O currículo visto do alto das dunas da Sabiaguaba: uma proposta inter e transdisciplinar de construção de conhecimento

The curriculum seen from the top of the dunes of Sabiaguaba: an inter- and transdisciplinary proposal of

Edvar Ferreira Basílio

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil.

Email: edvarbasilio@yahoo.com.br - Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6511-789X  

 

Diana Nara da Silva Oliveira

Universidade Estadual do Ceará, Limoeiro do Norte, Ceará, Brasil.

Email: diana.nara@uece.br- Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2710-1904.

 

Silvia Elisabeth Moraes

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil.

Email: silviamoraes@ufc.br- Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6665-4259

 

Adalucami Menezes Pereira Gonçalves

Centro Universitário Inta-UNINTA, Sobral, Ceará, Brasil.

Email: dalumenezes@gmail.com- Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4164-9490

 

Sara Rebeca Aguiar de Carvalho

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil.

Email: sara.rebeca.ac@gmail.com- Orcid: https://orcid.org/0000-0002-5111-4572

 

Recebido em 17 de março de 2021

Aprovado em 17 de novembro de 2022

Publicado em 26 de abril de 2023

 

RESUMO

Este artigo apresenta uma proposta interdisciplinar e transdisciplinar de construção de conhecimento na Educação Básica, tomando como ponto de partida o complexo ambiental interdunar da Sabiaguaba, Área de Preservação Ambiental (APA), localizada no município de Fortaleza-Ceará-Brasil. Com base no estudo de um tema local, busca-se a formação de um cidadão planetário, sujeito que inicia sua formação doravante o conhecimento do seu lugar em convergência sistêmica e indissociável com o planeta. A proposta se concentra em múltiplas áreas do conhecimento (História, Geografia, Letras, Comunicação, Tecnologias, Jornalismo), as quais exploram um diálogo com outros campos científicos, a fim de constituírem saberes integrados e integradores. Assim, Sabiaguaba torna-se um tema transdisciplinar. Em termos metodológicos, é uma pesquisa documental baseada na pedagogia de projetos. Como resultados, percebeu-se que ao se tomar o complexo ambiental da Sabiaguaba como proposta didática de ensino e aprendizagem, incentiva-se a abordagem integrada do conhecimento, contribuindo dessa forma para a construção de um currículo escolar dialógico, afastado da verticalidade, do autoritarismo e da excessiva ênfase no conteúdo. A vinculação com a realidade socioambiental em que se inserem os alunos e professores contribui para uma ressignificação do conhecimento visando a uma cidadania planetária.

Palavras-chave: Currículo; Interdisciplinaridade; Transdisciplinaridade; Sabiaguaba.

ABSTRACT

This article presents an interdisciplinary and transdisciplinary proposal of knowledge construction in Basic Education, taking as a starting point the interdune environmental complex of Sabiaguaba, Environmental Preservation Area (APA), located in the municipality of Fortaleza-Ceará-Brazil. Based on the study of a local theme, we seek the formation of a planetary citizen, subject that begins its formation henceforth the knowledge of its place in systemic convergence and inseparable with the planet. The proposal focuses on multiple areas of knowledge (History, Geography, Letters, Communication, Technologies, Journalism), which explore a dialogue with other scientific fields in order to constitute integrated and integrative knowledge. Thus, Sabiaguaba becomes a transdisciplinary theme. In methodological terms, it is a documentary research based on project pedagogy. As a result, it was noticed that when taking the environmental complex of Sabiaguaba as a didactic proposal for teaching and learning, the integrated approach of knowledge is encouraged, thus contributing to the construction of a dialogical school curriculum, away from the verticality, authoritarianism and excessive emphasis on content. The link with the socio-environmental reality in which students and teachers are inserted contributes to a resignification of knowledge aiming at a planetary citizenship.

Keywords: Curriculum; Interdisciplinarity; Transdisciplinarity; Sabiaguaba.

 

Introdução

 

Pensar em um currículo diferenciado do modelo disseminado pela escola contemporânea, um currículo contextualizado, construído democraticamente, que contemple as identidades dos sujeitos aos quais se destina, é tarefa necessária e desafiadora. Sendo assim, essa perspectiva de construção de conhecimento interdisciplinar e transdisciplinar nos move a pensar propostas curriculares inclusivas, estando, pois, cientes de que os saberes daqueles que compõem as múltiplas comunidades escolares devem ser respeitados e que as realidades nas quais se inserem podem ser transformadas a partir de seus anseios e necessidades, e, especialmente, com sua ampla participação.

A construção metodológica desse trabalho surgiu inicialmente a partir das inquietações dos autores ao questionar como podemos pensar/construir propostas didáticas tendo como base o cotidiano dos sujeitos a partir da perspectiva interdisciplinar de construção do conhecimento. Partindo da experiência vivenciada no Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal do Ceará-UFC, especificamente, no componente curricular Educação, Currículo e Ensino. Optou-se na disciplina pela elaboração de projetos temáticos que dialogassem com os saberes da escola e da universidade, trazendo para o centro do processo educativo os fatores naturais, históricos, políticos, econômicos e sociais do contexto no qual o educando se insere. Como base empírica, utilizou-se o trabalho de uma das coautoras[i] desse texto que desenvolve na UFC o projeto Cidadania planetária e ecologia de saberes: transdisciplinaridade no currículo da universidade.

Com base no estudo de um tema local, busca-se a formação de um cidadão planetário, sujeito que inicia sua formação doravante o conhecimento do seu lugar em convergência sistêmica e indissociável com o planeta. A proposta se concentra em múltiplas áreas do conhecimento (História, Geografia, Letras, Comunicação, Tecnologias, Jornalismo), as quais exploram um diálogo com outros campos científicos, a fim de constituírem saberes integrados e integradores. Assim, Sabiaguaba torna-se um tema transdisciplinar.

A escolha da Área de Preservação Ambiental (APA) da Sabiaguaba, em Fortaleza-Ceará como tema gerador inter/transdisciplinar tem como um de seus suportes a própria diversidade de formação acadêmica dos autores deste estudo, sendo um geógrafo, uma historiadora/pedagoga, duas profissionais da Letras e uma jornalista, o que proporcionou múltiplas possibilidades de intervenções pedagógicas.

Os saberes profissionais e experienciais de seus autores, aliados às variadas hipóteses contidas no ideário pedagógico progressista de autores como Paulo Freire, impulsionaram a execução deste trabalho, especialmente pela inspiração provocada por meio da pedagogia freireana, segundo a qual:

 

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, portanto a leitura da palavra não pode ser separada da leitura do mundo. A linguagem e a realidade são dinamicamente mantidas juntas. A compreensão de um texto, que é alcançada através de sua leitura crítica, implica a percepção das relações entre texto e contexto (Freire, 1989, p.9).

