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ReTER, Santa Maria, v.2, n.2. ISSN:2675-9950 | Dossiê Práticas de Ensino Remoto nas Áreas de Educação, Letras e Interdisciplinar |
EXPERIÊNCIA NA FORMAÇÃO PRÁTICA DE DOCENTES DE LÍNGUA PORTUGUESA ATRAVÉS DO ENSINO REMOTO SÍNCRONO NA ESCOLA ESTADUAL DONA CAROLA[1]
Graduando de Licenciatura em Letras Português e Italiano pela Universidade Federal do Paraná – marcio_winheski@hotmail.com
Resumo: O objetivo deste trabalho é fazer um relato de experiência docente enquanto acadêmico do curso de Licenciatura em Letras Português e Italiano no ensino remoto síncrono aos discentes do nono ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Dona Carola, na cidade de Curitiba, Paraná. O Programa de Residência Pedagógica é um instrumento utilizado para que acadêmicos dos cursos de licenciatura da Universidade Federal do Paraná (UFPR) possam complementar a sua formação prática. Ocorre, no entanto, que diante do contexto da pandemia mundial causada pelo vírus SARS-CoV-2 houve a necessidade da mudança das aulas presenciais por aulas remotas, visando, assim, garantir a segurança sanitária de alunos, estagiários, professores e demais funcionários destes estabelecimentos. Embora a modalidade do Ensino a Distância (EaD) já fosse uma realidade, pouco era utilizada nas escolas estaduais do Paraná. Pela urgência nessa mudança do ensino presencial pelo a distância, novos desafios foram surgindo ao longo das aulas, o que ocasionou na adoção de novas estratégias de ensino que mantivessem a similar qualidade das práticas pedagógicas da instrução presencial. Desta forma, esta explanação visa destacar como foi esta experiência docente na Residência Pedagógica, além de apontar alguns dos resultados iniciais testemunhados.
Palavras-chave: Formação de docentes; Residência pedagógica; Ensino remoto síncrono.
EXPERIENCIA EN LA FORMACIÓN PRÁCTICA PARA PROFESORES DE LENGUA PORTUGUESA A TRAVÉS DE LA ENSEÑANZA REMOTA SINCRÓNICA EN LA ESCOLA ESTADUAL DONA CAROLA
Resumen: El trabajo se propuso narrar la experiencia docente mientras académico de la Licenciatura en Letras Portugués e Italiano, en la enseñanza remota síncrona, junto al alumnado del noveno grado del nivel primario de la Escola Estadual Dona Carola, ubicada en la ciudad de Curitiba, Paraná. El Programa de Residencia Pedagógica es un instrumento utilizado para que los académicos de los cursos de licenciaturas de la Universidade Federal do Paraná (UFPR) puedan cumplir con su formación práctica. Sin embargo, resulta que en el contexto de la pandemia mundial causada por el virus SARS-CoV-2 hubo la necesidad de trasladar el aula, antes presencial, para la modalidad remota, objetivando, de esta manera, garantizar la seguridad sanitaria de los estudiantes, pasantes, profesores y demás funcionarios de estos establecimientos educacionales. Aunque la modalidad a distancia (EaD) ya era una realidad, poco se utilizó de esta herramienta en las escuelas públicas del Estado. Debido a la urgencia de cambio en la enseñanza presencial, nuevos desafíos fueron surgiendo a lo lardo de los encuentros síncronos, lo que resultó la adopción de nuevas estrategias de enseñanza que mantuviesen la calidad de las prácticas pedagógicas. De esta manera, esta explicación pretende destacar dicha experiencia docente en la Residencia Pedagógica, además de puntuar algunos de sus resultados iniciales.
Palabras clave: Formación de profesores; Residencia pedagógica; Enseñanza remota síncrona.
Introdução
O Programa de Residência Pedagógica faz parte da política nacional de formação de professores e é vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), fundação vinculada ao Ministério da Educação do Brasil. Esse programa visa a formação prática de estudantes licenciandos que estejam nas fases finais dos seus respectivos cursos. Isso acontece através da inclusão e da participação destes graduandos em aulas de educação de nível básico.
Em colaboração com a Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (SEED/PR), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e seus alunos licenciandos foram selecionados para a Residência Pedagógica por meio de edital público, apresentando proposta pedagógica e currículos, respectivamente, e firmando um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o Governo Federal, através da CAPES.
