Desenho de rosto de pessoa visto de perto

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Rev. Enferm. UFSM, v.12, e60, p.1-20, 2022

https://doi.org/10.5902/2179769270622

ISSN 2179-7692

Submissão: 07/06/2022 • Aprovação: 18/10/2022 • Publicação: 15/02/2023

Tela de computador com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente com confiança média

 

Introdução. 3

Método. 5

Resultados 7

Discussão. 12

Conclusão. 18

Referências 19

 

Artigo de Revisão                                                                                                                           

Resiliência de enfermeiros na pandemia da COVID-19: revisão integrativa

Nurses’ resilience in the COVID-19 pandemic: an integrative review

Resiliencia de las enfermeras en la pandemia de COVID-19: revisión integradora

 

Thiago Portela CarocciniIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Alexandre Pazetto BalsanelliIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Vanessa NevesIÍcone

Descrição gerada automaticamente

 

I Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), São Paulo, SP, Brasil

 

 

Resumo

Objetivo: verificar quais são os fatores associados à resiliência entre os enfermeiros que prestam assistência hospitalar frente à pandemia de COVID-19. Método: revisão integrativa, realizada nas bases de dados Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online. A busca ocorreu em maio de 2022, e foram selecionados 32 estudos. A análise das informações sucedeu de forma descritiva, confrontando os achados pertinentes. Resultados: variáveis que impactaram foram: idade; experiência no trabalho; escolaridade; exposição ao estresse; habilidades pessoais para lidar com situações críticas e estressantes. Conclusão: a literatura apresenta fatores associados que impactam na resiliência, permitindo elucidar as variáveis. Além do mais, subsidia o enfermeiro a se aprimorar, criando estratégias de enfrentamento e facilitando sua adaptação aos desafios da vida e do trabalho, principalmente na prestação da assistência segura.

Descritores: Resiliência Psicológica; Cuidados de Enfermagem; Pandemias; COVID-19; Hospitais

 

Abstract

Objective: to verify which factors are associated with resilience among nurses who provide hospital care in the face of the COVID-19 pandemic. Method: an integrative review, carried out in the Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences and Medical Literature Analysis and Retrieval System Online databases. The search took place in May 2022, and 32 studies were selected. Information analysis took place in a descriptive way, confronting the relevant findings. Results: variables that impacted were: age; work experience; education; exposure to stress; personal skills to deal with critical and stressful situations. Conclusion: the literature presents associated factors that impact resilience, allowing the variables to be elucidated. In addition, it supports nurses to improve, creating coping strategies and facilitating their adaptation to challenges of life and work, especially in providing safe care.

Descriptors: Resilience, Psychological; Nursing Care; Pandemics; COVID-19; Hospitals

 

Resumen

Objetivo: verificar qué factores están asociados a la resiliencia entre los enfermeros que brindan atención hospitalaria frente a la pandemia de la COVID-19. Método: revisión integradora, realizada en las bases de datos Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences y Medical Literature Analysis and Retrieval System Online. La búsqueda se realizó en mayo de 2022 y se seleccionaron 32 estudios. El análisis de la información se realizó de forma descriptiva, confrontando los hallazgos relevantes. Resultados: las variables que impactaron fueron: edad; Experiencia laboral; enseñanza; exposición al estrés; habilidades personales para hacer frente a situaciones críticas y estresantes. Conclusión: la literatura presenta factores asociados que impactan la resiliencia, lo que permite dilucidar las variables. Además, ayuda a las enfermeras a mejorar, creando estrategias de afrontamiento y facilitando su adaptación a los desafíos de la vida y del trabajo, especialmente en la prestación de cuidados seguros.

Descriptores: Resiliencia Psicológica; Atención de Enfermería; Pandemias; COVID-19; Hospitales

 


Introdução

A pandemia de COVID-19 representa um dos problemas de saúde mais agudos e graves das últimas décadas, pois colocou todos os países sob condições médicas e ecológicas extremas, ocasionando ao profissional da saúde um alto nível de estresse e a necessidade de desenvolver sua resiliência, sendo, em maior grau, afetados aqueles envolvidos no cuidado direto a pacientes com a doença.1-2

No Brasil, a situação pandêmica prejudicou as condições de trabalho da enfermagem, a carga horária de trabalho, entre outros. Outro fator importante a ser considerado é que ela influenciou na forma como os enfermeiros prestam cuidados, resultando em aumento da incidência de eventos adversos, insuficiência de pessoal da enfermagem e uma assistência com baixa qualidade.2

Nesse sentido, precisam ser asseguradas políticas e medidas que contribuam para a prática segura e efetiva do cuidado, considerando que, até o dia 02 de junho de 2022, aproximadamente 63.555 profissionais de enfermagem adquiriram COVID-19 e cerca de 872 vítimas morreram por conta da doença.1,3

A resiliência pode ser interpretada como a capacidade de desafiar, conquistar, sair fortalecido ou adaptado pela experiência de situações adversas. Esse cenário faz com que a liderança, progressivamente, desenvolva a capacidade de adaptação às mudanças, tendo papel fundamental na manutenção da saúde mental, bem como na mitigação dos efeitos negativos do estresse dos colaboradores e, progressivamente, desenvolvê-los, tornando-os peça-chave na conquista do sucesso organizacional e pessoal.4-8