 

Concentramos nossa pesquisa em quatro áreas do conhecimento - História, Geografia, Letras e Comunicação/Tecnologias/Jornalismo - as quais mantêm diálogo com outras áreas do conhecimento, a fim de se constituírem saberes integrados e holísticos. Trata-se, portanto, de um trabalho baseado na pedagogia de projetos, que, de acordo com Ventura (1998) oportuniza aos estudantes, um conhecimento integral, possibilitando uma interdisciplinaridade, esclarecendo que o conhecimento não é exclusividade de apenas determinada disciplina. A pedagogia de projetos é aqui considerada como uma concepção de ensino e aprendizagem que favorece o diálogo entre as áreas do conhecimento e a contextualização do conhecimento com foco na função social da escola (HERNÁNDEZ, 1998).

Os teóricos que fundamentam nosso estudo são Basílio, Oliveira e Ribeiro (2020), Fazenda (2011), Japiassu (2006) e Moraes (2005), para compreender a importância da interdisciplinaridade na educação; Peduzzi (2000), discutindo a transdisciplinaridade no ensino; e Moraes e Freire (2017), com uma proposta de inclusão do tema cidadania planetária no currículo; Freire (1999, 2009), a partir da discussão sobre temas geradores; Souza (2009), tratando da expansão urbana da cidade de Fortaleza- Ceará; além de Bakhtin (2016), na abordagem das diversas linguagens no processo de ensino e aprendizagem.

Na análise documental, apoiamos nossa investigação na Base Nacional Comum Curricular (BNCC-2017); nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN-1997); no Documento Curricular Referencial do Ceará (DCRC-2019); na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB-1996); no Plano de Manejo do Parque Natural Municipal das Dunas da Sabiaguaba, elaborado pela Secretaria do Meio Ambiente de Fortaleza-Ceará (Fortaleza - 2010); e nos Decretos Municipais 11.986 e 11.987.

O tema em debate apresenta possibilidades a serem exploradas por professores em formação inicial ou continuada, pesquisadores vinculados à Educação, bem como por docentes em exercício nas escolas de ensino fundamental e médio. Visamos contribuir para a construção de metodologias de ensino e de aprendizagem que incorporem a trans/interdisciplinaridade, em oposição a práticas curriculares disciplinares que desconectam os educandos e educandas de sua realidade socioespacial e vivencial.

Apoiamo-nos em Moraes (2005), conceituando interdisciplinaridade como:

Uma abordagem epistemológica que nos permite ultrapassar as fronteiras disciplinares e nos possibilita tratar, de maneira integrada, os tópicos comuns às diversas áreas. O intuito da interdisciplinaridade é superar a excessiva fragmentação e linearidade do currículo. Mediante o estudo de temas comuns, estabelece-se um diálogo entre as disciplinas, embora sempre considerando a especificidade de cada área, com seu saber acumulado que deriva do olhar especializado (MORAES, 2005, p.39). 

 

No que tange à   transdisciplinaridade, tomamos como referência Peduzzi (2000, p.1), situando as relações ou reciprocidades entre as diversas disciplinas no interior de um sistema total, “[...] tomando por base uma axiomática geral compartilhada capaz de instaurar uma coordenação, em vista de uma finalidade comum”. A transdisciplinaridade permite contextualizar a discussão no âmbito local, nacional, global e planetário. Os temas transdisciplinares funcionam como organizadores do conhecimento, permitindo “ligar os saberes e lhes dar sentido” (MORIN 2000, p.21),  proporcionando foco e relação entre as disciplinas do currículo e situando o desenvolvimento curricular no paradigma da complexidade, que, segundo Morin & Le Moigne (2000), é o maior desafio do pensamento contemporâneo. No caso da Sabiaguaba, situamos a proposta pedagógica no âmbito da formação de cidadãos planetários com sensibilidade e respeito ao meio ambiente, à cultura local, à diversidade cultural, étnica e religiosa, enfim, que percebam a complexidade e “a diversidade epistemológica do mundo, o reconhecimento da existência de uma pluralidade de formas de conhecimento além do conhecimento científico” (SANTOS, 2007, p. 23).

No mesmo sentido, Japiassu (2006, p. 1) afirma:

 

O grande desafio lançado ao pensamento e à Educação nos dias de hoje, neste início de século e de milênio, é a contradição entre, de um lado, os problemas cada vez mais globais, interdependentes e planetários, e de outro, a persistência de um modo de conhecimento que privilegia os saberes fragmentados, parcelados e compartimentados.

 

Nossa proposta visa contestar as práticas educativas que se coadunam com a teoria tradicional do currículo, as quais induzem o educando à passividade, à reprodução de conteúdo e à falta de diálogo entre os diferentes campos do conhecimento. Almejamos, sobretudo, alicerçar bases, tendo em vista uma cidadania planetária e um lugar onde caiba a vida do educando, pois acreditamos que isso pode ser viável, a partir dos espaços sociais cotidianos como referência para a construção do conhecimento interdependente e integrado à escola.

O caminho metodológico parte do emprego dos temas geradores desenvolvidos por Freire (2009), visto que “eles permitem concretizar, metodologicamente, o esforço de compreensão da realidade vivida para alcançar um nível mais crítico de conhecimento dessa realidade, pela experiência da reflexão coletiva da prática social real” (TOZONI-REIS, 2006, p. 104).  Conforme Gadotti (2008):

A cidadania planetária deverá ter como foco a superação das desigualdades, eliminação das sangrentas diferenças econômicas e a integração intercultural da humanidade, enfim, uma cultura da justipaz (a paz como fruto da justiça). Não se pode falar em cidadania planetária global sem uma efetiva cidadania na esfera local e nacional. Uma cidadania planetária é, por excelência, uma cidadania integral, portanto, uma cidadania ativa e plena, não apenas em relação aos direitos sociais, políticos, culturais e institucionais, mas também em relação aos direitos econômicos. Ela implica também a existência de uma democracia planetária (p. 32-33). 

 

Com base na linha de pensamento do autor, defendemos que o aluno deve tornar-se um cidadão fortalezense, brasileiro e planetário. Portanto, buscamos compreender a Sabiaguaba dentro de um contexto social mais abrangente, a metrópole, investigando os processos decisivos para a expansão urbana-demográfica da capital cearense, e estabelecer relações com outras cidades do Brasil e de outros países, tendo o planeta como tema global, algo que diz respeito a cada um desses contextos e a todos, ao mesmo tempo.

Na conjuntura socioespacial de Fortaleza, é indispensável considerarmos as relações existentes entre a formação e o crescimento da urbe, bem como os movimentos migratórios que ocorreram na dinâmica campo-cidade e foram profundamente influenciados, no caso em questão, pelas estiagens, pela estrutura fundiária e pelas más condições de vida da maioria das populações sertanejas do Ceará.

Este trabalho divide-se em três seções distintas, além de sua introdução e conclusão: primeiramente, apresentamos a Área de Preservação Ambiental (APA) da Sabiaguaba na conjuntura socioespacial da capital cearense; em seguida, demonstramos de que forma esse contorno pode ser abordado como tema gerador trans/interdisciplinar na Educação Básica; posteriormente, apresentamos um cordel literário e as múltiplas possibilidades que esse gênero textual pode oferecer aos processos educativos.

