Desenho de rosto de pessoa visto de perto

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Rev. Enferm. UFSM, v.12, e13, p.1-18, 2023

ISSN 2179-7692 •

Submissão: 03/11/2022 • Aprovação: 15/02/2023 • Publicação: 11/04/ 2023

Tela de computador com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Introdução. 1

Método. 1

Resultados. 1

Discussão. 1

Conclusão. 1

Referências. 1

 

Artigo original                                                                                                                                

Acolhimento institucional na voz de cuidadoras de crianças e adolescentes que vivem em Casa Lar

Institutional foster care in the voice of caregivers of children and adolescents living in Casa Lar

Acogimiento institucional en la voz de cuidadores de niños y adolescentes que viven en Casa Lar

 

Yan Vinícius de Souza SchenkelIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Andressa da SilveiraIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Keity Laís Siepmann SoccolIIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Alexa Pupiara Flores Coelho CentenaroIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Leila Mariza HildebrandtIÍcone

Descrição gerada automaticamente

 

 

I Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Palmeira das Missões, Rio Grande do Sul, Brasil

II Universidade Franciscana (UFN), Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil

 

 

 

Resumo

Objetivo: conhecer o acolhimento institucional realizado por profissionais cuidadores que atuam com crianças e adolescentes que residem em Casa Lar. Método: estudo qualitativo, descritivo e exploratório, no qual participaram 11 profissionais que trabalham com crianças e adolescentes acolhidos. A coleta de dados aconteceu de agosto a novembro de 2021, a partir de entrevista semiestruturada, na Plataforma Google Meet®. As enunciações foram submetidas à análise temática de conteúdo. Resultados: os profissionais que atuam na Casa Lar desenvolvem um trabalho desafiador no acolhimento institucional, pautado na interação e relação afetiva, acolhimento humanitário, favorecimento de estratégias para a socialização e desenvolvimento pessoal, por meio do trabalho em equipe, com vistas às vulnerabilidades, demandas dos acolhidos e fortalecimento de vínculos. Conclusão: ao acolher as crianças e adolescentes, é indispensável que os profissionais ofereçam um cuidado que atenda as demandas de saúde desses indivíduos, e que contemple as singularidades presentes no processo de acolhimento institucional.

Descritores: Orfanatos; Cuidadores; Criança Acolhida; Adolescente; Trabalho

 

 

Abstract

Objective: to know the institutional care provided by professional caregivers who work with children and adolescents living in Casa Lar. Method: qualitative, descriptive and exploratory study, in which 11 professionals who work with children and adolescents sheltered participated. Data collection took place from August to November 2021, from a semi-structured interview, on the Google Meet® Platform. The enunciations were submitted to thematic content analysis. Results: professionals working at Casa Lar develop a challenging work in institutional care, based on interaction and affective relationship, humanitarian reception, favoring strategies for socialization and personal development, through teamwork, with a view to vulnerabilities, welcoming demands and strengthening bonds. Conclusion: when embracing children and adolescents, it is essential that professionals offer care that meets the health demands of these individuals, and that contemplates the singularities present in the process of institutional care.

Descriptors: Orphanages; Caregivers; Child, Foster; Adolescent; Work

 

 

Resumen

Objetivo: conocer la acogida institucional realizada por profesionales cuidadores que actúan con niños y adolescentes que residen en Casa Lar. Método: estudio cualitativo, descriptivo y exploratorio, en el cual participaron 11 profesionales que trabajan con niños y adolescentes acogidos. La recolección de datos tuvo lugar de agosto a noviembre de 2021, a partir de una entrevista semiestructurada, en la Plataforma Google Meet®. Las enunciaciones fueron sometidas al análisis temático de contenido. Resultados: los profesionales que actúan en la Casa Lar desarrollan un trabajo desafiante en la acogida institucional, pautado en la interacción y relación afectiva, acogida humanitaria, favorecimiento de estrategias para la socialización y desarrollo personal, por medio del trabajo en equipo, con vistas a las vulnerabilidades, demandas de los acogidos y fortalecimiento de vínculos. Conclusión: al acoger a los niños y adolescentes, es indispensable que los profesionales ofrezcan un cuidado que atienda las demandas de salud de esos individuos, y que contemple las singularidades presentes en el proceso de acogida institucional.

Descriptores: Orfanatos; Cuidadores; Niño Acogido; Adolescente; Trabajo

 

Introdução

O acolhimento institucional é uma medida judicial de proteção para crianças e adolescentes. No Brasil, durante os séculos XVIII e XIX, existiram diversas instituições que assumiram a função de mantenedoras do cuidado dessa população, que estivessem impossibilitadas de permanecer junto à família de origem.1 Esses serviços são denominados de Casa Lar, oferece acolhimento provisório, além de ser uma diligência de proteção, a qual objetiva promover proteção de menores expostos a situações de vulnerabilidade e até mesmo temerárias, que possam comprometer sua vida.2

O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) prevê a efetivação dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes, a fim de que seja resguardada sua integridade física, psíquica e moral, de modo a preservar sua imagem, identidade, autonomia, crenças, valores, espaços e ideais. Assim, toda criança e adolescente têm direito a ser cuidada e educada no contexto familiar e, excepcionalmente, em família substituta, sendo a convivência familiar e comunitária algo necessário para o seu pleno desenvolvimento.3

Neste contexto, destaca-se o papel dos serviços de acolhimento, visto que esses devem desempenhar suas funções com vistas à proteção, acolhimento, estabelecimento de vínculos e relações afetivas e sociais, a fim de estabelecer a convivência familiar e comunitária. Esses valores viabilizados pela instituição de acolhimento atuam como fatores de proteção na estruturação emocional e na construção e consolidação de projetos de vida. Ressalta-se, que devem ser respeitados os costumes, as tradições e a singularidade de cada acolhido, a fim de considerar os diferentes arranjos familiares, faixas etárias, religião, gênero, orientação sexual, raça ou etnia.4

