ReTER, Santa Maria, v.2, n.2. ISSN:2675-9950 Dossiê Práticas de Ensino Remoto nas Áreas de Educação, Letras e Interdisciplinar

POR DENTRO DO SEMINÁRIOS ABERTOS DAS LETRAS DA UFSM:

EXTENSÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM TEMPOS DE PANDEMIA

 

Régis Augustus Bars Closel

Professor do Departamento de Letras Estrangeiras e Modernas na Universidade Federal de Santa Mariaregis.closel@gmail.com

Daiane Aline Kummer

Professora do Departamento de Metodologia do Ensino na Universidade Federal de Santa Mariadaiane.kummer@ufsm.br

Angelica Micoanski Thomazine

Professora do Departamento de Letras Estrangeiras e Modernas na Universidade Federal de Santa Mariaangelica.micoanski@ufsm.br

Cristiane Salete Florek

Professora do Departamento de Letras Vernáculas na Universidade Federal de Santa Mariacrisflorek@hotmail.com

  

Resumo: Diante das mudanças ocasionadas pela pandemia de Covid-19 em diversas áreas, o contexto acadêmico também precisou se adaptar com aulas, reuniões e eventos que passaram a acontecer na modalidade remota. Este relato apresenta algumas considerações sobre os Seminários Abertos das Letras da Universidade Federal de Santa Maria, um projeto de extensão de grande alcance, que foi iniciado em junho de 2020 e segue oferecendo, semanalmente, uma alternativa de encontro e divulgação acadêmica online. Ao longo deste texto, detalhamos os desafios superados, os recursos e as ferramentas empregadas e os resultados obtidos na condução de 34 palestras realizadas de forma síncrona entre junho de 2020 e março de 2021. O projeto apresenta importantes implicações para a pesquisa, para o ensino, para a divulgação de estudos teóricos e de experiências no campo das Letras, pois oportuniza, de forma online e síncrona, reflexões e discussões sobre diversos temas, promovendo também a valorização científica tão necessária nos dias de hoje.

Palavras-chave: Seminários Abertos das Letras; Tecnologias para educação; Divulgação científica; Extensão.

 

EXTENSION AND SCIENCE DISSEMINATION IN PANDEMIC TIMES

 

Abstract: Due to the changes caused by Covid-19 pandemic in several areas, the academic context required adaptation to online versions of classes, meetings and events. This report considers Seminários Abertos das Letras, an online extension project developed in Universidade Federal de Santa Maria. This wide-ranging project started in June 2020 and offered weekly online sessions as a way to get together and to share academic research. Throughout this text are described the details about challenges faced, technological resources and tools resorted and results obtained through 34 online lectures, which happened between June 2020 and March 2021. The project has important implications for research, for teaching activities, and for the dissemination of both theoretical studies and experiences in the field of Language Arts, as it provides online and synchronous opportunities for reflections and discussions while it promotes scientific appreciation, which is essential in this period.

Keywords: Seminários Abertos das Letras; Technologies for Education; Science dissemination; Extension.

 

Introdução

O cenário de pandemia que se instaurou no mundo desde 2019 e no Brasil desde 2020 contribuiu para uma série de mudanças em diversos contextos. No âmbito acadêmico, além das aulas e reuniões, os eventos também precisaram ser adequados às necessidades de isolamento e de distanciamento social impostas como medidas de combate e prevenção à Covid-19, exigindo que professores, pesquisadores e estudantes se adaptassem e passassem a desenvolver suas atividades de forma remota. Desafios variados surgem neste ambiente, como a escolha das ferramentas tecnológicas adequadas a serem utilizadas para a manutenção das atividades acadêmicas, a dificuldade na utilização e adaptação desses recursos, além do enfrentamento cotidiano da tensão e da ansiedade emergentes da imprevisibilidade e das inseguranças que nos acompanham desde o surgimento da pandemia.