Na conclusão, discorremos acerca da necessidade de se construir um currículo que transponha as balizas do tradicionalismo curricular, o qual funciona como empecilho ao delineamento de aprendizagens integradoras e socialmente relevantes.   

 

Sabiaguaba no contexto socioespacial da cidade de Fortaleza – Ceará

 

Um dos assuntos mais comentados e discutidos na área do meio ambiente em Fortaleza-Ceará, no primeiro semestre de 2020, foi a possibilidade de construção de um condomínio residencial em área equivalente a 50 hectares, voltado para o público de classe média alta. O empreendimento seria erguido no bairro Sabiaguaba, situado no extremo leste do município supracitado. Poderia tratar-se de apenas mais um dos inúmeros empreendimentos imobiliários em uma metrópole que se expande velozmente, por meio da edificação de prédios comerciais, edifícios residenciais e casas dos mais variados padrões, não fosse o local pretendido para sua instalação: um complexo interdunar com características ambientais, que se configura como um perfeito delineamento do que foi o sítio urbano original da cidade. 

Conforme o Plano de Manejo elaborado pela Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano (FORTALEZA - 2010) da Prefeitura Municipal de Fortaleza, organizado em parceria com diversos órgãos e setores governamentais e da sociedade civil, o que popularmente se convencionou chamar de Dunas da Sabiaguaba é um Parque Natural Municipal (PNMDS) e, ao mesmo tempo, uma Área de Proteção Ambiental (APA), criados, respectivamente, pelos Decretos 11.986 e 11.987, ambos de 20 de fevereiro de 2006 (FORTALEZA - 2010). A figura 1 abaixo exibe a localização desses recortes espaciais no município em questão.

 

Figura 1-Localização da APA e do parque natural municipal das dunas da Sabiaguaba

Mapa

Descrição gerada automaticamente

Fonte: SIRGAS, 2000. IBGE, 2016. Elaboração: BARROS, 2021.

 

Circunscritas no litoral oriental de Fortaleza, as unidades de conservação mencionadas fazem parte das bacias hidrográficas dos rios Cocó e Pacoti, possuindo áreas de abrangência de 467,60ha (PNMDS) e 1009,74ha (APA), sendo assim descritas por Fortaleza (2010):

Sabiaguaba é um importante ambiente natural composto por: dunas móveis, fixas e semifixas, lagoas interdunares, bosques de manguezais e matas de tabuleiro, praias arenosas e rochosas, recifes coralinos, nascentes de água doce, áreas de desovas de tartarugas, de aves raras e migratórias, mamíferos, répteis, anfíbios, artrópodes, sítios arqueológicos com mais de 4 mil anos (FORTALEZA, 2010, p.1).

Foi nesse cenário que Fortaleza se estabeleceu como cidade, originada de uma vila assentada sobre um imenso campo de areias, vindo, posteriormente, consolidar-se como a metrópole que hoje ostenta cerca de 2,7 milhões de habitantes em seus limites político-administrativos, e mais de 4,1 milhões, quando considerada em conjunto com as 18 municipalidades que compõem sua região metropolitana (IBGE - 2020).

Sales (2006, p.13), de maneira bastante apropriada, descreve o que seria a capital do Ceará quando os colonizadores portugueses aportaram em terras locais:

 

Quando no século XVI os europeus aqui chegaram, encontraram amplos campos de brancas dunas e provavelmente mega dunas - os “lençóis fortalezenses” - recobrindo a planície litorânea, se deslocando em direção à Beira Mar, à Avenida Leste-Oeste, à Barra do Ceará. Incontáveis lagoas e baixios úmidos interconectados por córregos pontilhavam a área, de norte a sul, de leste a oeste. Resquícios de falésias antigas se exibiam aqui e ali, na Leste-Oeste, no bairro Cocó. Frondosa cobertura vegetal colonizava a retaguarda das dunas e a zona costeira. Inúmeros riachos dissecavam o front marítimo sem qualquer cerimônia, com manguezais coroando suas vertentes marítimas - dentre eles, destacava-se em pleno core central, o riacho Pajeú (SALES, 2006, p.13).

 

Segundo a historiografia, a então insignificante Vila do Pajeú foi, durante muitos anos de sua trajetória, ofuscada pela importância econômica de outros municípios interioranos cearenses, tais como Icó, Sobral, Acaraú e Aracati, que concentravam em seus territórios e nas suas circunvizinhanças a produção e a logística da cadeia produtiva do motor da economia cearense à época: a pecuária bovina. Somente com a expansão da cultura algodoeira, direcionada à exportação internacional, e com a transferência definitiva da sede do poder político central estadual da cidade de Aquiraz para Fortaleza, foi que a atual capital cearense conquistou indiscutível relevância no cenário político, econômico e cultural do estado e da região Nordeste. Esses fatores conjugados exerceram profunda influência sobre o crescimento urbano e demográfico da urbe em questão, que passou a atrair pessoas das mais diversas regiões do estado, sobretudo nos períodos de forte estiagem no sertão.

Podemos inferir que o aumento acelerado – sem planejamento – e desordenado da cidade, provocado, principalmente, pelos intensos fluxos migratórios, exerceu grande pressão sobre a paisagem natural de Fortaleza, cujos rios, riachos, lagoas e mangues têm sido bastante poluídos, assoreados, aterrados ou até mesmo destruídos. Quase todas as dunas acabaram sendo desmontadas e muitas de suas praias encontram-se contaminadas ou com faixa de areia flagrantemente reduzida.

É nesse panorama socioambiental e histórico que o complexo da Sabiaguaba enquadra-se e precisa ser compreendido. Trata-se de um dos últimos espaços de natureza remanescente da cidade e que vem sendo tratado como reserva de valor pelo mercado de imóveis, e pela indústria da construção civil. A especulação imobiliária tem atuado em Fortaleza de forma incessante sobre o patrimônio natural, histórico, artístico e cultural do município, empurrando, com o aval do poder público, as populações mais pobres para as longínquas, pauperizadas e violentas periferias suburbanas.

Isso tem feito de Fortaleza uma das cidades socialmente mais desiguais e ambientalmente mais degradadas do país, afetando de maneira negativa a qualidade de vida da maioria dos habitantes, em especial, os de mais baixa renda, que lutam diariamente pelo direito à cidade na “terra do sol”.

Sabiaguaba como tema gerador transdisciplinar

O  tema gerador (Freire, 2009), que constitui parte do universo temático da época, é objetivo, concreto, “algo a que chegamos através, não só da própria experiência existencial, mas também de uma reflexão crí­tica sobre as relações homens-mundo e homens-homens” (p. 54). A investigação do tema gerador realiza-se por meio de uma metodologia dialógica e conscientizadora, além de nos possibilitar sua apreensão, insere ou começa a inserir os homens numa forma crítica de pensarem seu mundo.