A Casa Lar acolhe crianças e adolescentes de zero a dezoito anos sob medida protetiva, sendo permitidos no máximo dez usuários. A instituição deve ser composta por profissionais capacitados, habilitados, treinados pela equipe técnica de referência. Ademais, essa forma de acolhimento permite o atendimento a grupos de irmãos, com média ou longa duração.5 O acolhimento institucional é uma realidade que se tornou cada vez mais comum no Brasil e em outros países, frente a necessidade de afastar as crianças e adolescentes da família de origem.2

Os trabalhadores que atuam em instituições de acolhimento devem garantir que as crianças e adolescentes tenham as suas necessidades atendidas e os seus direitos garantidos. Cabe a esses profissionais participar do processo de acolhimento, cuidado e inserção social, a fim de que os menores possam compreender a situação que levou ao afastamento da família de origem. A partir de um olhar para a singularidade de cada acolhido, os profissionais precisam fornecer suporte psicológico, físico e educacional que repercutem positivamente na adaptação dos acolhidos.6 Deste modo, faz-se necessário estabelecer vínculos salutares entre os acolhidos e os trabalhadores da Casa Lar, para que seja estabelecida a confiabilidade, cuidado e proteção, os quais são essenciais para o desenvolvimento.7

Os trabalhadores desses serviços, que cumprem a função de abrigo, além de serem capacitados para proporcionar o bem-estar dos acolhidos, precisam de espaços para que possam ser escutados, dialogar sobre suas experiências e vivências no espaço de cuidado, argumentar sobre o trabalho com crianças e adolescentes afastados da família e que vivem em Casa Lar, a fim de mobilizar sentimentos internos que fazem parte da trajetória profissional com este público. É necessário que esses trabalhadores tenham suporte psicoemocional diante do estresse ocupacional vinculado às vivências na Casa Lar.6

Ainda, este estudo justifica-se pela lacuna existente no meio científico, visto que busca realizada em 2021 na SciELO utilizando a estratégia “orfanatos” [AND] “criança” [OR] “adolescente” com recorte temporal dos últimos cinco anos, originou 13 produções, e nenhuma delas convergia com a proposição apresentada neste manuscrito. Os artigos recuperados na PubMed com a estratégia “orphanages” [AND] “child” [OR] “adolescent”, disponíveis na íntegra e gratuitos, totalizou em seis publicações, as quais convergiam com os aspectos emocionais e desenvolvimento de crianças e adolescentes institucionalizados.

Perante o exposto, questiona-se: Como é realizado o acolhimento institucional por profissionais cuidadores que atuam com crianças e adolescentes que residem em Casa Lar? Frente a isso, objetivou-se conhecer o acolhimento institucional realizado por profissionais cuidadores que atuam com crianças e adolescentes que residem em Casa Lar.

 

Método

Trata-se de um estudo qualitativo, tipo descritivo e exploratório. Estudos qualitativos possibilitam uma visão abrangente de situações ou problemas, a partir de seus significados.8 Os descritivos objetivam conhecer e descrever características de um grupo específico, e pesquisas exploratórias procuram compreender uma determinada situação ou problema.9 

O cenário eleito para o estudo foi uma Casa Lar localizada na região central do Rio Grande do Sul, Brasil, que atendia a população de crianças e adolescentes no regime de proteção especial. A aproximação com o local da pesquisa ocorreu em junho de 2021, por meio de videochamada na Plataforma Google Meet®, entre a pesquisadora responsável, entrevistador, duas auxiliares de pesquisa e a direção da Casa Lar. No período da coleta de dados 59 indivíduos estavam em atividades laborais.

Para a inclusão de participantes, utilizou-se como critérios de elegibilidade estar desenvolvendo atividades na Casa Lar, há pelo menos cinco meses, e dispor de recursos para a comunicação virtual, por meio da Plataforma Google Meet®. Foram excluídos os profissionais que estivessem em férias, licença saúde ou qualquer tipo de afastamento funcional no período.

A partir dos critérios aplicados, constatou-se que 32 profissionais poderiam ser partícipes do estudo. Procedeu-se a um sorteio aleatório simples, e foi realizado o convite prévio por meio de ligação telefônica. Houve seis recusas em relação à participação, sendo essas justificadas pela escassez de tempo; por possuir dupla jornada de trabalho em outro local; por não se sentir preparado para participar de uma pesquisa com esta temática, assim o estudo foi composto por 11 profissionais cuidadores.

A coleta de dados ocorreu no período de agosto a novembro de 2021, por meio de entrevista semiestruturada, de forma online na Plataforma Google Meet®. As entrevistas ocorreram em horários pré-agendados e escolhidos pelos participantes, conforme a disponibilidade individual. Durante a entrevista, primeiramente foram coletados dados sociodemográficos e laborais para a caracterização dos participantes (sexo, função na Casa Lar, idade e se trabalhava em outro local). Na sequência era conduzida a entrevista semiestruturada, guiada por um roteiro com os seguintes tópicos: percepções sobre o cotidiano de trabalho; percepções sobre o acolhimento; desafios enfrentados no cotidiano com os acolhidos. A partir da 9ª entrevista observou-se a recorrência nas enunciações. Deste modo, foram realizadas mais duas entrevistas, a fim de confirmar o processo de saturação. Assim, a etapa de campo foi interrompida na 11ª entrevista, por se constatarem obtidos achados suficientes para responder ao objetivo de estudo e representar o coletivo, caracterizando a saturação dos dados. Considerou-se que houve a saturação, a partir do momento que as informações tornaram-se reincidentes, e não houve novas inserções sobre o fenômeno estudado com profundidade.10

As entrevistas tiveram duração de aproximadamente 40 minutos, sendo contabilizados 517 minutos de gravação. Para o tratamento dos dados, foram utilizados apenas os áudios das entrevistas, os quais foram transcritos na íntegra em documento no Programa Microsoft Word®. A transcrição foi operacionalizada por uma dupla de auxiliares de pesquisa, capacitadas para esta atividade. Posteriormente, foi realizada leitura e escuta simultânea de cada entrevista e transcrição, a fim de verificar a densidade do material.

