MULBEIER, 2008).
Em tal cen�rio, os envolvidos no processo de ensino/aprendizagem, pesquisa e extens�o em turismo podem ser considerados sujeitos fundamentais para um movimento de valoriza��o de �reas protegidas para visita��o e de fortalecimento das a��es que visam uma ruptura com o padr�o de desenvolvimento estabelecido no pa�s, calcado sobre a extra��o e a exporta��o de recursos naturais. Nessa linha de racioc�nio, considerando as potencialidades do ecoturismo, um dos aspectos que chama a aten��o incide sobre como esse conceito � trabalhado na forma��o dos futuros turism�logos. Assim sendo, a quest�o central a ser respondida no presente trabalho � como a forma��o em turismo pode contribuir para a constru��o de uma alternativa econ�mica diante dos riscos da minera��o e como a discuss�o sobre ecoturismo tem sido inserida nesse contexto. Para tal, a argumenta��o foi orientada a partir de uma pesquisa assentada em um questionamento do modelo capitalista-colonial e, em particular, do padr�o prim�rio-exportador brasileiro, sendo a teoria decolonial o marco te�rico da an�lise proposta.
A reflex�o cr�tica est� na base de constru��o dessa transi��o, considerada por Acosta (2016) como �a grande tarefa do momento� (p. 81), para a qual demanda-se o di�logo e os esfor�os cr�ticos, de inventividade e de criatividade para o �desenvolvimento end�geno, bioc�ntrico, baseado no aproveitamento da biodiversidade, no conhecimento e no turismo� (SVAMPA, 2016, p. 153).
Complementarmente, a quest�o jur�dica vai ao encontro da discuss�o proposta. A partir de Vilani (2012; 2018), � poss�vel afirmar, com base no art. 180 da Constitui��o Federal de 1988, que o (eco)turismo deve ser promovido e incentivado pela Uni�o, pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos munic�pios como fator de desenvolvimento sustent�vel. Da leitura do texto constitucional extrai-se, portanto, que o desenvolvimento do (eco)turismo deve estar inserido em conjunto de pol�ticas e a��es firmado sobre os seguintes pilares:
a)���������� desenvolvimento nacional (art. 3�, II, CF/88);
b)���������� redu��o das desigualdades regionais e sociais (art. 3�, III c/c art. 170, VII, CF/88);
c)���������� ordem econ�mica com vistas a assegurar a todos exist�ncia digna, conforme ditames da justi�a social em conson�ncia com a preserva��o ambiental (art. 170, caput e VI, CF/88);
d)���������� meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput, CF/88); e) responsabilidade intergeracional (art. 225, caput);
e)���������� cria��o de espa�os territoriais especialmente protegidos (art. 225, �1�, III); g) respeito, prote��o e valoriza��o da diversidade cultural brasileira (arts. 215, 216 e 231; art. 68 da ADCT).
A pol�tica, enquanto rela��o de poder, � aqui pensada como estrat�gia para o aproveitamento de UCs associadas � perspectiva da rela��o turismo, educa��o e discurso, pois residiria nas rela��es de poder a possibilidade de introdu��o do �giro decolonial�, conceito que pode ser entendido como �movimento te�rico, �tico e pol�tico que questiona as pretens�es de objetividade e neutralidade do conhecimento cient�fico dos �ltimos s�culos� (BARBOSA e D��VILA, 2017, p. 89). O debate acerca da decolonialidade � aqui empregado como ferramenta de an�lise de realidades sociais resultantes de processos de colonialismo europeu, particularmente dos pa�ses que comp�em a Am�rica Latina e, considerando que foram constru�dos a partir de uma concep��o de modernidade, n�o a de um per�odo hist�rico, e sim a de uma narrativa onde seus colonizadores se auto percebem como centro do mundo (BARBOSA e D��VILA, 2017).
Colonialidade do poder � o termo utilizado pelo soci�logo peruano An�bal Quijano (2000) para definir e conceituar analiticamente a configura��o hist�rica que considerava ir al�m do colonialismo. A colonialidade para o autor seria uma rela��o de poder que opera por meio da domina��o manifestada nos padr�es de naturaliza��o de hierarquias culturais, raciais, territoriais e epist�micas que n�o se encerraram com o fim do colonialismo (BARBOSA e D��VILA, 2017).� Diante de tal constata��o, urge a necessidade de processos de descoloniza��o, ou seja, uma supera��o do colonialismo e de decolonialidade, isto �, uma busca em transcender a colonialidade.
