ReTER, Santa Maria, v.5. ISSN:2675-9950 Submissão: 26/10/2023 Aprovação: 15/03/2024 Publicação: 12/04/2024

Avaliação conectada: recursos digitais integrados à avaliação da aprendizagem

 

Denise Claudete Bezerra de Oliveira

Secretaria de Educação do Estado da Bahia rattes.denise@gmail.com

  

Resumo: As inovações constantes das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) têm produzido novas formas de comunicação e introduzido novos referenciais para a produção de conhecimento, produzindo reflexões sobre a integração dos recursos digitais disponíveis em rede nos processos de ensino e de aprendizagem presenciais e virtuais. No contexto da pesquisa de caráter exploratório-descritivo, como base teórica autores que discutem as questões sobre a avaliação da aprendizagem em educação online, em diálogo com teóricos que abordam a avaliação da aprendizagem, este artigo tem como objetivo apresentar uma análise de estratégias de avaliação diagnóstica, somativa, formativa e de autoavaliação mediadas por tecnologias digitais a partir de revisão de literatura e da curadoria de interfaces digitais cujos recursos podem ser aplicados como instrumentos avaliativos. Como resultado, apresentamos um quadro comparativo/descritivo com o qual buscamos estabelecer a integração entre os tipos de avaliação e os instrumentos de avaliação on-line e suas respectivas interfaces digitais. Concluímos que o uso dos recursos das TDIC pode favorecer os processos de avaliação da aprendizagem desde que sejam concebidos como pacto contratual entre avaliador e avaliados, cabendo-nos, enquanto docentes, compreender e nos guiar pelas dimensões orientadora, cooperativa e interativa que caracterizam o ato de avaliar.

Palavras-chave: Avaliação da aprendizagem. Instrumentos avaliativos. Recursos digitais.

 

CONNECTED ASSESSMENT: DIGITAL RESOURCES INTEGRATED INTO LEARNING ASSESSMENT

 

Abstract: The constant innovations of Digital Information and Communication Technologies (DICT) have produced new forms of communication and introduced new references for the production of knowledge, producing reflections on the integration of digital resources available on the net in face-to-face and virtual teaching and learning processes. In the context of exploratory-descriptive research, the theoretical basis of which are authors who discuss questions about learning assessment in online education, in dialogue with theorists who address learning assessment, this article aims to present an analysis of diagnostic, summative, formative, and self-assessment strategies mediated by digital technologies based on a literature review and curation of digital interfaces whose resources can be applied as assessment tools. As a result, we present a comparative/descriptive framework with which we seek to establish the integration between the types of assessment and online assessment tools and their respective digital interfaces. We conclude that the use of DICT resources can favor learning assessment processes as long as they are conceived as a contractual pact between the assessor and those being assessed. As teachers, it is up to us to understand and be guided by the guiding, cooperative and interactive dimensions that characterize the act of assessment.

Keywords: Learning assessment. Assessment tools. Digital resources.

 

 

Introdução

As propostas de integração dos avanços das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) nas práticas educativas têm promovido reflexões e experiências significativas sobre o uso dos novos recursos digitais como softwares, aplicativos e plataformas digitais de produção autoral e de compartilhamento de novos conhecimentos. Principalmente em função da difusão das práticas de aprendizagem móvel (m-Learning), assistimos a um movimento crescente em busca de integrar os recursos digitais interativos que viabilizam práticas colaborativas de produção de conhecimentos às práticas tradicionais de avaliação – prova/teste, lista de exercícios, questionário, tarefa, pesquisa, projeto, portfólio, estudo de caso, seminário, relatório, resenha, diário de aprendizagem etc. Essa difusão nos instiga a pesquisar sobre quais e como os recursos digitais podem ser utilizados como instrumentos avaliativos, considerando-se as perspectivas de avaliação formativa, somativa e diagnóstica.

Cientes de que a definição dos instrumentos de avaliação feita por nós, docentes, “resulta sempre de suas concepções de educação e de aprendizagem, bem como de suas crenças, ideologia, imaginário e representações sociais. Logo, nunca é uma prática isenta de intencionalidades e de interesses, com repercussões sociais também psicológicas” (LIMA JUNIOR; ALVES, 2006, p. 68-69), esperamos que a seleção/descrição/análise dos recursos digitais apresentados neste estudo contribua para a diversificação tanto das estratégias de abordagem dos conteúdos curriculares quantos das estratégias e dos instrumentos de avaliação, favorecendo a busca de alternativas que possibilitem a qualificação do desempenho e da aprendizagem dos alunos no processo ensino-aprendizagem.