A Sabiaguaba, tomada como tema gerador interdisciplinar, permite a interação entre saberes de vários campos do conhecimento, possibilitando o tratamento de conteúdos didáticos que perpassam as fronteiras curriculares e supere o ensino que se alicerça no conteudismo enciclopédico. Com base no esquema interdisciplinar difundido por Kleiman e Moraes (1999), elaboramos uma representação gráfica que apresenta o tema Sabiaguaba como mola propulsora dessa discussão, em uma relação dialógica e sistêmica com outros campos do conhecimento; ou seja, uma estrutura que projeta o ambiente Sabiaguaba como eixo central e motor de conhecimentos agregados e solidários. Nesse esquema, as disciplinas do currículo escolar são representadas por núcleos e os diversos saberes a elas relacionados são compostos por campos.

 

Figura 2- Sabiaguaba como tema gerador inter/transdisciplinar

 

Gráfico, Gráfico de bolhas

Descrição gerada automaticamente

Organização: autores, 2020.        

 

A figura 2 acima objetiva apresentar uma construção do conhecimento de forma interdisciplinar, pensando o saber científico em suas diversas áreas e os saberes populares de maneira dialogada. A forma circular da figura, com setas ligando um núcleo[ii] ao outro e aos diversos campos, indica que podemos discutir qualquer campo a partir de qualquer núcleo. Com base nesse esquema, percebemos a multiplicidade de abordagens que podem ser instrumentalizadas de maneira interdisciplinar, com o objetivo de extrapolar as chamadas “grades” do currículo escolar.

O ensino por meio de temas geradores tem como uma de suas principais particularidades o respeito pelo contexto social do educando, a partir do qual surge uma problematização que conduzirá à elaboração coletiva de conhecimentos. Foi a partir de Freire (2009) que o ensino baseado em situações-problema surgidas de um tema gerador ganhou força. Para esse autor, “a educação problematizadora se faz, assim, com um esforço permanente através do qual os homens vão percebendo, criticamente, como estão sendo no mundo com que e em que se acham”. 

Essa alternativa metodológica vem se mostrando eficaz para a ação docente em diferentes circunstâncias e para as mais diversas finalidades educativas. A valorização do lugar do educando no currículo escolar e nas práticas docentes talvez seja o principal destaque do trabalho a partir de temas geradores.

O lugar de realização da vida cotidiana e o uso de temas geradores no trabalho docente precisam ser mais realçados, com o intuito de superação do ensino meramente descritivo, conteudista, calcado na memorização e reprodução de conhecimentos prontos e acabados, ao que Freire (2009) denominou educação bancária, e que pouco ou nada dizem respeito às vivências dos alunos e professores.

 

As Ciências Humanas e a Sabiaguaba como tema gerador 

 

As áreas de Ciências Humanas e sociais, a partir do tema Sabiaguaba, podem interagir com os saberes de outros campos do conhecimento, possibilitando o tratamento interdisciplinar de inúmeros conteúdos curriculares que perpassam todo o período da Educação Básica, dentre os quais destacamos: relações campo-cidade, êxodo rural, segregação socioespacial, problemas socioambientais urbanos, habitação, meio ambiente, justiça ambiental, sustentabilidade, qualidade de vida, dentre outras temáticas não menos importantes. As Ciências Humanas e Sociais possibilitam, portanto, a construção de conhecimentos interdisciplinares e integrados à vida do educando, de maneira que os sujeitos tornem-se capazes de ler de maneira crítica e reflexiva a realidade cotidiana que os cerca.  Como nos ensina Fazenda (2011, p.11), “interdisciplinaridade não se ensina nem se aprende, apenas vive-se, exerce-se”.

O docente poderá empreender como tema gerador as grandes secas do início do século XX associadas ao problema da questão agrária, o homem do campo começando a migrar para Fortaleza, ocupando áreas próximas ao centro da capital do estado e situadas na faixa litorânea, onde hoje existem bairros como Pirambu, Arraial Moura Brasil e Mucuripe. Naquela época, a faixa costeira não era merecedora do prestígio que hoje desfruta junto à população de maior poder aquisitivo. Originalmente, Fortaleza cresceu de costas para o mar. Conforme Souza (2009), esse cenário somente sofreu mudanças a partir de 1930/1940, quando se iniciou a especulação imobiliária na faixa litorânea.  

Nesse contexto, é importante destacar que a expansão urbana de Fortaleza é explicada em grande parte pelo êxodo rural que contribuiu significativamente para o surgimento dos primeiros aglomerados compostos por moradias subnormais.

A cidade constituiu-se, principalmente, de uma população de baixa renda, contribuindo para a expansão de aglomerados compostos por moradias subnormais, que apresentaram amplo crescimento em Fortaleza, já que esta era influenciada também pelo local de destaque que sempre ocupou na economia nacional, apresentando-se como lugar estratégico para escoar bens e serviços para o restante do mundo.

Nas últimas décadas, em virtude da influência dos PCNs e dos temas transversais, e mais recentemente com a BNCC, fortaleceu-se, progressivamente, a ideia de que a escola e suas práticas pedagógicas precisam se conectar à realidade e ao contexto vivencial de seus alunos e de suas respectivas comunidades escolares. Evidentemente, esse juízo não intenciona dar uma acomodação da escola aos valores e à lógica da sociedade vigente, mas advém de um parecer pertinente que recai sobre o ensino escolar feito em sala de aula, baseado, sobretudo, na memorização de conteúdo a ser repetido em provas externas e no distanciamento entre o que se ensina e o que se vive. 

O domínio interdunar situado no extremo leste de Fortaleza, bem como as discussões que no momento acontecem sobre esse espaço, podem oportunizar a instrumentalização de metodologias de ensino e de aprendizagem que escapem do conteudismo, da reprodução de conhecimentos prontos e (supostamente) acabados contidos no livro didático escolar e da dissociação acerca da realidade conjuntural do aluno. Pensar a Sabiaguaba como tema gerador é promover o lugar e a cultura do aluno no currículo escolar, levando a realidade que o envolve para a sala de aula, ou mesmo fazer dessa realidade a própria sala de aula. O lugar como categoria geográfica é o espaço de realização da vida cotidiana dos sujeitos e, por isso, precisa ser mais valorizado pela escola em suas práticas pedagógicas, devendo fazer parte do currículo escolar, incluindo os sujeitos e os seus saberes.

A Base Nacional Comum Curricular (BRASIL,2017), documento legal que norteia a Educação Básica, também enfatiza a necessidade de o ensino de Geografia e História estar comprometido com a valorização do espaço vivido e com a formação para a cidadania ativa. Dessa forma, o ensino integrado entre áreas do conhecimento, ao estimular os alunos a interpretarem e a compreenderem criticamente o mundo, não só favorece a autonomia e o protagonismo, mas também instiga à responsabilidade coletiva e à busca por transformações sociais.   

