ReTER, Santa Maria, v.1, 2020. ISSN:2675-9950 | Publicação: 23/10/2020 |
POLÍTICAS PÚBLICAS
E PRÁTICAS PARA INTEGRAÇÃO DE RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) NA FORMAÇÃO
DE PROFESSORES
Professora associada na Universidade Federal de Santa
Maria - elena.ufsm@gmail.com
Professora na Universidade Aberta do Brasil/UFSM - maradmazzardo@gmail.com
Resumo: O foco deste artigo é explicitar
as políticas públicas brasileiras sobre os Recursos Educacionais Abertos (REA),
as ações de formação e pesquisas realizadas sobre REA, pelo Grupo de Estudos e
Pesquisas em Tecnologias Educacionais em Rede (GEPETER), da Universidade Federal
de Santa Maria. O propósito é analisar resultados de pesquisa a respeito do
fomento e da indução das políticas públicas educacionais para integração de REA
nas práticas escolares, dos professores da Educação Básica das redes públicas
do Rio Grande do Sul, os quais foram participantes do curso REA: Educação para
o Futuro, no ano de 2018. Os resultados, obtidos por meio da pesquisa-ação,
evidenciam o desconhecimento dos REA, antes do curso, pela maioria dos
participantes, os desafios enfrentados e avanços obtidos nas primeiras ações de
seleção e produção de REA para integrar nas práticas escolares.
Palavras-chave: Recursos Educacionais Abertos. Políticas
Públicas. Formação de Professores. Fluência
Tecnológico-Pedagógica.
PUBLIC
POLICIES AND PRACTICES FOR INTEGRATING OPEN EDUCATIONAL RESOURCES (OER) IN
TEACHER EDUCATION
Abstract: The focus of this article is to analyze the Brazilian public policies on
Open Educational Resources (OER). Also, we will approach the educational and
research actions carried out, about OER, by the Study and Research Group on
Educational Network Technologies (GEPETER) from the Federal University of Santa
Maria. The purpose is to analyze research results regarding the promotion and
induction of public educational policies for integrating OER into school
practices. The teachers of Basic Education in public schools in Rio Grande do
Sul were participants in the OER Small Open Online Course (SOOC) “Education for
the Future”, in 2018.The results, obtained through action research, show the
lack of knowledge of OER, by most participants, before the course. The results
also show the challenges faced and advances made in the first OER selection and
production actions to integrate into school practices.
Keywords:
Open Educational Resources. Public Policy. Teacher Training.
Technological-Pedagogical Fluency.
Introdução
As formações e as práticas escolares, implementadas no âmbito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), têm como parâmetros as diretrizes e as metas estabelecidas pelas políticas públicas vigentes para formação de professores. Nesse contexto, o desenvolvimento de pesquisa é fundamental para melhorar a formação e as práticas escolares.
Nossas pesquisas têm analisado as possibilidades e os desafios no
que se refere à integração de Recursos Educacionais Abertos (REA)
perspectivando a necessidade de avançar continuamente para que o movimento
internacional da Educação Aberta se consolide. No momento atual, as ações do
Grupo de Estudos e Pesquisas em Tecnologias Educacionais em Rede (GEPETER) têm
se concentrado no contexto da rede pública da educação básica no estado do Rio
Grande do Sul (RS) e nos cursos de licenciatura da UFSM. Para tanto, o tripé
ensino, pesquisa e extensão tem sido vivenciado cotidianamente como pesquisa-ação
por meio da interação e colaboração mediada pelas ferramentas da plataforma
livre Moodle.
Assim, na sequência são abordadas as Políticas Públicas e Práticas
Escolares com REA, a Fluência Tecnológico-Pedagógica dos Professores, dados de
pesquisa sobre o impacto das políticas públicas para integração dos REA e as
Considerações Finais.