Metodologia

Inserido no contexto da pesquisa de caráter exploratório-descritivo, nosso estudo tem como base teórica autores como Garcia (2013), Luckesi (2013; 2005) e Hoffman (2019) que abordam a avaliação da aprendizagem e Silva e Faria (2020), Conrad e Openo (2019), Depresbiteris e Tavares (2017), Faganello, Reis e Guimarães (2016), Mercado (2008), Silva e Santos (2006) que discutem as questões sobre a avaliação da aprendizagem em educação on-line, dentre outros. A partir da curadoria e análise de interfaces digitais, cujos recursos podem ser aplicados como instrumentos avaliativos, fundamentadas no diálogo teórico sobre a avaliação da aprendizagem, visamos apresentar uma análise de recursos digitais que possam contribuir para uma avaliação da aprendizagem mediada por tecnologias digitais em espaços formativos presenciais, virtuais ou híbridos.

Como procedimentos metodológicos para o alcance do objetivo deste estudo, nos propusemos a: realizar um levantamento bibliográfico sobre as concepções de avaliação da aprendizagem em ambientes on-line; apresentar uma análise sobre os tipos de avaliação da aprendizagem e sua aplicação em ambientes de aprendizagem on-line; identificar interfaces digitais cujos recursos podem ser utilizados com instrumentos de avaliação; construir um quadro comparativo/descritivo apresentando os diferentes tipos de avaliação alinhados a recursos digitais como instrumentos de avaliação e suas respectivas interfaces digitais.

Este estudo está organizado nas seguintes seções: Considerações iniciais sobre a avaliação da aprendizagem; Avaliação mediada por recursos digitais; Resultados e discussões – seção onde apresentamos uma análise de alguns recursos digitais aplicáveis ao processo de avaliação e um quadro descritivo/comparativo com o qual indicamos a relação entre os tipos de avaliação, os instrumentos de avaliação on-line e suas respectivas interfaces digitais; Considerações finais; e Referências.

Considerações iniciais sobre a avaliação da aprendizagem  

De acordo com Luckesi (2005), diagnosticar e decidir são processos indissociáveis do ato de avaliar. A partir dessa proposição, inferimos que a avaliação diagnóstica além de ter a função de coletar informações sobre os conhecimentos prévios adquiridos pelos alunos em suas práticas sociais cotidianas sobre determinado tema/conteúdo, cumpre uma função investigativa visto que essas informações contribuem para “a organização de conteúdos e atividades a serem desenvolvidas durante o processo educativo, visando atender às necessidades individuais e coletivas do grupo”(GARCIA, 2013, p. 67).

Tradicionalmente, tanto a avaliação diagnóstica quanto a somativa são propostas em momentos distintos e pré-definidos – no início e ao final dos processos formativos – utilizando-se, geralmente, provas e testes como instrumentos avaliativos focados na mensuração quantitativa dos dados. Nossa incursão teórica nos confirma que elas devem ser propostas no transcorrer do processo formativo, oportunizando a coleta de dados sobre a evolução da aprendizagem dos alunos e sobre as ações pedagógicas que precisam ser replanejadas. Isso implica em destacar que “avaliar a aprendizagem do aluno é também avaliar a intervenção do professor, já que o ensino deve ser planejado e replanejado em função das aprendizagens conquistadas ou não” (WEISZ; SANCHES, 2006, p. 95). Nesse sentido, a avaliação da aprendizagem assume a perspectiva formativa ao nos guiar para a seleção de metodologias, estratégias e instrumentos diversificados e flexíveis mais adequados à abordagem dos conteúdos curriculares e aos saberes já consolidados pelos alunos (Hoffman, 2019).

Nas práticas pedagógicas tradicionais, a avaliação somativa geralmente está associada à quantificação dos resultados mensurados por instrumentos como testes e provas com foco na verificação dos conteúdos memorizados pelos alunos. Em relação a esses instrumentos, consideramos sua validade desde que se altere o foco da avaliação para compreensão dos conteúdos. Nesse caso, os resultados obtidos com a avaliação somativa tornam-se pistas sobre os conhecimentos construídos pelos alunos e sobre aqueles que precisam de uma intervenção pontual que privilegiem a consolidação das aprendizagens dos alunos. Dessa forma, a aplicação de um teste ou prova muda de foco passando a cumprir o papel de diagnóstico da aprendizagem e de indicador para o replanejamento das ações pedagógicas. 

