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ReTER, Santa Maria, v.5. ISSN:2675-9950 | Submissão: 26/10/2023 Aprovação: 15/03/2024 Publicação: 12/04/2024 |
Avaliação
conectada: recursos digitais integrados à avaliação da aprendizagem
Denise Claudete Bezerra de Oliveira
Secretaria de Educação do Estado da Bahia – rattes.denise@gmail.com
Resumo: As inovações constantes
das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) têm produzido novas
formas de comunicação e introduzido novos referenciais para a produção de
conhecimento, produzindo reflexões sobre a integração dos recursos digitais disponíveis
em rede nos processos de ensino e de aprendizagem presenciais e virtuais. No
contexto da pesquisa de caráter exploratório-descritivo, como base teórica
autores que discutem as questões sobre a avaliação da aprendizagem em educação
online, em diálogo com teóricos que abordam a avaliação da aprendizagem, este
artigo tem como objetivo apresentar uma análise de estratégias de avaliação
diagnóstica, somativa, formativa e de autoavaliação mediadas por tecnologias
digitais a partir de revisão de literatura e da curadoria de interfaces
digitais cujos recursos podem ser aplicados como instrumentos avaliativos. Como
resultado, apresentamos um quadro comparativo/descritivo com o qual buscamos
estabelecer a integração entre os tipos de avaliação e os instrumentos de
avaliação on-line e suas respectivas interfaces digitais. Concluímos que o uso
dos recursos das TDIC pode favorecer os processos de avaliação da aprendizagem
desde que sejam concebidos como pacto contratual entre avaliador e avaliados,
cabendo-nos, enquanto docentes, compreender e nos guiar pelas dimensões
orientadora, cooperativa e interativa que caracterizam o ato de avaliar.
Palavras-chave: Avaliação da
aprendizagem. Instrumentos avaliativos. Recursos digitais.
CONNECTED
ASSESSMENT: DIGITAL RESOURCES INTEGRATED INTO LEARNING ASSESSMENT
Abstract: The constant
innovations of Digital Information and Communication Technologies (DICT) have
produced new forms of communication and introduced new references for the
production of knowledge, producing reflections on the integration of digital
resources available on the net in face-to-face and virtual teaching and
learning processes. In the context of exploratory-descriptive research, the
theoretical basis of which are authors who discuss questions about learning
assessment in online education, in dialogue with theorists who address learning
assessment, this article aims to present an analysis of diagnostic, summative,
formative, and self-assessment strategies mediated by digital technologies
based on a literature review and curation of digital interfaces whose resources
can be applied as assessment tools. As a result, we present a
comparative/descriptive framework with which we seek to establish the
integration between the types of assessment and online assessment tools and
their respective digital interfaces. We conclude that the use of DICT resources
can favor learning assessment processes as long as they are conceived as a
contractual pact between the assessor and those being assessed. As teachers, it
is up to us to understand and be guided by the guiding, cooperative and
interactive dimensions that characterize the act of assessment.
Keywords: Learning
assessment. Assessment tools. Digital resources.
Introdução
As propostas de integração dos avanços das Tecnologias
Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) nas práticas educativas têm
promovido reflexões e experiências significativas sobre o uso dos novos
recursos digitais como softwares, aplicativos e plataformas digitais de
produção autoral e de compartilhamento de novos conhecimentos. Principalmente
em função da difusão das práticas de aprendizagem móvel (m-Learning),
assistimos a um movimento crescente em busca de integrar os recursos digitais
interativos que viabilizam práticas colaborativas de produção de conhecimentos
às práticas tradicionais de avaliação – prova/teste, lista de exercícios,
questionário, tarefa, pesquisa, projeto, portfólio, estudo de caso, seminário,
relatório, resenha, diário de aprendizagem etc. Essa difusão nos instiga a
pesquisar sobre quais e como os recursos digitais podem ser utilizados como
instrumentos avaliativos, considerando-se as perspectivas de avaliação
formativa, somativa e diagnóstica.
