A subjetividade e as relações de saber/poder na constituição do docente de enfermagem no processo educacional
Subjectivity and the knowledge/power relations in the constitution of nursing professors in the educational process
Larissa Vinhas Timóteo
Universidade São Francisco, São Paulo, Brasil
vinhas.larissa@hotmail.com - https://orcid.org/0000-0003-2898-1835
Carlos Roberto da Silveira
Universidade São Francisco, São Paulo, Brasil
carlosilveir@yahoo.com.br - https://orcid.org/0000-0002-1003-0014
Recebido em 24 de agosto de 2020
Aprovado em 30 de outubro de 2020
Publicado em 04 de agosto de 2022
Resumo:
Para Foucault, poder é saber e não há a possibilidade de existência de poder se não houver o saber. Assim sendo, o poder produz saber, o conhecimento é vontade de apropriação e dominação. Este artigo tem, como principal objetivo investigar as teias das relações que constituem docentes em enfermagem como sujeitos e, consequentemente, suas práticas no processo de educação em enfermagem, quanto saber/poder. Tal estudo é parte de uma pesquisa qualitativa com entrevistas, defendida no mestrado em educação, aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa e financiada pela CAPE
[1], na qual teve por sujeitos participantes oito docentes de uma Faculdade de Enfermagem do interior do estado de Minas Gerais. Foi utilizado como metodologia a análise discursiva filosófica, reflexiva e crítica, tendo por objeto de estudo dois discursos de docentes em enfermagem, com enfoque no embasamento teórico em Foucault sobre saber/poder. Através dos discursos dos docentes, buscou-se investigar as relações subjetivas que constituem estes profissionais e reflexos no processo educacional. Os resultados obtidos apontam que os sujeitos obtidos apontam que os sujeitos possuíram uma formação acadêmica e familiar rígidas, o que contribuiu para suas práticas regidas de poder disciplinar na docência. Ambos os sujeitos concordam que existem uma correlação de poder dentro da sala de aula, e que, as teias de relação de si, refletem na constituição de si e no modo do processo educacional. Sugere-se novas pesquisas na área considerando a escassez de publicações que abrangem a temática sob essa perspectiva, que envolvem as práticas educacionais na enfermagem.
Palavras-chave: Educação; Relações de saber/poder; Foucault; Enfermagem.
Abstract:
For Foucault, power is knowledge and there is no possibility of the existence of power if there is no knowledge. Therefore, power produces knowledge, knowledge is the will for appropriation and domination. This article has as main objective, to investigate the webs of relationships that constitute nursing professors as subjects and, consequently, their practices in the nursing education process, regarding knowledge / power. This study is part of a qualitative research with interviews, defended in the master's degree in education, approved by the Ethics and Research Committee and financed by CAPES, in which the participants were eight professors from a Nursing Faculty in the interior of the state of Minas Gerais. It was used as methodology, philosophical, reflective and critical discourse analysis, having as object of study two speeches of nursing professors, focusing on the theoretical basis in Foucault on knowledge / power. Through the speeches of the teachers, we sought to investigate the subjective relationships that constitute these professionals and reflexes in the educational process. The results obtained indicate that the subjects obtained point out that the subjects had a strict academic and family background, which contributed to their practices governed by disciplinary power in teaching. Both subjects agree that there is a correlation of power within the classroom, and that the webs of relation to oneself, reflect in the constitution of oneself and in the way of the educational process. Further research in the area is suggested considering the scarcity of publications covering the topic from this perspective, which involve educational practices in nursing.
Keywords: Education; Knowledge/ power
relations; Foucault; Nursing.
Introdução
Michel Foucault se baseou em muitas das vezes em diversos filósofos, como Hegel, Marx, Nietzsche, Marx, Freud, Heidegger, Sartre, mas foi em especial em Nietzsche, que aprofundou sua pesquisa, ao inovar as relações sobre saber/poder, quando creditou que os espaços dos discursos do saber/poder, são realizados nas tramas das subjetividades nas relações sociais. Segundo estudiosos, como Veiga-Neto, Oswaldo Giacóia Junior, Edgardo Castro e Salma Tannus Muchail, sua pesquisa encontra-se agrupada em três grandes fases, chamadas também de três domínios, sendo a primeira a epistemológica, pois se desenrolava no campo dos saberes, a segunda fase seria a política, uma vez que discutia as relações de poder, já a terceira é a fase da ética, que envolve a vida em si, como uma arte (GALLO, 2004). Neste artigo, teremos por enfoque o segundo domínio, a do sujeito com as relações de poder, embora em momentos se entrelace com seu primeiro domínio, por isso, se abrange o saber/poder.
