ReTER, Santa Maria, v.2, n.3. ISSN:2675-9950 Melhores artigos SENID 2021

PRODUÇÃO INTERATIVA DE PODCAST COMO FERRAMENTA DE LEITURA CRÍTICA DE LÍNGUA INGLESA PARA EDUCAÇÃO BÁSICA

 

Hellen Boton Gandin

Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, Frederico Westphalen, RShellengandin@gmail.com

Ana Paula Teixeira Porto

Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, Frederico Westphalen, RS – anapaula@uri.edu.br

  

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar as potencialidades da ferramenta tecnológica e digital podcast, apontando quais são suas contribuições para práticas de formação leitora de Língua Inglesa na Educação Básica. Dessa forma, o artigo contempla reflexões a respeito da formação leitora de Língua Inglesa nessa etapa escolar e revisa principais documentos que norteiam a educação básica do país, como a BNCC (2018); LDB (1996); e a Matriz de Referência do ENEM (2009). Além disso, são apresentados conceitos referentes à produção interativa de podcast neste contexto de ensino, os quais são abordados com fontes de referências de autores como: Oliveira e Cardoso (2009); Adelina Moura (2010); Rosell-Aguilar (2009); Reis e Gomes (2014). A pesquisa é pautada em uma investigação bibliográfica e documental, o que garante reflexões na área educacional coerentes com as exigências de ensino da atualidade. A partir disso, conclui-se que a ferramenta podcast, além de associar-se às práticas digitais do mundo conectado, ela ainda possibilita o aprimoramento de habilidades comunicativas como oralidade, persuasão, posicionamento crítico e leitura, tendo em vista as práticas de gravação e escuta de áudio que caracterizam a ferramenta.

Palavras-chave: Leitura em língua inglesa; produção interativa de podcast; educação básica.

 

INTERACTIVE PODCAST PRODUCTION AS NA ENGLISH LANGUAGE CRITICAL READING TOOL FOR BASIC EDUCATION

 

Abstract: This work aims to analyze the potential of the technological and digital podcast tool, pointing out what are its contributions to English language reading training practices in basic education. In view of this, the article contemplates reflections on the English language reading training in basic education, and with this reviewing the main documents that guide basic education in the country, such as BNCC (2018); LDB (1996); and the Matriz de Referência do ENEM (2009). In addition, concepts related to interactive podcast production are presented in this teaching context, in which the following authors are used as a reference: Oliveira and Cardoso (2009); Adelina Moura (2010); Rosell-Aguilar (2009); Reis and Gomes (2014). In this way, the research is guided by a bibliographic and documentary investigation, which guarantees reflections in the educational area consistent with the teaching requirements of today. From this, it is concluded that the podcast tool, in addition to associating the digital practices of the connected world, it also enables the improvement of communicative skills such as orality, persuasion, critical positioning and reading, with a view to the audio recording and listening practices that characterize the tool.

Keywords: Reading in English language; interactive podcast production; basic education.

 

Introdução

Nas práticas pedagógicas atuais, o ensino de Língua Inglesa necessita associar-se às ferramentas digitais e tecnológicas como forma de articular-se a novos contextos de aprendizagem de modo a propiciar momentos de diálogo com práticas comunicativas reais com nativos, aproximando aos alunos a diversidade linguística existente ao redor do mundo. O acesso à diversidade cultural que diz respeito à língua inglesa auxilia não só na compreensão de aspectos culturais e sociais da língua, mas também no desenvolvimento de habilidades comunicativas e na leitura crítica de mundo.

A partir disso, este trabalho aborda o uso de uma ferramenta digital – o podcast – como meio de qualificar o processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa na educação básica. O estudo tem como objetivo analisar a ferramenta digital e tecnológica podcast, apresentada e proposta como uma importante ferramenta a ser considerada e utilizada nas práticas de ensino pela Base Nacional Comum Curricular. Tal análise busca compreender as potencialidades desta ferramenta quando utilizada criticamente em práticas de ensino-aprendizagem da Língua Inglesa, uma vez que ela possibilita a gravação e a escuta de áudios, sendo potencial instrumento para desenvolvimento de habilidades relacionadas à fala e à compreensão oral.