O processo de análise das narrativas oriundas da produção de dados se deu por meio da análise de conteúdo temática.11 A organização da análise temática se subdivide em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

A primeira etapa foi realizada após as transcrições das entrevistas e a partir da definição de hipóteses provisórias sobre o objeto estudado. Desenvolveu-se a leitura flutuante para seleção de material pertinente para responder a pesquisa, seguida de leitura compreensiva de apreensão textual. Na segunda etapa, efetuou-se a pré-seleção das unidades de registros com maior recorrência temática. A fim de seguir o processo metodológico foi utilizada a técnica cromática, a partir da atribuição de cores distintas para trechos referentes a cada unidade de registro (UR).

Desenvolveu-se o processo de descrição das unidades de registro pré-estabelecidas por meio de expressões, frases ou palavras com maior reincidência, em seguida, foi realizado o recorte desses fragmentos de cada UR, separados em arquivo no Programa Microsoft Word® e organizados por afinidade semântica. Houve a lapidação das unidades de registro que permitiram a classificação do material, para análise profunda possibilitando a classificação por categorização dos dados, para descrição precisa do conteúdo expresso nas transcrições. Na terceira etapa, ocorreu o tratamento dos resultados, nesta etapa os pesquisadores realizaram as interpretações e inferências que conduziram às conclusões a partir da interpretação dos dados, bem como a discussão.11

A pesquisa seguiu as recomendações éticas das Resoluções nº 466/2012 e nº 510/2016, do Conselho Nacional de Saúde. Obteve a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria sob o Parecer nº 4.594.243, emitido dia 16 de março de 2021. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado pelos participantes. A fim de manter o sigilo sobre suas identidades, seus nomes foram substituídos pela letra P (referente a participante), acompanhada de número ordinal sequencial (P1, P2, P3…P11).

 

Resultados

Participaram deste estudo 11 profissionais que desenvolviam atividades laborais no cuidado e acolhimento de crianças e adolescentes em Casa Lar, sendo todas do sexo feminino. Quanto à função desempenhada, destacaram-se cinco educadoras sociais, uma enfermeira, uma técnica em enfermagem, duas auxiliares de educador social, uma pedagoga e uma assistente social responsável pela coordenação geral da Casa Lar. Em relação à faixa etária, seis declararam ter entre 51 e 60 anos; três possuir entre 31 e 40 anos; e duas com idade entre 41 e 50 anos.

Referente à escolaridade das participantes, seis possuíam ensino médio completo; quatro, ensino superior completo; e uma, ensino médio completo e formação técnica (Técnico em Segurança do Trabalho). Todas as 11 participantes declararam desempenhar suas funções laborais apenas na referida Casa Lar (sem outros vínculos empregatícios).

A partir da análise, emergiu a categoria temática intitulada: “O acolhimento de crianças e adolescentes em Casa Lar” com as subcategorias “Acolhimento em Casa Lar na perspectiva de profissionais” e “Trajetória de crianças e adolescentes acolhidos”. A Figura 1, elucida a categoria temática e suas subcategorias, bem como das unidades de registro.

 

 

Figura 1- Categoria temática, subcategorias e unidades de registro. Santa Maria, RS, Brasil, 2022.

 

O acolhimento de crianças e adolescentes em Casa Lar

Esta categoria evidencia o início do trabalho das profissionais com crianças e adolescentes na instituição, assim como as vulnerabilidades dos acolhidos, a importância dos profissionais para a prestação de cuidados às crianças e adolescentes, e ainda os vínculos constituídos na Casa Lar.

 

Acolhimento em Casa Lar na perspectiva de profissionais

O primeiro contato das profissionais com a Casa Lar ocorreu, em alguns casos, em um contexto em que sua primeira intenção não era, a princípio, atuar no serviço. Elas se inseriram na conjuntura do acolhimento institucional pelo fato de não ter conseguido vaga de emprego em suas áreas de preferência; algumas referiram que, naquele momento, pouco conheciam sobre esse trabalho.

O trabalho no Lar foi quase que por acaso. Eu não conhecia como era o Lar e eu acredito que muitas pessoas também antes de chegarem aqui não conheciam. E aí começou aos pouquinhos. (P1)

Como se eu caísse de paraquedas! Eu não sabia nada de adolescente, de acolhimento. (P2)

Eu entrei no Lar sem saber nada. (P3)

Eu estou trabalhando no Lar por não ter conseguido outra coisa na minha área. (P6)

Para os profissionais, a Casa Lar é um espaço de escuta, cuidado e de abrigo que visa à reconstrução de projetos para a vida. Dessa forma, ela permite que a profissional demonstre sua interação afetiva e sua preocupação, estabelecendo contato estável e receptível, possibilitando a redução do desenvolvimento do apego inibido e do comportamento desorganizado de crianças e adolescentes.

A gente está aqui para ajudar. Nós estamos aqui dispostas a caminhar com eles enquanto eles estiverem na casa Lar. Para mim, isso é acolhimento. (P5)

Acolher é aconchegar, é acalmar, é abraçar. O acolhimento institucional de crianças e adolescentes é isso. Porque ele vem recebendo crianças e adolescentes negligenciados.  O acolhimento tem obrigatoriedade de ser temporário, porque ele não é a família de ninguém. Ele não se coloca no papel. Ele é por um período, transitório. Ele é temporário e transitório. Esta é a questão do acolhimento. (P7)

É quando uma criança chega na instituição e a gente a prepara, de uma forma de que “traz” ela para nós. Vai, conversa com a criança, acalma a criança, depois em seguida coloca no banho e a gente começa a interagir com aquela criança ou adolescente. Para mim o acolhimento é isso.  (P9)

Eu entendo como acolhimento toda atenção, todo carinho, todo amor que onde a gente está é necessário. Respeito, respeito nosso com eles e deles conosco. (P10)

É enfatizado na narrativa de uma das profissionais, o senso desse acolhimento humanitário ao se tratar de um público que, não raramente, encontra-se em situação de carência e chega até o Lar dispondo, por vezes, de grande constrangimento.

