Mestrado em Educação: contribuição da formação continuada para docentes de Institutos Federais Brasileiros e da Demanda Social

Master in Education: contribution of continuing education for teachers of Brazilian Federal Institutes and Social Demand

 

Marize Setubal Sampaio

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.

marizerural@hotmail.com - http://orcid.org/0000-0001-9779-5441

 

Nádia Maria Pereira Souza

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.

nmpsouza@uol.com.br - http://orcid.org/0000-0002-6001-8275

 

Gilmar Ferreira Vita

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.

marferreiravita@yahoo.com.br- http://orcid.org/0000-0001-9479-6414

 

Recebido em 17 de março de 2020

Aprovado em 16 de fevereiro de 2022

Publicado em 19 de maio de 2022

 

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi caracterizar o perfil dos egressos da área de Educação e Gestão do Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, docentes de Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Brasil (IFECT) e da Demanda Social, e ratificar a contribuição do Programa na qualificação desses profissionais. Tratou-se de uma pesquisa aplicada, qualitativa e quantitativa, com levantamento de dados sobre os sujeitos participantes e aplicação de questionário. Os resultados demonstraram maioria do sexo feminino (62,75%), formados em Pedagogia (21,57%) e Letras (15,69%), idade na titulação entre 35 a 45 anos (49,02%) e provenientes da região Sudeste (47,06%). Verificou-se que, após a conclusão do mestrado, grande parte permaneceu na atividade docente (74,51%) na sua instituição de origem (78,43%). Ficou estabelecido ainda que o Programa tem contribuído para a qualificação dos docentes, seja em aprimoramento técnico científico, satisfação pessoal e/ou ascensão profissional, apontado por 98,04% dos informantes.

Palavras-chave: Áreas de Educação e Gestão; Educação Agrícola; Perfil de egressos.

 

ABSTRACT

The objective of this research was to characterize the profile of the egresses of the Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola, of the Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, in the area of Education and Management, teachers of the Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Brasil (IFECT) and Social Demand, and ratify the program's contribution to the qualification of these professionals. It was an applied, qualitative and quantitative survey, with data survey on the participating subjects and application of a questionnaire. The results showed a majority of females (62.75%), trained in Pedagogy (21.57%) and Literature (15.69%), age in the titration between 35 and 45 years (49.02%), and from the Southeast region (47.06%). It was verified that after completing the master's degree, a large part remained in the teaching activity (74.51%) in their home institution (78.43%). It was also established that the Program has contributed to the qualification of teachers, either in scientific technical improvement, personal satisfaction and/or professional ascension, indicated by 98.04% of the informants,

Keywords: Education and Management Areas; Agricultural Education; Egresses profile.

Introdução

A velocidade na evolução da ciência e tecnologia, as transformações econômico-sociais da sociedade brasileira, ocasionadas pelo fenômeno da globalização, e a extrema competitividade no mercado de trabalho, são fatores que levam cada vez mais os indivíduos a buscarem investimentos na formação continuada para atender um mundo competitivo. Estar constantemente na busca do saber ajuda a alcançar a realização profissional e pessoal (MAUÉS, 2003; FALSARELLA, 2004; ARAÚJO, 2006; MOREIRA; KRAMER, 2007).

Dentro do sistema de formação, os programas de pós-graduação, que tem foco no desenvolvimento de competências e habilidades para crescimento pessoal e profissional dos participantes, passaram a ser uma alternativa fundamental. Dessa forma, as instituições que oferecem cursos de pós-graduação devem estar comprometidas em atender as demandas regionais, bem como formar capital humano de alto nível, que contribua para a solução de problemas sociais, econômicos e tecnológicos do seu lócus (CURY, 2004; SERAFIM, 2004; TEIXEIRA; OLIVEIRA; FARIA, 2008; MOREIRA et al., 2010).

Diante do exposto, o presente estudo se interessou em investigar os egressos da área de concentração em Educação e Gestão, do Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola (PPGEA), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), oriundos de Institutos Federais Brasileiros e da Demanda Social, de forma a lançar um olhar perquiridor sobre as características dos profissionais formados. É importante a averiguação do perfil profissional de seus egressos, no intuito de conhecer de que maneira o programa está produzindo recursos humanos. Tal investigação baseou-se, principalmente, pela existência de estudos e pesquisas nas áreas que fazem parte da composição dos eixos temáticos do PPGEA, mas que até então não elencava a área de Educação e Gestão.

O PPGEA foi criado em 2003, em nível de mestrado, na categoria stricto sensu, através do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFRRJ, e credenciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em 2005. Teve sua primeira avaliação pela CAPES no ano de 2007, referente ao triênio 2004/2006. Até 2015 formou 21 turmas e titulou 555 mestres (PPGEA, 2018).

Alcançou imediato reconhecimento pelo Ministério da Educação, que passou a aportar recursos para a viabilização do mesmo, buscando capacitar seus profissionais da educação das Escolas Agrotécnicas e Técnicas Federais, Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETS) e Institutos Federais na área de Educação Agrícola, Técnica e Tecnológica. Aliados a esse público, somaram-se as vagas anuais destinadas à Demanda Social, destacando-se os bolsistas de Demanda Social da CAPES, egressos dos cursos de graduação de Instituições de Ensino Superior, principalmente do Rio de Janeiro. O PPGEA busca ainda qualificar docentes da rede pública federal como um todo, rede estadual e redes municipais.

