Rev. Enferm. UFSM - REUFSM

Santa Maria, RS, v. 9, e5, p. 1-15, 2019

DOI: 10.5902/2179769231556

ISSN 2179-7692

Submissão: 12/03/2018    Aprovação: 19/11/2018    Publicação: 15/07/2019

Artigo Original

 

Perfil dos enfermeiros docentes atuantes em programas de pós-graduação “stricto sensu” de instituições públicas

The profile of nursing professors/teaching nurse in "stricto sensu" post-graduation programs of public institutions

Perfil de los enfermeros docentes actuantes en programas de postgrado "stricto sensu" de instituciones públicas

 


Susan Bublitz I

Carmem Lúcia Colomé Beck II

Rosângela Marion da Silva III

Isabel Cristina Saboia Sturbelle IV

 

Resumo: Objetivo: identificar o perfil sociodemográfico e laboral dos enfermeiros docentes atuantes em programas de pós-graduação stricto sensu em Enfermagem de instituições públicas do Rio Grande do Sul. Método: estudo quantitativo, descritivo e exploratório, desenvolvido com enfermeiros docentes de três universidades federais. A coleta deu-se de novembro de 2015 à outubro de 2016, por meio de um questionário sociodemográfico e laboral.Os resultados foram analisados pelo software Statistical Analysis System. Resultados: houve predomínio do sexo feminino, idade média de 53,92 e casados/união estável. Ingressaram na pós-graduação entre 2009 e 2014, possuem alunos à nível de mestrado e doutorado, não possuem outro emprego, não estiveram afastados do trabalho por mais de três dias, bem como nos últimos seis meses. Conclusão: os resultados apresentam importantes características sobre o perfil dos enfermeiros docentes, o que pode auxiliar na compreensão acerca dos riscos de adoecimento deste grupo, assim como do seu processo de trabalho.

Descritores: Enfermagem; Docentes de enfermagem; Saúde do Trabalhador; Instituições de ensino superior; Educação de pós-graduação em enfermagem

 

Abstract: Aim: to identify the sociodemographic and occupational profile of teaching nurses working in stricto sensu postgraduate programs in Nursing of public institutions in Rio Grande do Sul. Method: quantitative, descriptive and exploratory study, developed with teaching nurses from three federal universities. The data collection was from November 2015 to October 2016, through a sociodemographic and labor questionnaire. The results were analyzed by the Statistical Analysis System software. Results: there was predominance of females, mean age of 53.92 and married / stable union. They entered graduate school between 2009 and 2014, have masters and doctorate students, have no other job, have not been away from work for more than three days, as well as in the last six months. Conclusion: the results have important characteristics on the profile of teaching nurses, which can help in understanding the risks of illness of this group, as well as their work process.

Descriptors: Nursing; Faculty, Nursing; Occupational Health; Higher Education Institutions; Education, Nursing, Graduate.


 

Resumen: Objetivo: identificar el perfil sociodemográfico y laboral de los enfermeros docentes actuantes en programas de postgrado, stricto sensu, en Enfermería, de instituciones públicas del Rio Grande do Sul. Método: estudio cuantitativo, descriptivo y exploratorio, desarrollado con enfermeros docentes de tres universidades. La recolección de datos ocurrió de noviembre de 2015 a octubre de 2016, por medio de un cuestionario sociodemográfico y laboral. Los resultados fueron analizados por el software Statistical Analysis System. Resultados: se identificó el predominio de docentes del sexo femenino, edad media de 53,92 y casados. Ingresaron en el postgrado entre 2009 y 2014, tienen alumnos de maestría y doctorado, no poseen otro empleo, no estuvieron alejados del trabajo por más de tres días, tampoco en los últimos seis meses. Conclusión: los resultados presentan importantes características sobre el perfil de los enfermeros docentes, lo que puede auxiliar la comprensión sobre los riesgos de enfermedad de este grupo, así como de su proceso de trabajo.

Descriptores: Enfermería; Docentes de Enfermería; Salud Laboral; Instituciones de Enseñanza Superior; Educación de Postgrado en Enfermería.

