Rev. Enferm. UFSM, v.14, e5, p.1-19, 2024
Submissão: 15/05/2023 • Aprovação: 24/01/2024 • Publicação: 19/02/2024
Artigo original
Imunização da gestante em tempos de pandemia da COVID-19*
Immunization of pregnant women in times of the COVID-19 pandemic
Inmunización de mujeres embarazadas en tiempos de pandemia de COVID-19
Rosane Meire Munhak da Silva I
I Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil
II Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Cascavel, Paraná, Brasil
* Produto de Projeto de Iniciação Científica “Enfrentamento da COVID-19 e a Assistência Materno-Infantil”, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2023.
Resumo
Objetivo: analisar e comparar a imunização de gestantes no período da pandemia da COVID-19 no Oeste do Paraná. Método: pesquisa analítica e transversal, realizada na nona e décima regionais de saúde do Paraná. Participaram 823 puérperas, a coleta de dados foi conduzida por inquérito e informações do prontuário entre setembro a dezembro de 2021. Utilizaram-se análise descritiva e teste de qui-quadrado com nível significância de 5%. Resultados: a nona regional apresentou melhor desempenho na imunização contra Hepatite-B, Influenza, Difteria, Tétano e Coqueluche em comparação à décima regional. A vacinação contra COVID-19 teve baixa adesão em ambas as regionais, cujos motivos foram: medo, opção própria, orientação médica e desejo de esperar o filho nascer. Conclusão: são necessárias novas estratégias e campanhas de sensibilização para aumentar o índice vacinal entre gestantes, sobretudo para a vacina contra COVID-19, considerando as complicações para a saúde materno-infantil.
Descritores: Gestação; Saúde da Mulher; Imunização; Cobertura Vacinal; COVID-19
Abstract
Objective: analyze and compare the immunization of pregnant women during the COVID-19 pandemic in western Paraná. Method: this is an analytical, cross-sectional study carried out in the ninth and tenth regional health departments of Paraná. A total of 823 puerperal women took part, and data was collected using a survey and information from medical records between September and December 2021. Descriptive analysis and the chi-square test were used, with a significance level of 5%. Results: the ninth region performed better in immunization against Hepatitis-B, Influenza, Diphtheria, Tetanus and Pertussis compared to the tenth region. Vaccination against COVID-19 had low uptake in both regions, the reasons for which were: fear, own choice, medical advice and the wish to wait for the child to be born. Conclusion: new strategies and awareness campaigns are needed to increase the vaccination rate among pregnant women, especially for the COVID-19 vaccine, considering the complications for maternal and child health.
Descriptors: Pregnancy; Women's Health; Immunization; Vaccination Coverage; COVID-19
Resumen
Objetivo: analizar y comparar la inmunización de mujeres embarazadas durante la pandemia de COVID-19 en el Oeste de Paraná. Método: investigación analítica y transversal, realizada en la novena y décima región sanitaria de Paraná. Participaron 823 puérperas. La recolección de datos se realizó mediante encuesta e información de historias clínicas entre septiembre y diciembre de 2021. Se utilizó análisis descriptivo y prueba de chi cuadrado con un nivel de significancia del 5%. Resultados: la novena región presentó mejor desempeño en inmunización contra Hepatitis B, Influenza, Difteria, Tétanos y Tos Ferina en comparación con la décima región. La vacunación contra la COVID-19 tuvo baja adherencia en ambas regiones y los motivos fueron: miedo, elección personal, consejo médico y deseo de esperar a que nazca el niño. Conclusión: son necesarias nuevas estrategias y campañas de sensibilización para aumentar la tasa de vacunación entre las mujeres embarazadas, especialmente de la vacuna contra la COVID-19, considerando las complicaciones para la salud materna e infantil.