A metodologia de ensino predominante no programa é a Pedagogia da Alternância, na qual as atividades acadêmicas são desenvolvidas na sede do programa (UFRRJ), pólos de formação e/ou na instituição de origem do mestrando. Destaca-se que o programa se desenvolve em alternância entre a sede/pólo de formação e o mundo da prática profissional docente e tecnológica. Desde a sua fundação, o PPGEA vem qualificando mestres em todo o Brasil, inclusive onde dificilmente a formação continuada clássica alcançaria, visto que os programas tradicionais de pós-graduação, em sua maioria, se localizam nos grandes centros urbanos e desenvolvem suas atividades nas próprias cidades de origem.

O programa promove a integração entre diferentes campos de conhecimentos, em uma perspectiva interdisciplinar, abordando cinco temáticas: educação e gestão; educação e ambiente; ensino da produção animal; ensino da produção vegetal e ensino da agroindústria. Possui como objetivo desenvolver pesquisas científicas em áreas de fronteiras disciplinares e promover a formação de profissionais da Educação Agrícola em nível de pós-graduação.

Para a realização desta pesquisa, dois fatores se fizeram determinantes, esses antagônicos: primeiro, a disponibilidade de dados dos profissionais dispostos na secretaria do Programa; e segundo, a insuficiência de informações sobre o acompanhamento dos egressos.

O presente estudo teve como objetivo caracterizar o perfil dos docentes formados pelo PPGEA/UFRRJ, na área de Educação e Gestão, que apresentaram suas dissertações no período de 2005-2012, e ratificar que o PPGEA tem cumprindo sua meta que é qualificar profissionais de Institutos Federais da Educação, Ciência e Tecnologia e da Demanda Social.

Tem como relevância, demonstrar o ingresso da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) em todas as regiões do país, e contribuir para a diminuição da assimetria nacional e regional. Além de ofertar para programas de pós-graduação, que buscam pela excelência, um modelo para avaliação crítica, identificando se tem assumido um ideal pedagógico capaz de preparar seus egressos para uma melhor orientação de alunos e desafios na vida profissional. Segundo Lima e Andriola (2018), acompanhar os egressos em suas práticas pedagógicas apresenta-se como compromisso para com a qualidade educacional de um programa (NUNES et al., 2019). Para Andriola (1998), as informações obtidas nesses inquéritos podem ajudar a planejar e operacionalizar medidas pedagógicas, que visem enriquecer a formação dos discentes dos cursos de pós-graduação.  

Metodologia

A pesquisa foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola (PPGEA), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), município de Seropédica, estado do Rio de Janeiro, no período de 2014 a 2016, dentro do universo de egressos da área de ensino em Educação e Gestão deste programa, que defenderam suas dissertações no período de 2005 a 2012.

Caracteriza-se como pesquisa aplicada, qualitativa e quantitativa. Segundo Marconi e Lakatos (2012), a pesquisa aplicada serve para que os resultados sejam empregados na solução de problemas que ocorrem na realidade. De acordo com Godoy (1995), a pesquisa qualitativa serve para estudar e melhor compreender os fenômenos que envolvem os seres humanos e suas relações sociais, estabelecidas em diversos ambientes. Demo (1995) comentou que a pesquisa quantitativa apresenta uma abordagem com modelos estatísticos, na organização e análise multivariadas dos dados levantados. A pesquisa quantitativa é baseada na medida (normalmente numérica) e uso de técnicas estatísticas.

Para início da pesquisa, foi, primeiramente, encaminhada uma solicitação à coordenação do PPGEA/UFRRJ requerendo autorização para acesso aos documentos acadêmicos dos discentes do programa, bem como, os demais documentos oficiais.

Considerando o período da pesquisa de 2005 a 2012, apurou-se através das Atas de Defesa, que o PPGEA havia titulado 382 mestres em suas cinco áreas de atuação. Realizou-se, então, um levantamento junto às fichas de inscrição, o qual contabilizou 242 mestres (63,35%) que integravam à área de ensino em Educação e Gestão, objeto de estudo desse trabalho, o que caracterizou mais de 50,00% dos titulados.

Apoiando-se nas demais informações constantes na ficha de inscrição de cada egresso, foi elaborada uma planilha no programa Excel (Microsoft®, Washington, USA), com os seguintes dados: nome, gênero, título do projeto, área de atuação, Instituição/Demanda Social, ano de ingresso, região, categoria, ano de defesa, situação acadêmica atual e e-mail, todos no intuito de subsidiar essa pesquisa. O programa Excel possibilitou filtrar informações, que facilitaram o manuseio dos dados (Microsoft, 2018).

Foi necessário buscar ainda, na base de dados do CNPq, através da Plataforma Lattes (CNPq, 2018), a formação acadêmica e/ou outro tipo de mudança na vida profissional dos 242 egressos, a fim de identificar quais deram continuidade a uma maior qualificação. Entretanto, nem todos os currículos na Plataforma Lattes estavam atualizados.

Do total dos 242 egressos contabilizados para realização da pesquisa, 72 tiveram seus dados cadastrais alterados e/ou não foram localizados; assim, a população final para este estudo ficou delimitada em 170 mestres, 70,20% do total de egressos da área de Educação e Gestão do programa, no referido período.

Para alcançar um melhor resultado na análise da pesquisa, elaborou-se um questionário misto, com perguntas abertas, fechadas e mistas, totalizando 23 perguntas.