Recursos Educacionais Abertos (REA): políticas
públicas e práticas escolares
Salientamos que a integração dos REA nas práticas escolares está
diretamente atrelada às políticas públicas educacionais, sendo que esse ponto
de partida leva em consideração: a) o viés diretivo do que que já está
textualmente estabelecido na legislação vigente no que tange à pesquisa,
docência, recursos, financiamento, gestão, avaliação e regulação; b) o caráter
de mudança das políticas que se dá, por um lado, pelas demandas
Nesse universo de princípios constitutivos das políticas públicas
educacionais é importante considerar o amplo leque de interferências e
influências, inclusive, dos mecanismos internacionais. Ou seja, o movimento
pela Educação Aberta no Brasil, associado às iniciativas de educação a
distância e fomento aos REA, não está isolado das tendências globais. O
movimento REA tem como precursores a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), sendo referência desde
2002, com a organização do Primeiro Fórum Global em REA, no qual foi cunhada a
denominação Open Educational Resources
(OER). A citação mais utilizada para definir os REA é vinculada ao Congresso
Mundial sobre Recursos Educacionais Abertos (REA), realizado em Paris no ano de
2012, sob coordenação da UNESCO. Naquele ano, foi elaborado o documento chamado
Declaração REA de Paris de 2012 que retoma o conceito REA criado em 2002 da
seguinte
os materiais de ensino, aprendizagem e investigação em quaisquer
suportes,
O documento de Paris deixa evidente que esse conceito está
associado ao que já vinha sendo elaborado em outros momentos, tais como a Declaração de 2007 da Cidade do
Cabo sobre a Educação Aberta, a Declaração de 2009 de Dacar sobre os Recursos
Educacionais Abertos e as Diretivas de 2011 da "Commonwealth of Learning" (Comunidade da Aprendizagem - COL) e
da UNESCO sobre os Recursos Educacionais Abertos na área da Educação Superior.
Além disso, uma marca do próprio trabalho realizado pela UNESCO relacionado aos
REA é o apoio, desde 2005, da Hewlett
Foundation (https://hewlett.org/). Embora essa
instituição seja declaradamente uma fundação não partidária e filantrópica, que
atua há mais de 50 anos em frentes como educação, meio ambiente e artes, numa
visão crítica, é inegável vislumbrar que o apoio empreendido não está livre de
neutralidades.
Tendo esse cenário em conta, é notório saber que concepções lineares
das políticas públicas educacionais precisam ser constantemente
problematizadas. Van Zanten (2011, p. 640) explica que uma perspectiva clássica toma
como prerrogativa que “as políticas educativas podem ser definidas como programas
de ação governamental, estruturados a partir de valores e ideias, que se
dirigem a públicos escolares e são implementados pela administração e pelos
profissionais da educação”.
Ora, essa definição é particularmente problemática quando se trata
de movimentos tão amplos como a integração das tecnologias e, especialmente os
REA, diante da diversidade das economias, das culturas e dos contextos.
Políticas educacionais são muito mais do que programas governamentais e, para
além da estrutura de valores e princípios que cada texto comporta, a
consolidação depende essencialmente do trabalho de todos os envolvidos. Isso
quer dizer que, por mais que tenhamos a presença dos REA nos documentos da
legislação vigente, o seu efetivo alcance dependerá das concepções,
compreensões, valores dos professores, gestores, comunidade, pais e estudantes
de cada instituição.
Neubauer (2015, p. 785) considera que atualmente as políticas
educacionais estão em uma geração
de políticas que pressupõe o papel insubstituível, mas não
suficiente do Estado e a presença de parcerias entre diferentes setores da
sociedade (governo, empresários, organizações não governamentais). Política pública
deixa de ser sinônimo de governo, pois existe uma esfera pública não
governamental constituída e administrada por agentes da sociedade civil, mas
com caráter público.
Na perspectiva dessa autora, o caráter público das políticas não
se limita ao papel do Estado abrindo um amplo leque de possibilidades para o
financiamento e sistemas de avaliação externos no contorno das parcerias
público-privado. Isso está na seara do que muitos autores têm denominado como
avanço das concepções neoliberais e perspectivas gerencialistas na educação (LIMA, 2018; NASCENTE,
CONTI e DE LIMA, 2018). Embora a compreensão dos setores privados possa trazer um
entendimento de mais flexibilidade, é preciso cautela quanto ao estabelecimento
de parcerias entre os setores públicos e privados. Notadamente, como diz Souza
(2016),
a política é um campo de conflitos e de luta pelo poder. Portanto, a implicação direta disso tudo no
campo das interfaces entre tecnologia e educação concentra-se em torno, não
somente nas concepções pedagógicas operacionalizadas por metodologias mais ou
menos ativas, mas explicitamente no papel da escola e nas relações imediatas com o mundo do trabalho.