Para início de discussão é necessário esclarecer que Foucault, ao invés da utilização do conceito de “poder”, sempre opta pelas “relações de poder”, pois estas “Supõem condições históricas de emergência complexas e que implicam efeitos múltiplos, compreendidos fora do que a análise filosófica identifica tradicionalmente como o campo do poder” (REVEL, 2005, p. 67).
Para ele, relações de poder se configura em uma teia de relações, ou seja, ele não se basta nos íngremes topos, nas mãos de alguns, pelo contrário, a sociedade em si é uma constante relação de poder e não está sob a detenção contínua de uma única pessoa, mesmo porque o poder não é algo que se possua, mas sim que se exerça em determinados momentos e situações, havendo sempre uma variação dentre o dominante e o dominador (FOUCAULT, 2005).
Em relação da conceituação do termo “saber”, Foucault salienta a distinção entre o saber e conhecimento. O conhecimento está ligado às condições em que há a construção dos discursos, estes, por “processos de racionalização, de identificação e de classificação dos objetos independentemente do sujeito que o apreende” (REVEL, 2005, p. 77). Enquanto o saber é um processo, que ao contrário do Conhecimento, não é fixo, depende diretamente do sujeito que apreende, ou seja, “Sofre uma modificação durante o trabalho que ele efetua na atividade de conhecer” (REVEL, 2005, p.77).
Para Foucault, o saber é:
[...] Conjunto de elementos, formados de maneira regular por uma ciência, prática discursiva e indispensável à constituição de uma ciência, apesar de não se destinarem, necessariamente, a lhe dar lugar, pode-se chamar saber. Um saber é aquilo de que podemos falar em uma prática discursiva que se encontra assim especificada: o domínio constituído pelos diferentes objetos que irão adquirir ou não um status científico [...] um saber é, também, o espaço em que o sujeito pode tomar posição para falar dos objetos de que se ocupa em seu discurso [...] saber é, também, o campo de coordenação e de subordinação dos enunciados em que os conceitos se aparecem, se definem, se aplicam e se transformam [...] um saber se define por possibilidades de utilização e de apropriação oferecidas pelo discurso (FOUCAULT, 1995, p. 206- 207).
Baseando-se nessas prévias considerações, emerge o contexto do estudo em que se buscou investigar as teias das relações de saber/poder na constituição do docente em Enfermagem, como um sujeito e suas práticas no processo de educação em Enfermagem.
Convém informar que este artigo faz parte de uma dissertação em Educação, pesquisa qualitativa com entrevistas semiestruturadas, defendida em 2018, no Programa de Pós-Graduação em Educação da XXX, cuja linha de Pesquisa é a de XXX. A pesquisa contou com oito participantes de sujeitos da pesquisa docentes de uma Faculdade de Enfermagem do interior de Minas Gerais. Aqui para o momento, utilizamos apenas dois os sujeitos participantes da pesquisa, ambas do gênero feminino, docentes em Enfermagem na educação de ensino superior do estado de Minas Gerais, com mais de dez anos de profissão. Foi preservado o anonimato dos sujeitos da pesquisa com pseudônimos.
Foi adotado como
critério de inclusão: ser docente enfermeiro de uma determinada instituição de
ensino superior de enfermagem do interior do estado de Minas gerais e aceitar
participar do estudo e assinar o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido
(TCLE). Já quanto aos critérios de exclusão foram estes se firmarem quanto o
não ser docente enfermeiro de uma determinada instituição de ensino superior de
Enfermagem do estado de Minas Gerais, estar afastado do trabalho, por motivo de
doença ou força maior, e não aceitar participar do estudo. Diante disso, foram seguidos
todos os preceitos éticos da resolução nº
510/2016 do conselho nacional de saúde, inclusive depois de transcritas as
entrevistas, estas retornaram aos sujeitos da pesquisa para confirmarem o que
foi escrito.
