A atuação dos coordenadores pedagógicos em tempos de pandemia
The performance of pedagogical coordinators in pandemic times
El desempeño de los coordinadores pedagógicos en tiempos de pandemia
Givanildo da Silva
Professor Doutor na Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Alagoas, Brasil.
givanildopedufal@gmail.com - https://orcid.org/0000-0001-5490-6690
Eva Pauliana da Silva Gomes
Professora no Centro Universitário Maurício de Nassau, Maceió, Alagoas, Brasil.
e.pauliana@gmail.com - https://orcid.org/0000-0002-2423-4560
Alex Vieira da Silva
Professor da rede pública municipal de Maceió, Maceió, Alagoas, Brasil.
alexpedufal@gmail.com - https://orcid.org/0000-0002-8084-9148
Recebido em 26 de fevereiro de 2021
Aprovado em 19 de novembro de 2021
Publicado em 06 de fevereiro de 2023
RESUMO
A educação, como campo macro das problemáticas sociais e políticas, é o caminho para a concretização das possibilidades de mudanças nas estruturas macros da sociedade. O objetivo da pesquisa foi compreender os desafios na atuação dos coordenadores pedagógicos das escolas públicas da rede municipal de Maceió em tempos de pandemia (Covid-19). A metodologia esteve pautada na abordagem qualitativa e, como técnica, a pesquisa exploratória. O instrumento de coleta de dados foi o questionário on-line. Ao todo, participaram 44 coordenadores pedagógicos. Os principais resultados apontaram que os coordenadores pedagógicos desenvolvem ações que contribuem para o acompanhamento da aprendizagem dos estudantes e do trabalho dos professores, na perspectiva de amenizar os desafios postos na educação em tempos de pandemia.
Palavras-chave: Coordenação Pedagógica; Escola Pública; Pandemia.
ABSTRACT
Education, as a macro field of social and political issues, is the path to the realization of the possibilities for changes in the macro structures of society. The objective of the research was to understand the challenges in the performance of the pedagogical coordinators of public schools in the municipal network of Maceió in times of pandemic (Covid-19). The methodology was based on the qualitative approach and, as a technique, exploratory research. The data collection instrument was the online questionnaire. In all, 44 pedagogical coordinators participated. The main results pointed out that the pedagogical coordinators develop actions that contribute to the monitoring of student learning and the work of teachers, with a view to alleviating the challenges posed in education in times of pandemic.
Keywords: Pedagogical Coordination; Public school; Pandemic.
RESUMEN
La educación, como macrocampo de cuestiones sociales y políticas, es el camino hacia la realización de las posibilidades de cambios en las macroestructuras de la sociedad. El objetivo de la investigación fue comprender los desafíos en el desempeño de los coordinadores pedagógicos de las escuelas públicas de la red municipal de Maceió en tiempos de pandemia (Covid-19). La metodología se basó en el enfoque cualitativo y, como técnica, la investigación exploratoria. El instrumento de recolección de datos fue el cuestionario en línea. En total participaron 44 coordinadores pedagógicos. Los principales resultados señalaron que los coordinadores pedagógicos desarrollan acciones que contribuyen al seguimiento del aprendizaje de los estudiantes y del trabajo de los docentes, en la perspectiva de paliar los desafíos que se plantean en la educación en tiempos de pandemia.
Palabras-clave: Coordinación Pedagógica; Escuela pública; Pandemia.
Introdução
A educação é um campo complexo e tem repercussões significativas no processo de construção da concepção de sociedade, direcionando práticas e paradigmas a serem efetivadas, a partir dos itinerários designados pelas orientações políticas, em suas múltiplas dimensões, econômicas, culturais, sociais e educacionais. A complexidade da educação dá-se, também, pelas tensões e pelos conflitos existentes entre os diferentes grupos sociais, os quais têm visões distintas das polêmicas sociais e educacionais, repercutindo na defesa e nas ações para com as práticas na educação (SANTOS, 2020).
A educação, como campo macro das problemáticas sociais e políticas, é o caminho para a concretização das possibilidades de mudanças nas estruturas macros da sociedade. Neste sentido, a educação passa por mudanças oriundas das concepções políticas, assim como das ocorrências sociais, como é o caso da situação epidêmica do século XXI, a pandemia da Covid-19, a qual já ceifou mais de 650[1] (duzentas e cinquenta) mil vidas no Brasil.
A pandemia apresentou novos caminhos para as diferentes esferas sociais, designando rupturas, criatividade e intensificação de novas ações no trabalho, no tratamento social, na educação e nas configurações organizativas da sociedade. Desse modo: “O afastamento social, ao qual a humanidade vem sendo submetida, tem provocado grandes transformações, em diversos setores, como na economia, levando à falência os setores industrial, comercial e de serviços, neles incluindo a educação” (OLIVEIRA; LISBÔA; SANTIAGO, 2020, p. 22), ao mesmo tempo em que alguns setores lucraram bastante com a pandemia, como o mercado da produção hospitalares.
No caso da educação, os seus integrantes estiveram centrados na construção de novos caminhos e proposições, a fim de alcançar o objetivo central da prática docente, a mediação do conhecimento. Assim, profissionais da educação, professores, diretores, estudantes, familiares e responsáveis, bem como os coordenadores pedagógicos desenvolveram seus papeis de modo e espaços diferentes, contribuindo para a efetivação da relação pedagógica entre a escola e os estudantes. No caso dos coordenadores pedagógicos, eles são profissionais responsáveis pelo acompanhamento do desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes junto aos professores, tendo, no modelo remoto, a preocupação com a formação, com o acompanhamento pedagógico e com as estratégias de ação para a escola realizar as suas funções.
A atuação do coordenador pedagógico antes da pandemia, nas aulas presenciais, já era complexa, uma vez que sempre demandou liderança, planejamento, acompanhamento, formação e disposição para gerenciar o processo de ensino e de aprendizagem de toda a escola, ou parte dela, com a finalidade de colaborar com o alcance de uma das funções sociais da escola que é a aprendizagem dos conhecimentos historicamente acumulados (RIBEIRO, 2016). Em tempos de pandemia, a função do coordenador pedagógico tornou-se mais complexa devido às circunstâncias que envolvem a comunidade escolar, especialmente as famílias dos estudantes, em meio às desigualdades sociais e econômicas, complexificando, ainda mais, o trabalho dos envolvidos.
Considerando essa problemática, o objetivo da pesquisa foi compreender os desafios na atuação dos coordenadores pedagógicos das escolas públicas da rede municipal de Maceió em tempos de pandemia (Covid-19), tendo, como ponto de partida para a reflexão, a relevância do coordenador pedagógico, como profissional que acompanha o processo de ensino e de aprendizagem dos envolvidos, em especial, em situações adversas como as que estão sendo vivenciadas em tempos de pandemia.
A metodologia esteve pautada na abordagem qualitativa (MINAYO, 1994) e na pesquisa exploratória. Como coleta de dados, utilizou-se a aplicação de questionários, via Google Forms, com os coordenadores pedagógicos da rede pública municipal de Maceió. Ao todo, 44 coordenadores pedagógicos responderam ao questionário, no período de 18 (dezoito) de janeiro a 10 (dez) de fevereiro de 2021. A análise dos dados deu-se a partir da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2002), sendo as categorias de análise, coordenação pedagógica, escola pública e pandemia.