Cientes de que a definição dos instrumentos de avaliação
feita por nós, docentes, “resulta sempre de suas concepções de educação e de
aprendizagem, bem como de suas crenças, ideologia, imaginário e representações
sociais. Logo, nunca é uma prática isenta de intencionalidades e de interesses,
com repercussões sociais também psicológicas” (LIMA JUNIOR; ALVES, 2006, p. 68-69), esperamos que a
seleção/descrição/análise dos recursos digitais apresentados neste estudo
contribua para a diversificação tanto das estratégias de abordagem dos
conteúdos curriculares quantos das estratégias e dos instrumentos de avaliação,
favorecendo a busca de alternativas que possibilitem a qualificação do
desempenho e da aprendizagem dos alunos no processo ensino-aprendizagem.
Metodologia
Inserido no contexto da pesquisa de caráter
exploratório-descritivo, nosso estudo tem como base teórica autores como Garcia
(2013),
Luckesi
(2013;
2005) e Hoffman
(2019)
que abordam a avaliação da aprendizagem e Silva e Faria (2020), Conrad e Openo (2019), Depresbiteris e Tavares (2017), Faganello, Reis e Guimarães (2016), Mercado (2008), Silva e
Santos (2006) que discutem as questões sobre a avaliação da aprendizagem
em educação on-line, dentre outros. A partir da curadoria e análise de
interfaces digitais, cujos recursos podem ser aplicados como instrumentos
avaliativos, fundamentadas no diálogo teórico sobre a avaliação da aprendizagem,
visamos apresentar uma análise de recursos digitais que possam contribuir para
uma avaliação da aprendizagem mediada por tecnologias digitais em espaços
formativos presenciais, virtuais ou híbridos.
Como procedimentos metodológicos para o alcance do objetivo
deste estudo, nos propusemos a: realizar um levantamento bibliográfico sobre as
concepções de avaliação da aprendizagem em ambientes on-line; apresentar
uma análise sobre os tipos de avaliação da aprendizagem e sua aplicação em
ambientes de aprendizagem on-line; identificar interfaces digitais cujos
recursos podem ser utilizados com instrumentos de avaliação; construir um
quadro comparativo/descritivo apresentando os diferentes tipos de avaliação alinhados
a recursos digitais como instrumentos de avaliação e suas respectivas
interfaces digitais.
Este estudo está organizado nas seguintes seções:
Considerações iniciais sobre a avaliação da aprendizagem; Avaliação mediada por
recursos digitais; Resultados e discussões – seção onde apresentamos uma análise
de alguns recursos digitais aplicáveis ao processo de avaliação e um quadro
descritivo/comparativo com o qual indicamos a relação entre os tipos de
avaliação, os instrumentos de avaliação on-line e suas respectivas
interfaces digitais; Considerações finais; e Referências.
Considerações iniciais sobre a avaliação da
aprendizagem
De acordo com Luckesi (2005), diagnosticar e
decidir são processos indissociáveis do ato de avaliar. A partir dessa
proposição, inferimos que a avaliação diagnóstica além de ter a função de
coletar informações sobre os conhecimentos prévios adquiridos pelos alunos em
suas práticas sociais cotidianas sobre determinado tema/conteúdo, cumpre uma
função investigativa visto que essas informações contribuem para “a organização
de conteúdos e atividades a serem desenvolvidas durante o processo educativo,
visando atender às necessidades individuais e coletivas do grupo”(GARCIA,
2013, p. 67).
Tradicionalmente, tanto a avaliação
diagnóstica quanto a somativa são propostas em momentos distintos e
pré-definidos – no início e ao final dos processos formativos – utilizando-se,
geralmente, provas e testes como instrumentos avaliativos focados na mensuração
quantitativa dos dados. Nossa incursão teórica nos confirma que elas devem ser
propostas no transcorrer do processo formativo, oportunizando a coleta de dados
sobre a evolução da aprendizagem dos alunos e sobre as ações pedagógicas que
precisam ser replanejadas. Isso implica em destacar que “avaliar a aprendizagem
do aluno é também avaliar a intervenção do professor, já que o ensino deve ser
planejado e replanejado em função das aprendizagens conquistadas ou não” (WEISZ; SANCHES, 2006, p. 95). Nesse sentido, a
avaliação da aprendizagem assume a perspectiva formativa ao nos guiar para a
seleção de metodologias, estratégias e instrumentos diversificados e flexíveis mais
adequados à abordagem dos conteúdos curriculares e aos saberes já consolidados
pelos alunos (Hoffman, 2019).