Segundo Marconi e Lakatos (2012), questionário é “um instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador”. Esse questionário foi avaliado por cinco professores/doutores do programa, que tinham por incumbência observar se o referido instrumento apresentava clareza e se atendia aos objetivos propostos pela pesquisa. O referido instrumento foi enviado aos professores, juntamente com uma carta de solicitação de aprovação. Após a avaliação, foram realizadas as alterações sugeridas, tornando-o mais acessível, abrangente, conciso e prático. Os docentes apoiaram e aprovaram a versão final.

Após aprovação, o questionário passou por diagramação na plataforma SurveyMonkey® (Califórnia, USA), que é uma ferramenta que apresenta vários recursos para organização e interpretação das questões (SurveyMonkey, 2018), sendo então enviado aos egressos eletronicamente.

Do total dos 170 egressos que constituíram a população desta investigação, houve um retorno de 51 informantes, que contribuíram voluntariamente com suas informações. Esta amostra constituiu-se em cerca de 30,00% da população especificada. Segundo Marconi e Lakatos (2012), em média 25,00% dos questionários enviados são devolvidos, isso significa que o percentual alcançado por esta pesquisa se encontra de acordo com a citação do autor.

Finalizado o prazo estipulado para recebimento dos questionários, numa sondagem que foi realizada entre os meses de maio e junho de 2016, passou-se para a tabulação das questões. A plataforma SurveyMonkey® possibilitou a organização e interpretação das perguntas e das respostas. Seu banco de dados exportava automaticamente os dados já sistematizados para uma planilha eletrônica do Excel, onde eram organizados estatística e graficamente. A maior parte das respostas foi tabulada em frequência absoluta e percentual.

Para obtenção dos dados, na aplicação do questionário, utilizou-se dos seguintes indicadores: identificação do mestrando, por gênero e por região geográfica; curso de graduação de origem; período de intervalo entre o curso de graduação e o mestrado; integralização dos egressos no PPGEA; duração do curso de mestrado em meses; faixa etária dos mestrandos à época da titulação; motivação que levou o mestrando a cursar pós-graduação em nível de mestrado; motivos que levaram a escolha do PPGEA; licença profissional para cursar o mestrado; permanência na mesma instituição de quando ingresso no PPGEA; atendimento das expectativas de formação dos mestrandos; contribuição do PPGEA para a formação profissional; estímulo à produção científica e participação em eventos científicos, na área de educação; produção científica sobre sua dissertação em periódicos, livros ou outros; continuidade na formação acadêmica e; mudança de área, diferente da sua formação original, após passagem pelo PPGEA.

Esta pesquisa foi submetida à Comissão de Ética na Pesquisa com Seres Humanos da UFRRJ, atendendo ao disposto na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2013), sob o número de processo 23083.003423/2016-80, ficando estabelecido que a mesma está em conformidade com os princípios éticos e do bem-estar humano.

Resultados e Discussão

Com base nos questionários respondidos pode-se traçar o perfil dos sujeitos da pesquisa, e analisar a importância da qualificação prestada pelo PPGEA, a esse público, em sua atuação profissional. Dessa forma, listou-se a seguir as informações obtidas, derivadas dos indicadores sugeridos para essa investigação.

Com relação ao gênero respondente do questionário, observou-se que 62,75% constituíam-se por mulheres e 37,25% por homens (Tabela 1). Este resultado vem de acordo com Paiva (2006) e Mena-Chalco e Rocha (2014), quando citaram que o gênero feminino predominava na área da Educação.

 

Tabela 1Perfil dos egressos do PPGEA/UFRRJ em seus indicadores: identificação do mestrando por gênero e por região geográfica; curso de graduação de origem; período de intervalo entre o curso de graduação e o mestrado; motivação que levou o mestrando a cursar o mestrado; e, licença profissional para cursar o mestrado.

Indicadores

No

%

Gênero

Feminino

Masculino

 

32

19

 

62,75

37,25

Região geográfica

Sul

Sudeste

Centro-Oeste

Norte

Nordeste

 

8

24

4

3

12

 

15,68

47,06

7,84

5,89

23,53

Cursos de origem acadêmica

Pedagogia

Letras

Educação Física

Matemática

História

Administração

Ciências Biológicas

Ciências Contábeis

Ciências Agrícolas

Tec. em Processamento de Dados

Economia Doméstica

Ciência da Computação

Ciências Sociais

Filosofia

Comunicação Social

Ciências

Licenciatura Física

Nutrição

Tecnólogo em Administração Rural

 

11

8

6

4

3

2

2

2

2

2

1

1

1

1

1

1

1

1

1

 

21,57

15,69

11,77

7,85

5,88

3,92

3,92

3,92

3,92

3,92

1,96

1,96

1,96

1,96

1,96

1,96

1,96

1,96

1,96

Intervalo entre graduação e mestrado

0 a 5 anos

5 a 10 anos

10 a 15 anos

15 a 20 anos

20 a 25 anos

>  25 anos

 

7

10

13

6

8

7

 

13,73

19,61

25,49

11,76

15,68

13,73

Motivação para cursar o mestrado

Aprimoramento Técnico-Científico

Satisfação Pessoal

Melhor remuneração

Capacitação docente

Evolução na carreira docente

Competitividade do mercado de trabalho

 

32

31

30

27

26

3

 

62,74

60,78

58,82

52,94

50,98

5,88

Licença profissional para cursar o mestrado

Sim

Não

Parcialmente

 

-

31

20

 

0,00

60,78

39,22

Fonte: Autoria da pesquisa.

