A produção de microcontos no Twitter:

escrita literária em rede e mobilização de aprendizagens

 

Production of micro-fictions in Twitter:

network literary writing and learning mobilization

 

Raphaelle Nascimento Silva

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Barreiras, Bahia, Brasil

raphaelle.ns@hotmail.com - http://orcid.org/0000-0002-2368-9926

 

Edvaldo Souza Couto

Universidade Federal da Bahia, Bahia, Brasil

edvaldo@ufba.br - http://orcid.org/0000-0002-2648-9399

 

Recebido em 15 de julho de 2020

Aprovado em 17 de dezembro de 2020

Publicado em 31 de maio de 2022

 

RESUMO

No contexto da educação na cibercultura e da popularização das redes sociais na internet, vivemos o fenômeno das narrativas dos sujeitos conectados. Uma dessas narrativas é a produção de textos literários no Twitter. Nesse cenário, o objetivo do artigo foi investigar manifestações de aspectos distintivos da escrita interativa em rede na produção de microcontos no Twitter. O método usado foi o qualitativo, de cunho analítico e interpretativo. Para a análise dos dados foram usadas a técnica de Análise Textual Discursiva - ATD e princípios da Análise de Redes Sociais – ARS.  O argumento central é que a twitteratura, a produção literária no Twitter, é uma pedagogia da escrita em rede que se constrói, principalmente, através da experiência compartilhada e da mobilização online de aprendizagens. O artigo conclui que a produção do texto literário em rede contribui para a circulação de modos de ser e de compartilhar conteúdos estéticos, construindo e mobilizando pedagogias como uma forma de produção das culturas contemporâneas.

 

Palavras-chave: Tecnologia Educacional; Cibercultura; Twitteratura.

 

ABSTRACT

In the context of education in cyberculture and the popularization of social networks on the internet, we are living the phenomenon of narratives of connected subjects. One of these narratives is the production of literary texts on Twitter. In this scenario, the objective of the article was to investigate the manifestations of distinctive aspects of interactive network writing in the production of micro-fictions on Twitter. The method used was qualitative in a analytical and interpretative way. For data analysis, the Discursive Textual Analysis (DTA) technique and Social Network Analysis (ARS) principles were used. The central argument is that twitterature, the literary production on Twitter, is a pedagogy of networked writing that is built mainly through shared experience and online learning mobilization. The article concludes that the production of the literary text in a network contributes to the circulation of ways of being and sharing aesthetic content, building and mobilizing pedagogies as a way of producing contemporary cultures.

 

Keywords: Educational Technology. Cyberculture. Twitteratura.

 

 

1 Introdução

 

            Vivemos em um recorte temporal no qual a popularização dos espaços da internet alcança um nível cada vez mais dilatado. As telas tornam-se visivelmente mais variadas, deslizantes e conectadas oferecendo aos sujeitos possibilidades que perpassam desde as ações pragmáticas do cotidiano a comportamentos subjetivos e estéticos. Aspectos tão distintos da natureza das ações humanas se aglutinam de forma cada vez mais amalgamada em espaços de rede.

Em um efeito cadeia, também as redes sociais digitais na internet se expandem e a conexão always on, a natureza ubíqua e o deslizamento movente desses ambientes constroem, na cibercultura, uma forma distinta de elaborar existências, identidades e comportamentos. Nesse bojo, as redes sociais digitais na internet passam a ter sua evolução popularizada na cibercultura não apenas em função dos usos e possibilidades para os quais foram projetadas, mas também por conta da reelaboração e apropriação que os sujeitos fazem delas.

Elas têm sido alimentadas e habitadas por uma diversidade de narrativas construídas pelos mais diversos sujeitos. Estes elaboram sua existência em rede também através da construção subjetiva e compartilhada de histórias, narrações de si mesmos e do mundo, em uma leitura própria e identitária da sociedade conectada. Nesse movimento de aprendizagens em rede, temos testemunhado o crescimento significativo das narrativas do cotidiano, em suas mais variadas formas e suportes, e também da fertilidade da produção de gêneros literários variados e abundantes.

Dentre as redes sociais da internet destacamos o Twitter: Espaço movente, efêmero e sustentado pela brevidade que emoldura os caracteres e as narrativas da vida estética e cotidiana. Uma das formas de produção literária que nos chama a atenção nesse espaço é a criação estética de microcontos realizada por sujeitos comuns, isto é, aqueles que não são reconhecidos socialmente como autores de literatura. O Twitter, alimentado por diversos conteúdos prosaicos da vida cotidiana, também dilata suas fronteiras para abrigar aquilo que vem sendo chamado de twitteratura

A partir dessa realidade, este trabalho apresenta e discute um recorte dos resultados de uma pesquisa situada na interface das áreas de Educação e Literatura no contexto da cibercultura, as quais orientaram seu campo teórico e empírico. Neste estudo propusemos uma investigação da produção literária realizada na rede social Twitter, focalizando o gênero microconto, uma dentre as múltiplas formas de apresentação da twitteratura. Nosso objetivo foi investigar as manifestações de aspectos distintivos da escrita interativa em rede na produção de microcontos no Twitter. A pesquisa também nos permitiu analisar o Twitter como espaço digital de remediação literária; identificar e analisar os traços constitutivos da memória discursiva do microconto; e mapear e analisar aspectos da produção de microcontos no Twitter que se relacionam com escrita em rede: exteriorização, conexão e compartilhamento.

O método usado foi o qualitativo, de cunho analítico e interpretativo. Para a análise dos dados foram usadas a técnica de Análise Textual Discursiva – ATD e princípios da Análise de Redes Sociais – ARS. O argumento central é que a  twitteratura, a produção literária no Twitter, é uma pedagogia da escrita em rede que se constrói, principalmente, através da experiência compartilhada e da mobilização de aprendizagens. O artigo conclui que a produção do texto literário em rede contribui para a circulação de modos de ser e para compartilhar conteúdos estéticos, construindo e mobilizando pedagogias como uma forma de produção das culturas contemporâneas.