A concepção de resiliência recebe, gradualmente, mais atenção, principalmente na área da saúde em questão, dos(as) enfermeiros(as).4 Isso se deve ao fato de que os(as) enfermeiros(as) prestam cuidados diretos ao paciente, e as experiências desse cuidado são estressantes. Além disso, o ambiente hospitalar está em sucessiva transformação, sobrando pouco tempo para recuperação emocional da equipe. Em pesquisa feita pela American Nurses Association, 79% dos enfermeiros classificaram que o local de trabalho é o número um em perigo para estresse e que a pandemia de COVID-19 contribuiu para a piora desse estresse.5

No pico da crise causada pelo coronavírus, indicativos apresentaram que os enfermeiros que tinham níveis adequados de resiliência lidaram melhor com o impacto da pandemia, resultando em redução da ansiedade, do estresse pós-traumático, da exaustão emocional e da depressão, consequentemente prestando uma assistência mais segura. Desse modo, muitas instituições hospitalares investiram em programas e intervenções para desenvolver a resiliência dos enfermeiros nos cuidados de saúde.2,4,6

A resiliência foi identificada como um fator de proteção essencial contra os efeitos, na saúde mental, causados por eventos traumáticos e outras adversidades, incluindo a pandemia de COVID-19, resultando em uma maior satisfação no trabalho, com superior retenção, maior percepção da qualidade da assistência de enfermagem e um melhor desempenho clínico.2,3

Os fatores moderadores da resiliência identificados nos estudos foram idade, estado civil, escolaridade, gênero, salário e estado geral de saúde. Os motivos relacionados ao trabalho incluíram tempo de experiência na função, posição profissional e clima da organização. Os aspectos externos incluíram apoio familiar e habilidades de enfrentamento à pandemia.4,6

Estudos demostraram que a implementação de treinamento psicológico, gerenciamento de estresse, treinamento de intervenção em crises e meditação de atenção plena podem fortalecer a resiliência, bem como melhorar a qualidade do trabalho e do serviço de enfermagem.7-8

Os elementos mediadores que estão relacionados à resiliência evidenciam a necessidade de estabelecer ligações entre fatores externos e internos ao ambiente de trabalho. Para tanto, estudos caracterizam os principais elementos e suas características que interferem na resiliência do enfermeiro hospitalar. Contudo, ainda são escassos na literatura estudos que apontem ações efetivas que desenvolvam e aumentem a resiliência do enfermeiro hospitalar em situações de pandemia. 7-8

Diante do exposto, este artigo tem como objetivo verificar quais são os fatores associados à resiliência entre os enfermeiros que prestam assistência hospitalar frente à pandemia de COVID-19.

 

Método

Revisão integrativa da literatura, desenvolvida em seis etapas: elaboração da questão de pesquisa; busca na literatura dos estudos primários; extração de dados; avaliação dos estudos primários; análise e síntese dos resultados; e apresentação da revisão. Como ponto de partida, elaborou-se a pergunta: quais são os fatores associados à resiliência entre os enfermeiros que prestam assistência no âmbito hospitalar frente à pandemia de COVID-19? Na elaboração dessa, foi utilizada a metodologia PICo (P - População, I - Interesse, Co - Contexto), na qual se foi definida como: População: enfermeiros; Interesse: o estado da resiliência; Contexto: o ambiente hospitalar na pandemia de COVID-19. 9

A busca dos estudos primários foi realizada nas bases de dados Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), por meio da National Library of Medicine National Institutes of Health (PubMed).

Para realizar a busca, foram selecionados os seguintes descritores controlados e não controlados da terminologia Medical Subject Headings (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Resiliência Psicológica (Resilience, Psychological); Cuidados de Enfermagem (Nursing care); COVID-19 (COVID-19); Pandemia (Pandemics); e Hospitais (Hospitals).

Devido à temática ser recente e exclusiva à pandemia, foi aplicado filtro para o período de publicação dos artigos, para garantir um quantitativo adequado de estudos primários, sendo selecionados artigos de dezembro 2019, publicados até o ano de 2022. Para assegurar uma busca ampla, os descritores controlados foram utilizados de diferentes formas, isoladamente e combinados entre si, com os operadores booleanos AND e OR. A busca nas bases de dados eletrônicas incluiu artigos com foco de investigação na resiliência de enfermeiros durante a pandemia de COVID-19, publicados nos idiomas português, inglês ou espanhol (Figura 1).

Artigos presentes em mais de uma base foram contabilizados uma vez. A busca dos estudos primários nas bases de dados selecionadas ocorreu no mês de maio de 2022, sendo elaborada por um dos autores do presente estudo. A seleção dos artigos foi realizada por dois autores da revisão, de forma independente, na qual obtiveram índice de concordância superior a 80%, e, nos casos de discordância, o terceiro revisor selecionou o artigo. Todas as seleções foram feitas por meio do software Rayyan.

Os critérios de exclusão consistiram nos estudos que não relataram a resiliência, por apresentarem público misto, sem condição de separar amostra de enfermeiros e de profissionais da enfermagem em geral. Foram excluídos artigos identificados como reflexão/teórico, editorial ou carta resposta, comentários.

A extração dos dados foi realizada de forma independente, sendo elaborado um formulário para coleta de dados para organizar as principais informações referentes aos estudos como: identificação da publicação (título do artigo, idioma, autores, data da publicação); periódico de publicação; e características metodológicas (tipo de publicação, tipo de pesquisa, amostra/participante e resultados).

