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Rev. Enferm. UFSM, v.12, e25, p.1-20, 2022

https://doi.org/10.5902/2179769268178

ISSN 2179-7692

Submissão: 19/10/2021 • Aprovação: 19/04/2022 • Publicação: 05/07/2022

Tela de computador com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Introdução. 3

Método. 4

Resultados. 7

Discussão. 13

Conclusão. 19

Referências. 19

 

Artigo original

Potencialidades e limites do ensino remoto emergencial de saúde mental no contexto da COVID-19

Potentials and limits of remote emergency mental health teaching in the context of COVID-19

Potencialidades y límites de la enseñanza a distancia de la salud mental de emergencia en el contexto de COVID-19

 

Luciane Prado KantorskiIÍcone

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Carla Gabriela WünschIIÍcone

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Thylia Teixeira SouzaIIIÍcone

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Taís Alves FariasIÍcone

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Michele Mandagará de OliveiraIÍcone

Descrição gerada automaticamente

 

I Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas/RS, Brasil

II Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Cuiabá/MT, Brasil

III Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Porto Alegre/RS, Brasil

 

 

Resumo

Objetivo: analisar as potencialidades e os limites do ensino remoto emergencial de uma disciplina de saúde mental no contexto da pandemia da COVID-19. Método: pesquisa qualitativa que analisou os dados do Google Forms de questionário online respondido por estudantes com questões abertas e fechadas. A coleta de dados foi realizada em setembro de 2020, de forma autoaplicável, e os diálogos do ambiente de aprendizagem, em fevereiro de 2021. Dos 223 estudantes concluintes, 128 responderam ao questionário online. A análise temática buscou as manifestações subjetivas desses estudantes e as informações sociodemográficas foram transferidas para programa e calculadas conforme a média numérica. Resultados: das potencialidades e limitações, destacam-se a colaboração da disciplina para o enfrentamento pessoal da pandemia e as dificuldades dos alunos com o acesso à internet. Conclusão: é necessário refletir a respeito do futuro da formação universitária, dos processos pedagógicos e de trabalho, além da infraestrutura das instituições.

Descritores: COVID-19; Educação Superior; Educação a Distância; Enfermagem; Saúde Mental

 

Abstract

Objective: to analyze the potentialities and limits of emergency remote teaching of a mental health discipline in the context of the COVID-19 pandemic. Method: qualitative research that analyzed Google Forms data from an online questionnaire answered by students with open- and closed-ended questions. Data collection was conducted in September 2020 in a self-applied form and the learning environment dialogues in February 2021. Of the 223 concluding students, 128 responded to the online questionnaire. The thematic analysis sought the subjective manifestations of these students, and the sociodemographic information was transferred to a program and calculated according to the numerical average. Results: of the strengths and limitations, we highlight the collaboration of the discipline for the personal confrontation of the pandemic and the students' difficulties with internet access. Conclusion: it is necessary to reflect on the future of university education, pedagogical and work processes, and the infrastructure of the institutions.

Descriptors: COVID-19; Education, Higher; Education, Distance; Nursing; Mental Health

 

Resumen

Objetivo: analizar las potencialidades y los límites de la enseñanza a distancia de una disciplina de salud mental en el contexto de la pandemia de COVID-19. Método: investigación cualitativa que analizó los datos de Google Forms de un cuestionario online respondido por los estudiantes con preguntas abiertas y cerradas. La recogida de datos se llevó a cabo en septiembre de 2020, de forma auto aplicada, y los diálogos sobre el entorno de aprendizaje en febrero de 2021. De los 223 estudiantes que concluyeron, 128 respondieron al cuestionario en línea. El análisis temático buscó las manifestaciones subjetivas de estos alumnos y la información sociodemográfica se trasladó al programa y se calculó según la media numérica. Resultados: de las potencialidades y limitaciones, se destaca la colaboración de la disciplina para el enfrentamiento personal de la pandemia y las dificultades de los estudiantes con el acceso a Internet. Conclusión: es necesario reflejar el futuro de la formación universitaria, de los procesos pedagógicos y de trabajo, además de la infraestructura de las instituciones.

Descriptores: COVID-19; Educación Superior; Educación a Distancia; Enfermería; Salud Mental

 

Introdução

Desde o início da pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), diversas medidas de distanciamento social têm sido adotadas no mundo na tentativa de diminuir o contágio da doença e mitigar a saturação da capacidade do sistema de saúde. Dentre elas, a suspensão das aulas presenciais, que foi realizada em todo o território brasileiro, por meio de decretos municipais, estaduais e federais, desde março de 2020.Sabe-se que a dimensão causada pela COVID-19 provocou uma crise na educação em nível internacional, o que gerou recomendações para a implementação do ensino remoto de emergência e o uso de plataformas online.1-3

A aprendizagem online não foi implementada apenas em resposta à pandemia, pois, uma vez que o desenvolvimento da internet e da tecnologia de rede permitiu que os estudantes aprendessem independentemente de sua localização, esta modalidade foi estendida para alguns cursos de nível superior como substituta parcial ou integral da aprendizagem presencial. Entretanto, os cursos online existentes, são conduzidos de uma forma que segue o planejamento para este formato. Já o ensino remoto, na pandemia, é um formato alternativo, de caráter excepcional e temporário, diferenciando-se da educação a distância típica.1,4-5