 

2 #IMERSÃONACIBERCULTURA

 

Para investigar as manifestações de aspectos distintivos da escrita interativa em rede a partir da produção de microcontos no Twitter      é importante considerarmos que o advento da cibercultura alimentou uma necessidade não só de consumo, mas também de produção, compartilhamento e disseminação de conhecimento. De maneira análoga, tanto os comportamentos impulsionados pela cultura digital (LEMOS, 2009) quanto as práticas de leitura e produção, em especial a de textos literários, possuem uma espécie de necessidade de atualização que só acontece nas ações desenvolvidas pelos sujeitos.

As redes sociais na internet aproximam as práticas estéticas de produção da literatura e a realidade vivenciada pelos sujeitos na cibercultura. “Tal acontecimento deve ser tomado como sintoma de uma época sinalizando o desejo de criar, escrever, enfim, de romper com os velhos esquemas interpretativos, da literatura e da vida” (SILVA, 2016, p. 38). É a presentificação da natureza literária da vida através das ações cotidianas que, por sua vez, incluem a cibercultura.

Desse modo, o ciberespaço emerge “com a potência que comporta o discurso democrático em sua gênese” (COUTO et al., 2009, p. 112). Oferece novos suportes e espaços para a leitura e a produção de textos que, por sua vez, necessitam da construção de novos comportamentos leitores e escritores, pois colocam na mão dos sujeitos uma estrutura de telas e ambientes que lhes permite produzir os mais variados tipos de textos. Dentre eles, as produções literárias forjadas na e para a cibercultura, a exemplo do movimento que vem sendo conhecido como twitteratura e se caracteriza como a utilização da rede social Twitter como espaço de produção literária.

Tal compreensão nos permite um diálogo com a formulação de Pato (2012, p. 44) acerca do conceito de literatura expandida, segundo o qual o movimento de apropriação na criação estético-literária reside em “incorporar as vozes de outros autores” de modo a revelar uma renúncia a “uma única voz em favor de uma união delas”. Em função disso, o texto literário tem grandes possibilidades a oferecer na cibercultura, levando a modos distintos de consumir, produzir e compartilhar literatura. A twitteratura é uma dessas manifestações que se revelam na relação entre as redes sociais digitais na internet e a produção literária. 

O Twitter, por sua estruturação de microblog, como propõe Montiel (2015), ou sua natureza de microdesing de ideias, conforme Santaella e Lemos (2010), ou ainda a sua natureza de micromensageiro, como prefere Recuero (2011) e Recuero e Zago (2010), imprime na essência de suas produções comunicativas o princípio da economia linguística com o máximo de riqueza potencial do texto. Nesse sentido, constrói em sua rede de possibilidade mecanismos que funcionam como alargadores comunicacionais a serem explorados para a melhor composição do tweet.

Além disso, os laços construídos nessa rede social se estabelecem pelo interesse em determinados conteúdos, conforme Recuero (2011) e Santana (2014).  Esse diferencial gera a necessidade de estratégias de manutenção, ampliação e visibilidade distintas, posto que a produção dos conteúdos é o que está em evidência. A volumosa produção literária que tem sido feita nesse ambiente, seja como poesia, aforismo, microconto, é ilustrativa da apropriação que os sujeitos fazem desse site de rede social para fins e produções de conteúdos diversos, o que inclui as postagens de conteúdo literário. Nessa perspectiva, concordamos com Santana e Couto (2017, p. 438) quando afirmam que “o Twitter é curto, global, hipertextual, intuitivo e social”.

A cibercultura está promovendo, no que se refere à produção literária, uma espécie de movimento de democratização, análogo ao que ocorreu durante o século XIX com a publicação do romance em folhetins. Isso porque “é nesse cenário de mudanças de paradigmas de leitura, de escrita e de abertura para experiências literárias que jovens escritores encontram, literalmente, as janelas fundamentais para suas aspirações de escrita, o ciberespaço, e em suas infovias, o espaço literário” (LIMA, 2015, p. 261).

Compreendemos, assim, o fenômeno da twitteratura envolto no contexto sociohistórico que o gerou. Por outro lado, também o avaliamos como uma das faces próprias da natureza da arte e, em especial, da arte das palavras, a qual seja a sua capacidade de resistência. Conforme Fraisse (2011, p. 71) “uma das contradições constitutivas da literatura tomada como sociabilidade: ela é de fato, e ao mesmo tempo, instituição e resistência a qualquer tentativa de institucionalização”.

A twitteratura é uma estética de criação literária que ocorre no espaço da rede social Twitter, “um novo formato que se pode dar à matéria literária” (FERNANDES, 2017, p. 51). O grande ganho que temos nessa compreensão é vislumbrar aspectos distintivos que a arte possui se materializando através da cibercultura, em especial, nas redes sociais digitais na internet, já que estas não foram arquitetadas para a produção de literatura, uma vez que “o Twitter dá voz para escritores que de outra forma murchariam e escorregariam para um canto se confrontado com um ambiente social grande, assim como eu” (DEMARY, 2015, s/p, tradução nossa).

A twitteratura dá à produção literária uma consistência ainda mais movente. É movimento, é conexão. O seu resultado é um texto tal qual “um ponto de passagem, uma significação sempre movente ou movediça (dependendo do uso que fazemos dela e que ela faz de nós) e não como uma ancoragem, quer dizer, uma estabilização do duo significante-significado em torno de um sujeito constituinte ou transcendental” (SANTOS, 2009, p. 44).