Os estudantes universitários licenciandos são acompanhados por um docente formado e experiente da própria escola onde será feita a Residência Pedagógica e, ao mesmo tempo, orientados e supervisionados por um professor da instituição de Ensino Superior à qual estão vinculados. Dessa forma, terão a oportunidade de acompanhar aulas, contato direto com os alunos do ensino básico, planejar conteúdos, além de exercer a regência, adotando todas as práticas pedagógicas e conhecimentos teóricos aprendidos na universidade. Essa é uma forma de garantir que os futuros professores da Educação Básica exerçam com primazia as suas iminentes atividades em sala de aula. Ainda têm a oportunidade de vivenciar o dia a dia como docentes, aprender novos métodos, novas técnicas, diferentes abordagens de ensino utilizadas pelos professores com os seus alunos em classe. Os residentes ainda dispunham de conta de e-mail @escola, fornecida pela SEED/PR para acessar o ambiente Google Classroom.
Os objetivos do Programa de Residência Pedagógica, listados pela CAPES são:
I. Aperfeiçoar a formação dos discentes de cursos de licenciatura, por meio do desenvolvimento de projetos que fortaleçam o campo da prática e conduzam o licenciando a exercitar de forma ativa a relação entre teoria e prática profissional docente, utilizando coleta de dados e diagnóstico sobre o ensino e a aprendizagem escolar, entre outras didáticas e metodologias;
II. Induzir a reformulação da formação prática nos cursos de licenciatura, tendo por base a experiência da residência pedagógica;
III. Fortalecer, ampliar e consolidar a relação entre a IES e a escola, promovendo sinergia entre a entidade que forma e a que recebe o egresso da licenciatura e estimulando o protagonismo das redes de ensino na formação de professores;
IV. Promover a adequação dos currículos e propostas pedagógicas dos cursos de formação inicial de professores da educação básica às orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). (CAPES, 2018, p. 01).
Semanalmente, nas tardes das quartas-feiras, todos os residentes se reuniam remotamente com o docente orientador, o Professor Doutor Ubirajara Inácio de Araújo, e com as três professoras preceptoras: AGZ (Colégio Estadual do Paraná), GD (Escola Estadual Ângelo Trevisan) e SCT (Escola Estadual Dona Carola), na plataforma unificada de comunicação e colaboração Microsoft Teams por aproximadamente duas horas e meia. Ali eram discutidas estratégias de ensino, planejamentos e relatos verbais das experiências dos licenciandos nas respectivas escolas.
Ante o exposto, o presente artigo objetiva trazer um relato de experiência docente na Residência Pedagógica junto ao Colégio Estadual Dona Carola. Nessa esteira, apontando alguns dos resultados da experiência, bem como as possibilidades e desafios no processo de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa em tempos pandêmicos e remotos.
Pandemia de Covid-19
A pandemia de Covid-19, também conhecida por pandemia do coronavírus, é uma doença respiratória causada pelo vírus SARS-CoV-2 de origem incerta. Os primeiros relatos do surgimento da doença apontam a China, em dezembro de 2019, alastrando-se rapidamente por todo o planeta, causando uma crise não só sanitária como também humanitária de proporções gigantescas. Segundo McIntosh (2020, p. 03):
Pensa-se que a disseminação de pessoa a pessoa do coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2) ocorre principalmente por gotículas respiratórias, semelhante à disseminação da influenza. Com a transmissão de gotículas, o vírus liberado nas secreções respiratórias quando uma pessoa com infecção tosse, espirra ou fala pode infectar outra pessoa se entrar em contato direto com as membranas mucosas; a infecção também pode ocorrer se uma pessoa tocar uma superfície infectada e depois tocar nos olhos, nariz ou boca.
Face a rápida expansão e alcance do novo coronavírus, medidas de prevenção foram recomendadas pelos órgãos de controle da saúde mundial, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). Recomenda, o órgão, o uso de álcool em gel 70% para higienização das mãos e dos objetos, o uso de máscaras, além do isolamento social, o que levaria à contenção do ciclo de contágio do vírus[2]. De modo a proteger docentes, discentes da disseminação do vírus, através do Decreto nº 4230 de 16 de março de 2020, o Governo do Estado do Paraná estabeleceu medidas para enfrentamento do coronavírus e em seu artigo 8º que discorre sobre a interrupção de atividades escolares: “As aulas em escolas e universidades públicas estaduais ficam suspensas a partir de 20 de março de 2020” (PARANÁ, 2020, p. 05).