Eu entendo que a gente está lá para fazer um acolhimento bem humano, muito humano, porque quando a criança chega, já é o último estágio. Ela já passou pela família que não deu certo, ela já passou pela rua. O Conselho Tutelar, quando traz eles [crianças e adolescentes] vêm de certa forma humilhados pela própria situação. Então cabe a nós acolhedores fazermos a parte humana. (P8)

Os achados evidenciam que as atividades laborais na Casa Lar requerem, para além de habilidades técnicas, competências afetivas e emocionais, as quais devem ser pautadas na humanização, empatia e resolutividade das situações do cotidiano do acolhimento de crianças e adolescentes.

Para que o cuidado ocorra na Casa Lar, destaca-se a importância do trabalho em equipe. Em seus depoimentos, as cuidadoras reforçaram sobre as trocas de saberes e experiências entre si, bem como o apoio do coletivo no trabalho:

Aqui todo mundo sabe um pouco e vai passando [conhecimentos]. Chegam novas educadoras e a gente vai passando um pouco da experiência da gente. Então nós vamos formando uma equipe. Aqui ninguém trabalha sozinha, nós somos uma equipe. Então, a gente vai instruindo umas às outras, vamos compartilhando uma para as outras, então a gente vai adquirindo uma experiência. (P2)

Na verdade, eu fui preparada pelas minhas colegas. Até então, eu não tinha conhecimento sobre o acolhimento. Trabalhar no Lar foi um desafio para mim, foi um novo desafio. (P5)

Tem colegas que já faz tempo que estão no Lar. Eu procuro me orientar com elas. Procuro conversar com elas para ver o que a gente pode fazer para melhorar o nosso trabalho. (P7)

A gente fala uma linguagem só! O que uma falou, está falado. O que uma falou, ninguém retira a autoridade da outra. A gente escuta uma à outra, para manter um ambiente agradável. (P8)

 

O trabalho na Casa Lar se consolida cotidianamente. Observa-se o desenvolvimento de capacidades indispensáveis relacionadas à comunicação, às trocas afetivas e às competências emocionais. O aprendizado frente às diferentes situações ocorre por meio da partilha de experiências das profissionais, o que garante as mesmas condutas em situações similares.

 

Trajetória de crianças e adolescentes acolhidos

As participantes demonstram compreensão sobre a trajetória de vida dos acolhidos. A história pregressa à institucionalização vem marcada pela vulnerabilidade, onde muitas crianças e adolescentes experienciaram condição de pobreza, em um ambiente envolto por drogas. Algumas sofreram violência, vivenciaram rupturas dos vínculos familiares e tiveram sua rede de apoio social e afetiva fragilizada.

São acolhidos crianças e adolescentes vítimas de violência: negligência, violência física, violência sexual, violência patrimonial e violência psicológica. (P9)

Tinha um acolhido com situação financeira diferenciada. A maioria vem de uma situação de pobreza. A pobreza que eu falo é de salário mínimo para baixo. (P10)

A maioria são famílias que provém de uma condição de pobreza. Da pobreza de acesso a saúde, da pobreza de acesso à escola, entre coisas. (P11)

Na percepção das cuidadoras, a Casa Lar fornece às crianças e aos adolescentes condições de vida que se assemelham às vivenciadas por uma família, não apenas pelo fato de propiciar socialização, mas também por oportunizar meios essenciais para o desenvolvimento pessoal.

Eles têm alimentação, roupas, tratamento com psicólogo, têm médicos, tudo eles têm ali! Então eles têm condições de crescer, se eles quiserem, porque depende muito deles também. (P8)

Ali nós temos que fazer toda essa parte, de integração, participar de toda essa parte até eles começarem a se conscientizar de que é uma casa de acolhimento, onde tem outras crianças com outras dificuldades. Então é uma integração deles. A gente tem que ir a cada dia, construindo um passo de cada vez. (P10)

No entanto, o caráter temporário da estadia destas crianças e adolescentes e a importância de valer-se das oportunidades e recursos oferecidos, destacado em uma das enunciações das participantes.

A instituição de acolhimento deve ser algo de passagem. Ela é boa para aquele momento que a criança ou adolescente está, mas ela não pode ser zona de conforto, ela tem que cumprir o seu papel para aquela situação pontual, porque acaba se acomodando com o tempo. (P1)

Os depoimentos evidenciam que o acolhimento das crianças e dos adolescentes é temporário, e que eles precisam estar cientes dessa condição e buscar sua autonomia, dedicar-se e envolver-se nas atividades propostas, uma vez que ao alcançar a maioridade eles serão desligados. E, a partir de então, terão de viver distante das dependências do Lar.

No que tange aos vínculos e sentimentos envolvidos no acolhimento, as relações afetivas estão relacionadas com o trabalho nestas instituições. Devido às experiências traumáticas vividas pelos acolhidos, é comum que as profissionais se envolvam com as suas histórias de vida.

Ele não queria ser transferido porque ele era muito apegado a nós, as educadoras. Ele chorava muito e ele me dizia: “tia, aqui é o meu lar, vocês são as minhas mães”. Então aquilo ali foi uma coisa que eu chorei junto com ele, que tu vês um lado teu, uma empatia que às vezes tu achas que nem existe. (P1)

A gente vê muita coisa aqui. Vê as frustações, ataques de fúria, mas também muito amor, carinho por parte deles. (P3)

Tu te deparas com crianças que chegam aqui e o pai não quer mais saber, a mãe não quer mais saber. Eles são abandonados. Isso é muito triste! Existe vários sentimentos aqui. (P4)

No decorrer de suas ações, as profissionais desenvolvem condições de apego pelos acolhidos, quando ressaltam os sentimentos associados ao trabalho com crianças e adolescentes em acolhimento.