O texto está estruturado em três seções, além da introdução e das considerações finais. Na primeira seção, enfoca-se a pandemia e as novas configurações para a educação, enfatizando os conflitos que os profissionais vivenciaram. Na segunda, foram tecidas reflexões acerca do papel do coordenador pedagógico, tendo, como ponto de partida, as possíveis contribuições para o processo de ensino e de aprendizagem. E, por fim, são apresentados os desafios da atuação dos coordenadores pedagógicos das escolas públicas de Maceió, por meio da escuta das vozes dos participantes.
A pandemia e as novas configurações para a educação
A pandemia da Covid-19 foi uma realidade mundial e tornou-se uma problemática social, política, econômica e sanitária para todos os governos que pensam no bem-estar da população, tendo, como ponto de partida de resolução dessa problemática, o isolamento social. Com a realização desse fenômeno, novas posturas foram exigidas e uma delas foi a ausência da presença dos estudantes nas escolas, com a finalidade de inibir a propagação do vírus. A escola, ambiente que sempre foi visto como espaço de vida e de alegria, passou a ficar sem movimento, sendo organizada uma nova dinâmica para o alcance da sua função social, tendo os profissionais da educação como mediadores dessa nova dinâmica, destacando-se, nesse processo, o coordenador pedagógico.
Nessa lógica, os conflitos entre a comunidade escolar e local surgiram com a necessária ruptura do paradigma escolar instaurado na cultura social com a suspensão e “o funcionamento de espaços essenciais para o desenvolvimento e para a formação dos sujeitos como espaços escolares formais, centros de cultura, lazer e ambientes esportivos” (SANTANA, 2020, p. 43).
Esse novo modelo contou com as tecnologias digitais, por meio de plataformas digitais, as quais possibilitam interação e comunicação para parte da população que tem acesso à rede (ALMEIDA; ALVES, 2020), favorecendo a continuidade dos processos escolares. Esse paradigma educacional foi mecanismo de atuação de diferentes redes e sistemas de ensino, com a finalidade de, no mínimo, ter uma comunicação entre escola e família/estudantes.
As plataformas digitais, mediadas pela atuação dos profissionais da educação, foram importantes estratégias viabilizadas para a superação, mesmo que limitada, da situação em questão. Na visão de Gonçalves (2020, p. 52):
Os ambientes virtuais de aprendizagem ou plataformas de e-Learning (Moodle, Sakai, Chamilo, Google Classroom, Microsoft Teams, entre outros) passaram a ser um recurso vital para a construção de e-cursos indispensáveis para mediar os processos de aprendizagem. Estes cursos passaram a tirar proveito das potencialidades dos sistemas de videoconferência, tais como: Colibri Zoom, Cisco Webex, Google Meet, Skype, entre outros. Tecnologias como o LOOM ou o Screencast-o-matic são exemplos de aplicações que permitem capturar o ecrã em vídeo, permitindo que o professor ilustre o seu discurso com apresentações eletrônicas ou outros materiais e aplicações informáticas.
O cenário escolar configurou-se de diferentes formas, passando pelos desafios e pelas complexidades entre os diferentes atores. A cultura escolar de ir e vir passou a ser centrada no ambiente residencial dos estudantes e professores, rompendo drasticamente com o ambiente vivo e dinâmico que sempre foi a escola. Contraditoriamente, “da sala de aula presencial, passamos para a sala de aula virtual, confinados a casa. Por isso, a procura e oferta de sessões de (in)formação em tecnologia educativa foi exponencial” (GONÇALVES, 2020, p. 52).
Diante desse arcabouço político, social e sanitário, a educação, que sempre foi uma problemática complexa, tornou-se ainda mais intensa, afetando principalmente os estudantes e profissionais da escola pública, os quais trazem em sua bagagem histórica os desafios oriundos da política educacional e as descontinuidades políticas que acarretam a formação docente, a estrutura material e humana das escolas, as condições precárias de desenvolvimento das ações educacionais, entre outras dimensões. Com a pandemia e a necessidade do isolamento social, essas questões tornaram-se mais enfáticas, adicionando a esse contexto a realidade desigual de grande parte dos estudantes da escola pública e a falta de estrutura para acompanhar e desenvolver as atividades de forma remota.
Na visão de Cury (2020, p. 13), o movimento da pandemia trouxe uma nova cultura social e educacional, propondo uma rotina desconhecida para grande parte dos envolvidos no contexto escolar.
A invasão da escola na casa trouxe problemas de adaptação de um ensino em casa. A rotina precedente empurrava a casa para o trabalho, para o consumo, para o lazer e, em especial, um movimento de ir e vir de mais de 50 milhões de crianças, adolescentes e jovens para a educação infantil, para o ensino fundamental, o ensino médio e suas modalidades. Esse movimento, agora, foi substituído pelo ficar em casa.
A questão do “ficar em casa” e “estudar em casa” é complexa para grande parte dos brasileiros, principalmente para os pertencentes às comunidades periféricas, os quais necessitam sair de casa, todos os dias, para sobreviver em meio ao crescente número de desempregados no país. No caso dos estudantes, em sua grande maioria, eles não têm como desenvolver as atividades solicitadas pelas escolas por falta de recursos tecnológicos, equipamentos necessários para o alcance da educação como direito público.
“O ficar em casa” para estudar esbarrou na realidade social que é pesada e dolorida para os estudantes das comunidades periféricas do Brasil. Nesse cenário, a aula remota foi uma realidade distante dos estudantes que não tinham estrutura necessária para atender aos apelos que os tempos de pandemia exigem. Oliveira, Lisbôa e Santiago (2020, p. 24) analisam que:
No Brasil, estamos vivenciando tempos nebulosos e muito difíceis que, por um lado, deixam a população de maior status de quarentena, trabalhando de forma remota, nos seus computadores e, por outro, recolhida em casa, grande parcela de brasileiros que se amontoam em barracos, muitas vezes, com esgotos “a céu aberto”, sem água potável, sem trabalho com carteira assinada, que se arriscam todos os dias para “matar” a fome de seus familiares e se infectando com o cruel vírus.
Neste sentindo, a cultura escolar, viabilizada pela necessidade de isolamento social, não satisfaz a realidade de grande parte dos estudantes no Brasil. No entanto, os profissionais da educação também fazem parte dessa enfática realidade, a qual desestrutura os objetivos propostos em tempos de pandemia. Na concepção de Peres (2020, p. 22), “essa nova realidade educacional exigirá de um lado, novas competências profissionais que implicarão na disponibilidade e no interesse da formação em serviço, além da formação inicial diferenciada do educador” e de todos que compõem a escola, atrelado a isso a autonomia dos estudantes, mediante a existência dos recursos necessários para a concretização dos estudos.
Outra dimensão que foi possível perceber no cenário da pandemia foi a precarização do trabalho docente, uma vez que os profissionais da educação tiveram que se adaptar a essa nova realidade, utilizando seus próprios equipamentos tecnológicos, colocando à disposição seus recursos de uso familiar, como rede elétrica e internet, para cumprir com sua função. Vinculados a essa questão, surgiram os desafios da formação docente, os quais se tornaram visíveis nos conflitos vivenciados pelos profissionais no trabalho de forma remota, impossibilitando, muitas vezes, a ação docente de modo significativo. Para Santos (2020, p. 45):
O fato de se utilizar as ferramentas e a potencialidade da internet em tempos de globalização não significa novas formas ou práticas pedagógicas de ensino. Tanto que as enormes listas de exercícios para que os alunos resolvam sozinhos em casa têm imperado nos processos de ensino aprendizagem. Não se estabeleceu novas formas de ensino que impulsione a criatividade dos alunos e muito menos uma educação que valorize a reflexão em detrimento de práticas positivistas de ensino e as avaliações tradicionais estão aí para comprovar a manutenção das ações coercitivas das gerações mais velhas sobre as mais novas.