Nas práticas pedagógicas tradicionais, a avaliação somativa
geralmente está associada à quantificação dos resultados mensurados por
instrumentos como testes e provas com foco na verificação dos conteúdos
memorizados pelos alunos. Em relação a esses instrumentos, consideramos sua
validade desde que se altere o foco da avaliação para compreensão dos
conteúdos. Nesse caso, os resultados obtidos com a avaliação somativa tornam-se
pistas sobre os conhecimentos construídos pelos alunos e sobre aqueles que precisam
de uma intervenção pontual que privilegiem a consolidação das aprendizagens dos
alunos. Dessa forma, a aplicação de um teste ou prova muda de foco passando a
cumprir o papel de diagnóstico da aprendizagem e de indicador para o
replanejamento das ações pedagógicas.
No contexto das práticas
pedagógicas mediadas por tecnologias, esse replanejar torna-se mais fácil visto
a possibilidade de, ao considerarmos as diferentes formas de aprender dos
alunos, termos acesso a diferentes linguagens, mídias e recursos midiáticos que
favorecem a interação alunos-professor e alunos-alunos. Afinal,
avaliar a aprendizagem é diagnosticar
a qualidade de suas expressões a partir de indicadores, de preferência
construídos coletivamente pelos sujeitos, que permitam aos sujeitos avaliar e
ser avaliados. De posse desse diagnóstico, estabelecer processos de negociação
e redimensionamento de novas ações que de fato promovam mais e melhores
experiências de aprendizagem no processo de construção do conhecimento (SANTOS; LIMA, 2016, p. 78).
Seguindo essa linha de compreensão da avaliação como pacto
contratual, como processo contínuo de pesquisa e interpretação dos
conhecimentos e habilidades construídos pelos alunos, o docente estará mais
atento quando se fizer necessário tomar decisões sobre as alternativas de
intervenção e de reelaboração das estratégias pedagógicas e dos instrumentos
avaliativos propostos. Daí a importância de destacarmos que a avaliação
diagnóstica
é contínua e se dá no dia a dia da
sala de aula, permitindo que o professor faça intervenções privilegiando a
aprendizagem dos alunos. Deste modo, é capaz de perceber o que o aluno pode
fazer sozinho, de forma independente, e com a ajuda de outros colegas ou do
professor (BARBOSA,
2008, s/n).
A realização de atividades diversificadas e diluídas ao longo
do processo formativo, a explicitação dos critérios de avaliação; a oferta
constante de feedback, a aplicação de atividades de autoavaliação; o
acompanhamento da evolução da aprendizagem dos alunos e a adequação das
intervenções e das estratégias pedagógicas em função do desenvolvimento das
competências e objetivos de aprendizagem constituem-se como elementos
integradores da avaliação formativa (GARCIA, 2013). E, enquanto
prática reflexiva, a avaliação formativa, nas perspectivas do ensino e da
aprendizagem, envolve tanto a ação do professor mediador quanto a dos alunos. Nesse
sentido, Silva e Faria (2020) destacam as ações:
¾
dos alunos – envolvem a autoavaliação e a autorregulação da
aprendizagem, permitindo-lhes descobrir o seu nível de conhecimento e de
desenvolvimento, suas possibilidades e limites frente às atividades propostas;
¾ dos docentes – envolvem a dimensão mais abrangente da avaliação para além da realização de provas, testes e atribuição de notas, favorecendo ao docente repensar seu trabalho pedagógico para desenvolver ações que visem a melhoria dos resultados dos alunos.