Ao meu ver eles precisam de amor. Amor, carinho, abraço, colo de mãe. Eu posso ofertar esse colo para eles. (P6)

O meu sentimento é de muita preocupação, porque é um momento da vida [infância e adolescência] que não volta mais. Ser criança, ser adolescente é um momento único. (P7)

Logo quando eu cheguei na instituição, foi muito emocionante. No primeiro dia eu fui lá para fazer um treinamento pela parte manhã com as colegas e eu saí chorando de lá, porque a gente sabe que eles são carentes e precisam do nosso apoio. (P9)

Os depoimentos enaltecem o papel dessas trabalhadoras, uma vez que são peças-chave na vida de crianças e adolescentes que tiveram suas realidades alteradas pela vivência em ambiente institucional. Observa-se também a presença do vínculo associado a sentimentos de apego, carinho e amizade, fatores estes que contribuem para o cuidado dentro do ambiente da Casa Lar.

A gente tem aquele apego com eles. Eles estão sempre próximos da gente, tem que estar sempre ajudando e é muito bom estar trabalhando aqui. (P5)

É parte da família. Quando uma criança ou adolescente vai para uma família de adoção a gente sente bastante, porque parece que estão tirando algo da gente. É a mesma coisa que filho. (P7)

A gente se coloca muitas vezes como amiga, como mãe que possa contar e eu acho que eles entendem. Eu digo uma palavra só em que se resume: família. O amor, respeito, família! (P9)

E às vezes até em casa tu estás pensando naquela criança, naquele adolescente, então se torna parte da nossa vida também. (P10)

A consolidação de fortes vínculos afetivos, em alguns momentos, devido a situação de carência dos acolhidos, a profissional vivencia episódios que passa a suprir a ausência de um membro da família.

A gente precisa ofertar o amor de mãe, eles querem um pouco de mãe. (P1)

Ele colocou a cabeça no meu colo e disse: Tia, faz de conta que eu sou teu filho! E ele disse assim: Tia, só um minuto de mãe. E foi uma coisa que marcou muito na minha vida. (P3)

Apesar do vínculo afetivo presente por meio das ações de cuidado, o acolhimento institucional não tem a pretensão de substituir a família, mas colaborar com o fortalecimento dos vínculos sociais para favorecer o processo de reintegração familiar.

É perceptível que o cuidador influencia de maneira positiva na vida dos acolhidos, seja em aspectos de ordem afetiva, cognitiva, emocional e/ou social. Com a finalidade de auxiliar no processo de construção da sua personalidade. Assim, o educador tem a incumbência de facilitador do desenvolvimento da identidade de crianças e adolescentes institucionalizados.

 

Discussão

A partir dos achados deste estudo, observa-se que o processo inicial de trabalho em Casa Lar é permeado por inúmeros desafios, inexperiência e falta de conhecimento acerca da realidade vivenciada por crianças e adolescentes. Isso evidenciado muitas vezes, pelo despreparo das profissionais admitidas e pela falta de capacitação formal.

A capacitação na admissão é um importante aspecto a ser analisado, pois o processo de seleção de profissionais que pretendem atuar no contexto de acolhimento deve ser criterioso, com o intuito de garantir a contratação de perfis compatíveis para o desenvolvimento das funções. Dessa forma, a educação continuada é uma aliada na capacitação desses trabalhadores, uma vez que o desempenho de cada função nos lares institucionais requer formação específica para as singularidades das atividades laborais realizadas com crianças e adolescentes institucionalizados.12

É imprescindível que, após o início de trabalho na Casa Lar, as profissionais tenham a compreensão acerca do que é o acolhimento e de como é realizado. As atividades laborais desenvolvidas em uma Casa Lar podem ser desafiadoras, ao passo em que estão diretamente relacionadas à história pregressa de vida de cada criança e adolescente, em que situações de violência, tristeza e abandono são recorrentes. Além disso, o cotidiano desses profissionais apresenta precarização das condições de trabalho, diante da necessidade de capacitação, carência de renovação dos quadros técnicos, os quais acarretam em impactos sobre ações para o desenvolvimento de cuidado aos acolhidos.13

Com o intuito de apoiar, orientar e informar os acolhidos, a equipe que constitui as profissionais da Casa Lar é a principal fonte promotora de afeto e cuidado. Deste modo, salienta-se a importância de se manter bom relacionamento entre a equipe, para favorecer o desempenho de um serviço cercado de respeito e comprometimento, bem como um ambiente de diálogo, visando à resolutividade das demandas e necessidades identificadas. A garantia de amparo ao acolhido, tanto em suas necessidades básicas quanto na compreensão dos motivos de sua permanência, poderá repercutir positivamente.14

É notório que o acolhimento recebe crianças e adolescentes em condição de vulnerabilidade. O ser humano torna-se vulnerável quando, de acordo com conceitos compartilhados pelas áreas da saúde e assistência social, não necessariamente goza dos danos, mas está de fato suscetível às desvantagens para mobilidade social, sendo impossibilitado de alcançar patamares mais elevados de qualidade de vida na sociedade, principalmente em função de sua cidadania fragilizada.15

A partir da compreensão sobre a história de vida dos acolhidos, as profissionais devem ter um olhar direcionado às demandas de cada criança e adolescente, a fim de oferecer um acompanhamento de qualidade. Viver em um abrigo é uma experiência adversa que gera estresse e pode exercer impacto negativo na saúde.16 Embora a vulnerabilidade seja considerada um fator presente em maior grau nas populações pobres, a questão econômica é relevante, porém não determinante. A garantia de direitos de proteção social das crianças e adolescentes é exercida no sentido de poder associar a vulnerabilidade à precariedade, acarretando na possibilidade de institucionalização.15

A população de crianças e adolescentes que vivem em abrigos, muitas vezes são negligenciadas, além de experienciar um histórico de vulnerabilidades e sofrimento, olhar para o estado de saúde física e mental dessa população é essencial, pois elas são altamente propensas ao sofrimento psicossocial e adoecimento físico. Ademais, essas crianças e adolescentes podem apresentar problemas comportamentais, psicológicos e sociais ao longo do tempo. Por isso, a atenção, o cuidado, a prevenção e a intervenção quando necessário, são fundamentais para o seu pleno desenvolvimento.17