Descriptores: Embarazo; Salud de la mujer; Inmunización; Cobertura de vacunación; COVID-19
O acompanhamento pré-natal, dado sua importância à proteção à mulher por meio do rastreamento de indicadores de risco, imunização, profilaxia, intervenções terapêuticas obstétricas, aconselhamento e educação em saúde, é essencial para minimizar riscos, sobretudo em períodos críticos como a pandemia de COVID-19,1 visto que influencia diretamente na redução da morbimortalidade materna e infantil.2-3
Com respeito à imunização da gestante, importante ferramenta para promover a saúde e o bem-estar da mãe e do feto ficou prejudicada em meio à COVID-19, assim como outras ações essenciais da atenção primária.4 A COVID-19 é uma doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, sendo declarada uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde em 2020.5-6
Sabe-se que em razão da pandemia e visando ao controle da transmissão do vírus, o comparecimento aos serviços de saúde foi drasticamente reduzido em muitos países, sobretudo para os atendimentos de promoção da saúde e prevenção de agravos, nos quais se incluem a imunização.7 Durante o ciclo gravídico, os imunizantes recomendados são contra Influenza, Hepatite B, Tétano e Difteria (dT) ou Tétano, Difteria e Coqueluche (dTpa), os quais conferem fator protetor às formas graves dessas infecções. Além desses imunizantes, as gestantes foram inclusas como grupo prioritário para a vacinação contra a COVID-19 devido ao risco aumentado de agravamento por essa doença.4
A presença de infecções na gravidez está associada a complicações como morte fetal, malformações, parto prematuro e infecções neonatais. Entretanto, muitas dessas infecções são imunopreveníveis e a estratégia de vacinação materna preserva a saúde do recém-nascido, pois os anticorpos atravessam a barreira placentária e conferem proteção passiva por aproximadamente 12 meses de vida, pois sua própria resposta humoral ainda é relativamente ineficiente.4,8
As gestantes e seus conceptos são consideradas um grupo com maior risco para morbimortalidade decorrente de doenças imunopreveníveis por efeito das alterações fisiológicas e imunológicas que ocorrem no ciclo gravídico.9-10 Dados corroborados por um estudo que analisou 17 gestantes diagnosticadas com influenza grave mostraram que 88% precisaram ser hospitalizadas, 53% utilizaram ventilação mecânica, 29% submetidas à cesariana de emergência e 24% evoluíram para óbito. Apenas 14% dessas mulheres haviam recebido a vacina contra Influenza na gravidez.11
Nesse contexto, por se considerar que a situação vacinal sofre influência de fatores intrínsecos e extrínsecos aos indivíduos, o papel dos profissionais de saúde torna-se essencial em momentos de crise sanitária e pode influenciar as mulheres em suas decisões sobre a imunização durante a gravidez.12
Ante o exposto, apresenta-se o objetivo deste estudo: analisar e comparar a imunização de gestantes no período da pandemia da COVID-19 no Oeste do Paraná.
Trata-se de um estudo analítico e transversal, empreendido em quatro maternidades da região Oeste do estado do Paraná, Brasil, localizadas nos municípios de Cascavel, Foz do Iguaçu, Medianeira e Matelândia. Estas foram escolhidas intencionalmente por realizarem atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A maternidade de Cascavel, sede da décima regional de saúde, é referência para gestação de risco habitual e alto risco, bem como neonatologia para todos os municípios pertencentes a essa regional, efetuando atendimentos exclusivos pelo SUS.
A maternidade de Foz do Iguaçu, sede da nona regional, é referência para gestação de alto risco e neonatologia para todos os nove municípios que compõem essa regional de saúde e presta atendimentos pelos sistemas público e privado. Além do alto risco, se responsabiliza também por atendimentos de risco habitual e intermediário do próprio município e de Santa Terezinha de Itaipu. As maternidades de Medianeira e Matelândia realizam atendimentos pelos sistemas público e privado, e atendem as gestantes de risco habitual e intermediário de Medianeira, Matelândia, Ramilândia e Serranópolis do Iguaçu, todos pertencentes à nona regional de saúde
Para o cálculo amostral, foi considerado o número de partos ocorridos no ano de 2020 nos municípios de interesse do estudo, considerando N tamanho (número de elementos) da população; n tamanho (número de elementos) da amostra; nº uma primeira aproximação para o tamanho da amostra; E0 erro amostral tolerável. Utilizaram-se as seguintes fórmulas: n0 = 1 / (E0)2. 0,05 = 400 / n = N . n0 / N + n0
Considerou-se uma margem de erro de 5% e nível de confiança de 95%. Definiu-se 10% como margem de segurança, tendo em vista perdas ao longo da coleta de dados.
Foram incluídas 823 puérperas hospitalizadas no alojamento conjunto, independentemente da idade materna e da idade gestacional. Os critérios de exclusão foram puérperas com problemas clínicos e ou de saúde mental, registrados no prontuário, que pudessem impedir sua participação na pesquisa. Contudo, nenhuma participante abordada tinha qualquer descrição no prontuário sobre problemas clínicos descompensados (como síndromes hipertensivas, hemorragias, entre outros) e ou de saúde mental (como exemplo, depressão pós-parto).