Assim sendo, a produção literária no Twitter é um espaço de aprendizagens em rede. Os sujeitos, ao se autorizarem a criar e compartilhar de forma conectada suas micronarrativas – e destacamos aqui a produção de microcontos – também se inserem em um processo movente de interação e descobertas que mobilizam muitas estratégias para o ato de narrar.  O Twitter, para além da ágora digital (SANTAELLA e LEMOS, 2010), a qual mobiliza uma diversidade de conteúdos e comportamentos, se apresenta como ambiente em que se aprende, se troca informações e experiências. Nele são mobilizadas estratégias de produção estética de conteúdo de forma intencional e autorizada.

É, pois, um espaço que permite, estimula e alimenta aquilo que Couto (2014) define como pedagogias das conexões. Em contato com outros sujeitos e através dessa rede de conexão e compartilhamento, a experiência de narrar por meio das micronarrativas se exterioriza, revelando estratégias, vivências e processos de criação e aprendizagem estética. A twitteratura é um modo de fazer circular narrativas do mundo, do homem, da percepção das coisas. Os sujeitos ao mesmo tempo em que narram o outro aprendem sobre si e exteriorizam essas aprendizagens em rede por meio de suas elaborações estéticas, as quais são compartilhadas através das redes sociais digitais na internet.

Uma das faces da twitteratura é a que se dedica à produção de microcontos. Essa forma narrativa é estruturada por uma memória discursiva do gênero, a qual se compõe por cinco traços: ocultamento e sugestão; trajetos de sentido; memória da literatura precedente, narratividade nucelar e forma-conteúdo. Tal formulação é resultado do estudo de autores que se debruçam sobre essa forma narrativa, tais como: Rojo (1997), Lagmanovich (2003; 2005; 2006), Zavala (1996; 2006), Cury (2007), Peres (2008), Roas (2008; 2010), Seabra (2010), Rodrigues (2011), Souza e Rodrigues (2011), Campos (2011), Bertocchi (2013), Gomes (2013), Cruz (2013) e Álvares (2015), além de estudiosos do conto, como Cortázar (1974) e Piglia (2004).

Paralelo a esses traços de composição da memória discursiva do microconto, também é possível sistematizar as regularidades discursivas presentes na composição dessa forma narrativa, a qual se estrutura a partir de 12 elementos: brevidade, verossimilhança, episódio individual, marcação do tempo, sequência causal única, seleção vocabular, relação com o cotidiano, presença de molduras, coalescência, narratividade, incompletude e totalidade.

Para além desse mapeamento da estrutura composicional do microconto, precisamos observar o Twitter como um espaço de remediação literária. Visto dessa maneira, podemos perceber que embora a autoria em rede, a interação, o texto aberto e a remediação não sejam necessariamente práticas de escrita novas, diretamente produzidas pela sociedade em rede, sua potencialização está intimamente ligada àquela que talvez seja a maior contribuição do meio digital: a capacidade de possibilitar a exteriorização da prática de escrita, em detrimento da atividade realizada em isolamento. Este é um traço distintivo da escrita interativa em rede. Nessa perspectiva, Burke (1998, p. 199) já nos alertava para o fato de que as tecnologias digitais “exteriorizam aqueles processos sintéticos e analíticos que a mente humana desenvolveu em sua adaptação ao mundo do texto escrito”.

Por conseguinte, outro aspecto que marca uma distinção que se aplica à produção literária no meio digital é o “seu caráter reticular ou sua estrutura em rede que permite a conexão e interação distribuída de cérebros em nível planetário possibilitando a realização de um ato criativo aberto e compartilhado em uma dimensão inédita” (MARTINS, 2014, p. 56). Somada a esses fatores, podemos destacar a ampliada espécie de memória compartilhada que se torna possível no ambiente digital o qual se compõe de uma malha de banco de dados hipertextual. Assim, na busca por compreender o que é ou não distintivo da produção literária em rede, consideramos como elementos peculiares desse tipo de escrita estética três características: exteriorização, conexão e compartilhamento.

Por esse caminho, propomos uma análise da produção dos microcontos no Twitter a partir de uma intersecção entre a memória discursiva desse gênero, os traços de suas regularidades discursivas e os três aspectos distintivos da sua produção em rede. Esse comportamento de escrita, de acordo com Couto (2014, p. 49) evidencia “valores imprescindíveis para a construção das nossas subjetividades online” que revelam também formas de aprendizagem e produção de conhecimento de nós mesmos e do mundo. São também formas de educação para as sensibilidades que agenciam aprendizagens.

 

3 #rastrosmetodologicos: o processo de construção da pesquisa

 

Esta é uma pesquisa qualitativa, de cunho descritivo, analítico e interpretativo (CRESWELL, 2011). Nela estudamos um recorte da relação entre a rede social Twitter, seu campo empírico, e a produção literária. Para tanto, selecionamos doze perfis do Twitter com produção de microcontos. Iniciamos o processo de seleção utilizando a hashtag #microconto no campo de busca da plataforma a fim de localizar tweets relacionados com o conteúdo literário em foco.

A busca inicial nos levou às publicações de 113 perfis. No entanto, nem todas as postagens apresentavam micronarrativas no corpo dos tweets. Por vezes, tratava-se de divulgações de outros perfis produtores de microcontos, de concursos, de páginas em outros espaços em rede, isto é, conteúdos associados à produção de micronarrativas, mas nem sempre com a publicação dos textos. Para chegar aos perfis efetivamente produtores de microcontos, foi necessário que reduzíssemos essa quantidade de informação.

Realizamos, como segunda etapa, a visitação aos 113 perfis identificados e definimos três elementos da composição dos perfis a serem observados: a) a biografia inserida por cada usuário ao criar o seu perfil; b) a composição do seu nome de usuário - username; e c) a foto de perfil e/ou capa utilizada. Com a observação desses elementos, procuramos aspectos textuais, visuais e/ou discursivos que apontassem indícios relacionados ao uso literário das contas. Ficamos atentos a usernames elaborados a partir de referências à ação de escrita, a imagens de perfil ou capa que construíssem relações metalinguísticas com a produção literária ou ainda a declarações explícitas ou implícitas desse tipo de atividade no texto das biografias.