No contexto das práticas pedagógicas mediadas por tecnologias, esse replanejar torna-se mais fácil visto a possibilidade de, ao considerarmos as diferentes formas de aprender dos alunos, termos acesso a diferentes linguagens, mídias e recursos midiáticos que favorecem a interação alunos-professor e alunos-alunos. Afinal,

avaliar a aprendizagem é diagnosticar a qualidade de suas expressões a partir de indicadores, de preferência construídos coletivamente pelos sujeitos, que permitam aos sujeitos avaliar e ser avaliados. De posse desse diagnóstico, estabelecer processos de negociação e redimensionamento de novas ações que de fato promovam mais e melhores experiências de aprendizagem no processo de construção do conhecimento (SANTOS; LIMA, 2016, p. 78).

 

Seguindo essa linha de compreensão da avaliação como pacto contratual, como processo contínuo de pesquisa e interpretação dos conhecimentos e habilidades construídos pelos alunos, o docente estará mais atento quando se fizer necessário tomar decisões sobre as alternativas de intervenção e de reelaboração das estratégias pedagógicas e dos instrumentos avaliativos propostos. Daí a importância de destacarmos que a avaliação diagnóstica

é contínua e se dá no dia a dia da sala de aula, permitindo que o professor faça intervenções privilegiando a aprendizagem dos alunos. Deste modo, é capaz de perceber o que o aluno pode fazer sozinho, de forma independente, e com a ajuda de outros colegas ou do professor (BARBOSA, 2008, s/n).

 

A realização de atividades diversificadas e diluídas ao longo do processo formativo, a explicitação dos critérios de avaliação; a oferta constante de feedback, a aplicação de atividades de autoavaliação; o acompanhamento da evolução da aprendizagem dos alunos e a adequação das intervenções e das estratégias pedagógicas em função do desenvolvimento das competências e objetivos de aprendizagem constituem-se como elementos integradores da avaliação formativa (GARCIA, 2013). E, enquanto prática reflexiva, a avaliação formativa, nas perspectivas do ensino e da aprendizagem, envolve tanto a ação do professor mediador quanto a dos alunos. Nesse sentido, Silva e Faria (2020) destacam as ações:

¾    dos alunos – envolvem a autoavaliação e a autorregulação da aprendizagem, permitindo-lhes descobrir o seu nível de conhecimento e de desenvolvimento, suas possibilidades e limites frente às atividades propostas;

¾    dos docentes – envolvem a dimensão mais abrangente da avaliação para além da realização de provas, testes e atribuição de notas, favorecendo ao docente repensar seu trabalho pedagógico para desenvolver ações que visem a melhoria dos resultados dos alunos.

Assim como esses autores, Barbosa (2008, s/n) destaca a avaliação

como um elemento integrador entre a aprendizagem do aluno e a atuação do professor no processo de construção do conhecimento e envolve múltiplos aspectos. Esta deve ser entendida como um conjunto de atuações e ações e tem por função realimentar, sustentar e adequar a intervenção pedagógica.

 

Seguindo essa concepção, nossa análise parte da perspectiva de que, em práticas mediadas por tecnologias digitais (ou não), os instrumentos de avaliação – enquanto recursos de coleta e análise de dados no processo ensino-aprendizagem – devem estar alinhados ao que de fato foi abordado durante as aulas, sem criar obstáculos para a demonstração das habilidades e aprendizagens que se deseja avaliar (LUCKESI, 2013).

Na próxima seção, apresentamos uma análise sobre a aplicação de alguns recursos digitais no processo de avaliação em contextos educacionais on-line considerando as vantagens de sua utilização.

Avaliação mediada por recursos digitais

As TDIC têm produzido novas formas de comunicação e novos referenciais para a construção e partilha de conhecimentos que, no campo educacional, estimulam a criação de novas formas de interagir com os conteúdos curriculares por meio de uma diversidade de mídias e linguagens; e recursos midiáticos de interação, produção e partilha de conhecimentos produzidos colaborativamente. Nesse contexto, indagamos como a integração dos recursos digitais podem ser utilizados como instrumentos de avaliação da aprendizagem seja em ambientes formativos presenciais e/ou virtuais.

