ReTER, Santa Maria, v.2, n.1. ISSN:2675-9950 | Submissão: 29/06/2021 Aprovação: 26/08/2021 Publicação: 28/09/2021 |
SUPORTE NOS CAMINHOS DA VIDA ACADÊMICA: RELATO DE UM PROJETO COLABORATIVO EM REDE
Graduanda em Letras - Espanhol pela Universidade Federal de Santa Maria – darosapaim@gmail.com
Departamento de Letras Vernáculas e Mestrado Profissional em Tecnologias Educacionais em Rede, Universidade Federal de Santa Maria – andrea.reginatto@gmail.com
Delta Marlova Moraes do Amaral
Graduanda em Letras - Espanhol pela Universidade Federal de Santa Maria – marlylock@gmail.com
Graduanda em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade Federal de Santa Maria – mcarolina.conci@gmail.com
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas e Mestrado Profissional em Tecnologias Educacionais em Rede, Universidade Federal de Santa Maria – vanessafialho@gmail.com
Resumo: O objetivo deste relato de experiência, é apresentar as reflexões, vivências e aprendizados obtidos por três acadêmicas do curso de Letras da UFSM, durante e a partir do projeto de ensino “REA (Recursos Educacionais Abertos) PARA O LETRAMENTO ACADÊMICO EM REDE”, cujo objetivo principal foi o de propiciar a iniciação dos alunos de graduação da UFSM, principalmente dos ingressantes, à esfera acadêmica e seus modos de produção, recepção e circulação por meio de Recursos Educacionais Abertos digitais. A partir do projeto, das discussões geradas, das trocas entre colegas e professores, e após todas as tarefas realizadas durante o período de duração dele, produziu-se, então, este trabalho que pretende somar-se às discussões e materiais já existentes neste nicho de investigação do letramento acadêmico digital e dos usos sociais da linguagem. Pretende-se, por meio dele, defender a importância de um letramento acadêmico que leve em conta o entorno social de seus agentes e de uma formação docente em que o letramento digital e uso de REA, seja prioridade, tendo em vista seu potencial de alcance, divulgação e disseminação de informações. A capacitação pedagógica dos professores de Letras em formação, bolsistas e voluntários do projeto, e a construção colaborativa de REA sobre letramento acadêmico por meio de Sistemas de Autoria, foram os principais resultados obtidos após o período de duração do projeto, o “meio do caminho”, ou a estrada até tais resultados e as ferramentas que serviram como apoio para alcançá-lo, que é o que será descrito e relatado nas próximas linhas.
Palavras-chave: Usos sociais da linguagem; Letramento acadêmico; Letramento digital.
SOPORTE EN LOS CAMINOS DE LA VIDA ACADÉMICA: RELATO DE UN PROYECTO COLABORATIVO EN RED
Resumen: El objetivo de este artículo es presentar las reflexiones, experiencias y aprendizajes obtenidas por tres estudiantes del curso de Letras de la UFSM, durante y a partir del proyecto de enseñanza "REA (Recursos Educativos Abiertos) PARA LA LITERACIDAD ACADÉMICA EN RED", cuyo objetivo principal fue proporcionar la iniciación de los estudiantes de pregrado de la UFSM, especialmente los principiantes, al ámbito académico y sus modos de producción, recepción y circulación a través de los Recursos Educativos Abiertos digitales. Por medio del proyecto, de las discusiones generadas, de los intercambios entre colegas y profesores y, después de todas las tareas realizadas durante el período de su duración, se produjo este trabajo que pretende sumarse a las discusiones y materiales ya existentes en este nicho de investigación de la literacidad digital académica y los usos sociales del lenguaje. Se pretende, a través de ella, defender la importancia de una literacidad académica que tenga en cuenta el entorno social de sus agentes y una formación del profesorado en la que la alfabetización digital y el uso de los REAs sea una prioridad por su potencial de alcance, difusión y divulgación de la información. La formación pedagógica de los profesores de Lengua en formación, becarios y voluntarios del proyecto, y la construcción colaborativa de REAs sobre literacidad académica a través de los Sistemas de Autoría, fueron los principales resultados obtenidos tras el periodo de duración del proyecto, la "mitad del camino", o el camino hacia tales resultados y las herramientas utilizadas para conseguirlo, es lo que se describirá y relatará en las siguientes páginas.