Ensino remoto síncrono
Diante de um cenário pandêmico sem uma perspectiva exata do seu final, optou-se pela continuidade das aulas, mas por EaD, pelo acesso à internet, usando computadores, tablets ou smartphones. Ainda, assim, existiam duas opções: 1) ensino assíncrono quando os acessos entre professor e alunos se dá em momentos diferentes e, 2) o síncrono, quando docente e discentes promovem encontros e interações simultâneos. Esta última foi a opção escolhida, tanto pela interatividade, quanto pelo aspecto motivacional promovido pelo professor. Para a implantação do ensino remoto síncrono, se fazia necessária a utilização de alguma plataforma unificada de comunicação e colaboração, sendo escolhido o Google Meet, um serviço de comunicação por vídeo desenvolvido pelo Google. Optou-se por disponibilizar atividades de fixação de conteúdos por meio do sistema de gerenciamento de conteúdo para escolas Google Classroom.
Além da plataforma de comunicação, criou-se a oportunidade da utilização de outras Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), que, de acordo com Dotta (2014, p. 25) “exigem a participação simultânea de estudantes e professores em eventos marcados, com horários específicos (any place/real time)”, sempre mantendo a qualidade e a excelência dos objetivos pedagógicos. A internet e a educação à distância têm alterado em muito as formas de ensino, por um lado de uma maneira mais democrática ultrapassando distâncias físicas e por outro as diferentes condições sociais que existem entre os discentes. Estes têm respeitados os seus ritmos e tempos individuais de aprendizagem, ainda assim com acompanhamento dos seus professores. A modalidade de aula remota síncrona foi ainda pensada de forma a se adaptar aos mesmos horários e com os conteúdos equivalentes aos das aulas presenciais. As aulas remotas síncronas foram a opção e o caminho mais viável para que as implicações negativas da interrupção do processo de aprendizagem fossem minimizadas.
Contexto de aplicação: Escola Estadual Dona Carola
A escola está localizada à Rua Solimões, 290, no bairro São Francisco, em Curitiba, Paraná. Foi construída pela Prefeitura Municipal de Curitiba e inaugurada em 29 de março de 1957 pelo então prefeito, o Sr. Ney Aminthas de Barros Braga. Recebeu o nome de Grupo Escolar Dona Carola, em homenagem à professora Carolina Pinto Moreira, sendo a sua primeira diretora a professora Doralice Sponholz Maure.
Atualmente, segundo dados SEED/PR, a escola conta com uma área construída de 700 m² num terreno de 1635 m2. Oferece aulas para alunos do Ensino Fundamental do 6º ao 9º anos, nos períodos matutino, vespertino e noturno[3]. O corpo docente é formado por 34 professores, 3 pedagogas, 1 secretário, 4 técnicos administrativos e 7 funcionárias de serviços gerais que atendem a um público de aproximadamente 500 alunos. Conta ainda com o programa Brigadas Escolares e defesa civil na escola. Até 2019, a escola oferecia somente aulas presenciais, mas através do Decreto nº 4230/2020 já citado anteriormente, foi obrigada a suspender as aulas, para depois se adaptar e a ministrar as suas aulas remotamente, mantendo os mesmos, horários, conteúdos e com a mesma proposta pedagógica e qualidades de aulas anteriores. Abaixo, na Figura 1, algumas fotos da instituição.
Figura 1 - Fachada e bandeira da Escola Estadual Dona Carola
Fonte: https://www.nre.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/6005/Fachada_Carola.JPG e https://www.appcuritibanorte.com/mapa-cirl
Contatos entre a preceptora e os residentes da Escola Estadual Dona Carola
Para facilitar o contato direto e a troca de mensagens com mais agilidade entre a professora preceptora SCT e residentes, foi criado um grupo no aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones WhatsApp.
Ao longo da Residência Pedagógica, foram realizadas reuniões da preceptora com os residentes, onde eram discutidos e decididos os calendários, datas de regências de aulas e atividades que os alunos deveriam executar. Dentre eles, ficou acertado que os residentes fariam análises críticas dos materiais disponibilizados pela SEED/PR.
Acompanhamento das aulas pelos residentes na Escola Estadual Dona Carola
Em reunião, os residentes foram separados em trios que acompanhariam semanalmente uma aula para cada turma escolhida. A professora preceptora SCT foi a responsável a dar preceitos e instruções aos licenciandos. Fui designado a participar do grupo que seguiria a turma do 9º ano B no ano de 2020, nas quartas-feiras das 10h15 às 11h05 e no ano seguinte, 2021, novamente no 9º ano B, também às quartas-feiras das 08h20 às 09h10. Os acompanhamentos e a regência de aula de Língua Portuguesa aconteceram utilizando a plataforma unificada de comunicação e colaboração Google Meet no período compreendido entre novembro de 2020 e março de 2021.