A mediação pedagógica do processo de ensino e de aprendizagem é uma importante dimensão a ser discutida nesse contexto, uma vez que, por meio dela, acontece o ponto ápice da função social da escola – a aprendizagem. No entanto, “a mediação pedagógica pelas tecnologias não pode, em hipótese alguma, desconsiderar as condições de produção docente e de recepção dos estudantes, tampouco a necessidade dessa interação presencial, de acolhimento, emergencialmente suspensa” (COLEMARX, 2020, p. 20).
A construção da ação docente pelos professores é uma prática a qual necessita de investimento de tempo, de formação e de condições materiais e psicológicas para a sua satisfatória existência. Desse modo, em meio à complexidade estabelecida pelas novas condições de tratamento escolar, poucas são as realidades que contribuem para a concretização do ato pedagógico com autonomia, segurança e reconhecimento das múltiplas funções existentes nas tecnologias.
Em meio a essa reflexão, surgem as indicações dos papeis social e político das famílias em acompanhar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, em qualquer realidade – remota ou presencial -, com a finalidade de estabelecer limites entre as instituições sociais – escola e família –, bem como a ação de compartilhamento de responsabilidade. Neste sentido, Guizzo, Marcello e Müller (2020, p. 7) salientam que:
Os responsáveis precisaram mediar a relação entre professoras e crianças, reaprender conteúdos até então esquecidos e aprender a lidar com aplicativos e ambientes virtuais: baixar conteúdos, acessar sites de bibliotecas, filmar atividades, tirar fotografias, fazer postagens que comprovassem a realização das atividades. Para todas essas tarefas, precisaram investir grande parte do seu tempo em uma nova demanda agora a eles imposta, bem como assumir o uso efetivo das tecnologias digitais, já que essas compõem as condições de possibilidade para a continuidade da educação neste momento vivido.
A lógica imposta nos tempos de pandemia necessitou de uma maior atenção. No espaço familiar, foi necessária a presença de responsáveis pelos estudantes para contribuir com as propostas escolares; no caso da escola, um grande grupo precisou estar disponível para planejar, direcionar, acompanhar, dialogar entre os pares, os estudantes e os responsáveis por eles. A complexidade do momento solicita uma equipe multidisciplinar de profissionais que estivesse preparada para desenvolver as ações necessárias à realidade da educação contemporânea.
Nesse contexto, a figura do coordenador pedagógico, profissional que historicamente tem o papel de acompanhar os diferentes processos de organização da aprendizagem dos estudantes, tornou-se ainda mais importante, favorecendo aos envolvidos possibilidades formativas para a superação dos desafios existentes. A próxima seção apresenta reflexões sobre o papel desse profissional.
Reflexões acerca do papel dos coordenadores pedagógicos
A atuação do coordenador pedagógico perpassa por funções, as quais estão diretamente ligadas à questão do ensino e da aprendizagem, bem como ao processo organizativo da escola e a superação dos desafios encontrados no âmbito dos embates existentes. Dessa forma, o desempenho da função do coordenador pedagógico requer esforço profissional e formativo para alcançar as proposições de sua atuação, como aponta a pesquisa de Almeida e Placco (2014, p. 489).
[...] as atribuições dadas a esses profissionais são muitas, envolvendo desde a liderança do PPP (projeto político pedagógico), a funções administrativas de assessoramento da direção, mas, sobretudo, atividades relativas ao funcionamento pedagógico da escola e de apoio aos professores. [...] atividades como avaliação dos resultados dos alunos da escola, diagnóstico da situação de ensino e aprendizagem, supervisão e organização das ações pedagógicas cotidianas (frequência de alunos e professores, andamento do planejamento de aulas (conteúdos ensinados), planejamento das avaliações, organização de conselhos de classe, organização do material necessário para as aulas e reuniões pedagógicas, organização das avaliações feitas pelos sistemas de ensino – municipal, estadual ou nacional, atendimento a pais etc.), além da formação continuada dos professores.
Na realidade da pandemia, a função do coordenador pedagógico, assim como os demais profissionais da educação, tornou-se mais complexa devido aos desafios que estão postos na realidade política, social, econômica e educacional, especialmente, na escola pública brasileira. No entanto, esses profissionais foram convocados a organizarem-se e a desenvolverem um trabalho voltado aos estudantes e familiares, de modo que mantivessem contato entre estes e a escola. Nessa realidade, o coordenador pedagógico, juntamente com a gestão escolar, “passou a preocupar-se com a transposição das aulas presenciais para aulas em ambientes virtuais, administrando com isso, o seu próprio despreparo, e também, o despreparo dos docentes para o uso de ferramentas tecnológicas para aulas virtuais” (PERES, 2020, p. 24).
A cultura organizativa da escola e das práticas educativas é uma das funções que compete ao coordenador pedagógico com a finalidade de contribuir para os processos de dinamicidade e da lógica de administração do ato pedagógico. Na visão de Garcia e Silva (2017, p. 1408), esses profissionais:
[...] como um dos agentes que fomenta e articula o funcionamento da escola, fazendo parte da gestão pedagógica, também comunga de todas as construções das ações, do mesmo modo em que age enquanto prática educativa. Um dos grandes aspectos das organizações escolares relevantes para a prática da gestão da escola diz respeito à questão organizacional ou cultura da escola; esta, por sua vez, torna-se importante na medida em que se percebe a escola como um espaço de construção e reconstrução da cultura, não somente a produção de cultura científica, mas social e humana.
A cultura organizativa e as práticas de construção do processo de ensino e de aprendizagem emergem no “chão” do ambiente escolar, configurando-se como únicas para cada escola, uma vez que são os profissionais da educação e a comunidade local que contribuem para a construção diária dessa produção. De modo geral, são as características do público atendido que apresentam a forma de condução dos processos de organização.
Nessa lógica, o trabalho dos coordenadores pedagógicos é importante para a condução dos processos citados, pois o perfil desses profissionais exige uma sensibilidade de reconhecimento das reais necessidades do ambiente e do público para o qual estão sendo desenvolvidos os trabalhos. No entanto, é preciso agir “com horizontes e metas que favoreçam a transformação da organização pedagógica da arena escolar, isto é, a coordenação pedagógica deve descobrir um jeito novo de acompanhar a organização pedagógica da escola, sempre de modo dinâmico e atuante” (ARAÚJO; RIBEIRO, 2017, p. 160).