As implicações do ensino emergencial para os estudantes, os professores e as instituições de ensino são extensas, complexas e ainda emergentes. Países como Portugal relataram os novos desafios enfrentados no que tange, principalmente, às desigualdades no acesso a meios eletrônicos e às condições socioeconômicas e familiares dos estudantes, que fragilizam o ensino.2 Na Espanha, uma pesquisa realizada com estudantes de Enfermagem encontrou limitações para os estudantes, visto que, para as aulas práticas, é indispensável a presença destes nos serviços de saúde.3

No ensino de Enfermagem, as discussões sobre o ensino remoto surgem muito antes do contexto pandêmico, cujos órgãos de classe como o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), os respectivos conselhos regionais e de controle social, como o Conselho Nacional de Saúde (CNS), não são favoráveis a este tipo de modalidade de ensino, uma vez que ele não garante, aos estudantes, a possibilidade de experienciar práticas integrais no cuidado ao ser humano. Além disso, a forma como esta modalidade é praticada no sistema capitalista reflete em uma grande oferta de cursos de baixo custo e não prioriza a qualidade na sua estrutura pedagógica.6

Porém, neste momento de distanciamento físico, as ferramentas e os recursos tecnológicos podem ser utilizados para apoiar e mediar a aprendizagem em disciplinas online, mantendo um vínculo do estudante com a universidade. E, apesar dos desafios de transpor o ensino para a modalidade remota, docentes também apontam o quanto o momento é desafiador e enriquecedor para a sua prática.7

Dessa forma, a Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desenvolveu, após a aprovação do Calendário Alternativo Acadêmico remoto, a disciplina optativa ‘Saúde Mental e Atenção Psicossocial em Emergências Humanitárias’. Esta foi idealizada como uma forma de instrumentalizar os estudantes universitários para a vivência da pandemia, por meio de informações científicas, além de constituir-se um espaço dinâmico de diálogo com os estudantes.

Portanto, a fim de fornecer dados significativos que podem levar para um maior desenvolvimento do ensino remoto de emergência, este artigo teve como objetivo analisar as potencialidades e os limites do ensino remoto emergencial de uma disciplina de saúde mental no contexto da pandemia da COVID-19.

 

Método

Este estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa realizado a partir de uma disciplina optativa intitulada ‘Saúde Mental e Atenção Psicossocial em Emergências Humanitárias’. Esta, foi ofertada de forma remota e contou com a colaboração de oito doutores docentes da Faculdade de Enfermagem, um doutor da Faculdade de Medicina e cinco estudantes do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), níveis mestrado e doutorado.

Esta foi ofertada, com carga horária total de 34 horas, para toda a comunidade acadêmica da UFPel, sem pré-requisitos buscando abranger o público de estudantes de todos os cursos de graduação da UFPel, ou seja, o estudante poderia matricular-se mesmo sendo ingressante no primeiro semestre de seu curso.

A disciplina foi desenvolvida no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) com acesso por meio da plataforma e-aula da universidade. As estratégias metodológicas realizadas foram atividades assíncronas, com videoaulas, leituras complementares, sugestão de filmes e fóruns de discussões e atividades síncronas, como lives por meio das mídias sociais Youtube e Facebook. Dentre as temáticas trabalhadas na disciplina estão: (a) impactos da pandemia da COVID-19 na saúde mental da população e dos trabalhadores de saúde; (b) princípios gerais de atenção em saúde mental às pessoas em contextos humanitários de emergências comunitárias; (c) estratégias de enfrentamento dos sinais e sintomas de estresse agudo, ansiedade, depressão, enfrentamento do luto e situações de risco de suicídio; (d) utilização de tecnologias em e-Mental Health e (f) atendimento online em saúde mental. 

A disciplina teve início em 26 de junho de 2020 e foi organizada em oito turmas. Neste estudo, foram coletados os dados de três turmas (T51, T52 e T53), que, juntas, totalizaram 223 estudantes que frequentaram a disciplina até o final, sendo 72 na T51, 79 na T52 e 72 na T53. A escolha por estas turmas justifica-se em razão de três autoras deste estudo desenvolverem seu estágio de docência orientada da pós-graduação (mestrado e doutorado), em formato de tutoria, com estes estudantes.  

Durante a disciplina, os estudantes ficaram em contato direto com as tutoras por meio de um espaço de envio de mensagens. Neste importante espaço, as tutoras puderam sanar dúvidas dos estudantes, discutir atividades solicitadas, lembrá-los de atividades pendentes, ajudar em relação à utilização do espaço virtual de aprendizagem e acolher as dificuldades e os agradecimentos.

Ao final da disciplina, foi solicitado, aos estudantes, via AVA, o preenchimento de um questionário online de avaliação, por meio de um link. Antes dos estudantes terem acesso às perguntas, lhes foi apresentado na mesma plataforma, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual solicitava o aceite ou não em participar da pesquisa. Todos os alunos que acessaram o link aceitaram participar do estudo e preencheram o questionário até o final. Não foi realizado teste piloto e não houve preenchimentos duplicados.

O questionário sociodemográfico dos estudantes perguntava informações a respeito do curso, sexo, idade, raça/cor, estado civil, convivência e localidade. A questão aberta perguntava se o estudante recomendaria a disciplina para outra pessoa, solicitando uma justificativa e, além disso, havia um espaço para que ele deixasse sugestões.

Os dados são oriundos do Google Forms e foram coletados nas últimas semanas da disciplina, de 15 a 30 de setembro de 2020, de forma autoaplicável. Além disso, foram coletados os diálogos do ambiente de aprendizagem descrito, em fevereiro de 2021, o que possibilitou analisar as estratégias de ensino-aprendizagem, a participação e as potencialidades e os limites do ensino remoto.