A partir das narrativas das participantes deste estudo, percebe-se que crianças e adolescentes institucionalizados mostram, com frequência, problemas de nível social e comportamental, dificuldades no controle emocional e de adaptação. Isso se deve ao fato de que a exposição às situações traumáticas, como os maus-tratos e a negligência durante a infância, tem repercussões no seu desenvolvimento em longo prazo, com projeção até na vida adulta, tornando as crianças vulneráveis ao risco de adoecimento mental. Deste modo, crianças e adolescentes que residem em abrigos provavelmente necessitarão de assistência psiquiátrica, acompanhamento psicológico e psicoterapias.18

Quando as depoentes citam que as crianças e os adolescentes “têm tudo”, remete às oportunidades de desenvolvimento e crescimento pessoal oferecidas na Casa Lar. Diante disso, as educadoras exercem um papel na mediação das ações, atividades, tarefas, deveres e, principalmente, a educação, conscientização e formação moral dos acolhidos, ficando claro ao citar que precisam “participar de toda essa parte”.

No entanto, é fundamental ponderar que o acolhimento institucional não supre necessidades estruturais, por ser um espaço temporário que não objetiva substituir o núcleo familiar. Estudo de revisão de literatura destacou que, apesar do acolhimento institucional ser essencial em contextos de vulnerabilidades e riscos, é complexo considerar seu potencial de transformação da vida do institucionalizado ante a fragilidade de outras políticas públicas. Na vida pós institucionalização, o jovem, muitas vezes, tende a enfrentar estereótipos negativos ao tentar ingressar no mundo do trabalho, além de relações interpessoais fragilizadas que dificultam seu processo de inserção social. Para além das fronteiras da instituição, os jovens, muitas vezes, apresentam baixas perspectivas para seu futuro capazes de mitigar carências profundas que não poderiam ser sanadas por cuidados profissionais na instituição.19

No que tange aos aspectos de vínculos entre profissionais e acolhidos, esse estudo mostrou que a liberdade e autonomia de crianças e adolescentes que vivem em instituições de acolhimento se difere daquelas que crescem e se desenvolvem no ambiente familiar de origem. Crianças e adolescentes institucionalizados correm um risco muito maior de problemas mentais e comportamentais, até sete vezes mais, quando comparadas às crianças e adolescentes não institucionalizados.20

O efeito das experiências na infância sobre o desenvolvimento humano é uma questão central na ciência do desenvolvimento. Deste modo, crianças e adolescentes que crescem em instituições semelhantes a orfanatos, são induzidas a diversos tipos de privação, tanto no sentido de convivência familiar, como na socialização comum na infância e adolescência.21 Assim, as relações de afeto entre os acolhidos e seus cuidadores influenciam diretamente no desenvolvimento afetivo e social dos indivíduos, uma vez que é nas fases primordiais que o ser humano desenvolve sua personalidade.22

Nesse sentido, o vínculo afetivo é um meio de subsistência e manutenção de um ambiente adequado para o desenvolvimento sadio de crianças e adolescentes. Tal proximidade afetiva tem a perspectiva da busca por segurança e apoio, proporcionando a capacidade funcional da personalidade do sujeito. A forma como são supridas suas demandas afetivas e ambientais, e como são internalizadas, pode influenciar no desenvolvimento e na capacidade de formar vínculo.23

Os achados evidenciam que a Casa Lar é um espaço onde existe a formação de vínculos entre crianças, adolescentes e educadores, ocorrendo, neste aspecto, forte correlação de apego relativo ao padrão de cuidados maternos. A construção do vínculo é fomentada a partir de manifestações emocionais que surgem no decorrer das relações afetivas vivenciadas entre cuidadores e acolhidos.24 Os trabalhadores mudam o modo de compreender e lidar com o outro, sua vivência cotidiana faz com que desenvolvam habilidades para além das incumbências técnicas, como paciência, compaixão e amor.25

O vínculo afetivo entre cuidadores e acolhidos provoca a sensação de que a instituição de acolhimento vai além de um local de trabalho, sendo uma extensão de suas próprias casas. É presente neste serviço a associação afetiva ao contexto familiar, ocasionando situações em que o profissional passa por supridor da necessidade de uma representação familiar.26 Desta maneira, as ações realizadas com crianças e adolescentes que vivem em Casa Lar visam a proporcionar um ambiente gregário, afetuoso, capaz de desenvolver os acolhidos. O Lar representa para a criança e o adolescente um ambiente familiar, de troca, de afeto, de aprendizado, em que se procura respeitar a subjetividade de cada indivíduo e suas potencialidades.27

Considerando que atuar com crianças e adolescentes em acolhimento é algo complexo, que requer atenção, cuidado, conhecimento, disponibilidade, cabe também aos profissionais uma atenção especial para seus limites e potencialidades. Desta forma, o trabalho em instituições de acolhimento requer a definição de limites e regras claras para os usuários pautarem suas atitudes, ao mesmo tempo em que eles carecem, igualmente, de compreensão e de afeto.27

Estudo realizado com profissionais de um Lar de acolhimento apontou que educadores que trabalhavam nesses locais entendiam que os impactos da institucionalização podiam ser minimizados por meio da construção de vínculos afetivos e com o cuidado que era ofertado ao acolhido.28 Além disso, o espaço de acolhimento deve apresentar-se como um local seguro para que os acolhidos possam construir, em conjunto com seus cuidadores, o desenvolvimento da sua individualidade, para que sejam capazes de recomeçar, e a desenvolver projetos futuros, recuperando, de certa forma, o seu espaço como indivíduo na sociedade.28