As informações extraídas durante essa visitação permitiram reduzir o número de perfis para 32. A partir dessa redução, por um período de três meses compreendidos entre abril e junho de 2017, se tornou possível adotar uma rotina de visitação diária aos 32 perfis, para a observação das postagens. Nessa fase, adotamos mais dois critérios: a) a presença de links na biografia que apontassem para outros ambientes nos quais os sujeitos mantivessem escritas literárias, sendo essas de microcontos ou outros gêneros, mas que demonstrassem uma intencionalidade literária em seus comportamentos em rede; e b) o aspecto relacional entre as contas, isto é, a identificação de que entre os perfis em observação houvesse conexões como, por exemplo, a ligação de seguidor, menção, curtida ou retuíte.

Essa etapa de refinamento dos resultados da busca nos levou ao número final de perfis selecionados, constituído por doze perfis produtores de microcontos na rede social Twitter: @Thiagorotsamp, @sergiofreire, @ProfZi, @MarcosMairton, @MarcelOriani, @Lucas_Beca, @AlexandreJus, @Contomicro, @contosurbanos, @eteceteraetal, @JPassosescritor e @Leonardo_Lopes.

Com a definição dos perfis, utilizamos um roteiro semiestruturado de observação e um diário de campo para proceder à observação encoberta. Segundo Lasta e Barichello (2013, p. 53) essa técnica é um tipo de observação na qual “o pesquisador apenas observa o seu campo de estudo, sem que os sujeitos observados saibam que estão sendo estudados”. Nela prevemos a ausência de contato com os sujeitos observados durante a coleta das informações a fim de não provocar alterações nas suas práticas sociais habituais de modo a aproximar as informações produzidas durante o período da pesquisa ao máximo possível de suas ocorrências naturais e despreocupadas com avaliações externas.

Para analisar as informações coletadas nos perfis selecionados consideramos as definições de Elm (2009) acerca da privacidade das contas e conteúdos em rede. De acordo com o autor “a privacidade diz respeito à integridade individual, sendo possível classificar os ambientes on-line em quatro níveis de privacidade.” (ELM, 2009, p.75). Dentre os quatro níveis – público, semipúblico, semiprivado e privado – destacamos o nível público, o qual se caracteriza como aberto e disponível a todos sem a necessidade de cadastro, convite ou aceitação, ou autorização direta. Todos os perfis do Twitter observados na pesquisa se caracterizam como públicos.

Os tweets analisados na pesquisa foram coletados considerando as publicações realizadas entre janeiro a dezembro de 2017 e uma vez atingidos os objetivos de pesquisa relacionados à técnica da observação encoberta, os responsáveis pelos perfis observados foram contatados para tomarem ciência do estudo em andamento, das motivações da primeira fase da observação encoberta e da coleta das informações. Nesse momento, foram convidados a colaborar com a pesquisa, autorizando o uso integral do material coletado através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, o qual resguarda os cuidados éticos da pesquisa.

Para proceder à análise das informações, utilizamos a técnica de Análise Textual Discursiva - ATD (LUIJPEN, 1973; NAVARRO e DIAZ, 1994; ASSMANN, 1998; MORAES e GALIAZZI, 2016), no intuito de construir temas e/ou categorias de discussão que nos permitiram realizar uma leitura descritiva e interpretativa do fenômeno em estudo. De forma complementar, fizemos uso de princípios da Análise de Redes Sociais - ARS para mídia social, na qual buscamos inspiração (JONES, 1999; HINE, 2000; FREEMAN, 2004; AMARAL e MONTARDO, 2010; RECUERO, BASTOS e ZAGO, 2015).

 

4 #MICROCONTOEMFOCO: dos aspectos temático-textuais à escrita em rede

 

O Twitter oferece aos sujeitos que dele decidiram fazer um uso literário um espaço de remediação, uma remodelagem das linguagens das mídias que o precederam, conforme Bolter e Grusin (2000). Por isso, “o conceito de remediação é especialmente adequado para pensar a linguagem das mídias digitais, entendendo-as não como uma revolução em relação a outras mídias anteriores, mas como a reformatação de outras linguagens e práticas sociais” (MARTINS, 2014, p. 66). É nesse contexto que foram produzidos os 73 microcontos coletados nos perfis observados nesta pesquisa. Eles revelam comportamentos de escrita de sujeitos que inscrevem suas práticas sociais de experimentação literária em meio aos mais diversos usos que o Twitter possui.

Desse conjunto de 73 microcontos selecionamos 03 para esse artigo. Esta seção apresenta, discute e analisa, portanto, 03 microcontos selecionados dentro do corpus da pesquisa, considerando três métricas definidas: a) os aspectos temático-textuais; b) os traços da memória discursiva do microconto e suas regularidades; e c) a repercussão do tweet, conforme os elementos relativos à natureza da escrita em rede – conexão, exteriorização e compartilhamento. Os microcontos produzidos no Twitter apresentam-se como narrativas ficcionais que capturam reações, sentimentos e relações humanas através da representação. Observemos na Figura 1, o conjunto de textos selecionados:

Figura 1 – Microcontos selecionados

Fonte: Os autores[1]

 

Os microcontos selecionados apresentam estratégias de composição de narrativas curtas em rede que se estendem para além dos limites linguísticos. No texto 01, de autoria de @sergiofreire, notamos a presença da utilização da língua a serviço de efeitos estéticos intencionais. Como é característico da escrita de @sergiofreire, o título se apresenta emoldurado no tweet: DESEJOS, em caixa alta e entre pontos. Nessa micronarrativa, o título é uma frase nominal absoluta, responsável por criar as expectativas leitoras e pelo contrato de construção de sentidos.