 

Introdução

No Brasil, o Sistema Nacional da Pós-Graduação (SNPG) cresce de forma sustentável e contínua.1 De acordo com a última avaliação quadrienal realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o SNPG, em dados absolutos, avançou de 3.337 para 4.175 programas entre os anos de 2013 e 2016. 

Nesta mesma avaliação, identificou-se que 11% dos programas brasileiros apresentam desempenho equivalente a padrões internacionais de excelência, com notas 6 e 7, totalizando 465 programas de pós-graduação. Um percentual de 18% atingiu nota 5, alcançando nível de excelência nacional. Destaca-se que, as notas 4 e 5 significam um desempenho entre bom e muito bom. Aos cursos que apresentam padrões mínimos de qualidade, com desempenho médio, é atribuída nota 3.1

No que se refere a pós-graduação em Enfermagem no Brasil, essa também encontra-se em franca expansão. Em dezembro de 2013, a Área contava com 66 programas de pós-graduação stricto sensu aprovados. Já, entre 2014 e 2016, a Área expandiu para 76 programas de pós-graduação, representando um aumento de 17% no período.2

Nesse contexto, a expansão geral da pós-graduação ocorre não só pelo aumento da oferta de cursos de pós-graduação, mas, sobretudo, pelo aumento da demanda da sociedade por maior nível de escolarização, que se tornou uma exigência para o ingresso no mercado de trabalho.3 O campo do trabalho exige cada vez mais qualificação, e a pós-graduação, em particular a stricto sensu, tem oferecido esse diferencial no mercado de trabalho, levando a uma melhor colocação profissional, maior remuneração e desenvolvimento de algumas habilidades não adquiridas durante a graduação, como a formação para a docência.4

Dessa forma, a pós-graduação tem apresentado papel importante na produção de conhecimentos para a qualificação profissional e também para a articulação de respostas às demandas colocadas pela sociedade.4 No entanto, deve-se considerar os profissionais envolvidos nesse processo, os quais ocupam uma atividade primordial para a consolidação e para o fortalecimento dos programas de pós-graduação, sendo eles os docentes.

Entretanto, ao considerar os programas de pós-graduação em Enfermagem no Brasil, não foram encontrados estudos que abordem, especificamente, o perfil dos enfermeiros docentes atuantes nesse cenário. Considera-se que esses dados sejam essenciais para o processo contínuo de avaliação por parte dos órgãos responsáveis por esta e que podem contribuir para a elaboração de estratégias que contemplem as peculiaridades dos docentes, tais como: número de orientandos, ano de ingresso na pós-graduação (docentes jovens ou não), estado civil, faixa etária, afastamentos laborais,entre outras. O SNPG, ao ter conhecimento dos dados abordados no estudo, poderá propor mudanças no número máximo de orientados por docente e propor ações que visem diminuir os afastamentos laborais.

Assim, com vistas à contínua melhoria no processo de avaliação do SNPG, a qual abrange, dentre outros quesitos, a avaliação do corpo docente dos programas e, por acreditar que este se torna mais adequado na medida em que se conhecem as caracterírticas dos profissionais, considera-se relevante questionar qual o perfil dos enfermeiros docentes atuantes nesse cenário? Ao ser identificado uma lacuna nesta área de conhecimento, torna-se relevante identificar qual o perfil destes docentes de enfermagem, com o intuito de colaborar nesta lacuna, fortalecer a avaliação do SNPG e, posteriormente, auxiliar a compreender os riscos de adoecimento deste grupo. Dessa forma, esse estudo tem por objetivo identificar o perfil sociodemográfico e laboral dos enfermeiros docentes atuantes em programas de pós-graduação stricto sensu em Enfermagem de instituições públicas do Rio Grande do Sul.

Método

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, com dados analisados quantitativamente, desenvolvido junto aos enfermeiros docentes atuantes em Programas de Pós-Graduação “Stricto Sensu” das universidades federais do Rio Grande do Sul, Brasil.

Assim, participaram do estudo três universidades federais do Rio Grande do Sul. Das instituições participantes, dois programas de pós-graduação em Enfermagem possuíam nota quatro pela CAPES e um programa possuía nota cinco.