A análise dos dados foi realizada após a transferência dos dados do Google Forms para uma planilha no programa Excel 2010, calculando-os conforme a média numérica no próprio programa e apresentando-os de forma descritiva. Para os dados obtidos no espaço de mensagens da plataforma virtual de aprendizagem e na questão aberta, foi utilizada a análise qualitativa dos dados.

A partir das informações qualitativas, buscou-se extrair, por meio da leitura exaustiva, as manifestações subjetivas desses estudantes que diziam respeito à experiência do ensino remoto com a finalidade de alcançar o objetivo deste estudo. Os conteúdos compuseram o material da análise de dados, que foi baseada na análise temática,8 dividida em três etapas: a primeira refere-se à pré-análise, que consiste na escolha dos materiais que serão analisados e na retomada das hipóteses e dos objetivos iniciais da pesquisa; a segunda é a de exploração do material, que parte de uma operação de classificação visando à compreensão do conteúdo analisado e a terceira e última etapa culmina no tratamento dos resultados obtidos e interpretação, que devem ser realizados de acordo com o conteúdo teórico inicial.

Os trechos foram numerados pela letra E de estudante e, sequencialmente, por números, conforme a ordem de preenchimento no Google forms, respeitando, desta forma, o anonimato dos estudantes. Além disso, qualquer nome ou menção de locais que pudessem ser identificados e/ou reconhecidos foram modificados.

A pesquisa respeitou os preceitos éticos de acordo com as Resoluções nº 466/2012, nº 510/2016 e nº 580/2018 do Ministério da Saúde. É parte do projeto de pesquisa desenvolvido pela Faculdade de Enfermagem da UFPel intitulado ‘Saúde Mental em tempos de pandemia de COVID-19’ e foi aprovada sob o Parecer número 4.186.982, em 1º de agosto de 2020, pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas.

 

Resultados

Das três turmas, que, juntas, totalizaram 223 estudantes, 128 preencheram o formulário de avaliação após o término da disciplina. Observa-se que o sexo feminino representa 71,88% (n=92) e o masculino, 28,13% (36); em relação à faixa etária, em sua maioria, os participantes tinham entre 18 e 24 anos, 70,74% (n=100), seguidos de estudantes com 25 a 39 anos, 23,25% (n=24), e 6,01% (n=4) tinham 40 anos ou mais. Cerca de 78,91% (n=101) eram brancos, 12,50% (n=16) autodeclararam-se pardos, seguidos de pretos (6,25%; n=8) e amarelos (2,34%; n=3); 88,8% (n=113) assinalaram a opção solteiro, 11,72% (n=15) são casados ou convivem com um companheiro ou namorado. 

Em sua maioria, os estudantes eram do Estado do Rio Grande do Sul em 92,97% dos casos (n=119); de São Paulo em 3,91% (n=5); de Minas Gerais em 2,34% (n=3) e 0,78% (n=1) dos estudantes eram do Pará.  Além disso, 110 formulários (77,34%) eram de estudantes da área da saúde, com destaque para: Medicina, com 51 (39,84%); Enfermagem, com 28 (21,88%); Psicologia, com 11 (8,59%); Odontologia, com oito participantes (6,25%); Nutrição, com três (2,34%); Fisioterapia, com dois (1,56%) e Farmácia, com um estudante (0,78%). Dezoito estudantes (14,07%) eram dos demais cursos.

Chegou-se a duas categorias. A primeira, Potencialidade do ensino remoto emergencial em saúde mental, foi subdividida em três subcategorias: Colaboração para o enfrentamento pessoal da pandemia; Conhecimento para o crescimento profissional e Estratégias de organização do conteúdo. A segunda categoria, Limitações do ensino remoto emergencial em saúde mental, foi subdividida em três subcategorias: A escassez de interação no ensino remoto; Dificuldades dos estudantes em relação aos aspectos tecnológicos e Eventos de vida e dificuldades na participação do estudante.

 

Potencialidades do ensino remoto emergencial em saúde mental

Colaboração para o enfrentamento pessoal da pandemia 

Os trechos a seguir evidenciam como a disciplina de saúde mental, de forma remota, pôde contribuir para que os estudantes adquirissem ferramentas para o enfrentamento das mudanças que ocorreram devido à COVID-19, sejam elas devido ao distanciamento social e/ou a questões emocionais vivenciadas. Destaca-se o fato de os estudantes relatarem um aumento do conhecimento em relação à temática, o que possibilitou colocarem em prática, consigo mesmos, as orientações aprendidas na disciplina.

Foi uma disciplina que agregou muito para a formação profissional, já que o tema saúde mental sempre estará presente na profissão, independente de área. Também me auxiliou durante o período de isolamento social, usei vários recursos para lidar com a minha ansiedade. (A67)

Recomendaria não somente pela importância do tema abordado, mas pela manutenção do vínculo aluno/professor/universidade. Está muito difícil para mim assimilar que perdi um ano inteiro de faculdade. (A72)

Nesse período tão difícil, essa disciplina me ensinou a lidar melhor com tudo ao meu redor e a compreender melhor quem está ao meu redor. (A55)

No momento em que estamos passando, para mim, esta disciplina foi um alívio em meio todo este caos, pois pude aprender e, assim, colocar em prática temas que foram abordados pela disciplina; esta experiência foi realmente muito boa, agora estou mais leve frente à situação, e pode, em muitos momentos, aconselhar meus familiares sobre este momento. (A121)

Neste momento de pandemia, é muito importante estudar as questões que nos afetam psicologicamente, além de saber como lidar com as mesmas e, também, saber orientar outras pessoas que se encontrem com dificuldades emocionais. (A106)

 

            Além disso, observa-se que eles avultam a importância do tema abordado e reconhecem a saúde mental como temática presente em diversas profissões. Este conhecimento colaborou para o alívio e tranquilidade psicológica.

