Logotipo

Descrição gerada automaticamente

Desenho em preto e branco

Descrição gerada automaticamente com confiança média

 

 

 

 

 

Rev. Enferm. UFSM, v.12, e29, p.1-12, 2022

https://doi.org/10.5902/2179769266551

ISSN 2179-7692

Submissão: 02/07/2021 • Aprovação: 05/04/2022 • Publicação: 19/07/2022

Tela de computador com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Introdução. 1

Método. 1

Resultados da experiência. 1

Conclusão. 1

Referências. 1

 

Relato de Experiência

A experiência de se elaborar uma tecnologia cuidativo-educacional à luz da Teoria das Transições

The experience of developing a care-educational technology in the light

of the Theory of Transitions

La experiencia de desarrollar una tecnología educativa sobre el cuidado a la luz de la Teoría de las Transiciones

 

Marina Nolli BittencourtIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Bruna Hinnah Borges de FreitasIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Samira Reschetti MarconIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Angellica Fernandes de OliveiraIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Valquiria Mira LandimIÍcone

Descrição gerada automaticamente

Darci Francisco dos Santos JuniorIIÍcone

Descrição gerada automaticamente

 

I Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil

IIUniversidadade Federal do Amapá, Macapá, Amapá, Brasil

 

 

Resumo

Objetivo: relatar a experiência da primeira fase da elaboração de uma tecnologia cuidativo-educacional (TCE) para a promoção da saúde mental infantil. Método: relato de experiência, sobre a primeira fase da elaboração de um manual à luz da Teoria das Transições de Meleis e do Modelo de Inteligência Emocional de Goleman. Resultados: o manual foi elaborado considerando a infância como um período de natureza desenvolvimental, tendo como facilitadores a escola e as características emocionais positivas da criança, podendo ser inibida por fatores relacionados ao contexto social negativo. Em relação ao padrão de resposta, obteve-se um padrão de resposta emocional positivo da criança, por meio da promoção da saúde mental, a partir do fortalecimento das competências emocionais das crianças. Conclusão: a escolha da Teoria promove a comunicação de forma efetiva e a utilização do Modelo de Inteligência Emocional de Goleman possibilita que a TCE obtenha compreensão, multiplicação e execução.

Descritores: Teoria de Enfermagem; Promoção da Saúde; Saúde Mental; Criança; Inteligência Emocional

 

Abstract

Objective: to report the experience of the first phase of the development of a care-educational technology for the promotion of children’s mental health. Method: this is an experience report about the first phase of the elaboration of a manual in the light of Meleis’ Transitions Theory and Goleman’s Emotional Intelligence Model. Results: the manual should be prepared considering childhood as a period of a developmental nature, having as facilitators the school and the child’s positive emotional characteristics, which may be inhibited by factors related to the negative social context. Regarding the pattern of response, it was expected that the manual would seek a pattern of positive emotional response from the child, through the promotion of mental health, from the strengthening of children’s emotional skills. Conclusion: the choice of Theory promotes effective communication and the use of Goleman's Emotional Intelligence Model enables the manual to obtain understanding, multiplication and execution.

Descriptors: Nursing theory; Health promotion; Mental health; Child; Emotional intelligence

 

Resumen

Objetivo: reportar la experiencia de la primera fase de la preparación de una tecnología educativa sobre el cuidado para la promoción de la salud mental infantil. Método: se trata de un relato de experiencia sobre la primera fase de la elaboración de un manual a la luz de la Teoría de las Transiciones de Meleis y del Modelo de Inteligencia Emocional de Goleman. Resultados: el guía debe ser preparado considerando la infancia como un período de carácter de desarrollo, teniendo como facilitadores la escuela y las características emocionales positivas del niño, que pueden ser inhibidas por factores relacionados con el contexto social negativo. En cuanto al patrón de respuesta, se esperaba que el guía buscara un patrón de respuesta emocional positiva del niño, mediante la promoción de la salud mental, a partir del fortalecimiento de las habilidades emocionales de los niños. Conclusión: la elección de la Teoría promueve la comunicación efectiva y el uso del Modelo de Inteligencia Emocional de Goleman posibilita que el manual obtenga comprensión, multiplicación y ejecución.