As exigências contemporâneas dos profissionais da educação requerem ações diferenciadas para a atuação com os estudantes e seus familiares, de modo que possam estar atentos às necessidades, bem como às diferentes percepções acerca da escola, da comunidade e das dimensões afetivas e políticas. Para Araújo e Ribeiro (2017, p. 160) são importantes:
[...] diferentes ações que possam encorajar e orientar os professores, assim como toda a esfera escolar, a empreenderem um novo ser/fazer pedagógico, cheio de dinamismo e objetividade política-pedagógica. Isso demanda dos coordenadores pensar diferente a estrutura pedagógica da escola do que normalmente se entende ser a função da escola, ou seja, que novos caminhos pedagógicos, novas estratégias, metodologias criativas, eloquentes, outras formas de acompanhar a dinâmica pedagógica da esfera escolar sejam descobertas face ao atual e inusitado contexto social. As escolas brasileiras precisam de coordenadores convictos que devem ser fermentos pedagógicos em meio à população docente, assim como em permanente estado de formação. As escolas necessitam, portanto, de coordenadores pedagógicos ousados, corajosos e sedentos por uma estrutura escolar renovada e criativa. Pode-se dizer, ainda, que a ideia de ser diferente, propalada por este corpo teórico, é algo contemporâneo.
Nessa dimensão, pensar o papel dos coordenadores pedagógicos em tempos de pandemia tornou-se um desafio e uma complexidade, mas ao mesmo tempo, foi perceptível que as funções desenvolvidas por esses profissionais contribuem para que possam, dentre das condições existentes, ter um espírito de liderança no qual estabeleçam boas relações, desenvolvam estratégias significativas de acompanhamento, sendo ousados e corajosos no inusitado contexto social que a pandemia colocou à tona.
O objetivo central da proposta educativa é a aprendizagem dos estudantes, assim, a partir desse viés interpretativo, a função do coordenador pedagógico exige que sejam adotados posicionamentos “criativos e instiguem os professores a um fazer pedagógico cuja tessitura seja sempre diferente, nova e objetiva. Por consequência, que a diferença deste novo fazer seja convertida em melhores resultados no que concerne ao processo de aprendizagem da população discente” (ARAÚJO; RIBEIRO, 2017, p. 159).
A mediação do trabalho pedagógico é outra dimensão que pode ser atribuída ao coordenador pedagógico, de modo que todos os processos de organização e da dinâmica da prática docente que envolve discentes, projetos educativos e a relação estabelecida entre escola e comunidade está sob a liderança desse profissional. Ramos e Waterkemper (2013, p. 162) dialogam sobre esse aspecto, apresentando que:
[...] ao exercer a função de mediador, o coordenador pedagógico, passa a ser reconhecido como um sujeito capaz de contribuir para o estabelecimento de um clima próprio ao desenvolvimento de um trabalho pedagógico que respeita as diferentes vozes que se apresentam no ambiente escolar. Esse trabalho pode ser caracterizado como uma assessoria permanente e continuada ao trabalho docente.
A relação estabelecida entre os profissionais da educação, em especial com os professores, é uma questão relevante para ser analisada no processo de atuação do coordenador pedagógico, uma que o seu papel “se organiza a partir de pressupostos teóricos voltados, sobretudo, à articulação do trabalho coletivo. Conceber a inclusão de formação continuada para os profissionais atuantes nessa função é também reconhecer a importância de sua atuação nas escolas” (CORRÊA; GESSER, 2016, p. 624).
As práticas educativas são organizadas na perspectiva de contribuir com a melhoria da qualidade da educação e da aprendizagem dos estudantes. Nessa lógica, o clima organizacional, as relações estabelecidas e os objetivos propostos são mecanismos que necessariamente precisam ser estabelecidos em coletividade, de forma democrática, por meio da participação dos diferentes atores. Ao coordenador pedagógico, como líder do processo pedagógico, recai a função da formação continuada dos docentes, na intenção de melhorar as ações planejadas e promover reflexões sobre as práticas desenvolvidas.
Desse modo, como salientam Garcia e Silva (2017, p. 1409), a essência da atuação do profissional da coordenação pedagógica é o ato pedagógico e a construção coletiva do itinerário formativo dos estudantes. Nas palavras dos pesquisadores:
O desenvolvimento da escola e a conquista por uma educação de qualidade diz respeito também à união de coordenadores pedagógicos e professores, uma vez que estes assumem de maneira coletiva a gestão do cotidiano da escola, integrando em um só objetivo as questões que envolvem o projeto pedagógico, o processo de ensino e aprendizagem, o sistema de gestão, a avaliação, ou seja, a escola como um todo. A relação deste profissional para com a equipe de professores tem como principal atribuição a assistência didática pedagógica, refletindo sobre as práticas de ensino e possibilitando novas situações de aprendizagem: tais situações devem ser capazes de auxiliar os alunos ao longo da sua formação.
A relação estabelecida entre coordenadores pedagógicos e professores é uma característica que tem um significado importante na construção do ato pedagógico, isso porque ambos os profissionais trabalham diariamente e constroem juntos as estratégias para a melhoria da ação escolar – a aprendizagem (GARCIA; SILVA, 2017). A concretização de uma boa relação entre os envolvidos contribui para que sejam desenvolvidas práticas que valorizem a cultura escolar e a dinâmica posta pelas diferentes percepções que formam o espaço.
A escola, em meio as suas complexidades, necessita de uma cultura que dinamize as ações, as propostas e vivencie novas práticas que valorizem a cultura da comunidade local, satisfazendo um intercâmbio entre os saberes acumulados historicamente e as vivências da comunidade atendida. Para isso, faz-se necessário que os organizadores do processo de ensino e de aprendizagem, bem como a equipe diretiva da escola, incluindo o coordenador pedagógico, tenham relações harmônicas com os diferentes públicos.
É válido fazer a ressalva de que “o coordenador, por diversas razões, está imerso em um emaranhado de atribuições” (GARCIA; SILVA, 2017, p. 1412), no entanto, as relações interpessoais são um aspecto importante para estar atento, com a finalidade de não comprometer as demais dimensões que são necessárias em sua atuação, uma vez que “o trabalho de coordenação é um trabalho de integração, de envolvimento, de coletividade e de comprometimento” (RIBEIRO, 2016, p. 63).
Ribeiro (2016, p. 62) contribui com a reflexão acerca do papel do profissional da coordenação pedagógica, salientando que:
[...] é o líder da escola nos trabalhos pedagógicos, é ele o responsável pela formação continuada dos professores da escola, por isso deve estimular a participação destes não só a frequentarem as reuniões, mas a participarem ativamente das atividades de formação continuada. É função do coordenador pedagógico manter-se informado, para assim, corresponder às expectativas dos professores quanto à formação continuada, adotando uma postura de protagonista nesse processo; refletir sobre sua prática e a prática dos professores e sobre o currículo; atentar-se às mudanças em relação às políticas públicas no campo da educação, sejam em quaisquer das esferas governamentais; saber lidar com as exigências da sociedade da informação, com as exigências do aluno nativo digital e saber lidar com as tecnologias digitais; ter em mente a necessidade de aprender a aprender; adotar a postura de protagonista no processo de formação.
Essa reflexão favorece, em especial, à compreensão dos dilemas que os profissionais da educação estão vivenciando com a necessidade do uso das tecnologias digitais em tempos de isolamento social. A ação educativa, na realidade educacional, exige dos docentes e dos coordenadores pedagógicos saberes e práticas interligados às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), satisfazendo as possibilidades para alcançar as demandas dos estudantes.