Mercado (2008) destaca alguns recursos disponíveis em rede que podem favorecer os processos contínuos de avaliação da aprendizagem como: mapas mentais, mapas conceituais, memorial, blogs, fóruns de discussão, Webfólio (portfólio virtual) e o Wiki. Com o avanço das TDIC, novos recursos digitais foram criados e incorporados aos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). Aos recursos propostos por Mercado (2008), Faganello, Reis e Guimarães (2016) adicionam destaque para: o diário, o chat, a mailing list (lista de discussão), a tarefa, a lição, o glossário, o questionário, o webquest e o workshop.

Nesse contexto de evolução tecnológica, também devemos considerar o avanço da telefonia e dos dispositivos móveis nas práticas de aprendizagem móvel (m-Learning) que passaram a incorporar softwares; aplicativos de raciocínio, de entretenimento e colaborativos; plataformas digitais de comunicação, de produção autoral e/ou colaborativa, como apresentados no Quadro 1. A disseminação desses recursos digitais no meio educacional e suas várias possibilidades de aplicação/integração pedagógica geraram, sobretudo no período do Ensino Remoto Emergencial (2020-2021), uma necessária revisão das práticas e metodologias de ensino-aprendizagem, fazendo-nos refletir sobre como integrar tais recursos às estratégias de avaliação da aprendizagem.


 

Quadro 1 – Exemplos de interfaces digitais e funcionalidades

Interfaces digitais

Funcionalidades

Google Meet, Microsoft Teams e Zoom

Plataformas de comunicação

Anchor e Headliner

Gravação e divulgação de podcasts

Kahoot, Wordwall e Nearpod

Plataformas colaborativas de jogos educativos, questionários interativos e criação de conteúdo

Mentimeter e Socrative

Plataformas colaborativas para a criação de questionários interativos e de conteúdo

GoConqr, Mindmeister

Plataformas para a criação de mapas mentais

Lucidchart e Cmap Tools

Plataformas para a criação de mapas conceituais

Cacoo

Criação de diagramas e fluxogramas on-line

Padlet, ThingLink e Twiddla

Plataformas de criação de murais interativos

Socrative, Google Formulários

Aplicação de questionários on-line

Meme Creator, Gerar Memes e Canva

Ferramentas de criação de memes

Canva, Genially e Prezi

Criação de Conteúdo

Storyboard, Witty Comics e Pixton

Ferramentas de criação de quadrinhos

Animaker

Plataforma para a criação de desenhos animados

Peergrade

Criação de rubricas de avaliação e feedback

Fonte: Elaboração da autora (2023).

Na seção seguinte apresentamos algumas considerações sobre esses recursos utilizados como instrumentos de avaliação da aprendizagem.

Resultados e discussão

Com base no diálogo teórico e na identificação de interfaces digitais, apresentamos, a seguir, alguns recursos que podem ser alinhados a estratégias de avaliação da aprendizagem. Nossa análise tem como base a compreensão da necessidade de pensarmos para além dos instrumentos avaliativos, refletindo sobre as finalidades para as quais o processo avaliativo está sendo realizado (DEPRESBITERIS; TAVARES, 2017).

Partindo da concepção de avaliação como processo que retroalimenta as ações educativas de professores e de alunos, abrangendo a importância e o lugar do feedback formativo e da autoavaliação, da autorregulação da aprendizagem, no Quadro 2 apresentamos alguns dos recursos disponíveis em rede que podem pensados como instrumentos de avaliação da aprendizagem em estratégias pedagógicas mediadas por tecnologias digitais.

Quadro 2 – Recursos digitais e suas vantagens

Recurso

Vantagens

Fórum

Permitir a interação pela leitura e escrita de mensagens, envio de imagens, vídeos, áudios, links e hiperlinks. É um recurso utilizado para promover a interação entre os alunos/cursistas, podendo, também, ser utilizado para oportunizar a avaliação por pares.

Google documentos

Permitir a criação, produção e compartilhamento de textos em tempo real. Pode ser utilizado para a produção colaborativa síncrona ou assíncrona de textos dos mais variados gêneros e finalidades sóciodiscursivas.

Mapa mental

Possibilitam a criação de resumos com o objetivo de organizar o conteúdo e facilitar associações entre as informações que podem ser destacadas por meio de símbolos, cores, setas e frases de efeito

Mapa conceitual

Sua produção contribui para desenvolver nos alunos algumas habilidades como estruturar, elaborar e classificar conceitos por meio da representação gráfica de conteúdos de forma resumida de conceitos interligados por verbos a proposições que estabelecem relações de subordinações e inclusões conceituais.