Assim como esses autores, Barbosa (2008, s/n) destaca a avaliação
como um elemento integrador entre a
aprendizagem do aluno e a atuação do professor no processo de construção do
conhecimento e envolve múltiplos aspectos. Esta deve ser entendida como um
conjunto de atuações e ações e tem por função realimentar, sustentar e adequar
a intervenção pedagógica.
Seguindo essa concepção, nossa análise parte da perspectiva
de que, em práticas mediadas por tecnologias digitais (ou não), os instrumentos
de avaliação – enquanto recursos de coleta e análise de dados no processo
ensino-aprendizagem – devem estar alinhados ao que de fato foi abordado durante
as aulas, sem criar obstáculos para a demonstração das habilidades e
aprendizagens que se deseja avaliar (LUCKESI, 2013).
Na próxima seção, apresentamos uma análise sobre a aplicação
de alguns recursos digitais no processo de avaliação em contextos educacionais on-line
considerando as vantagens de sua utilização.
Avaliação mediada por recursos digitais
As TDIC têm produzido novas formas de comunicação e novos
referenciais para a construção e partilha de conhecimentos que, no campo
educacional, estimulam a criação de novas formas de interagir com os conteúdos
curriculares por meio de uma diversidade de mídias e linguagens; e recursos
midiáticos de interação, produção e partilha de conhecimentos produzidos
colaborativamente. Nesse contexto, indagamos como a integração dos recursos
digitais podem ser utilizados como instrumentos de avaliação da aprendizagem seja
em ambientes formativos presenciais e/ou virtuais.
Mercado (2008) destaca alguns recursos disponíveis em rede
que podem favorecer os processos contínuos de avaliação da aprendizagem como:
mapas mentais, mapas conceituais, memorial, blogs, fóruns de discussão, Webfólio
(portfólio virtual) e o Wiki. Com o avanço das TDIC, novos recursos
digitais foram criados e incorporados aos Ambientes Virtuais de Aprendizagem
(AVA). Aos recursos propostos por Mercado (2008), Faganello, Reis e Guimarães (2016) adicionam destaque para: o diário, o
chat, a mailing list (lista de discussão), a tarefa, a lição, o
glossário, o questionário, o webquest e o workshop.
Nesse contexto de evolução tecnológica, também devemos
considerar o avanço da telefonia e dos dispositivos móveis nas práticas de
aprendizagem móvel (m-Learning) que passaram a incorporar softwares;
aplicativos de raciocínio, de entretenimento e colaborativos; plataformas
digitais de comunicação, de produção autoral e/ou colaborativa, como
apresentados no Quadro 1. A disseminação desses recursos digitais no meio
educacional e suas várias possibilidades de aplicação/integração pedagógica
geraram, sobretudo no período do Ensino Remoto Emergencial (2020-2021), uma
necessária revisão das práticas e metodologias de ensino-aprendizagem,
fazendo-nos refletir sobre como integrar tais recursos às estratégias de
avaliação da aprendizagem.
Quadro 1 – Exemplos de interfaces digitais e funcionalidades
Interfaces
digitais |
Funcionalidades |
Google
Meet, Microsoft Teams e Zoom |
Plataformas de comunicação |
Anchor e Headliner |
Gravação e divulgação de podcasts |
Kahoot,
Wordwall e Nearpod |
Plataformas colaborativas de jogos
educativos, questionários interativos e criação de conteúdo |
Mentimeter
e Socrative |
Plataformas colaborativas para a criação
de questionários interativos e de conteúdo |
GoConqr, Mindmeister |
Plataformas para a criação de mapas
mentais |
Lucidchart e Cmap Tools |
Plataformas para a criação de mapas
conceituais |
Cacoo |
Criação de diagramas e fluxogramas on-line |
Padlet, ThingLink e Twiddla |
Plataformas de criação de murais
interativos |
Socrative, Google Formulários |
Aplicação de questionários on-line |
Meme Creator, Gerar Memes e Canva |
Ferramentas de criação de memes |
Canva, Genially e Prezi |
Criação de Conteúdo |
Storyboard,
Witty Comics e Pixton |
Ferramentas de criação de
quadrinhos |
Animaker
|
Plataforma para a criação de
desenhos animados |
Peergrade |
Criação de rubricas de avaliação e feedback |
Fonte: Elaboração da autora (2023).