Palabras clave: Usos sociales del lenguaje; Literacidad académica; Literacidad digital.
Considerações Iniciais
Para iniciar nosso relato, nos parece indispensável revisitarmos brevemente o conceito de Letramento, um termo relativamente novo e que pode causar alguma confusão ou divergência quanto ao seu significado, uma vez que não é igualmente definido pelos pesquisadores e estudiosos que se debruçam sobre o tema. Como o presente relato tem como base justamente o Letramento acadêmico, nos parece vital iniciá-lo trazendo uma breve discussão a respeito não somente do conceito de Letramento, mas principalmente, de seus diferentes tipos, níveis ou fases.
Durante muito tempo na história da educação, acreditou-se que o Letramento era sinônimo de escolarização e alfabetização, ou seja, para que uma pessoa fosse considerada letrada ela precisaria apenas frequentar a escola e ser capaz, ter a habilidade motora e cognitiva, de ler e escrever. Essa concepção simplista remete ao modelo de Letramento autônomo, a saber, um Letramento que desconsidera o aspecto econômico, histórico e sociocultural de seus agentes, levando em conta apenas o produto gerado a partir dele, a escrita, como sendo um processo individual e automático dissociado de todas as demais práticas sociais em que o indivíduo está inserido.
Soares (2006, p. 18) define o Letramento como um “estado ou condição de quem exerce as práticas sociais de leitura e de escrita, de quem participa de eventos em que a escrita é parte integrante da interação entre pessoas”. Tendo em vista que o meio acadêmico é um ambiente de intensa interação interpessoal e força motriz de muita geração de conteúdo oral e escrito, há a necessidade de se refletir sobre as práticas de letramentos na academia.
Atualmente, principalmente no meio acadêmico de formação de professores, já se fala em Letramentos, no plural, pois entende-se que há diversos tipos, fases, níveis e graus de Letramento (essa concepção somente foi possível a partir do modelo ideológico de Letramento cuja prerrogativa é justamente o aspecto sociocultural de seus agentes, considerando então a escrita como uma prática social): Letramento digital, Letramento escolar, Letramento acadêmico, Letramento social e etc. (KLEIMAN, 2001; SOARES, 2006).
Nesse relato, nos deteremos especificamente nos dois últimos Letramentos (acadêmico e social), uma vez que correspondem diretamente ao objetivo principal do projeto base para esse trabalho. De um lado, nós, enquanto alunas universitárias e professoras em formação, pudemos experienciar na prática, ações e reflexões muito pertinentes para o Letramento acadêmico e social não apenas de nós mesmas, mas principalmente do público-alvo de todo o trabalho. De outro, a comunidade ainda não egressa, e, portanto, não versada na linguagem social da academia, fator muito relevante para a alta taxa de evasão universitária com que a maioria dos cursos universitários brasileiros conta.
Para além do já exposto, reiteramos como fundamento desse relato e do projeto, o papel social de tal trabalho, tendo sempre em mente que propiciar o acesso ao conhecimento é, literalmente, abrir portas, tornar acessível e universalizar o “viver acadêmico”, contribuindo assim para uma educação superior e formação docente mais democrática e inclusiva.
Na seção contexto de aplicação, apresentaremos os detalhes do projeto desde a sua idealização até sua metodologia; na seção tecnologias educacionais envolvidas, detalharemos as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) utilizadas para todo o processo de trabalho criativo durante o projeto, e quais foram nossas impressões no manejo das mesmas; na seção de etapas desenvolvidas, recapitularemos nossas vivências semanais de encontros, discussões, debates e uso de TICs para realização das tarefas propostas que ocorreram ao longo dos quase quatro meses de trabalho e existência do projeto “REA para o LAR”.