Mural digital

Promove e estimula a interação síncrona ou assíncrona entre seus leitores; abre a possibilidade de publicação de diversos tipos de mídias – imagens; gifs; arquivos em PDF, Word e PowerPoint; e-books, vídeos, textos, podcasts, infográficos etc. – enriquecendo a oferta do material didático.

Nuvem de palavras

Permite a criação de uma representação visual da frequência e do valor das palavras em um texto ou contexto de interação, indicando o que é mais ou menos relevante, servindo, por exemplo, para destacar as ideias mais comuns entre os participantes de um encontro formativo sobre determinado conteúdo ou tema.

Podcast

Podem ser tomados como produto de atividades educacionais com foco na apresentação oral de conteúdos e informações, relatos de acontecimentos, bate-papos, debates informativos etc.

Questionário

Possibilita a elaboração de questões de múltipla escolha, verdadeiro ou falso, resposta curta ou parágrafo, lista suspensa, grade da caixa de seleção ou de múltipla escolha, permitindo a utilização de imagens, áudios e vídeos na elaboração das questões.

Fonte: Elaboração da autora (2023).

Sem perder de vista a perspectiva da avaliação formativa, antes de atribuir um valor quantitativo às produções dos alunos, é importante que o professor lhes ofereça feedback sobre os pontos conceituais, procedimentais e atitudinais consolidados e sobre os que necessitam de revisão, o que permite aos alunos autorregular a própria aprendizagem pela análise e refacção do caminho percorrido.

Considerando a importância do feedback formativo nos processos de ensino e aprendizagem e da definição de indicadores de qualidade – “referências que nortearão o acompanhamento do processo produtivo, bem como a produção advinda desse processo”. (SANTOS; LIMA, 2016, p. 80), a seguir, apresentamos considerações sobre os recursos indicados no Quadro 2.

1.     Fórum de discussão: Esse é um recurso muito utilizado em cursos na EaD realizados em AVA. A depender dos objetivos de ensino e de aprendizagem, os fóruns podem ser utilizados em atividades de avaliação diagnóstica, somativa, formativa e, até mesmo, de autoavaliação. Cabe ao docente definir em seu planejamento e explicitar para os alunos os objetivos que se deseja alcançar com a utilização do recurso, propondo-lhes rubricas de avaliação que lhes servirão tanto como guia para a realização da proposta quanto como guia para a autoavaliação dos alunos em relação ao alcance do que se espera deles ao participar dos fóruns. Para os docentes que não são proprietários/usuários de AVA, existem recursos digitais como o Padlet que podem ser utilizados como ambientes alternativos para a realização de fóruns de discussão com fins educativos. Também há a possibilidade de os fóruns serem realizados em blogs e grupos de Redes Sociais em perfis criados, gerenciados e mediados pelo professor para suas turmas.

2.     Google Documentos: Além de ser um recurso para a produção individual de textos, por permitir a criação compartilhada de textos de forma síncrona ou assíncrona, esse recurso pode ser utilizado com a mesma função dos wikis dos AVA para a criação colaborativa de vários gêneros textuais como resumos, resenhas, sínteses. Com esse recurso, a avaliação formativa explicita-se pela análise de alguns aspectos como: domínio do tema proposto, coesão e coerência textual, capacidade de síntese e de argumentação etc. Vale indicar a importância da explicitação das orientações para a realização da proposta e dos critérios avaliativos, bem como do feedback do docente durante a produção dos textos, favorecendo que os alunos autorregulem sua trajetória de produção.

3.     Mapas mentais e mapas conceituais:  Quando criados com recursos digitais como o Coggle.it e o Mindmeister, é possível utilizar áudios, imagens e vídeos que contribuam para a compreensão do tema abordado. Além disso, plataformas como as citadas permitem a criação compartilhada em tempo real ou de forma assíncrona, estimulando a interação entre os participantes na produção colaborativa de conhecimentos. Guardando suas especificidades enquanto gêneros textuais diferentes – visto que nos mapas conceituais o critério das relações entre os conceitos deve ser avaliado em função das proposições que estabelecem as relações de subordinações e inclusões conceituais – os mapas permitem ao docente, no processo de avaliação formativa, identificar os avanços conceituais desenvolvidos pelos alunos em relação aos conteúdos curriculares envolvendo: criatividade e lógica na organização do mapa; relações justificadas entre as informações; apresentação clara de conceitos; riqueza de ideias apresentadas; representatividade do conteúdo estudado.