Descriptores: Teoría de enfermería; Promoción de la salud; Salud mental; Niño; Inteligencia emocional

 

Introdução

Os enfermeiros possuem um papel fundamental na promoção de saúde da população, especialmente quando são direcionadas às pessoas que estão em vulnerabilidade social, indivíduos mais expostos a riscos e agravos, pois esses são propensos a terem sofrimento psíquico, com impacto na qualidade de vida e bem-estar. Tal situação pode afetar o desenvolvimento das crianças, que é caracterizado como transição ineficaz, e o cuidado ofertado devido não serem ofertadas as condições favoráveis para tal evolução, que é a insuficiência do papel.1-2

As ações de promoção da saúde, lideradas pelo enfermeiro, que tenham como objetivo de promover a qualidade de vida e a diminuição da vulnerabilidade são essenciais para garantir melhores condições ao indivíduo.3 Assim, ao pensar nessa promoção, é importante considerar o aspecto mental, pois não há progresso global, dessa maneira é preciso englobar as dimensões biológica, psíquica e social dos indivíduos.3-4

No que tange a infância, as ações devem ser ainda mais cuidadosas, pois é uma fase em que se passa por uma intensa evolução biopsicossocioespiritual e, por isso, são mais suscetíveis ao aparecimento de transtornos mentais, os quais podem influenciar negativamente em seu desenvolvimento ao longo da vida.4 Então, ao cuidar da saúde mental nessa faixa etária, é preciso incluir o componente emocional/relacional. Esse cuidado deve ser construído a partir dos aspectos culturais, permeado por diferentes experiências e pautado nas relações com o meio e com o outro, tomando a criança como capaz de se afetar e produzir afetos no outro.5

Dessa forma, considera-se que a criança passa por um período de intensas transições, as quais são afetadas por diversos fatores (positivos e negativos), conforme descrito na Teoria das Transições de Afaf Meleis, o enfermeiro consegue realizar a avaliação tendo em conta as características transacionais como o surgimento de necessidades ou mudança nas relações vivenciadas por ela.6 Dessa maneira, torna-se capaz de propor ações de prevenção, promoção e intervenção terapêutica de cuidados nesses processo.2,7 A proposição de ações do enfermeiro na promoção da saúde mental fundamentadas em teorias da enfermagem, não só fortalecem as modificações de atitudes e práticas de vida saudáveis por parte da criança, como também fortalecem a profissão de forma científica e positiva.8

Os enfermeiros podem utilizar diversas tecnologias para realizar com criatividade o processo que alia o cuidado e a educação, dentre elas, destacam-se as Tecnologias Cuidativo-Educacionais (TCE).9-10  Elas se inserem na práxis da Enfermagem sob uma perspectiva que alia o cuidar ao educar, proporcionando aos indivíduos o desenvolvimento da crítica, construção e fortalecimento do conhecimento.10 Assim, ao investir na edificação, validação e avaliação de materiais educativos a fim de se tornarem TCE, auxilia-se o enfermeiro no exercício de suas atividades de forma ágil, criativa, confiável e comprometida com a saúde e a assistência prestada.11

Considerando a infância como um período de intensas transições desenvolvimentais, na qual o enfermeiro é agente estratégico na proposição de intervenções terapêuticas, este estudo tem como objetivo: relatar a experiência da primeira fase da elaboração de uma tecnologia cuidativo-educacional para a promoção da saúde mental infantil.

 

Método

Trata-se de um relato de experiência, sobre a primeira fase de elaboração de um manual de promoção da saúde mental infantil à luz da Teoria das Transições de Afaf Meleis e do Modelo de Inteligência Emocional de Daniel Goleman. O manual foi escolhido como formato da TCE devido ser um guia de instrução que pode ser entendido por pessoas comuns e reproduzido com facilidade, o qual posteriormente chamado de “Sinto, logo penso” foi um produto do projeto de extensão “Promoção de saúde mental nas escolas: estímulo e desenvolvimento da inteligência emocional em crianças” da Universidade Federal do Amapá, desenvolvido de janeiro a dezembro de 2018.

