Literatura infantil: expressão artística que coloca as personagens idosas em movimento

 

Children’s literature: artistic expression that sets

elderly characters in motion

 

Mônica de Ávila Todaro

Professora doutora na Universidade Federal de São João del-Rei. São João del-Rei, Minas Gerais, Brasil.

mavilatodaro@ufsj.edu.br - http://orcid.org/0000-0001-7777-925X

 

Meire Cachioni

Professora Doutora na Universidade de São Paulo. São Paulo, São Paulo, Brasil.

meirec@usp.br - http://orcid.org/0000-0001-5220-410X

 

Recebido em 16 de abril de 2020

Aprovado em 12 de agosto de 2021

Publicado em 04 de novembro de 2021

 

RESUMO

O cenário de envelhecimento populacional e a complexidade das mudanças socioeconômicas, tecnológicas e culturais, desafiam a educação brasileira à leitura de um mundo “grávido” de um novo fenômeno: a diversidade dos modos de viver a velhice. As crianças precisam ler o mundo que envelhece, ao mesmo tempo em que passam por experiências intergeracionais nas suas comunidades, para evitar a discriminação etária (ageism). Nesse sentido, o foco temático deste estudo é a literatura infantil. O método previu uma pesquisa bibliográfica, cujos objetivos são: levantar obras de literatura infantil, disponíveis em língua portuguesa, que tragam personagens idosas; estabelecer relações entre as editoras, seus locais e a quantidade de livros, entre as obras e os anos de publicação, e, ainda, entre gênero, etnia, uso de adjetivos e de tempo verbal; e, também, pensar uma geroalfabetização.

As questões de pesquisa foram: Quais títulos da literatura infantil investigada trazem personagens idosas? A literatura infantil guarda em si as potencialidades para a construção de conhecimento sobre a velhice? Como a linguagem literária pode ser um instrumento educativo para uma geroalfabetização? Os resultados revelaram que a expressão artística literária se apresenta por meio de títulos veiculadores de temas que, nem sempre, desvelam a diversidade etária em uma única obra. Conclui-se que, partilhar diferentes obras que trazem personagens idosas na literatura infantil, como instrumento educativo, pode potencializar, nas crianças, a construção de novas concepções de velhice, visto que é pelas linguagens que se expressam pensamentos e sentimentos.

Palavras-chave: Literatura infantil; Idosos; Educação.

 

ABSTRACT

The current circumstances of an aging population and the complexity of socioeconomic, technological, and cultural shifts, stimulate the need for the Brazilian education system to read a world impregnated with a new phenomenon: the diversity of ways of living at the old age. Children need to read this aging world whilst participating in intergenerational experiences within their communities in order to avoid ageism. Subsequently, the thematic focus of this study is children’s literature. Our methodology foresees a bibliographical research incorporating the following goals: the sampling of works found under the banner of children’s literature, which include elderly characters and are available in Portuguese; the establishment of correlations between publishers, where they are located, and the number of books they published, between the works and their year of publication, and also between gender, ethnicity, and the usage of specific adjectives and verb tenses; and the envisagement of a geroliteracy. The questions posed by our research were as follow: Which titles of the investigated works incorporate elderly characters? Does children’s literature hold within itself the potential for constructing knowledge about old age? How can literary language be an educational tool for geroliteracy? The results revealed that the literary artistic expression is presented through theme-conveying titles that not always unveil the age diversity in a single work. It can be concluded that sharing different works that bring elderly characters in children’s literature, as an educational tool, can enhance, in children, the construction of new concepts of old age, since it is through language that thoughts and feelings are expressed.

Keywords: Children’s literature; Elderly; Education.

Introdução

A produção de conhecimentos, de acordo com Bolzan, Santos e Powaczuk (2013, p. 99),

 

[...] decorre de pesquisas que levam a um aprofundamento teórico acerca das bases epistemológicas, capazes de auxiliar na problematização das situações e vivências do contexto local e global que envolve o processo educativo. Esse princípio é básico para a construção de novos

conhecimentos e/ou [re]significá-los, além de criar diversificadas ações para enfrentar situações desafiadoras que envolvem a docência, bem como contribuir para a ampliação e qualificação dos conhecimentos produzidos no campo educacional.

 

Assim sendo, desenvolvermos pesquisas que aproximem a área da Saúde da de Humanas, significa colocarmos em diálogo campos científicos distintos, com referenciais próprios, mas com um objeto comum: o corpo, ou a pessoa sendo seu corpo. A Gerontologia, campo de natureza multi e interdisciplinar, permite-nos compreender, multidimensionalmente, o corpo que envelhece, enquanto a Educação nos leva a entender que somos corpos conscientes. Para Freire (1971, p. 74), é “[...] próprio do homem estar em constantes relações com o mundo”; assim, a conscientização da importância do diálogo supõe o reconhecimento do caráter relativo de cada campo de conhecimento e da complementaridade necessária para fundamentar o entendimento das complexas relações humanas.