Os conflitos de atuação de todos os profissionais da educação, na realidade da pandemia e do isolamento social, foram múltiplos e visíveis para os que estiveram envolvidos e cientes dos processos vivenciados nas escolas. A situação posta não foi simples e necessitou de uma equipe qualificada e atenta às demandas sociais, políticas e educacionais. Mesmo em meio aos desafios, coube aos coordenadores pedagógicos o desenvolvimento de ações que “favoreçam um clima prazeroso de trabalho, estimulem a resolução de conflitos e melhorem as relações interpessoais” (RAMOS; WATERKEMPER, 2013, p. 160).
Diante das inúmeras complexidades de atuação dos coordenadores pedagógicos durante a pandemia da Covid-19, nada mais justo do que ouvir as vozes desses profissionais, a partir de suas experiências. Eis o objetivo da próxima seção.
Os desafios na atuação dos coordenadores pedagógicos das escolas públicas de Maceió
A pesquisa foi desenvolvida com os coordenadores pedagógicos da rede pública municipal de Maceió. De acordo com o Censo Escolar de 2018, a capital alagoana tem 140 (cento e quarenta) escolas, sendo 1 (uma) localizada na zona rural. A oferta da rede municipal de Maceió atende a educação infantil (creche e pré-escola); o ensino fundamental (anos iniciais e finais) e as modalidades de Educação de Jovens e Adultos e Educação Especial. O quadro 1 (um) apresenta o tamanho da rede municipal, tendo como referência o número de estudantes matriculados em 2018.
Quadro 1 – Número de estudantes na rede pública municipal de Maceió, em 2018.
Etapas/Modalidade de Ensino |
Nº de estudantes |
Educação Infantil (Creche) |
2.733 |
Educação Infantil (Pré-escola) |
5.619 |
Ensino Fundamental (Anos Iniciais) |
25.823 |
Ensino Fundamental (Anos Finais) |
5.012 |
Ensino Fundamental (EJA) |
7.008 |
Educação Especial |
3.595 |
TOTAL |
49.790 |
Fonte: Censo Escolar/ INEP/2018, <https://www.qedu.org.br/cidade/5405-maceio/censo-escolar>.
O Censo Escolar de 2018 mostra outras dimensões que permitem perceber a realidade estrutural das escolas públicas do município de Maceió. O quadro 2 (dois) mostra as dependências escolares que podem ser utilizadas como mecanismo de aprendizagem.
Quadro 02 – Dependências das escolas da rede pública municipal de Maceió, em 2018.
Dependência |
Quantidade de escolas |
Biblioteca |
52 |
Cozinha |
140 |
Laboratório de Informática |
7 |
Quadra de Esporte |
39 |
Sala de Leitura |
90 |
Sala para direção |
132 |
Sala para os professores |
113 |
Sala para atendimento Especial |
78 |
Sanitário dentro do prédio da Escola |
139 |
Sanitário fora do prédio da Escola |
131 |
Fonte: Censo Escolar/ INEP/2018, <https://www.qedu.org.br/cidade/5405-maceio/censo-escolar>.
Os dados do Censo Escolar 2018 evidenciam outro panorama escolar que é o fornecimento de alimentação escolar em todas as escolas públicas da rede, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), assim como o fornecimento de água filtrada que era, em 2018, para 130 (centro e trinta) escolas. Além disso, apenas 55 (cinquenta e cinco) escolas possuíam dependências acessíveis aos estudantes com deficiência; e 66 (sessenta e seis) tinham sanitários acessíveis para este público.
Os dados mencionados dialogam com a tese de que são muitos os dilemas vivenciados na capital alagoana pelos profissionais da educação para a atuação na escola pública como a questão da estrutura das escolas, política de formação, incentivo à formação continuada strito senso, entre outras questões.
Devido ao isolamento social, para a coleta de dados, foi construído um formulário on-line, via Google Forms, e encaminhado para o grupo do WhatsApp dos coordenadores pedagógicos da rede. Após os 24 (vinte e quatro) dias de desenvolvimento da coleta de dados, obteve-se 44 (quarenta e quatro) respostas, as quais sinalizaram a escuta das vozes dos participantes.
De acordo com as respostas dos profissionais, a formação destes está condizente com as orientações dos dispositivos legais, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que recomenda que os profissionais tenham formação em Pedagogia ou licenciatura em alguma área específica. Todos informaram que são graduados, sendo a maioria em Pedagogia ou em outra licenciatura, destacando-se o curso de Letras. Em relação à pós-graduação lato sensu, foi possível perceber uma diversidade de especialidade, como: Gestão Escolar; Psicopedagogia Clínica e Institucional; Educação Especial; Tecnologia na Educação; Educação Ambiental; Educação Infantil; Formação de Professores para a Educação Básica; Mídias na Educação; Docência para o Ensino Superior; e Educação de Jovens e Adultos. Apenas 3 (três) sinalizaram ter mestrado em Educação.
Em relação ao tempo de atuação na coordenação pedagógica dos profissionais, as respostas foram diversificadas, sendo possível estabelecer uma escala, a partir do tempo de atuação. Dezesseis coordenadores atuam de um a cinco anos; quatorze, de seis a 10 anos; seis, de 11 a 15 anos; e oito trabalham há mais de 15 anos na coordenação pedagógica. Esses dados sinalizam que grande parte dos participantes tem uma longa experiência na função que desenvolve.
Os coordenadores pedagógicos que participaram da pesquisa apresentaram que o seu papel está na perspectiva de multidimensionalidade, uma vez que desenvolvem diferentes atribuições com a finalidade de contribuir com o processo organizativo do ensino e da aprendizagem. As respostas[2] estiveram firmadas em um período de tempo que representou isolamento social e trabalho remoto, devido à pandemia da Covid-19.
Tentar ajudarmos professor, país, alunos a conviver com a educação numa perspectiva remota (CP 3).
[...] mediar professores, alunos, famílias e gestores da escola, bem como dar suporte, apoiar e acompanhar os professores durante o planejamento das atividades pedagógicas [...] (CP 7).
Orientar as atividades remotamente dos professores, contactar as famílias, estudar e fazer formação com os professores (CP 9).
Articular as ações pedagógicas da escola/professor/aluno dentro das possibilidades dos nossos alunos e buscar alternativas para aqueles que não têm acesso à internet. Tentar não deixar ninguém de fora (CP 16).
Tentar minimizar os impactos negativos da pandemia no que fiz respeito ao apoio aos professores nas atividades de interação com os estudantes participantes (CP 19).
Orientar, colaborar dando o suporte pedagógico aos professores, buscar sugestões para o desenvolvimento da atividade, ou seja, está lado a lado dos professores apoiando, motivando e auxiliando na área pedagogia (CP 20).
Com a pandemia houve a necessidade da utilização de recursos tecnológicos por todos professores da escola e de mudança de estratégia didática. [...] a assessoria dos professores na reorganização da prática pedagógica através de atividades remotas e com o uso de ferramentas tecnológicas. Fazer o acompanhamento das atividades remotas desenvolvidas pelos alunos e mediar discussões sobre temas relevantes entre o corpo docente por videoconferência e também o diálogo entre a escola e a família. Contribuir para reorganização dos planos de ensino para o retorno das aulas presenciais e reestruturação das turmas. Manter a articulação entre a secretaria e a escola (CP 24).