 

Conhecimento pessoal e crescimento profissional

Muitos estudantes responderam que recomendariam a disciplina a outros colegas e justificaram a recomendação devido ao crescimento pessoal e profissional que obtiveram neste momento difícil.

Acredito que tenha sido muito proveitosa para minha formação. (A5)

Grande conhecimento adquirido para a vida. (A11)

Recomendaria muito, pois os assuntos abordados na disciplina são extremamente edificantes para qualquer profissional da área da saúde. (A26)

A disciplina possibilitou conhecimentos grandiosos no que se refere à vida, sentimentos, emoções, entender processos [...]. Enriquecedor para qualquer pessoa e formação. (A27)

Importante para o atual contexto e futuras situações semelhantes, atentando-nos à saúde mental. (A87)

 

O conhecimento relatado também foi destacado como ensinamentos para a vida seja no presente ou para situações futuras, o que possibilitou perceber melhor seus sentimentos e emoções vivenciados durante a pandemia.

 

Estratégias de organização do conteúdo

Em relação às potencialidades da metodologia utilizada, os estudantes ressaltaram que, com as atividades assíncronas, era possível realizar as tarefas em momentos mais propícios para eles. Outro ponto discutido é a diversidade dos meios de apresentação do conteúdo, como aulas gravadas em vídeo, fórum, leituras e lives.

Pelo fato de ser uma cadeira [disciplina] bem tranquila, com bastantes atividades assíncronas, te permitindo realizar no seu melhor momento, com textos, videoaulas, lives e todos os materiais de apoio superimportantes para um melhor entendimento sobre o assunto de cada módulo. (A3)

Frente ao momento difícil no qual estamos passando, a disciplina agregou muito em conhecimento e troca de experiência com os colegas no fórum. A disciplina me instigou a cada aula a fazer pesquisas e a saber mais sobre cada assunto. A organização dos professores e tutores ajudou muito! Tudo bem explicadinho e de fácil acesso e entendimento. Gostaria de agradecer o empenho em cada fase dessa disciplina. Foi uma experiência muito rica! (A103)

Sou grata pela oportunidade de cursar a disciplina e por todos os conhecimentos que adquiri através dela com as aulas, as lives, as leituras, os disparadores e com os fóruns e com os profissionais maravilhosos envolvidos! Importantíssima a interação que nos foi possibilitada, mesmo que de maneira adaptada. (A125)

Pela organização da disciplina, forma de avaliação e atenção dos tutores com os alunos. (A8)

Disciplina muito organizada, tarefas bem delineadas, sempre oferecidas instruções claras de cada semana e assuntos abordados relevantes. Tive uma ótima experiência com a disciplina optativa, melhor que minhas expectativas inclusive! Muitos profissionais mais que competentes ministrando a disciplina. (A15)

Acredito que a disciplina foi muito organizada e deixou todos os discentes bastante confortáveis e tranquilos para realizar as atividades. Além disso, os conteúdos são bem contextualizados com a nossa realidade e são pertinentes ao nosso meio. Foi uma excelente experiência. (A24)

Por ser uma disciplina que trabalha assuntos com um olhar multidisciplinar e acho isso muito importante e rico. (A71)

Os temas tratados foram muito interessantes, desde temas como a ansiedade e a depressão, até novidades no campo da saúde como o e-health. (A110)

 

A organização da disciplina foi um ponto comentado por eles diversas vezes, além da forma de avaliação, atenção dada pelos tutores, discussões multiprofissionais e a relevância dos conteúdos abordados. Os estudantes destacaram pontos importantes em relação a didática evidenciando as instruções claras e os conteúdos contextualizados com a realidade regional e nacional.

 

Limitações do ensino remoto emergencial em saúde mental

A escassez de interação no ensino remoto

Da mesma forma que alguns estudantes ressaltaram a metodologia como ponto positivo, outros, por sua vez, relataram as limitações e os pontos que poderiam ser modificados. Os principais apontamentos foram em relação à pouca dinamicidade das aulas gravadas, ao fórum de discussão, que, por vezes, ocorreu com pouca interação entre os estudantes, com publicações genéricas e pouco reflexivas, e à falta de espaços síncronos de discussões com o objetivo de tirar dúvidas. 

Ressaltaram também a falta de algumas alternativas de ensino a distância como a webconferência ou ainda as aulas síncronas.