 

Ressalta-se que o PPGEA é voltado para a área das Ciências Agrárias, onde o resultado poderia se apresentar diferente, pois em pesquisa de Melo, Lastres e Marques (2004), ficou demonstrado que as Ciências Agrárias apresentavam maior concentração masculina; porém, o PPGEA também é um programa de mestrado na área da Educação, o que pode justificar a maior representatividade feminina.

A distribuição dos egressos da pesquisa por região geográfica do Brasil evidenciou um maior percentual na região Sudeste (47,06%), seguida pela região Nordeste (23,53%) (Tabela 1). Esta pesquisa vem corroborar com outros autores que estudaram sobre assimetria regional, e demonstraram que a região Sudeste possui a maior concentração de cursos de pós-graduação, e consequentemente número de mestres mais elevado (BARROS, 2000; KAC et al., 2006; TOURINHO; BASTOS, 2010; CIRANI et al., 2015).

Segundo Santos e Azevedo (2009), esse problema permanece como um dos desafios a serem enfrentados e superados pela pós-graduação brasileira. O PPGEA tem uma forte atuação na região Sudeste. Dentre os estados que compõe a região Sudeste, o Rio de Janeiro e de Minas Gerais sobressaíram com o maior número de egressos no período delimitado da pesquisa, pois foi nessa região e em seu entorno que o PPGEA começou a se consolidar.

Entretanto, este cenário pode estar se transformando, considerando que a partir do ano de 2011, o programa veio firmando convênios com Institutos Federais da região Norte, com objetivo de capacitar seus profissionais. Há uma perspectiva de melhora nestes índices, principalmente nessa região, o que poderá ser apontado em novos estudos.

Quanto aos cursos de origem acadêmica dos egressos, no período estudado, ficou evidenciada a superioridade da área de Pedagogia (Ciências Humanas), com 21,57%, seguida por Letras (Linguística, Letras e Arte), com 15,69% (Tabela 1). Os dados encontrados são relevantes, pois além de demonstrar os cursos que predominaram, também apresentaram a diversidade dos cursos e a natureza multidisciplinar dos mestres formados pelo PPGEA. Pesquisa do Inep (2007) revelou que entre os dez maiores cursos de graduação existentes no país, as mulheres são maioria em cinco, sobretudo em Pedagogia e Letras.

Seguindo, observou-se o distanciamento entre a conclusão da graduação e o início do mestrado no programa. A apuração dos dados demonstrou que do total de 51 egressos, 13 (25,49%) levaram entre 10 a 15 anos para ingressarem, 10 (19,61%) levaram de cinco a 10 anos, e oito (15,68%) levaram de 20 a 25 anos. Destacou-se ainda, que sete (13,73%) ingressaram com intervalos entre zero a cinco anos e com mais de 25 anos (Tabela 1). Observa-se que existe um intervalo de tempo considerável da graduação para o mestrado, visto que o intervalo médio foi 14,5 anos. Para alcançar esta média foi somado os anos de intervalo de tempo entre a graduação e o mestrado dos respondentes e dividiu-se por 51, que é o número de investigados.

Constatou-se, através dos dados informados, que a idade média dos informantes que tiveram o interstício entre zero a cinco anos para entrarem no mestrado foi de 27 anos e a média do espaço de 2,7 anos. Já o grupo de egressos com intervalo acima de 25 anos apresentou a idade média de 51 anos e a média do intervalo entre os cursos de 27,6 anos. É notório que quem levou menos tempo para ingressar no mestrado após a graduação são os de menos idade. Apesar de os extremos do tempo estar com o mesmo número de egressos, 34 (66,67%) levaram mais de 10 anos para ingressarem no PPGEA. Nota-se que não é um público jovem.

Infere-se que esse distanciamento entre a graduação e o mestrado tenha ocorrido por alguns fatores, tais como, falta de oportunidade oferecida a uma clientela específica estabelecida em lugares atingidos pela desigualdade regional e/ou ambiente profissional, cursos de pós-graduação tradicionais que não os qualificariam na sua atividade acadêmica e falta de apoio institucional. Esse público apresenta características de trabalhadores que quando ingressaram no mestrado já levavam uma vida de acúmulo de responsabilidade, tanto no trabalho quanto na família. Assim, esse resultado nos leva a refletir quais seriam as razões que levaram esses profissionais a não buscarem o mestrado tão logo o término da graduação. Entretanto, este aspecto não foi objeto desta pesquisa.

Na análise dos dados sobre o tempo de integralização dos egressos no PPGEA, foi observado que 24 (47,06%) dos investigados concluíram o programa no prazo de 24 a 30 meses, isto é, atendendo aos prazos mínimos legais da CAPES, seguido de 23 (45,10%) que realizaram o curso no período de 18 a 24 meses (Tabela 2). Destaca-se que ambos os prazos estão em consonância com o disposto no art. 18 do Regulamento do PPGEA/UFRRJ, que estabelece que o curso deva se desenvolver entre 18 a 24 meses, podendo ser prorrogado por mais seis meses, chegando a 30 meses para sua conclusão.

 

Tabela 2 – Perfil dos egressos na passagem pelo PPGEA/UFRRJ. Indicadores: integralização no programa; faixa etária dos mestrandos à época da titulação; motivos que levaram a escolha do PPGEA; e, atendimento das expectativas de formação dos mestrandos.