Apesar disso, manter-se socialmente conectado e academicamente ativo pode ser visto como uma forma de amparo psicológico e de preservação da troca de conhecimentos científicos. Ambas as formas de conexão servem como incentivo para professores e pesquisadores compartilharem as pesquisas que já vinham desenvolvendo e para que os alunos e o público interessado em uma determinada área possam se manter atualizados. O contexto de pandemia e isolamento obrigou diversas instituições, inclusive aquelas no âmbito educacional, a repensar “as estratégias de continuidade da promoção e manutenção de suas atividades” (SANTOS; REIS, 2020, p. 19). Nesse sentido, o uso de diferentes recursos digitais, aplicativos e programas tem um papel importante na continuidade de atividades educacionais e, embora já fosse promovido antes da pandemia de Covid-19 (por ex. nos estudos de Araújo e Leffa (2016), Reis (2017), entre outros), esse uso foi potencializado pelas necessidades do novo contexto em que muitas práticas somente são possíveis online e por meio de mecanismos e de plataformas digitais. 

Diante dessa realidade, o evento Seminários Abertos das Letras surge, de forma tímida, após breves conversas informais entre alguns professores do curso de Letras/Inglês da Universidade Federal de Santa Maria que perceberam a necessidade de criar condições para a troca de conhecimentos da área de Letras, conectando pessoas em uma alternativa viável em meio aos primeiros meses de suspensão das atividades acadêmicas - e diante do cancelamento dos eventos presenciais. Atualmente, o projeto conta com quatro docentes e duas alunas, uma bolsista e outra voluntária. Desde o seu início, o objetivo do Seminários era promover o compartilhamento constante de reflexões e interlocuções teórico-científicas relacionadas às áreas de Letras: Literatura, Linguística (Aplicada), Ensino e Tradução através da oferta de palestras abertas ao público interessado, de forma síncrona e gratuita.    

 Nosso objetivo neste relato é expor a experiência a partir do desenvolvimento do projeto, que ainda está em andamento, descrevendo como ele é conduzido, os recursos tecnológicos empregados, os desafios que surgiram no decorrer do seu desenvolvimento e alguns dos resultados obtidos até este momento (julho de 2021). Ao mesmo tempo, buscamos detalhar um formato de evento online, bem sucedido e estável, com a intenção de compartilhar diretrizes que possam incentivar e contribuir para orientar outros pesquisadores interessados a promoverem eventos virtuais.

Na próxima seção, detalhamos alguns recursos tecnológicos utilizados, de forma gratuita e online, que nos possibilitaram acessar um público bastante diversificado, desde estudantes (de ensino médio, de ensino superior e de pós-graduação) a professores e pesquisadores de diferentes instituições (públicas e privadas), de diferentes níveis de ensino (do ensino básico ao superior) e de diferentes regiões do Brasil e do mundo. 

 

Tecnologias Educacionais Utilizadas

Para a condução dos Seminários, recorremos a três ferramentas básicas: Google Meet, Open Broadcast Software Studio (OBS Studio) e YouTube e ao conjunto de aplicativos básicos oferecidos pelo Google gratuitamente.

O Google Meet é um recurso desenvolvido pelo Google que possibilita estabelecer salas de reunião de videoconferência entre muitos participantes, com qualidade de áudio e imagem e operacionalizar com facilidade o compartilhamento de telas, imagens e apresentações. Optamos por este recurso por fazer parte do conjunto de aplicativos Google disponível na UFSM e pelas demais integrações com uma conta Google, algo que facilita a operação à distância de um projeto colaborativo. No Seminários Abertos das Letras, o Google Meet é utilizado para reuniões da organização, testes de qualidade de imagem e som, geralmente feito com o palestrante e os moderadores, além de tornar-se a ferramenta para transmissão da palestra.

