Desenho de rosto de pessoa visto de perto

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Rev. Enferm. UFSM, v.13, e1, p.1-3, 2023

ISSN 2179-7692 •

Submissão: 18/12/2023 • Aprovação: 20/12/2023 • Publicação: 22/12/2023

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Editorial                                                                                                                                                                                         

Tradução do Conhecimento para o avanço das práticas

em saúde e enfermagem

 

Elisiane Lorenzini IÍcone

Descrição gerada automaticamente

Catiele Raquel Schmidt IÍcone

Descrição gerada automaticamente

 

I Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

 

 

A enfermagem como ampla força de trabalho, com enfermeiras exercendo liderança que influencia seu contexto de atuação, constitui-se em excelente ambiente para promover o uso das melhores evidências na prática. Além disso, ao planejar um novo estudo, é fundamental que a (o) enfermeira (o) pesquisadora (o) considere, prospectivamente, maneiras de realizar sua pesquisa para obter relevância e aplicabilidade no mundo real.1

No Brasil, Tradução do Conhecimento (TC) é um termo adotado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Trata-se de um conceito abrangente que pode envolver intercâmbio/troca (difusão, disseminação), gerenciamento de dados, síntese ou aplicação (implementação) do conhecimento dentro de um sistema complexo de interações entre pesquisadores e usuários do conhecimento. Nos últimos anos, avançou-se nas discussões que possibilitaram maior clareza a respeito dos termos que estão sob o guarda-chuva da TC: difusão, disseminação, comercialização, transferência de tecnologia, consultor de conhecimento, gestão de conhecimento, mobilização de conhecimento, pesquisa translacional, implementação e ciência da implementação.2

A TC vem ganhando espaço nos ambientes de pesquisa por se tratar de um processo que envolve estratégias para tornar as evidências científicas mais acessíveis, compreensíveis e que possam ser cada vez mais aplicadas na prática. Entretanto, seu processo ainda é visto como desafiador para os pesquisadores, por se tratar de uma abordagem não linear, complexa e que requer múltiplas ações.3

Apesar de não termos dados disponíveis sobre o Brasil, pesquisa realizada na Irlanda identificou as necessidades dos pesquisadores no que diz respeito a TC e evidenciou que em todos os níveis (pesquisadores com maior ou menor experiência) apresentam dificuldade em colaborar com as partes interessadas de uma pesquisa, incluindo usuários do conhecimento e formuladores de políticas. A partir dessas dificuldades identificadas, foi criada uma gama de recursos de informação, orientação e formação para os pesquisadores do país.³ Dentre as ferramentas para auxiliar no planejamento da TC, encontra-se o Modelo de Planejamento de Tradução do Conhecimento, que também está disponível no Brasil, na língua portuguesa.4 Denota-se que adotar o uso de ferramentas desenvolvidas por estudiosos que trabalham com TC, as quais possuem informações padronizadas que facilitam o envolvimento das partes interessadas na pesquisa, pode auxiliar neste processo. 4

É importante destacar que a TC não ocorre de maneira espontânea no desenvolvimento da pesquisa. Assim, para a TC ser eficaz é necessário que esse processo seja intencional (onde o pesquisador sabe o porquê está realizando a ação), explícito (o que fazer), estruturado (como fazer), abrangente (execução de diferentes ações) e que seja avaliado (se as intervenções foram eficazes). Esses aspectos caracterizam novas formas de realizar pesquisas científicas, com uma rede ampla de colaboração e discussão desde o planejamento à execução e implementação do projeto de pesquisa, onde o envolvimento das partes interessadas é um dos principais pilares.2,5

Assim, o Modelo de Planejamento de Tradução do Conhecimento4 é uma ferramenta que auxilia no planejamento das ações de TC a partir dos seguintes itens: identificar os parceiros do projeto de disseminação; descrever o envolvimento dos parceiros; identificar as funções dos parceiros; a experiência necessária em TC; identificar os Usuários do Conhecimento; as mensagens principais; as metas de TC; estratégias de TC para cada usuário do conhecimento; descrever o processo de TC (integrado ou no final do projeto); avaliar as metas de TC identificadas; recursos necessários; itens do orçamento; descrever a execução do plano de TC.4

O planejamento estruturado pode auxiliar os pesquisadores no desenvolvimento das ações, porém não garante impacto por si só. A necessidade de superar os desafios permanecem, tais como a falta de recursos, dificuldade de envolvimento das partes interessadas, dificuldade de avaliar o impacto das ações realizadas, entre outros.3

Portanto, é necessário planejar as atividades de TC de acordo com a realidade de cada pesquisador. É aconselhável, sempre que viável, incluir os usuários do conhecimento no processo de pesquisa, permitindo-lhes participar das decisões, expressar suas opiniões e indicar aspectos práticos e de pesquisa que são verdadeiramente relevantes para eles.4 Isso contribuirá para uma produção contínua de conhecimento científico acessível e de uso facilitado na prática, com o envolvimento de usuários do conhecimento, pessoas que não são especialistas na área, para diminuir o tempo de implementação dos resultados da pesquisa, bem como divulgar seus resultados em linguagem  simples, compreensível à população em geral.

 

REFERÊNCIAS

1. Lorenzini E, Banner D, Plamondon K, Oelke N. A call for knowledge translation in nursing research. Texto Contexto Enferm. 2019 [cited dec 2023 13];28:e20190104. DOI: 10.1590/1980-265X-TCE-2019-0001-0004.

2. Barwick M, Dubrowski R, Petricca K. Knowledge translation: The rise of implementation. Washington, DC: American Institutes for Research. 2020 [cited 2023 dec 10]. Available from: https://ktdrr.org/products/kt-implementation/KT-Implementation-508.pdf

3. Minogue, V., Morrissey, M. & Terres, A. Supporting researchers in knowledge translation and dissemination of their research to increase usability and impact. Qual Life Res. 2022 [cited dec 2023 02];31:2959–68. DOI: 10.1007/s11136-022-03122-1

4. Schmidt CR, Barwick M, Lorenzini E. Translation and cross-cultural adaptation of the Knowledge Translation Planning Template for the Brazilian context. Texto contexto - enferm. 2023 [cited 2023 dec 15];32:e20230116. DOI: 10.1590/1980-265X-TCE-2023-0116en

5. Daraz L, Morshed KG. Can we streamline the concepts of knowledge translation, dissemination and implementation for lay stakeholders? A perspective. BMJ Open. 2023 [cited 2023 dec 05];13:e068946. DOI: 10.1136/bmjopen-2022-068946.

 

Contribuições autorias

1 - Elisiane Lorenzini

Autor Correspondente

Enfermeira, Doutora em Enfermagem - elisiane.lorenzini@ufsc.br

Contribuições: Redação do manuscrito, revisão e aprovação da versão final.

 

2- Catiele Raquel Schmidt

Enfermeira, doutoranda em enfermagem - catieleenf@gmail.com

Contribuições: Redação do manuscrito, revisão e aprovação da versão final.

 

Como citar este artigo

Lorenzini E, Schmidt CR. Tradução do Conhecimento para o avanço das práticas em saúde e enfermagem Rev. Enferm. UFSM. 2023 [Access at: Year Month Day]; vol.13, e1:1-3. DOI: https://doi.org/10.5902/2179769286262