O ensino sobre uma sociedade que envelhece é considerado uma educação gerontológica (CACHIONI, 2005). Já a alfabetização, é definida como o processo de aprendizagem em que se desenvolve a habilidade de ler e de escrever. Como a aprendizagem da leitura e da escrita acontece quando instrumentaliza e enriquece a vida, é na perspectiva de uma educação gerontológica que pode ensinar a ler o mundo que envelhece, que propomos o termo geroalfabetização. Nas palavras de Freire (1996, p. 123), “[...] respeitar a leitura de mundo do educando significa tomá-la como ponto de partida para a compreensão do papel da curiosidade, de modo geral, e da humana, de modo especial, como um dos impulsos fundantes da construção do conhecimento”. O simples contato do leitor criança com a obra literária não necessariamente alfabetiza, mas desempenha o papel de despertar a curiosidade infantil como impulso para o conhecimento do outro-idoso.

O cenário de envelhecimento populacional e a complexidade das mudanças socioeconômicas, tecnológicas e culturais, desafiam a educação brasileira à leitura de um mundo “grávido” de um novo fenômeno: a diversidade dos modos de viver a velhice. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2025, o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de idosos (OMS, 2015). Essas mudanças são desafiadoras e suas implicações são profundas. Uma criança nascida no Brasil ou em Mianmar, em 2015, pode viver 20 anos a mais do que uma criança nascida há 50 anos (OMS, 2015). O Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde, alerta que outras grandes mudanças sociais estão ocorrendo juntamente ao envelhecimento da população. Combinadas, elas podem significar que envelhecer no futuro será muito diferente das experiências de gerações anteriores (OMS, 2015).

Desse modo, as crianças precisam ler o mundo que envelhece, ao mesmo tempo em que passam por experiências intergeracionais nas suas comunidades, para evitar a discriminação etária (ageism). Esse termo significa preconceito de idade, e foi concebido por Butler (1980) como um processo de estereotipar sistematicamente e discriminar pessoas por meio da idade. Os estereótipos negativos podem, por isso, levar à exclusão. Não é simples identificarmos o ageism, mas, apesar disso, o aumento de estudos e de instrumentos para medi-lo pode potencializar as chances de produzirmos conhecimento e avançarmos nessa temática. Todaro (2008), em sua tese de Doutorado, desenvolveu e avaliou um programa de leitura visando à mudança de atitudes de crianças em relação a idosos. Os resultados da pesquisa indicaram que as atitudes eram geralmente positivas, mas melhoraram ainda mais após o programa. As medidas foram tomadas por meio da Escala Todaro que foi aplicada como pré e pós-teste.

Vale ressaltarmos que entre os preconceitos, como o racismo, o sexismo, o machismo, o etnocentrismo, entre outros, o ageism é o menos abordado em pesquisas acadêmicas brasileiras que tratam da literatura infantil e de suas potencialidades. Em uma busca no Portal de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao cruzarmos os termos literatura infantil e ageism, nenhum resultado foi encontrado. Tal revelação nos preocupa na medida em que estudar a linguagem na e da literatura infantil é buscarmos abarcar todo o amplo e complexo rol de possibilidades discursivas (SILVA, 2017).

A linguagem é um instrumento que serve para comunicar ao outro algo sobre as coisas. Ao emissor, cabe a função de expressão; ao receptor, a função de apelo; aos conteúdos, a função de representação. Entre esses três elementos, existe um canal de ligação manifestado por um fenômeno perceptível pelos sentidos. Ao fazermos uso da linguagem para nos comunicarmos, o objetivo é o entendimento de uma determinada mensagem. De acordo com Freire (1971, p. 44): “O mundo humano é, dessa forma, um mundo de comunicação”.

A linguagem é, portanto, o maior instrumento de interação entre sujeitos socialmente organizados. Isso porque ela possibilita a troca de ideias, a circulação de saberes e faz intermediação entre todas as formas de relação humana. Quando queremos nos expressar, oralmente, ou na forma escrita, recorremos às palavras, às expressões e aos enunciados de uma língua, os quais atuam em dois planos: o denotativo, que é o sentido literal da palavra, expressão ou enunciado; e o conotativo, que é o sentido figurado.

A linguagem literária é uma linguagem conotativa, que, em seu plano de expressão, se vale da linguagem denotativa e do estilo. A literatura é, assim, uma das manifestações da linguagem artística. A literatura infantil que traz em seu bojo personagens idosas, coloca discursos sobre velhice em movimento. Dessa maneira, a literatura faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza nenhum deles; ela lhes dá um lugar indireto, e esse indireto é precioso (BARTHES, 1997). Pensar nisso, leva-nos a problematizar a linguagem da e na literatura infantil, e refletir sobre as atitudes preconceituosas veiculadas nos discursos do senso comum sobre as pessoas idosas.