Essa TCE foi desenvolvida por enfermeiros, pesquisadores e estudantes de enfermagem. O intuito foi de promover a saúde mental infantil por meio de oficinas a serem implementadas por tais profissionais às crianças de 8 a 12 anos nos serviços de Atenção Básica em saúde, pelo Programa de Saúde na Escola. As oficinas que compõem esse manual se propõem a estimular o gerenciamento e enfrentamento emocional nas diversas transições vivenciadas no cotidiano, utilizando estratégias que englobam os conceitos da Inteligência Emocional: Autoconsciência, Autorregulação, Automotivação e Empatia.12-14

Considerando que, para atingir o objetivo de promover a saúde mental, as crianças deverão passar por uma transição, uma mudança no estado de saúde ou nas relações, expectativas ou habilidades de papéis, tal situação requer de enfrentamento na perspectiva do desenvolvimento delas. Essa etapa requer que a pessoa incorpore novos conhecimentos, altere o comportamento e, portanto, mude a definição de si mesmo no contexto social. Essas modificações são eventos de desenvolvimento, situacionais ou de saúde-doença, de ordem psicossocial e/ou biofisiológico. A própria passagem da infância para a adolescência tem o potencial de estar associada a problemas subsequentes, como os agravos de saúde mental, por isso requer uma abordagem apropriada por parte dos enfermeiros.6

Neste sentido, para fundamentar o manual, utilizou-se como primeira etapa de elaboração o fluxograma proposto pela Teoria das Transições de Afaf Meleis. Essa teoria busca compreender a natureza e as respostas à mudança, facilitando a experiência e respondendo às suas diferentes fases, e promovendo saúde e bem-estar. Fornece uma estrutura que orienta o cuidado eficaz antes, durante e após a transição. Assim, os enfermeiros tornam-se capazes de preparar os indivíduos e famílias para as etapas de desenvolvimento, processo de saúde-doença, cuidar deles durante as mudanças e melhorar seu bem-estar e a qualidade de suas vidas.

Os objetivos do fluxograma são garantir que eles sejam capazes de lidar com as mudanças que experimentam em sua saúde e encontram em seu ambiente e emergir sendo capazes de funcionar em todas as suas capacidades, por meio da aquisição de conhecimentos, habilidades, estratégias e competências psicossociais para lidar com a experiência de transformação e as respostas.6

A Teoria das Transições é composta pela natureza das transições (tipos, padrões e propriedades); condicionantes facilitadores e inibidores da transição (pessoais, comunidade e sociedade); padrões de resposta (indicadores de processos e indicadores de resultados) e terapêutica de enfermagem.6 A teoria foi aplicada no manual devido o gerenciamento e enfrentamento emocional nas diversas situações vivenciadas no cotidiano.

Além disso, utilizou-se o Modelo de Inteligência Emocional de Daniel Goleman para formular os eixos e conceitos do manual. Além de direcionar os indicadores de resultados da proposta do manual. Para o autor, a inteligência emocional pode ser compreendida como a capacidade de o indivíduo identificar os seus próprios sentimentos e os dos outros, de se motivar e de gerir bem as emoções e os relacionamentos interpessoais. Segundo ele, o controle das emoções é essencial para o desenvolvimento da inteligência de um indivíduo.

Esse modelo é composto por cinco competências e habilidades, a saber: a) Autoconsciência – capacidade de reconhecer as próprias emoções; b) Autorregulação – capacidade de lidar com as próprias emoções; c) Automotivação – capacidade de se motivar e de se manter motivado; d) Empatia – capacidade de enxergar as situações pela perspectiva dos outros; e) Habilidades sociais – conjunto de capacidades envolvidas na interação social.12 Este modelo foi adotado uma vez que se compreende que, para promover a saúde mental infantil é preciso abordar essas competências e habilidades, para que a criança seja capaz de desenvolver a inteligência emocional requerida em seus processos transicionais.

Vale ressaltar que esse estudo se trata do relato de experiência da primeira etapa de elaboração desse manual a luz da Teoria das Transições e do modelo de inteligência emocional. Após essa primeira etapa, o manual foi construído e validado em conteúdo e aparência, apresentando, conforme dados de estudo anterior,13 Índices de Validade de Conteúdo e de Concordância satisfatórios (98 e 100%, respectivamente).13,15 Esses dados demonstram uma tecnologia capaz de auxiliar o enfermeiro na promoção da saúde mental de crianças, por meio do desenvolvimento de competências e habilidades da inteligência emocional.

 

Resultados da experiência

A representação da primeira fase da elaboração do manual à luz da Teoria das Transições de Meleis encontra-se disposta na Figura 1.

Figura 1 - Representação da primeira fase da elaboração do manual à luz da Teoria das Transições de Meleis.