Para análise do material, decidiu-se agrupar e categorizar as informações da resiliência de acordo com o tipo de pesquisa, número de participantes, resultados obtidos em relação à resiliência, apresentando-se moderadores que interferiram na resiliência (Quadro 1). A análise dos resultados foi efetuada na forma descritiva. Posteriormente, foram realizadas comparações enfatizando as diferenças e similaridades dos estudos. O fluxograma apresenta os artigos selecionados e a sequência adotada até a inclusão daqueles considerados pertinentes para análise, conforme os critérios propostos para o estudo (Figura 1).

Diagrama

Descrição gerada automaticamente

Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos estudos. São Paulo, SP, Brasil, 2022

 

Resultados

Os 32 artigos analisados retratam o nível de resiliência em enfermeiros, sendo que 75% se referem a estudos descritivos transversais; 9% não relataram em seu método o tipo de pesquisa; 6% foram qualitativos; e os demais, com 3% cada, foram observacionais, mistos e correlacionais. Houve predominância de estudos realizados na China (n = 8), seguidos de Espanha, Irã e Turquia (n = 4, cada um), Filipinas e Estados Unidos (n = 2, cada um), e os outros países aparecem com 1 trabalho, como Indonésia, Quênia, Suíça, Arábia Saudita, Coreia, Itália, França e Índia. O ano com maior número de publicações, levando em consideração o critério escolhido, foi 2021, com 22 artigos publicados. No Quadro 1, estão apresentadas as informações extraídas das publicações.


 

Quadro 1 – Características dos estudos incluídos na revisão integrativa. São Paulo, SP, Brasil, 2022

Local/

ano*

Objetivo

Delineamento e amostra

Resultados

China, 2019 4

Investigar a saúde mental entre os profissionais de saúde que lutam contra o COVID-19 e explorar as associações entre apoio social, resiliência e saúde mental.

Tipo de estudo não relatado.

546 enfermeiros

Novos colaboradores tiveram menor resiliência, comparados aos mais antigos da instituição.

Não há fatores que prejudicam a resiliência de colaboradores mais experientes.

Indonésia, 202110

Determinar a correlação entre resiliência e ansiedade em profissionais de saúde durante a pandemia de COVID-19.

Estudo transversal

134 enfermeiros

Quanto menor a resiliência, maior o nível de ansiedade.

A resiliência atua como fator protetor da saúde mental do enfermeiro, sendo que a experiência, o aprendizado e o treinamento formal contribuem para o aumento da resiliência.

Espanha, 20211

Avaliar a Síndrome de Burnout e a resiliência de enfermeiros durante a pandemia de COVID-19, para estabelecer ações futuras e para lidar com o estresse no trabalho.

Estudo descritivo transversal

101 enfermeiros

A pontuação média de Burnout não se relacionou com a de resiliência. A dimensão “Fadiga emocional ou esgotamento emocional” se relacionou negativamente com a resiliência.

Filipinas, 2020 11

Examinar a influência relativa da resiliência pessoal, apoio social e apoio organizacional na redução da ansiedade frente à COVID-19 em enfermeiros da linha de frente.

Estudo transversal

325 enfermeiros

Imobilidade tônica e distúrbio do sono foram relatados como os sintomas mais pontuados durante a pandemia, piorando a resiliência. O apoio social e o apoio organizacional possuem papel importante no aumento da resiliência e, consequentemente, têm papel protetor para o colaborador na linha de frente.

Suíça, 202112

Avaliar o impacto da pandemia de COVID-19 nos enfermeiros hospitalares na região de língua italiana da Suíça, em termos de exposição a conflitos éticos e estresse psicológico.

Estudo multicêntrico observacional transversal

548 enfermeiros

Não houve diferenças do nível de resiliência entre enfermeiros de unidades de COVID-19 e não COVID-19. A experiência profissional e o maior nível de resiliência possuem papel protetor contra o conflito ético na pandemia.

Estados Unidos, 20217

Compreender a vivência dos enfermeiros e experiências durante o surto de COVID-19 e examinar sua resiliência.

Métodos mistos

43 enfermeiros

A resiliência foi afetada durante a pandemia, pois houve aumento do estresse devido às mudanças diárias dos protocolos, além do esgotamento físico por usar Equipamento de Proteção Individual. A resiliência só melhorou a partir do uso de comportamentos de autocuidado com os enfermeiros.

Arábia Saudita, 202113

Determinar os preditores de preparação no manejo de pacientes com COVID-19 e a carga psicológica e resiliência entre enfermeiros clínicos para enfrentar a crise de COVID-19 na Arábia Saudita.

Estudo transversal

281 enfermeiros

A idade, a experiência, a área de atuação, o conhecimento em administração e a preparação hospitalar para a COVID-19 aumentaram o escore de resiliência.

Corea, 202114

Comparar a ansiedade, a resiliência e a depressão entre unidades de COVID-19, com pacientes confirmados e pacientes suspeitos, e avaliar seus efeitos na depressão.

Estudo descritivo

128 enfermeiros

A resiliência foi significativamente maior em enfermeiros que trabalham com pacientes com suspeita de COVID-19 e menor em enfermeiros de unidades de pacientes com COVID-19.

A idade e a experiência prévia são fatores que aumentam a resiliência, estimulando a aceitação da responsabilidade em ser enfermeiros.

Turquia, 202115

Investigar a relação entre a psicologia resiliência e o desempenho no trabalho em enfermeiros durante a pandemia de COVID-19, em termos de características descritivas.

Estudo transversal e correlacional

284 enfermeiros

Houve uma relação positiva e significativa entre a resiliência e o desempenho no trabalho.

Houve maiores níveis de resiliência e maior desempenho no trabalho em enfermeiros com idade ≥ 41 anos.