Foi utilizada uma análise discursiva filosófica, reflexiva e critica baseada nos pressupostos teóricos de Foucault, principalmente em suas obras que problematizam a relação do sujeito com as relações do saber e poder. Os dados foram obtidos através de entrevistas semiestruturada, aprovadas pelo Comitê de Ética e Pesquisa, gravadas e transcritas para análise. De um total de oito participantes da pesquisa, aqui para o momento foram analisados materiais de dois sujeitos. Para resguardar o anonimato, utilizamos pseudônimos, sendo respectivamente Florence Nightingale e Anna Nery. Tais nomes foram escolhidos por dois motivos, o primeiro porque se trata de duas enfermeiras pioneiras da enfermagem, em âmbito mundial e federal, e o segundo como uma maneira de homenageá-las, trazendo a menção da enfermagem para esfera da educação.
O objetivo do estudo foi de investigar as relações de saber/poder que constituem os sujeitos docentes de enfermagem, e em como essas imbricações tecem o sujeito, mesmo que inconscientemente.
A constituição do enfermeiro docente em seus discursos
A enfermagem como profissão, considerada uma ciência, possui como objeto de trabalho o cuidado, ou seja, os enfermeiros são preparados para exercer o cuidado em prol do outro. Considerando isso, cabe definir etimologicamente a palavra cuidado, aquela que provem do latim, cogitatus, ou seja, é aquilo refletido que se faz em prol de alguém ou alguma coisa, visando a cura (SILVA et al., 2009).
Quando correlacionamos tal conceito, o termo cuidado, de acordo com Silveira (2011), possui origens míticas, como exemplifica Heidegger em 1927, em sua obra Ser e Tempo, ao abordar sobre a Fábula de Higino, como a seguir, um trecho:
Certa vez, atravessando um rio. Cura viu um pedaço de terra argilosa: cogitando, tomou um pedaço e começou a dar-lhe forma. Enquanto refletia sobre o que criara, interveio Júpiter. A Cura pediu-lhe que desse espírito a forma de argila, o que fez de bom grado. Como a Cura quis então dar seu nome ao que tinha dado forma, Júpiter a proibiu e exigiu que fosse dado o nome. Enquanto Cura e Júpiter disputavam sobre o nome, surgiu também a Terra (Tellus) querendo dar o seu nome, uma vez que havia fornecido um pedaço de seu corpo. Os disputantes tomaram Saturno como árbitro. Saturno pronunciou a seguinte decisão, aparentemente equitativa: “Tu, Júpiter, por teres dado o espírito, deves receber na morte o espírito e tu, Terra, por teres dado o corpo, deves receber o corpo. Como, porém, foi a Cura quem primeiro o formou, ele deve pertencer ao Cuidado enquanto viver. Como, no entanto, sobre o nome a disputa, ele chamar-se homo, pois foi feito de húmus (HEIDEGGER, 2005, p. 266).
A Fábula de Higino explora a temática do Cuidado, aquele que esculpiu um ser, o humano, enquanto Júpiter, proporcionou o sopro de vida, envolto nesse acontecimento emergiram inúmeras discussões sobre a definição do nome desse ser que acabara de nascer, até que foi definido o seu nome húmus, porque sua composição era de terra. Assim, esse homem sempre pertencerá ao Cuidado, pois foi ele que o formou. O cuidado nesta fábula é compreendido como algo que a tudo antecede, inclusive ao homo no mundo e é ele que transforma, seja nas relações intrapessoal ou interpessoais. Dessa maneira, podemos entender que o cuidado pode ser aplicado no processo educacional, o cuidado de si, para então, cuidado com o outro.
Levando em consideração este ‘cuidado’ no contexto da enfermagem, sabe-se que múltiplas são as atuações do profissional de enfermagem e uma delas é na docência, que o torna um sujeito responsável pelo estreitamento dos ensinamentos quanto ao cuidado com o outro. Compreende-se neste estudo o processo de educação, como uma maneira de cuidado, sendo assim, o também sujeito do cuidado, o enfermeiro docente, ao ensinar o outro a cuidar, está também cuidando de si.