 

Considerando que a Teoria de Transições de Meleis propõe a identificação de quatro pressupostos para a proposição de uma intervenção terapêutica de enfermagem, conforme apresentado na Figura 1, destaca-se a natureza da intervenção como desenvolvimental, já que é direcionada para crianças em fase escolar, em transição entre a fase da infância e adolescência. Portanto, apresenta um padrão múltiplo que envolve propriedades de conscientização e mudanças psicoemocionais, que é o objetivo da intervenção terapêutica proposta no material.

Quanto aos condicionantes da transição, a equipe de pesquisa se baseou em estudos que identificam a escola como um facilitador desse desenvolvimento, pois é um local que envolve a progressão intelectual, além de fortalecer as interações e trocas sociais.2,9 Os fatores pessoais foram reputados, uma vez que as características e vivências das crianças podem afetar positivamente, quando forem vivências que afloraram habilidades emocionais positivas, como a resiliência; ou negativamente, quando afetam nas respostas esperadas pela intervenção terapêutica, como a falta de afeto e vínculo familiar (Figura 1).

Em relação ao padrão de resposta, espera-se com a construção dessa intervenção terapêutica, que as crianças desenvolvam inteligência emocional como indicador de processo, resultando nos seguintes frutos - baseados no modelo da inteligência emocional utilizado: autoconsciência, empatia, autocontrole e autoeficácia, e resiliência emocional; captadas pelos comportamentos e um olhar de si mais positivos12 (Figura 1).

O relato de experiência abordou a primeira fase da elaboração de um manual para promoção da saúde mental infantil que seguiu os pressupostos da Teoria das Transições de Afaf Meleis e do Modelo de Inteligência Emocional de Daniel Goleman,6,12 levando à construção posterior de uma intervenção terapêutica desenvolvida por enfermeiros e já validada por especialistas, expressando índices de validade de conteúdo satisfatórios.13

Vale ressaltar que a complexidade e singularidade dos processos que envolvem as transições, faz com que elas possam ter naturezas diversas, portanto, identifica-se que a mudança vivenciada na infância é de natureza desenvolvimental, que está relacionada ao avançar de um ciclo vital. Para experienciar essas transições, que possuem múltiplos padrões e envolvem várias dimensões e propriedades, é essencial que a criança desenvolva a conscientização, que está relacionada ao reconhecimento da transformação vivenciada, e que define a sua experiência de mudança.6,16-18 Para que isso ocorra é necessário mudar percepções, ideias e identidades, buscando mudanças psicoemocionais saudáveis, como proposto na elaboração da intervenção terapêutica relatada neste estudo.19 

Além de visualizar a natureza dessa mudança vivida pelas crianças é necessário identificar os fatores da transição, sendo a escola caracterizada como um facilitador desse desenvolvimento, e os fatores pessoais como imposições positivas ou negativas. Dessa forma, o que se observa é que os condicionantes são essenciais para que o enfermeiro compreenda as experiências vivenciadas pelo indivíduo, inclusive aqueles que dificultam e facilitam o processo de transformação, pois ambos poderão ser utilizados como estratégias de auxílio na gestão do processo e vivência de uma passagem saudável, e o domínio de novas habilidades/competências emocionais, como o esperado na elaboração dessa intervenção terapêutica.6

Por esse motivo, a intervenção terapêutica proposta foi elaborada para que seja empregada pelo enfermeiro no seu processo de cuidar e educar de crianças, sobretudo no contexto escolar. O enfermeiro possui um papel fundamental no cuidado infantil durante o processo de transição desenvolvimental, marcado por múltiplas mudanças biopsicossocioespirituais, e isso é apontado por estudos que demonstram os efeitos positivos das intervenções de enfermagem no desenvolvimento infantil.20-21

Vale ressaltar que a escola tende a prepará-los para transições iminentes que facilitam o processo de aprendizagem de novas competências relacionadas com as experiências de saúde e doença, facilitando a transição e promovendo a saúde mental,5 portanto, sendo a escola um ambiente facilitador dos processos de evolução da criança, e do desenvolvimento das habilidades socioemocionais desse público, quando estratégias como essas, que envolvem a promoção da saúde mental, são incluídas no cotidiano escolar, observam-se respostas positivas na saúde mental e socioemocional dessas crianças.21