Dessa forma, os podcasts, quando manuseados pelos alunos, auxiliam não só em habilidades comunicativas e linguísticas da língua, mas garantem também o uso crítico e objetivo da ferramenta em questão, atuando como meios de desenvolver o letramento digital na escola, uma vez que as ferramentas que compõem a era digital e conectada passam a serem vistas a partir de suas finalidades pedagógicas.

A partir de uma pesquisa de cunho bibliográfico e documental, organizam-se duas seções nas quais as reflexões serão expostas. Na primeira seção será abordada a temática da formação leitora de Língua Inglesa no contexto da educação básica, apropriando-se de referenciais como a BNCC, LDB e a Matriz de Referência do ENEM. Já na segunda seção será explorada a produção interativa da ferramenta podcast considerando os documentos que compuseram a primeira seção, conceituando a ferramenta e também associando-a as práticas atuais de ensino.

 

Formação leitora de língua inglesa na educação básica

A formação do leitor de Língua Inglesa, bem como a exploração da bagagem cultural associada ao seu estudo, inicia-se nos anos finais do ensino fundamental e se expande até o ensino médio, tendo em vista que a disciplina é assegurada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), em seu art. 26, parágrafo 5º, no que diz respeito ao ensino fundamental e no art. 35, parágrafo 4º, referente ao ensino médio, como componente curricular obrigatório nestas etapas formativas da educação básica.

Em tal período de formação básica, o aluno tem a possibilidade de interagir, produzir e conhecer inúmeras práticas diante do estudo do novo idioma, uma vez que a língua inglesa hoje é considerada a língua da globalização e o seu uso é visto mundialmente, sejam em contextos de transações comerciais, educacionais ou de turismos. Além da propagação do idioma pelo mundo, o idioma também possibilita um acesso amplo a inúmeros materiais disponíveis nas redes móveis, oferecidos pelas tecnologias digitais e que, muitas vezes, estão disponíveis somente em língua inglesa, o que reafirma a amplitude mundial. Esta realidade de acesso garante ao aluno uma gama de informações que são importantes para o próprio desenvolvimento intelectual e humano, uma vez que o reconhecimento de outras culturas com costumes diferentes também auxiliam no processo de humanização.

A partir disso, habilidades comunicativas, oralidade, compreensão ampla sobre a diversidade cultural e linguística devem compor as práticas de ensino-aprendizagem do idioma. Oliveira e Cardoso (2009, p. 87) apresentam considerações pertinentes diante da complexidade de se aprender uma língua frente a tantas habilidades a serem desenvolvidas, reiterando a relevância da qualidade da sua oferta no currículo escolar:

 

Numa Europa com uma grande diversidade de origens étnicas, culturais e linguísticas é fundamental que os indivíduos adquiram as competências que lhes permitam entenderem-se uns aos outros e com eles comunicar. Deste modo a aprendizagem de uma língua estrangeira, nomeadamente o Inglês, que muitas vezes é desvalorizada, deverá ser considerada essencial no currículo escolar e a esta deverá ser dada especial atenção, tentando desenvolver as melhores e mais inovadoras estratégias que potenciem a sua correta e eficaz aprendizagem.

 

Frente ao contexto de oferta do idioma no ambiente escolar, faz-se necessário traçar um percurso crítico de análise diante do processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa, uma vez que as escolas, assim como a sociedade em geral, dialogam constantemente com as possibilidades advindas do avanço tecnológico e digital, que associadas ao ramo educativo, modificam e transformam as formas de aprender e de ensinar. Com o uso de tecnologias digitais, o acesso a muitas informações e conteúdos é facilitado, o que contribui para práticas de pesquisas, de leituras e de busca a objetos de estudo específicos voltados a língua inglesa, por exemplo, e, por isso, a função da escola também se modifica.