Ainda de acordo com as autoras, a decolonialidade insere-se nesse debate acerca da explora��o e domina��o europeia-americana enquanto projeto pol�tico que pretende n�o �apenas o fim das rela��es formais de coloniza��o, mas uma oposi��o radical ao legado e produ��o cont�nua da colonialidade do poder, do saber e do ser.� (BARBOSA e D��VILA, 2017, p. 5). No �mbito do saber, ou seja, no campo epistemol�gico, as autoras remetem-se ao trabalho de Walter Mignolo (2003) que, ao discorrer sobre a colonialidade do saber, pontuou que essa apoia-se no etnocentrismo e no eurocentrismo. Assim sendo, a ado��o da perspectiva contida na reflex�o decolonial aqui proposta alia-se � posi��o de uma oposi��o � colonialidade, ao iluminar e defender a pr�tica do ecoturismo em UCs considerando, tal como preconizado pelo giro decolonial, que o poder, o conhecimento e a subjetividade sejam express�es constitu�das a partir do Sul, de forma a dar visibilidade aos saberes e identidades at� ent�o estigmatizados, invisibilizados e subalternizados.
Nesse sentido, diante da devasta��o socioambiental promovida pela minera��o, a proposta de revis�o curricular nos cursos de Turismo caminha ao encontro da (re)inven��o das pedagogias decoloniais, conforme Dias e Abreu (2020, p. 12), de forma a considerar criticamente os �diversos condicionantes s�cio-hist�ricos de povos e grupos que sofrem das mazelas da modernidade/colonialidade, incluindo-se a� o pr�prio povo brasileiro�.
A perspectiva decolonial quando aplicada � rela��o turismo, educa��o e discurso requer um debate acerca do papel pol�tico de professores e da forma��o de estudantes, pois ser�o esses os mediadores que ir�o traduzir projetos pol�ticos que, no caso do presente estudo, incidem sobre a utiliza��o do ecoturismo em UCs vitimadas em trag�dias ambientais que bem revelam a colonialidade das rela��es de poder que permeiam as atividades extrativistas no pa�s. O conte�do de projetos pedag�gicos de cursos de gradua��o em turismo deve ent�o contemplar a inst�ncia pol�tico-pedag�gica inerente � atividade tur�stica e adequar o perfil de egressos ao papel de int�rpretes e/ou mediadores de um discurso e/ou narrativa que envolva uma revis�o do olhar e do entendimento acerca dos recursos naturais pela perspectiva decolonial.
Metodologia
A op��o metodol�gica foi por uma pesquisa descritiva com base na percep��o de educandos de um curso de turismo de Minas Gerais. Quanto ao procedimento adotado, foi realizado levantamento (survey) entre os meses de setembro e novembro de 2019, com educandos matriculados no segundo semestre. O crit�rio de sele��o da institui��o de ensino superior (doravante IES) deve-se � localiza��o geogr�fica, uma vez que est� inserida na Bacia do Rio Doce e pr�xima �s barragens que se romperam nos munic�pios de Mariana e Brumadinho. A IES, no per�odo determinado, tinha 259 educandos (popula��o) matriculados no bacharelado de turismo. O total de participantes (amostra), por fase, est� apresentado no quadro 1.
Quadro 1 � Participantes por IES
Institui��o |
Participantes |
|||
1a Fase |
2a Fase |
|||
Total |
PxM* (%) |
Total |
PxM* (%) |
|
IES1 |
31 |
12 |
10 |
4 |
(*): rela��o entre participantes e matriculados em 2019.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
A pesquisa junto aos educandos foi dividida em duas fases. Em ambas foi solicitado que os educandos indicassem, com uma palavra ou express�o, sua compreens�o para ecoturismo, minera��o e a rela��o entre os dois. A defini��o dos termos levou em considera��o a realidade dos estudantes e a preocupa��o nacional com as barragens de minera��o.
Assim, a primeira fase, de percep��o inicial, visou identificar a influ�ncia da proximidade com a minera��o nas respostas. Ap�s a aplica��o do question�rio, foram apresentados dados da minera��o na Bacia do Rio Doce e dados socioecon�micos do munic�pio de Mariana como forma de problematizar os impactos da explora��o mineral na regi�o a partir de uma perspectiva cr�tica. Ao final, foi indicada a leitura de um texto cr�tico sobre neoextrativismo, de autoria de Acosta (2016).