Indicadores

No

%

Integralização dos egressos no PPGEA

< 18 meses

18 a 24 meses

24 a 30 meses

> 30 meses 

 

1

23

24

3

 

1,96

45,10

47,06

5,88

Faixa etária à época da titulação

25 a 30 anos

30 a 35 anos

35 a 40 anos

40 a 45 anos

45 a 50 anos

50 a 55 anos

> 55 anos

 

6

4

13

12

9

5

2

 

11,77

7,84

25,49

23,53

17,65

9,80

3,92

Motivos que levaram à escolha pelo PPGEA

Metodologia do programa

Área Educação-Educação Agrícola

Prestígio da instituição (UFRRJ) e do curso (PPGEA)

Oferta de aulas fora do PPGEA

Localização do PPGEA

Outros

 

40

27

19

14

2

2

 

78,43

52,94

37,25

27,45

3,92

3,92

Atendimento das expectativas dos mestrandos

Sim

Não

Parcialmente

 

43

1

7

 

84,31

1,96

13,73

Fonte: Autoria da pesquisa.

 

O impacto educacional da formação da área de Educação e Gestão do Ensino Agrícola demonstrou dados relevantes, pois 94,12% dos informantes concluíram o programa dentro dos prazos permitidos pela UFRRJ, até no máximo 30 meses. Observa-se que cerca de 47,06% em até 24 meses, o que é considerado um impacto educacional positivo. Isso demonstrou que mesmo que a maioria dos informantes tenha ficado um tempo bastante longo sem estudar, existe uma boa integralização no programa, concernente aos prazos legais. O grau de maturidade, a experiência profissional e a estabilidade financeira, podem ser fatores auxiliares no sucesso destes mestres, que são na sua maioria servidores públicos federais, com plano de cargos e salários que incentivam a qualificação.

Com a gama de informações obtidas, foi possível realizar um levantamento sobre a faixa etária dos egressos no momento da titulação. O resultado demonstrou que a maioria se encontrava entre 35 a 40 anos (25,49%), num total de 13 egressos. Destacou-se ainda que 12 (23,53%) egressos possuíam entre 40 a 45 anos, nove (17,65%) entre 45 a 50 anos, cinco (9,80%) entre 50 a 55 anos, quatro (7,84%) entre 30 a 35 anos e dois (3,92%) mais de 55 anos. Apenas seis (11,77%) egressos possuíam 30 anos ou menos (Tabela 2). Um resultado expressivo da pesquisa foi a contabilização de 45 (88,23%) egressos que titularam com mais de 30 anos, isso demonstrou o perfil diferenciado dos educandos titulados pelo PPGEA, onde a maioria pertence a uma faixa etária superior.

Prosseguindo as análises, foi perguntado aos egressos qual ou quais motivações os levaram a cursar a pós-graduação em nível de mestrado. Dentre os relatos, observou-se que o aprimoramento técnico-científico foi o mais indicado, com 32 respondentes. Relevantes também foram satisfação pessoal, melhor remuneração, capacitação docente e evolução na carreira docente. A resposta menos classificada foi competitividade do mercado de trabalho, com três respondentes (Tabela 1). Supõe-se que o motivo dessa opção ter sido menos elencada, seja porque o programa formou maior número de servidores públicos, assim não se sentirem ameaçados com a competitividade no mercado de trabalho.

Os dados obtidos parecem revelar que apesar do público investigado ter sido considerado pelo estudo um público diferenciado, por vários fatores, isso não os fez deixar de buscar o aprimoramento científico.

As respostas a seguir ilustram a percepção de alguns informantes:

 

Respondente (RP) 22 - “Me ajudou muito em relação à pesquisa que desenvolvi sobre estágio em minha instituição”.

RP12 - “Hoje posso argumentar com mais segurança sobre o tema defendido e sou mais respeitada devido a minha titulação”.

RP50 - “Foi uma oportunidade excelente na minha vida profissional e pessoal”.

RP17 - “Me possibilitou um crescimento tanto profissional quanto pessoal”.

 

Referente a essas motivações que levaram a cursar o mestrado, as respostas evidenciaram que o objetivo profissional dos egressos pesquisados foi alcançado, cada um dentro das suas expectativas. O foco principal relacionou-se na possibilidade do aprimoramento técnico, satisfação pessoal e ascensão profissional.

Ao se indagar sobre os motivos que levaram à escolha do mestrado no PPGEA, com mais de uma opção, as respostas evidenciaram como principal a opção a metodologia do programa, particularmente pela metodologia da alternância e pela estrutura de organização das semanas de formação, com 40 (78,43%) respondentes (Tabela 2). Esses resultados enfatizaram a importância da metodologia da alternância e a organização das semanas de formação, e ratificaram o objetivo geral do programa que visa qualificar profissionais de Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, identificados com dificuldades de se capacitarem por conta da liberação ou afastamento e pelos cursos de pós-graduação oferecidos não atender as necessidades de suas instituições. Assim, de acordo com a organização das semanas, a ausência na instituição não seria tão prejudicial quanto um afastamento integral para cursar o mestrado clássico.

A seguir destacam-se falas dos egressos que ressaltaram a importância da metodologia da alternância e a estrutura de organização das semanas de formação para eles.

 

RP51 - “O PPGEA é um programa que quebrou paradigmas na pós-graduação, desde a metodologia utilizada e a forma do relacionamento professor/alunos, onde se valoriza o conhecimento e experiência adquiridos ao longo da vida. Com essa inovadora e importante metodologia, propicia a centenas de pessoas, a oportunidade de obter o título de mestre, contribuindo para o despertar da cultura investigativa e a produção científica dos participantes do programa”.