Na seção seguinte apresentamos algumas considerações sobre
esses recursos utilizados como instrumentos de avaliação da aprendizagem.
Resultados e discussão
Com base no diálogo teórico e na identificação de interfaces
digitais, apresentamos, a seguir, alguns recursos que podem ser alinhados a
estratégias de avaliação da aprendizagem. Nossa análise tem como base a compreensão da necessidade de
pensarmos para além dos instrumentos avaliativos, refletindo sobre as
finalidades para as quais o processo avaliativo está sendo realizado (DEPRESBITERIS; TAVARES,
2017).
Partindo da concepção de avaliação como processo que
retroalimenta as ações educativas de professores e de alunos, abrangendo a
importância e o lugar do feedback formativo e da autoavaliação, da
autorregulação da aprendizagem, no Quadro 2 apresentamos alguns dos recursos
disponíveis em rede que podem pensados como instrumentos de avaliação da
aprendizagem em estratégias pedagógicas mediadas por tecnologias digitais.
Quadro 2 – Recursos
digitais e suas vantagens
Recurso |
Vantagens |
Fórum |
Permitir a interação pela leitura e
escrita de mensagens, envio de imagens, vídeos, áudios, links e hiperlinks.
É um recurso utilizado para promover a interação entre os alunos/cursistas,
podendo, também, ser utilizado para oportunizar a avaliação por pares. |
Google documentos |
Permitir a criação, produção e
compartilhamento de textos em tempo real. Pode ser utilizado para a produção
colaborativa síncrona ou assíncrona de textos dos mais variados gêneros e
finalidades sóciodiscursivas. |
Mapa mental |
Possibilitam a criação de resumos
com o objetivo de organizar o conteúdo e facilitar associações entre as
informações que podem ser destacadas por meio de símbolos, cores, setas e
frases de efeito |
Mapa conceitual |
Sua produção contribui para
desenvolver nos alunos algumas habilidades como estruturar, elaborar e
classificar conceitos por meio da representação gráfica de conteúdos de forma
resumida de conceitos interligados por verbos a proposições que estabelecem
relações de subordinações e inclusões conceituais. |
Mural digital |
Promove e estimula a interação
síncrona ou assíncrona entre seus leitores; abre a possibilidade de
publicação de diversos tipos de mídias – imagens; gifs; arquivos em
PDF, Word e PowerPoint; e-books, vídeos, textos, podcasts,
infográficos etc. – enriquecendo a oferta do material didático. |
Nuvem de palavras |
Permite a criação de uma
representação visual da frequência e do valor das palavras em um texto ou
contexto de interação, indicando o que é mais ou menos relevante, servindo,
por exemplo, para destacar as ideias mais comuns entre os participantes de um
encontro formativo sobre determinado conteúdo ou tema. |
Podcast |
Podem ser tomados como produto de
atividades educacionais com foco na apresentação oral de conteúdos e
informações, relatos de acontecimentos, bate-papos, debates informativos etc. |
Questionário |
Possibilita a elaboração de
questões de múltipla escolha, verdadeiro ou falso, resposta curta ou
parágrafo, lista suspensa, grade da caixa de seleção ou de múltipla escolha,
permitindo a utilização de imagens, áudios e vídeos na elaboração das
questões. |
Fonte: Elaboração da autora (2023).
Sem perder de vista a perspectiva da avaliação formativa,
antes de atribuir um valor quantitativo às produções dos alunos, é importante
que o professor lhes ofereça feedback sobre os pontos conceituais,
procedimentais e atitudinais consolidados e sobre os que necessitam de revisão,
o que permite aos alunos autorregular a própria aprendizagem pela análise e
refacção do caminho percorrido.