Em Geografia, uma das estratégias metodológicas mais utilizadas pelos professores, com a intenção de se atingir a compreensão holística de uma dada realidade, diz respeito à leitura e à interpretação da paisagem. Tendo em vista o conhecimento basilar no campo dessa ciência, a paisagem é definida como sendo tudo aquilo que é apreendido pelo indivíduo, por meio dos sentidos (SANTOS, 2008). Logo, são infinitas as possibilidades de abordagens interdisciplinares de conteúdos curriculares, por intermédio do impulso à leitura e à interpretação da paisagem, em diferentes contextos, como demonstram Basílio, Oliveira e Furtado:

De maneira interdisciplinar e integrada, é concebível estimular no aluno a autonomia, para que ele mesmo se permita observar, identificar, descrever, relacionar, interpretar e fazer analogias, extraindo diversas informações que podem gerar aprendizagens significativas a respeito da realidade local BASÍLIO; OLIVEIRA; RIBEIRO, 2020, p. 211.

 

Concordamos com Basílio, Oliveira e Furtado (2020, p.16) quando afirmam que construir saberes por uma diretriz holística “se volta para a promoção de interdisciplinaridades no ensino através de um profícuo diálogo integrador entre os diversos campos do conhecimento”.  É justamente esse o diálogo integrador que acreditamos ser possível realizar por meio de abordagens interdisciplinares que ressignifiquem a maneira de ensinar, aprender e de fazer educação.    

Linguagens e códigos e o cordel literário nordestino

A palavra “comunicar” traz implícita a ideia de comunidade. Sendo assim, a comunicação objetiva “pôr em comum não apenas ideias, sentimentos, pensamentos, desejos, mas também compartilhar formas de comportamento, modos de vida determinados por regras de caráter social” (ANDRADE; MEDEIROS, 2008, p. 3). Comunicar também abrange a convivência e, portanto, implica proporcionar o entendimento entre os homens. A linguagem é o sistema mais utilizado para expressar pensamentos e intenções. Por esse motivo, ela é ampla e abrange não apenas os elementos verbais, mas também os não verbais. O ser humano usa palavras, sons, gestos, cores, dentre outros elementos para se comunicar e alcançar seus objetivos.

A BNCC insere a disciplina de Língua Portuguesa na área de “linguagens”, tendo em vista a amplitude de possibilidades que o termo “linguagem” possui. Assim, quando abordamos a linguagem, pensamos também em textos que podem ser escritos, orais e visuais.

O conteúdo mais predominante em toda a vida escolar é o que se refere aos gêneros textuais. Isso ocorre porque desde a educação infantil até o ensino médio, os gêneros são usados para o trabalho com a Língua Portuguesa, seja em relação aos conteúdos que remetem às regras gramaticais ou à interpretação textual. De acordo com Koch e Elias:

Todas as nossas produções, quer orais, quer escritas, se baseiam em formas-padrão relativamente estáveis de estruturação de um todo a que denominamos gêneros. Longe de serem naturais ou resultado da ação de um indivíduo, essas práticas comunicativas são modeladas/remodeladas em processos interacionais dos quais participam os sujeitos de uma determinada cultura (KOCH; ELIAS, 2011, p. 55).

Os gêneros possuem enunciados mais ou menos estáveis, sendo definidos conforme seu conteúdo temático, sua composição e seu estilo (BAKHTIN, 2016). Isso quer dizer que cada gênero tem características próprias, o que permite diferenciá-los uns dos outros. Logo, quando produzimos algo – seja oral ou escrito – estamos elaborando um texto que faz parte de algum gênero. A produção textual será construída de acordo com nosso objetivo e conforme as características do gênero escolhido. Os gêneros mais usados na escola são fábula, romance, conto, notícia, poema, artigo de opinião, crônica, seminário, debate, palestra, cordel e outros. Quando destacamos o ensino infantil, os gêneros narrativos são mais abordados, tendo em vista a característica lúdica inerente a determinados tipos, como a fábula; já quando pensamos no ensino médio, reconhecemos a presença mais incisiva dos gêneros argumentativos, por exemplo, o artigo de opinião. Logo, podemos afirmar que dependendo do objetivo escolar e do conteúdo em foco, poderão ser utilizados variados gêneros.

As abordagens inerentes à Sabiaguaba devem ser trabalhadas no ambiente escolar de maneiras diversas. Neste estudo, escolhemos o cordel como aparato de pesquisa por reconhecermos que esse gênero, além de apresentar os aspectos conotativos tão presentes na poesia – o que permite ao receptor diversas interpretações –, também possui um viés crítico, que desperta no estudante o sentido da reflexão. É importante destacar que o cordel escolhido para este estudo referenda a região Nordeste, lugar que orienta as bases empíricas deste trabalho.

O cordel tende a refletir o contexto social, histórico e cultural que o circunda. A literatura de cordel possui suas raízes na Idade Média, período no qual a escrita não era o meio de comunicação mais utilizado, principalmente quando enfatizamos a transmissão cultural, pois era predominantemente por meio da oralidade que as informações iam sendo repassadas, mediante cantores e jograis. Logo, as feiras e os castelos recebiam os chamados trovadores, que, por meio de um repertório literário e musical, transmitiam o conhecimento. Os jograis possuíam como público principal as pessoas não alfabetizadas, iletradas. Portanto, as narrativas e os poemas construídos em forma de verso abordavam temas de interesse coletivo, que eram transmitidos de maneira clara, poética e, muitas vezes, divertida (ABREU, 1999). No Nordeste temos os repentistas, poetas populares que ao som da viola ou no ritmo do pandeiro, a partir de um mote, cantam a rima e desafiam o companheiro a responder com outra rima.  É por isso mesmo chamado de desafio.  

Por mais que o cordel seja uma literatura de base oral, seu tom rimado e sua musicalidade metrificada ganharam versão impressa. No Brasil, o cordel foi sistematizado no fim do século XIX, por Leandro Gomes de Barros, sob a estrutura de folhetos pendurados em cordas (ABREU, 2006). O gênero também apresenta um tom de denúncia em muitas de suas produções. Contudo, as polêmicas são transmitidas mediante uma linguagem mais familiar e rimada, conseguindo atingir desde os públicos cultos até os menos escolarizados, permitindo a ambos a percepção do que ocorre ao seu redor. Nessa perspectiva, trabalhar o gênero cordel em sala de aula proporciona, dentre outros benefícios, a análise da língua, a riqueza de informações históricas e culturais, além de desenvolver o pensamento crítico dos alunos, sendo todos esses aspectos transmitidos por meio da poesia, do ritmo e da subjetividade inerentes à literatura.

Nesse contexto, os gêneros textuais se apropriam de qualquer tema e área de estudo, podendo desenvolver análises diversas. Nesta pesquisa, evidenciamos a agressão ambiental que vem sendo praticada na Sabiaguaba e as consequências negativas que esses atos podem proporcionar. Diante dessa referência, apresentar um cordel, em sala de aula, que explore e informe sobre essa realidade socioambiental possibilitará ao estudante não apenas o conhecimento das notícias relacionadas ao tema, dos aspectos naturais, geográficos, históricos e sociais, como ainda despertará no aluno reflexões que formarão sua criticidade.