Essa intervenção terapêutica do tipo manual foi composta pela apresentação, conceitos, oficinas de autoconsciência, empatia, autocontrole e autoeficácia, resiliência emocional, encarte e referências. Os conceitos que ressignificam as atividades são descritos no tópico subsequente, como os domínios da inteligência emocional e as técnicas de comunicação criativa com crianças. Essas técnicas se referem a mensagem do “eu”, na qual o enfermeiro deve relatar o termo “eu” sobre comportamento pela criança, evitando usar “você”, pois são encaradas como julgadoras e deixam a criança em defensiva.22

Como apontado como fatores facilitadores no processo de transições, os fatores individuais foram identificados como essenciais, dentre eles, a própria forma de comunicação entre o enfermeiro e a criança, uma vez a comunicação deve sempre envolver a empatia e ser baseada nos pontos fortes da criança, pois isso permite o fortalecimento da sua autoeficácia, uma das habilidades esperadas de serem desenvolvidas pelo manual, portanto, deve-se evitar o confronto com a criança, por meio da utilização de recursos e ferramentas apropriadas durante essas discussões.13,16,22Além disso, para abrir o espaço de fala da criança e facilitar o seu envolvimento na atividade e a sua confiança no enfermeiro que a propõe, as crianças o percebem acessível quando esse os aborda com sorrisos, atividades lúdicas, e as escutam.17

A intervenção terapêutica teve como indicador de processo que as crianças desenvolvessem a inteligência emocional, uma vez que a literatura já vem apontando os benefícios do desenvolvimento das competências emocionais - autoestima, empatia e resiliência - no ambiente escolar para o progresso de melhores respostas adaptativas, e de respostas mais éticas, reforçando que essas competências emocionais e sociais devem ser incluídas desde o início do processo educacional da criança. 6,21,23

Apesar da avaliação da eficácia dessa intervenção terapêutica ainda não ter sido publicada, e não ser identificado a segurança dos indicadores de resultado selecionados nessa primeira fase de construção do manual, a literatura já vem apontando o êxito de estratégias utilizadas nas oficinas do manual “Sinto, logo penso” que foi construído e validado após essa primeira fase de teorização, como a meditação e a contação de histórias, que se mostram eficazes para melhorar a atenção das crianças, e para a diminuição de sintomas ansiosos.18-19

Observa-se que mesmo com a ampla literatura que mostra a construção de intervenções terapêuticas como essa com base em teorias e/ou modelos de enfermagem para fortalecer a prática assistencial do enfermeiro no ambiente hospitalar, há poucos estudos que apresentam a construção delas com o objetivo de promover a saúde mental infantil. Dentre os estudos que têm esse objetivo, apesar de apresentarem evidências que apontam para a eficácia das estratégias de promoção à saúde mental de crianças, as teorias de enfermagem não são demonstradas no processo de construção dessas tecnologias lideradas por enfermeiros.24-25

Dessa forma, para atender à visão positiva proposta para o fenômeno da promoção da saúde mental, e considerando que tal propósito perpassa por diversas teorias de Enfermagem, inclusive pela Teoria das Transições de Meleis, a proposição dessa intervenção facilita e fortalece a prática de uma enfermagem positiva e científica. 4,8

Destaca-se que este relato apresenta a primeira etapa da elaboração de uma TCE para promoção da saúde mental infantil à luz da Teoria das Transições, que não é diretamente relacionada ao fenômeno da promoção da saúde mental, pois não há uma teoria de enfermagem específica para tal fim. Porém, considerando que esta perpassa pelo fenômeno da promoção da saúde mental, e pode ser fortalecida por um modelo que direcione as atividades propostas pelos enfermeiros nessa tecnologia, o Modelo da Inteligência Emocional da Psicologia foi selecionado para reforçar os objetivos da tecnologia construída e diminuir tais limitações da ciência de enfermagem.8

 

Conclusão

O manual cuidativo-educacional “Sinto, logo penso” elaborado à luz da Teoria das Transições de Meleis e do Modelo de Inteligência Emocional de Goleman, considerou a infância como um período de natureza desenvolvimental, tendo como facilitadores a escola e as características emocionais positivas da criança, podendo ser inibida por  fatores relacionados ao contexto social negativo, fundamenta-se no padrão de resposta o desenvolvimento emocional positivo da criança durante esse processo, por meio de uma terapêutica de enfermagem que buscasse a promoção da saúde mental de crianças através do fortalecimento de algumas competências emocionais.