Esse protagonista do cuidado é constituído de discursos e, de acordo com Foucault, o sujeito é efeito do discurso; e não o contrário. Toma-se, assim, a noção de discurso como um conjunto de regras não definidas, considerando o tempo, o espaço e demais características especificas de uma determinada época (FOUCAULT, 1995).
Devido a isso, deve-se ter o cuidado de investigar o enunciado[2] e suas condições de emergências, as palavras ditas, considerando que o discurso em si nunca está vazio ideologicamente; e condizente a esta afirmação. Fisher (2001) afirma que para Michel Foucault é necessário que o próprio discurso demonstre sua complexidade, e mesmo que esteja oculto, ele há de emergir.
Após esta breve introdução, o próximo tópico leva em consideração a necessidade de partir dos fatores micro determinantes, ou seja, as questões singulares e subjetivas para então analisar os discursos dos sujeitos da pesquisa, o que possibilita investigar o contexto no qual os participantes se inserem e suas dimensões sociais, como fatores contribuintes para constituição do sujeito.
As relações de saber/poder como fatores contribuintes na constituição do ser docente enfermeiro
A enfermagem é uma profissão que, além de possuir uma característica marcante do gênero feminino, também se destaca nela a caridade, pois é uma profissão que se fundamenta nos cuidados prestados pela Igreja, em especial pelas irmãs (DONOSO,2000). A maioria dos primeiros hospitais surgiram baseadas nas ações do cristianismo, pois havia a associação de que se Deus curava de maneira sobrenatural os enfermos necessitados, os cristãos deveriam seguir seus passos e pela caridade aliviar os sofrimentos (MARQUES,2011).
Vejamos o discurso do Sujeito 1, denominada de Florence, para discussões:
“[...] eu venho de uma faculdade bem rígida, que eu sinto que é bem rígida quando estudei, eu tenho o meu lado pessoal, pois meu pai era militar, então juntou a faculdade rígida com a minha criação militar, imagina como é que eu não era como professora? [...]”.
Florence[3] teve sua formação acadêmica advinda proveniente de uma instituição religiosa, com a presença das irmãs de caridade nas dependências escolares, o que traz consigo uma bagagem histórico/cultural forte, no que se refere à caridade e castidade.
Em geral, as escolas de enfermagem no Brasil se consolidaram nessa concepção de caridade que a Igreja Católica realizava, principalmente através das irmãs de caridade que atualmente dedicam suas vidas em prol do cuidado com o outro. Assim sendo, a maioria das instituições de enfermagem emergiram através da idealização da Igreja, geralmente com a presença das irmãs de caridade nos ensinamentos do cuidado, principalmente em prol do outro (PADILHA; MANCIA, 2005).
O tema caridade na enfermagem também é encontrado no discurso de Anna Nery[4]:
“[...] ajudando quem precisa sempre, mesmo porque só alcançamos os reinos dos céus pela caridade e é caridade mesmo, ver a necessidade do outro, o que ele tem de mais urgente e suprir [...]”.
Nota-se como fica evidente o quanto a caridade está vinculada à Enfermagem, através dos atos de solidariedades que por ela eram prestados, principalmente pelas irmãs e que diante das escolas de enfermagem foram passadas para as estudantes que se formavam dentro dos ambientes cristãos.
Pode-se verificar que o gênero feminino e a caridade são fatores marcantes na enfermagem. O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), no ano de 2015, realizou um levantamento do perfil da enfermagem Brasileira, e através desse estudo identificou o alto percentual de mulheres que a compõem, sendo de - 84,6%. A figura da mulher é forte pois ela está associada a uma figura matriarcal, aquela que possui a natureza para o cuidado de todos que a rodeiam, entretanto é válido salientar que essas mulheres passam por uma dupla ou mesmo tripla jornada de trabalho, que não se limita ao ambiente laboral, cabendo aqui um olhar mais cauteloso para com elas quando se tratar da docência.
Além das instituições serem regidas pelas irmãs de caridade, o que justifica o caráter rígido de educação em Enfermagem, a primeira instituição escolar em Enfermagem, fundada pela pioneira de Enfermagem, Florence Nightingale[5] e ela, estabeleceu algumas condições para o ingresso na profissão.