O OBS Studio é um software de código aberto e livre que está disponível gratuitamente na Internet. Essa ferramenta permite que a tela capturada do Google Meet seja preparada com todos os elementos visuais utilizados para dar identidade ao evento.  No caso do Seminários, é possível adicionar os logotipos e o material de identificação do palestrante e do moderador, além de dados como a universidade, a data da palestra, o endereço eletrônico dos canais nas mídias sociais, entre outros dados que tornam o visual da transmissão informativo e profissional. Além da composição visual, um uso importante dessa ferramenta é a possibilidade de inclusão de Tradutores e Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (TILS) no canto inferior direito da tela bem como a condução ágil da alternância de uma intérprete para a outra e de uma cena para outra. O OBS Studio confere identidade e profissionalismo às capturas de tela e som e, com a composição retrabalhada, faz o envio para o YouTube

O YouTube é uma ferramenta que possibilita, de forma simples e fácil, disponibilizar ao público a transmissão composta no OBS Studio. Ambas as plataformas se comunicam através de uma chave de segurança para garantir que o conteúdo não seja transmitido para outros locais. O YouTube oferece facilidade para o público ouvinte, bastando acessar o canal do Seminários no YouTube no dia e hora previstos.

Essa configuração cria um ambiente que isola palestrante, moderador e os intérpretes do público, permitindo algumas vantagens, tais como a inexistência de limite de pessoas em uma reunião; o acesso às palestras pelo mesmo endereço eletrônico em todas a semanas; prevenção de invasões nas reuniões (algo que infelizmente se tornou recorrente nas aulas e encontros com propósitos educacionais de acesso livre, inclusive em nosso evento). Enquanto o público acessa apenas o YouTube, o palestrante e o moderador acessam apenas o Google Meet, e a partir do OBS Studio todos se conectam.

Para criar a interação entre palestrante, moderador e o público, utilizamos recursos versáteis e de fácil operação. O moderador da palestra tem acesso a um documento compartilhado criado no Google Docs com instruções da equipe de coordenação e perguntas e comentários feitos pelo público, os quais são recebidos do chat do Youtube e anotados por um integrante da equipe para o uso do moderador. Também são colhidos dali todos os comentários, elogios e sugestões feitas para o palestrante para a organização do evento. Após a conclusão da palestra, o palestrante tem acesso às interações e comentários, tal medida visa a complementar a experiência do palestrante.

Outros recursos do pacote básico do Google também são utilizados por conta de sua versatilidade, facilidade de compartilhamento e de edição, tais como o Google Formulários e o Google Planilhas. O primeiro é utilizado para coleta de dados de inscrição e para confirmação de presença, enquanto o segundo é utilizado para as rotinas administrativas do Seminários. Por se tratar de um evento organizado em tempos de distanciamento social, a facilidade de compartilhamento e de edição torna-se atributo fundamental para seu uso nas atividades de condução semanal das palestras.

 

Etapas desenvolvidas

O teste e a seleção de ferramentas acompanharam o crescimento e desenvolvimento do projeto e a padronização de suas etapas de organização. Como já mencionado, depois da conversa inicial sobre a intenção de realizar um evento completamente virtual logo no início do isolamento, algumas definições foram feitas para caracterizá-lo. As experiências prévias dos docentes, tanto na organização de congressos como na criação de projetos (nas suas diferentes áreas de interesses dentro das Letras), foram úteis e adaptadas para a efetivação do Seminários Abertos das Letras. A seguir destacamos as etapas principais de desenvolvimento do Seminários.

Uma das etapas preliminares foi a definição do nome do evento. Propôs-se o adjetivo “aberto”, tendo em vista a característica de ser um projeto aberto ao público, gratuito, sem limites de inscrições, receptivo aos pedidos dos participantes quanto a temas e a melhorias na qualidade do serviço oferecido e acessível a todos. Ao mesmo tempo, a proposta era de que o evento fosse localizado no campo das Letras, sendo decidido, afinal, por “Seminários Abertos das Letras”.

As palestras são, desde o início do projeto, divulgadas por e-mail e através das redes sociais Facebook, Twitter e, desde abril (2021), Instagram. O uso desses recursos para a divulgação corrobora o estudo de Barata, Araujo, Alperin e Travieso-Rodríguez (2018, p. 209-210) que indica que a “adoção de mídias sociais por cientistas e pesquisadores e suas práticas nesses ambientes contribui para a disseminação de informações científicas para não especialistas, podendo motivar o engajamento público com a ciência”.  Para a divulgação, confeccionamos cartazes utilizando a plataforma gratuita de edição e composição colaborativa Canva que são compartilhados nas redes sociais do evento com um link de inscrição, para que possamos acompanhar quem é o público interessado.