Nas seções finais, intituladas Resultados e discussões e Conclusão, respectivamente, relacionaremos as vivências experienciadas e aprendidas com nossa formação docente teórica apontando quais contribuições, em termos de educação, ensino e docência, nos foram possíveis extrair a partir de todo o vivenciado e produzido no projeto de ensino já citado.
Contexto de aplicação
Dado o contexto de pandemia de COVID-19 em que estamos vivenciando desde 2020, o projeto deu-se de maneira totalmente virtual e a distância, com reuniões semanais via Google Meet e, no decorrer dos meses de duração, também foram utilizadas ferramentas digitais que possibilitaram o trabalho digital e virtual colaborativo proposto (elaboração de infográficos e formação do e-book).
Visando um maior acesso ao conhecimento e buscando oportunizá-lo de uma forma mais interativa, o objetivo central do projeto era iniciar estudantes, principalmente os calouros, na vida acadêmica. Sendo assim, o projeto teve como local de divulgação dos materiais produzidos que refletiam o modo de produção, de recepção e de circulação acadêmica na UFSM, a rede social Instagram. Essa escolha foi feita em conjunto com o grupo pensando justamente na abrangência e na extensão que poderíamos encontrar nesta Rede Social, além da possibilidade de contribuição entre projeto e o público-alvo a ser alcançado.
Ao pensar no Instagram, o visualizamos muito além de uma “rede social online de compartilhamento de fotos e vídeos entre seus usuários, que permite aplicar filtros digitais e compartilhá-los em uma variedade de serviços de redes sociais” (WIKIPEDIA, 2021), mas sim como um software social que segundo Okada et al. (2012, apud AMARAL, et al., 2019) “proporciona espaços fecundos para inovação nas estratégias pedagógicas e metodológicas de produção, compartilhamento, reuso e remixagem de REA, favorecendo a aprendizagem colaborativa aberta”.
Ou seja, a utilização de uma ferramenta não comumente utilizada de maneira tradicionalmente educacional/pedagógica/didática,nos permitiu o nível de aproximação que nos era de fundamental importância para massificação de informações antes vinculadas tão somente à “bolha” acadêmica.
Conforme o software social de divulgação foi decidido, nosso público-alvo deveria estar interligado com o Instagram, o que gerou os posts em formato de stories e publicações visando engajamento. Sendo assim, lembrando que a ênfase do projeto é o Letramento acadêmico, imaginamos sujeitos que estivessem sendo recém-apresentados ao mundo da universidade e a sua linguagem acadêmica, por isso a preocupação em fazer posts com linguagem acessível e de fácil compreensão.
Assim, nós, enquanto grupo, entendemos que migrar de um tipo de ensino a outro – como é o caso de grande parte dos calouros das universidades brasileiras que saem do ensino médio direto ao ensino superior – carregava, além das preocupações usuais, uma quantidade considerável de dúvidas sobre a linguagem social acadêmica e seus usos.
Além disso, como focar no academicismo não é tudo o que faz (ou deveria fazer) parte do universo de um estudante, imaginamos que seria de fundamental importância o projeto levar conhecimentos não somente sobre termos acadêmicos, mas também sobre os espaços e as relações sociais, culturais e históricas de que a UFSM dispõe, julgando importante criar conexões que sejam preocupadas também com esses vieses sociais.
Sendo assim, com o objetivo de preencher essas lacunas de incertezas e dúvidas muito comuns entre os calouros, surge a ideia do projeto “REA PARA O LETRAMENTO ACADÊMICO EM REDE”, reiterando que “não nos interessa meramente refletir sobre tecnologia no ensino sem relacioná-la com a aprendizagem e enxergar o elemento fundamental deste processo, que é o educando e a educanda em sua libertação/emancipação” (COSTA et al., 2020, p.43).
Posto isso, exploramos as possibilidades que uma rede social conhecida e aderida por parte da população com acesso mínimo a internet[1] possui, para ir de encontro ao alcance de um repertório apropriado que abrace o maior número de acadêmicos possível, socializando informações àqueles que tenham a oportunidade, necessidade e interesse de buscá-la.