Considerando a importância do feedback formativo nos
processos de ensino e aprendizagem e da definição de indicadores de qualidade –
“referências que nortearão o acompanhamento do processo produtivo, bem como a
produção advinda desse processo”. (SANTOS; LIMA, 2016, p.
80), a seguir, apresentamos considerações sobre os recursos indicados no
Quadro 2.
1. Fórum de
discussão:
Esse é um recurso muito utilizado em cursos na EaD realizados em AVA. A
depender dos objetivos de ensino e de aprendizagem, os fóruns podem ser
utilizados em atividades de avaliação diagnóstica, somativa, formativa e, até
mesmo, de autoavaliação. Cabe ao docente definir em seu planejamento e
explicitar para os alunos os objetivos que se deseja alcançar com a utilização
do recurso, propondo-lhes rubricas de avaliação que lhes servirão tanto como
guia para a realização da proposta quanto como guia para a autoavaliação dos
alunos em relação ao alcance do que se espera deles ao participar dos fóruns.
Para os docentes que não são proprietários/usuários de AVA, existem recursos
digitais como o Padlet que podem ser utilizados como ambientes alternativos
para a realização de fóruns de discussão com fins educativos. Também há a
possibilidade de os fóruns serem realizados em blogs e grupos de Redes Sociais
em perfis criados, gerenciados e mediados pelo professor para suas turmas.
2. Google
Documentos:
Além de ser um recurso para a produção individual de textos, por permitir a
criação compartilhada de textos de forma síncrona ou assíncrona, esse recurso
pode ser utilizado com a mesma função dos wikis dos AVA para a criação
colaborativa de vários gêneros textuais como resumos, resenhas, sínteses. Com
esse recurso, a avaliação formativa explicita-se pela análise de alguns
aspectos como: domínio do tema proposto, coesão e coerência textual, capacidade
de síntese e de argumentação etc. Vale indicar a importância da explicitação
das orientações para a realização da proposta e dos critérios avaliativos, bem
como do feedback do docente durante a produção dos textos, favorecendo que os
alunos autorregulem sua trajetória de produção.
3. Mapas mentais
e mapas conceituais: Quando criados com
recursos digitais como o Coggle.it e o Mindmeister, é possível utilizar áudios,
imagens e vídeos que contribuam para a compreensão do tema abordado. Além
disso, plataformas como as citadas permitem a criação compartilhada em tempo
real ou de forma assíncrona, estimulando a interação entre os participantes na
produção colaborativa de conhecimentos. Guardando suas especificidades enquanto
gêneros textuais diferentes – visto que nos mapas conceituais o critério das
relações entre os conceitos deve ser avaliado em função das proposições que
estabelecem as relações de subordinações e inclusões conceituais – os mapas
permitem ao docente, no processo de avaliação formativa, identificar os avanços
conceituais desenvolvidos pelos alunos em relação aos conteúdos curriculares
envolvendo: criatividade e lógica na organização do mapa; relações justificadas
entre as informações; apresentação clara de conceitos; riqueza de ideias
apresentadas; representatividade do conteúdo estudado.
4. Murais
virtuais:
Como os murais permitem que seus usuários compartilhem a autoria e que seus
leitores interajam realizando postagens no mural, a utilização desse recurso
oportuniza a realização de atividades interativas e a produção colaborativa de
conhecimentos. Na perspectiva da avaliação formativa, a oferta de informações
em diferentes mídias pode favorecer a aplicação de estratégias pedagógicas com
foco:
¾
no
desenvolvimento do olhar crítico sobre as informações disponibilizadas;
¾
na
apropriação das linguagens das diferentes mídias digitais de conteúdo e das
práticas multiletradas em que elas se inscrevem;
¾
na
capacitação para a utilização de softwares e aplicativos para
compreender e produzir conteúdo em diversas mídias;
¾
e
na exploração do espírito investigativo, da autoria e da criatividade.
Para a avaliação da produção de murais interativos, sugerimos
alguns critérios comuns às áreas de conhecimento: a indicação de diferentes
fontes – sites, blogs etc., e mídias – artigos, podcasts, charges, memes,
vídeos etc.; a verificação da confiabilidade das informações apresentadas; e a
postagem da produção respeitando-se o cronograma proposto para sua realização.