Na seleção das candidatas, as qualidades morais tinham prioridade durante o curso e a disciplina era rigorosa. O rigor da escola justificava-se, considerando o que era corrente na época “[...] o modelo preconizado deveria ser [...] o mais próximo possível do que realizavam as associações religiosas [...]” (PADILHA; MANCIA, 2005, p.726).
Michel Foucault buscou diagnosticar as instituições, inclusive sobre a escola, pois acreditava que ela exercia uma relação de poder disciplinar e de instituição disciplinar, e essas relações não se limitavam ao espaço escolar, mas se estendia a toda sociedade (BATISTA; BACCON; GABRIEL, 2015). O poder disciplinar na perspectiva foucaultiana era um modo de dominação da verdade:
Em nossas sociedades [...] a "verdade" é centrada na forma do discurso científico e nas instituições que o produzem; está submetida a uma constante incitação econômica e política (necessidade de verdade tanto para a produção econômica, quanto para o poder político); é objeto, de várias formas, de uma imensa difusão e de um imenso consumo (circula nos aparelhos de educação ou de informação, cuja extensão no corpo social é relativamente grande, não obstante algumas limitações rigorosas); é produzida e transmitida sob o controle, não exclusivo, mas dominante, de alguns grandes aparelhos políticos ou econômicos (universidade, exército, escritura, meios de comunicação); enfim, é objeto de debate político e de confronto social (as lutas "ideológicas") (FOUCAULT, 2005, p.12).
Além das condições dos poderes estabelecidas nas instituições de Enfermagem, havia também relações externas que contribuíam para as ações de Florence enquanto docente. Retornemos ao fragmento do discurso de Florence, quando diz:
“[...] eu tenho o meu lado pessoal, pois meu pai era militar [...]”.
Não bastava a condição interna de apropriação discursiva, havia também a externa que colaborava para a construção de Florence como pessoa, como enfermeira e como docente de enfermagem. Um militar tem seu corpo disciplinado, como se estivesse em uma fábrica, eles são conduzidos para uma prática repetitiva, mecanizada, são moldados e refletem no outro e na sociedade, a postura hierárquica e rígida:
[...] manter a cabeça ereta e alta; a se manter direito sem curvar as costas, a fazer avançar o ventre, a salientar o peito; a encolher o dorso; e a fim de que se habituem, essa posição lhes será dada apoiando contra os muros, de maneira que os calcanhares, a batata da perna, os ombros e a cintura encostem nele, assim como as costas das mãos, virando os braços para fora, sem afastá-los do corpo... ser lhes a igualmente ensinado a nunca fixar os olhos sobre a terra, mas a olhar com ousadia aqueles que diante de quem eles passam... a ficar imóveis esperando o comando , sem mexer a cabeça as mãos, os pés... enfim, a marchar com o passo firme, com o joelho e a perna esticada [...] (FOUCAULT, 1999, p. 117).
Os pais exercem poder sobre os filhos, são relações regidas de e pelo poder, como teias e emaranhados que se invertem a cada momento, o opressor passa a ser o oprimido e vice-versa de modo constante. Com isso, o poder não se limita àqueles que ocupam as posições superiores na sociedade, mas se faz presente em tudo. Foucault costumava chamar essa condição de microfísica do poder (FOUCAULT, 2005), também é nítido a sistematização de regras e condutas dentro de uma academia militar, e os que estão a serviço das forças armadas, adotam o discurso institucional para o extra - institucional, ou seja, adotam posturas militares fora do círculo militar, e certamente o pai de Florence a influenciou na conduta e postura rígidas, como ela mesma discursou. Cabe certamente, neste momento, citar o conceito de microfísica do poder, tratado por Foucault, na busca da compreensão desde os gestos, atitudes e os discursos (FOUCAULT, 2005), e tão somente, levando o conceito em consideração é viável perscrutar sobre o sujeito da pesquisa.