Foi utilizado um instrumento estruturado, elaborado por enfermeiros-docentes, com expertise na área de pesquisas com a saúde materno-infantil. O referido instrumento continha as seguintes variáveis: Dados sociodemográficos: idade, escolaridade, renda familiar e subsídio do governo; Dados gestacionais: nº de gestações, consultas de pré-natal e comorbidades; Dados da imunização: vacinação completa ou incompleta (anti-Hepatite B; dTtpa; Influenza; COVID-19) e motivos para a realização da imunização incompleta ou de sua não realização.
O período da coleta de dados foi de setembro a dezembro de 2021, realizada por meio de um inquérito, no alojamento conjunto, com aproximadamente 24 horas após o nascimento da criança, no próprio quarto, mas sem a presença de acompanhantes e profissionais de saúde. As participantes foram convidadas a participar da pesquisa, explicando primeiramente os objetivos do estudo e, ao aceitarem, foi coletada sua assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias: uma ficou em posse da participante e outra com o pesquisador. As respostas foram marcadas em um questionário impresso pelas próprias pesquisadoras, e após o término de cada inquérito, este foi ofertado para darem anuência de suas respostas, porém nenhuma reportou necessidade de conferência.
Os inquéritos foram conduzidos por acadêmicas do Curso de Enfermagem de uma instituição pública de ensino, treinadas previamente pelos pesquisadores responsáveis, os quais possuem experiência profissional e acadêmica na área da saúde materna e infantil. Testes piloto (não contabilizados na coleta) foram utilizados para o treinamento das acadêmicas e para adequação do instrumento de pesquisa, elaborado e validado pelos pesquisadores responsáveis. A busca de dados também aconteceu nos prontuários eletrônicos e no cartão de saúde da gestante.
Os dados foram organizados em planilhas no Excel®, por dupla digitação independente. Para análise dos dados, as variáveis estudadas foram organizadas em tabelas de dupla entrada e realizado o cálculo de frequências absolutas e relativas. Buscou-se na análise estabelecer uma comparação entre as duas regionais de saúde estudadas, distribuindo os tipos de vacinas e relacionando-os aos fatores sociodemográficos e ao perfil obstétrico. Foi utilizado o teste de qui-quadrado com nível significância de 5% para verificar essa associação e o programa XLStat2014®.
O estudo foi reportado conforme os critérios da iniciativa Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE). Teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná sob o Parecer nº 4.837.617 e atendeu todos os preceitos éticos que envolvem pesquisas com seres humanos. Esta pesquisa faz parte de um projeto maior intitulado “Enfrentamento da COVID-19 e a Assistência Materno-Infantil”.
Foi analisada a situação vacinal de 405 gestantes da nona regional de saúde do Paraná e 418 da décima regional, totalizando 823 participantes.
A Tabela 1 ilustra a comparação da cobertura vacinal entre as duas regionais em relação à imunização Anti-Hepatite B, Influenza, dTpa e contra a COVID-19, as quais mostraram relevância estatística (p<0,05). Observou-se que a nona regional apresentou melhor desempenho nos índices de imunização em comparação a décima regional, mantendo taxas acima de 90% nos imunobiológicos referentes à Influenza, Anti-Hepatite B e dTpa. Entretanto, no tocante à vacinação contra a COVID-19, na décima regional de saúde os resultados foram melhores, com 79% das gestantes imunizadas e a nona regional com pouco mais de 50%.
Tabela 1 - Cobertura vacinal de gestantes referente aos imunizantes contra a Hepatite B, Influenza, dTtpa e COVID-19. Oeste do estado do Paraná, Brasil, 2023
|
9º Regional de Saúde |
10º Regional de Saúde |
|
||
Variáveis |
n |
% |
n |
% |
Valor-p* |
Anti-Hepatite B |
380 |
93,9 |
364 |
87,0 |
0,006 |
Influenza |
386 |
95,3 |
370 |
88,5 |
0,005 |
dTpa |
397 |
98,0 |
392 |
96,8 |
0,028 |
COVID-19 |
227 |
56,0 |
330 |
79,0 |
0,001 |
*Teste Qui-quadrado para proporções
No que tange à imunização contra Hepatite B (Tabela 2) e aos aspectos socioeconômicos, ao comparar as duas regionais de saúde observou-se significância estatística (p<0,05) para gestantes da décima regional de saúde com idade inferior a 19 anos, maior escolaridade (igual ou superior a 12 anos) e maior renda (um a três salários-mínimos), enquanto na nona regional, menor renda (igual ou inferior a um salário-mínimo) e menor escolaridade (cinco a 11 anos).
Em relação ao perfil obstétrico e à imunização contra a Hepatite B, não foi observada relevância estatística na comparação entre as regionais de saúde (Tabela 2).