No texto, a narrativa é interrompida e, até o momento narrado dentro do tweet, o enredo parece se encaminhar para uma queixa existencialista, uma sequência de desejos listados em orações curtas, separadas por vírgulas, que criam volume no texto exíguo. No entanto, o elemento mais desafiador desse microconto é a incompletude simulada que se dá em dois momentos controlados pela própria narrativa e pelas estratégias de produção em rede que foram utilizadas. No primeiro instante da leitura, temos um texto que não se conclui e isso impõe ao leitor a obrigatoriedade de construir provisória ou definitivamente o desfecho da história que não existe de forma acessível dentro do tweet. Porém o elemento diferenciador está lá, o link para continuar o plano narrativo.

@sergiofreire apenas inicia o microconto no Twitter e o entrega completo em outra interface, o Facebook. Dessa forma, propõe em alguma medida o controle sobre o comportamento leitor e lhe conduz através da história por movimentos de extensão, expansão, migração, imersão em rede. Ao clicar no link deixado, o leitor é encaminhado para a página pessoal de @sergiofreire no Facebook e lá pode completar sua leitura em conformidade ou não com aquela que criou antes de conhecê-la.

Entendemos com esse movimento orquestrado dentro do perfil de @sergiofreire no Twitter que a leitura dos microcontos também pode conduzir a uma radicalização da ideia de obra aberta (ECO, 2004) e (BARTHES, 1987). A obra é aberta não apenas porque reside nela possibilidades construídas dentro da linguagem as quais podem ser modeladas e modificadas por vários fatores externos da formação do sujeito leitor, como seus referenciais contextuais e pragmáticos. É aberta também, porque há um convite para o seu fechamento que pode ou não ser aceito como ação para cada leitor. É, dessa forma, narrativa completa ainda que na fragmentação, na incompletude.

Se o leitor não aceita o convite para expandir os limites do tweet e seguir a trilha hipertextual da narrativa, haverá ali já uma história completa que se concluirá de maneira diversa da original. Porém se considerarmos que o leitor completará o contrato narrativo construído e seguirá as migalhas digitais deixadas, é com o texto programado pelo autor que irá se deparar. Esse movimento se aproxima da analogia construída por Santos (2009) quando afirma que o poeta no laboratório é uma espécie de programador. Estendemos a referência feita ao poeta a todos os escritores de literatura.

A produção de microcontos no Twitter é uma espécie de programação, que se caracteriza “por sobrepor uma linguagem a outra” (SANTOS, 2009, p. 43). Nessa sobreposição os resultados são aqueles previstos pelo autor. No caso do microconto de @sergiofreire, o link deixado leva à versão completa do texto como reproduzidos na Figura 2:

 

Figura 2 - Microcontos 01 – versão completa no Facebook

 

Fonte: https://www.facebook.com/prof.sergiofreire/posts/10154703428055588

 

Observemos que, no desfecho do texto, o humor fica por conta da simétrica passagem do plano existencialista inicial do texto às cotidianidades mais pragmáticas como a prestação na loja popular de departamento.  Como desejar o mundo se ainda há prestações do básico a serem vencidas? A transição no plano do conteúdo reflete àquela orquestrada entre os ambientes. Dessa forma depreendemos o sentido do texto e concordamos com Maingueneau (2006, p. 213) quando afirma que “as mediações materiais não vêm acrescentarse ao texto como circunstâncias contingentes, mas em vez disso intervêm na própria constituição de sua mensagem”.

Em outra perspectiva estratégica, o microconto 02 desenvolve uma narrativa ligada aos recursos da paródia e da releitura, fazendo desses elementos uma opção de escrita estética de @MarcosMairton. Utilizando estratégias linguísticas específicas, o texto promove uma conexão entre dois campos artísticos: a literatura e a música. É a materialização daquilo que Pato (2012) define como literatura expandida.  O texto tem como título Relicário, em referência à música homônima composta por Nando Reis. Nele vemos a intertextualidade como fio condutor da leitura, que se desenvolve em uma rede diferente de referências. Há nesse microconto um caráter antropofágico, o qual coloca materiais narrativos de diferentes naturezas em alto relevo através da forma.  Em função disso, “por mais esquemática ou elíptica que seja, há na micronarrativa um núcleo compacto de narratividade que permite ao leitor inferir uma história. O que está em jogo é menos a trama narrativa do que a tensão narrativa” (ÁLVARES, 2015, p. 260).

Em caixa alta e isolado, o título é o elemento inicial para a relação com outro texto, a canção do compositor e cantor Nando Reis, interpretada por Cassia Eller. Esta é a segunda pista do trajeto de sentido do texto. Ao nomear a personagem do microconto utilizando o nome Cássia, esta se torna uma ficcionalização universalizante, uma elaboração verossímil da realidade. Assim que, na primeira oração do microconto, vemos a simbiose entre música e rede quando a personagem na sequência causal única que compõe a narrativa “toca o dedo no passarinho”, símbolo do Twitter.

De acordo com Pato (2012, p. 45) ocorre nesse momento do microconto “o uso [...] da citação corrompida de outras vozes” que segundo a autora configura “indícios de uma pesquisa artística que está em busca de novos modos de escrita e novos modelos de autoria”. Em função de tal conduta de escrita, a ação desencadeia a imersão de um universo no outro. Ao responder a pergunta da rede social “O que está acontecendo?”, encontramos um trecho da música Relicário “o mundo está ao contrário e ninguém reparou”, além de um jogo linguístico entre o pronome “ela” e o substantivo próprio “Eller’, entre parênteses.