Para Descartes, as relações que temos desde que nascemos, acabam nos construindo e essas concepções impostas nos guiam, talvez fosse diferente, se pudéssemos controlar nossa razão o quanto antes:
Assim ainda pensei que uma vez que todos nós fomos crianças antes de sermos homens e durante muito tempo tivemos de sermos governados por nossos apetites e preceptores, não raro contrários uns aos outros, e que talvez nem uns nem outros nos aconselhassem sempre o melhor, é quase impossível que nossos juízos sejam, tão puros ou tão sólidos quanto teriam sido se tivéssemos tido o uso completo da nossa razão desde o nascimento e jamais tivéssemos sido conduzidos senão por ela (DESCARTES, 2008, p. 22).
Portanto, Florence possuía tanto aspectos internos da própria escola, como externo, através do poder exercido pelo seu pai, e isso justifica suas ações enquanto docente, quando ela mesma deixa subentendido o seu exercício de poder dentro da sala de aula:
“[...] Juntou a faculdade rígida com a minha criação militar, imagina como é que eu não era como professora [...]?”
O poder para Foucault não se concentra verticalmente, mas em qualquer relação que se estabeleça através das interações humanas. Não se restringe às questões políticas, pois em toda interação o poder se faz presente (FOUCAULT, 2014).
Florence também evidencia que foi somente através de uma experiência pessoal em que quase faleceu de acidente de carro, que ocorreu a desconstrução de posturas em sala de aula, pois com isso, passou a ter novos olhares para com o outro. Ela admitiu fortes posturas de poderes disciplinares que exerceu durante muito tempo, não que tenha abandonado a condição de poder, mas é importante acentuar que Florence passou a enxergar o outro em suas esferas composicionais, como diz o referido discurso do sujeito:
“[...] somente a partir de minha experiência e das minhas quedas e levantadas que eu mudei minha maneira de enxergar o outro, o outro nesse caso, o aluno. Então, hoje, eu enxergo o aluno na parte social dele, a econômica, porque antes, eu não me importava com isso, antes ‘olha eu quero o xerox’, eu não sabia se ele tinha ou não condições, eu não via, eu não enxergava o outro com seus problemas pessoais, não dava a abertura pro outro chegar e dizer – ‘Hoje não estou bem’ – mas, hoje não, hoje, embora, eu nunca tenha trabalhado essa questão de me enxergar, eu vejo quanta coisa errada eu fiz para trás, muita coisa errada [...]”.
Vemos aqui uma confissão de vida de Florence, a medida em que ela trata do outro, refere a si e, é claro, a construção de sua subjetividade que partindo de suas experiências de transforma e (re)significa os seus valores.
Na medida em que se tem conhecimento sobre determinada coisa e/ou assunto, o poder cresce de modo proporcional, mesmo que inconsciente. Vejamos Anna Nery ao relatar sobre esse assunto, quanto aos docentes:
“[...] a gente, têm uma certa experiência, uma certa bagagem de conhecimento, de estudo, porque professor estuda muito, ele estuda todos os dias. Eu então acredito que essa gama de conhecimento que a gente tem que facilitar o aluno, não só como aluno, com o aprendizado e o conhecimento, mas também como gente e ser humano [...]”.
Para a citação acima de Anna Nery, vê-se que ela retrata a busca pelo conhecimento de si, na medida em que reflete sobre a necessidade de facilitar a aprendizagem, ou seja, cuidar a cuidar do outro, tratando-o como pessoa e que deve ser conduzido ao conhecimento. Assim, apropriamos de uma parte da “Alegoria da Caverna” de Platão, situada no VII livro da Republica com Glauco[6]. Sócrates se vê como um ignorante e indaga (PLATÃO, 2011, p. 296-298):
Sócrates — Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentadas, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construída um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco — Estou vendo.
Sócrates — Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que o transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.
Glauco — Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.
Sócrates — Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e dos seus companheiros, mais da que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?
Glauco — Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?
Sócrates — E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?
Glauco — Sem dúvida.
Sócrates — Portanto, se pudessem se comunicar uns com as outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?
Glauco — É bem possível.
Sócrates — E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?
Glauco — Sim, por Zeus!
Sócrates — Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados.
Glauco — Assim terá de ser.
Sócrates — Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curadas da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentas sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçada e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?