Tabela 2 - Caracterização socioeconômica e perfil obstétrico relacionados à imunização contra Hepatite B de gestantes. Oeste do estado do Paraná, Brasil, 2023
9ª Regional de Saúde |
10ª Regional de Saúde |
Valor-p# |
||||
n |
% |
N |
% |
|||
Caracterização socioeconômica |
|
|
|
|
# |
|
Idade |
|
n=376 |
|
n=357 |
|
0,035 |
|
<19 anos |
15 |
4,0 |
37 |
10,4 |
|
|
19 a 34 anos |
315 |
83,8 |
278 |
77,9 |
|
|
≥35 anos |
46 |
12,2 |
42 |
11,8 |
|
Escolaridade |
|
n=370 |
|
n=362 |
|
0,001 |
|
0 a 4 anos |
8 |
2,2 |
2 |
0,6 |
|
|
5 a 8 anos |
66 |
17,8 |
30 |
8,3 |
|
|
9 a 11 anos |
95 |
25,7 |
39 |
10,8 |
|
|
≥ 12 anos |
201 |
54,3 |
291 |
80,4 |
|
Renda familiar |
|
n=346 |
|
n=352 |
|
0,001 |
|
<1 salário |
70 |
20,2 |
25 |
7,1 |
|
|
1 a 3 salários |
251 |
72,5 |
300 |
85,2 |
|
|
≥4 salários |
25 |
7,2 |
27 |
7,7 |
|
Subsídio do governo |
|
n=376 |
|
n=363 |
|
0,119 |
|
Recebeu |
108 |
28,7 |
85 |
23,4 |
|
|
Não recebeu |
268 |
71,3 |
278 |
76,6 |
|
Perfil obstétrico |
|
|
|
|
|
|
Nº de gestações |
|
n=374 |
|
n=361 |
|
0,081 |
|
Primigesta |
113 |
30,2 |
132 |
36,6 |
|
|
Multípara |
261 |
69,8 |
229 |
63,4 |
|
Nº consultas |
|
n=356 |
|
n=352 |
|
0,3278 |
|
<6 |
38 |
10,7 |
29 |
8,2 |
|
|
≥6 |
318 |
89,3 |
323 |
91,8 |
|
Comorbidades |
|
n=376 |
|
n=363 |
|
0,054 |
|
Sim |
96 |
25,5 |
117 |
32,2 |
|
|
Não |
280 |
74,5 |
246 |
67,8 |
|
*Salário-mínimo (2022): R$1.212,00.
#Teste Qui-quadrado
Tabela 3 - Caracterização socioeconômica e perfil obstétrico relacionados à imunização contra Influenza de gestantes. Oeste do estado do Paraná, Brasil, 2023
Variáveis |
9ª Regional de Saúde |
10ª Regional de Saúde |
Valor-p# |
|||
n |
% |
n |
% |
|||
Caracterização socioeconômica |
|
|
|
|
|
|
Idade |
|
n=381 |
|
n=360 |
|
0,015 |
|
<19 anos |
18 |
4,7 |
37 |
10,3 |
|
|
19 a 34 anos |
317 |
83,2 |
284 |
78,9 |
|
|
≥35 anos |
46 |
12,1 |
39 |
10,8 |
|
Escolaridade |
|
n=375 |
|
n=368 |
|
0,001 |
|
0 a 4 anos |
8 |
2,1 |
3 |
0,8 |
|
|
5 a 8 anos |
65 |
17,3 |
32 |
8,7 |
|
|
9 a 11 anos |
100 |
26,7 |
40 |
10,9 |
|
|
≥12 anos |
202 |
53,9 |
293 |
79,6 |
|
Renda familiar |
|
n=349 |
|
n=357 |
|
0,001 |
|
<1 salário |
70 |
20,1 |
28 |
7,8 |
|
|
1 a 3 salários |
254 |
72,8 |
300 |
84,0 |
|
|
≥4 salários |
25 |
7,2 |
29 |
8,1 |
|
Subsídio do governo |
|
n=381 |
|
n=369 |
|
0,069 |
|
Recebeu |
111 |
29,1 |
85 |
23,0 |
|
|
Não recebeu |
270 |
70,9 |
284 |
77,0 |
|
Perfil obstétrico |
|
|
|
|
|
|
Nº de gestações |
|
n=379 |
|
n=367 |
% |
0,121 |
|
Primigesta |
117 |
28,9 |
134 |
36,5 |
|
|
Multípara |
262 |
64,7 |
233 |
63,5 |
|
Nº consultas |
|
n=359 |
|
n=357 |
|
0,442 |
|
<6 consultas |
35 |
8,6 |
28 |
7,8 |
|
|
≥6 consultas |
324 |
80 |
329 |
92,2 |
|
Comorbidades |
|
n=381 |
|
n=369 |
|
0,114 |
|
Sim |
95 |
24,9 |
112 |
30,4 |
0,015 |
|
Não |
286 |
75,1 |
257 |
69,6 |
|
*Salário-mínimo (2022): R$1.212,00.