Tecnologias Educacionais Envolvidas
No transcorrer do projeto, foram exploradas e utilizadas múltiplas tecnologias digitais em rede para a produção de um REA para o Letramento acadêmico (um compilado com os infográficos e textos elaborados). Podemos citar o Padlet, Canva, Google Docs e softwares de redes sociais como Pinterest, Instagram e Facebook, sendo esses três últimos utilizados em um viés de distribuição e divulgação compartilhada das informações aportadas durante o projeto.
Reavivamos aqui, brevemente, conceitos importantes que vão ilustrar melhor o trabalho com esses softwares. Começamos com os Recursos Educacionais Abertos (REAs) que foram consolidados com o passar dos anos como forma de facilitar o processo de ensino aprendizagem (de línguas e demais ciências) e atender às necessidades dos sujeitos envolvidos nesse processo. Assim, os REAs são
[...] os materiais de ensino, aprendizagem e investigação em quaisquer suportes, digitais ou outros, que se situem no domínio público ou que tenham sido divulgados sob licença aberta que permite acesso, uso, adaptação e redistribuição gratuitos por terceiros, mediante nenhuma restrição ou poucas restrições. O licenciamento aberto é construído no âmbito da estrutura existente dos direitos de propriedade intelectual, tais como se encontram definidos por convenções internacionais pertinentes, e respeita a autoria da obra. (UNESCO, 2012, n.p)
Segundo Mattar (2013, p.24), os REAs “tendem a transmitir ao aluno uma sensação de mais liberdade, mais amplidão, uma sensação de que está mais conectado com o mundo e com a realidade”. Ainda segundo o autor (2013, p.25), “os REAs apontam para uma característica marcante da Web 2.0, tratando-se da filosofia do custo zero. O usuário, sendo aqui representado pelo estudante, tem acesso às plataformas, ferramentas e materiais sem custo algum”.
Nesse mesmo caminho, adotamos o conceito de Web 2.0 que foi popularizado em 2004 por Tim O’Reilly, trazendo como proposta de fundo uma Web como plataforma onde os usuários controlassem seus próprios dados. Essa Web 2.0 inova ao apresentar serviços, além de ter uma arquitetura de participação, um custo baixo e eficiente, uma transformação de dados, um software em mais de um dispositivo e principalmente uma inteligência coletiva (O’REILLEY 2005, p. 3 apud MATTAR 2013, p. 17).
Agora, partindo da teoria para a prática, o Padlet foi a primeira ferramenta utilizada. Sucintamente, trata-se de uma ferramenta digital para construção de murais virtuais colaborativos (uma “releitura” digital dos “antigos” murais).
Figura 1 – Padlet de interação do projeto
Fonte: as autoras (2021).
No mural virtual do Padlet, registrou-se o cronograma completo do projeto, o que foi debatido em cada reunião e indicações de literatura correspondente a cada temática, de modo que o mesmo funcionou tanto como um cronograma de todas as etapas que ocorreriam ao longo do trabalho, quanto como quadro de resumos das reuniões de modo que, caso algum participante não estivesse presente na mesma, sempre poderia consultá-lo e se pôr a par dos encontros e tarefas.
Por tratar-se de uma ferramenta de registro e interação entre as professoras e os acadêmicos envolvidos, bolsistas e voluntários, ele se mostrou muito útil para o bom andamento do projeto no tempo pré-determinado de duração para o mesmo.
Outro software utilizado foi o Canva que, por sua vez, trata-se de uma ferramenta para criar diferentes tipos de trabalhos e apresentações em cuja própria conta encontra-se um banco de dados abastecido com imagens e elementos visuais, dinâmicos e coloridos, além de possuir uma interface simples e intuitiva, na qual é possível selecionar o que se quer e arrastar para dentro do projeto. Por meio dele foram criados templates e infográficos para posterior uso no e-book e divulgação no Instagram (todos os infográficos produzidos estão disponíveis no repositório do projeto na plataforma digital Instagram).