Considerado patrimônio imaterial do Nordeste, o cordel possui como uma de suas principais características a universalidade, que permite suplantar fronteiras e integrar de maneira interdisciplinar os múltiplos campos do conhecimento, enunciando-se como importante aliado das práticas docentes. Para exemplificar, escolhemos o cordel Sabiaguaba, Meu Amor – Manifesto pela Preservação da Vida[iii], dos cordelistas Eduardo Macedo, Fernando Paixão, Klévisson Viana, Ronaldo Rogério e Rouxinol do Rinaré, que apresenta uma denúncia em forma de poesia e rima sobre os muitos impactos ambientais que têm assolado a natureza daquele local. O cordel nos apresenta as belezas ali presentes e nos intima a preservar aquela paisagem da ganância dos que tramam contra a Sabiaguaba, por meio da destruição de suas dunas e matas, para beneficiar o capital.

  

Fortaleza está ouvindo

Da mata um grande clamor

Sabiaguaba gritando:

“Alguém pare esse trator!”

Enquanto o clarim da morte

Anuncia a sua sorte

Sob a sombra do valor

 

Disse um sábio no passado

Um adágio verdadeiro

Que ao secar o último rio

Um caos no planeta inteiro

E o último peixe morrer

O homem vai entender

Que não se come dinheiro.

 

É interessante observar como a Sabiaguaba ganha voz no cordel, passando a ser um personagem e pedindo ajuda. Seu lamento denuncia os desmandos que estão ocorrendo e destruindo a natureza local. Moisés (2007, p. 32) destaca que, em uma abordagem literária, a análise não deve ser feita “da palavra pela palavra, mas da palavra como intermediário entre o leitor e um conteúdo de ideias, sentimentos e emoções que nela se coagulam”. Isso nos impele a reconhecer que o clamor da Sabiaguaba, além do tom de queixa, ainda quer comover o leitor, para que este tome partido da situação. Nos versos seguintes, a denúncia continua:

Sabiaguaba, o recanto

De encantamento e beleza

Sua biodiversidade

De incontestável riqueza

Está pedindo pra gente

Se mobilizar urgente

E fazer sua defesa

 

A reserva vem sofrendo

Impactos ambientais

É vítima das ambições

Dos donos dos capitais

Que devoram sem limites

Com medonhos apetites

As reservas naturais. 

 

As estrofes enfatizam o aspecto subjetivo da Sabiaguaba, ao mencionarem sua beleza que tanto encanta e, ao mesmo tempo, sofre agressões. O verbo “devorar”, associado às palavras “ambições” e “capitais”, promove um jogo linguístico que ratifica a crítica incisiva presente no texto. Além disso, a palavra “medonhos” destaca a variação linguística geográfica da região Nordeste, tendo em vista tratar-se de um vocábulo inerente ao dialeto desse local.  

Portanto, é possível ao aluno perceber que a literatura tem diversas funções, sendo a denúncia uma delas. Com o intuito de também formar a identidade de uma pessoa, o texto literário desenvolve a capacidade do estudante de pensar, refletir e chegar às suas próprias conclusões, a partir de um conjunto de conhecimentos.

Nesse contexto, o trabalho com os gêneros pode ser realizado ainda abordando as sequências didáticas, que são atividades organizadas em conjunto e desenvolvidas por meio de um gênero textual, seja este escrito ou oral (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004). As sequências didáticas apresentam uma situação e, posteriormente, solicitam uma produção inicial. Após esse exercício, os alunos passam a desenvolver atividades que objetivam prepará-los para uma produção final. Apresentar o cordel sobre a Sabiaguaba seria uma opção para introduzir os estudantes no universo dos gêneros, identificando o conceito destes e explicando sua variedade. A partir desse conhecimento, outras atividades poderiam ser propostas, como, por exemplo, rodas de conversa, a elaboração de um artigo de opinião, aula de campo com o objetivo de elaborar pequenas reportagens e, como produção final, os alunos poderiam fazer um sarau literário, no qual apresentariam cordéis, poemas, contos, desenhos, dentre outras produções autorais. Essa atividade final proporcionaria não apenas uma interação entre os alunos da mesma série, mas também a socialização de conhecimentos com os estudantes de outras turmas, além da possibilidade de abordagem de assuntos variados que pudessem contemplar as disciplinas escolares.

 

Tecnologias, comunicação, cultura digital, jornalismo

A pedagogia dos multiletramentos foi afirmada pela primeira vez em 1996, durante um colóquio do Grupo Nova Londres. Uma equipe de pesquisadores reunidos em Nova Londres, em Connecticut (EUA), após uma semana de discussões, publicou um manifesto intitulado A Pedagogy of Multiliteracies – Designing Social Futures (“Uma pedagogia dos multiletramentos – desenhando futuros sociais”).

De acordo com Rojo e Moura (2012), o manifesto afirmava a necessidade de a escola tomar a seu cargo – por isso a proposta de uma “pedagogia” – os novos letramentos emergentes na sociedade contemporânea, em grande parte – mas não somente – devido às novas Tecnologias da Informação e da Comunicação, e de levar em conta e incluir nos currículos a grande variedade de culturas já presentes nas salas de aula de um mundo globalizado e caracterizado, infelizmente, pela intolerância, em muitas situações de convivência entre as pessoas. 

Segundo o grupo de estudiosos descrito por Rojo e Moura (2012), o multiletramento aponta para dois tipos específicos e importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades, principalmente urbanas, na contemporaneidade: a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos, por meio dos quais ela se informa e se comunica. A importância dos letramentos multimidiáticos não ocorre apenas pelo uso que se faz deles, mas pela autoria que possibilitam.

Assim, para os multiletramentos, são necessárias novas práticas de produção e de análise crítica como receptor, habilidades de autoria multimidiática, sem desconsiderar a habilidade tradicional de produção textual e de leitura crítica. E, diferentemente da mídia tradicional, a mídia digital permite que o usuário interaja em outros níveis e com vários interlocutores na postagem de ideias e textos nas redes sociais, principalmente. 

O homem, apesar de toda evolução e modernidade, ainda se mantém dentro de molduras enferrujadas e pouco flexíveis a mudanças, na formação de crianças e adolescentes, como temos discutido neste artigo. Estruturas ultrapassadas, que pouco lembram espaços de interação real, parecem estagnadas, descontextualizadas em suas maneiras de construir conhecimentos. A imposição diária de conteúdos curriculares fechados e pouco significativos afasta os alunos da escola, que já se tornou local para onde a maioria precisa fazer o sacrifício de ir, como condição de ser “recompensada” mais tarde com a entrada na universidade ou com um bom emprego. (FREIRE, 1999).

Na busca pela compreensão dos usos qualificados das mídias e de toda cultura digital na sala de aula, Kaplún (1999) vem nos recordar de um grande mestre, considerado pioneiro na prática educomunicativa, o francês Célestin Freinet, quando ele fez de sua sala de aula uma grande redação de jornal. Sua herança de apropriação das técnicas de produção do conhecimento e incentivo à autonomia dos educandos ainda funciona como grande guia àqueles que se aventuram pelo campo da comunicação-tecnologia/educação.

Assim como Freinet, muitos educadores apostam hoje que a comunicação-tecnologia/educação é o campo mais promissor de atualização da escola. A mediação pela comunicação para a apreensão de conteúdos em sala de aula é posta por Baccega (2001) como o estímulo que faltava à dinamização da escola e à integração por ela das novas tecnologias.