Nesta perspectiva, Dowbor (apud Moura, 2010, p. 82-83) apresenta uma concepção que exemplifica tal realidade escolar: “A sociedade do século XXI está a tornar-se numa sociedade de redes e de movimentos. A escola deixará de ser leccionadora para se tornar gestora de conhecimento”. Com isso, observa-se que a partir das práticas de aprendizagem do idioma, possibilitado durante a etapa formativa da educação básica, considerando também o acesso ao idioma facilitado pelas tecnologias, a escola necessita considerar e desenvolver novas práticas pedagógicas que estejam atreladas a este contexto, no qual os alunos possuem alcance as informações também fora do contexto escolar.

A partir da observação das orientações, referentes ao ensino de Língua Inglesa, apresentadas pelos documentos que norteiam a educação básica do país, é possível vislumbrar habilidades e competências a serem desenvolvidas nas práticas escolares, assim como os objetivos a serem alcançados com o ensino de língua inglesa na contemporaneidade. Ao visualizar, por exemplo, a Matriz de Referência do ENEM (2009) que organiza todas as competências e habilidades que irão compor a prova do Exame Nacional do Ensino Médio, conclui-se que a Língua Inglesa também é incorporada dentre os conteúdos e que a leitura crítica, interpretativa e o reconhecimento da diversidade cultural e linguística são fatores que estão implícitos na composição de tais critérios avaliativos. Ainda, a aprendizagem do idioma, segundo o documento, possibilita uma ampliação de acesso a tecnologias, diferentes culturas, informações e conteúdos, o que contribui para o enriquecimento de vivências, experiências e diálogos interculturais que impactam positivamente na formação do estudante.

Consideram-se como competências e habilidades da área 2, da Matriz de Referência do ENEM (2009, p. 02), os seguintes fatores:

 

Competência de área 2 - Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais*.

H5 – Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.

H6 - Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.

H7 – Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.

H8 - Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.

 

Por outro lado, a Base Nacional Comum Curricular (2018) apresenta a Língua Inglesa em uma perspectiva mais ampla, pois além de englobar conceitos referentes a práticas a serem desenvolvidas na educação básica, desde a etapa formativa do ensino fundamental até o ensino médio, ela também apresenta as múltiplas possibilidades de fala e reconhecimento de variação linguística, considerando o idioma como língua franca, nas quais rompem os aspectos relativos à “correção”, “precisão” e “proficiência” linguística (BRASIL, 2018, p. 240). Nela, eixos organizadores são apresentados a fim de esquematizar as competências e habilidades em grandes grupos, facilitando a compreensão dos leitores, docentes e estudiosos da área da educação. Segundo a BNCC (2018, p. 243), a oralidade, primeiro eixo apresentado, diz respeito às situações comunicativas realizadas oralmente, estabelecendo a dicotomia entre falantes e ouvintes:

 

O eixo Oralidade envolve as práticas de linguagem em situações de uso oral da língua inglesa, com foco na compreensão (ou escuta) e na produção oral (ou fala), articuladas pela negociação na construção de significados partilhados pelos interlocutores e/ou participantes envolvidos, com ou sem contato face a face.

 

A oralidade compõe grande parte do processo de aprendizagem da língua, pois o exercício da fala põe em prática todos os conceitos, regras e estruturas da língua aprendidas ao longo do processo. A escuta, por sua vez, também é uma importante prática, pois, além de estimular o ouvinte diante da nova língua, ela também desenvolve habilidades interpretativas e de compreensão do que está sendo dito e ouvido. Já a leitura, segundo a BNCC (2018, p. 243), engloba “práticas de linguagem decorrentes da interação do leitor com o texto escrito, especialmente sob o foco da construção de significados, com base na compreensão e interpretação dos gêneros escritos em língua inglesa, que circulam nos diversos campos e esferas da sociedade”.

Contudo, o eixo da leitura possui uma complexidade ainda maior, tendo em vista que a leitura atende não só os códigos escritos, mas também a capacidade crítica de analisar, compreender e produzir argumentos. É a partir da leitura atenta que se desenvolve habilidades de escuta, de oralidade e de compreensão linguística e cultural. Diante disso, o documento atenta para um trabalho pedagógico escolar com recursos de gêneros variados, que estejam associados à realidade social dos alunos.