Figura 2 – Instagram com os templates
Fonte: as autoras (2021).
Assim sendo, julgamos pertinente aliar educação e redes sociais, considerando o poder de alcance. De acordo com Mattar (2013, p. 27), amplamente falando, as “redes sociais são associações entre pessoas conectadas por diversos motivos, em que as pessoas são afetadas pelas próprias conexões com outras pessoas”. No que se refere a união das redes com a educação, Munoz e Towner (2011) afirmam que “os softwares de redes sociais oferecem oportunidades únicas para a educação, facilitando a educação, fomentando uma comunidade de aprendizagem e promovendo competências do século XXI”.
Assim, a educação estando presente nas redes sociais hoje em dia, é cotidianamente construída como parte de uma comunidade virtual e integra-se a ela, considerando que milhões de pessoas conectadas ao redor do mundo sejam capazes de se unir a determinado tema. Isso posto, acreditamos que unir Letramento acadêmico ao fenômeno da internet é utilizar o melhor desse mundo, haja vista o alcance que as redes propiciam e fomentam entre os jovens, principalmente ao lembrar do público-alvo do projeto.
Etapas Desenvolvidas
As atividades relatadas nesta produção, contemplam o período de setembro de 2020 a janeiro de 2021 de forma integralmente remota. No início, as professoras coordenadoras apresentaram um cronograma com datas previamente estabelecidas para os encontros on-line, prazos para entrega e apresentação de materiais, a partir do qual pudemos nos organizar.
O referido cronograma encontrava-se exposto no mural virtual do Padlet, de modo que todos podíamos visualizá-lo e editá-lo quando quiséssemos. Partindo do princípio que “duas, ou mais, cabeças pensam melhor que uma”, a equipe reuniu-se e decidiu que de forma colaborativa o trabalho seria muito melhor desenvolvido. A partir daí, optou-se pelo uso das ferramentas digitais Google Docs e Canva, por seu caráter didático e colaborativo.
O fato de termos leituras complementares, sempre discutidas em reunião pelas professoras coordenadoras, foi de vital importância para o trabalho, uma vez que nos proporcionou um apoio e um embasamento teórico e criativo para os produtos. Ressaltamos que as leituras e materiais de apoio não nos eram apresentadas unicamente em um formato escrito, mas também em vídeos, podcasts e através da própria rede social Instagram que, por sua popularidade, possui inúmeros perfis educacionais dos quais se pode extrair bons materiais.
Antes de adentrarmos na parte prática do projeto, elaboração dos materiais visuais e escritos, investigamos cada ferramenta para escolher as melhores e mais produtivas de acordo com nosso viés e objetivo. Desse modo, nossas semanas de projeto e trabalho intercalaram teoria e prática, ou seja, estudos teóricos em relação ao uso de TICs para elaboração dos materiais e exposição deles para posterior revisão e correção das professoras coordenadoras do projeto.
Essa liberdade criativa supervisionada foi de extrema importância, pois nos motivou a buscarmos autonomia enquanto docentes em formação, explorar na prática as ferramentas digitais e, intuitivamente, desbravar as mais diversas possibilidades de criação de materiais. Concomitantemente, criamos via Google Docs pequenos arquivos de textos com os gêneros textuais acadêmicos mais comuns e requeridos dos alunos a fim de, somados aos infográficos, formarem ao final o produto do projeto (o e-book cujo título é homônimo ao projeto em questão).
Resultados e Discussões
O projeto teve como propósito promover o Letramento acadêmico, tanto dos bolsistas e voluntários, docentes em formação, como também contribuir para o Letramento acadêmico dos estudantes ingressantes na UFSM.
Sabemos que as habilidades de leitura e escrita acadêmica são pouco exploradas na escola durante todo o ensino médio. Sendo assim, se faz necessário uma conscientização por parte dos docentes de que é na universidade que ocorre o encontro real do estudante com as práticas do Letramento acadêmico, como exemplos: escrita e leitura de artigos, monografias, dissertações, teses, resenhas, resumos, ensaios, entre outras.