Deste modo, há uma necessidade de sensibilizar as instituições governamentais, não-governamentais e o Estado, para o desenvolvimento de programas que viabilizem o processo de atenção e cuidado de crianças e adolescentes institucionalizadas. Ademais, investimentos no preparo dos cuidadores responsáveis, frente a demanda de recursos humanos para o trabalho com o gerenciamento de estresse, habilidades de enfrentamento, resolução de problemas e tomada de decisão.29

Destaca-se o papel do educador e cuidador no desenvolvimento dos acolhidos, uma vez que lhe é possibilitado trabalhar aspectos cognitivos, afetivos e intelectuais, os quais são indispensáveis para aprender a superar os percalços e as dificuldades que podem surgir durante a sua trajetória. Além disso, quando há identificação com o profissional do Lar, observa-se a relação de proximidade, em que o vínculo formado está alicerçado no bem-estar da criança ou adolescente acolhido.30

Perante essas premissas, as narrativas das participantes evidenciam que deve existir no acolhimento um cuidado em saúde não apenas centrado em práticas e técnicas específicas, mas com ênfase na singularidade de cada criança e adolescente, diante dos contextos de vida pregressos à institucionalização em Casa Lar. E que o processo de trabalho dos profissionais que atuam no Lar requer, para além da formação específica e técnica, competências socioemocionais que envolvam as habilidades humanas, psicológicas e emocionais com crianças e adolescentes acolhidos.

A respeito das limitações, destaca-se a dificuldade na comunicação com os profissionais, visto a impossibilidade do contato presencial no período da pandemia de COVID-19. Entretanto, a partir do uso das tecnologias digitais foi possível desenvolver a pesquisa. As contribuições deste estudo para a prática, ensino e a assistência de enfermagem partem primeiramente do reconhecimento da existência do serviço de acolhimento para crianças e adolescentes, em que enfermeiros e técnicos de enfermagem integram o corpo de profissionais. A inserção de estudantes de graduação neste cenário possibilita a aproximação com o campo, bem como a perspectiva de atualização para a equipe. Ademais, o desempenho de pesquisa e extensão promovem espaços de diálogo e troca de saberes que favorecem o processo de acolhimento e cuidado de crianças e adolescentes.

 

Conclusão

O acolhimento institucional realizado pelos profissionais cuidadores que atuam com crianças e adolescentes que residem em Casa Lar está alicerçado na interação, permeado pelos laços afetivos, na relação entre o profissional e os acolhidos. O trabalho é desenvolvido em equipe e visa à socialização e ao desenvolvimento dos menores, perante sua trajetória marcada por vulnerabilidades.

Ao acolher as crianças e adolescentes, é importante que os profissionais ofereçam um cuidado que atenda às demandas de saúde desses indivíduos e que contemple as singularidades presentes no processo de acolhimento institucional. Nesta perspectiva, faz-se necessária a construção de um cuidado específico, que atenda as demandas de saúde de crianças e adolescentes acolhidos, gerando respaldo para os profissionais de enfermagem atuantes em Casa Lar. Pontua-se que seja oferecida alguma forma de capacitação para estes profissionais, a fim de que o acolhimento, cuidado e as atividades laborais estejam pautados em estratégias resolutivas para as demandas apresentadas pelos acolhidos.

 

Referências

1. Martins JBO, Medeiros BCD. Estabelecimento de vínculos entre cuidadores e crianças no contexto das instituições de acolhimento: um estudo teórico. Psicol Ciênc Prof. 2018;38(1):74-87. doi: 10.1590/1982-3703002882017 

2. Campos MFM, Santos BMS, Mota CP, Matos PM, Costa M, Carvalho HM. Adolescence and mental health in residential care: portrait of a decade in Portugal. Psicoperspectivas. 2022;21(1):175-87. doi: 10.5027/psicoperspectivas-vol21-issue1-fulltext-2286

3. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 27 fev. 2023.

4. Clates DM, Freitas HMB, Ilha S, Zamberlan C, Freitas K, Weiss F. Vivências de adolescentes em uma unidade de acolhimento institucional. Rev Enferm UFPE On line. 2017;11(6):2452-58. doi: 10.5205/reuol.10827-96111-1-ED.1106201725 

5. Medeiros J. Acolhimento Institucional: o que é e quais as modalidades? Gesuas [Internet]. 2020 [acesso em 2022 ago 20]. Disponível em: https://www.gesuas.com.br/blog/acolhimento-institucional/ 

6. Pagnota RMNF, Prebianchi HB. Estresse e estratégias de enfrentamento em profissionais de abrigos institucionais. Psicol Ciênc Prof. 2021;41(N Esp 2):e193180. doi: 10.1590/1982-3703003193180

7. Furtado MP, Magalhães CMC, Júnior da Silva AM, Santos JO. Rede de apoio da criança acolhida: a perspectiva da criança. Mudanças [Internet]. 2021 [acesso em 2022 ago 20];29(1):9-20. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-32692021000100002&lng=pt&nrm=iso

8. Minayo MCS. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 18ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

9. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 6ª ed. São Paulo: Atlas; 2017.

10. Minayo MCS.  Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa:  consensos e controvérsias [Internet]. Rev Pesq Qual. 2017 [acesso em 2022 dez 21];5(7):1-12. Disponível em: https://editora.sepq.org.br/rpq/article/view/82

11. Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

12. Ito SI, Azevedo AVS. Educadores sociais em abrigos destinados a crianças e adolescentes: revisão sistemática. Contextos Clín [Internet]. 2021 [acesso em 2022 ago 20];14(1):276-393. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-34822021000100014&lng=pt&nrm=iso

13. Penna LHG, Guedes CR, Ribeiro R, Pereira ALF, Ribeiro LV, Carinhanha JI, et al. The professional social educator in the daily life of adolescents of reception unit: an integrative review. Res Soc Dev. 2021;10(17):e239101724690. doi: 10.33448/rsd-v10i17.24690 