Se “mudar a linguagem faz parte do processo de mudar o mundo” (FREIRE, 1997, p. 68), então cabe à literatura uma função social, com implicações na leitura de mundo.

A literatura infantil tem sido um meio cada vez mais utilizado para levar às crianças das escolas o debate sobre o respeito às diferenças. De acordo com Buendgens (2014), esse tema é encontrado tanto no Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), o qual encaminha acervos às bibliotecas das escolas públicas com livros de variadas temáticas e expressões literárias, quanto no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Não podemos esquecer que, desde “[...] muito pequenos, aprendemos a entender o mundo que nos rodeia. Por isso, antes mesmo de aprender a ler e a escrever palavras e frases, já estamos ‘lendo’, bem ou mal, o mundo que nos cerca” (FREIRE, 2009, p. 71).

Temas difíceis, ou delicados, como, por exemplo, velhice, morte, doenças, bullying e sexualidade, vêm marcando presença na literatura infantil e têm sido objeto de análise de pesquisadores que estudam a literatura infantil, como Bastos e Tomé (2011), Debus (2012), Lampert e Walsh (2010), Lesnik-Oberstein (1994), McDaniel (2001) e Mendes (2013), Azevedo, Balça e Selfa (2017), Rubim e Silva (2017) e Silveira e Silveira (2019). A relevância de tais questões, dá-se na formação de leitores do mundo e de cidadãos empenhados em cultivar valores humanistas, como o respeito à diferença, em busca de formar, como afirma Freire (2000, p. 100), “[...] pessoas críticas, de raciocínio rápido, com sentido de risco, curiosas, indagadoras”.

O livro destinado a crianças precisa ser apresentado, nas escolas, acompanhado de um procedimento intencional que prevê sequências didáticas, estratégias de leitura, atividades problematizadoras, motivação e interpretação (BARBOSA, 2017; BIANCHINI; ARRUDA; FIGLIOLO, 2015; GIROTTO; SOUZA, 2010; SOLÉ, 1998; TODARO, 2008). Tal questão não foi tratada no presente estudo, mas é importante frisarmos que, desde a escolha por títulos, a intencionalidade do adulto educador se revela na circulação dos temas, dos discursos e dos saberes que quer compartilhar.

Dito isso, os objetivos deste estudo são: levantar obras de literatura infantil, escritas em língua portuguesa, que tragam personagens idosas; analisar o que seus títulos expressam; e pensar uma geroalfabetização. As questões de pesquisa foram: Quais títulos da literatura infantil investigada trazem personagens idosas? A literatura infantil guarda em si as potencialidades para a construção de conhecimento sobre a velhice? Como a linguagem literária pode ser um instrumento educativo para uma geroalfabetização? Tendo isso em conta, a seguir, discorremos sobre o método e os resultados da pesquisa.

Método

            Esse estudo é parte integrante da pesquisa de pós-doutoramento de Todaro (2020) que, entre outros objetivos, se dedica a levantar e a analisar obras literárias dedicadas às crianças, disponíveis em língua portuguesa. A pesquisa, de abordagem quanti-qualitativa, é denominada “Educação e diversidade etária: a importância de ler o mundo que envelhece”.

            Os dados do presente artigo foram derivados do estudo preliminar desenvolvido pelas autoras. Para o levantamento dos livros de literatura infantil, realizamos uma busca na internet, no ano de 2020. Foram três os sites visitados: Livraria Cultura (https://www3.livrariacultura.com.br/), Livraria Saraiva (https://www.saraiva.com.br/) e Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (https://www.fnlij.org.br/). Neles, buscamos os catálogos disponíveis online.

Os livros a serem identificados deveriam ter em seu título alguma palavra, ou mais de uma, tais quais: avô(s), avó(s), vovô(s), vovó(s), vó, vô, velha(o), velhas(os), velhinha(o), velhinhas(os), velhote e velhota. O critério de inclusão previu publicações destinadas às crianças editadas entre os anos de 2000 e 2019, com a intenção de verificarmos os discursos sobre velhice na linguagem literária, no século XXI.

Resultados

Na Tabela 1, trazemos os resultados do levantamento nos sites e descrevemos os nomes das editoras, o local (Estado) onde estão sediadas e a quantidade de livros encontrados.