#Teste Qui-quadrado
No que se refere à imunização contra a Influenza (Tabela 3), as maiores diferenças encontradas entre as regionais de saúde foram na faixa etária inferior a 19 anos, escolaridade igual ou superior a 12 anos e maior renda, ou seja, entre um e três salários-mínimos na décima regional de saúde.
Na nona regional, foi observada a relevância estatística (p<0,05) para a menor escolaridade (cinco a 11 anos) e menor renda (igual ou inferior a um salário-mínimo). E ao se comparar as regionais quanto à imunização contra Influenza e perfil obstétrico, não foram demonstradas diferenças estatísticas (Tabela 3).
Foram comparadas também as regionais de saúde quanto à imunização contra a dTpa (Tabela 4) e à caracterização socioeconômica. Os dados mostraram-se semelhantes aos demais imunizantes, com exceção do recebimento de subsídios do governo. Na décima regional de saúde, as gestantes imunizadas receberam em menor frequência o subsídio quando comparadas às gestantes da nona regional (p<0,031). Para as informações relacionadas ao perfil obstétrico não houve relevância estatística.
Para a imunização contra a COVID-19 (Tabela 5), na décima regional foram encontradas maiores diferenças para gestantes imunizadas e com idade inferior a 19 anos, escolaridade de 12 anos ou mais e renda entre um e três salários-mínimos, enquanto na nona, a relevância estatística foi para gestantes com escolaridade entre cinco e 11 anos de estudo (p=0,001) e renda igual ou menor que um salário-mínimo (p=0,005). Mais uma vez, não foram constatadas evidências estatísticas para o perfil obstétrico (p>0,05).
Tabela 4 - Caracterização socioeconômica e perfil obstétrico e a relação com a imunização contra dTpa de gestantes da nona e décima regionais de saúde. Oeste do estado do Paraná, Brasil, 2023
Variáveis |
9ª Regional de Saúde |
10ª Regional de Saúde |
Valor-p# |
|||
n |
% |
n |
% |
|||
Caracterização socioeconômica |
|
|
|
|
# |
|
Idade |
|
n=393 |
|
n=383 |
|
0,016 |
|
<19 anos |
18 |
4,6 |
38 |
9,9 |
|
|
19 a 34 anos |
326 |
83,0 |
301 |
78,6 |
|
|
≥35 anos |
49 |
12,5 |
44 |
11,5 |
|
Escolaridade |
|
n=387 |
|
n=390 |
|
0,001 |
|
0 a 4 anos |
8 |
2,1 |
2 |
0,5 |
|
|
5 a 8 anos |
68 |
17,6 |
32 |
8,2 |
|
|
9 a 11 anos |
101 |
26,1 |
44 |
11,3 |
|
|
≥12 anos |
210 |
54,3 |
312 |
80,0 |
|
Renda familiar |
|
n=360 |
|
n=377 |
|
0,001 |
|
<1 salário |
71 |
19,7 |
25 |
6,6 |
|
|
1 a 3 salários |
262 |
72,8 |
317 |
84,1 |
|
|
≥4 salários |
27 |
7,5 |
35 |
9,3 |
|
Subsídio do governo |
|
n=393 |
|
n=391 |
|
0,031 |
|
Recebeu |
115 |
29,3 |
87 |
22,3 |
|
|
Não recebeu |
278 |
70,7 |
304 |
77,7 |
|
Perfil obstétrico |
|
|
|
|
|
|
Nº de gestações |
|
n=391 |
|
n=389 |
|
0,135 |
|
Primigesta |
120 |
30,7 |
140 |
36,0 |
|
|
Multípara |
271 |
69,3 |
249 |
64,0 |
|
Nº consultas |
|
n=370 |
|
n=379 |
|
0,265 |
|
<6 consultas |
39 |
10,5 |
30 |
7,9 |
|
|
≥6 consultas |
331 |
89,5 |
349 |
92,1 |
|
Comorbidades |
|
n=393 |
|
n=391 |
|
0,061 |
|
Sim |
98 |
24,9 |
122 |
31,2 |
|
|
Não |
295 |
75,1 |
269 |
68,8 |
|
*Salário-mínimo (2022): R$1.212,00.