4.     Murais virtuais: Como os murais permitem que seus usuários compartilhem a autoria e que seus leitores interajam realizando postagens no mural, a utilização desse recurso oportuniza a realização de atividades interativas e a produção colaborativa de conhecimentos. Na perspectiva da avaliação formativa, a oferta de informações em diferentes mídias pode favorecer a aplicação de estratégias pedagógicas com foco:

¾     no desenvolvimento do olhar crítico sobre as informações disponibilizadas;

¾     na apropriação das linguagens das diferentes mídias digitais de conteúdo e das práticas multiletradas em que elas se inscrevem;

¾     na capacitação para a utilização de softwares e aplicativos para compreender e produzir conteúdo em diversas mídias;

¾     e na exploração do espírito investigativo, da autoria e da criatividade.

Para a avaliação da produção de murais interativos, sugerimos alguns critérios comuns às áreas de conhecimento: a indicação de diferentes fontes – sites, blogs etc., e mídias – artigos, podcasts, charges, memes, vídeos etc.; a verificação da confiabilidade das informações apresentadas; e a postagem da produção respeitando-se o cronograma proposto para sua realização.

5.     Nuvem de palavras: Na perspectiva da avaliação diagnóstica, esse recurso pode ser utilizo como instrumento para diagnosticar os conhecimentos prévios dos alunos e decidir quais são as estratégias didáticas mais adequadas para a abordagem dos conteúdos curriculares. Esse recurso também pode ser utilizado como estratégia de pré-produção textual pois, possibilita a seleção de palavras-chave que comporão a produção colaborativa de textos utilizando-se outros recursos digitais como o Google Documentos.

6.     Podcasts: Indicamos a produção de podcasts expositivos ou informativos como estratégia pedagógica na perspectiva da avaliação formativa pois, para se chegar ao produto em si, sua produção envolve: ações de pesquisa temática: coleta e seleção dos dados da pesquisa; produção de texto que será reproduzido oralmente; criação de roteiro de gravação; gravação e socialização em redes sociais.

7.     Questionário: Geralmente utilizado na perspectiva da avaliação somativa, o questionário pode ser utilizado como instrumento diagnóstico para verificar os conhecimentos prévios dos alunos. Na perspectiva da avaliação formativa, é um recurso útil para avaliar os conhecimentos construídos pelos alunos e identificar aqueles que precisam ser retomados pelo professor para fortalecer a sua aprendizagem. Para a elaboração de questionários, um dos recursos popularizados durante o período da pandemia de Covid-19 foi o Google Formulário. Para além da avaliação somativa, podemos destacar que esse recurso também pode servir à avaliação diagnóstica para verificar os conhecimentos prévios dos alunos e/ou como questionário de autoavaliação. Outro recurso digital disponível em rede para a elaboração de questionários é a plataforma/aplicativo Socrative que permite a interação via smartphone, tablet ou computador com conexão com a Internet. Isso possibilita que o professor utilize a plataforma para a aplicação de atividades tanto em sala de aula (síncronas) como em atividades extraclasse (assíncronas). Além dessa vantagem, o professor recebe o relatório simultâneo dos resultados dos questionários permitindo-lhe identificar as aprendizagens consolidadas e os pontos que precisam ser revistos em seu planejamento.

 

Gusso (2021) destaca que, independentemente do recurso digital e da estratégia de ensino-aprendizagem, além do planejamento criterioso das atividades de ensino com foco em objetivos de aprendizagem relevantes, algumas diretrizes para a avaliação da aprendizagem precisam ser consideradas:

¾    avaliar o desempenho, não o aluno;

¾    focar nos objetivos de aprendizagem, não em memorização;

¾    oferecer feedbacks constantes e imediatos;

¾    a realização de trabalhos ao longo do componente curricular;

¾    avaliar as condições de ensino.

Seguindo tais diretrizes, apresentamos o Quadro 3 com o qual nos propomos a estabelecer a integração entre os tipos e os instrumentos de avaliação on-line com exemplos de interfaces digitais disponíveis para sua criação/aplicação.