Nas primeiras divulgações compartilhávamos também o link de acesso da sala do Google Meet, algo que funcionou na estreia do Seminários, que aconteceu no dia 10 de junho de 2020. No entanto, já na segunda palestra, surgiram alguns impasses, pois houve uma invasão com ataques verbais e imagens desrespeitosas, o que atrapalhou o andamento da palestra e nos obrigou a buscar outras formas de transmissão. A partir do quarto encontro, elas passaram a ser transmitidas no canal aberto para os Seminários Abertos das Letras no YouTube, com a utilização do programa OBS Studio. A proposta de palestras semanais obrigou a rápida adaptação e manutenção do evento em suas primeiras edições e testes de tecnologias educacionais. Desde que o Google Meet passou a ser utilizado apenas como local de encontro entre comissão organizadora, palestrantes, mediadores e intérpretes de Libras e o YouTube passou a ser o canal de acesso do público, nenhuma outra palestra precisou ser interrompida devido a invasões e a moderação do encontro foi simplificado, já que as interações dos participantes são limitadas ao chat do YouTube, que é facilmente moderável.

A participação/audiência do público no Seminários garante o recebimento de certificados. Inicialmente, os certificados eram confeccionados a cada semana para os participantes a partir de uma lista com base no formulário de inscrição e na comprovação de presença conforme os inscritos entravam na sala virtual. A dificuldade nesse procedimento estava em verificar a precisão dos dados quanto ao nome completo dos participantes e, em seguida, na elaboração e no envio individual do certificado para o e-mail registrado. Quando as palestras começaram a ser transmitidas através do YouTube, passamos a utilizar o formulário do Google para comprovação de presença. Desse modo, os participantes deveriam se inscrever pelo formulário compartilhado na divulgação da palestra e preencher outro formulário do Google, logo ao final, para comprovar a presença e receber o certificado. 

Com o passar do tempo, nosso público começou a aumentar significativamente, atualmente temos uma lista com mais de 4.000 e-mails de participantes, sendo que os e-mails de divulgação são enviados utilizando a plataforma MailChimp na versão gratuita.  Com o intuito de oferecer uma validação institucional, passamos a requisitar a confecção dos certificados por meio do Centro de Processamento de Dados da Universidade Federal de Santa Maria (CPD-UFSM).

O CPD permite que seja enviado um modelo de certificado pronto que automatiza a inclusão do nome dos participantes, o local e a data da emissão, garantindo agilidade na confecção. Para os participantes, há uma segurança maior nesses certificados, pois trata-se de um arquivo autenticado institucionalmente. Além disso, o acesso é simplificado, pois é necessário apenas acessar o Portal de Certificados da UFSM, buscar pelo certificado digitando o nome, conforme preenchido no formulário de confirmação de presença, e baixar o arquivo. Outra vantagem desse sistema para o público é a centralização de todos os certificados em um repositório.

O formulário de presença tem um papel muito relevante, pois além de preencher seu nome completo, o participante responde questões referentes ao desenvolvimento da palestra a que assistiu, avaliando diferentes elementos e tendo a oportunidade de compartilhar sugestões. Esta é uma forma de comunicação entre a comissão organizadora e os participantes, pois por meio das respostas podemos realizar melhorias na condução do evento e promover encontros mais atrativos para o público.

Uma melhoria que se deu a partir do questionário de reação ao evento respondido pelos participantes foi a sugestão de inclusão de interpretação de Libras para que os encontros fossem também abertos aos participantes com alguma deficiência auditiva. Ainda que estivéssemos cientes da necessidade de atender também esse público, conforme orientado na Constituição Federal e na LDB (9.394, de 20 de dezembro de 1996), incluir interpretação para Libras era ainda um desafio técnico, pois além da comissão organizadora preparar a estruturação do evento para empregar as ferramentas adequadas semanalmente, a demanda de interpretações online já era muito grande para a Universidade.  A Coordenadoria de Ações Educacionais da UFSM (CAED) nos orientou sobre o procedimento para a solicitação de intérpretes e para a transmissão com a inclusão de uma tela para intérpretes. O programa OBS Studio possibilitou a inclusão dessa tela adicional, mas aspectos técnicos exigiram que a comissão organizadora pesquisasse formas de realizar essa transmissão. Para que isso se tornasse possível, foram feitos diversos testes nos intervalos entre uma palestra e outra. Por fim, a partir da sétima palestra, em 29 de julho de 2020, quase todas foram interpretadas para Libras, com exceção daquelas que foram ministradas em um idioma estrangeiro, ou nos dias em que não havia intérpretes disponíveis (apenas quatro de 34 palestras não contaram com interpretação para Libras). Aos poucos, solucionando os desafios que foram surgindo, foi possível estabelecer uma rotina e uma divisão de tarefas entre os membros da comissão.