#Teste Qui-quadrado
Tabela 5 - Caracterização socioeconômica e perfil obstétrico e a relação com a imunização contra COVID-19 de gestantes. Oeste do estado do Paraná, Brasil, 2023
Variáveis |
9ª Regional de Saúde |
10ª Regional de Saúde |
Valor-p# |
|||
n |
% |
n |
% |
|||
Caracterização socioeconômica |
|
|
|
|
# |
|
Idade |
|
n=225 |
|
n=322 |
|
0,283 |
|
<19 anos |
7 |
3,1 |
19 |
5,9 |
|
|
19 a 34 anos |
189 |
84,0 |
258 |
80,1 |
|
|
≥35 anos |
29 |
12,9 |
45 |
14,0 |
|
Escolaridade |
|
n=221 |
|
n=328 |
|
0,001 |
|
0 a 4 anos |
4 |
1,8 |
2 |
0,6 |
|
|
5 a 8 anos |
33 |
14,9 |
25 |
7,6 |
|
|
9 a 11 anos |
48 |
21,7 |
29 |
8,8 |
|
|
≥12 anos |
136 |
61,5 |
272 |
82,9 |
|
Renda familiar |
|
n=209 |
|
n=317 |
|
0,005 |
|
<1 salário |
32 |
15,3 |
21 |
6,6 |
|
|
1 a 3 salários |
163 |
78,0 |
271 |
85,5 |
|
|
≥4 salários |
14 |
6,7 |
25 |
7,9 |
|
Subsídio do governo |
|
n=225 |
|
n=329 |
|
0,977 |
|
Recebeu |
50 |
22,2 |
74 |
22,5 |
|
|
Não recebeu |
175 |
77,8 |
255 |
77,5 |
|
Perfil obstétrico |
|
|
|
|
|
|
Nº de gestações |
|
n=223 |
|
n=327 |
|
0,293 |
|
Primigesta |
68 |
30,5 |
115 |
35,2 |
|
|
Multípara |
155 |
69,5 |
212 |
64,8 |
|
Nº consultas |
|
n=213 |
|
n=321 |
|
0,961 |
|
<6 consultas |
14 |
6,6 |
22 |
6,9 |
|
|
≥6 consultas |
199 |
93,4 |
299 |
93,1 |
|
Comorbidades |
|
n=225 |
|
n=329 |
|
0,095 |
|
Sim |
53 |
23,6 |
100 |
30,4 |
|
|
|
172 |
76,4 |
229 |
69,6 |
|
*Salário-mínimo (2022): R$1.212,00.
#Teste Qui-quadrado
Entre as participantes que não receberam a vacina contra a COVID-19, os motivos mais citados na décima regional foram: medo (27,5%), opção própria (23,5%) e orientação médica (17,7%). Na nona regional, os motivos foram: opção própria (16,8%), orientação médica (14,2%) e desejo de esperar o filho nascer (15,9%).
Discussão
O calendário vacinal de gestantes é composto por três imunizantes: contra Hepatite B, Difteria, Tétano e Coqueluche (dTpa) e contra Influenza. Os resultados do presente estudo, superiores a 80% das gestantes, corroboram com os dados da pesquisa que avaliou a assistência pré-natal na nona, décima e décima sétima regionais de saúde do Paraná anteriormente à pandemia da COVID-19.13
No que concerne à cobertura vacinal, o Programa Nacional de Imunização (PNI) recomenda taxas vacinais de 95% para a maior parte dos imunizantes objetivando a proteção individual e coletiva da população contra doenças imunopreveníveis. Nos últimos anos, evidenciou-se uma queda vacinal importante para vários imunobiológicos no Brasil e no mundo, inclusive entre as gestantes, intensificado pela pandemia da COVID-19.14-15 Ainda no Brasil, a cobertura vacinal não é homogênea, implicando em risco para a população.14
Com respeito à vacina contra a COVID-19, esta foi realizada em menor proporção quando comparada aos demais imunobiológicos. Esse dado sugere a hesitação vacinal das gestantes com apenas essa vacina em específico, visto que os motivos para a sua não realização envolveram: medo, opção própria e orientação médica, e em nenhum momento foi citada a indisponibilidade de doses. Isso reforça os resultados encontrados em outro estudo realizado na Turquia, cuja amostra de mulheres grávidas envolvidas também teve baixa aceitação da vacina contra a COVID-19. Os autores verificaram que as gestantes no primeiro trimestre possuíam maior interesse em receber a vacina do que as gestantes do segundo ou terceiro trimestres, e entre os motivos de hesitação a possibilidade de danos no feto também foi incluída.16
Pesquisa norte-americana mostrou que antes da disponibilização da vacina contra a COVID-19, cerca de 41% a 47% das gestantes gostariam de recebê-la,17 resultado muito superior ao encontrado na Croácia, que identificou apenas 16% de gestantes.18 Foi verificado que ter recusado anteriormente a vacina contra Influenza, falta de orientação por um profissional da saúde, menor escolaridade, idade mais jovem, raça afro-americana e etnia hispânica foram fatores associados à recusa da vacina contra a COVID-19 pelas gestantes.17
Ainda assim, a décima regional apresentou melhores taxas de vacinação contra a COVID-19, cerca de 20% a mais ao se comparar com a nona regional. Esse fato pode ter relação com os aspectos sociodemográficos, tendo em vista que na décima regional houve significância para maiores índices de escolaridade. Entende-se que a decisão das gestantes sobre sua imunização, especialmente contra a COVID-19, pode ser influenciada por fatores sociais e familiares ou por falácias sobre a vacina, prática intensificada durante a pandemia.14
Em uma análise comparativa entre as regionais de saúde, nota-se que os dados socioeconômicos divergem. Na décima regional, a maior significância, para todos os imunizantes observados, se relacionou à maior escolaridade, maior renda e menor recebimento de subsídio do governo. Na nona regional, observou-se menor escolaridade, menor renda e maior recebimento de subsídio.