Tabela 1 – Editoras, locais e número de livros

NOME DA EDITORA

LOCAL DA EDITORA

NÚMERO DE LIVROS PUBLICADOS

Abaquar

Distrito Federal

1

Aletria

Minas Gerais

1

Almedina Brasil

São Paulo

1

Amarilys

São Paulo

1

Artmed

Rio Grande do Sul

1

Ática

São Paulo

3

Autêntica

Minas Gerais

5

Biblioteca 24 horas

São Paulo

1

Brinque-book

São Paulo

4

Callis

São Paulo

2

Chiado Brasil

São Paulo

1

Ciranda Cultural

São Paulo

4

Companhia das Letrinhas

São Paulo

2

Companhia Ed. Nacional

São Paulo

1

Cortez

São Paulo

5

Cosac Naify

São Paulo

1

Ediouro

Rio de Janeiro

1

De Cultura

São Paulo

1

Escala Educacional

São Paulo

1

Escrita Fina

Rio de Janeiro

2

FEB

Distrito Federal

1

Franco

Minas Gerais

1

FTD

São Paulo

2

Fundamento

Paraná

6

Global

São Paulo

4

Globinho

Rio de Janeiro

1

Globo

Rio de Janeiro

1

Habilis

Rio Grande do Sul

1

Imperial

Rio de Janeiro

1

Kalandraka Brasil

São Paulo

2

Kapulana

São Paulo

1

Littere

Ceará

1

Martins Fontes

São Paulo

1

Melhoramentos

São Paulo

4

Mercuryo Jovem

São Paulo

2

Miguilim

Minas Gerais

1

Moderna

São Paulo

3

Nacional

São Paulo

2

Newbook

São Paulo

1

Nova Didática

Paraná

1

Páginas

Minas Gerais

1

Pallas

Rio de Janeiro

1

Panda Books

São Paulo

9

Paulinas

São Paulo

2

Paulus

São Paulo

2

Petit

São Paulo

1

Polen Livros

Paraná

1

Positivo

Paraná

2

Quinteto

São Paulo

1

Record

Rio de Janeiro

1

Rolimã

Minas Gerais

1

Rovelle

Rio de Janeiro

1

Salamandra

Rio de Janeiro

1

Salesiana

São Paulo

1

Scipione

São Paulo

1

Scortecci

São Paulo

3

Thesaurus

Distrito Federal

1

Unisinos

Rio Grande do Sul

1

Viajante do Tempo

Rio de Janeiro

2

Vida

São Paulo

1

Zastras

São Paulo

1

Zit

Rio de Janeiro

1

Fonte: Elaboração própria (2020)

 

No Quadro 1, trazemos os resultados dos termos que mais apareceram, o número de ocorrências, os títulos dos livros infantis, com seus respectivos autores(as) e o ano de publicação no Brasil.

Quadro 1 – Termos, ocorrências, títulos, autores e ano de publicação

TERMOS

 

TÍTULOS

AUTORES

ANO DE PUBLICAÇÃO

Avós

1

As coisas que eu amo nos avós

Trace Moroney

2012

2

Minhas duas avós

Ana Teixeira

2017

3

Avós

Chema Heras

2003

4

Meus avós são demais

Jennifer Moore-Malinos

2008

5

Ser avós, que aventura!

Roser Capdevilla

2006

6

Avôs e avós

Nelson Albissu

2017

7

Quero ter avós!

Silmara Rascalha Casadei

2013

 

8

A terra dos avós

José Ricardo Moreira

2008

9

Era uma vez duas avós

Naumim Aizen

2003

10

Quando seus avós morrem

Victoria Ryan

2004

11

A menina e suas três avós

Mônica de Ávila Todaro

2016

velhinha

1

A Velhinha na janela

Sônia Junqueira

2008

2

O bebezinho da velhinha

Silvana de Menezes

2014

3

Tinha uma velhinha que engoliu uma mosca

Jeremy Holmes

2010

4

Três velhinhas tão velhinhas

Roseana Murray

2004

5

A velhinha e o porco

Rosinha

2012

velhinho

1

O velhinho que virou criança

Antonio Hohlfeldt

2009

velha(s)