Itália, 202116

Explorar questões de gerenciamento de enfermagem nas narrativas do COVID-19 de italianos enfermeiros da linha de frente.

Estudo qualitativo e descritivo com análise temática

23 enfermeiros

O trabalho em equipe aumenta os níveis de resiliência dos enfermeiros.

O papel do gerente é vital para o apoio psicológico, principalmente na resiliência, por meio de intervenções focadas em aumentá-la.

Estados Unidos, 202117

Examinar os fatores associados à resiliência dos enfermeiros durante a pandemia de COVID-19.

Estudo descritivo e transversal

883 enfermeiros

Enfermeiros que testaram positivo para COVID-19 relataram menor resiliência do que aqueles que testaram negativo.

Quanto mais forte a intenção de deixar a profissão, menor a resiliência.

Espanha, 202118

Analisar o efeito transversal de fontes de estresse durante o pico de COVID-19 no sofrimento psíquico de enfermeiros, com foco no papel mediador do enfrentamento focado no problema e na resiliência.

Estudo transversal e quantitativo

421 enfermeiro

Os fatores que mais diminuíram o nível de resiliência dos enfermeiros foram medo de infecção e morte.

Enfermeiros que sofrem de estresse devido à falta de preparação não tiveram ações adaptativas para superar a situação, e sua resiliência foi menor que a dos demais.

China. 202119

Investigar a prevalência e os fatores associados à ansiedade e à depressão entre os enfermeiros na linha de frente da pandemia de COVID-19.

Estudo transversal

282 enfermeiros

Enfermeiros de unidade COVID-19 que participaram do enfrentamento ao surto de ebola ou da Síndrome Respiratória Aguda Grave foram mais resilientes.

 

Irã, 202120

Reconhecer os fatores demográficos e psicossociais associados aos níveis mais altos ou mais baixos de resiliência durante a pandemia de COVID-19.

Estudo transversal

387 enfermeiros

 

Estresse, satisfação no trabalho, burnout e idade foram os principais preditores da resiliência dos enfermeiros durante a COVID-19.

A experiência de trabalho aumenta a resiliência e está negativamente associada com a demanda de trabalho.

Turquia, 202021

Determinar a relação entre os níveis de suporte e a resiliência psicológica percebidos por enfermeiros na Turquia durante a pandemia de doença de coronavírus-2019 (COVID-19).

Estudo descritivo e transversal

370 enfermeiros

A idade, o turno de trabalho e o tempo de trabalho afetaram o apoio psicológico e social dos enfermeiros e a sua resiliência, sendo que enfermeiros com experiências anteriores em situações de pandemia possuem um maior nível de resiliência.

Filipinas, 20212

Examinar o papel mediador da resiliência na relação entre fadiga dos enfermeiros na linha de frente (satisfação no trabalho e intenção de rotatividade) e qualidade da assistência.

Estudo transversal

270 enfermeiros

A resiliência foi associada positivamente com a qualidade do atendimento, e a satisfação no trabalho reduziu os efeitos da fadiga e foi negativamente associada à intenção de sair da instituição.

Irã, 202122

Investigar o nível de resiliência e sua relação com a hipocondria em enfermeiros que atuam em um hospital de referência para COVID-19 no sul do Irã.

Estudo transversal

312 enfermeiros

Não há correlação entre resiliência e suas diferenças com hipocondria nos enfermeiros em questão.

Com o aumento da resiliência, a hipocondria dos enfermeiros diminuiu.

China, 202123

Descrever a resiliência de enfermeiros que cuidavam de pacientes com diagnóstico confirmado de COVID-19, bem como fatores que potencialmente contribuíram para resiliência.

Estudo descritivo e qualitativo

23 enfermeiros

Principais facilitadores da resiliência incluíam suporte, conhecimento dos protocolos de doenças infecciosas, educação continuada ministrada pelo hospital, habilidades e autorregulação durante a quarentena.

Espanha, 202124

Explorar os papéis mediadores da autoeficácia e da resiliência entre o estresse e os componentes físicos e mentais da qualidade de vida em enfermeiros durante a pandemia de COVID-19.

Estudo transversal

308 enfermeiros

 

Efeito indireto do estresse percebido, mediado pela autoeficácia e pela resiliência.

Quanto menor a exposição às situações de estresse, maior será a resiliência.

Espanha, 202125

Avaliar os níveis de estresse percebido, resiliência, bem-estar e saúde mental em enfermeiros que prestam assistência direta ao paciente com COVID-19 e investigar possíveis associações entre essas variáveis.

Estudo transversal

214 enfermeiros

Os níveis de estresse autorrelatado dos participantes se correlacionaram negativamente com a resiliência.
A resiliência se correlacionou positivamente com o bem-estar e negativamente com a angústia, a ansiedade e a depressão.

China, 20208

Explorar como a identidade organizacional e a resiliência psicológica afetam o engajamento dos enfermeiros da linha de frente na prevenção e controle do coronavírus e estabelecer o modelo de relacionamento com base nesses fatores.

Estudo transversal

216 enfermeiros

 

Correlação positiva entre identidade organizacional do enfermeiro, resiliência e engajamento no trabalho.

Fortalecer o senso de organização dos enfermeiros, a identidade emocional e melhorar a resiliência são fatores-chave para aumentar o engajamento e melhorar a assistência prestada.

Turquia, 202126

Determinar a influência da resiliência psicológica e os diversos fatores sociodemográficos e características profissionais na percepção do estresse dos enfermeiros na pandemia de COVID-19.