 

O trabalho com gêneros verbais e híbridos, potencializados principalmente pelos meios digitais, possibilita vivenciar, de maneira significativa e situada, diferentes modos de leitura (ler para ter uma ideia geral do texto, buscar informações específicas, compreender detalhes etc.), bem como diferentes objetivos de leitura (ler para pesquisar, para revisar a própria escrita, em voz alta para expor ideias e argumentos, para agir no mundo, posicionando-se de forma crítica, entre outras). (BRASIL, 2018, p. 244)

 

Nessa perspectiva, o documento estabelece coerência com estas práticas ao apresentá-las também em competências específicas de Língua Inglesa a serem desenvolvidas no ensino fundamental, mas que se estendem, também, ao contexto do ensino médio. Dentre elas, destacam-se: “Utilizar novas tecnologias, com novas linguagens e modos de interação, para pesquisar, selecionar, compartilhar, posicionar-se e produzir sentidos em práticas de letramento na língua inglesa, de forma ética, crítica e responsável”. (BRASIL, 2018, p. 246)

As práticas de ensino de línguas, sejam elas estrangeiras ou a própria língua materna, necessitam apropriar-se das possibilidades de ensino ofertadas pelas tecnologias, uma vez que as ferramentas disponibilizadas não só desenvolvem habilidades importantes como a leitura, oralidade, compreensão e posicionamento crítico, como também auxiliam no letramento digital dos alunos. Nessa perspectiva,

 

As práticas de linguagem contemporâneas não só envolvem novos gêneros e textos cada vez mais multissemióticos e multimidiáticos, como também novas formas de produzir, de configurar, de disponibilizar, de replicar e de interagir. As novas ferramentas de edição de textos, áudios, fotos, vídeos tornam acessíveis a qualquer uma produção e disponibilização de textos multissemióticos nas redes sociais e outros ambientes da Web. Não só é possível acessar conteúdos variados em diferentes mídias, como também produzir e publicar fotos, vídeos diversos, podcasts, infográficos, enciclopédias colaborativas, revistas e livros digitais etc. (BRASIL, 2018, p. 68)

 

Assim como exposto pela Base Comum Curricular, os novos gêneros podem ser utilizados como ferramentas pedagógicas, na qual podem possibilitar momentos de construção conjunta, aprendizagem colaborativa, produção de conteúdos digitais. A partir de tais práticas, o estudante de Língua Inglesa interage criticamente com os recursos digitais, tecnológicos e multifuncionais que compõem as práticas sociais, e que devem ser vistos como pertencentes à cultura atual, e, ainda exploram de forma inconsciente as finalidades pedagógicas das ferramentas por meio do processo de ensino-aprendizagem da língua. 

 

Produção interativa de podcast

Podcast, ferramenta tecnológica digital da web 2.0 (REIS; GOMES; LINCK, 2012), é um exemplo de recurso a ser utilizado nas práticas escolares, pois, assim como citado pela BNCC (2018), esse recurso possibilita o acesso a diferentes conteúdos através do áudio, mas também oferece ao aluno opções de gravação da própria fala. Assim, permite a produção de materiais digitais dos mais variados assuntos que auxiliam no desenvolvimento das habilidades comunicativas.

Porém, antes de explorar as inúmeras finalidades pedagógicas dessa ferramenta, faz-se necessário um maior entendimento sobre ela. De acordo com Fernando Rosell-Aguilar (2009, p. 14), “A podcast is a series of regularly updated media files that can be played on a number of devices (portable and static) and are distributed over the internet via a subscription service”. Ou seja, a ferramenta utiliza-se de dispositivos portáteis para a reprodução de seus arquivos de mídia, sendo esses recursos de áudio. Ainda, segundo o autor, os arquivos de áudio são atualizados regularmente e o ouvinte pode acessá-los quando e onde quiser, possibilidade que se desassocia dos programas de rádio convencionais.