1

As velhas fiandeiras

Grupo as meninas do conto

2017

2

A velha coroca

 Roberto Athayde

2007

3

O jovem caçador e a velha dentuça

Lucilio Manjate

2016

4

O macaco e a velha

João de Barro

2019

5

A velha e a baleia

Maria Lyra

2015

6

A velha misteriosa

Ana Maria Machado

2010

7

Histórias da velha coruja

Paulo Debs

2009

8

CEIUCI - A velha gulosa

Maria Inez do Espírito Santo

2013

9

A velha magrela, a gata Fornela e os óculos-janela

Tatiana Busto Garcia

2007

10

A velha árvore: uma história de amor pelos idosos

Daniel Munduruku

2002

11

A velha dos cocos

Ninfa Parreiras

2006

12

A bruxa mais velha do mundo

Elizete Lisboa

2008

velho

1

O velho lobo do mar

Tati Mileide

2011

2

O velho, a carranca e o rio

 Rogério Andrade Barbosa

2010

3

O velho acendedor de vagalumes

Vânia Chaves

2016

4

O Velho urso que engoliu uma mosca

Trish Phillips

2007

5

ANANSI - O velho sábio

Rosa Freire d'Aguiar

2007

6

O velho gigante que engoliu um relógio

Becky Davies

2018

7

Chiru Velho & Virso

Savio Moura

2011

8

Preto Velho do Surrão

Marion Villas Boas

2012

9

O velho da montanha e outras histórias

Rafael Lago

2012

Avô

1

Meu avô grego

Alexandre Kostolias

2010

2

Meu avô africano

Carmen Lúcia Campos

2011

3

Gus e eu - a história do meu avô e do meu primeiro violão

Keith Richards

2015

4

Meu avô judeu

Henrique Sitchin

2018

5

Meu avô é um urso polar

Jackie French

2007

6

Na Kombi do meu avô

Ivo Minkovicius

2013

7

Meu avô desparafusado

Sergio Klein

2011

8

O livro secreto do meu tio-avô

Rosana Rios

2018

9

Por que eu amo meu avô

Alison Reynolds

2011

10

Eu amo o meu avô

Anna Walker

2010

11

O segredo do avô urso

Pedro Mañas

2019

12

Meu avô italiano

Thiago Iacocca

2010

13

Histórias do avô

Burleigh Muten

2009

14

Meu avô desencarnou

Daniella Carvalho

2008

15

Meu avô japonês

Fabiana Shizue

2009

16

Meu avô chinês

Dongyan Wang

2012

17

O avô mais louco do mundo

Roy Berocay

2012

18

Meu avô espanhol

João Anzanello Carrascoza

2009

19

Meu avô português

Manuel Filho

2010

20

O menino que levou o mar para o avô

Eraldo Miranda

2018

21

Eu, meu avô, a pipa e a guerra dos gatos

Sergio Capparelli

2012

22

O bravo soldado meu avô

Luís Pimentel

2010

23

Sábados com meu avô

Fanny Abramovich

2012

24

A menina, a vaca e o avô

Luis Pimentel

2011

25

Meu avô árabe

Marisa Zakzuk

2012

26

Meu avô é um tatá

Janaína de Figueiredo

2018

27

Meu avô era uma cerejeira

Angela Nanetti

2007

Avô

28

O avô Jacinto e os macaquinhos do sótão

Sofia Fraga

2019

29

Tem um avô no meu quintal

Tânia Alexandre Martinelli

2000

30

Meu avô tem oito anos

Sonia Travassos

2012

31

A casa do meu avô

Ricardo Azevedo

2006

32

Meu avô e eu

Telma Guimarães

2001

Avó

1

Colo de avó

Roseana Murray

2017

2

Minha avó é uma bruxa

Elizabete Ferreira

2016

3

Minha avó é uma gorila

Jackie French

2010

4

Eu amo a minha avó

Anna Walker

2010

5

Strega nona - a avó feiticeira

Tomie de Paola

2007

6

Carta de um menino para a pior avó do mundo

Neusa Sorrenti

2013

7

A menina e o segredo da avó

Alexandre Perlingeiro

2012

8

A avó adormecida

Roberto Parmeggiani

2014

9

54 histórias que minha avó contava na Kombi

Omar Benjamim

2012

10

Para uma avó muito especial

Elen Exley

2013

11

O livro da avó

Luís Silva

2010

12

O dia em que minha avó envelheceu

Lúcia Fidalgo

2013

13

Avó com cheiro de pão caseiro

Zé Zuca

2010

14

Avó maluca lelé da cuca

e avó pirada da pá virada

Jonas Ribeiro

2007

15

Minha avó já foi bebê

Paula Sandroni

2000

16

A Avó de Tutancâmon

Roberto Pavanello

2009

17

A avó dos dinossauros

Tonio Carvalho

2009

18

Minha avó botou um ovo

Alexandra Rodrigues

2007

19

Minha avó tem Alzheimer

Dagmar H. Mueller

2006

20

Minha avó, sua avó

Florence Noiville

2013

1

Uma delícia de vó

Creusa Alves

2017

2

Vó Zildinha e suas estórias

Yedda de Mello e Souza

2012

3

Vó Leninha em: O aniversário de Isabela

Ana Paula de Abreu

2015

4

Vó, para de fotografar!

Ilan Brenman

2017

5

Vó Zoe

Gisele Gama Andrade

2013

6

Vó que faz poema

Celso Sisto

2000

7

Minha vó sem meu vô

Mariângela Haddad

2015

8

Vó Mi, vó Li e eu no parque

Mirna Pinsky

2003

9

O mistério da sopa da vó Leninha

Ana Paula de Abreu

2015

1

Conta mais vô

Manolo Quesada

2014

2

Porão do vô

Regina Renno

2015

 

3

Vô estrela

Bárbara Aquino

2015

Vovó

1

Elias e a vovó que veio do ovo

Iva Procházková

2014

2

Como ser babá da vovó

Jean Reagan

2019

 

3

O presente da vovó loba

Didier Dufresne

2016

4

Vovó inventa palavras

Rosa Maria Miguel Fontes

2017

5

A menina, o cofrinho e a vovó

Cora Coralina

2009

6

Cadê vovó?