RP48 - “A possibilidade de trabalhar e estudar foram fundamentais tanto para a pesquisa quanto para minha atuação docente. Diferentemente de outros cursos, trabalhar enquanto cursava o mestrado, nunca foi visto como um problema pelo PPGEA”.

RP46 - “O PPGEA foi sem dúvida nenhuma uma excelente experiência, sobretudo, por estar iniciando minha carreira na rede federal de educação profissional. A possibilidade de fazer o mestrado na metodologia utilizada pelo programa é muito importante e possibilita que a maioria dos professores da rede possam se capacitar, sem afastar do trabalho. Contudo, há muito o que ser melhorado também no formato do programa, por exemplo, a disponibilização do material de estudo a ser debatido ao longo das semanas de formação; garantir meios de sistematização das leituras e dos debates, de forma que tenham mais consistência teórica e maior aprofundamento nos temas; rever a carga-horária das disciplinas estendendo-as para mais de um encontro, talvez menos disciplinas e maior concentração no espaço das aulas; garantir meios de aumentar a produção acadêmica dos alunos, talvez com a exigência da formalização de trabalhos escritos (artigos) em relação às disciplinas. Senti falta dessa sistematização, o que poderia denominar, rigor acadêmico, de modo que a formação do aluno fosse mais producente, não no sentido quantitativo, mas qualitativo. Hoje no doutorado, vejo o quanto me fez falta a prática de pensar e escrever com rigor mais científico e acadêmico. Enfim, a produção escrita dos mestrandos é algo que deve ser aprimorado e, para isso, deve-se garantir a leitura de textos mais densos, tais como livros, teses (não apenas fragmentos ou artigos), garantindo, consequentemente, um debate mais qualificado”.

RP38 - “Sou muito grata pela oportunidade que tive de estudar no PPGEA, isto ajudou muito na minha formação e vida profissional, no pessoal conheci pessoas de todas as regiões, trocamos ideias, experiências e fizemos uma amizade que dura até hoje. O programa é muito importante, pois tive a oportunidade de me qualificar sem me afastar do trabalho. e agora fico torcendo para que seja oferecido o doutorado para que possamos retornar e continuar os estudos e pesquisa”.

 

Sintetizando, a metodologia do programa e a possibilidade de conjugar a formação em nível de mestrado com o profissional, foram os pontos de destaque nessas respostas.

Uma das metas almejadas na criação do PPGEA foi a elaboração de uma pós-graduação, em nível de mestrado, que atendesse docentes de escolas de Educação Agrícola, dando-lhes possibilidade de conjugar a formação com o trabalho. Assim, foi perguntado aos egressos se os mesmos haviam solicitado afastamento para realização do curso. 31 (60,78%) responderam que não tiveram afastamento e 20 (39,22%) que se afastaram parcialmente (Tabela 1). Ressalta-se que nenhum dos entrevistados obteve afastamento integral. Entende-se que aqueles que responderam que não tiveram licença, foram os que receberam o apoio da instituição na liberação de se afastarem somente no período que estivessem tempo/universidade, e, os que declararam que se afastaram parcialmente supõem-se que sejam aqueles que gozaram do benefício que a Lei 8.112/90, art. 87, concede aos servidores públicos, regidos pelo Regime Jurídico Único, o afastamento de até 90 dias para capacitação em cada cinco anos (Brasil, 1990).

Com a intenção de conhecer a situação que os egressos se encontravam no momento da pesquisa, foi indagado se eles permaneciam na mesma instituição quando ingressaram no PPGEA. Dos 51 investigados, 40 (78,43%) permaneciam na mesma instituição, oito (15,69%) trocaram de instituição, e três (5,88%) estavam aposentados (Tabela 3).

 

Tabela 3 – Perfil dos egressos após passagem pelo PPGEA/UFRRJ. Indicadores: permanência na mesma instituição de quando ingressou no PPGEA; estímulo à produção e participação em eventos científicos, na área de educação; produção científica sobre sua dissertação em periódicos, livros ou outros; continuidade na formação acadêmica; mudança de área, diferente da sua formação original.

Indicadores

No

%

Permanência na mesma instituição

Mesma instituição

Trocaram de instituição

Aposentados

 

40

8

3

 

78,43

15,69

5,88

Estímulo à produção científica

Sim

Não

Em parte

 

35

3

13

 

68,63

5,88

25,49

Participação em eventos

Participaram

Não participaram

 

31

20

 

60,78

39,22

Publicações

Publicaram

Não publicaram

 

23

28

 

45,10

54,90

Continuidade na formação acadêmica (doutorado)

Não continuaram

Estavam cursando o doutorado

Já cursaram o doutorado

 

33

16

2

 

64,71

31,37

3,92

Mudança de área, diferente da sua formação original

Mudaram

Não mudaram

 

38

13

 

74,51

25,49

Fonte: Autoria da pesquisa..

 

Dentre os oito respondentes que trocaram de instituição, seis pertenciam ao quadro de Demanda Social e justificaram que a troca de instituição ocorreu por promoção ou aprovação em concurso público. Pode-se considerar um impacto positivo na vida desses egressos, pois a turma de Demanda Social é composta, em geral, por profissionais que atuam nas redes públicas estadual, municipal, privada e sem vínculo empregatício. Observou-se dessa forma que a qualificação gerou uma ascensão profissional e até mesmo aprovação em concurso público.