14. Furtado MP, Júnior da Silva AM, Santos JO, Magalhães CMC. Profissionais do acolhimento institucional: a atuação perante a chegada de uma criança. Mudanças [Internet]. 2019 [acesso em 2022 ago 16];27(1):11-20. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-32692019000100002&lng=pt&nrm=iso

15. Carmo ME, Guizardi FL. O conceito de vulnerabilidade e seus sentidos para as políticas públicas de saúde e assistência social. Cad Saúde Pública. 2018;34(3):e00101417. doi: 10.1590/0102-311X00101417

16. Silveira AC, Leite AJM, Cabral PC, Oliveira AC, Oliveira KA, Lira PIC. Toxic stress, health and nutrition among Brazilian children in shelters. BMC Pediatr. 2021;21(1):112. doi: 10.1186/s12887-021-02577-4

17. Mahanta P, Das Thakuria K, Goswami P, Kalita C, Knower R, Rajbangshi MC, et al. Evaluation of physical and mental health status of orphan children living in orphanages in Sonitpur district of Assam: a cross-sectional study. BMC Pediatr. 2022;22(1):722. doi: 10.1186/s12887-022-03785-2

18. Pawliczuk W, Kaźmierczak-Mytkowska A, Srebnicki T, Wolańczyk T. The prevalence of mental disorders among children and youth staying in residential institutions, children's homes - a review of epidemiological studies. Psychiatr Pol. 2018;30;52(2):345-53. doi: 10.12740/PP/75738

19. Jacinto PMS, Dazzani MVM. Institutional sheltering and deinstitutionalization: an integrative review in psychology. Emancipação. 2020;20:e2016477. doi: 10.5212/Emancipacao.v.20.2016477.026

20.  Mohammadzadeh M, Awang H, Ismail S, Kadir Shahar H. Improving emotional health and self-esteem of Malaysian adolescents living in orphanages through Life Skills Education program: a multi-centre randomized control trial. PLoS One. 2019;14(12):e0226333. doi: 10.1371/journal.pone.0226333

21. Gunnar MR, Bowen M. What was learned from studying the effects of early institutional deprivation. Pharmacol Biochem Behav. 2021;210:173272. doi: 10.1016/j.pbb.2021.173272

22. Medeiros TKR. O vínculo afetivo no abrigamento de crianças. Rev Pretextos [Internet]. 2020 [acesso em 2022 ago 16];5(9):541-6. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/pretextos/article/view/22274

23. Lemos SCA, Gechele HHL, Andrade JV. Os vínculos afetivos no contexto de acolhimento institucional: um estudo de campo. Psicol Esc Desenvol. 2017;33:e3334. doi: 10.1590/0102.3772e3334

24. Gabatz RIB, Schwartz E, Milbrath VM, Borges AR, Bório TC, Saldanha MD. Acolhimento infantil: um olhar para o cuidador/educador. Enferm Rev [Internet]. 2018 [acesso em 2022 ago 20];21(3):41-58. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/enfermagemrevista/article/view/19321

25. Gabatz RIB, Schwartz E, Milbrath VM. Perspectivas adotadas pelos cuidadores na interação com a criança institucionalizada. Rev Enferm UFSM. 2019;9:e18. doi: 10.5902/2179769228411

26. Costa CF, Santos TF, Santos VS, Lima LAG. Entre a instituição e o lar: uma odisseia com educadores. Pesqui Prát Psicossociais [Internet]. 2018 [acesso em 2022 out 10];13(1):1-15. Disponível em: http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/revista_ppp/article/view/2838

27. Gonçalves FP, Pretto CR, Alfing CES, Benetti SAW, Rosa MBC, Goi CB, et al. O trabalho em uma instituição de acolhimento à crianças e adolescentes: relato de experiência. Braz J Health Rev. 2021;(4):18139-50. doi: 10.34119/bjhrv4n4-288

28. Assunção AIS, Cruz EJS, Cavalcante LIC, Pedroso JS. Percepções de educadores sobre vínculos afetivos com crianças em acolhimento institucional. Mudanças. 2021;29(2):33-41. doi: 10.15603/2176-1019/mud.v29n2p33-41

29. Shafiq F, Haider SI, Ijaz S. Anxiety, depression, stress, and decision-making among orphans and non-orphans in Pakistan. Psychol Res Behav Manag. 2020 Mar 30;13:313-8. doi: 10.2147/PRBM.S245154

30. Fonseca PN. O impacto do acolhimento institucional na vida de adolescentes. Psicopedagogia [Internet]. 2017 [acesso em 2022 ago 20];34(105):285-96. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862017000300006&lng=pt&nrm=iso

 

Contribuições de autoria

1 – Yan Vinícius de Souza Schenkel

Enfermeiro - yansouzadm@gmail.com

Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação da versão final.

 

2 – Andressa da Silveira

Autor Correspondente

Enfermeira, Doutora em Enfermagem andressa-da-silveira@ufsm.br

Concepção, desenvolvimento da pesquisa, redação do manuscrito, revisão e aprovação da versão final.

 

3 – Keity Laís Siepmann Soccol

Enfermeira, Doutora em Enfermagem keitylais@hotmail.com

Redação do manuscrito, revisão e aprovação da versão final.

 

4 – Alexa Pupiara Flores Coelho Centenaro

Enfermeira, Doutora em Enfermagem alexa.coelho@ufsm.br

Redação do manuscrito, revisão e aprovação da versão final.

 

5 – Leila Mariza Hildebrandt

Enfermeira, Doutora em Ciências leilahildebrandt@yahoo.com.br

Revisão e aprovação da versão final.

 

 

Editora Científica Chefe: Cristiane Cardoso de Paula

Editora Associada: Rosane Cordeiro Burla de Aguiar

 

 

Como citar este artigo

Schenkel YVS, Silveira A, Soccol KLS, Centenaro APFC, Hildebrandt LM. Institutional foster care in the voice of caregivers of children and adolescents living in Casa Lar. Rev. Enferm. UFSM. 2023 [Access at: Year Month Day]; vol.12, e13:1-18. DOI: https://doi.org/10.5902/2179769272181