Sabe-se que no Brasil a condição socioeconômica, bem como o acesso aos serviços de saúde, apresenta-se como determinante para atingir maior taxa de cobertura vacinal entre as gestantes. Portanto, compreende-se que as desigualdades socioeconômicas podem comprometer as ações de imunização.19 Ainda assim, a nona regional teve um desempenho melhor para as vacinas contra Hepatite B, Influenza e dTpa quando comparada à décima regional, mesmo com significância para menor escolaridade e renda familiar.
Um estudo verificou que, quando comparadas a gestantes sem escolaridade ou com ensino fundamental apenas, aquelas com ensino superior foram as que mais receberam a imunização Anti-Hepatite B. Foi observado ainda que possuir um trabalho remunerado e maior número de consultas de pré-natal foram associados à menor ausência de vacinas.19
A vacina contra Hepatite B configura-se no método preventivo mais eficiente da infecção pelo vírus da Hepatite B (HBV). Sua transmissão vertical está associada a um risco elevado de a criança desenvolver a infecção de forma crônica. Logo, o objetivo da administração desse imunizante na gestação é, além de proteger a gestante de adquirir o vírus, proteger o recém-nascido.4,12
No que tange à imunização contra Influenza, esta deve ser administrada a todas as gestantes, independente da semana gestacional, durante as campanhas de vacina. No presente estudo, observou-se que a nona regional de saúde alcançou melhores resultados.
Para a Campanha Nacional de Vacinação contra Influenza de 2022, a meta foi que 90% dos grupos prioritários fossem vacinados, os quais incluíram as gestantes em razão de seu maior risco para complicações causadas pelo vírus da Influenza. A aplicação dessa vacina pode acarretar a redução da sobrecarga dos sistemas de saúde e auxiliar na prevenção de novos surtos de doenças respiratórias ocasionados pelo vírus da Influenza,20 informação também confirmada pelo Departamento de Saúde Pública da Califórnia.10
A incorporação da vacina dTpa no calendário vacinal da gestante, em 2014, decorreu do expressivo aumento de casos de Coqueluche em menores de um ano, de forma a ofertar imunidade indireta ao recém-nascido. Como resultado, houve diminuição de casos de Coqueluche no público infantil. Estudo mostrou que, a partir da inserção da vacina, a redução foi de 63,6% em crianças de 0 a 2 meses e de 26,6% em crianças de 3 meses a um ano.21-22 Em ambas as regionais de saúde avaliadas, a vacina dTpa alcançou mais de 90% das gestantes.