Na segunda fase, em seu primeiro momento, com base nas mesmas quest�es, buscou-se aferir se a leitura do texto produziu altera��o na percep��o dos educandos e se eles identificam essa abordagem como necess�ria no �mbito do curso de turismo. Ap�s, foram apresentadas as nuvens de palavras, realizadas a partir das respostas da primeira fase, para debate junto aos participantes. Nas duas fases, partiu-se da perspectiva de Freire (1983) para a constru��o de um di�logo reflexivo e cr�tico, pautado na realidade dos educandos e nas palavras indicadas por eles para significar os termos e os temas indicados.
Foi realizada uma pesquisa de campo, na qual o primeiro autor do artigo participou de eventos e realizou di�logos informais com pesquisadores e movimentos sociais da Bacia do Rio Doce. Para a an�lise dos dados, utilizou-se uma abordagem hermen�utica, tendo em vista a perspectiva de compreens�o do contexto no qual os educandos se inserem e o m�todo da nuvem de palavras. A nuvem de palavras � um m�todo de organiza��o e esquematiza��o gr�fica de acordo com a frequ�ncia das palavras utilizadas pelos educandos nas respostas ao question�rio. As nuvens foram geradas por meio da plataforma on-line Infogram.
Resultados
Em cada uma das fases foram elaboradas tr�s nuvens de palavras com os resultados para: i. ecoturismo; ii. minera��o; iii. rela��o entre ecoturismo e minera��o. No in�cio da segunda fase foram apresentadas aos educandos as nuvens geradas na primeira fase (figuras 1 a 3).
Figura 1 � Resultado para Ecoturismo (Fase 1)
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
Para �ecoturismo� (fig.1), a frequ�ncia de natureza foi a mais significativa. A resposta dos educandos foi considerada adequada � percep��o da atividade como diretamente relacionada e dependente dos diferentes atributos naturais para sua realiza��o. Palavras diferentes foram utilizadas para expressar a rela��o com a natureza (e. g.: contempla��o e lazer).
Figura 2 � Resultado para Minera��o (Fase 1)
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
Para �minera��o� (fig.2), explora��o e extra��o foram as palavras com a maior frequ�ncia. Esse foi um resultado esperado e condizente com a realidade da atividade mineradora. Foram utilizadas palavras como �fam�lia�, �riqueza�, �trabalho� e �emprego�. Essas respostas indicam uma percep��o entre os educandos que pode estar relacionada � proximidade com fam�lias e trabalhadores que dependem da minera��o e, portanto, valorizam esses aspectos positivos da minera��o.
Figura 3 � Resultado para Ecoturismo x Minera��o (Fase 1)
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
Quanto � rela��o entre ecoturismo e minera��o (fig.3), � poss�vel identificar palavras como �sustentabilidade�, �necessidade�, �contribui��o� e �di�logo�, que podem indicar uma percep��o favor�vel � coexist�ncia dessas atividades.
Na segunda fase, para o termo ecoturismo houve distribui��o mais homog�nea das respostas, com maior frequ�ncia para educa��o ambiental (quadro 2). Esta altera��o pode indicar uma percep��o cr�tica e problematizadora do ecoturismo por cada educando.
Quadro 2 � Resultados da fase 2 para �Ecoturismo�
Termo |
IES |
|
Ecoturismo |
Palavra |
Frequ�ncia |
Alternativa |
1 |
|
Meio Ambiente |
1 |
|
Desenvolvimento |
1 |
|
Natureza |
1 |
|
Reencontros |
1 |
|
Conserva��o |
1 |
|
Explora��o |
1 |
|
Rentabilidade |
1 |
|
Educa��o ambiental |
2 |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
Para minera��o (quadro 3), foi mantida a frequ�ncia mais alta para explora��o e extra��o; houve redu��o na variedade de termos, o que indica maior aproxima��o na compreens�o dos impactos negativos do modelo extrativista, conforme era esperado.
Quadro 3 � Resultados da fase 2 para �Minera��o�
Termo |
IES |
|
Minera��o |
Palavra |
Frequ�ncia |
Economia |
1 |
|
Explora��o |
5 |
|
Necessidade |
1 |
|
Escravatura |
1 |
|
Produ��o |
1 |
|
Destrui��o |
1 |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
Na rela��o entre ecoturismo e conserva��o (quadro 4), cada resposta teve uma entrada, equiparando a frequ�ncia de todas as palavras utilizadas. Era esperado maior frequ�ncia para palavras como �mudan�a� e �modifica��o� ou mesmo a amplia��o da frequ�ncia para respostas que apontassem a incompatibilidade e/ou a necessidade de uma transi��o. O resultado pode estar associado � n�o leitura do texto por parte dos participantes.