Em face disso, o presente projeto surgiu com a intenção de propiciar aos estudantes uma iniciação ao Letramento acadêmico, contribuindo para o desempenho dos bolsistas e voluntários envolvidos, através da oferta de um Recurso Educacional Aberto (REA) mediado por Tecnologias Educacionais em Rede (TER).
À luz do exposto, o referido projeto cumpriu com o que inicialmente se propôs, sendo a construção de forma colaborativa de um REA sobre Letramento Acadêmico. No transcorrer do projeto, foram produzidos infográficos que foram disponibilizados nos perfis abertos do projeto nas redes sociais como Instagram, Facebook e Pinterest.
Além disso, ao mesmo tempo em que criamos materiais por meio de tais ferramentas digitais, também nos letrávamos digitalmente, pois, para muitos foi a oportunidade de aprender mais sobre como trabalhar com esses sistemas de autoria. Para que um dia possamos ter alunos digitalmente letrados, é necessário que essa prática esteja inserida em nosso cotidiano acadêmico, pois precisamos dominar o uso dessas ferramentas enquanto docentes em formação.
Por isso, ponderando nosso objetivo principal e o que aprendemos ao decorrer do projeto, concordamos que
O aspecto colaborativo, criativo e solidário da educação necessita ser resgatado para sintonizar-se com os movimentos emergentes de abertura e liberdade presentes nas redes, nas quais uma multiplicidade de sentidos e vozes se encontram, sem, contudo, anularem-se. Ao contrário, complementam-se, dialogam e compartilham pontos de vista, expandindo-se ad infinitum. (AMARAL et al., 2019, n.p.).
Em definitiva, construímos enquanto grupo não só um projeto acadêmico, mas sim e sobretudo, uma rede ampla com espaço para as vozes de todos, contando com humanidade e o respeito para com o grupo de trabalho e para com o público-alvo. Fomos alimentadas, em tempos dolorosos para o mundo e para a educação, com a certeza de que a união de um grupo extensionista composto por pessoas de vivências distintas pode produzir um projeto plural e com a esperança de luta contínua por liberdade e acesso educacional.
Considerações Finais
A concepção da escrita socialmente contextualizada faz parte dos Novos Estudos do Letramento[2], e as pesquisas têm focado nos “Letramentos acadêmicos” em virtude de não serem práticas de escrita neutras e desvinculadas dos contextos de uso. Os Novos Estudos do Letramento compõem um novo campo de pesquisa que aborda o letramento como prática social, mudando o foco anteriormente dado pelas abordagens tradicionais.
Com isso, é possível reconhecer múltiplos letramentos que variam conforme o tempo e espaço. Os pesquisadores dos Novos Estudos do Letramento propõem, ainda, que as práticas de escritas acadêmicas são sociais e variam conforme o contexto em que estão inseridas, pois demonstram que as práticas de letramento nas disciplinas acadêmicas estão associadas aos usos e às funções da escrita em sociedade e contextos específicos. (STREET, 2003).
A importância de focar no referido Letramento, trata-se de proporcionar ao graduando a aprendizagem, e que saiba lidar com os significados sociais das disciplinas e dos conteúdos, e assume diferentes identidades sociais, em conformidade com a exigência de cada situação, pautada pelas diferentes modalidades do uso da linguagem escrita e oral.
O material produzido (e-book[3]) trata-se um REA sobre Letramento acadêmico, disponibilizado de forma gratuita para download, sendo de fácil acesso a todos os possíveis interessados[4]. Destaca-se, ainda, que a constituição de diferentes tipos de Letramento está ligada à inserção dos indivíduos em determinados grupos sociais nos quais circulam textos/gêneros escritos em abundância (CRUZ, 2007). O presente projeto de ensino mesclou Letramento acadêmico e Letramento digital.