Estudo transversal

201 enfermeiros

O estresse percebido diminuiu à medida que a resiliência aumentou, sendo que não houve significância estatística nos dados sociodemográficos. Enfermeiros treinados e capacitados em COVID-19 apresentaram maiores níveis de resiliência.

Turquia, 202127

Determinar a relação entre resiliência, burnout, estresse e fatores sociodemográficos com depressão em enfermeiros e parteiras durante a pandemia de COVID-19.

Estudo transversal

377 enfermeiros

Houve uma correlação negativa entre depressão e todas as subdimenssões da resiliência.

Alta resiliência foi considerada um fator protetor contra o risco de depressão.

China, 202128

Explorar o papel mediador do crescimento pós-traumático e os benefícios profissionais percebidos entre a resiliência e a intenção de permanecer entre os enfermeiros chineses.

Estudo transversal

200 enfermeiros

A resiliência tem impacto direto na intenção de deixar a profissão, e o trabalho e afeta a percepção, o crescimento pós-traumático e os benefícios profissionais.

Irã, 202129

Determinar o escore de resiliência e seus fatores demográficos preditivos entre os enfermeiros que trabalham nos hospitais envolvidos com COVID-19 em Ahvaz, Irã.

Estudo descritivo e analítico

387 enfermeiros

As variáveis idade, experiência e nível de escolaridade tiveram uma correlação positiva com o escore de resiliência dos enfermeiros durante a pandemia de COVID-19.

Programas de treinamento aumentam a resiliência.

China, 20216

Correlacionar resiliência e burnout.

Correlacionar resiliência com afeto positivo e negativo e burnout.

Tipo de estudo não relatado

180 enfermeiros

A resiliência mostrou correlação negativa com o burnout, a exaustão emocional e a despersonalização.

A resiliência mostrou correlação positiva com o afeto positivo.

França 202130

Investigar e comparar o impacto psicológico da pandemia em funcionários regulares de Unidade de Terapia Intensiva e trabalhadores temporários.

Tipo de estudo não relatado

58 enfermeiros

Não houve associação ou variáveis quanto aos níveis de resiliência.

                                                          

China, 202031

Investigar a resiliência dos trabalhadores externos enviados para apoiar os trabalhadores locais no tratamento do surto da doença do novo coronavírus de 2019 (COVID-19).

Estudo transversal

70 enfermeiros

A resiliência se correlacionou negativamente com a ansiedade e a depressão, mas positivamente com estilos de enfrentamento ativo, como treinamento/suporte fornecido pelo hospital permanente.

China, 202032

Investigar o estado psicológico dos enfermeiros na enfermaria de isolamento e avaliar o impacto das  intervenções de apoio hospitalar sobre seus sintomas psicológicos.

Estudo transversal

92 enfermeiros

A resiliência foi associada negativamente com a maioria das dimensões do Symptom Checklis-90.

Melhorar a resiliência dos enfermeiros pode reduzir sintomas de ansiedade, depressão e sensibilidade interpessoal.

Irã, 202133

Investigar a associação entre a linha de frente, o estado psicossocial do enfermeiro, a satisfação com a vida e a resiliência durante a prevalência da COVID-19.

Estudo transversal

185 enfermeiros

Enfermeiros menos resilientes possuem 6 vezes mais risco de distúrbios psicológicos.

Índia, 202034

Determinar o burnout e a resiliência e seus fatores associados entre os enfermeiros da linha de frente no departamento de emergência de um centro terciário no norte da Índia.

Estudo descritivo e transversal

120 enfermeiros

Maior nível de resiliência ajuda a mitigar os sintomas de burnout.

Enfermeiros que atenderam pacientes com COVID-19 e perceberam o ambiente inseguro apresentaram maiores níveis de resiliência.

*Identificação do artigo (A), seguido do número de ordem.

 

Discussão

Os estudos sobre a resiliência na pandemia apontam que o estresse percebido diminuiu à medida que a resiliência aumentou. Fatores como idade, experiência, área de atuação, conhecimento em administração e na preparação hospitalar para a COVID-19 apresentaram relação estatisticamente significantes e positivos, trazendo um crescente corpo de evidências, sugerindo que a resiliência dos profissionais da saúde impacta na prestação da assistência segura e representa uma importante fonte de pesquisa para entendê-la como um fator de proteção essencial contra os efeitos na saúde mental de eventos traumáticos e outras adversidades, incluindo a pandemia.2,4,14,27

As variáveis sociodemográficas podem ou não afetar a resiliência. As participantes do gênero feminino tiveram pontuações mais baixas e houve uma diferença entre as faixas etárias. Os resultados encontrados foram lineares em várias faixas etárias, de modo que a resiliência mais baixa foi a de 25 anos, e a maior, acima de 45 anos de idade. Com a experiência profissional e o nível de escolaridade, não foi diferente, quanto maior o nível de escolaridade e o tempo de experiência, maior o grau de resiliência. Por outro lado, não houve relação estatisticamente significativa na resiliência entre enfermeiros com diferentes estados civis e os que praticam exercícios. No entanto, o escore relatado de resiliência em enfermeiros que não praticavam exercícios foi menor do que nos que os realizavam.28,30

Durante a pandemia de COVID-19, ficou evidente que enfermeiros mais experientes apresentaram uma maior capacidade de se ajustar e se adaptar às mudanças no ambiente de trabalho. O período pandêmico, no qual os enfermeiros se dedicaram ao cuidado de pacientes com COVID-19, contribuiu para o desenvolvimento de sua resiliência. 2,14,27