Nesse texto, a marca antropofágica se impõe enquanto conteúdo narrado e se manifesta na forma através de comportamentos socioculturais desenvolvidos pelos personagens e familiares ao leitor (ÁLVARES, 2015). Estes são representados na narrativa em um episódio individual verossímil que revela duas histórias em um texto literário expandido (PATO, 2012). Vemos um microconto que não apenas utiliza a rede como espaço de produção, compartilhamento e remixagem (LEMOS, 2004), mas a torna parte integrante do conteúdo-forma elaborado, uma vez que ocorre a simbiose entre várias camadas culturais que constroem simulacros para diferentes histórias.  O texto não se completa da mesma forma se for desligado do universo de conexão que o gerou.

No microconto 03, @AlexandreJus aborda a dicotomia otimismo x pessimismo na apreensão humana do mundo e dialoga com motes universais da tradição literária. Em um tom familiar, vemos personagens que se assemelham ao otimista Dom Quixote e ao pragmático Sancho Pança, icônicas figuras literárias construídas por Miguel de Cervantes (1978). Esses dois personagens encontram no microconto antropofágico que reproduzimos uma releitura e um terceiro interlocutor, o texto representa aquilo que Zavala (2002, p. 548, tradução nossa) define como uma “tendência lúdica à hibridização de gêneros”.

A figura do humanista – como é apresentado na história pelo narrador – elabora uma terceira forma de lidar com a reflexão existencial proposta. Enquanto o pessimista e o otimista voltam seu olhar sobre o plano do conteúdo do copo – a bebida – o terceiro personagem retira a carga existencial das reflexões, forjando uma solução simples para o dilema. Isso leva o leitor à conclusão de que a vida humana, antes de boa ou ruim, é sempre uma escolha concreta e tangível. Tal estrutura e recursos reforçam o fato de que, conforme afirma Zavala (2011, p. 364-5) “a microficção é o gênero mais irônico, experimental e lúdico da literatura, que dialoga com a escrita literária e extraliterária, incorpora elementos de ambas as categorias e tem, por isso, uma natureza genológica fronteiriça”.

            Observamos, nos 03 textos apresentados, além dos aspectos temático-linguísticos discutidos, os traços da memória discursiva do microconto. Esta forma narrativa carrega consigo dois componentes fundamentais para a sua compreensão: a memória das formas narrativas tradicionais e a indefinição antropofágica do tempo presente, as quais repercutem em regularidades discursivas (GOMES, 2013). Nessa perspectiva, consideramos os cinco traços caracterizadores da memória discursiva do microconto - Ocultamento e Sugestão, Trajetos de Sentido, Memória da Literatura Precedente, Narratividade Nuclear e Forma-Conteúdo – para através deles reconhecermos com mais clareza as regularidades discursivas que circunscrevem essa prática literária. Vejamos, abaixo, essa sistematização a partir da análise dos textos discutidos.

 

Quadro 1 – Traços da memória discursiva do microconto presentes nos textos discutidos

TRAÇOS DA MEMÓRIA DISCURSIVA

DO MICROCONTO

MICROCONTOS

01

02

03

Ocultamento e Sugestão

X

X

X

Trajetos de Sentido

X

X

X

Memória da Literatura Precedente

 

X

X

Forma-Conteúdo

X

X

X

Narratividade Nuclear

X

X

X

Fonte: Os autores

           

            Os cinco traços da memória discursiva do microconto se diluem nas micronarrativas analisadas. O traço de ocultamento e sugestão é utilizado como forma de composição das narrativas curtas nos microcontos 01, 02 e 03. Neles, a estratégia de ocultar para sugerir se constitui como meio e fim da existência da história, sua sustentação. Suas marcas mais claras aparecem nos textos através de regularidades discursivas como a economia linguística, a verossimilhança, a seleção vocabular e a relação com o cotidiano.

            No que diz respeito ao trajeto de sentido, este traço também está presente em todos os microcontos. Ele se revela de forma mais proeminente através da intertextualidade no microconto 02, bem como através da interatividade nos microcontos 01 e 03. Ele também se revela dentro dos textos discutidos através da presença da construção elaborativa da história por meio da participação do leitor no processo criativo controlado, o qual se estende ao ato de leitura.

            A memória da literatura precedente está presente nos microcontos 02 e 03. Suas narrativas são fortemente marcadas pela antropofagia (RODRIGUES, 2011, p. 249). Nos limites da narrativa breve que é o microconto, vemos deglutição de elementos anteriores e diversos na malha imensa que são as produções literárias. Do romance moderno e das referências intertextuais vêm as estratégias utilizadas nesses microcontos para construir histórias que se constituem como unidade indivisível, ao passo que sua narratividade se compõe de incompletude e totalidade.

            A relação narratividade nuclear e forma-conteúdo marcam a construção de todos os microcontos analisados. Neles, os episódios individuais coordenam com a sequência causal única, a marcação do tempo, a presença de molduras e a relação com o cotidiano, uma combinação que resulta em narrativas nas quais o fragmento completo explode no leitor. Em função disso, “o discurso é sucinto [...] o que provoca inquietação no leitor e o exige na coautoria” (MARTINS, 2011, p. 274).

            Além da forma narrativa em si mesma, é importante compreender os aspectos relativos à natureza da sua produção em rede. A produção literária que ocorre no Twitter está sendo construída, conforme um dos criadores dessa rede social – Jack Dorsey –, em “uma plataforma de comunicação” (MUÑOZ e RIVEIRO, 2009). Por isso, destacamos como essas micronarrativas produziram repercussões no Twitter, as quais são nomeadas pela própria plataforma de engajamentos. Podemos identificar três naturezas distintas de engajamento, as quais revelam diferentes formas de interação e associação aos conteúdos produzidos: curtida, retweet e comentário.

            Essas métricas expressam, em alguma medida, a materialização das características definidoras do Twitter: assimetria, brevidade, descentralização, caráter global, hipertextualidade, traço intuitivo, multiplataforma, sincronia, sociabilidade e a capacidade de se tornar viral (TORRES BEGINES, 2016). Observemos o mapeamento das métricas presentes na plataforma em relação aos microcontos analisados.