A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário sociodemográfico e laboral dos docentes, o qual foi elaborado pela pesquisadora. Foram abordadas as seguintes variáveis: sexo; idade, estado civil; ano de ingresso na Pós-Graduação; número de alunos orientandos mestrandos e doutorandos; regime de trabalho na Enfermagem nas Instituições de Ensino Superior (IES); possui outro emprego; acidente de trabalho nos últimos seis meses e; afastamento do trabalho nos últimos seis meses por motivo de doença pessoal. O período de coleta deu-se de novembro de 2015 à outubro de 2016.

Para participar do estudo, os docentes deveriam atender aos seguintes critérios de inclusão: ter formação em Enfermagem, atuar em Programa de Pós-Graduação “Stricto Sensu” em IES públicas do Rio Grande do Sul e; ter, pelo menos, uma defesa de dissertação ou tese de aluno orientando, considerando-se que teve a oportunidade de conhecer e realizar todas as etapas inerentes às vivências no programa. Os critérios de exclusão foram docentes afastados por licença de qualquer natureza no período estabelecido para a coleta de dados.

Assim, aqueles docentes que foram indicados para o estudo, conforme critérios de inclusão foram abordados individualmente, via presencial, informados sobre os objetivos da pesquisa e convidados a participar da mesma. Mediante a resposta afirmativa do docente e considerando as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Resolução CNS 466/12), foi disponibilizado aos participantes da pesquisa um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). No momento da entrega do questionário e, após leitura e assinatura do TCLE, foi acordado a data de recolhimento do mesmo.5

Dessa forma, destaca-se que, no momento da coleta de dados haviam 74 docentes credenciados nos programas de pós-graduação em Enfermagem das instituições em estudo. Desses, foram excluídos três por não terem formação em enfermagem, oito por não possuírem orientações concluídas, quatro por estarem em afastamento e uma por ser a docente responsável por esta pesquisa. Assim, permaneceram 58 docentes elegíveis para participarem do estudo, no entanto, quatro docentes se recusaram a participar verbalmente e quatro não retornaram o questionário, obtendo-se um contingente de 50 docentes participantes.

Após a coleta dos dados, foi construído um banco de dados em planilha do programa Excel for Windows no qual os dados foram organizados mediante a dupla digitação independente. A análise descritiva dos dados sociodemográficos e laborais dos docentes de enfermagem foram analisados pelo programa de software Statistical Analysis System (SAS - versão 9.02). As variáveis qualitativas foram apresentadas em frequências simples (n) e relativas (%), destaca-se que não foram abordadas variáveis quantitativas neste estudo.

Este estudo é parte da tese “Riscos de adoecimento, prazer e sofrimento no cotidiano laboral de enfermeiros docentes de Pós-Graduação “Stricto Sensu”: abordagem de métodos mistos”, o qual foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) sob o nº do CAAE 48451615.0.0000.5346, no dia 08 de setembro de 2015.

Resultados

O presente estudo foi constituído por 50 docentes, o que representou 86,20% da população elegível do estudo. Destaca-se que a proporção de respondentes de cada instituição foi de: 14 docentes da instituição A, 25 docentes da instituição B e 11 docentes da instituição C.

Quanto às características sociodemográficas dos docentes, observa-se na Tabela 1, o predomínio do sexo feminino (98%), na faixa etária entre 51 e 60 anos (64%), com média de idade de 53,92 (DP=8,01) e casados/união estável (74%).

 

Tabela 1 –  Distribuição da frequência dos docentes segundo caracterização sociodemográfica. RS, 2017

Variável

                    N

                      %

Sexo

 

 

Feminino

Masculino

49

1

98,00

2,00

Faixa Etária

 

 

31 – 40

41 – 50

51 – 60

>61

5

5

32

8

10,00

10,00

64,00

16,00

Estado civil

 

 

Solteiro

Casado/União estável

Viúvo

Divorciado

8

37

0

5

16,00

74,00

0

10,00

Total

50

100

 

No que diz respeito às características laborais dos docentes, observa-se na Tabela 2, que houve prevalência de docentes que ingressaram na pós-graduação entre os anos de 2009 e 2014 (40%). Quanto as orientações de alunos, verificou-se que 92% dos docentes possuem alunos a nível de mestrado e 72% orientam alunos de doutorado.Ainda, a maioria dos docentes (96%) não possui outro emprego.