Quadro 4. Resultados da fase 2 para a rela��o entre �Ecoturismo� e �Minera��o�
Termo |
IES |
|
Rela��o entre ecoturismo e minera��o |
Palavra |
Frequ�ncia |
Impactos ambientais |
1 |
|
Mudan�a |
1 |
|
Compatibilizar |
1 |
|
Trag�dia |
1 |
|
Reeduca��o |
1 |
|
Modifica��o |
1 |
|
Natureza |
1 |
|
Completude |
1 |
|
Uso consciente |
1 |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
Destacamos que os resultados obtidos s�o condizentes com a breve aproxima��o com o tema pelos educandos da IES selecionada. A diversidade de termos est� relacionada � percep��o dos educandos, constru�da por meio da abordagem pedag�gica dada em diferentes disciplinas, sem a ado��o de leituras e debates espec�ficos sobre o tema, o que poderia ocorrer em uma disciplina com essa finalidade.
Para compreender a demanda por uma disciplina com essa tem�tica foi elaborada quest�o sobre a relev�ncia no tema para a forma��o do turism�logo. Com base na percep��o dos educandos, dos 10 (dez) participantes, 9 (nove) indicaram ser necess�ria e 1 (um) n�o soube opinar; i. e., 90% dos participantes responderam ser necess�ria a discuss�o sobre (neo)extrativismo e (neo)colonialismo para a forma��o do(a) turism�logo(a).
A partir da participa��o em eventos e de di�logos com sujeitos e coletivos (docentes, pesquisadores, representantes de comunidades atingidas e de movimentos sociais como os Atingidos por Barragens � MAB � e pela Minera��o � MAM) diversos na Bacia do Rio Doce, � poss�vel acentuar a aus�ncia de um debate sobre o fim da minera��o. N�o foi observado um discurso norteador que proponha uma alternativa para a minera��o na regi�o. Os caminhos apontados s�o para uma gest�o da atividade pela classe trabalhadora ou de redefini��o de padr�es t�cnicos e de seguran�a. Mesmo diante do car�ter finito das jazidas, das mortes, dos impactos sociais e ambientais na regi�o, a atividade mineral segue no imagin�rio dos grupos com os quais se dialogou como elemento central para gera��o de renda e emprego.
Dessa forma, a t�tulo de s�ntese da presente contribui��o, prop�e-se, para reflex�o nos cursos de turismo, a constru��o de disciplina estruturada sobre a perspectiva decolonial denominada �Ecoturismo e p�s-extrativismo no Brasil�. A proposta reconhece como fundamental uma abordagem a partir do territ�rio, suas din�micas e conflitos e, portanto, op�e-se � �constru��o colonial a que a hist�ria de nossa educa��o formal responde, [para contribuir com] uma educa��o que se pretenda tensionadora dos discursos de subalterniza��o� (LEITE; CARVALHO, RAMALHO, 2019, p. 13). E, assim sendo, materializa uma estrat�gia decolonial de constru��o e de cria��o que, segundo Oliveira e Candau (2010, p. 24), tem como meta �a reconstru��o radical do ser, do poder e do saber�.
Logo, a proposta � de uma disciplina cr�tica, que situe historicamente o (eco)turismo a partir das Teorias do Sul e da Teoria da Colonialidade e que adote uma pr�xis reflexiva sobre o papel e a import�ncia do (eco)turismo no Brasil, levantando debate a partir das din�micas econ�micas e de poder estruturantes do padr�o prim�rio-exportador que, por consequ�ncia, impedem e suprimem alternativas e a��es que possam interferir na extra��o e exporta��o dos diferentes elementos da natureza (min�rio, petr�leo, carne, soja etc.) e na explora��o da classe trabalhadora. A disciplina vai ao encontro das reflex�es sobre Pedagogia Decolonial (WALSH, 2013; DIAS e ABREU, 2019, 2020; SACAVINO, 2020) acerca da cria��o de espa�os curriculares de resist�ncia (FIGUEIREDO, ANDRADE e FREIRE, 2020; SACAVINO, 2020), de �produ��o de alternativas ao capitalismo e ao colonialismo globais� (SACAVINO, 2020, p. 12) e do desenvolvimento de habilidades referentes ao pensamento da complexidade e de economias p�s-capitalistas proposto por Ioannides e Gyim�thy (2020). Deixamos uma estrutura geral constru�da a partir de seis eixos centrais: I � Extrativismo; II � Extrativismo Mineral e Petrol�fero no Brasil; III � Neocolonialismo; IV � P�s-extrativismo; V � (Eco)Turismo comunit�rio: resist�ncia e sustentabilidade p�s-pandemia; VI � Ecoturismo: uma alternativa econ�mica no Brasil. A dada proposta de disciplina foi adaptada com a inclus�o do eixo V da vers�o aprovada no �mbito da gradua��o e da p�s-gradua��o na IES dos dois primeiros autores.