Relatamos a seguir uma sistematização de algumas etapas da rotina semanal dos Seminários:

a.                  Convite para palestrantes: são enviados e-mails para convidar os palestrantes; no e-mail, há uma breve descrição do evento, sugestão de data, horário, tema para a palestra e orientações necessárias para o desenvolvimento do encontro. Com base na resposta do palestrante, convidamos um possível mediador, em alguns casos, indicado pelo próprio palestrante.

b.                  Convite para mediador: o convite é feito após a confirmação do palestrante, através de um e-mail no qual constam o contato do palestrante e algumas orientações sobre o evento e sobre a condução da mediação.

c.                   Solicitação de intérpretes de Libras: quando ocorre a confirmação da palestra, com definição de data e horário, solicitamos à CAED a disponibilização de intérpretes de Libras para o encontro. Alguns dias antes da palestra, enviamos aos intérpretes um material de apoio para estudo, o qual é compartilhado pelo palestrante, para familiarização.

d.                  Confecção de artes de divulgação e formulários: as artes são criadas no Canva a partir de um modelo de cartaz previamente criado pela comissão. Criam-se também os formulários de inscrição e de presença, utilizando a ferramenta Google Form. Os links gerados pelos formulários são posteriormente compartilhados.

e.                  Divulgação: através dos e-mails coletados nos formulários de inscrição e de presença das palestras anteriores, criou-se um banco de endereços de e-mails usando a versão gratuita do serviço do Mailchimp. Com isso, toda nova palestra é divulgada para esses e-mails. O material de divulgação também é enviado para uma lista de e-mails de universidades, para o e-mail do departamento ao qual o evento está interligado e para o site de notícias da UFSM. Além disso, as palestras são divulgadas nas contas de Facebook, Twitter e Instagram. São também confeccionados cartazes de lembrete, divulgados um dia antes nas redes sociais e no dia da palestra, além de serem enviados para os inscritos, por e-mail, 1 hora antes do início.

f.                    Condução de teste de câmera, som e apresentação: propomos um teste com o palestrante e com o mediador, geralmente um ou dois dias antes da palestra. O teste é conduzido por um dos membros da comissão organizadora, sendo uma oportunidade para verificar o funcionamento dos equipamentos utilizados pelos convidados, verificar enquadramento de slides e para orientar os passos no dia da palestra, além de sanar dúvidas dos convidados. Em alguns casos, é também uma oportunidade para que palestrante e mediador se conheçam.

g.                  Condução da palestra: no dia da palestra, primeiramente enviamos o e-mail de lembrete aos inscritos. Em seguida, criamos a sala do Google Meet onde se reúnem —com antecedência de pelo menos trinta minutos ao horário de início da palestra—, membros da comissão organizadora, palestrante, mediador e intérpretes de Libras. Os equipamentos de transmissão são preparados. Todas as palestras têm uma breve abertura realizada por um dos membros da comissão, que agradece pelo aceite dos convidados, compartilha informações e orientações importantes com os participantes. Em seguida, o mediador é convidado a apresentar o palestrante, compartilhando uma breve nota biográfica. Na sequência, o palestrante inicia sua fala, com duração entre 50 e 60 minutos, tendo a liberdade de apresentar slides. Ao final da fala do palestrante, inicia-se o período para perguntas, com duração de 30 minutos. A primeira pergunta é elaborada pelo mediador, para incentivar os participantes a enviarem as deles e porque há um atraso na conexão entre o Google Meet e a transmissão no YouTube

h.                  Mediação do chat do YouTube: enquanto a palestra acontece, a comissão organizadora fica atenta ao chat do YouTube, pois é através dele que são enviadas as perguntas, dúvidas e onde ocorre a interação entre os participantes. É também através do chat que o link de confirmação de presença é compartilhado com o público, ao final da fala do palestrante.