Dessa maneira, com a escolha da Teoria de Meleis foi possível promover a comunicação de forma efetiva, já que o objetivo principal do manual é a promoção de saúde mental infantil por meio da comunicação terapêutica, da formação do vínculo, da escuta e do acolhimento. Ademais, a utilização do Modelo de Inteligência Emocional de Goleman foi essencial para o desenvolvimento dos eixos temáticos do manual e dos conceitos utilizados. Dessa maneira se assemelhando com o modelo que é amplamente difundido e reconhecido possibilitando que a TCE obtenha fácil compreensão, multiplicação e execução.

Espera-se que esse relato da primeira etapa da elaboração de uma tecnologia cuidativo-educacional para promoção da saúde mental de crianças, a luz de uma teoria de enfermagem, permita que os enfermeiros reflitam sobre a importância da inclusão das teorias na primeira etapa de proposição de uma intervenção, especialmente para o fortalecimento da ciência que rege a profissão e para a reflexão sobre o que se espera da prática a ser construída.

 

Referências

1. Souza LB, Panúncio-Pinto MP, Fiorati RC. Children and adolescents in social vulnerability: well-being, mental health and participation in education. Cad Bras Ter Ocup. 2019;27(2):251-69. doi: 10.4322/2526-8910.ctoao1812

2. Serradilha AFZ, Duarte MTC, Tonete VLP. Health promotion by nursing technicians from the nurses’ perspective. Rev Bras Enferm. 2019;72(4):979-87. doi: 10.1590/0034-7167-2018-0552

3. World Health Organization (WHO). Mental health: strengthening our response [Internet]. 2016 [cited 2021 Mar 05]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs220/en/

4. Dias EB, Campos RC. Sob o olhar das crianças: o processo de transição escolar da educação infantil para o ensino fundamental na contemporaneidade. Rev. Bras Estud Pedagog. 2015;96(244):635-49. doi: 10.1590/S2176-6681/346813580

5. Meleis AI. Theoretical nursing: development and progress. 5th ed. Philadelphia (PA): Wolters Kluwer/Lippincont Williams & Wilkins; 2012.

6. Lima CFM, Santos JLG, Magalhães ALP, Caldas CP, Erdmann AL, Santos I. Integrating transitions theory and grounded theory for nursing research and care. Rev Enferm UERJ. 2016;24(5):e19870. doi: 10.12957/reuerj.2016.19870

7. Bittencourt MN, Marques MID, Barroso TMMDA. Contributions of nursing theories in the practice of the mental health promotion. Referência. 2018;4(18):125-32. doi: 10.12707/RIV18015

8. Wild CF, Nietsche EA, Salbego C, Teixeira E, Favero NB. Validation of educational booklet: an educational technology in dengue prevention. Rev Bras Enferm. 2019;72(5):1318-25. doi: 10.1590/0034-7167-2018-0771

9. Salbego C, Nietsche EA, Teixeira E, Girardon-Perlini NMO, Wild CF, Ilha S. Care-educational technologies: an emerging concept of the praxis of nurses in a hospital context. Rev Bras Enferm. 2018;71(Suppl 6):2666-74. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0753

10. Rosa BVC, Girardon-Perlini NMO, Gamboa NSG, Nietsche EA, Beuter M, Dalmolin A. Desenvolvimento e validação de tecnologia educativa audiovisual para famílias e pessoas com colostomia por câncer. Texto Contexto Enferm. 2019;28:e20180053. doi: 10.1590/1980-265X-TCE-2018-0053

11. Goleman DP. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente.2ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva; 2012.

12. Bittencourt MN, Flexa RS, Santos ISR, Ferreira LD, Nemer CRB, Pena JLC. Validation of content and appearance of an educational manual to promote children's mental health. Rev Rene. 2020;21:e43694. doi: 10.15253/2175-6783.20202143694

13. Meleis AI, Sawyer LM, Im EO, Messias DKH, Schumacher K.  Experiencing transitions: an emerging middle-range theory. Adv Nurs Sci. 2000;23(1):12-28. doi: 10.1097/00012272-200009000-00006

14. Burroughs MD, Barkauskas NJ. Educating the whole child: social-emotional learning and ethics education. Ethic Educ. 2017;12(2):218-32. doi: 10.1080/17449642.2017.1287388