Tabela 2 –  Distribuição dos docentes quanto ao ano de ingresso na pós-graduação, número de orientandos de Mestrado e de Doutorado e se possui outro emprego. RS, 2017

Variável

N

%

Ano de ingresso na Pós-Graduação*

 

 

1998 a 2003

2004 a 2008

2009 a 2014

08

19

20

16,00

38,00

40,00

N de orientandos de Mestrado

 

 

0

1

2

3

4

5

6

4

11

13

12

5

3

2

8,00

22,00

26,00

24,00

10,00

6,00

4,00

N de orientandos de Doutorado

 

 

0

1

2

3

4

5

6

14

1

9

10

7

3

6

28,00

2,00

18,00

20,00

14,00

6,00

12,00

Possui outro emprego

 

 

Sim

Não

2

48

4,00

96,00

Total

50

100

* Três participantes não responderam este item.

 

Em relação à saúde dos docentes, observa-se na Tabela 3, que 40% dos docentes já estiveram afastados do trabalho por mais de três dias, a maioria não sofreu acidente de trabalho (98%) e também não se afastou do trabalho nos últimos seis meses (98%). Destaca-se aqui que ao questionar o afastamento por mais de três dias, não foi possível identificar o período completo do afastamento, sendo apenas questionado por qual motivo ocorreu o mesmo.

Tabela 3 –  Distribuição dos docentes quanto a afastamento do trabalho por motivo de saúde por mais de três dias, acidente de trabalho e afastamento nos últimos seis meses. RS, 2017

Variável

N

%

Afastamento do trabalho por motivo

de saúde por mais de três dias

 

 

Sim

Não

20

30

40,00

60,00

Acidente de trabalho

 

 

Sim

Não

1

49

2,00

98,00

Afastamento nos últimos 6 meses

 

 

Sim

Não

1

49

2,00

98,00

Total

         50

      100

         Os docentes que necessitaram se afastar do trabalhoem decorrência de alguma enfermidade, foram por motivos de: cirurgias, fraturas, virose, pneumonia e depressão.

Discussão

Após análise dos dados, verificou-se que o percentual predominantemente feminino vai ao encontro de outros estudos realizados com docentes de enfermagem.6-8 A Enfermagem caracteriza-se por ser uma profissão feminina, uma vez que está relacionada com o seu objeto de trabalho, o cuidado o qual é, historicamente, atribuído como uma característica feminina.9

Nesse contexto das profissões historicamente destinadas ao gênero feminino, a função de professor também se destaca, uma vez que a área da docência foi uma das primeiras a inserir, em uma maior escala, a participação feminina, tornando-se “natural” que a mulher opte por essa profissão.10-11 Destaca-se que, a partir da expansão do setor educacional no Brasil, as mulheres foram solicitadas a ocupar os cargos de educadoras; considerando que, na época, a docência era entendida como atividade própria das mesmas por envolver a ideia do magistério enquanto missão ou sacerdócio, além de ser uma vocação feminina natural. Tal imaginário se dava, principalmente, diante do trabalho docente com a criança. O ‘dom natural’ da maternidade, daria origem a qualidades docentes adequadas; assim, por ser boa mãe, boa professora, ou naturalmente professora, ela seria.12

Dessa forma, tanto as atividades do processo de trabalho de assistência em enfermagem, como as relativas ao processo de trabalho de ensinar, são tidas como "femininas"7 e convergem com os achados deste estudo.

Em relação a faixa etária dos participantes, observou-se que, em sua maioria, os docentes tinham de 51 a 60 anos (64%), com média de idade de
53,92 (DP=8,01), o que se caracteriza por serem adultos com idades que apontam, possivelmente, para docentes com mais experiências de vida e de trabalho acumuladas.

