Rev. Enferm. UFSM, v.12, e1, p.1-4, 2022
https://doi.org/10.5902/2179769273424
ISSN 2179-7692
Submissão: 06/12/2022 • Aprovação: 06/12/2022 • Publicação: 19/12/2022
Editorial
Fortalecimento da enfermagem nos diferentes contextos de atuação a partir da liderança: para além da prática, na política
The strengthening nursing in different contexts of action based on leadership: beyond practice, into policy
Fortalecimiento de la enfermería en los diferentes contextos de actuación a partir del liderazgo: más allá de la práctica, en la política
Maria Helena Palucci MarzialeI
I Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
A liderança na enfermagem é uma competência necessária não apenas ao exercício profissional, mas também, uma estratégia para fortalecer a profissão e conduzi-la a caminhos melhores e a conquista de novos espaços e status por meio da atuação prática, educativa e política. Um enfermeiro líder é aquele que é capaz de dirigir, influenciar pessoas, equipes e grandes grupos apoiado em sua competência técnica e científica, valores e princípios éticos, servindo como exemplo para os demais atraindo-os, inspirando-os e influenciando bons comportamentos e resultados, ampliando espaços e galgando novas conquistas.
Dentre as características do líder destaca-se a capacidade de se relacionar e de se comunicar com as pessoas, agregar grupos, gerir conflitos, respeitar as diversidades, ser visionário e continuamente fazer autoavaliação para que possa tomar decisões assertivas e assumir novas responsabilidades.
A liderança é uma habilidade indispensável que repercute na qualidade da cultura organizacional das instituições e nas relações de trabalho, na gestão de pessoas e serviços.1 Por isso, precisamos voltar a atenção a formação de novos enfermeiros-líderes desde a graduação e oferecer possibilidades e recursos para que os futuros enfermeiros se tornem profissionais politizados, criativos, críticos, reflexivos, que possam ser capazes de tomada de decisões, resolução de problemas e na potencialização da qualidade do cuidado prestado aos usuários dos serviços de saúde.
O desenvolvimento da liderança deve ser fortalecido com experiências vividas na prática clínica e no trabalho cotidiano, na educação permanente visando as melhores práticas, a gerência de riscos organizacionais e clínicos e a utilização contextualizada das evidências e protocolos clínicos para a tomada decisões e pelo aprendizado na pós-graduação.
Os movimentos para a formação de enfermeiros líderes desenvolvido na pós-graduação precisam estar direcionados ao desenvolvimento de pesquisas que resultem em fortes evidências científicas que possam ser transladadas para a prática, e/ou ensino e/ou para a pesquisa, que resultem em inovações e/ou tecnologias e avance a Ciência da Enfermagem. Neste contexto, mesmo diante da expressiva melhora do cuidado de Enfermagem resultantes das pesquisas e da experiência clínica desenvolvidas nas últimas décadas, a pandemia revelou lacunas na capacitação de enfermeiros, inadequadas condições de trabalho e a necessidade da maior inserção de enfermeiros em posições estratégicas nos serviços, participação nas mesas diretivas e no grupo formulador de políticas públicas. Reporta-se a pandemia da Covid-19, quando os profissionais de saúde e de Enfermagem foram aplaudidos pelo excepcional trabalho realizado na assistência a população infectada pelo vírus SARS-Cov-2 mas, infelizmente no Brasil, a Enfermagem não têm o merecido reconhecimento da sociedade, dos gestores dos serviços e dos políticos pois, várias instituições oferecem aos profissionais de enfermagem inadequadas condições de trabalho e em especial, não lhes oferece salários dignos e assim, continua-se a espera da decisão de como e quando o piso salarial aprovado depois de uma década de luta será pago.
Quanto a formação, ajustes nos currículos dos cursos de graduação são necessários, principalmente o aumento da carga horária destinada às práticas clínicas visando ampliar a competência do enfermeiro e consequentemente lhe permitir maior segurança e ampliar a ocupação de postos de liderança. Na pós-graduação, faz-se necessário a revisão das linhas de pesquisa dos programas e da grade de disciplinas visando oportunizar aos enfermeiros o desenvolvimento de liderança clínica e profissional e as competências fundamentais para a implantação da Enfermagem de Prática Avançada (EPA), capaz de atender às necessidades de saúde da população e a resolução dos problemas identificados (práticas baseadas em evidências; raciocínio clínico; prática de autonomia; educação e ensino; colaboração e relações interprofissionais; práticas éticas e legais; gestão da qualidade e da segurança; promoção da saúde; comunicação; competência cultural; gestão de mudanças). 2
Para a formação em EPA recomenda-se a formação a nível de mestrado permitindo a preparação educacional em nível avançado para fins de reconhecimento formal, para que o enfermeiro tenha um papel funcional que integra o conjunto de atividade de pesquisa, ensino, prática e gestão; alto grau de autonomia profissional; avaliação avançada e capacidades diagnóstica e decisória. Destaca-se que o curso deve ter certificação ou acreditação; e sua própria legislação.3
No Brasil embora vários esforços tenham sido empreendidos para estabelecer a EPA, ainda há um longo caminho a ser percorrido, uma vez que enfrentamos dificuldades devido a diferenças nos níveis educacionais dos enfermeiros, fatores econômicos, práticas restritivas defendidas pelos médicos e a necessidade de políticas públicas que assegurem o apoio jurídico à prática da Enfermagem na perspectiva da prática avançada.4 Assim, faz-se necessário a fortalecer ainda mais a atuação de lideranças políticas, acadêmicas, entidades de classe e enfermeiros para o desenvolvimento técnico, científico, cultural e político da profissão com o propósito de defender políticas e programas que visem a melhoria da qualidade de vida da população, a EPA e melhores condições de trabalho.
Referências
1. Amestoy SC, Backes VMS, Thofehrn MB, Martini JG, Meirelles BHS, Trindade LL. Conflict management: challenges experienced by nurseleaders in the hospital environment. Rev Gaúcha Enferm. 2014;35(2):79-85. doi: 10.1590/1983-1447.2014.02.40155
2. World Health Organization (WHO). Global strategic directions for nursing and midwifery 2021-2025 [Internet]. Geneva: WHO; 2021 [cited 2022 Nov 22]. 40 p. Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/344562
3. Honig J, Doyle-Lindrud S, Dohrn J. Avançando na direção de cobertura universal de saúde: competências de enfermeiros de práticas avançadas. Rev Latinoam Enferm. 2019;27:e3132. doi: 10.1590/1518-8345.2901.3132
4. Andriola IC, Sonenberg A, Lira ALBC. Understanding advanced practice nursing as a step towards its implementation in Brazil. Rev Panam Salud Publica. 2020;44:e115. doi: 10.26633/RPSP.2020.115
Contribuições de autoria
1 – Maria Helena Palucci Marziale
Autor correspondente
Enfermeira, Professora Titular da Escola de Enfermagem - E-mail: marziale@eerp.usp.br
Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação da versão final.
Editor Científico Chefe: Cristiane Cardoso de Paula
Editor Científico: Tania Solange Bosi de Souza Magnago
Como citar este artigo
Marziale MHP. The strengthening nursing in different contexts of action based on leadership: beyond practice, into policy. Rev. Enferm. UFSM. 2022 [Access at: Year Month Day]; vol.12, e1:1-4. DOI: https://doi.org/10.5902/2179769273424