De fato, o aumento da idade, a maior experiência de trabalho e escolaridade, sua exposição ao estresse, bem como suas habilidades técnicas e comportamentais para lidar com situações críticas e estressantes facilitam a adaptação, dando aos enfermeiros a possibilidade para agir de forma eficaz e mais resiliente, independentemente da situação.26,30

A resiliência é um elemento essencial para o enfermeiro no desenvolvimento do seu trabalho, principalmente no enfrentamento da pandemia. Sem resiliência ou com níveis baixos, o profissional pode ficar exausto e até mesmo deixar a profissão. Outros pesquisadores demonstraram um resultado interessante: os enfermeiros foram testados para COVID-19 e os positivos relataram menor resiliência do que aqueles que testaram negativo.18

A vivência profissional em uma pandemia é inerente e relativa, podendo variar nos países e entre as instituições. Enfermeiros recém-admitidos tiveram menor resiliência, quando comparados aos mais experientes, e, para esses, não foram demonstrados fatores que poderiam prejudicar a saúde mental. Outro ponto importante foi a diferença da resiliência entre as variáveis; foi evidenciado que as mulheres apresentaram uma resiliência menor que os homens. A diferença na pontuação de resiliência não foi significativa entre grupos de estado civil e estado parental. Contudo, as enfermeiras sem filhos tinham um nível mais alto de resiliência.27,29-30

Os enfermeiros usam seus conhecimentos e habilidades de enfermagem para prevenir a carga psicológica e aumentar o nível de resiliência. Essa consciência fica evidente nos achados sobre a diferença na pontuação da resiliência entre os diferentes níveis de experiência profissional, idade, escolaridade e treinamento para atendimento à COVID-19, sendo que um aumento em cada um dos fatores levou a um maior nível de resiliência. Além disso, o regime de contratação, como enfermeiros efetivos e com vínculos permanentes, e os hospitais privados tiveram níveis mais elevados de resiliência.14,29-30

O afeto positivo, como apoio psicológico no ambiente de trabalho, colabora para um nível alto de resiliência, e esse conjunto protege os enfermeiros da linha de frente, reduzindo o risco de burnout ou esgotamento e fadiga. Outros estudiosos na Turquia relatam que há uma relação positiva e significativa entre a resiliência e o desempenho no trabalho, pois, quanto maior o entusiasmo para o cuidado, maior será o escore de resiliência.16,31 A falta de apoio psicológico e de apoio social dos familiares, em especial das crianças, desempenha um papel negativo nos enfermeiros, reduzindo seus níveis de resiliência durante a pandemia de COVID-19.30-31

A resiliência ajuda a reduzir e superar as emoções negativas que os enfermeiros passaram durante a pandemia de COVID-19.15 No entanto, outros trabalhos demonstram que, quanto maior o nível de ansiedade, menor a pontuação da resiliência durante a pandemia. Em resultado encontrado em estudo com enfermeiros do Quênia que relataram sintomas mais moderados a graves de depressão, angústia e esgotamento e padrão de sono ruim e, consequentemente, uma menor resiliência, 56,3% dos enfermeiros apresentaram nível de ansiedade moderado a alto.10-11,15,26 Mesmo que o burnout seja alto, ele não se relacionou com a resiliência, mas, na dimensão “Fadiga emocional ou esgotamento emocional”, relacionou-se negativamente com o escore médio de resiliência. Enfermeiros de unidades hospitalares de COVID-19 desencadearam aumento do estresse e esgotamento psicológico, mas que foi amenizado pela experiência profissional que converte em maior nível de resiliência, ambas atuando com papel protetor durante o período pandêmico.1,12-14

Um dos moderadores que demonstrou um significativo aumento da resiliência e da prevenção da exaustão psicológica evidenciou a importância que a organização fornece ao profissional por meio das suas políticas institucionais. A gestão da pandemia, bem como os treinamentos, intensifica a confiança da equipe na instituição, e, consequentemente, essa se torna um ambiente mais resiliente.18 Por outro lado, o nível de resiliência foi correlacionado negativamente com o grau de confiança nas autoridades de saúde pública e pelo fato de os protocolos do hospital mudarem diariamente, além do esgotamento físico em usar Equipamento de Proteção Individual o dia todo.8,17-19 Sendo assim, locais de trabalho com demandas em constante mudança e políticas organizacionais que não são adequadas aos princípios dos enfermeiros aumentam a exaustão psicológica, diminuindo a resiliência e podendo ocasionar uma assistência insegura.19 Outro moderador que impacta na resiliência do enfermeiro, como o distúrbio do sono, foi relatado como um dos sintomas mais pontuados entre os enfermeiros com maior grau de ansiedade e menor escore de resiliência.19-20

O medo de infecção, seguido de morte e uma menor adaptação para superar a situação por falta de preparação, foi o moderador que impactou negativamente na resiliência dos enfermeiros. Quando comparado com pandemias anteriores, os enfermeiros da linha de frente da COVID-19 que participaram no surto de ebola ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) tiveram níveis mais baixos de ansiedade e depressão, e foram mais resilientes. Em contrapartida, o espírito de adaptação e, consequentemente, uma maior resiliência às rápidas mudanças e desafios que enfrentaram foram os pontos fortes que aumentaram a resiliência dos enfermeiros da linha de frente. As instituições que fornecem apoio social e organizacional contribuem com o desenvolvimento da resiliência de seus enfermeiros, principalmente diante das pandemias.19-23