15. Bittencourt MN, Pena JLC, organizadores. Sinto, logo penso. Promoção da saúde mental infantil [Internet]. Macapá: UNIFAP; 2019 [acesso em 2021 mar 10]. Disponível em: https://docero.com.br/doc/850e1xn

16. Petronio-Coia BJ, Schwartz-Barcott D. A description of approachable nurses: an exploratory study, the voice of the hospitalized child. J Pediatr Nurs. 2020;54:18-23. doi: 10.1016/j.pedn.2020.05.011

17. Crescentini C, Capurso V, Furlan S, Fabbro F. Mindfulness-oriented meditation for primary school children: effects on attention and psychological well-being. Front Psychol. 2016;7(7):805. doi: 10.3389/fpsyg.2016.00805

18. Yati M, Wahyuni S, Islaeli I. The effect of storytelling in a play therapy on anxiety level in pre-school children during hospitalization in the general hospital of Buton. Publ Health Indonesia. 2017; 3(3):96-101. doi: 10.36685/phi.v3i3.134

19. Markle-Reid M, McAiney C, Forbes D, Thabane L, Gibson M, Browne G, et al. An interprofessional nurse-led mental health promotion intervention for older home care clients with depressive symptoms. BMC Geriatr. 2014;14(62):1-23. doi: 10.1186/1471-2318-14-62

20. Hamdani SU, Huma ZE, Warraitch A, Suleman N, Mazzafar N, Minhas FA, et al. Technology-assisted teachers’ training to promote socioemotional well-being of children in public schools in rural Pakistan. Psychiatr Serv. 2020;72(1):69-76. doi: 10.1176/appi.ps.202000005

21. Costa LGF. Visitando a teoria das transições de Afaf Meleis como suporte teórico para o cuidado de enfermagem. Enferm Brasil. 2016;15(3):137-45. doi: 10.33233/eb.v15i3.181

22. McPherson AC, Hamilton J, Kingsnorth S, Knibbe TJ, Peters M, Swift JA, et al. Communicating with children and families about obesity and weight-related topics: a scoping review of best practices. Obes Rev. 2017;18(2):164-82. doi: 10.1111/obr.12485

23. Wilson DA, Hockenberry MJ. Wong Fundamentos de enfermagem pediátrica. 9ª ed. Rio de Janeiro: Mosby Elsevier; 2014. 

24. McAllister M, Knight BA, Whithyman C. Merging contemporary learning theory with mental health promotion to produce an effective schools-based program. Nurse Educ Pract. 2017;25:74-9. doi: 10.1016/j.nepr.2017.05.005

25. Molloy C, Beatson R, Harrop C, Perini N, Goldfeld S. Systematic review: effects of sustained nurse home visiting programs for disadvantaged mothers and children. J Adv Nurs. 2021 Jan;77(1):147-61. doi: 10.1111/jan.14576

 

 

Contribuições de Autoria

 

1 – Marina Nolli Bittencourt

Autor Correspondente

Enfermeira, Doutora - E-mail: marinanolli@hotmail.com

Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação da versão final.

 

2 – Bruna Hinnah Borges de Freitas

Enfermeira. Doutoranda - E-mail: bruhinnah@gmail.com

Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação da versão final.

 

3 – Samira Reschetti Marcon

Enfermeira, Doutora - E-mail: samira.marcon@gmail.com

Revisão e aprovação da versão final.

 

4 – Angellica Fernandes de Oliveira

Enfermeira. Doutoranda - E-mail: enfangellica@gmail.com

Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação da versão final.

 

5 – Valquiria Mira Landim

Enfermeira. Mestranda - E-mail: vmiralandim@gmail.com

Revisão e aprovação da versão final.

 

6 – Darci Francisco dos Santos Junior

Enfermeiro, Especialista - E-mail: darcijr.contato@gmail.com

Revisão e aprovação da versão final.

 

 

Editora Científica Chefe: Cristiane Cardoso de Paula

Editora Associada: Daiana Foggiato de Siqueira

 

Como citar este artigo

Bittencourt MN, Freitas BHB, Marcon SR, Oliveira AF, Landim VM, Junior DFS. The experience of developing a care-educational technology in the light of the Theory of Transitions. Rev. Enferm. UFSM. 2022 [Access at: Year Month Day]; vol.12 e29: 1-12. DOI: https://doi.org/10.5902/217976966551