Por outro lado, Barros e Menta (2007, p. 03-04) desenvolvem um conceito mais específico sobre a ferramenta, apresentando também a origem da palavra podcast:

 

Podcast é uma palavra que vem do laço criado entre Ipod – aparelho produzido pela Apple que reproduz mp3 e Broadcast (transmissão), podendo defini-lo como sendo um programa de rádio personalizado gravado nas extensões mp3, ogg ou mp4, que são formatos digitais que permitem armazenar músicas e arquivos de áudio em um espaço relativamente pequeno, podendo ser armazenados no computador e/ou disponibilizados na Internet, vinculado a um arquivo de informação (feed) que permite que se assine os programas recebendo as informações sem precisar ir ao site do produtor.

 

Moura (2010, p. 88) compartilha esses conceitos já apresentados ao afirmar que com esse tipo de ferramenta é possível gravar, publicar e também compartilhar áudios. A autora ainda apresenta o conceito de podcasting, na qual também são chamados os podcasts. Podcasting, segundo a autora, consiste na criação de recursos de som, geralmente apresentados em formato mp3, mas em outros momentos em formato de vídeo “chamados videocasts ou vodcasts, podendo ser distribuídos e subscritos através de um sistema de Feeds. Podem ser descarregados para o computador ou telemóvel e ouvidos quando e onde se deseja”.

Diante destes conceitos referentes à ferramenta podcast, é possível observar um ponto em comum: a exposição do termo feed, caracterizado por ser um arquivo indispensável para publicação dos áudios para o formato podcast. Barros e Menta (2007, p. 05) auxiliam na compreensão deste arquivo:

 

Na transformação do arquivo de áudio em um PodCast, é necessário que seja criado um arquivo chamado feed, que permita a assinatura e recebimento de programas sonoros criados, este arquivo é cadastrado em serviços conhecidos como diretórios, que servem como uma espécie de catálogo para encontrar PodCasts, divididos por assuntos, idiomas, países, etc.

 

Desta forma, é possível realizar buscas pela seleção de assuntos, o que organiza a pesquisa e apresenta materiais de forma esquematizada e clara ao ouvinte. Tal possibilidade reitera o potencial desta ferramenta quando utilizada como ferramenta de ensino de línguas, contudo, é preciso analisar e pontuar quais são os objetivos a serem alcançados com a sua utilização, buscando não somente utilizá-la ou incorporá-la ao planejamento, mas sim selecionando quais são suas possibilidades e limitações e no que ela pode contribuir para o ensino de Língua Inglesa.

Nesse sentido, Rosell-Aguilar (2009, p. 15) reitera o potencial dessa ferramenta nos contextos de ensino, quando utilizadas com propósitos educativos claros: “Like the World Wide Web before it, podcasting has an enormous potential for teaching and learning, but it needs to be used in a way that is consistent with current theories of learning.”

Após compreender algumas particularidades da ferramenta podcast, pode-se concluir que, por conta da sua originalidade, sendo um recurso de áudio, ela possui muito a oferecer ao ensino de línguas, principalmente na etapa formativa da educação básica, pois esta dialoga com a faixa etária das crianças e jovens, grupo que interage intimamente com tais ferramentas. Rosell-Aguilar (2009, p. 19) contribui nesta perspectiva de facilidade de acesso e uso a tecnologia digital podcast, ao apresentar a concepção de que “The availability of the technology may no longer be an issue as portable media players have become, like mobile phones, part of the normal accessories that teenagers in the developed world carry with them.”

O autor ainda vai além da análise do acesso à ferramenta por meios digitais móveis, mas também atenta para a prática de uso e o próprio suporte, que, considerando o público-alvo jovem, possui alto grau de interatividade e atratividade por se tratar de uma ferramenta digital-móvel. “The delivery medium, format, portability, and the fact that the materials can be subscribed to and do not have to be sourced from a library make this quite a different proposition to reading a chapter or article as homework”. (ROSELL-AGUILAR, 2009, p. 19)