Buscar formas de contato com alunos; Motivar alunos e professores; acompanhar e intervir, quando necessário, os momentos remotos e atividades para impressão e entrega de materiais; informar e tirar dúvidas sobre portarias, resoluções, comunicados internos, livres pertinentes a modalidade EJAI; Acompanhar alunos e professores, suas dificuldades de maneira particular. Ouvindo, ligando, mandando mensagens; Buscar alternativas para comunicação; Elaborar junto à equipe de professores projetos possíveis de serem desenvolvidos, mesmo que remotamente; Organizar e fazer reuniões para escutar, motivar, buscar alternativas de ajuda ao grupo coletivamente; Conversei com outros coordenadores para ouvir diversas experiências e adaptar quando possível a escola; Participei de livres sempre me autoavaliando, vendo possíveis formas de compartilhar as escutas e experiências nas reuniões com professores; Participar e opinar das reuniões com gestores, revendo trabalhos e tomado decisões; Avaliar o desempenho dos alunos participantes das atividades remotas e impressas; Avaliar propostas de a atividades com uma sequência didática; Buscar estar antenada com leitura de documentos, tirando dúvidas quando necessário; Participar das formações do CGEJAI (CP 36).
Conforme é possível perceber, os coordenadores pedagógicos estiveram envolvidos com muitas atribuições durante o período de pandemia, realizando múltiplas funções, tendo especialmente que acompanhar, contribuir e dialogar com os docentes, os estudantes e seus familiares em meio à complexidade das aulas remotas. As vozes dos participantes sinalizam o que as pesquisas (RIBEIRO, 2016; ARAÚJO; RIBEIRO, 2017; GARCIA; SILVA, 2017) mostram sobre a atuação dos coordenadores pedagógicos na condição de líderes do processo de organização das múltiplas atividades que envolvem a escola.
De modo geral, essa evidência também é sinalizada pelos participantes quando destacam que, além das questões consensuais da profissão, surgiram, com as demandas da pandemia, as dimensões da motivação, do diálogo, da busca pela família e pelos estudantes, enfim são ações que, muitas vezes, fogem do contexto da atuação cotidiana desses profissionais. Assim, “o coordenador é o profissional que responde pela viabilização, integração e articulação do trabalho pedagógico, sendo diretamente relacionado com diversas relações, as quais devem ir de encontro aos aspectos de colaboração” (GARCIA; SILVA, 2017, p. 1410).
O discurso acerca das possibilidades de desenvolvimento de ações no trabalho remoto foi predominante em todos os depoimentos dos coordenadores pedagógicos, assinalando que esse modelo de prática educativa esteve presente em suas rotinas, perfazendo atribuições jamais pensadas pelos participantes. Desse modo, atuar como motivador no dia a dia tornou-se uma ação complexa e, nas atuais condições, essa função intensificou-se ainda mais, pois “compreende-se que o trabalho do coordenador pedagógico se torna transformador à proposição que assume sua função sempre de um modo diferente, ou seja, que aposta em um jeito diferente de gerir o processo pedagógico na arena escolar” (ARAÚJO; RIBEIRO, 2017, p. 162).
Neste sentido, os participantes destacaram que os desafios postos são complexos. Em suas palavras:
No cenário da pandemia, os principais impactos estão relacionados as situações socioemocionais como a fome nas comunidades mais pobres, a violência, o medo de contrair o vírus e dos riscos de morte provocado por ele, a insegurança, o desemprego e consequentemente a crise mundial (CP 5).
O maior impacto e a precariedade da estrutura tecnológica. A maioria da família dos alunos é desprovida de equipamentos tecnológicos ou o que possuí não suporta as ferramentas utilizadas pelos professores e pela escola. O ensino remoto conta com o auxílio da família e muitas não conseguem dá suporte aos seus filhos por não ter escolaridade suficiente. Também, alguns professores demonstraram não ter dificuldade para lidar com o uso de ferramentas tecnológicas (CP 12).
Inexistência de internet para todos os alunos e professores, equipamentos, aplicativo para a realização das aulas on-line e e-mail institucional dos alunos para acesso a uma plataforma de sala de aula (CP 18).
O distanciamento, a ausência do contato física com toda equipe escolar e principalmente a dificuldade de acesso dos nossos alunos a internet (CP 25).
Os alunos da EJAI mudam muito de contato, não tem acesso à internet, sentiam dificuldades para o uso é manuseio de algumas alternativas de mídia como aplicativos, Facebook, Instagram, Google Meet, Google Forms, entre outros. Professores sentiam dificuldades para usar as tecnologias quando tinham. Os celulares muito limitados. Alguns não possuíam computadores ou notebooks (CP 30).
Pouca adesão das famílias ao ensino remoto, falta de recursos tecnológicos violência doméstica, dificuldades financeiras das famílias (CP 38).
Ansiedade para a volta dos trabalhos presenciais e a necessidade de apoiar a classe dos professores que estão nesse momento de fragilidade, medo e angústia pela perda de amigos e parentes. Inclusive perdemos uma professora na escola com Covid (CP 40).
A falta de acesso de muitos alunos à internet. Principalmente a preocupação dos professores com a interação com a turma, o aprendizado (CP 42).
As ações sistematizadas, a partir dos depoimentos dos participantes, são direcionamentos que fazem parte do cotidiano da vida profissional dos trabalhadores da educação da escola pública brasileira. A necessidade de existência de um novo paradigma escolar chocou-se com a realidade de grande parte da população, em especial, as mais pobres. A escola pública, em meio a sua complexidade existencial, por meio de suas inconsistências políticas, vivenciou uma crise dinâmica por falta de estrutura para a existência concreta das aulas remotas, atendendo a todos os envolvidos.
A desigualdade social, a qual tem suas raízes na exploração da classe trabalhadora pela elite, assola as estruturas sociais, políticas, culturais e organizativas das famílias, que não têm condições de ter acesso a uma rede de internet que comporte chamadas de videoconferências, acesso a plataformas para ter aulas remotas (SANTOS, 2020), entre outras dimensões que o modelo exigiu. Como indicaram os coordenadores pedagógicos, a falta de estrutura para o desenvolvimento das atividades escolares foi uma situação decorrente da desigualdade social.
Esses desafios estão postos em diferentes momentos, apontando que o espaço público necessita de maiores investimentos da política educacional, na condição de valorização desse espaço como construção coletiva de saberes, de culturas e de compromisso social, como preconizam os dispositivos legais que normatizam a educação. O profissional da coordenação pedagógica, “por diversas razões, está imerso em um emaranhado de atribuições” (GARCIA; SILVA, 2017, p. 1412), logo, ter uma significativa estrutura para trabalhar é um dos caminhos para a sua atuação em um campo conflituoso, como a escola pública.
Além das proposições políticas, outra situação que os coordenadores destacaram foi a limitada formação dos professores e dos demais profissionais da educação, não sendo possível, em muitos momentos, o uso adequado das plataformas e das ferramentas que as TIC possibilitam. No entanto, “desafiar as exigências momentâneas e impor-se diante das situações, por fim, tomando decisões que visam o bom andamento da escola, exige, sobretudo, planejamento” (RIBEIRO, 2016, p. 618) dos envolvidos, sobretudo dos coordenadores pedagógicos.