Continuando, foi indagado aos egressos se durante a formação suas expectativas haviam sido alcançadas. 43 (84,31%) responderam que suas expectativas foram alcançadas, sete (13,73%) responderam parcialmente alcançadas, e um (1,96%) respondeu que suas expectativas não foram alcançadas (Tabela 2). Após investigação mais profunda, identificou-se que o respondente que não teve suas expectativas alcançadas, ingressou na turma de Demanda Social e, posteriormente, foi aprovado em concurso público federal. Então, não se sabe quais as expectativas que o mesmo almejava, pois não sinalizou o motivo da resposta. Diante do resultado apurado, onde 98,04% sinalizaram que suas expectativas foram alcançadas, isso demonstrou que o programa está no caminho certo.

Entende-se que seja fundamental para os cursos de pós-graduação saberem se a formação do curso contribui para atuação profissional dos seus egressos e, através do questionário foi identificado que todos os respondentes assinalaram que sim, inclusive aquele que declarou que suas expectativas não foram alcançadas.

Na tentativa de demonstrar as opiniões referentes ao alcance ou não das expectativas dos mestrandos, transcrevem-se algumas respostas mencionadas pelos respondentes:

 

RP03 - “Sim, principalmente por permitir transformar opinião em conhecimento”.

RP04 - “Sim. Amadureci profissional e academicamente. Tenho uma postura mais crítica em relação à docência e aos processos pedagógicos”.

RP05 - “Plenamente, como de caráter pessoal”.

RP14 - “Contribuiu muito e foi muito importante para minha formação e atuação profissional”.

RP20 - “Contribuiu significativamente por ser um curso na área de atuação profissional - Educação Agrícola”.

RP24 - “Sim. Contribuiu muito, pois tive acesso às disciplinas pedagógicas, a eventos científicos e à convivência universitária”.

RP34 - “Sim. A aprendizagem a partir das semanas de formação foi significativamente aplicável à prática educativa”.

 

A pesquisa ainda indagou aos egressos se o aprendizado adquirido no PPGEA havia estimulado sua produção científica. O resultado demonstrou que 35 (68,63%) informantes responderam que sim, 13 (25,49%) responderam que em parte e três (5,88%) responderam que não, sem justificar suas respostas (Tabela 3).

Aqui observam-se algumas respostas dos egressos que fizeram questão de explicitar seu crescimento como pesquisador:

 

RP04 - “Não produzi cientificamente o que gostaria, em função das atribuições profissionais na gestão”.

RP18 - “Sim. Durante e depois do curso de Mestrado, produzi vários artigos científicos”.

RP26 - “Comecei a desenvolver pesquisas com mais regularidade e publicar os resultados em eventos e revistas científicas”.

RP40 - “Consegui escrever diversos artigos que foram publicados em livros”.

RP48 - “O período em que fiz o mestrado foi a época em que mais produzi e acabei me apaixonando pela pesquisa”.

RP49 - “Passei a me envolver com produções acadêmicas relacionadas com pesquisa, orientação de TCC, professora especialista de lato sensu”.

 

Como um dos fatores mais importantes para avaliação dos cursos de pós-graduação pela CAPES é a produção intelectual, foi perguntado aos informantes da pesquisa se eles participaram de eventos científicos na área de formação do PPGEA e/ou da dissertação. Dos 51 egressos pesquisados cerca de 31 (60,78%) responderam que participaram de eventos diversos e 20 (39,22%) responderam que não (Tabela 3).

Também foi questionado aos mestres se publicaram artigos em periódicos, livros e congêneres. 23 (45,10%) responderam que publicaram resumos na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, artigos na Revista de Educação Técnica e Tecnológica em Ciências Agrícolas, livro digital, caderno de discussão, capítulo de livro e publicação de livro, e 28 (54,90%) declararam não ter publicado nenhum material (Tabela 3).

Esse cenário para avaliação junto à CAPES é negativo, pois assim está explicitado no quesito Produção Intelectual desta avaliação (CAPES, 2017).

Procurou-se saber ainda dos respondentes, quem deu continuidade na formação acadêmica ingressando no doutorado. 33 (64,71%) responderam que não continuaram a formação acadêmica, 16 (31,37%) deles estavam cursando doutorado e dois (3,92%) já eram doutores. Infere-se que as razões pelas quais muitos não buscaram fazer o doutorado, possam ser as mesmas que os levaram a demorar tanto tempo para ingressar no mestrado. Alguns egressos expressaram o desejo de que o PPGEA criasse logo o doutorado, nas seguintes falas:

 

RP14 - “Aguardo com ansiedade o curso de Doutorado!”.

RP23 - “Almejamos agora o doutorado em educação pelo PPGEA!”.

RP44 - “E agora fico torcendo para que seja oferecido o doutorado para que possamos retornar e continuar os estudos e pesquisa”.

 

Um fator relevante observado na pesquisa foi que do total de respondentes 38 (74,51%) permaneceram em atividades acadêmicas, explicitando a importância do programa para o enriquecimento na atuação profissional, como:

 

RP08 - “A formação adquirida no PPGEA me preparou substancialmente para reiniciar e incentivar minha carreira acadêmica”.

RP16 - “Minha atuação na área acadêmica referente ao nível superior mudou para melhor”.