No Brasil, a Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 emergiu com notados aspectos que permitiram a
flexibilização da oferta educacional para diversas modalidades como educação
quilombola, do campo, jovens e adultos, indígena, especial, profissional
tecnológica, a distância. O texto da lei contempla a diversidade de fenômenos e
desafios desde a oferta de vagas na educação infantil até o ensino superior. A
partir de 1996, uma série de aparatos legais complementares, por meio de
decretos, portarias e resoluções, têm sido emitidas pelo Ministério da Educação
(MEC) para estabelecer o caráter operacional, curricular, avaliativo,
regulatório, etc. As Diretrizes Curriculares Nacionais para os diferentes
níveis, modalidades e fins formativos são um bom exemplo.
Sobre REA, o destaque é o
Plano Nacional de Educação (PNE) que menciona claramente, na Meta 5 –
Estratégia 5.3 e na Meta 7 – Estratégia 7.12, a adoção de REA nas práticas pedagógicas (BRASIL, 2014). Além do PNE, no Brasil
existem políticas e programas de incentivo sobre os REA que contemplam a
disponibilização em repositórios, a adoção de licenças abertas nos recursos
educacionais e materiais didáticos produzidos com recursos públicos, nas obras
digitais complementares aos livros do professor, do Programa Nacional de Livro
Didático (PNLD), adquiridos para o ano letivo de 2019 e nos conjuntos de
robótica educacional adquiridos Pregão Eletrônico nº 4/2018. O Programa de
Inovação Educação Conectada fomenta a produção e compartilhamento de REA e
contempla também a formação de professores para integração de tecnologias nas
aulas e a melhoria da infraestrutura tecnológica das escolas. No
Quadro
1 – Políticas recentes do MEC relacionadas aos Recursos Educacionais Abertos e
Licenças Creative Commons
Documento |
Assunto |
Data
Publicação |
Link |
Lei 13.005 de 25/06/14 Plano Nacional da Educação (PNE) |
Contempla a educação em todos os níveis e
estabeleceu 20 metas e estratégias a serem cumpridas entre 2014-2024. As
referências ao uso de REA estão contempladas na estratégia 5.3 da meta 5 e na
estratégia 7.12 da meta sete |
26/6/2014, DOU,
Página Seção 1 - Edição Extra - |
Lei
13.005 de 25/06/14 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm Anexo
- Metas e Estratégias http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm#anexo |
Estabelece
Diretrizes e Normas Nacionais para a Oferta de Programas e Cursos de Educação
Superior na Modalidade a Distância. Assegura a disponibilização dos recursos
educacionais, produzidos com financiamento público, com licenças abertas que
possibilitem a produção de obra derivada. |
11 de março de 2016 DOU, Seção 1, págs. 23-24 |
||
Edital de Convocação
01/2017– CGPLI Edital de convocação
para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Programa
Nacional do Livro e do Material Didático PNLD 2019 |
Programa Nacional de Livro Didático (PNLD) pede
licença Creative Commons para obras
digitais complementares aos livros do professor que serão adquiridos para o
ano letivo de 2019 |
Edital PNLD Consolidado 27/07/2017 |
|
Decreto
Nº 9.204, de 23 de novembro de 2017 |
Institui o Programa de Inovação Educação Conectada e
dá outras providências. |
DOU - Seção 1 - 24/11/2017, Página 41 |
|
Portaria Nº 1.602, de 28 de dezembro de 2017 |
Dispõe sobre a implementação, junto às redes de
educação básica municipais, estaduais e do Distrito Federal, das ações do
Programa de Inovação Educação Conectada |
28/12/2017 |
|
Portaria Nº 1.591, de 27 de dezembro de 2017 |
Comitê da Plataforma Integrada de Recursos
Educacionais Digitais - CPI-RED |
27/12/2017 |
|
Plataforma MEC de
Recursos Educacionais Digitais |
Proposta de reunir em único lugar os recursos
digitais de vários portais brasileiros |
2017 |
|
Pregão Eletrônico nº 4/2018 - Registro de Preços
Nacional |
Aquisição de conjuntos de robótica educacional, em
atendimento às entidades educacionais das redes públicas de ensino. Menciona uso de uma licença Creative Commons Atribuição Não-Comercial |
Compras Governamentais - Pregões Eletrônicos 16/01/2018 |
http://www.fnde.gov.br/acoes/compras-governamentais/compras-nacionais/pregoes-eletronicos |
Portaria Nº 451, de 16 de maio de 2018 |
Define critérios e procedimentos para a produção,
recepção, avaliação e distribuição de recursos educacionais abertos ou gratuitos
voltados para a educação básica em programas e plataformas oficiais do
Ministério da Educação |
DOU - Seção 1 - 17/05/2018 Página 11 |
Fonte: elaborado pelas autoras.