Destaca-se aqui que, para fazer parte do corpo docente de um programa de pós-graduação “stricto sensu” é necessário que o professor preencha alguns requisitos como ter concluído o doutorado. Além disso, para participar dessa pesquisa, um dos critérios de inclusão foi de que o docente já tivesse concluído uma orientação. Assim, foi esperado que os respondentes dessa pesquisa não fossem adultos jovens.

Quanto ao estado civil dos respondentes, houve predomínio de casados/união estável (74%), dado que vai ao encontro de outras pesquisas que envolveram docentes de enfermagem.6-8 A prevalência de casados/união estável é coerente com a faixa etária da população do estudo, uma vez que são pessoas em uma faixa etária mais elevada e que, em sua maioria, já constituíram família.

Quanto ao ano de ingresso dos docentes nos programas de pós-graduação, a maior porcentagem (40%) ingressou recentemente, entre 2009 a 2014, seguida pelos docentes que ingressaram entre 2004 a 2008 (38%), o que condiz com o cenário brasileiro atual. Nos últimos anos, tem-se observado um crescimento significativo do sistema de pós-graduação brasileiro, que se traduz tanto no aumento do número de cursos e programas, como no número de recursos humanos capacitados.13

Já em relação ao número de orientandos de mestrado e de doutorado, ao realizar a soma dos respondentes, verificou-se que a maioria possui alunos de mestrado (92%) e doutorado (72%). No entanto, o fato do percentual de docentes com alunos de doutorado ser inferior ao de mestrado pode estar associado ao recente ingresso dos docentes nos programas de pós-graduação, uma vez que a CAPES solicita que os docentes que ingressam à nível de doutorado tenham, pelo menos, duas orientações de mestrado concluídas.14

No que diz respeito a ter outro emprego, por se tratar de instituições públicas, o contrato de trabalho desses profissionais pode ser de 20 horas, 40 horas semanais ou de 40 horas semanais e dedicação exclusiva (DE). Nos casos dos docentes com 40 horas e DE, há impedimento legal de assumir outro emprego. Nas demais situações, isto não ocorre. Destaca-se que neste estudo, 96% dos respondentes afirmaram possuir DE como regime de trabalho.

O resultado vai ao encontro de outra pesquisa realizada com enfermeiros docentes de universidades federais públicas do Rio Grande do Sul, o qual revelou que 98,5% dos participantes não possuía outro emprego.8

Em relação à necessidade de afastamento do trabalho para tratamento de saúde, por um período maior de três dias, 60% dos docentes estudados revelam nunca ter precisado se afastar do trabalho. Esse dado é semelhante a estudo desenvolvido com docentes universitários da área da saúde, em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, em que 69% dos respondentes não necessitaram se afastar do trabalho por enfermidades.15 No entanto, destaca-se o dado de que 40% dos docentes respondentes desta pesquisa já necessitaram se afastar do trabalho em decorrência de alguma enfermidade, como: cirurgias, fraturas, virose, pneumonia e depressão.

O afastamento dos docentes do ambiente de trabalho pode estar associado as condições de trabalho e as circunstâncias sob as quais esses trabalhadores mobilizam as suas capacidades físicas, cognitivas e afetivas para atingir os objetivos da produção escolar, podendo ocasionar sobre-esforço ou hipersolicitação de suas funções psicofisiológicas.16 Atualmente, observa-se uma maior exigência com o profissional docente e uma precariedade das relações do seu trabalho, contribuindo para a repercussão na saúde desses trabalhadores.17Vale destacar que, as possíveis causas citadas pela literatura para o afastamento do trabalho, não foram comparadas com achados desta pesquisa, uma vez que este aspecto não foi investigado.

Quando perguntados se já tiveram algum tipo de acidente de trabalho e se já precisaram se afastarem do trabalho nos últimos seis meses, apenas um docente (2%), em cada uma das questões, respondeu afirmativamente. Ressalta-se que o participante que teve um acidente de trabalho não especificou o mesmo.