5.
Nuvem
de palavras: Na
perspectiva da avaliação diagnóstica, esse recurso pode ser utilizo como
instrumento para diagnosticar os conhecimentos prévios dos alunos e decidir
quais são as estratégias didáticas mais adequadas para a abordagem dos
conteúdos curriculares. Esse recurso também pode ser utilizado como estratégia
de pré-produção textual pois, possibilita a seleção de palavras-chave que
comporão a produção colaborativa de textos utilizando-se outros recursos
digitais como o Google Documentos.
6.
Podcasts: Indicamos a produção de podcasts
expositivos ou informativos como estratégia pedagógica na perspectiva da
avaliação formativa pois, para se chegar ao produto em si, sua produção
envolve: ações de pesquisa temática: coleta e seleção dos dados da pesquisa;
produção de texto que será reproduzido oralmente; criação de roteiro de
gravação; gravação e socialização em redes sociais.
7.
Questionário: Geralmente utilizado na perspectiva
da avaliação somativa, o questionário pode ser utilizado como instrumento
diagnóstico para verificar os conhecimentos prévios dos alunos. Na perspectiva
da avaliação formativa, é um recurso útil para avaliar os conhecimentos
construídos pelos alunos e identificar aqueles que precisam ser retomados pelo
professor para fortalecer a sua aprendizagem. Para a elaboração de
questionários, um dos recursos popularizados durante o período da pandemia de
Covid-19 foi o Google Formulário. Para além da avaliação somativa, podemos
destacar que esse recurso também pode servir à avaliação diagnóstica para
verificar os conhecimentos prévios dos alunos e/ou como questionário de
autoavaliação. Outro recurso digital disponível em rede para a elaboração de
questionários é a plataforma/aplicativo Socrative que permite a interação via
smartphone, tablet ou computador com conexão com a Internet. Isso possibilita
que o professor utilize a plataforma para a aplicação de atividades tanto em sala
de aula (síncronas) como em atividades extraclasse (assíncronas). Além dessa
vantagem, o professor recebe o relatório simultâneo dos resultados dos
questionários permitindo-lhe identificar as aprendizagens consolidadas e os
pontos que precisam ser revistos em seu planejamento.
Gusso (2021) destaca que,
independentemente do recurso digital e da estratégia de ensino-aprendizagem,
além do planejamento criterioso das atividades de ensino com foco em objetivos
de aprendizagem relevantes, algumas diretrizes para a avaliação da aprendizagem
precisam ser consideradas:
¾
avaliar
o desempenho, não o aluno;
¾
focar
nos objetivos de aprendizagem, não em memorização;
¾
oferecer
feedbacks constantes e imediatos;
¾
a
realização de trabalhos ao longo do componente curricular;
¾
avaliar
as condições de ensino.
Seguindo tais diretrizes, apresentamos o Quadro 3 com o qual
nos propomos a estabelecer a integração entre os tipos e os instrumentos de
avaliação on-line com exemplos de interfaces digitais disponíveis para
sua criação/aplicação.
Quadro 3 – Tipos de avaliação, recursos digitais e
interfaces
Fonte: Elaboração da autora
(2023).
Dentre os recursos
apresentados, o questionário é um instrumento útil para a realização de
atividades de autoavaliação, sendo que, na perspectiva da avaliação formativa,
precisamos considerar a construção coletiva dos critérios de autorregulação e
autocontrole. Logo, a construção do instrumento de autoavaliação deve ser concebido como um contrato social estabelecido entre
avaliadores e avaliados que permita uma análise quantitativa e qualitativa do
desempenho dos alunos (Garcia, 2013). Já Conrad e Openo (2019) destacam
que a autoavaliação precisa ocorrer durante toda a trajetória do componente
curricular, permitindo ao docente diagnosticar os pontos fracos e fortes do seu
trabalho e o desenvolvimento de sua capacidade de analisar, sintetizar e
avaliar.