Sim, porém, pela metade da disciplina, passou a ser muito cansativa as videoaulas, [...]. Não me sentia com vontade de publicar qualquer coisa no fórum geral. Senti falta de uma reflexão durante as aulas, de questionar aqueles conhecimentos expostos nos manuais obrigatórios. (A32)

[...] com o fórum aberto, lia-se apenas afirmações genéricas acerca do tema da semana, algumas vezes, entremeadas com relatos pessoais, o que lhe motivava a fazer, basicamente, o mesmo, poucas vezes fugindo de determinado roteiro, contribuindo para a monotonia. Ressalto que, muito em conta de algumas temáticas, a disciplina reavivava o interesse do aluno, mas a lógica das participações era a mesma, o que voltava a arrefecer tal ânimo. (A88)

Na minha opinião, para ter um aproveitamento geral ótimo, só faltou a interação entre os professores e alunos, principalmente para tirar as dúvidas sobre o conteúdo da semana. (A102)

O problema que ocorreu (em minha opinião) é a metodologia EAD, o contato aluno - professor - colegas é muito complicado e o fórum acaba não sendo uma forma de interação. (A82)

A ideia do fórum é muito interessante, porém, acredito que não deveria ser obrigatório, mas sim um ambiente para tirar dúvidas e fazer comentários relevantes. (A111)

 

Para alguns deles, o principal problema é o próprio ensino remoto devido à falta de interação presencial do estudante com professores e colegas. Espaços para sanar as dúvidas e realizar comentários livres foram pontuados como necessários. No entanto, estes não devem possuir caráter obrigatório.

 

Dificuldades dos estudantes em relação aos aspectos tecnológicos

 As limitações para o ensino remoto emergencial foram relatadas destacando as dificuldades com o acesso à internet, a falta de familiaridade com o AVA e a falta de equipamentos para o desenvolvimento das tarefas.

Só gostaria de avisar que eu estou com alguns conteúdos da disciplina atrasados porque meu notebook estragou há duas semanas, demorou para chegar a peça para arrumar e só consegui pegar ele hoje. [...] Peço desculpas pelo atraso, espero que isso não me prejudique na nota final. (A88) 

Meu notebook é bem antigo e acabou dando problema logo nessa época que eu mais precisava. Enfim, espero que vocês entendam, abraços! (A40)

[...] acredito ter feito da forma certa, mas ainda estou em dúvida, [...] (A66)

Estou em atividade de trabalho no município do interior e custei um pouco a me inteirar da disciplina por problemas de internet. Mas agora já consegui realizar as atividades e estou lendo a bibliografia obrigatória. (A128)

Estava com alguns problemas no acesso, agora estou normalizando, trabalho na área da segurança pública e estamos com uma demanda grande de serviço devido à pandemia, mas pretendo me organizar nos estudos sim, acho muito importante a disciplina. (A57)

[...] estou tendo dificuldades para acessar a plataforma e postar as mensagens no fórum geral, pois não entendi ainda como funciona. (A75)

A única dificuldade que tive foi em relação à diagramação do site e disposição do conteúdo, às vezes, não sabia em qual fórum comentar ou em qual tópico era obrigatório opinar. (A97)

Achei muito complicado [a plataforma para o envio da tarefa], não consegui enviar. Posso mandar por e-mail? [...] (A124)

[...] Nesta quarentena, estou isolado na fazenda com meus pais. A internet rural é bem ruim e tenho acessado bem pouco a internet. (A63)

 

As dificuldades relatadas impactaram, segundo os estudantes, no cumprimento dos prazos para acesso e leituras do conteúdo, no desenvolvimento e envio das tarefas.

 

Eventos de vida e dificuldades na participação do estudante   

Questões de cunho pessoal, principalmente relacionadas com a saúde mental dos estudantes, afetaram a participação na disciplina. Além disso, problemas de saúde de familiares também apareceram como um fator limitante. Outros aspectos discutidos foram as dificuldades com a rotina diária, que precisa ser dividida entre o estudo e o trabalho.

[...] Tive diversos problemas durante essa semana relacionados à minha saúde mental, não tive a possibilidade de tocar em nenhum dos meus afazeres desde o início da semana passada [...]. (A101)

Me ausentei da disciplina, pois, infelizmente, minha avó precisou ser internada e minha mãe testou positivo para COVID, foram duas semanas bem difíceis! Mas espero conseguir voltar à rotina de estudos o mais rápido possível! (A50)

[...] eu já sou profissional da área da saúde e da linha de frente na UTI geral e UTI COVID do [...], estive afastada sem poder participar dos fóruns, mas, essa semana, assisti a todas as aulas que estavam disponibilizadas, eu, como da linha de frente, contraí o vírus da COVID-19 e tenho passado dias terríveis. (A67)

Trabalho em supermercado e está sendo desgastante para mim esses dias de pandemia. (A36)

Tive dificuldades em manter a assiduidade e acabei perdendo atividades, mas fui notificada e comunicada pelos orientadores da disciplina, achei ótimo. Não só pelo interesse deles como orientadores, mas, sobretudo, como seres humanos que se importaram com a minha ausência. (A128)

 

Os trechos demonstram as incertezas dos estudantes em meio à pandemia. No entanto, estes apresentam a preocupação em justificar a ausência no desenvolvimento das atividades e ressaltam a continuidade das tarefas. Além disso, o acompanhamento por porte dos tutores parece influenciar positivamente a participação dos alunos na disciplina.

 

Discussão

Os dados sociodemográficos deste estudo revelaram que os estudantes da disciplina eram em sua maioria mulheres, entre 18 e 24 anos, brancas e solteiras. Do Estado do Rio Grande do Sul, da área da saúde e cursando Medicina.