 

Quadro 2 – Levantamento das métricas por microconto

MICROCONTOS

CURTIDAS

RETWEETS

COMENTÁRIOS

01

00

00

00

02

15

05

01

03

27

03

02

Fonte: Os autores

           

            Uma análise dessas métricas nos permite inferir que a repercussão dos microcontos que receberam retweet não teve um grande alcance. O texto que mais conseguiu engajamento em relação à quantidade de curtidas foi o microconto 03 de autoria de @AlexandreJus, que em relação aos demais perfis não chega a ser o que possui maior número de seguidores, computando 5.886 seguidores. Tal elemento nos leva a uma segunda consideração, a quantidade de seguidores, no que se refere às produções literárias, não está diretamente associada com o sucesso dos conteúdos produzidos, visto que o texto produzido por @sergiofreire, microcontos 01, não gerou engajamento ainda que esse perfil possua um total de 10,4 mil seguidores.  As duas leituras acima, corroboram, então, para a compreensão de que no Twitter os laços afetivos não estão em primeiro plano no engajamento produzido em relação às postagens, mas o próprio conteúdo.

            No entanto, além dos dados diretamente gerados no Twitter, há outros aspectos que precisam ser considerados na observação das interações produzidas. Como destacamos anteriormente, o tweet de @sergiofreire apresentou uma característica distinta: um link para a continuidade da micronarrativa no Facebook. Ao seguirmos esse link, encontramos novas e diferentes métricas para esse texto. É possível contabilizar, no post[2] do microconto no Facebook, 15 comentários, 10 compartilhamentos e 166 reações.

            A repercussão é muito diferente daquela mapeada dentro do Twitter. Dessa composição podemos depreender algumas observações: a) embora no primeiro momento o tweet aponte para a ausência de engajamentos, esse dado pode ser interpretado de forma simetricamente inversa, pois a ausência de engajamentos no Twitter ao invés de significar a falta de identificação e validação dos seguidores indica uma compreensão completa da estratégia de construção narrativa do perfil e uma consequente obediência a ela; b) se a narrativa não se conclui no seu local de origem – o Twitter – também não é nele que os traços de interação em rede irão se materializar.

            Percebemos que não apenas o microconto se constrói em uma estratégia narrativa movente, como a própria ação de leitura também. Os números no Facebook, ambiente onde a narrativa se conclui, demonstram engajamento e validação. Embora não seja possível confirmar que todos os perfis interagentes no Facebook tenham chegado à postagem através do link do tweet, esse é um dos caminhos que pode ser hipoteticamente considerado e mostra comportamentos produtivos de elaboração, recepção e interação com os conteúdos em rede.

            No microconto 02, de autoria de @MarcosMairton, além das 15 curtidas e 03 retweets notamos a presença de comentários[3] de @luciolage e @ProfZi. Nas métricas, consta apenas 01 comentário em função do percurso de conversação realizado. O que se destaca nas interações registradas é a recepção positiva dos seguidores manifesta nos comentários de incentivo e aprovação. Há dois comentários registrados, o primeiro é de @luciolage que interage com o incentivo valorativo “Adorei!”, no qual demonstra aprovação do conteúdo produzido e identificação. Já a segunda interação, de @ProfZi, foi realizado em efeito dominó. Está conectado ao comentário de @luciolage, validando em segundo nível a produção que originou a conversa, isto é, o microconto. Em seu comentário, @ProfZi escreve positivamente “Sabe que sabe!”, reforçando a avaliação feita anteriormente.

            Em relação às repercussões do microconto 03, notamos que o diálogo se expande com interações que criam desdobramentos a partir da narrativa. A interação funciona como uma espécie de hipertexto que se constrói simultaneamente. Essa possibilidade interativa em tempo real faz do Twitter ainda mais veloz, fluido e instantâneo e cria para a produção literária uma atmosfera na qual os produtos estéticos possuem na incompletude e na abertura um elemento constituinte, latente, potencial. É uma parte integrante de sua natureza e gênese em rede.

A interação em tempo real funciona como uma espécie de autorização dos sujeitos comuns, os quais não carregam o emblema oficial de escritores, nem o largo reconhecimento institucional de suas produções literárias.  No Twitter, a escrita literária incorpora todas as possibilidades, estruturas e conexões da plataforma que a abriga. Podemos observar na interação reproduzida, um exemplo de como a produção de microcontos no Twitter, destituídos, no sentido positivo do termo, da áurea canônica da literatura, se mistura, se amálgama aos outros usos que os sujeitos fazem dessa rede social a ponto de permitir que autores e leitores se sintam autorizados a produzir, dialogar, interferir, compartilhar seus textos, percepções, experiências, epifanias. Observemos esse elemento na repercussão do microconto 03, de autoria de @AlexandreJus:

 

Figura 3 - Repercussão do microconto 03

Fonte: https://twitter.com/AlexandreJus/status/917197058603438081

 

No microconto existencialista de @AlexandreJus, a natureza aberta do texto literário se manifesta de forma mais produtiva através da remixagem, da retextualização da produção coletiva motivada pela interação que instiga o autor a agregar ao texto original as contribuições advindas dos comentários dos seguidores do perfil. Assim que o Twitter se transforma naquilo que Santaella e Lemos (2010) chamam de ágora digital global. Na imagem acima, vemos o registro da interação de dois dos seguidores do perfil pesquisado: @Marcelo_And_San e @DiasDougFotos. O que se destaca é que a intervenção de @Marcelo_And_San constrói um questionamento que funciona como um propulsor da continuidade do processo criativo de @AlexandreJus, confirmando o pensamento de Lévy (1999, p. 135-6) de que as produções em ambiente digital passam a contar com “[...] a participação nas obras daqueles que as provam, interpretam, exploram ou leem. [...] o ‘espectador’ é chamado a intervir diretamente na atualização [...] de uma sequência de signos ou de acontecimentos”.