Em meio às múltiplas funções, os coordenadores pedagógicos ainda se preocupavam com as relações estabelecidas no interior da escola (RAMOS; WATERKEMPER, 2013). Tratando-se da realidade do isolamento social e do trabalho remoto, essa dimensão mereceu uma maior atenção para o desenvolvimento do trabalho com êxito, mesmo com os desafios apresentados. Os participantes, neste sentido, mencionaram que:
Nossa relação de trabalho, apesar de todos os dilemas da pandemia, tem sido de parceria, estudos e trocas de experiências de forma segura utilizando os meios on-line de comunicação, como Google Meet, WhatsApp, Instagram e vídeos chamadas (CP 1).
A relação é de acolhimento e de troca. Os dilemas são a resistência em trabalhar nesse novo formato, dificuldade de lidar com a tecnologia por parte dos profissionais (CP 4).
Sempre profissional, mas nesse momento a relação mesmo no isolamento social foi estreitada devido aos impactos que a pandemia tem deixado com tantas perdas; Excesso de trabalho e cobranças nesse momento tão difícil (CP 6).
As reuniões pedagógicas são realizadas por videoconferência tanto com todos os professores juntos - HTPC, como com subgrupos e/ou individualizados HTPI, também via WhatsApp. Os materiais produzidos são enviados por e-mail para todos os professores. O maior dilema é o horário dos encontros, pois a maioria dos professores tem filhos em idade escolar e que também precisam usar o notebook ou celular. A dificuldade que alguns professores têm para dominar as ferramentas tecnológicas também é um problema (CP 8).
Está tranquila, visto que procurávamos ter uma relação de troca de experiências e abertura. Encontramos algumas dificuldades em relação ao emocional de cada uma e na dificuldade de interação das atividades (CP 17).
Inicialmente, ansiedade por parte dos professores, mas, um trabalho desenvolvido com leveza contribuiu para uma excelente relação. A falta de empatia por parte de alguns profissionais dificultou o processo (CP 22).
Na escola X não sinto dificuldades para comunicação ou relacionamento com professores da EJAI. As dificuldades são com os professores que tem apenas a hora aula referente às aulas de sala de aula. Isso limita o trabalho. Sem chance de sentar com esse profissional para planejar, avaliar e retomar decisões. Dessa maneira, fica difícil buscar a excelência no trabalho executado. É primordial diálogo, reflexão, ação, reflexão sempre (CP 34).
As declarações evidenciadas são importantes para que a escuta das vozes dos coordenadores pedagógicos seja efetivamente levada a sério, uma vez que são esses profissionais que estão lidando com os desafios propostos pela pandemia da Covid-19. Percebe-se, por meio de suas vozes, que o objetivo desses atores foi contribuir para a existência de um trabalho autêntico, mesmo com os inúmeros desafios que o momento apresenta.
As experiências compartilhadas, positivas e negativas, foram retratos dos entraves que os profissionais da escola pública vivenciam diariamente para buscar alcançar os objetivos propostos. Dessa forma, “ao exercer a função de mediador o coordenador pedagógico passa a ser reconhecido como um sujeito capaz de contribuir para o estabelecimento de um clima próprio ao desenvolvimento de um trabalho pedagógico que respeita as diferentes vozes que se apresentam no ambiente escolar” (RAMOS, WATERKEMPER, 2013, p. 162).
Nessa perspectiva, cabe refletir que a escola pública é o espaço da empatia, da participação, do envolvimento, mas também é o espaço da contradição, da resistência, do individualismo, sinalizando ser um ambiente complexo e multidimensional. Assim, os coordenadores pedagógicos assumiram uma difícil tarefa de coordenar as proposições, atenuando as diferentes vozes e posicionamentos, para contribuir na edificação de uma proposta pedagógica que atenda a todos, em meio as suas diferenças (GARCIA; SILVA, 2017).
Os profissionais da educação são aguerridos e conseguem, dentro das condições apresentadas e dos limites postos, superar muitos entraves, por meio do processo criativo e da vontade de favorecer um espaço com maior qualidade aos estudantes. No âmbito da coordenação pedagógica, essa dimensão configura-se através das estratégias de ensino para minimizar as barreiras encontradas nos tempos atuais. As vozes dos profissionais revelaram que:
Diálogo permanente na nossa HTPC, HTPI e por turmas. Construímos todo tempo momentos pedagógicos excelente como também o afetivo (CP 10).
Estudando, experiência de outras pessoas da educação, relatos dos profissionais envolvidos no processo (CP 15).
Realização da busca ativa visando evitar a evasão escolar, mantendo a interação entre Aluno x Família x Escola; Acolhimento dos alunos, com um olhar mais sensível para as questões socioemocionais; Realização de Avaliação diagnóstica; Revisar os principais conteúdos do ano anterior (CP 19).
O WhatsApp tem sido a ferramenta mais eficiente de comunicação com os alunos. Os professores utilizam videoaulas, áudio aulas, textos, slides e YouTube (CP 21).
Orientando os docentes em se tratando de acompanhamento dos planos de ensino, averiguado as melhores estratégias de ensino/aprendizagem [...] (CP 27).
Envolver as famílias nas resoluções das atividades, pois nesse período elas são nossas maiores parceiras para conseguir um manter o contato com os estudantes (CP 35).
Manter toda comunidade escolar informada (dentro das nossas possibilidades); orientar dá apoio e sugestões de atividades desenvolvidas e postadas pelos professores, bem como, disponibilizar materiais que sirvam de referência para os mesmos; trabalhar no HTPC temas pertinentes que auxiliem o nosso trabalho pedagógico (CP 37).
Diálogos com os pares, solicitando ajuda para desenvolver o trabalho de forma coletiva, encontros formativos com toda a equipe para troca de experiências e ainda participação em lives com especialistas (CP 39).
Desde início da pandemia sempre fiz reunião geral para juntos decidir o que e como trabalhar cada mês. Onde todos falavam sobre suas aflições e juntos buscamos soluções. E depois eu fazia reunião com os professores da mesma área assim podíamos destrinchar melhor o que trabalhar e como (CP 44).
As estratégias desenvolvidas pelos profissionais são satisfatórias, especialmente porque se percebe, em grande parte dos relatos, que a ideia da escuta, do envolvimento e da participação faz-se presente nas ações projetadas. Cada profissional, a partir de sua realidade e do seu público de estudantes e professores, realizou caminhos que favoreceram para a minimização dos conflitos, pois, de acordo com os depoimentos, a esfera coletiva foi um importante mecanismo.
Os desafios são inevitáveis, no entanto, o desejo de superá-los esteve presente na dinâmica escolar. Assim, “a sociedade tem vindo a encontrar formas de se reinventar, usando as redes digitais de comunicação multimídia. Muitos países estão já numa fase de “nova normalidade” para a qual fomos chamados a inovar e a reinventar o processo de ensino e de aprendizagem com TIC” (GONÇALVES, 2020, p. 53).
As TIC são, nesse contexto, importantes instrumentos de superação da distância entre escola e estudantes/famílias, entretanto, esse mecanismo esbarrou em uma estrutura desigual que inviabiliza, para muitas realidades, a aprendizagem nos padrões exigidos pelo sistema. Nessa dimensão, “é preciso pensar a partir da totalidade, não desconsiderar a realidade do aluno, o meio social em que vive e nas condições deste realmente poder aprender, centrar nas necessidades do aluno do século XXI, pensando no tipo de sociedade que se queira formar” (SANTOS, 2020, p. 46).