Universalmente, os enfermeiros são uma das principais forças na luta contra a COVID-19, e sua resiliência não afeta apenas sua saúde mental, mas também a qualidade e a segurança dos cuidados que prestam aos pacientes com COVID-19; por isso, a educação e a experiência de trabalho foram determinadas como os fatores que contribuem para a resiliência. Programas de treinamento de resiliência e o aumento do conhecimento sobre como trabalhar em situação decorrente de doenças desconhecidas aumetam o nível de resiliência, melhorando a prática assistencial.29 Estudo similar relata que o conhecimento dos protocolos de doenças infecciosas, a educação continuada ministrada pelo hospital, as habilidades e a autorregulação durante a pandemia foram facilitadores para aumento da resiliência e da segurança assistencial entre a amostra estudada.23

Independentemente do que estava acontecendo, o orgulho de ser enfermeiro se sobressaiu frente às dificuldades e à sobrecarga psicológica acarretada pela pandemia. Os enfermeiros foram especialmente fortalecidos pelo trabalho em equipe e pelo envolvimento de todos para o atendimento. Portanto, quando se refere a ser enfermeiro ou ao orgulho de ser um enfermeiro, todos demonstraram alta resiliência relacionada ao tema.8

A resiliência foi associada positivamente com a qualidade do atendimento e a satisfação com o trabalho, sendo negativamente associada à intenção de sair da instituição, reduzindo os efeitos da fadiga na satisfação com o trabalho dos enfermeiros, na rotatividade organizacional e na qualidade do cuidado.4 Achados semelhantes na China constataram que a resiliência foi significativamente correlacionada com o envolvimento geral no trabalho dos enfermeiros e suas diversas dimensões. Além disso, o fortalecimento do senso de organização, a identidade emocional e a melhora da resiliência são os fatores-chave para aumentar o engajamento no trabalho e melhorar a assistência prestada.9

Um fator de importância observado foi a diminuição da hipocondria durante a pandemia, frente ao aumento da resiliência nos enfermeiros da linha de frente.23 Conforme a situação prossegue, os gestores devem auxiliar os enfermeiros a compreenderem os desafios do esgotamento mediante um ambiente onde se tenha afetos positivos, fornecendo discussões sobre resiliência. O afeto negativo no ambiente de trabalho pode acarretar exaustão oculta no enfermeiro. As intervenções de resiliência ideais devem ser adaptadas a vários profissionais de saúde, utilizando recursos para a saúde mental e perspectivas multidimensionais, garantindo um maior nível de resiliência.30-31

Situações altamente desafiadoras podem ter um impacto positivo na resiliência do indivíduo, trabalhando como fator de proteção contra o sofrimento psíquico, porém o esgotamento psicológico se dá na equipe regular da Unidade de Terapia Intensiva, sendo que a equipe não efetiva do setor não teve dificuldades para enfrentar o cenário pandêmico e não houve alteração da resiliência.31-32

Não se pode desconsiderar que, em decorrência da novidade do atendimento à COVID-19, fortaleceram-se os resultados positivos nos enfermeiros mais novos, pois o processo de aprendizagem influenciou o estado psicológico. Vale ressaltar que, no mesmo trabalho, os esforços contínuos para adaptar e auxiliar nas práticas assistenciais de enfrentamento da primeira onda da pandemia de COVID-19 foram essenciais e necessários para o resultado.31 Obviamente, essa crise colocou uma pressão inesperada sobre os enfermeiros, que tiveram que passar pela pandemia e treinar a equipe, que reforçou a assistência, com a responsabilidade de melhorar a qualidade da assistência prestada.32-33

Ações internas para a equipe de enfermagem aumentam a resiliência, fato observado em estudo que correlacionou resiliência, ansiedade, depressão, estratégias de apoio, treinamento e motivação entre enfermeiros de Wuhan. A resiliência se correlacionou positivamente com ações de motivação, bem como com o treinamento e suporte à equipe e, negativamente, com depressão e ansiedade. Estar preparado e confiante para as atividades diárias do trabalho não foram significativamente associados com a resiliência.32

Resiliência é a capacidade de reduzir os efeitos de um evento angustiante por antecipação e preparação, ajudando os profissionais de saúde a se recuperarem melhor do trauma, no caso, da pandemia de COVID-19. Fornecer treinamentos pode aumentar o escore de resiliência e ajudar a proteger a saúde mental dos enfermeiros. Além disso, é necessário que os gestores dediquem mais tempo às ações de preparação do enfermeiro, beneficiando a confiança do trabalhador para executar suas tarefas.32

Efetivamente, as instituições e gestores de enfermagem devem adotar práticas que visem abrandar o estresse e amplificar o nível de resiliência entre os enfermeiros. Também devem criar um ambiente de trabalho harmonioso, saudável, mantendo uma boa condição psicológica, melhorando, assim, as habilidades e os hábitos de resiliência dos enfermeiros em resposta à alta demanda, à maior complexidade da assistência e à sobrecarga emocional, principalmente durante as pandemias.32-34

Controlar o ambiente de trabalho com ações preventivas é cada vez mais listado. O risco de distúrbios psicológicos é 6 vezes maior em enfermeiras(os) não resilientes do que em enfermeiras(os) resilientes. Além disso, o risco de distúrbios psicológicos foi 2,42 vezes maior em enfermeiros que estavam em momentos ruins da carreira e insatisfeitos com suas vidas do que aqueles que estavam satisfeitos profissionalmente e muito satisfeitos com suas vidas. Diante disso, os gestores e enfermeiros devem criar meios, por meio de ações que fortaleçam a resiliência e desenvolvam habilidades para lidar com as dificuldades, adaptar-se às novas condições, ter expectativas realistas e positivas, protegendo o trabalho e a vida.34