A partir da pergunta feita “Qual o conteúdo do copo?”, o processo de criação do microconto se reinicia evidenciando as potencialidades que o engajamento possui de interferir diretamente na narrativa. Vemos no comentário de resposta do autor, mais um lance de escada para a história, uma segunda conversa construída para os personagens em resposta à provocação leitora eficiente. Ao fim, temos dois ou mais microcontos se considerarmos a fragmentação, a integralidade e os percursos de leitura do tweet.  Tais comportamentos de produção estética segundo Santana (2014, p. 100) advêm das “especificidades do Twitter e sua arquitetura organizacional, que permitem que os tuites tenham alcance em escala mundial”. Eles constroem modos de colaboração intelectual em rede que, de acordo com Santaella e Lemos (2010, p. 63), “caracterizam uma nova etapa de evolução nos processos de inteligência coletiva”.

Por outro lado, na intervenção realizada pelo segundo perfil interagente –@DiasDougFotos – , o foco não é a mais a construção da mesma narrativa, mas a proposição de outro microconto, de autoria do seguidor, no qual ele se utiliza dos mesmos recursos formais do tweet original: o diálogo, o pessimismo, o otimismo e a relatividade dos fatos, inserindo na criação do outro a sua própria micronarrativa, abolindo a distinção tradicional entre produção e consumo, conforme Bourriaud (2009). Esses comportamentos levam os engajamentos a um nível mais produtivo de elaboração de conteúdos, uma vez que não se limitam a validar os materiais já produzidos, mas inserem contribuições que os modificam e ou ampliam coletivamente. Assim, encontramos, nos textos analisados, vários componentes da forma narrativa microconto, bem como aspectos relativos a sua produção em rede. Notamos os caminhos de conexão, de exteriorização da escrita e de seu compartilhamento que perpassam pela produção literária nesse contexto.

 

5 #NASBORDASABERTASDEUMTWEET: conclusões

 

            O estudo desenvolvido nos permitiu elaborar conclusões sobre o fenômeno investigado, ainda que estas sejam inacabadas, visto que a realidade é dinâmica. Estão entre as principais conclusões geradas a partir desta pesquisa: a) a produção de microcontos no Twitter não se constitui de elementos integralmente novos, mas de características remediadas no contexto da cibercultura, já que os comportamentos desenvolvidos pelos sujeitos nessa rede apontam traços consistentes da presença de um processo de remediação; b) existe uma relação produtiva entre a elaboração conceitual do gênero microconto e a sua repercussão concreta em rede, pois os microcontos que apresentaram maior quantidade de traços de sua memória discursiva alcançaram maior quantidade e variação nos tipos de engajamentos ofertados pelo Twitter; e c) o Twitter oferece a expansão da capacidade de exteriorização dos processos de escrita, uma vez que a conexão em rede e a liberdade de compartilhamento permitiram aos sujeitos a potencialização das trocas, dos diálogos reflexivos e metalinguísticos sobre a própria experiência de escrita literária.

Tais conclusões nos permitem constatar que os comportamentos dos sujeitos dentro dos perfis selecionados apontaram o acionamento intencional de estratégias, metodologias, recursos e estilos próprios para a produção estética, bem como o exercício de testagem das possibilidades de escrita, dos recursos da plataforma, que levou, simultaneamente, ao domínio dos elementos fornecidos e sua expansão quando não eram suficientes.

Por fim, podemos concluir que o comportamento de experimentação literária dos perfis analisados dialoga com a capacidade que a escrita literária em rede possui para promover a educação das sensibilidades através do acionamento de estratégicas estéticas e de recursos do ambiente em rede. Esse comportamento oferece uma perspectiva privilegiada para pensar o ensino de literatura e o trabalho com o texto literário nas salas de aulas físicas e expandidas. É fundamental pensar o texto literário também através da experimentação, da consciência prática das estratégias de sua produção e dos canais de comunicação e interação nos quais pode circular. Vista dessa forma, a produção de microcontos no Twitter contém e constrói pedagogias, promovendo um processo de aprendizagem responsável pela articulação entre antigas e novas práticas sociais sustentadas por uma configuração sócio-histórico-cultural: a cibercultura.

            Existe na produção literária no Twitter uma pedagogia da escrita em rede que se constrói, principalmente, através da experiência compartilhada e da mobilização de aprendizagens. Posto isso, quanto mais aprendizagens desenvolvidas nos comportamentos de produção em rede, mais engajados e conectados se tornam os conteúdos e as experiências estéticas, o que mobiliza uma rede de educações na e para cibercultura. A escrita de microconto no Twitter revela modos próprios produzidos pelos sujeitos, em um processo de apropriação criativa das pedagogias que circulam no aplicativo.

O modo de agir dos sujeitos, ao produzirem as microrrativas em seus tweets, aciona saberes, comportamentos, práticas e interações que exibem modos de ser e de participar do Twitter, compartilhados pelos atores dessa rede. Por meio dessa ação consciente e intencional, os sujeitos se autorizam a abrir mão de certas características dessa rede social e/ou se permitem criar outras formas. A produção do texto literário em rede contribui para a circulação de modos de ser e de compartilhar conteúdos estéticos, construindo e mobilizando pedagogias como uma forma de produção das culturas contemporâneas.

 

 

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[1]          Imagem elaborada pelos autores a partir dos dados coletados durante a pesquisa de campo através da observação encoberta.

[2]                          Link para o post do microconto no Facebook: https://www.facebook.com/prof.sergiofreire/posts/10154703428055588. Acesso em: 10 jan. 2020.

 

[3]                              Link para a repercussão do tweet: https://twitter.com/MarcosMairton/status/946836516839575554. Acesso em: 10 jan. 2020.