Mauro César Silva Viana

2002

velhote

1

De trote em trote, agarrei o velhote

Mauro Martins

2012

velhota

 

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   Vovô

1

Como ser babá do vovô

Jean Reagan

2013

2

Vovô teve um AVC

Dori Hillestad Butler

2010

 

3

O anjo da guarda do vovô

Jutta Bauer

2003

Fonte: Elaboração própria (2020)

 

 Análise e discussão

            Este estudo teve como foco temático a literatura infantil. Foram levantadas obras editadas no Brasil, entre os anos de 2000 e 2019, que traziam personagens idosas. Ao identificarmos as palavras que mais apareceram nos títulos dos 112 livros encontrados, foi possível estabelecermos relações entre as editoras, os seus locais e a quantidade de livros; entre as obras e os anos de publicação; e, ainda, entre gênero, etnia, uso de adjetivos e do tempo verbal.

Lajolo (2010) afirma que, na pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, encomendada à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL), destacam-se os anos de 2000, 2005, 2006, 2007 e 2008, quando 28.500 títulos de literatura infantil e juvenil foram editados no Brasil.

A amostra desse estudo nos fez perceber que a editora que mais publicou títulos referentes à temática em questão foi a Panda Books, o que difere do levantamento realizado por Todaro (2008), quando a autora levantou um número maior de obras da Editora Ática. No que se refere aos locais das editoras, notamos que a maior parte das obras presentes em nossa amostra foi publicada na região Sudeste, sendo 66 editadas no Estado de São Paulo, dezesseis no Rio de Janeiro e dez em Minas Gerais. Tal achado vai ao encontro do que verificou Todaro (2008) que, à época, também relatou ser o Estado de São Paulo que mais publicou obras sobre o tema. Os demais livros se concentraram em editoras do Paraná, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Ceará.

Do Quadro 1, pudemos extrair uma questão de gênero no que tange à autoria dos livros: 65 livros foram escritos por mulheres e 47, por homens. Tal achado corrobora os dados de Todaro (2008) que indicou, em sua pesquisa, uma quantidade superior de obras de autoras em sua amostra. No que tange aos anos de publicação, é perceptível um incremento dos lançamentos a partir de 2006, o que até o ano de 2019 resulta em uma média de oito ou mais livros publicados sobre a temática por ano. Todaro (2008), em seu levantamento de livros infantis sobre a temática velhice, encontrou, à época, apenas 35 obras. Foi possível notarmos, portanto, nesse estudo, um aumento de títulos que trazem personagens idosas, no panorama editorial brasileiro. É importante lembrarmos que, em 2006, o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) foi criado com a finalidade de assegurar a democratização do acesso ao livro, o fomento e a valorização da leitura e o fortalecimento da cadeia produtiva do livro como fator relevante para o incremento da produção intelectual e o desenvolvimento da economia nacional. Tal política pública se vê refletida em nossa amostra.

No que concerniu à quantificação da categorização de palavras, a maior parte das obras levantadas (32) trouxe, em seus títulos, a palavra “avô”. Em segundo lugar, apareceu “avó”, com 20 ocorrências. Em seguida, com 12 ocorrências, as palavras “velha” e “velhas”; “avós” apareceu em 11 obras; nove obras trouxeram, em seus títulos, a palavra “velho”; foram encontrados nove livros com a palavra “vó”; “velhinha” foi um termo encontrado em cinco livros, assim como “vovó”. Em menor quantidade, apenas com três ocorrências cada, apareceram as palavras “vô” e “vovô”. E, por último, “velhote” e “velhinho”, com apenas uma ocorrência para cada termo. O termo “velhota” não apareceu na amostra coletada.

Acompanhadas das categorias principais, notamos a presença de adjetivos desqualificantes, como: coroca, dentuça, magrela, gulosa, louco, desparafusado, bravo, maluca, pirada e pior. Apenas três adjetivos (demais, sábio e delícia) puderam ser considerados elogiosos. Se discursos literários e sociais atuam nos processos de subjetivação, determinando como homens e mulheres devem se portar, então, quando o tema é velhice, as personagens idosas de nossa amostra apareceram nos títulos atreladas a adjetivos que (des)qualificam seu modo de ser.

A questão de gênero, na amostra, evidenciou que 53 livros trazem como personagem principal o avô, também chamado de “vô”, “vovô”, “velho”, “velhinho” e “velhote”. Com relação ao gênero feminino, foram encontradas 57 obras que, no título, se referem às avós. Para a personagem feminina, há de destacarmos títulos que remetem à esfera familiar, como em: A velhinha na janela; Colo de avó; Avó com cheiro de pão caseiro; Casa de vó é sempre domingo; e O mistério da sopa da vó Leninha.

Para o personagem masculino, os títulos apontam para enredos em torno de aventuras no rio, na montanha, no carro e no cavalo, por exemplo. Tal achado vai ao encontro da análise das narrativas estudadas por Silva (2008), que traziam personagens do conto infantojuvenil brasileiro contemporâneo, na qual a pesquisadora concluiu que o papel de cidadão do mundo é reservado ao homem, e à mulher resta a função de membro da família.