Elaboração de sequências didáticas
Durante a Residência Pedagógica, foram realizadas duas sequências didáticas solicitadas pela professora preceptora SCT. Cada uma delas deveria privilegiar assuntos distintos e contendo: objetivos, justificativa, roteiro de estratégia de leituras, plano de aulas, anexos e referências utilizadas pela equipe de residentes. Ambas deveriam ser programadas para aulas on-line síncronas com duração de 50min cada. Os planejamentos das aulas deveriam seguir os conteúdos básicos fornecidos pela SEED/PR.
Na primeira sequência didática: Gênero textual conto, foi utilizada a obra do autor Luiz Vilela (1970), intitulada Num Sábado. O plano de aula foi dividido em três etapas: 1) Atividade: Jogo sobre rotinas dos alunos; 2) Discussão do conto: Num sábado e 3) Atividade final. Na etapa 1 seriam trabalhados: exercícios em dupla; expressão oral e expressão escrita. Na etapa 2: dar insumo à discussão do tema; ortografia e expressão oral. Na etapa 3: dar insumo para a discussão do tema. Esta sequência está de acordo com o descrito no Planejamento da SEED/PR para o 9º Ano do Ensino Fundamental em Língua Portuguesa, conforme ilustrado no Quadro 1.
Quadro 1 - Planejamento do SEED/PR para o 9º Ano do Ensino Fundamental em Língua Portuguesa.
PLANEJAMENTO |
CONTEÚDOS |
28, 29, 30 |
Práticas de Linguagem: Produção de textos - Capítulo 2 (p. 64) Conteúdos: Produção de conto Conhecimentos Prévios: Criar narrativas ficcionais que utilizem cenários e personagens realistas ou de fantasia, de modo a demonstrar domínio dos elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido. Objetivos: Criar contos ou crônicas (em especial, líricas), crônicas visuais, minicontos, narrativas de aventura e de ficção científica, dentre outros, com temáticas próprias ao gênero, usando os conhecimentos sobre os constituintes estruturais e recursos expressivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos, e, no caso de produção em grupo, ferramentas de escrita colaborativa, a fim de demonstrar domínio desses gêneros discursivos e como fruição de textos literários. Videoaula: https://rebrand.ly/LP_9a_28e29e30_21 Encaminhamentos Metodológicos/ Slides: https://docs.google.com/presentation/d/1HZxZbFcAT-htpKpjos6e4JVR8mmGRBrUC2OQykvCZCg/edit?usp=sharing Exercícios: https://docs.google.com/document/d/1SKKHxgiJl0_kkgCsyaWe23fB8hFYrCrbb_T0qG_EuAA/edit?usp=sharing |
Fonte: SEED/PR, 2020.
A segunda delas foi com o tema: Gênero textual artigo de opinião, sendo utilizado o texto de Ana Tércia Rodrigues, Consciência negra x humana, publicado no Jornal do Comércio do Rio Grande do Sul, em 20 de novembro de 2020 e também a charge #BlackLivesMatter (2020). O plano de aula foi dividido em três etapas: 1) Discussão da charge: #BlackLivesMatter; 2) Discussão do artigo de opinião: Consciência negra x humana e 3) Atividade final. Na etapa 1 seriam trabalhados: dar insumo a discussão do tema; ortografia e expressão oral. Na etapa 2: dar insumo à discussão do tema; ortografia e expressão oral. Na etapa 3: dar insumo para a discussão do tema. Da mesma maneira, o Quadro 2 elucida a especificidade da sequência, em concordância com o Planejamento da SEED/PR para o 9º Ano do Ensino Fundamental em Língua Portuguesa.