Diante da alegoria, podemos correlacionar à função do filósofo, àquele que se desamarra, sai do mundo das sombras e vai de encontro ao mundo inteligível, da episteme, da vida refletida. Ora, o docente tem a responsabilidade de conduzir o aluno para descobrir o mundo, produzir saberes; impulsionar o discente da saída da zona de conforto, para buscar outras verdades, novos conhecimentos, ao invés de se tornarem meros repetidores de verdade, que muitas das vezes, lhes são repassados como verdades perenes.
Portanto, quando se fala sobre o docente enfermeiro, denota-se que sua função ultrapassa as questões do estreitamento de conhecimentos e saberes, um professor traz consigo uma bagagem discursiva que o constitui, inclusive quanto às relações de saberes/poderes, e isso reflete diretamente na sua relação com o outro, o discente nesse caso. Sendo assim, o docente, como ser que é, possui suas singularidades, sua história e isso também e aplica ao discente, ou seja, na sala de aula acontece uma constante troca e ressignificações.
Foucault, ao estudar a questão do cuidado do outro (aqui, buscamos aplicar à educação), vê-se que, sobretudo, é necessário o cuidado de si. Cuidado de si que se associa ao logos, numa busca pela interioridade que envolve o conhecimento de si, o cuidado de si e, consequentemente, reflete no cuidado com o outro, portanto, esse cuidado de si é ético e estético[7].
O cuidado de si, por sua vez, só é possível quando há o conhecimento de si, pois fornece subsídios para o conhecimento de alma, e também dos discursos que o constituem, inclusive aos de saber/poder e tão somente, partindo disso, proporcionar reflexões de si/ para si, em prol do outro.
As relações de saber poder do docente em enfermagem no cuidado para com o outro
Como já apontado anteriormente, a sala de aula é um ambiente que proporciona uma constante desconstrução e (re) construção. Isso, através da relação com o outro, em que o docente e o discente exercem ambos, uma ação pedagógica, que não advém somente do professor, pois se trata de uma relação mútua. O cuidado com o outro[8] se constitui uma troca de saberes e de (des)construções destes, por isso a importância de interações, de se posicionar como um sujeito em construções sociais, também nas relações referentes às de saber/poder. Nas palavras de Foucault (2006, p. 158), “Para que a prática de si alcance o eu por ele visado, o outro é indispensável”.
Traremos a discussão esse “outro”, dentro do âmbito escolar, pois neste local também ocorre essa condição que Foucault acima descreve a de interdependência. Temos assim, o discurso de Florence:
“[...] O acadêmico ele é muito observador, ele aprende muitas vezes vendo o professor, então se ele vê um professor ingerindo água, se ele vê um professor com peso adequado, porque isso também influência porque eu posso estar falando uma coisa e vivendo outra, [...] eu estava em uma maternidade, e tinha uma gestante e ela não tinha marido, separou do esposo e engravidou de uma outra pessoa, então ela não tinha ninguém com ela, ai eu falei ‘Eu posso fazer uma oração com você antes de eu ir embora? Pois você irá entrar em trabalho de parto, e você está aqui sozinha, eu posso fazer uma oração com você?’ Ela falou que podia, e, aí antes de ir embora, que eu estava orando com ela, quando eu abri os olhos tinha alunos meus me observando, a enfermeira da unidade estava me observando e eu não sabia que tinha mais gente ali vendo, então, se eu acho importante essa parte espiritual e eu faço e o aluno vê na prática, tem mais valor do que ele vê, do que aquilo que o professor só fala, então, tem que ter a prática, na prática, ele aprende [...]”.
O outro, tido neste artigo como o discente, está na presença de um mestre e, com isso, Foucault revive os pensamentos de Sócrates, quanto à três características exemplares de um mestre. Primeiro, como um exemplo. O segundo através dos comportamentos transmitidos através de tradições, indo de acordo com as competências e transmissão de conhecimentos. Terceiro, trata-se da maestria socrática, aquela que é construída e exercida pelo diálogo (FOUCAULT, 2004).
A constituição de si interfere na minha relação com o outro, inclusive no âmbito educacional, por outra concepção o “si” se constrói na relação com o outro, pois são interdependentes. Então, qual seria a função do professor que traz consigo as singularidades nas relações de saber/poder no processo de educação?