Quanto à caracterização dos personagens idosos, o cômico decorreu de expressões, como: “babá do vovô”, “babá da vovó”, “agarrei o velhote”, “vovó que veio do ovo”, “minha avó botou um ovo”, “o velho gigante que engoliu um relógio” e “velhinha que engoliu uma mosca”. O humor na literatura infantil aparece no encontro entre a realidade e a fantasia, sendo objeto de estudo e análise de Bergmann e Sassi (2007, p. 203), as quais afirmam que: “Vários autores já publicaram histórias engraçadas, que divertem, porque transgredem”.

Observamos que algumas obras apostaram nos animais como personagens: Histórias da velha coruja; O velho lobo do mar; O velho urso que engoliu uma mosca; Meu avô é um urso polar; O segredo do avô urso; Minha avó é uma gorila; A avó dos dinossauros; e O presente da vovó loba. Os animais, segundo Silva e Piassi (2014), quando transportados para a literatura infantil, apresentam características antropomórficas e, perdendo sua relação com a natureza e a realidade, passam a personificar ações, sentimentos e emoções humanas.

A análise do uso do tempo verbal nos títulos, indicou o momento em que a história ocorreu. Foi possível notarmos que foram empregados verbos no passado e no presente. Nenhum título enunciou um fato que deva ocorrer em um tempo vindouro. Desse modo, a relação entre o personagem idoso, o autor e o tempo, não convocam o leitor-criança a pensar na sua própria experiência de velhice no futuro que, segundo a OMS (2015, p. 11), “[...] será muito diferente das experiências de gerações anteriores”.

As doenças e a morte apareceram como temas, explícita ou implicitamente, em seis títulos: Meu avô desencarnou; Minha avó tem Alzheimer; Minha vó sem meu vô; Cadê vovô?; Vovô teve um AVC; e O anjo da guarda do vovô. Quando buscamos as obras nos sites, lemos as sinopses que indicaram outros livros que também tratavam do tema “morte”, como: Vovô vai para as estrelas; Vô estrela; O dia em que minha avó envelheceu; A casa do meu avô; Vovó inventa palavras; Vovó viaja e não sai de casa; e Uma vovó italiana. Encontrarmos 13 livros sobre os temas morte e doença em um universo de mais de 100 livros, o que indica a pouca presença desses temas, como aponta Mendes (2013).

O destaque da amostra se deu em relação às etnias, pois a etnia branca sobressaiu sobremaneira na amostra. Apenas um título traz a expressão “Preto velho”, referindo-se a uma pessoa idosa negra. Ao entrarmos nos sites de busca, foi possível vermos que, na capa do livro Meu avô é um tatá, a ilustradora desenhou um idoso negro, representando a personagem que deu título à história. Na obra Meu avô africano, também encontramos imagens de pessoas negras. Tal qual Debus (2012), chamamos a atenção para a necessidade de uma estética literária negra, como conscientização, em livros voltados para as crianças que tratam da temática “velhice”.

Todaro (2008) derivou de sua pesquisa cinco categorias de imagens sobre velhice e idosos, segundo critérios gerontológicos, a saber: estereotipadas; realistas; fantásticas; divertidas; e novos velhos. A imagem estereotipada indica a velhice como uma etapa de afastamento social, de inatividade e de comprometimento cognitivo (TODARO, 2008, p. 59). A realista apresenta a velhice como possibilidade de proximidade da morte e da sabedoria advinda de um maior número de experiências adquiridas ao longo da vida (TODARO, 2008, p. 61). A imagem fantástica se refere ao mundo imaginário, em que todo o tipo de aventura é possível (TODARO, 2008, p. 65). As imagens divertidas são as que se referem ao comportamento e ao bom humor das personagens idosas (TODARO, 2008, p. 67). Novos velhos é uma categoria que traduz uma velhice ativa, independente e autônoma (TODARO, 2008, p. 68).

Ao buscarmos categorizar os títulos dos livros, no presente estudo, lemos as sinopses divulgadas nos sites visitados. Nelas, encontramos termos recorrentes, como: sábio; engraçada; doença; morte; sozinha; confusa; hilária; aventura; mágico; imaginação; jogar; trabalhar; casar; e dançar. O uso das palavras nas sinopses é um indicativo daquilo que as obras trazem em seus conteúdos.

Após a análise da amostra, concluímos que há livros que trazem histórias com diferentes personagens idosos. Há personagens, por exemplo, que são apresentados como sábios, e há aqueles que vivem uma velhice ativa. A categorização por imagens é uma forma de organizarmos as temáticas para compreendermos quais foram as mais enfocadas na amostra. Foi possível perceber que, quanto mais detalhada é a trama, mais imagens circulam na obra fazendo com que ela retrate a velhice em sua heterogeneidade.