Quadro 3 – Tipos de avaliação, recursos digitais e interfaces

Tipo de avaliação

Recurso digital

Interfaces digitais

Avaliação diagnóstica

Nuvem de palavras

Mentimeter: https://www.mentimeter.com/pt-BR

Word Art:  https://wordart.com/nwl5dq0aletg/nuvem-de-palavras

Venngage:  https://pt.venngage.com/features/criar-nuvem-de-palavras

Infogram: https://infogram.com/pt/criar/nuvem-de-palavra

Wordclouds: https://www.wordclouds.com/

 

 

Mapa mental

 

GoConqr https://www.goconqr.com/

Mindmeister: https://www.mindmeister.com/pt

Coggle: https://coggle.it/

Venngage: https://pt.venngage.com/features/fazer-mapa-mental

Avaliação formativa e somativa

Mapa conceitual

Lucidchart: https://www.lucidchart.com/pages/

CMAP: https://cmap.ihmc.us/

Canva: https://www.canva.com/pt_br/

GitMind: https://gitmind.com/

 

Wiki

Google documentos

Libre Office: https://pt-br.libreoffice.org/

Only Office: https://www.onlyoffice.com/pt/

Avaliação somativa

Questionário

Google Formulários

Socrative: https://www.socrative.com/

 

 

 

Mural interativo

Padlet: https://padlet.com 

Thinglink: https://www.thinglink.com/

Mural: https://www.mural.co/

Creately: https://creately.com/pt/alternativa-mural/

 

 

 

 

Avaliação formativa

 

 

Podcast

Anchor: https://anchor.fm/

Adobe Audition: https://www.adobe.com/br/products/audition.html

MP3 Skype Recorder: https://mp3skyperecorder.com/

Audacity: https://www.audacityteam.org/

WhatsApp: https://www.whatsapp.com/

 

Fórum de discussão

 

Recurso Fórum do Moodle

Google Sala de Aula

Layout Lista do Padlet: https://padlet.com

 

 

Blogs:

¾     Wix: https://pt.wix.com/start/criar-blog

¾     WordPress: https://br.wordpress.org/

¾     Blogger: https://www.blogger.com/about/?bpli=1

¾     Webnode: https://www.webnode.com/pt/blog/

Fonte: Elaboração da autora (2023).

Dentre os recursos apresentados, o questionário é um instrumento útil para a realização de atividades de autoavaliação, sendo que, na perspectiva da avaliação formativa, precisamos considerar a construção coletiva dos critérios de autorregulação e autocontrole. Logo, a construção do instrumento de autoavaliação deve ser concebido como um contrato social estabelecido entre avaliadores e avaliados que permita uma análise quantitativa e qualitativa do desempenho dos alunos (Garcia, 2013). Já Conrad e Openo (2019) destacam que a autoavaliação precisa ocorrer durante toda a trajetória do componente curricular, permitindo ao docente diagnosticar os pontos fracos e fortes do seu trabalho e o desenvolvimento de sua capacidade de analisar, sintetizar e avaliar.

Considerações finais

Sem a pretensão de esgotar o tema ou propor soluções definitivas, visto a complexidade de sua abrangência nos processos de ensino e de aprendizagem, destacamos que independente do contexto educacional – presencial, a distância, on-line ou híbrido – ou do tipo de avaliação e do instrumento avaliativo utilizado, a avaliação deve ser proposta como um ato amoroso, como um ato democrático ao assumir uma dimensão orientadora, cooperativa e interativa cujos resultados não sejam utilizados para rotular e/ou excluir os aprendentes dos processos educativos, mas para identificar seus avanços e dificuldades e reorientar o planejamento e a ação docente. Ou seja: avaliar para revitalizar, retroalimentar a prática pedagógica implicada em práticas inclusivas que considerem as diferentes formas e ritmos de aprender dos alunos e as múltiplas semioses – linguagens e mídias – na seleção do material didático.

Nessa perspectiva, ao pensarmos na utilização dos recursos digitais nos processos formativos e, mais especificamente, avaliativos, consideramos pertinente que o docente conheça os recursos digitais e estabeleça momentos dedicados à ambientação dos alunos nas plataformas, softwares e/ou aplicativos sugeridos para a realização das atividades mediadas por tecnologias. Esses momentos são importantes para que o uso dos recursos não se torne em obstáculo para a realização das atividades, ao contrário, contribuam para a inserção dos alunos nas práticas letradas da cultura digital.

Por fim, vale ainda indicar a importância da participação dos docentes em processos de formação continuada para que possam desenvolver as competências digitais necessárias à utilização coerente e eficaz dos recursos digitais, integrando-os a seus saberes-fazeres e ao planejamento didático. Formações que acompanhem o contínuo avanço das TDIC e abordem os recursos digitais que, de fato, sejam relevantes para o alcance de objetivos de aprendizagem e para o desenvolvimento de competências digitais e atendam às demandas sociais de aprendizagem.