A questão que se coloca é a seguinte: qual é, pois a ação do outro que é necessária à constituição do sujeito por ele mesmo? O que é, por assim dizer, esta mão estendida, esta “educação”? Que não é uma educação, mas outra coisa ou uma coisa a mais que a educação? (FOUCAULT, 2004, p. 166).
A educação é o meio que proporciona descobrimentos, mudanças, ressignificações e construções, tanto pelo docente quanto pelo aluno. Cada um carrega consigo sua história, sua constituição de saber/poder, mas é através do outro, na sala de aula, em que cada docente e aluno assumem a responsabilidade de ressignificações de si. O processo de educação permite essas transições, nas quais o docente se constitui como profissional, como pessoa humana, como aquele que educa e que se educa.
Sabe-se que a Enfermagem teve sua grande força devido aos ensinamentos da vida cristã, aqui, em especial, através das irmãs de caridade, que moldavam de certa maneira as mulheres para exercerem o cuidado com o outro, com as inúmeras condições estabelecidas. Devido a isso, suas raízes são seculares e claramente rígidas e com predominância feminina.
Os sujeitos da pesquisa tiveram uma formação acadêmica rígida na Enfermagem, advindas de instituição religiosa, o que influenciou suas posturas como docente diante os discentes. Um dos sujeitos chegou a mencionar que, além da instituição tê-la constituída de uma maneira rígida, ela ainda tinha o lado pessoal, em que seu pai era militar e também composto de regras e normas que a atravessaram. Ambos sujeitos concordam que existem uma correlação de poder dentro da sala de aula, e que as teias de relação de si refletem na constituição de si e no modo de processo educacional.
O estudo atingiu seu objetivo quando os autores se propuseram a uma reflexão sobre a educação como um modo de (re)construção de si com o outro, tendo também o reflexo da constituição do docente em Enfermagem como um sujeito em suas práticas no processo de educação em Enfermagem.
Acredita-se que o estudo proporcionará inúmeras reflexões quanto aos docentes de Enfermagem, podendo alcançar o local de onde iniciou esta pesquisa, as graduações em Enfermagem, local ou através de outros espaços globais, visto que trata-se de uma herança cultural advinda de uma educação medieval cristã que ainda exerce influência e, no entanto, docentes se percebem, acerca do sujeito consigo mesmo e o quanto seus processos educacionais são indissociáveis do sujeito de si.
Referências
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Notas
[1] Dissertação defendida em 2018, na Universidade São Francisco, referente a linha de Educação, Linguagens e Processos Interativos no Programa de pós Graduação em Educação. “O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001”.
[2] Em A Arqueologia do saber Foucault denomina enunciado como sendo: “um acontecimento, que nem a língua nem o sentido podem esgotar inteiramente” (FOUCAULT, 1995, p. 32).
[3] Florence se graduou na instituição de estudo, na década de 90 e possui quase três décadas de docência na enfermagem.
[4] Docente em enfermagem há quase uma década, sexo feminino, casada, possui mestrado em Educação, trabalha 15 horas semanais e além de docente, exerce outras atividades como enfermeira.
[5] Neste caso não se refere ao sujeito da pesquisa e sim à pioneira mundial da enfermagem.
[6] Glauco, irmão de Platão, governante da cidade construída na argumentação de Sócrates e seus interlocutores (FILHO, 2013, p.1).
[7] Em Foucault, a estética se relaciona com a “Estética da existência, [que] aponta para a possibilidade de criação de um estilo próprio, visando a produção de si mesmo como o artesão da beleza de sua vida, fazendo desta uma obra de arte” (VENTURA, 2008, p.1).
[8] Ainda sobre o outro, citemos que [...] Quem está preocupado no cuidado de si no Alcibíades não é o próprio Alcibíades, mas Sócrates, o outro, a partir de então a história do cuidado de si passa a ser vista não como uma relação pura de isolamento do sujeito em si mesmo [...] Sócrates começa a cuidar ou a se interessar pela forma pela qual Alcibíades cuida de si mesmo. E esta preocupação de Sócrates, do outro, é o que define a figura do mestre da dinâmica do cuidado de si [...] (OLIVEIRA, 2011, p. 80).