Os coordenadores pedagógicos, assim como toda a comunidade local e escolar, ansiavam pelo retorno às aulas. Contudo, este deveria ser planejado por todos e, especialmente, pelos órgãos que têm o poder de concretizar políticas sanitárias para imunizar as pessoas do vírus, bem como ofereçam reais condições de retorno, como os Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Os participantes mostraram as suas expectativas para o retorno às aulas, destacando:
Que seja um retorno com todas as medidas de segurança tomadas, principalmente com a prioridade da vacinação de estudantes, professores, gestores e demais funcionários dos estabelecimentos escolares (CP 2).
Que haja um bom plano de ação para recuperar os conteúdos que não foram trabalhados. E que a SEMED proporcione a infraestrutura necessária para trabalharmos (CP 9).
Ansiedade, curiosidade, um pouco de medo, também. É um novo cenário, cada criança, família e profissionais com suas histórias e perdas (CP 12).
Ambiente escolar devidamente adaptado as necessidades atuais, melhoria da estrutura tecnológica da escola, internet nas comunidades - acesso para todos, capacitação de todos os professores em uso de ferramentas tecnológicas e em ensino híbrido (CP 18).
Contaminação, porque as crianças por si só, não seguem regras e protocolos como se espera. Gostaria que estivéssemos retornando com vacina, para poder dar o nosso melhor com tranquilidade (CP 29).
Preocupação com a ansiedade, vacinação para todos os profissionais da escola, compreensão e responsabilidade por parte dos gestores (CP 33).
Acho que o mais viável seria só retornarmos as aulas presenciais quando todos os professores e demais profissionais da escola fossem vacinados. Muito risco voltarmos antes, pois sabe-se que a maioria das escolas públicas não têm estrutura e não atendem aos protocolos de saúde exigidos (CP 38).
Que a SEMED cumpra com todos os protocolos que devem ser encaminhados ao CMEI, que a vacina atinja a todos e que nossas crianças voltem aos espaços para se desenvolverem e para alegrar os nossos dias (CP 41).
As sistemáticas evidenciadas pelos profissionais foram relevantes para o retorno, com segurança, das aulas presenciais. A escuta aos profissionais da educação é necessária, uma vez que estes têm propriedade sobre o processo de organização escolar e das lutas que são travadas diariamente nesse espaço. Portanto, o retorno das aulas não poderia consolidar-se como uma decisão unilateral dos governos, mas em comum acordo com a categoria, a partir da realidade local e global.
O retorno, além de bem planejado no âmbito sanitário, necessitava de uma reflexão pedagógica e científica, uma vez que a perda da aprendizagem, especialmente dos estudantes em maior vulnerabilidade social, será sentida por um espaço de tempo considerável (OLIVEIRA: LISBÔA; SANTIAGO, 2020). Nessa lógica, as expectativas para o retorno acometeram toda sociedade, mas ele necessitava ser cuidadosamente planejado para evitar ações equivocadas por parte da comunidade escolar. Sentimentos como medo, ansiedade, trauma, saudade estiveram presentes nas vidas dos sobreviventes, logo, todo cuidado faz-se necessário.
As vozes dos coordenadores pedagógicos foram enfáticas na existência de um possível retorno híbrido, salientando a necessidade para o alcance do direito à educação. Assim sendo, na visão de Gonçalves (2020, p. 52), caso sejam garantidos “os protocolos de saúde, higiene e segurança, reduzidos os números de pessoas por espaços, entre muitas outras medidas, muito provavelmente assistiremos ao aparecimento mais claro de ambientes mistos de aprendizagem, ou seja, aulas presenciais com sessões de aulas a distância”.
O cuidado com o retorno foi uma questão complexa e mereceu atenção dos formuladores das políticas públicas, independente dos entes da federação que a rede faça parte, viabilizando o zelo pela vida das pessoas e pela história vivenciada durante os tempos sombrios que a população vivenciou em meio à pandemia da Covid-19. De um modo geral, o retorno aconteceu quando parcela significativa da população esteve imunizada do vírus, por meio das vacinas, garantindo a seguridade da vida dos profissionais da educação e de todos os atendidos na escola pública.
Considerações finais
A pandemia trouxe à tona importantes gargalos sociais que evidenciaram a desigualdade social, a falta de estrutura política e a necessidade de políticas públicas que deem maior destaque para a escola pública, oportunizando maiores condições de trabalho e de avanço educacional. As reflexões apresentadas ao longo da pesquisa serviram como ponto de partida para maior compreensão da complexa questão social e política que a pandemia da covid-19 revelou.
A realidade da desigualdade estrutural que as famílias dos estudantes das escolas públicas vivenciam é histórica e não surgiu com a pandemia da Covid-19. Esta apenas escancarou o que não era evidenciado às claras. As situações postas mostram que não falta apenas uma rede de internet para os estudantes, mas condições básicas de sobrevivência como a alimentação, a água potável, a rede de esgoto, a moradia digna, o acesso ao atendimento de saúde com qualidade, a segurança. Essas questões impactam diretamente no processo de ensino e de aprendizagem dos estudantes e dos profissionais da educação.
Em relação ao objetivo proposto pelo presente estudo, compreender os desafios na atuação dos coordenadores pedagógicos das escolas públicas da rede municipal de Maceió em tempos de Pandemia (Covid-19), percebe-se que os profissionais, em meio às limitações que a estrutura do sistema impõe, desenvolveram ações para amenizar o estrago que a pandemia trouxe para a escola pública, dialogando, incentivando, contribuindo e assessorando os professores, com a finalidade de alcançar o objetivo primário da escola – o sucesso dos estudantes no processo de aprendizagem.
Percebeu-se, nesse contexto, que a atuação do coordenador pedagógico esteve pautada no acompanhamento sistemático do trabalho do professor, na perspectiva de orientar, contribuir e redimensionar os danos que a pandemia trouxe para o processo de ensino e de aprendizagem. Cabe destacar que o desafio maior foi justamente o acompanhamento de toda a escola, todos os professores, em uma dimensão ampla que acabou exigindo do coordenador pedagógico maior tempo de trabalho, mais disponibilidade para contribuir com o trabalho do professor e uma maior preocupação com os processos construídos.
Cabe destacar que há inúmeras lacunas que precisam ser preenchidas, em especial, a formação dos profissionais da educação vinculada às tecnologias, viabilizando alternativas pedagógicas para serem desenvolvidas com os estudantes. Assim sendo, ações efetivas para o alcance desse objetivo deverão ser implementadas pelo poder público em parceria com as instituições formativas, sinalizando o interesse pelos dilemas educacionais e a busca pela qualidade, preconizada pelos dispositivos normativos da educação.
Por fim, salienta-se que a educação pública brasileira deve estar na ordem das prioridades da agenda da política educacional, a fim de superar os desafios e os conflitos vivenciados cotidianamente. Não existe desenvolvimento social sem a redução das desigualdades sociais e educacionais, logo é necessária a valorização da coisa pública, descantando-se, a escola e todos os que estão em seu “chão”. Eis, portanto, o maior desafio!
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Notas
[1] Em 31 de outubro de 2022.
[2] Optou-se em representar as respostas dos participantes em sigla e números. A sigla é CP, que significa coordenador pedagógico, e os números representam a ordem de respostas de cada profissional. Assim, CP 1, CP 2, sucessivamente. Como o número de participantes é relativamente grande, há muitas respostas semelhantes, logo há algumas siglas que não estarão explicitamente em evidência.
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