Apesar de tratar-se de um recorte da UFPel estes dados são similares aos encontrados na pesquisa nacional que identificou o perfil socioeconômico dos estudantes de graduação das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), diferindo na raça em que 51,2% da população pesquisada é negra.9

Embora os estudantes da disciplina sejam, em sua maioria, brancos, a democratização do acesso ao Ensino Superior, com maior ampliação do número IFES, cursos e vagas, com a possibilidade de mobilidade territorial por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e do Sistema de Seleção Unificada (SISU) e da reserva de vagas para estudantes com origem em escolas públicas, modificou o perfil da geração de estudantes dos cursos de graduação das universidades federais.9

Os professores da disciplina propuseram o estabelecimento de uma relação mais próxima e de confiança com os estudantes. Desse modo, os tutores estavam presentes, mesmo de maneira remota, pela plataforma online da universidade, construindo diálogos e aprendizados por meio de trocas horizontais que facilitaram a busca do conhecimento pelos estudantes, além da possibilidade de dialogarem sobre suas dificuldades, receios e percepções do processo de aprendizagem.

Os efeitos negativos do isolamento social para a saúde mental são amplamente comprovados pela literatura científica e isso não diverge da população universitária.10-11 Estudo com 217 estudantes de Medicina verificou a prevalência de depressão em 35,5% dos entrevistados e de ansiedade em 22,1% durante a pandemia da COVID-19. A maioria dos estudantes que se encontravam em estado de depressão ou ansiedade tinha sintomas leves ou moderados.12

Para tanto, além do sofrimento mental, a pandemia contribuiu para o atraso acadêmico dos estudantes e para a ociosidade, deixando-os, por vezes, mais ansiosos ou deprimidos, o que pode impactar o processo de ensino-aprendizagem. Há ainda questões relacionadas com a incerteza quanto ao futuro e com a possibilidade de eles encontrarem um emprego. Assim, por ser uma temática que, em algum momento, poderia alertá-los sobre seu estado de saúde mental durante o distanciamento social provocado pela COVID-19, bem como a saúde mental de amigos, familiares e pessoas próximas, para alguns estudantes, a disciplina contribuiu com ferramentas para o enfrentamento de suas emoções e sentimentos. 

Além disso, a disciplina foi importante também para a continuação do sentimento de pertencimento a algum lugar ou a algum grupo, mantendo o vínculo com a universidade. O espaço universitário, enquanto território ‘usado’, torna-se, para o jovem, um espaço de pertencimento devido à convivência diária, espaço este que integra os diferentes conhecimentos, saberes e afetos dos envolvidos. Este importante ambiente foi perdido, mesmo que temporariamente, na pandemia e, nesse processo, alguns estudantes, por momentos, precisaram ressignificar os acontecimentos daquele instante, tentando voltar, aos poucos, à retomada das suas atividades acadêmicas. 

Para tanto, foram necessárias novas atitudes diante do ensino remoto, como a convivência constante com o ambiente virtual, aprender a ser autônomo no processo de aprendizagem e explorar novos recursos digitais e de comunicação, estratégias estas que o estudante precisou desenvolver. Além disso, mesmo que os estudantes não estejam fisicamente na universidade, “consideram a adaptação institucional como importante aspecto para o processo de adaptação do estudante ao Ensino Superior na modalidade a distância”.13:9

Dessa forma, o ambiente de aprendizagem deve oferecer, ao estudante, diversos instrumentos para que essa socialização possa ocorrer. Isso pode advir de maneira diversificada por meio de videoaulas, chat, fóruns de dúvidas, espaços para avisos da instituição, de forma organizada e de fácil acesso, para que o estudante permaneça motivado a aprender.13

Ressalta-se que o ajuste importante a ser feito, da forma presencial para a forma remota, é o aproveitamento das ferramentas digitais e das diversas possibilidades das atividades assíncronas em que os participantes não precisam se comunicar simultaneamente. O trabalho assíncrono dá, aos professores, flexibilidade na preparação de materiais de aprendizagem e permite que os estudantes lidem com as demandas de casa e do estudo de forma mais flexível e autônoma. Além disso, os professores podem verificar a participação dos estudantes periodicamente e marcar conversas online para necessidades ou perguntas específicas.14

Porém, aprender de modo autônomo e desenvolver habilidades para a utilização das tecnologias e motivação extra para os estudos, para alguns deles, podem tornar-se fatores limitantes. Em contrapartida, os professores também precisaram transpor conteúdos, adaptando-os às plataformas online. Essa rápida mudança, sem prévia preparação para isso ou com preparação superficial, expôs as fragilidades pedagógicas do professor, como a falta de familiaridade com o ambiente virtual, também citada pelos estudantes, limitando e/ou dificultando sua aprendizagem.7

Em estudo, que teve como objetivo identificar os recursos e as práticas recorrentes nos ambientes virtuais de aprendizagem durante a formação em contexto online, concluiu que o AVA é a tecnologia mais empregada nas práticas formativas em contexto online, sendo o Moodle o mais adotado nas Instituições de Ensino Superior. Em relação aos recursos destas plataformas, alguns deles, tais como a webconferência e a integração com videoconferência, são subutilizados. Já o fórum e o chat são agregados de forma recorrente, mas nem sempre de forma coerente quanto às finalidades desses recursos.15

Sobre o fórum, observa-se que as pesquisas mostraram que sua utilização pouco tem avançado naquilo que seria a realização de um trabalho colaborativo e interativo, que vise à aprendizagem multidimensional, multidirecional. Porém, mesmo havendo certa movimentação docente para isso, algumas práticas pedagógicas ainda têm se fundado em conceitos unidirecionais de ensino e no entendimento de que o recurso, por si só, é capaz de promover a interação. Tais práticas, por não terem subjacentes concepções e teorias apropriadas ao contexto da cultura digital, não contam com as mediações e intervenções necessárias, resultando em pouca participação discente, perda de foco nos debates, desvio de função de determinados fóruns e na pouca colaboração entre os integrantes.15

Em relação à utilização do chat, os atores discutem ainda que o uso é modesto e não contempla a participação constante de todos, sendo parcialmente aproveitado pelos docentes.15 No caso deste estudo, a disciplina em questão utilizou este recurso como uma forma de feedback dos tutores aos estudantes. 