Considerações finais
Sem a pretensão de esgotar o tema ou propor soluções
definitivas, visto a complexidade de sua abrangência nos processos de ensino e
de aprendizagem, destacamos que independente do contexto educacional –
presencial, a distância, on-line ou híbrido – ou do tipo de avaliação e
do instrumento avaliativo utilizado, a avaliação deve ser proposta como um ato
amoroso, como um ato democrático ao assumir uma dimensão orientadora,
cooperativa e interativa cujos resultados não sejam utilizados para rotular
e/ou excluir os aprendentes dos processos educativos, mas para identificar seus
avanços e dificuldades e reorientar o planejamento e a ação docente. Ou seja:
avaliar para revitalizar, retroalimentar a prática pedagógica implicada em
práticas inclusivas que considerem as diferentes formas e ritmos de aprender
dos alunos e as múltiplas semioses – linguagens e mídias – na seleção do
material didático.
Nessa perspectiva, ao pensarmos na utilização dos recursos
digitais nos processos formativos e, mais especificamente, avaliativos,
consideramos pertinente que o docente conheça os recursos digitais e estabeleça
momentos dedicados à ambientação dos alunos nas plataformas, softwares e/ou
aplicativos sugeridos para a realização das atividades mediadas por
tecnologias. Esses momentos são importantes para que o uso dos recursos não se
torne em obstáculo para a realização das atividades, ao contrário, contribuam para
a inserção dos alunos nas práticas letradas da cultura digital.
Por fim, vale ainda indicar a importância da participação dos
docentes em processos de formação continuada para que possam desenvolver as
competências digitais necessárias à utilização coerente e eficaz dos recursos
digitais, integrando-os a seus saberes-fazeres e ao planejamento didático.
Formações que acompanhem o contínuo avanço das TDIC e abordem os recursos
digitais que, de fato, sejam relevantes para o alcance de objetivos de
aprendizagem e para o desenvolvimento de competências digitais e atendam às demandas
sociais de aprendizagem.
Referências
Barbosa,
Jane Rangel Alves. A Avaliação da
Aprendizagem como Processo Interativo: Um Desafio para o Educador. Democratizar,
v. II, n. 1, jan./abr. 2008. Instituto Superior de Educação da Zona Oeste/
Faetec/ Sect - RJ. Disponível em: https://cursos.unipampa.edu.br/cursos/progesus/files/2011/04/BARBOSA-JRA.-Avalia%C3%A7%C3%A3o-da-aprendizagem-como-processo-interativo.pdf. Acesso em: 26 jul. 2023.
Conrad, Dianne; Openo, Jason. Estratégias de avaliação para a aprendizagem online. São Paulo: Artesanato Educacional, 2019. Disponível em: http://www.abed.org.br/arquivos/Estrategias_de_avaliacao_para_aprendizagem_online_Athabasca.pdf. Acesso em: 20 ago. 2023.
GARCIA, Rosineide Pereira Mubarack. Avaliação da aprendizagem. In: GARCIA, Rosineide Pereira Mubarack. Avaliação da aprendizagem na educação a distância na perspectiva comunicacional. Cruz das Almas/BA: UFRB, 2013. p. 55-98. Disponível em: https://www1.ufrb.edu.br/editora/component/phocadownload/category/2-e-books?download=38:a-avaliacao-da-aprendizagem-na-educacao-a-distancia-na-perspectiva-comunicacional. Acesso em: 30 ago. 2023.
Gusso, Hélder. Avaliação da aprendizagem no ensino digital. In: TV UFRB, 11 dez. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9RzW5stqVy0&t=410s. Acesso em: 11 ago. 2023.
LIMA JUNIOR, Arnaud Soares de; ALVES, Lynn Rosalina Gama. Educação e contemporaneidade: novas aproximações sobre a avaliação no ensino online. In: SILVA, Marco; SANTOS, Edméa (Org.). Avaliação da aprendizagem em educação online: fundamentos, interfaces e dispositivos, relatos de experiências. São Paulo: Edições Loyola, 2006. p. 67-78.
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