Práticas interativas que possibilitem novas experiências, reflexões e leituras que se diferenciam das práticas convencionais de ensino contribuem, segundo Reis e Gomes (2014, p. 370), “tanto para o letramento digital dos alunos quanto para a aprendizagem da língua alvo, pois, ao tempo em que o estudante realiza atividades de linguagem, ele também aperfeiçoa o seu letramento digital.” Contudo, os autores reiteram que

 

a aprendizagem da língua-alvo deve acontecer por meio da interação com novas ferramentas e gêneros digitais disponibilizados na Internet, já que o ensino nesse contexto requer novas práticas e formas de produção da linguagem, novos modos de produção interativa e colaborativa de textos, considerando as hibridicidades destes, bem como o compartilhamento dos saberes produzidos. (REIS; GOMES, 2014, p. 369)

 

Dessa forma, no que diz respeito ao desenvolvimento de habilidades e competências de leitura, de oralidade, de produção interativa de materiais digitais que desenvolvam o posicionamento crítico e o conhecimento efetivo do idioma que está sendo aprendido, a ferramenta podcast é uma boa aliada para tais contextos, assim como destacam Oliveira e Cardoso (2009, p. 89):

 

Relativamente à utilização de podcasts no ensino da língua inglesa, os benefícios do seu uso destacam-se, uma vez que, no ensino das línguas, a pronúncia, a acentuação e a inflexão são essenciais para a sua correta aprendizagem. Por outro lado, a gravação e disponibilização aos alunos de podcasts poderá também ajudar a colmatar a falta de oportunidades dos alunos ouvirem outros idiomas em contexto escolar.

 

Portanto, muitas são as aplicações pedagógicas dessa ferramenta, pois, para além da utilização de recursos digitais em sala de aula, segundo Rosell-Aguilar (2009, p. 20), ela possui dois grandes potenciais para uso: “The main classification is between two potential uses of podcasting: developing one’s own materials (either teacher-developed or student-developed) and using existing resources.” É possível visualizar os dois potenciais, sendo um deles a produção. A organização para gravação de podcast faz com que o aluno receba uma razão para a aprendizagem de forma a construir significados concretos a partir de objetos de estudo, ainda dá a possibilidade de os alunos aprenderem sem ansiedade ou constrangimentos diante da língua que estão estabelecendo contato (OLIVEIRA; CARDOSO, 2009).

Ainda sobre a produção de podcast no ambiente escolar, pode-se incorporar outros recursos que se complementam com a possibilidade de gravação de áudio, como, por exemplo, um espaço digital para a postagem dos mesmos, assim como Rosell-Aguilar (2009, p. 19) também aponta:

 

In addition, podcasts can be uploaded to environments such as VLEs or institutional websites. These environments can integrate the audiovisual resources provided in the podcasts with Web 2.0 tools to provide more meaningful, interactive, and collaborative activities among students or between the students and their tutor. These activities include comments on the resources, discussions, production of further resources, or collaborative writing, for example. This work can then form the basis for assessment.

 

Momentos de discussão, organização de roteiro para fala, sistematização das principais ideias a serem exploradas, posicionamento, respiração, expressão oral, entonação e persuasão, são algumas das habilidades a serem desenvolvidas em sala de aula, assim como a linguagem, retratada por Rosell-Aguilar (2009, p. 20): “The podcasts showcase the students’ language development as they explain how to count or present the vocabulary they have learned, for example, and could be used by other teachers as resources or to encourage their students to produce similar materials”.

A ferramenta podcast, por ser disponibilizada em maior parte por dispositivos móveis como celulares e tablets possibilita também, como aplicação pedagógica, a prática de escuta de conteúdos fora do contexto escolar, o que ajuda a reforçar o estudo em situações educativas especiais e enriquece conteúdos curriculares com áudio. (MOURA, 2010)

Por fim, considerando os eixos organizadores propostos para o componente Língua Inglesa pela BNCC (2018), na sequência, estão organizadas, em forma de tabela, algumas das principais potencialidades oferecidas pela ferramenta podcast quando utilizada como recurso nas práticas de ensino-aprendizagem de Língua Inglesa:

 

Tabela 1 - Potencialidades da ferramenta podcast

POTENCIALIDADES DA FERRAMENTA PODCAST

Oralidade

Fala: gravação de áudio;

Escuta: consumo de materiais já prontos;

Desenvolvimento da pronúncia/entonação/ritmo;

Compreensão do outro e o fazer-se compreender.