 

Para finalizar, ressalta-se que existe por parte dos egressos, uma percepção de que um programa de pós-graduação é capaz de transformar seres humanos em profissionais muito mais críticos e competentes na sua área de atuação. Em especial, o PPGEA parece que atingiu este objetivo, pois além da qualificação profissional, objetiva a formação humana dos egressos. Isso não afasta a necessidade de estar em constante reflexão para buscar melhorias para o programa.

Considerações Finais

A expansão dos programas de pós-graduação no Brasil está ligada às necessidades do mundo do trabalho, estando atrelada à política pública da educação que visa à independência socioeconômica e tecnológica para o desenvolvimento do país. Dessa forma, para se manter a qualidade, os programas de pós-graduação são submetidos à CAPES, órgão que dentre outras competências é responsável em credenciar, avaliar e descredenciar esses programas.

O PPGEA/UFRRJ é um curso stricto sensu, em nível de mestrado, e está regulado por esse processo de avaliação. Em suas últimas avaliações, foi atribuído ao programa o conceito três. Observou-se que o PPGEA no decorrer da sua trajetória demonstrou evolução na maioria dos quesitos ou indicadores oficiais da avaliação, porém, no indicador Produção Intelectual, o programa ainda permanece aquém dos índices exigidos.

Isso nos remete a autores como Dias Sobrinho (2003), Kuenzer e Moraes (2005), Sguissardi (2006) e outros estudiosos, que criticam o modelo de avaliação oferecido, enfatizando que esse é mais focado nos aspectos quantitativos e mensuráveis; sendo uma avaliação meritocrática e classificatória; o que parece prejudicar a avaliação dos programas da área das Ciências Humanas.

Com base na pesquisa realizada foi possível traçar o perfil dos mestres formados pelo PPGEA, que pode ser assim sintetizado:

Identificou-se que a maioria dos egressos do PPGEA teve um intervalo de 10 a 15 anos entre a graduação e o início da pós-graduação stricto sensu no referido programa, tendo uma superioridade de titulação na faixa etária compreendida entre 35 a 40 anos.

Os estudantes que compuseram as turmas do PPGEA foram, em geral, profissionais oriundos dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Infere-se ser um público diferenciado por apresentar características de pessoas que quando ingressaram no mestrado já apresentavam outras experiências acumuladas e responsabilidades. Contudo, esse histórico não fez com que a integralização no curso fosse ruim, pois a maior parte obteve a conclusão no período de 24 meses.

As análises evidenciaram que os egressos buscaram o mestrado como uma forma de desenvolvimento nas habilidades para a pesquisa e aperfeiçoamento profissional, e que um dos motivos que os levou a buscarem a cursar o PPGEA, foi a metodologia de ensino do programa, especificamente, a metodologia da alternância e a estrutura de organização das semanas de formação, numa semana integral de atividades, mas concentradas de 30 e/ou 45 dias, que os possibilitavam conciliar o mestrado com as atividades profissionais.

Nessa pesquisa, dos 51 egressos participantes, somente 23 (45,10%) declararam ter publicado algum material. Já em relação à participação em eventos, 31 (60,78%) participaram em eventos da área de Educação. Ficou evidenciado que quanto à publicação, o resultado ficou aquém do esperado, ou seja, os egressos publicaram pouco. Diante desse resultado, caso o programa tenha interesse em galgar maiores patamares, será necessário identificar a deficiência dos mestrandos no que se refere à produção científica e desenvolver mecanismos de incentivo às publicações.

O PPGEA em seu processo de formação atua em todas as regiões do Brasil procurando atender a demanda de qualificação dos professores da Educação Básica, Técnica e Tecnológica. Neste aspecto o programa vem contribuindo para diminuição da assimetria regional, que é uma preocupação apresentada no Programa Nacional de Pós-Graduação (PNPG) (CAPES, 2010).

Quanto às principais inserções dos egressos do PPGEA, com destaque à atuação dos profissionais na rede de educação profissional, observou-se que mesmo com o título de mestre a maioria permaneceu nas atividades de docência na instituição originária, embora abarcando outros cargos e ampliando o espectro de atuação. Porém, em se tratando dos egressos das turmas de Demanda Social, essa perspectiva foi notória. Dos seis egressos, pertencentes à classe de Demanda Social sem vínculo com instituição de ensino pública federal, cinco foram aprovados em concursos públicos, para atuarem como docentes do quadro permanente da educação superior.

O programa pode considerar que tem obtido êxito nas suas metas, pois, dos 51 respondentes, apenas um (1,96%) explicitou não ter alcançado suas expectativas no decorrer do curso; e o que ratifica esse sucesso, são os laços acadêmicos que se mantém com as instituições, pela continuidade de formação de outros profissionais. Isso pode se considerar um dos pontos positivos do programa.

Esta pesquisa reconhece a importância da formação continuada na vida dos egressos, pois através dos resultados apurados, constatou que a formação no PPGEA muito contribuiu para o crescimento intelectual e/ou acadêmico após suas titulações. Sugere-se dar continuidade a essa pesquisa em anos subsequentes, já que essa foi a primeira pesquisa realizada no programa na área de Educação e Gestão. Considerando que o PPGEA, a partir de 2015, vem atuando expressivamente no Norte do país, região considerada pouco favorecida de programas de pós-graduação, outros estudos deverão ser feitos com os egressos a partir de 2012.

Espera-se que o resultado desta pesquisa possa contribuir de alguma maneira para melhorias nos pontos fracos do PPGEA, permitindo o aperfeiçoamento do processo de formação humana e profissional. Desta forma, deseja-se que a autoavaliação do curso seja uma ação permanente no programa.

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