Sentimentos de estar adequadamente preparado e confiante para tarefas completas foram associados à resiliência. Possuir um nível alto de resiliência resulta em maior autonomia, crescimento pessoal, otimismo e melhor propósito na vida. Todavia, faz-se necessário um maior número de intervenções e treinamentos eficazes com apoio social que garanta uma adequada saúde mental dos enfermeiros.32,34

A síntese dos estudos revela que mais tempo deve ser dedicado à preparação do enfermeiro, tanto psicologicamente quanto na rede de apoio familiar e profissional, beneficiando a confiança para concluir sua assistência com qualidade e segurança. Em outras palavras, a revisão mostra que a resiliência dos enfermeiros pode ser fortemente influenciada e mantida por estratégias de apoio e planejamento preventivo.

O gestor de enfermagem desempenha funções vitais nas instituições de saúde como: assistir ao paciente; dirigir um grupo de colaboradores; influenciar por meio da comunicação eficaz e habilidades interpessoais; implementar práticas baseadas em evidências; direcionar membros da equipe de saúde, entre outras atividades. Eles possuem atributos únicos que lhes permitem um desempenho eficaz em suas posições, incluindo habilidades de pensamento crítico, capacidade de vislumbrar um futuro positivo e liderar em árduas vezes, além  de apoiar sua equipe que, muitas vezes, está enfrentando altos níveis de ansiedade e estresse, parte do qual envolve o fortalecimento da resiliência organizacional e da força de trabalho. 16,35

Assim, é imprescindível refletir sobre o papel dos líderes na pandemia, e, no futuro próximo, os gestores devem se concentrar em ações locais e constantes para aumentar a resiliência. É importante repensar o preparo deles para incorporar a temática nos processos internos das instituições hospitalares e influenciar positivamente na melhoria da assistência à saúde.

Embora este estudo forneça evidências importantes para os gestores de enfermagem auxiliarem os enfermeiros quanto à resiliência durante a pandemia, algumas limitações foram identificadas. No contexto em questão, os estudos não foram analisados de acordo com o acontecimento da primeira, segunda ou terceira onda, não havendo a separação cronológica, sendo necessárias novas revisões, a fim de se entender se houve diferenças na gestão da resiliência em cada onda. Ainda, destaca-se a ausência de produções brasileiras sobre a temática, o que impossibilitou a comparação das evidências com o contexto internacional.

Sugere-se a necessidade de desenvolver novos estudos que possam avaliar outras variáveis que afetam a resiliência, as diferentes estratégias e as ações para aumentar a resiliência quanto aos impactos na assistência direta ao paciente, na qualidade de vida dos enfermeiros, na satisfação, no significado do trabalho dos enfermeiros e no impacto nos custos com o turnover de profissionais menos resilientes.

 

Conclusão

Identificou-se, nesta presente pesquisa, que a resiliência é um protetor psicológico, e, à medida que ela aumenta, o estresse diminui, e fatores como idade, experiência, área de atuação, conhecimento em administração e na preparação hospitalar para a COVID-19 foram significativos para o aumento da resiliência dos enfermeiros, impactando na prestação da assistência segura. Em virtude da pandemia, as variáveis sociodemográficas podem ou não afetar a resiliência, bem como o apoio organizacional fornecido ao enfermeiro atua diretamente no estado de resiliência.

Na prática, é essencial que os enfermeiros sejam conscientes das variáveis que afetam a resiliência e, consequentemente, a qualidade da assistência prestada, subsidiando-se com recursos para gerir o trabalho em contextos de pandemia. E que os gestores demonstrem a importância de ações assertivas para melhoria da saúde mental, no caso, a resiliência. 

Os achados forneceram evidências de quais fatores se relacionaram com a resiliência, sua importância, bem como a necessidade de estratégias de enfrentamento focadas como fatores de proteção psicológica ao enfermeiro. A implementação de intervenções educacionais para o aumento da resiliência no desenvolvimento de novas habilidades e na adaptação com sucesso aos desafios da vida e do trabalho deve ser considerada não apenas em situações de pandemia, mas no dia a dia, para assistência ao paciente.

 

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Contribuições Autoria

1 – Thiago Portela Caroccini

Autor correspondente

Enfermeiro, Pós-graduado - E-mail:  thiagocaroccini@gmail.com

Concepção e desenvolvimento da pesquisa e redação do manuscrito.

 

2 – Alexandre Pazetto Balsanelli

Enfermeiro, Doutor - E-mail:  alexandre.balsanelli@unifesp.br

Revisão e aprovação da versão final.

 

3 – Vanessa Neves

Enfermeira, Doutora - E-mail:   vanessa.neves@unifesp.br

Revisão e aprovação da versão final.

 

Editora Científica Chefe: Cristiane Cardoso de Paula

Editora Associada: Daiana Foggiato de Siqueira

 

Como citar este artigo

Caroccini TP, Balsanelli AP, Neves V. Nurses’ resilience in the COVID-19 pandemic: an integrative review. Rev. Enferm. UFSM. 2022 [Access at: Year Month Day]; vol.12, e60: 1-20. DOI: https://doi.org/10.5902/2179769270622