Sendo assim, também é a mediação entendida por Martín-Barbero (2001) como uma nova forma de olhar para um mesmo processo, tendo coragem bastante para arriscar, apostar no desconhecido, como um tatear no escuro que permita compreender os meios de comunicação a partir de diferentes usos sociais, a fim de reinventá-los, apropriar-se deles por um novo aspecto, e não os negar enquanto inadequados em seus objetivos iniciais.      

De tal modo, o ecossistema comunicativo, tão difundido por Soares (2005), precisa existir sob pena de vivenciarmos ainda perda de qualidade e interesse em nossas escolas. É necessário que os estudantes se sintam protagonistas de seus saberes, dando a eles a oportunidade de se expressarem.  

Com a homologação da Base Nacional Comum Curricular, o campo de atuação jornalístico-midiático se constituiu como parte do componente Língua Portuguesa, tanto no ensino fundamental (anos finais) quanto no ensino médio. Mesmo nos anos iniciais do ensino fundamental, é possível já verificar a inserção das múltiplas linguagens midiáticas no dia a dia de construção dos conhecimentos das crianças. Pelos campos cotidiano, artístico-literário, vida pública e práticas de estudo e pesquisa, é possível constatar o fomento de produções e de apropriações críticas das linguagens relacionadas. De acordo com duas das dez competências da BNCC (2017, p. 9), é preciso:

5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta (BRASIL, 2017, p.9).

 

Verifica-se, com base no que foi acima descrito, um grande avanço, que já tardava se consolidar, como orientação nos documentos oficiais que regem a educação brasileira. O acesso universal às Tecnologias de Informação e de Comunicação, inclusive à internet, está previsto na Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), assinada também pelo Brasil, em 2015, como condição de se reduzir a desigualdade, rumo ao desenvolvimento sustentável. O documento prevê 17 objetivos interconectados, que abordam os principais desafios de desenvolvimento enfrentados pela humanidade e que se pretende alcançar até 2030.

A cultura digital também está presente no Documento Curricular Referencial do Ceará, lançado recentemente, que “aponta caminhos para que o currículo das escolas cearenses seja vivo e prazeroso, de modo a assegurar as aprendizagens essenciais e indispensáveis a todas as crianças e adolescentes” (CEARÁ, 2019, p.18). O documento, voltado para a educação infantil e o ensino fundamental do estado, destaca que a cultura digital está diretamente ligada à “mudança nas formas de ensinar a aprender” e reconhece que essa cultura “tem um impacto nas relações sociais e no processo de construção do conhecimento no mundo contemporâneo” (CEARÁ, 2019, p.102). Por isso, é tão essencial. 

Nessa esteira de raciocínio e reflexões, a educação midiática vem se consolidando como um dos caminhos mais seguros para se desenvolver a habilidade de ler criticamente e participar de forma ativa do mundo conectado em que vivemos, dando sentido e sabendo selecionar o que vale a pena no grande fluxo de informação que nos chega, como exercício diário.

As redes sociais de massa, como Instagram, Facebook, Twitter, transformaram-se também em canais midiáticos de difusão do jornalismo profissional sério e comprometido. Mas não somente: as redes sociais abriram espaços e tornaram mais visíveis produtores independentes de informação. Há riscos nessa superprodução de informação, mas há também movimentos muito positivos, gerados em torno de causas sociais relevantes, pondo-as mais à mostra para a população, com potencial para grandes mobilizações, seja por perfis de pessoas físicas engajadas, seja por coletivos. Eles podem pautar, inclusive, a grande mídia, fortalecendo o conceito de cidadania, a partir da atuação de seres de direitos e deveres, agentes de transformação, vigilantes, críticos, conscientes, com participação ativa.

No caso específico da Sabiaguaba e toda a especulação imobiliária que gira em torno da área, registra-se a atuação relevante do grupo Fortaleza pelas Dunas, empreendida fortemente pelas redes sociais, não apenas pelo grupo em si, mas também por ações independentes de seus integrantes, com perfis que reforçam a causa e ganham cada vez mais adeptos. Pelo ig @fortalezapelasdunas, a população tem acesso a informações que reforçam a importância de se preservar a Área de Proteção Ambiental da Sabiaguaba, além da ciência do que está acontecendo acerca dos desrespeitos àquele território. Assim, a população é conclamada a se integrar ao movimento e a participar da luta em defesa do lugar por reconhecê-lo, a partir do conteúdo disponibilizado, como fundamental à sua própria existência, seja na escola utilizando-se do currículo formal ou em outros espaços, utilizando-se do currículo não escolar.

Para não concluir

Construir um currículo integrado, que escape da verticalidade e do autoritarismo, do conteudismo, da fragmentação dos saberes, da falta de diálogo entre os campos do conhecimento e da desconexão com a realidade vivida sempre foi um grande desafio para as escolas e os profissionais de educação. Entretanto, quando escolhemos a arte da poesia, a interlocução entre os saberes científicos, históricos, geográficos e populares, o letramento midiático como formas de construir conhecimento conseguimos nos desvincular do tradicionalmente exposto e muitas vezes reproduzidos por matrizes curriculares, livros didáticos e práticas docentes ao despertar olhares e desenvolver reflexões significativas para a área de currículo.

O trabalho com o cordel em destaque é um exemplo de como o encontro de temáticas variadas com áreas diversas do saber pode promover indagações, fazer conhecer, induzir a um posicionamento, motivar uma tomada de decisão, pois os poderes da rima e das variadas interpretações presentes em um texto poético nos impelem ao entusiasmo, ao reconhecimento do que está sendo dito, seja isto uma crítica ou uma divagação.

Torna-se mais fácil – e até mesmo prazeroso – tentar compreender o mundo por meio dos versos. Como destaca Drummond (1986, p. 151), “também de pão abstrato se nutre o homem”. A esperança e o espírito de luta, que devem ser gestados em nossos educandos desde o ensino infantil, também serão alimentos que ajudarão a formar nossos estudantes. 

Destacamos que o contexto de abundância de informação pode ser perigoso, mas também multiplica as possibilidades de aprendizagem, se bem conduzidas pelo aprendizado de crianças e adolescentes. A capacidade de relacionar-se com toda essa informação permite a construção com maior facilidade de conhecimento. A internet e as ferramentas digitais oferecem inúmeros recursos para apoiar não só a aprendizagem, mas também a construção de uma Cidadania Planetária. É nessa condição que o jovem deixa de ser um mero consumidor de entretenimento ou informações, passando a ser produtor de conhecimento com voz ativa na atual sociedade conectada, capaz de mobilizar as ferramentas necessárias para seu crescimento pessoal e o benefício de toda a comunidade. A escola deve guiar esse letramento, estimulando de forma segura e fortalecedora a autonomia e o senso crítico do aluno em relação ao ambiente informacional.