No entanto, ressalta-se que por mais que as estratégias sejam realizadas em um ambiente interativo, por meio de diversos recursos, a pandemia revelou outro fator limitante do ensino remoto: a falta de infraestrutura e de recursos tecnológicos no cotidiano universitário para a inclusão digital. E “se antes a dificuldade estava em chegar até as escolas, agora muitos estudantes vão enfrentar o fato de não terem recursos suficientes para acompanhar as aulas online e executar as atividades solicitadas”.16:58

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) investigou, em 2018, o acesso à internet e à televisão e a posse de celular para uso pessoal. Evidenciou-se que uma em cada quatro pessoas não tem acesso à internet no Brasil. Além disso, houve um declínio lento no número de domicílios em que havia microcomputador e ainda que, em 99,2% dos domicílios em que havia a utilização da internet, o telefone móvel celular era utilizado para este fim.17

Enquanto uma parte da população predominantemente branca acessa os recursos disponíveis em rede a partir da sua casa, com equipamentos de áudio e vídeo, possibilitando a participação na educação remota emergencial, outra parte da população, majoritariamente negra, só tem acesso a essas tecnologias a partir da escola ou dos centros públicos, instituições essas, temporariamente, fechadas por conta do distanciamento social, o que, consequentemente, impede o acompanhamento das atividades educativas. Veem-se, assim, uma concentração de pobreza e uma desconcentração de oportunidades, agravando as desigualdades educacionais e sociais já existentes no país.18

O acesso às tecnologias constitui-se como condição técnica básica e indispensável para a efetivação da inclusão digital. Porém, a falta de acesso à internet e a baixa qualidade dos equipamentos, como celulares e computadores, são uma realidade da população brasileira. Isso pode resultar em má comunicação com o professor e/ou tutor, impossibilidade de colaborar, de forma eficaz, com os colegas e falta de retorno do professor para com o estudante.

Ressalta-se que a ideia de acesso livre e de inclusão digital possui um sentido superficial se não se alterarem questões estruturais como a desigualdade social. Além disso, existe um potencial de deterioração da relação didática e pedagógica na qual muitos professores passam a ser reprodutores de tecnologias, pois acabam implantando pacotes educacionais prontos sem o desenvolvimento de um processo educativo crítico e reflexivo.6

Outros fatores relevantes que surgiram após a análise dos trechos foram as dificuldades com a rotina e as questões de cunho pessoal relacionadas à saúde dos próprios estudantes e seus familiares. Destaca-se que, há certo tempo, os estudantes dirigiam-se ao ambiente da universidade por meio próprio ou transporte público e, depois de cumprir suas atividades, retornavam para as suas casas. Ao fazerem isso, estes tinham tempo para processar a mudança nas funções de estudante para pai, mãe, filho, dentre outros, e reingressar em sua vida pessoal. Porém, agora, entre aprender em casa durante a COVID-19 e realizar as diversas tarefas do ambiente familiar, aquele tempo de transição, bem como a separação física, é praticamente inexistente.

As instituições e os sistemas educacionais devem fazer esforços especiais para dar suporte aos estudantes que não possuem rede de apoio e cujos ambientes domésticos não são propícios ao estudo. Além disso, ressalta-se que, quando as pessoas estão confinadas em suas residências, os responsáveis pela manutenção financeira ​​podem estar profundamente preocupados com o seu próprio futuro econômico e, portanto, estudar em casa pode tornar-se uma tarefa difícil, especialmente para aqueles com pouca motivação.13

Para tanto, mesmo que as instituições façam as mudanças necessárias para ensinar de maneiras diferentes e que os estudantes possuam uma ambiência e acesso tecnológico adequado, a situação sanitária do país pode influenciar a aprendizagem, sejam ela por meio de preocupação dos estudantes com a própria saúde ou de familiares ou por eles trabalharem em locais com contato frequente com a COVID-19. Estar trabalhando em meio a um momento difícil como uma pandemia, em que alguns setores possuem uma maior sobrecarga de trabalho, pode ocasionar o afastamento do estudante da sala de aula virtual.

Este fato também pode estar relacionado com o receio de infectar familiares, a vivência de medos e incertezas quanto à mortalidade e morbidade da doença e o enfrentamento da morte de pessoas conhecidas. Em relação aos profissionais de saúde, a literatura ampla de países como Alemanha, Japão, Singapura, China e Suíça evidenciou um aumento dos riscos à saúde mental, principalmente altos níveis de estresse, exaustão, humor deprimido e ansiedade durante a pandemia.19-20

Espera-se que os empregadores adotem ações e estratégias para a capacitação dos trabalhadores em relação aos meios de transmissão do vírus, medidas para a diminuição da disseminação da doença, sinais e sintomas e diagnóstico. Neste ponto, a disciplina ofertada possibilitou a discussão destes assuntos, auxiliando nas informações e orientações sobre a COVID-19 para os estudantes. Ressalta-se que os trabalhadores(as) que se mantêm em atividade de trabalho durante a pandemia (sem possibilidade de adoção do distanciamento social) devem ser prioritariamente alvo de atenção para controlar a disseminação da doença e proteger a vida.21

Dessa forma, a pandemia desorganizou o que está posto na universidade e gerou, de certa forma, mesmo que a priori, uma resistência tanto para os docentes quanto para os alunos. Porém, essa resistência não se constitui somente como algo negativo, mas sim permite despontar as potências existentes nas universidades.