i.                    Finalização do encontro: após as perguntas, o mesmo membro da comissão que fez a abertura encerra o encontro, reforçando avisos ou orientações que sejam necessárias, agradecendo pela participação de todos e anunciando a palestra da próxima semana. Após o fim da transmissão, o palestrante tem acesso a um documento com as perguntas, comentários e reações do público coletadas do chat do YouTube.

j.                    Pós evento: após o encerramento do encontro, criamos uma lista com os nomes dos participantes que confirmaram presença, atualizamos o modelo de certificado com os dados da palestra e enviamos ao CPD para que emita a certificação. Além disso, confeccionamos os certificados de palestrante e de mediador e enviamos individualmente por e-mail, acompanhado de um termo de autorização de imagem e de som, para que possamos tornar a gravação da palestra pública em nosso canal de YouTube. As palestras são todas gravadas, mas não ficam públicas até que esse termo tenha sido devolvido à comissão. Semanalmente é liberada uma palestra que tenha acontecido anteriormente.

 

Resultados e Discussão

Consideramos neste texto os resultados obtidos ao longo de 2020 e início de 2021, entre os meses de junho/2020 e março/2021. Nesse período, transmitimos 34 palestras. As áreas cobertas nesse intervalo se concentram em quatro grandes grupos do estudo das Letras: Literatura, Linguística, Ensino e Tradução. Os dados aqui apresentados se baseiam em duas fontes: a) nas coletas de informações através da gestão do evento; e b) nos resultados disponíveis nas ferramentas de análise do YouTube.

As 34 palestras envolveram 61 pesquisadores diferentes, que atuaram como palestrantes ou mediadores. Por parte do público, 14.951 inscrições foram preenchidas, algo que resultou em 6.739 certificados emitidos, com base nos formulários de presença preenchidos pelos participantes. No YouTube, as transmissões alcançaram mais de 30.000 visualizações, incluindo as visualizações ao vivo e aquelas feitas pelo acesso ao vídeo disponibilizado posteriormente. O tempo total de reprodução dos vídeos, em todos os acessos, é superior a 8.000 horas. Ainda no YouTube, o canal superou 3.150 inscritos, que representam pessoas que semanalmente recebem notificações sobre o conteúdo disponibilizado. Com os resultados obtidos, o canal foi eleito para programas de monetização do YouTube, algo que é notável e atesta o impacto do projeto no contexto de divulgação científica, promovendo compartilhamento e reflexões sobre diferentes temas e tópicos de pesquisa no campo de Letras, estudo e valorização da academia de forma geral. No entanto, não recorremos à monetização do conteúdo produzido em vista deste ser um projeto vinculado à uma universidade pública, assim, também mantemos o projeto gratuito e sem propagandas, promovendo a imersão e a concentração do público. 

O YouTube fornece alguns dados demográficos sobre o alcance das palestras. Foi possível constatar que o público é composto basicamente por mulheres (73%) e por pessoas na faixa etária de 25 a 34 anos (37%) e que cerca de dois terços do público se encontra entre 25 e 44 anos, como apresentado no Gráfico 1 a seguir.

 

Gráfico 1 - Distribuição da faixa etária dos participantes

https://lh6.googleusercontent.com/0MGeJgUHFv9ZDmNOWBt8tk05ZZFFHvF7_MVviyjqA0Wa4KGJsYdOqD_bVgfYp3P-ViMmxJ61oTgd05E2A-JICb-gqAQma2zaTQ60GMx_rDsi6p83k2NVmGie16rzmJaAAvuWPkow

Fonte: Autores, a partir das estatísticas do canal do Seminários no YouTube.