O PNI traz estratégias para garantir a manutenção da cobertura vacinal, como o estabelecimento de metas, campanhas de vacinação, ampliação da população-alvo e políticas de parcerias.23 Com o cenário atual relativo à queda vacinal, é necessário que tais medidas sejam intensificadas e associadas ao papel do profissional de enfermagem, que possui a oportunidade de intervir no processo saúde-doença ao realizar atividades que objetivem a atualização do cartão de vacina, com o uso da comunicação eficaz e realização de educação em saúde com a população e equipe, disponibilizando material educativo acessível.24 Um estudo realizado em clínicas pré-natais de Winchester, Virgínia e Jacksonville, Flórida, mostrou que gestantes negras e com menor nível educacional receberam menos informações sobre vacinas e, consequentemente, tiveram menor probabilidade de receber os imunizantes.25
Ante o exposto, a vacinação é uma prática importante para a saúde pública, já que atua na redução das taxas de morbimortalidade.23 Por conseguinte, tratar o calendário vacinal sem seriedade pode acarretar diversos agravos, além de gerar graves problemas de saúde pública, porque eleva o risco de a população adquirir doenças imunopreveníveis e novas epidemias surgirem.26
Entre os países muito afetados pela pandemia da COVID-19 encontra-se o Brasil.27 Na semana epidemiológica 46, período da coleta de dados deste estudo, os países com maiores números de óbitos acumulados foram os Estados Unidos, com 771.013 óbitos registrados, seguido pelo Brasil, com 612.587.28 Embora o cenário mais crítico da pandemia tenha passado, ainda são registrados novos casos e óbitos pela doença. No Informe Epidemiológico Coronavírus do estado do Paraná, entre o dia 17 a 24 de abril de 2023 houve 2.097 novos casos notificados da doença e 53 óbitos.29
Outro aspecto observado é a integração entre as regionais de saúde e a importância de manter alinhadas metas e ações para atingir maiores taxas de imunização em toda a população, especificamente em gestantes, a fim de reduzir os índices de morbimortalidade materna e infantil.
Como limitações deste estudo, devido ao caráter inédito do tema em virtude da recente pandemia, aponta-se a necessidade de investigar de maneira ampla os motivos que levaram as gestantes a não se vacinarem para propor estratégias efetivas visando a melhorar a cobertura vacinal entre as gestantes. A presente pesquisa contribui para o conhecimento da realidade vacinal das gestantes da nona e décima regionais de saúde do estado do Paraná durante o período pandêmico, de forma a dar subsídio para a elaboração de ações e políticas públicas que promovam a melhoria da assistência ao pré-natal, especialmente nas orientações referentes a imunização das gestantes.
O desempenho das regionais de saúde analisadas foi similar, o que sugere que ambas estão alinhadas quando se trata da imunização da população. Entretanto, a nona regional atingiu maiores taxas, com exceção da vacina contra a COVID-19. Além disso, parte dos imunizantes não alcançaram a cobertura vacinal estabelecida pelo PNI.
Ainda que os resultados obtidos não sejam insatisfatórios para a maior parte dos imunobiológicos, são necessárias novas estratégias e campanhas de sensibilização para aumentar o índice vacinal das gestantes, em especial sobre a vacina contra a COVID-19. Torna-se relevante que os profissionais de saúde, particularmente os enfermeiros, abordem o tema da imunização durante as consultas de pré-natal, além de observar na Caderneta da Gestante a presença do registro das vacinas a fim de orientar as pacientes sobre a importância e os benefícios que estas trazem tanto para elas quanto para seus filhos.
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29. Secretaria de Saúde do Estado do Paraná. Boletim - Informe Epidemiológico Coronavírus [Internet]. Brasília (DF): Secretaria de Saúde do Estado do Paraná; 2023 [acesso em 2023 abr 30]. Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Coronavirus-COVID-19
Fomento / agradecimento: ao Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde - PPSUS Edição 2020/2021, pelo financiamento da pesquisa.
Contribuições de autoria
1 – Gabriela Gomes Espindola
Autor correspondente
Enfermeira – gabrielagespindola@gmail.com
Concepção, desenvolvimento da pesquisa e redação do manuscrito
2 – Katherine Slowinski Knapp
Enfermeira – katherinesknapp11@gmail.com
Concepção, desenvolvimento da pesquisa e redação do manuscrito
3 – Maria Aparecida Baggio
Enfermeira, Doutora – mariabaggio@yahoo.com.br
Revisão e aprovação da versão final
4 – Helder Ferreira
Enfermeiro, Doutor - heelfer@gmail.com
Revisão e aprovação da versão final
5 – Adriana Zilly
Enfermeira, Doutora – aazilly@hotmail.com
Revisão e aprovação da versão final
6 – Rosane Meire Munhak da Silva
Enfermeira, Doutora – zanem2010@hotmail.com
Concepção, desenvolvimento da pesquisa e redação do manuscrito
Editora Científica Chefe: Cristiane Cardoso de Paula
Editora Associada: Graciela Dutra Sehnem
Como citar este artigo
Espindola GG, Knapp KS, Baggio MA, Ferreira H, Zilly A, Silva RMM. Immunization of pregnant women in times of the COVID-19 pandemic. Rev. Enferm. UFSM. 2024 [Access on: Year Month Day]; vol.14, e5:1-19. DOI: https://doi.org/10.5902/2179769283758