Observa-se que, neste estudo, o índice de acidentes de trabalho, bem como o de afastamento nos últimos seis meses, foi de 2%. Embora o percentual não tenha sido elevado, destaca-se que o trabalho pode interferir na saúde de quem o realiza, fato este que ocorre quando o mesmo é exercido em condições inapropriadas, longas jornadas de trabalho, ritmo acelerado, ambientes laborais inadequados, dentre outras condições adversas. Nesse sentido, destaca-se que tais situações podem dar origem a acidentes e a doenças advindas do trabalho.11,18

Assim, infere-se que, conhecer as características sociodemográficas e laborais dos enfermeiros docentes de programas de pós-graduação stricto sensu, possibilita compreender a realidade e as necessidades desses. Somado a isso, estes dados podem ser uma importante ferramenta para melhoria nos processos de trabalho e construções científicas dos programas, o que pode favorecer as avaliações do SNPG, no que se refere ao perfil dos docentes, bem como auxiliar na detecção das  possíveis causas dos afastamentos no ambiente laboral.

Conclusão

Constatou-se que a população estudada era predominantemente do sexo feminino, idade média de 53,92 e casados/união estável. Ainda, ingressaram na pós-graduação entre os anos de 2009 e 2014, possuíam alunos à nível de mestrado e doutorado, não possuíam outro emprego, não estiveram afastados do trabalho por mais de três dias e também não se afastaram do trabalho nos últimos seis meses.

Cita-se como limitação desta pesquisa o fato da mesma ter ocorrido com apenas um estado brasileiro, o que impede que os dados sejam generalizados. No entanto, os resultados desta pesquisa apresentam informações importantes sobre as características sociodemográficas e laborais dos enfermeiros docentes de programas de pós-graduação stricto sensu em Enfermagem de instituições públicas do Rio Grande do Sul.

Ainda são poucos os estudos que investigam os enfermeiros docentes participantes do SNPG. Assim, o conhecimento das principais características destes profissionais pode auxiliar a CAPES, bem como as instituições participantes, a constituir-se em uma importante ferramenta para traçar o perfil dos enfermeiros docentes.

Neste sentido, sugere-se investir em pesquisas que enfoquem a partir deste perfil, o risco de adoecimento dos enfermeiros docentes, bem como identificar e compreender o contexto de trabalho destes. Tais estudos podem auxiliar na compreensão das diversas vivências enfrentadas pelos docentes em decorrência destes processos de trabalho.

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18. Reis BM, Cecílio S. Precarização, trabalho docente intensificado e saúde de professores universitários. Trab Educ [Internet]. 2014 maio-ago [acesso em 2018 mar 21];23(2):109-28. Disponível em: https://seer.ufmg.br/index.php/trabedu/article/viewFile/7531/5823.

 

Autor correspondente

Susan Bublitz

E-mail: susan.bublitz@gmail.com

Endereço: Marechal Floriano Peixoto, 1385. Santa Maria/RS. Brasil.

CEP: 97015-373.

Contribuições de Autoria

1 – Susan Bublitz

Autora que realizou e planejamento o projeto de pesquisa. Destaca-se que o estudo faz parte da sua tese, intitulada “Riscos de adoecimento, prazer e sofrimento no cotidiano laboral de enfermeiros docentes de pós-graduação “stricto sensu”: abordagem de métodos mistos”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Enfermagem da UFSM.

2 – Carmem Lúcia Colomé Beck

Pesquisadora responsável e orientadora da tese acima intitulada, fazendo parte da concepção e planejamento do projeto de pesquisa, além de participar da revisão crítica do estudo.

3 Rosângela Marion da Silva

Coorientadora da tese mencionada.  Autora participou da redação e revisão crítica do manuscrito.

4 Isabel Cristina Saboia Sturbelle

Autora participou como auxiliar de pesquisa, ajudando na obtenção dos dados e revisão crítica do manuscrito.

 

Como citar este artigo

Bublitz S, Beck CLC, Silva RM, Sturbelle ICS. Perfil dos enfermeiros docentes atuantes em programas de pós-graduação “stricto sensu” de instituições públicas. Rev. Enferm. UFSM. 2019 [Acesso em: 2019 jun 15];vol ex:1-16. DOI:https://doi.org/10.5902/2179769231556