Quadro 2: Planejamento do SEED/PR para o 9ºAno do Ensino Fundamental em Língua Portuguesa
PLANEJAMENTO |
CONTEÚDOS |
31, 32 |
Práticas de Linguagem: Leitura - Capítulo 3 (p. 89) Conteúdos: Leitura de texto didático-científico Conhecimentos Prévios: Distinguir, em segmentos descontínuos de textos, fato da opinião, enunciada em relação a esse fato, de modo a reconhecer as diferenças entre ambos. Objetivos: Identificar e avaliar teses/opiniões/posicionamentos explícitos e implícitos, argumentos e contra-argumentos em textos argumentativos do campo (carta de leitor, comentário, artigo de opinião, resenha crítica etc.), para posicionar-se frente à questão controversa de forma sustentada. Videoaula: https://rebrand.ly/LP_9a_31e32_21 Encaminhamentos Metodológicos/ Slides: https://docs.google.com/presentation/d/1V9nbQHjM7z3Y6H0n6vNmZHSMCxbDKUmdA8tltcCnIJY/edit?usp=sharing Exercícios: https://docs.google.com/document/d/1lmgsdZzzVgE0FsA31Oh7yyAspTB24ZOD-dZY4Zc8Tjk/edit?usp=sharing |
Fonte: SEED/PR, 2020.
Regência de aula
Em dezembro de 2020, realizamos em equipe a nossa regência de aula. Utilizamos a sequência de aula com o tema: Gênero textual artigo de opinião, sendo utilizado o texto de Rodrigues (2020), Consciência negra x humana, publicado no Jornal do Comércio do Rio Grande do Sul, em 20 de novembro de 2020, e, também, a charge #BlackLivesMatter. O plano de aula da sequência didática havia sido enviado previamente para a professora preceptora SCT que, após alguns ajustes, deu sua aprovação. Abaixo, a Figura 2 ilustra a charge utilizada para fomentar a sequência didática.
Figura 2 - Charge #BlackLivesMatter utilizada na sequência didática e regência de aula.
Fonte: https://pbs.twimg.com/media/EnXIwtDW8AARtmF.jpg:large (2020)
A aula transcorreu tranquilamente, conseguimos apresentar nas três etapas previamente definidas: 1) Discussão da charge: #BlackLivesMatter; 2) Discussão do artigo de opinião: Consciência negra x humana e 3) Atividade final, dentro do tempo de 50min de duração da aula. Houve participação significativa dos alunos principalmente nas discussões sobre o tema racismo (charge e a reportagem), dentro do contexto atual. A receptividade foi muito boa e atingimos nossos objetivos estipulados. A professora preceptora elogiou a aula ministrada.
Pontos positivos das aulas síncronas remotas
Mesmo sendo grande o índice de abstenção dos alunos nas aulas, a participação dos presentes foi maciça. As discussões foram desenvolvidas sem problemas, as atividades foram executadas com sucesso. Os alunos sempre demonstraram interesse nos assuntos abordados. As ferramentas e plataformas de ensino utilizadas durante toda a Residência Pedagógica demonstraram que o ensino remoto, ainda que com suas limitações, pode ser potencializado quando embebido pelas TICs. Além de estreitarem relacionamentos, as Tecnologias da Informação e Comunicação favorecem uma gama de possibilidades interativas, sejam por meio de vídeo, da difusão de textos discursivos variados, etc.
Outro dos pontos positivos observado durante a Residência Pedagógica é que em momentos pandêmicos os recursos digitais favoreceram o ensino da Língua Portuguesa, o que evidencia que modelos e abordagens no ensino evoluem e se adaptam a partir dos anseios dos aprendizes. Ademais, frisa-se a importância de formação inicial e continuada que esteja atenta às demandas sociais, levando em conta os recursos disponíveis e as especificidades de cada contexto sócio-histórico-cultural.
Aspectos contraproducentes das aulas síncronas remotas
Embora ocorreram momentos significativos, em outros houve baixa participação dos alunos nas aulas síncronas. O índice de abstenção aproximou-se de 80%. No ano de 2020, as aulas remotas não eram de presença obrigatória, situação que, por determinação da SEED/PR, mudou em 2021, passando a ser obrigatório o comparecimento dos alunos, mas mesmo assim, foi muito grande o número de faltas dos discentes.
Supõem-se alguns motivos. O já citado acima de que as presenças não eram obrigatórias em 2020. Mas pode-se especular alguns outros, dentre eles a ausência de equipamentos de informática e comunicação, essenciais para assistir as aulas remotas, bem como os respectivos softwares e aplicativos, dificuldades ou ausência do acesso à internet, local de estudo sem adequação necessária. Pode-se também pensar em motivos psicológicos decorrentes da pandemia, até de problemas econômicos enfrentados pelas famílias dos discentes. Estas razões são, no entanto, apenas especulações possíveis, mas de difícil comprovação.
A perspectiva do profissional docente foi desafiadora porque exigiu rápida e urgente capacitação específica para esta modalidade de ensino remoto. Outro aspecto a ser destacado é que durante as aulas o professor precisa lidar com o desafio da baixa interação dos alunos, os quais, por vezes, deixam suas câmeras e microfones desligados, o que pode levar a uma sensação de isolamento do educador.