Considera��es Finais
Este artigo discutiu, a partir de uma abordagem cr�tica, pautada no pensamento decolonial, a necessidade de um movimento contra hegem�nico para superar os limites sociais e ambientais no modelo colonial-capitalista e apresentou o ecoturismo como uma alternativa econ�mica vi�vel, particularmente na Bacia do Rio Doce, regi�o com hiperconcentra��o de atividades miner�rias e um conjunto de UCs para o desenvolvimento de atividades ecotur�sticas.
Nessa proposta demonstrou-se, por meio do referencial te�rico exposto, que o car�ter pedag�gico e de comunica��o inerente � atividade tur�stica favorece a produ��o de discursos que, quando pensados em perspectiva pol�tica, s�o capazes de produzir revis�o de valores. Em tal linha de racioc�nio, o debate decolonial foi introduzido como encaminhamento de descoloniza��o da l�gica cultural que rege os processos extrativistas na proposi��o de utiliza��o das UCs a partir de modelos p�s-extrativistas, nos quais se enquadra o ecoturismo pelos argumentos j� expostos. Entretanto, o descompasso entre a forma��o de sujeitos capazes de intervir na constru��o desse processo de transposi��o de um modelo explorador para um modelo sustent�vel apresentou-se como entrave � produ��o de novos modelos de intera��o e percep��o da natureza, fato que conduziu a uma reflex�o acerca da fun��o social dos cursos de gradua��o em turismo diante de ocorr�ncias como os crimes ambientais de Brumadinho e Mariana.
Em continuidade, destacou-se que o desenvolvimento nacional, particularmente no estado de Minas Gerais, orienta-se por uma l�gica prim�rio-exportadora, estruturante e estruturada pelo sistema moderno/colonial em vigor. Diante do cen�rio de depend�ncia econ�mica, vulnerabilidade social e riscos ambientais, resultante da atividade miner�ria cumpre (cumpriria) ao Estado a obriga��o de promover alternativas de desenvolvimento sustent�vel conforme exige o texto constitucional. Contudo, o Estado, e mesmo diversos sujeitos exclu�dos dos benef�cios do padr�o econ�mico vigente, n�o empreendem esfor�os no sentido de construir uma via alternativa, ou seja, persiste o ideal de desenvolvimento atrelado � extra��o mineral.
Com base na experi�ncia da minera��o na Bacia do Rio Doce podem ser tecidas considera��es gerais e espec�ficas acerca das possibilidades da Pedagogia Decolonial nos Cursos de Turismo:
a)���������� a forma��o do turism�logo deve ser pautada numa abordagem multidimensional e cr�tica, estruturada a partir da realidade em que se insere;
b)���������� a rela��o turismo x educa��o x discurso deve tomar o �mbito pol�tico como pano de fundo para a reflex�o acerca do fen�meno (eco)tur�stico;
c)���������� � positiva a proposta de cria��o de disciplina espec�fica que discuta o ecoturismo como alternativa econ�mica em conformidade com a realidade territorial na qual o curso/a institui��o se encontra;
d)���������� a reflex�o decolonial apresenta uma proposta te�rica e de valores fundamental para a forma��o t�cnica e c�vica do turism�logo diante do contexto nacional e global contempor�neo;
e)���������� a efetiva��o do art. 180 da Constitui��o Federal deve ser discutida em �mbito local, regional e nacional para a constru��o de a��es e pol�ticas que promovam o ecoturismo como alternativa econ�mica, assegurando o protagonismo das comunidades envolvidas e a conserva��o da biodiversidade.
Conclui-se afirmando que a reflex�o apresentada pretendeu contribuir com o fortalecimento de uma abordagem cr�tica e socioambientalmente orientada nos cursos de Turismo, qui�� para a ado��o da Pedagogia Decolonial nos curr�culos da �rea e para o aprofundamento do debate pelas(os) pesquisadoras(es) da �rea como forma de promover uma real transforma��o na orienta��o econ�mica e privatista que orienta a pol�tica nacional.
Refer�ncias
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BARBOSA, Vera L�cia Ermida; D��VILA, Maria In�cia. Colonialidade e pr�ticas cotidianas em Minas Gerais � Brasil. Pesquisas e Pr�ticas Psicossociais. S�o Jo�o Del Rei, v. 12, n. 1, 2017, p. 9-21. Dispon�vel em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1809-89082017000100007&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 10 ago. 2019.
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Notas