A importância do Letramento Acadêmico se dá em virtude da necessidade da qualidade da produção acadêmica, acerca da democratização do Ensino Superior, tanto na questão do acesso, quanto na questão da qualidade de ensino. Já o Letramento digital relaciona-se com as práticas sociais de leitura e produção de textos em ambientes digitais, em plataformas como e-mails, redes sociais, sendo mediados por computadores ou dispositivos móveis.
O referido projeto é de grande relevância, pois além de discutir acerca de Letramentos tão atuais e necessários, serve de subsídio à vivência acadêmica, especialmente para alunos recém-oriundos do Ensino Médio, pois ao ingressar na universidade, os estudantes recebem novas demandas sociais e de escritas diferentes daquelas que tinham e vivenciaram na escola, sendo primordial que encontrem respaldo e apoio para realizar tal transição.
Dessa forma, será exigido dos estudantes de graduação que saibam ler e escrever em conformidade com a situação acadêmica em que estão inseridos, além de que é esperado que sejam capazes de se posicionarem de forma crítica diante dos diversos contextos sociais.
Assim, o material confeccionado ao longo do projeto, potencializa e auxilia o estudante durante o período da graduação, destacando-se, ainda, que a mediação tecnológica através do uso de redes sociais favoreceu não somente o Letramento digital, mas também o Letramento acadêmico desses estudantes de modo que o material foi, literalmente, feito por estudantes e para estudantes.
A partir dessa experiência, podemos sinalizar que com o material confeccionado pelo grupo, foi possível validar a realização do projeto REA para Letramento Acadêmico em Rede, com o intuito de contribuir para o Letramento acadêmico dos estudantes ingressantes na UFSM e para com a formação docente dos alunos, bolsistas e voluntários, envolvidos em sua elaboração.
Referências
AMARAL, Mirian Maia; VELOSO, Maristela Midlej Silva de Araujo; ROSSINI, Tatiana Stofella Sodré. Informática na Educação: autoria, linguagens, multiletramentos e inclusão. A autoria coletiva no contexto da educação em tempos de cibercultura. Porto Alegre, 2019. Disponível em: https://ieducacao.ceie-br.org/autoriacoletiva. Acesso em: 15 mai. 2021.
COSTA, A. R et al. Paulo Freire hoje na cibercultura. Porto Alegre: CirKula, 2020.
CRUZ, Maria Emília Almeida da. O Letramento Acadêmico como Prática Social: Novas Abordagens. Gestão e Conhecimento, PUC – Poço de Caldas, n. 1, 2007. Disponível em: https://www.pucpcaldas.br/graduacao/administracao/revista/artigos/v4n1/v4n1a1.pdf. Acesso em: 16 mai. 2021.
MATTAR, João. Web 2.0 e redes sociais na educação. 1. ed. São Paulo: Artesanato Educacional, 2013.
MUNOZ, Caroline Lego; TOWNER, Terri. Back to the wall: how to use Facebook in the classroom. First Monday, n. 12, dez. 2011 (5 de dezembro de 2011). Disponível em: https://firstmonday.org/article/view/3513/3116. Acesso em: 16 mai. 2021.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros.3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
STREET, B. V. What's "new" in New Literacy Studies? Critical approaches to literacy in theory and practice. Current Issues in Comparative Education, Londres, 5 (2): maio, 2003.
UNESCO. Declaração Recursos Educacionais Abertos. In: Congresso Mundial de Recursos Educacionais Abertos. UNESCO, 2012. Disponível em: http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CI/WPFD2009/Portuguese_Declaration.html. Acesso em: 03 ago. 2021.
WIKIPEDIA. Instagram. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Instagram. Acesso em: 15 mai. 2021.
[1] Acesso mínimo refere-se à possibilidade de um aluno que não tenha acesso integral à internet de olhar todas as publicações no feed do Instagram do projeto assim que disponibilizar de uma rede estável.
[2] The New Literacy Studies é formado por pesquisadores que fazem parte do New Literacy Group.
[3] Ebook REA para LAR. Disponível em: https://bit.ly/3kd2vyf. Acesso em: 21 ago. 2021.
[4] Material este licenciado em Creative Commons (CC) com a atribuição (CC BY).