A pesquisa realizada apresentou limitações quanto à abrangência, uma vez que apenas os estudantes de uma disciplina emergencial foram incluídos. Por tratar-se de uma abordagem qualitativo, os resultados não são generalizáveis. Além disso, a coleta de dados deu-se antes do pico da pandemia na região, o que confere especificidades aos resultados. Igualmente, a coleta de dados por instrumento online autoaplicado pode apresentar um viés. Portanto, estudos futuros devem abranger a perspectiva de professores e técnicos administrativos das universidades e outras disciplinas e/ou cursos, com metodologias variadas.

Colaborou-se com a disseminação de informações de fontes confiáveis sobre a pandemia e forneceu um suporte aos estudantes, via fórum grupal e no privado, para o enfrentamento das mudanças no ensino decorrentes da pandemia. Contribui, ainda, para as discussões a respeito do ensino emergencial em disciplinas nas universidades na perspectiva dos estudantes, expandindo as possibilidades de desenvolvimento e aperfeiçoamento das metodologias de ensino nesta modalidade.

O estudo contribui para reflexões a respeito do futuro da formação universitária, dos processos pedagógicos e de trabalho, além da infraestrutura das instituições e das condições socioeconômicas dos estudantes. Além disso, esta pesquisa estimulará docentes a refletirem sobre o ensino remoto, principalmente na área da saúde, uma vez que esta requer atividades práticas, de forma que estes possam adotar ou não a estratégia para determinados assuntos e/ou disciplinas.

 

Conclusão

As principais potencialidades observadas foram relacionadas à colaboração da disciplina para o enfrentamento pessoal da pandemia, ao crescimento profissional adquirido e aos recursos metodológicos utilizados. Este último, por sua vez, também se mostrou um fator limitante, principalmente devido às dificuldades com o acesso à internet e à falta de equipamentos para o desenvolvimento das tarefas. Outras limitações, foram a saúde mental dos estudantes, os problemas de saúde de familiares e a rotina diária, que precisou ser dividida entre o estudo e o trabalho.

 

Referências

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3. Ramos-Morcillo AJ, Leal-Costa C, Moral-García JE, Ruzafa-Martínez M. Experiences of nursing students during the abrupt change from face-to-face to e-learning education during the first month of confinement due to COVID-19 in Spain. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(15):e5519. doi: 10.3390/ijerph17155519

4. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Ministério da Educação, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 14 maio 2021.

5. BRASIL. Decreto nº 9.235, de 15 de dezembro de 2017. Dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação das instituições de educação superior e dos cursos superiores de graduação e de pós-graduação no sistema federal de ensino. Brasília, DF: Presidência da República, 2017. Disponível em:  http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/D9235.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%209.235%2C%20DE%2015,no%20sistema%20federal%20de%20ensino. Acesso em: 14 maio 2020.

6. Sanes MS, Neves FB, Pereira LEM, Ramos FRS, Brehmer LCF, Vargas MAO, et al. No to distance education! Production of meaning of discourses of nursing representative entities. Rev Bras Enferm. 2020;73(5):e20190465. doi: 10.1590/0034-7167-2019-0465 

7. Rondini CA, Pedro KM, Duarte CS. Pandemia da Covid-19 e o ensino remoto emergencial: mudanças na prática pedagógica. Interfaces Cient Educ. 2020;10(1):41-57. doi: 10.17564/2316-3828.2020v10n1p41-57

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9. Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES). V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos (as) Graduandos (as) das IFES – 2018 [Internet]. São Paulo: ANDIFES; 2018 [acesso em 2021 maio 14]. 316 p. Disponível em: https://www.andifes.org.br/wp-content/uploads/2019/05/V-Pesquisa-Nacional-de-Perfil-Socioeconomico-e-Cultural-dos-as-Graduandos-as-das-IFES-2018.pdf

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Fomento / Agradecimento: ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CNPq; bolsa de produtividade em pesquisa nível 1C); à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES; bolsas de mestrado).

 

Contribuições de autoria:

 

1 – Luciane Prado Kantorski

Autor Correspondente

Enfermeira, Doutora - E-mail: kantorskiluciane@gmail.com

Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação.

 

2 – Carla Gabriela Wünsch

Enfermeira, Mestra - E-mail: carlagabi20@hotmail.com

Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação.

 

3 – Thylia Teixeira Souza

Enfermeira, Mestra - E-mail: thyliatsouza@gmail.com

Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação.

 

4 – Taís Alves Farias

Enfermeira, Mestra - E-mail: tais_alves15@hotmail.com

Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação.

 

5 – Michele Mandagará de Oliveira

Enfermeira, Doutora - E-mail: mandagara@hotmail.com

Revisão e aprovação da versão final.

 

Editora Científica Chefe: Cristiane Cardoso de Paula

Editora Associada: Daiana Foggiato de Siqueira

 

Como citar este artigo

Kantorski LP, Wünsch CG, Souza TT, Farias TA, Oliveira MM. Emergency mental health teaching in the context of COVID-19. Rev. Enferm. UFSM. 2022 [Accessed on: Year Month Day]; vol.12 e25: 1-20. DOI: https://doi.org/10.5902/2179769268178