Referências

Barbosa, Jane Rangel Alves. A Avaliação da Aprendizagem como Processo Interativo: Um Desafio para o Educador. Democratizar, v. II, n. 1, jan./abr. 2008. Instituto Superior de Educação da Zona Oeste/ Faetec/ Sect - RJ. Disponível em: https://cursos.unipampa.edu.br/cursos/progesus/files/2011/04/BARBOSA-JRA.-Avalia%C3%A7%C3%A3o-da-aprendizagem-como-processo-interativo.pdf. Acesso em: 26 jul. 2023.

Conrad, Dianne; Openo, Jason. Estratégias de avaliação para a aprendizagem online. São Paulo: Artesanato Educacional, 2019. Disponível em:  http://www.abed.org.br/arquivos/Estrategias_de_avaliacao_para_aprendizagem_online_Athabasca.pdf. Acesso em: 20 ago. 2023.

DEPRESBITERIS, Léa; TAVARES, Marialva Rossi. Diversificar é preciso... Instrumentos e técnicas de avaliação da aprendizagem. Editora Senac. São Paulo: 2017.

Faganello, Josiane; Reis, Eli dos; Guimarães, Maria Inês Pereira. Os instrumentos de avaliação da aprendizagem e a avaliação formativa em Educação a Distância. Simpósio Internacional de Educação a Distância e Encontro de Pesquisadores em Educação a Distância, set. 2016. Disponível em: http://www.sied-enped2016.ead.ufscar.br/ojs/index.php/2016/article/view/1262/535. Acesso em: 01 out. 2023.    

GARCIA, Rosineide Pereira Mubarack. Avaliação da aprendizagem. In: GARCIA, Rosineide Pereira Mubarack. Avaliação da aprendizagem na educação a distância na perspectiva comunicacional. Cruz das Almas/BA: UFRB, 2013. p. 55-98. Disponível em: https://www1.ufrb.edu.br/editora/component/phocadownload/category/2-e-books?download=38:a-avaliacao-da-aprendizagem-na-educacao-a-distancia-na-perspectiva-comunicacional. Acesso em: 30 ago. 2023.

Gusso, Hélder. Avaliação da aprendizagem no ensino digital. In: TV UFRB, 11 dez. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9RzW5stqVy0&t=410s. Acesso em: 11 ago. 2023.

HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola uma universidade. 35. ed. revista. Porto Alegre, Editora Mediação, 2019.

LIMA JUNIOR, Arnaud Soares de; ALVES, Lynn Rosalina Gama. Educação e contemporaneidade: novas aproximações sobre a avaliação no ensino online. In: SILVA, Marco; SANTOS, Edméa (Org.). Avaliação da aprendizagem em educação online: fundamentos, interfaces e dispositivos, relatos de experiências. São Paulo: Edições Loyola, 2006. p. 67-78.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22a. ed. São Paulo: Cortez, 2013. Disponível em: https://fliphtml5.com/xvkas/grtn/basic. Acesso em: 04 jul. 2023.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando conceitos e criando a prática. 2 ed. Salvador: Malabares Comunicações e Eventos, 2005.

MERCADO, Luís Paulo Leopoldo. Ferramentas de Avaliação na Educação Online. Programa de Pós-Graduação em Educação – Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Brasil, 2008. Disponível em: http://www.niee.ufrgs.br/eventos/RIBIE/2008/pdf/ferramientas_avaluacion.pdf. Acesso em: 04 jul. 2023.

SANTOS, Edméa; LIMA, Gilson Alves. Avaliação da Aprendizagem em Educação Online: co-criação de fundamentos, práticas e dispositivos. In: Amante, L.; Oliveira, I. (Coord.). Avaliação das Aprendizagens: Perspectivas, contextos e práticas. Lisboa: Universidade Aberta, 2016. p.197-212. Disponível em: https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/6114/1/ebookLEaD_3%20%282%29.pdf. Acesso em: 22 jul. 2023. 

SILVA, Saulo José Correia da.; FARIA, Adriano. O sistema de avaliação no Ensino Superior. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 07, v. 03, julho, 2020. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/sistema-de-avaliacao. Acesso em: 06 ago. 2023.

WEISZ, Telma; SANCHES, Ana. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. 2.ed.  São Paulo: Ática, 2006.