Em relação ao número de pessoas por encontro, o público é constantemente elevado, mantendo-se em uma média superior a 150 pessoas por toda a palestra. O público se mantém constante ao longo de toda a transmissão, retendo cerca de 90% até o final da sessão, ou seja, apenas 10% do público não acompanha a sessão de perguntas. O tema de maior adesão e público é estudos da tradução, seguido de palestras sobre tópicos de ensino. A variedade temática impede um maior detalhamento sobre as preferências do público ao mesmo tempo em que possibilita uma variação grande de audiência. Uma parte significativa do público, sobretudo estudantes de graduação, segue continuamente as palestras. O momento de debate é geralmente muito participativo, com questões e comentários sendo satisfatoriamente enviados pelo público que se mantém ativo no chat do YouTube. O público constantemente, por meio do chat do YouTube ou ao preencher os formulários de confirmação de presença, expressa gratidão, contentamento e congratulações ao evento, aos palestrantes e à UFSM.

O evento conduzido por videoconferência abre algumas possibilidades quanto ao local em que os envolvidos podem estar localizados. Nesse período, participantes de seis países distintos estiveram no Seminários, a saber, Brasil, Colômbia, Costa do Marfim, Estados Unidos da América, Inglaterra e Turquia. A possibilidade de o conteúdo em língua inglesa ser legendado e traduzido para as palestras a serem disponibilizadas, solicitada diversas vezes pelo público, se tornará realidade no segundo semestre de 2021.

           

Considerações finais

Neste relato de experiência, contamos um pouco sobre o desenvolvimento do Seminários Abertos das Letras buscando destacar o papel dele em manter discussões acadêmicas relacionadas ao campo das Letras em tempos de isolamento social, discorrer sobre os usos de diversos recursos digitais utilizados e o impacto desses recursos para a realização, divulgação, acesso do público e a manutenção do evento por mais tempo.

Conforme indicamos na seção de Resultados e Discussão, os números de participantes e visualizações das palestras têm sido bastante relevantes e possibilitados principalmente pelos recursos tecnológicos empregados, por exemplo, Google Meet, Obs Studio e YouTube. No caso do Seminários, esses recursos, dentre os mais variados empregados, oportunizam duas principais discussões: o acesso à palestra por um número enorme de participantes de qualquer lugar e por diferentes dispositivos (por exemplo, o celular, o aparelho de televisão ou o computador) desde que exista acesso à Internet; e a gratuidade, algo que não era uma característica comum em eventos acadêmicos presenciais.   

            Considerando o momento e os resultados, o projeto apresenta importantes implicações para a pesquisa, para o ensino, para a divulgação de estudos teóricos e de experiências no campo das Letras, no sentido de que diretamente oportuniza, de forma online, reflexões e discussões sobre diversos temas, promovendo também a valorização científica tão necessária nos dias de hoje. Além disso, ao relatar nossa experiência, compartilhamos diretrizes, estratégias e soluções que podem incentivar outras pessoas a desenvolver projetos de eventos acadêmico-científicos online, o que indiretamente colabora para um reforço na promoção do conhecimento científico à comunidade interna e externa.

 

Referências

 

ARAÚJO, Júlio; LEFFA, Vilson. (Orgs.). Redes sociais e ensino de línguas: O que temos de aprender? Parábola Editorial. 2016.

BARATA, Germana; ARAUJO, Ronaldo Ferreira de; ALPERIN, Juan Pablo; TRAVIESO-RODRÍGUEZ, Críspulo. O uso de mídias sociais por acadêmicos brasileiros. 6º EBBC. Rio de Janeiro, RJ, 17 a 20 de Julho de 2018.

REIS, Susana Cristina. Ensino de produção oral em língua inglesa por meio de podcast: relatando uma experiência com alunos do ensino fundamental. VEREDAS - REVISTA DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS, v. 21, p. 180-201, 2017.

SANTOS, Guilherme Mendes Tomaz dos; REIS, Júlio Paulo Cabral dos. Covid-19 e internacionalização em casa: potencialidades para o processo de ensino-aprendizagem na educação superior. Boletim de Conjuntura. v. 4, n. 11, Boa Vista, 2020. Disponível em: https://revista.ufrr.br/boca/article/view/SantosReis/3150. Acesso em: abril de 2021.