O que é importante ressaltarmos, nesse estudo, é a pequena quantidade de livros que trazem personagens idosas estereotipadas e o grande número de obras que retratam a velhice como uma etapa do ciclo da vida que pode ser vivida ativamente. A análise da amostra indica que os livros tratam de diferentes velhices, cada um à sua maneira, não indicando a idade cronológica, mas o papel social de avós ou a denominação de “velhos”. A problematização da complexidade dessa etapa da vida, que é resultante da interação entre as condições econômica, social, educacional e de saúde, terá mais potência se forem apresentadas às crianças, como instrumento educativo, pelo menos uma de cada imagem sobre velhice: estereotipadas; realistas; fantásticas; divertidas; e novos velhos.

Considerações finais

Em linhas gerais, esse estudo revelou a presença de personagens idosas na literatura, destinada a crianças, publicada no Brasil entre os anos de 2000 e 2019. Todavia, tal presença comparada ao acelerado processo de envelhecimento populacional e à necessidade de inserção da temática velhice na educação, nos faz refletir se tais livros estão nas bibliotecas das escolas de Educação Básica. Isso porque o acesso à linguagem literária se dá muito mais via instituição escolar do que instituição familiar. Visto que vivemos em um país desigual economicamente e em termos de nível de escolarização, é importante que o Estado invista em políticas públicas de fomento à leitura.

Quando pensamos em educação gerontológica, mais especificamente em uma geroalfabetização, questionamo-nos se tais obras são conhecidas por formandos e formados em Educação e em Gerontologia que têm, ou não, em suas matrizes curriculares, conteúdos ligados à temática em questão, visto que trabalharão direta ou indiretamente com as crianças e com as pessoas idosas. Além disso, preocupa-nos se tais livros estão disponíveis nas bibliotecas escolares, o que merece outra pesquisa.

A literatura infantil, ao propor a representação da velhice, propicia um interessante processo de aprendizagem para as crianças que têm, ou não, contato com pessoas idosas em suas famílias. Coloca em movimento discursos sobre os diferentes modos de viver o processo de envelhecimento por meio das narrativas apresentadas. Por isso, ela traz uma importante contribuição para a área da Educação.

Em uma visão otimista, é possível afirmarmos que a literatura infantil, como meio simbólico, pode ser considerada como um valioso instrumento educativo para rever atitudes em relação à velhice. As obras trazem para o contexto educativo, formal, não formal ou informal, um tema que pode fomentar o respeito pelo outro que não tem a mesma idade que a criança.

Geroalfabetizar pode ser uma ação educativa cuja intenção seja proporcionar experiências de leitura nas quais a personagem idosa passe a ser associada aos diferentes modos de ser na velhice. O termo geroalfabetização, cunhado por Todaro (2020, p. 3) no seu projeto de Pós-Doutorado, significa “[...] ensinar as crianças a lerem, com criticidade, um mundo que envelhece e a escreverem uma nova história sobre sua velhice no futuro, lutando por uma vida digna e boa para pessoas de todas as idades”. Acreditamos que o protagonismo idoso inverte o processo histórico que sempre colocou a velhice como uma etapa da vida inferior em relação à juventude.

O atual perfil demográfico brasileiro afeta as instituições de ensino e requer modificações urgentes na gestão escolar, de forma a lidar melhor com esse novo contexto, geroalfabetizando. Se os livros destinados às crianças colocam as personagens idosas em movimento, então é necessário que, nas escolas, os profissionais da Educação selecionem diferentes obras para garantir que todos entrem em contato com a diversidade etária.

Podemos apontar algumas limitações metodológicas dessa pesquisa para futuros aperfeiçoamentos e futuras investigações. Em primeiro lugar, destacamos que, como a amostra foi coletada com base em apenas três sites de consulta, isso pode ter limitado, quantitativamente, o encontro de obras, publicadas no Brasil, entre os anos de 2000 e 2019, que tratam do tema velhice. Consideramos, ainda, a possibilidade de que futuras investigações levantem dados sobre a ocorrência dos termos no interior das obras, ou melhor, em seus conteúdos e não apenas nos títulos. Por fim, salientamos a importância de mais estudos sobre a temática que possam auxiliar na compreensão dos discursos sobre idosos que circulam nos livros que são, ou serão, oferecidos às crianças, via profissionais formados em Gerontologia e em Educação, instituições de ensino (formal ou não formal) e/ou familiares.

Concluímos que, mediante uma amostra tão vasta e disponível no mercado editorial brasileiro, torna-se possível partilhar diferentes obras que circulam na literatura infantil e que podem potencializar, nas crianças, a construção de novas concepções de velhice, visto que é pelas linguagens que expressamos pensamentos e sentimentos. Contudo, diante do escopo limitado desse artigo, não foi possível discutirmos as complexidades que envolvem os conteúdos e a interpretação dessas obras, uma vez que seria necessário levar em conta as questões atinentes à leitura e à interpretação dos textos completos. Dito isso, propomo-nos a seguir nos aprofundando no estudo do tema.

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