Escrita

Construção colaborativa ou individual;

Planejamento/Produção/Esquematização de ideias;

Roteiro de fala: introdução – desenvolvimento – conclusão;

Desenvolvimento do protagonismo.

Leitura

Desenvolvimento de estratégias de persuasão;

Gênero verbal: possibilita diferentes modos de leitura, exposição de ideias e argumentos e posicionamento crítico;

Leitura de mundo, de novos contextos de fala.

Dimensão intercultural

Contato com diferentes realidades, sotaques, culturas, repertórios linguísticos, dialetos em situações reais de comunicação;

Experiência de imersão com nativos por meio da escuta de áudios.

Conhecimentos linguísticos

Prática de uso, análise e reflexão da língua por meio da gravação de áudio: considerando as práticas de oralidade, leitura e escrita;

Considerar o público alvo (ouvintes) detendo-se a: adequação, padrão, variação linguística e inteligibilidade.

Fonte: Elaborado pelas autoras

Diante das considerações apresentadas, analisando as potencialidades da ferramenta podcast, reitera-se a importância da sua utilização em práticas de produção interativa em contextos de ensino-aprendizagem de Língua Inglesa, tendo em vista que as particularidades e características que compõem a ferramenta podem auxiliar na formação de leitores críticos de Língua Inglesa e no letramento digital durante a formação básica. Ainda, a ferramenta contribui para o desenvolvimento das competências essenciais apontadas pelos documentos que norteiam a educação básica nacional.

 

Considerações Finais

A ferramenta podcast, estudada neste artigo, caracteriza-se por disponibilizar diversos conteúdos através do recurso de áudio, possibilitando também a gravação de voz por parte do usuário. Desta forma, o recurso digital acaba sendo um bom aliado à aprendizagem de novos idiomas, uma vez que pode ser utilizado por meio de recursos móveis, que já compõem as vivências dos jovens aprendizes da educação básica, tornando-se, então, uma ferramenta interativa e muito positiva quando analisado as possibilidades pedagógicas que ela pode oferecer.

Por ser um recurso atrelado a situações comunicativas, como a fala e a escuta, a ferramenta podcast pode auxiliar no desenvolvimento e o aprimoramento de importantes habilidades e competências apresentadas na educação básica por meio dos documentos como a Matriz de Referência do ENEM e a Base Nacional Comum Curricular. Dentre elas, destacam-se a oralidade, persuasão, entonação, posicionamento crítico, compreensão e reconhecimento de diferentes repertórios linguísticos, e, sobretudo, habilidades de leitura tanto nas experiências de escuta de podcasts quanto de produção.

Conclui-se, ainda, que além de seu uso possibilitar práticas pedagógicas que estejam atreladas as práticas atuais de interação e comunicação da sociedade, a ferramenta também garante atividades de letramento digital na escola, por ser uma tecnologia digital que pode oferecer muitas possibilidades ao ensino do idioma, uma vez que o aluno pode explorar inúmeros contextos comunicativos, não só no ambiente escolar, mas também fora dele.

Por fim, reitera-se a importância de pesquisas exploratórias e reflexivas frente aos inúmeros gêneros digitais e recursos tecnológicos existentes a fim de qualificar as práticas pedagógicas atuais. Contudo, é importante salientar que o sucesso do uso de podcast como ferramenta de aprendizagem e ensino de Língua Inglesa na escola depende de um planejamento pedagógico do professor que considere os recursos disponíveis, bem como os objetivos que se pretende alcançar. Todas as atividades programadas para uso da ferramenta devem ainda estar contextualizadas em situações reais de uso da língua para que proporcione um efetivo enriquecimento das práticas sociocomunicativas numa abordagem interativa de Língua Inglesa na sala de aula (virtual ou presencial).

 

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