Considerações
Mesmo não sendo novo, o ensino remoto foi o grande desafio para alunos e professores durante a pandemia do Covid-19 em 2020. Se por um lado, as aulas remotas síncronas são uma grande oportunidade para democratizar o ensino, vencendo distâncias e inserindo em sala de aula as TICs, por outro demandam uma série de fatores que não estão disponíveis a todos os estudantes brasileiros, em especial aqueles que cursam a escola pública. São eles: a falta de equipamentos e hardware (computador, tablet, smartphones, webcam) e softwares e aplicativos (editores de texto, planilhas eletrônicas, de apresentações gráficas, etc.), sem acesso à internet, ausência de local de estudos adequado (com energia, silencioso, iluminado). Também os professores padecem pela falta de alguns desses mesmos recursos, aliados à falta de treinamentos adequados. Não se pode esquecer a evasão escolar, sempre comum nas escolas brasileiras, tanto pelos motivos aqui mencionados, como por outros de ordem política, econômica e social. Da mesma forma, deve-se pensar no impacto psicológico da pandemia na vida das pessoas: de docentes a discentes e seus pais.
Ao mesmo tempo, a Residência Pedagógica é uma oportunidade quase única a boa parte dos estudantes licenciandos, tanto pela ocasião oferecida no acompanhamento, análise crítica, preparação e regência das aulas, quanto na oportunidade ímpar de trabalhar em sala de aula em tempos de pandemia. Isso significa conhecer e saber utilizar as TICs, mas também entender como o uso da tecnologia, a ausência física e falta de condições afeta professores e alunos neste momento tão difícil para todos.
A experiência na Residência Pedagógica na modalidade do ensino remoto síncrono foi, portanto, desafiadora, pois exigiu outras capacitações que dessem conta dessa especificidade. Nesse sentido, além do conhecimento do conteúdo, foi preciso lidar com algumas adversidades, tais como a falta de recursos tecnológicos e uma demanda maior de tempo na preparação das atividades, além é claro, de ser o principal agente incentivador da participação dos alunos em sala virtual. Contudo, essa vivência reflete a necessidade de os cursos de formação de professores estarem atentos ao mundo globalizado, tecnológico e digital.
Finalizo imaginando a importância da prática na vida dos futuros professores, muitas vezes alcançada em programas como o da Residência Pedagógica. Uma frase do grande Paulo Freire sintetiza a importância da práxis: “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar”.
Referências
CAPES. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Portaria GAB nº 38: Institui o Programa de Residência Pedagógica. 28 fev. 2018. Disponível em: https://uab.capes.gov.br/images/stories/download/legislacao/28022018-Portaria_n_38-Institui_RP.pdf. Acesso em 07 abr. 2021.
MCINTOSH, Kenneth. Doença de coronavírus 2019 (COVID-19). 31 mar. 2020. Disponível em: http://www2.ebserh.gov.br/documents/1688403/5111980/4.pdf/49227786-d768-470e-9ea2-7e021aa96cc9. Acesso em 07 abr. 2021.
PARANÁ. Decreto nº 4230. Dispõe para as medidas do enfrentamento de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do Coronavírus - COVID-19. 16 mar. 2020. Disponível em: http://www.aen.pr.gov.br/arquivos/Decreto_4230.pdf. Acesso em 07 abr. 2021.
PARANÁ. Secretaria da Educação e do Esporte. Regimento da Escola Estadual Dona Carola. Disponível em: http://www.ctadonacarola.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/9/690/290/arquivos/File/PPP_PC_Regimento_2014/PPP_2014.pdf. Acesso em 08 abr. 2021.
RODRIGUES, Ana Tercia Lopes. Consciência negra x humana. Jornal do Comércio. 20 nov. 2020. Disponível em: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/opiniao/2020/11/766626-consciencia-negra-x-humana.html. Acesso em 07 abr. 2021.
VILELA, Luiz. Num sábado. In: VILELA, Luiz. Tarde da noite. São Paulo: Vertente, 1970.
[1] O presente trabalho foi feito com apoio do Programa Institucional de Residência Pedagógica (RP), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Brasil.
[2] Fonte: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019. Acesso em: 14 abr. 2021.
[3] Fonte: SEED/PR. Sistema de Administração da Educação (SAE). Acesso em: 13 abr. 2021.