As metodologias de ensino e de aprendizagem atualmente nos incitam a pensar uma educação escolar que se distancie da descrição e da memorização de conteúdos livrescos, buscando-se firmar, progressivamente, em práticas docentes que reconheçam, em primeiro lugar, os saberes de mundo dos educandos. Essa tentativa de compreensão do nacional e do global, a partir do lugar de vida do educando, visa articular conhecimentos multidimensionais que alcancem a cidadania em um sentido planetário. 

Ressignificar as práticas docentes a partir da perspectiva interdisciplinar do conhecimento pode ser o início da transformação da escola. Sermos docentes não só ministradores de aula, mas profissionais mediadores do conhecimento, do saber e dos saberes. É necessária uma prática integradora, vivenciando o currículo e os conteúdos escolares, os saberes discentes e docentes, enxergando o mundo a partir da realidade dos sujeitos.

A Sabiaguaba nos é muito cara e ensinar a amá-la por meio da compreensão de sua importância no cenário local, nacional e planetário é o objetivo maior que esperamos atingir com este trabalho.

 

REFERÊNCIAS

ABREU, M. Histórias de cordéis e folhetos. Campinas: Mercado de Letras, 1999.

ABREU, M. Cultura Letrada: literatura e leitura. São Paulo: Editora UNESP, 2006.

AMORA, A. S. Introdução à Teoria da Literatura. São Paulo: Editora Cultrix, 2004.

ANDRADE, Carlos Drummond. O Poder Ultrajovem. Rio de Janeiro: Record, 1986.

ANDRADE, M. M. de; MEDEIROS, J.B. Comunicação em Língua Portuguesa. Normas para Elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). 4 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

BACCEGA, Maria Aparecida. Aproximações à telenovela: os encontros de ressignificação. São Paulo Manaus: Ed. Intercom Universidade do Amazonas, 2001.

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Paulo Bezerra (Organização, Tradução, Posfácio e Notas); Notas da edição russa: Seguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016.

BASÍLIO, E.F; OLIVEIRA. D. N. da S; RIBEIRO, L.T.F; Interdisciplinaridades e construção de conhecimentos a partir das categorias paisagem e lugar no ensino de geografia. Revista Humanidades e Inovação, Palmas v. 7, n. 13, p. 2007-2018.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192.

 BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: história, geografia. Secretaria de Educação Fundamental. Brasileira, MEC/ SEF, 1997.

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Contido em: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/.

CEARÁ. Governo do Estado do Ceará/Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Documento Curricular Referencial do Ceará: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Versão Lançamento Virtual Fortaleza: SEDUC, 2019. Disponível em: https://www.seduc.ce.gov.br/wp-content/uploads/sites/37/2020/02/DCRC_2019_OFICIAL.pdf.

FAZENDA, I. C. A. A Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro: efetividade ou ideologia. 6 Ed. São Paulo: Loyola, 2011.

FORTALEZA, Prefeitura.  Plano de manejo parque natural municipal das dunas de Sabiaguaba área de proteção ambiental de Sabiaguaba. FORTALEZA. DEZEMBRO DE 2010. Disponível em: https://urbanismoemeioambiente.fortaleza.ce.gov.br/images/urbanismo-e-meio-ambiente/planejamento/plano_de_manejo_da_sabiaguaba.pdf.

FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1992. (Coleção Polêmicas do nosso tempo).

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 23. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 48. reimp. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

GADOTTI, Moacir. Educar para a sustentabilidade. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2008.

HERNÁNDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 1998.

JUPIASSU, H. (2006). O espírito interdisciplinarCadernos EBAPE.BR4(3), 1 a 9. Recuperado de http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/cadernosebape/article/view/7401.

KAPLÚN, M. (1999). Processos educativos e canais de comunicaçãoComunicação & Educação, (14), 68-75. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9125.v0i14p68-75.

KLEIMAN, A.; MORAES, S. E. Leitura e Interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Mercado de Letras, 1999.

KOCH, I. Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e Escrever: estratégias de produção. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2011.

MARTÍN-BARBERO, Jesús; REY, Germán. Os exercícios do ver: hegemonia audiovisual e ficção televisiva. São Paulo: Senac, 2001.

MOISÉS, M. A Análise Literária. São Paulo: Cultrix, 2007.

MORAES, S. E. Interdisciplinaridade e transversalidade mediante projetos temáticos. R. Bras. Est. Pedag., Brasília, v. 86, n. 213/214, p. 38-54, maio/dez. 2005.

MORAES, S.E & FREIRE, L.A. Planetary Citizenship and the ecology of knowledges in Brazilian Universities, in International Journal of Development Education and Global Learning 8 (3) 2017 25

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000

OBRA COLETIVA, Sabiaguaba, Meu Amor: manifesto pela preservação da vida. Rouxinol do Rinaré edições. Capa: Eduardo Macedo. Fortaleza. Julho de 2020. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/473892557/Sabiaguaba-meu-amor-cordel-pdf.

ROJO, R. Apresentação: Protótipos didáticos para os multiletramentos. In: MOURA, E. (Org.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012. 264 p. (Estratégias de Ensino, 29).

SALES, V. de C. Os lençóis fortalezenses. Revista Fortaleza. v.1. abr. 2006. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha.

SANTOS, B DE S (2007), Para além do Pensamento Abissal: Das linhas globais a uma ecologia de saberesRevista Crítica de Ciências Sociais, 78, 3-46.

SANTOS, M. Por uma Geografia nova. 6. ed. São Paulo: EdUSP, 2008.

SCHNEUWLY, B; D. Z, Joaquim. Gêneros Orais e Escritos na Escola. Trad. Glais Sales Cordeiro e Roxane Rojo. São Paulo: Mercado de Letras, 2004.

 

SOARES, I. de O. (2005). A Formação do Educomunicador: 15 anos na busca de uma mais profunda interelação entre o profissional da comunicação/educação e o mundo das crianças e dos adolescentes. Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação -2005. Rio de Janeiro. Anais. São Paulo: Intercom, 2005. CD-ROM.

 

SOUZA, M.S. de. Análise da estrutura urbana. In: DANTAS, E. W. C; COSTA, M.C.L; SILVA, J.B. da; De cidade à metrópole: (trans)formações urbanas em Fortaleza. Fortaleza: Edições UFC, 2009.

TOZONI-REIS, M. F. de C. Temas ambientais como “temas geradores”: contribuições para uma metodologia educativa ambiental crítica, transformadora e emancipatória. Educar em Revista, n. 27, p. 93-110, 2006.

VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 1998.

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0)

 

 



[i]Para maiores esclarecimentos sobre o projeto visitar: http://uece.br/eventos/spcp/anais/trabalhos_completos/247-24051-28032016-181016.pdf.

[ii] Aqui identificamos os núcleos como a figura geométrica do círculo no qual se encontram as áreas do conhecimento; já os campos são identificados a partir da figura geométrica do retângulo sendo eles as temáticas possíveis de diálogo com os núcleos.

[iii] Disponível em vídeo: https://es-es.facebook.com/criticaradical/videos/programa-critica-radical/346539159672009/. Acesso em 04 de novembro de 2022.