As políticas públicas destacadas incentivam o reuso, a produção e
a disponibilização de REA. Nesse contexto, o reuso de REA disponíveis, a
adaptação, o remix, a produção de REA
originais e o compartilhamento ampliam a oferta e o acesso aos recursos
educacionais. Os REA alteram o modo de produção de materiais didáticos, pois a
produção pode ocorrer com o aproveitamento de recursos existentes (adaptação/remix), isto é, “produzir a partir do já
produzido” (PRETTO, 2012, p. 105), ser realizada de forma colaborativa ou
individualmente e os materiais produzidos podem ser compartilhados com licenças
abertas. O compartilhamento dos REA produzidos completa o círculo virtuoso dos
REA que é o reter, reusar, revisar (adaptar), remixar e redistribuir (WINDLE et al., 2010; PRETTO, 2012; AMIEL, 2014).
Nesse contexto, e observando o tripé ensino, pesquisa e extensão,
o Grupo de Estudos e Pesquisas em Tecnologias Educacionais em Rede da UFSM tem
estabelecido objetivos, metas e procedimentos metodológicos para produzir
resultados à luz de categorias analíticas e considerações sobre o impacto das
políticas públicas nas práticas escolares, tendo em vista a integração das
tecnologias educacionais em rede e de REA na formação inicial e continuada de
professores. A partir disso,
temos criado pautas de pesquisa e teorizações a respeito da docência, das
performances em equipes multidisciplinares, da produção de materiais didáticos,
sobre leis de direitos autorais, plágio, sobre licenças que marcam os REA, tais
como Creative Commons, sobre os
formatos emergentes de formação como os
Massive/Small Open Online Courses (MOOC)
e sobre a Fluência Tecnológico-Pedagógica (FTP) necessária aos
professores para atuar nesse contexto (JACQUES, 2017;
MALLMANN, 2018; MAZZARDO, 2018; BAGETTI, 2019).
Por mais que se tenha em destaque as iniciativas atuais, tais como
as políticas públicas citados no Quadro 1, não se encontra, na parte textual
das políticas públicas educacionais, um referencial teórico-metodológico que
advoga a favor de uma formação para FTP. Da mesma forma, por ser um tema
relativamente recente, não consta no Plano de Desenvolvimento Institucional
(PDI), no Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e nos Projetos Pedagógicos dos
Cursos (PPC) da UFSM, referencial teórico-metodológico, objetivos e orientações
sobre os REA.
Fluência
Tecnológico-Pedagógica dos Professores (FTP)
A FTP constitui-se em saber utilizar as
tecnologias em rede tanto no campo tecnológico (conhecer a ferramenta e
operacionalizá-la em suas diferentes atualizações) quanto no pedagógico
(transpor saberes lançando mão das potencialidades da tecnologia).
O conceito de FTP parte de estudos embasados nas concepções de National Research Council (1999) que abordam como desenvolvimento de habilidades
contemporâneas, conceitos fundamentais e capacidades intelectuais. Schneider
(2012)
traz o conceito de fluência tecnológica como o desenvolvimento de níveis
técnico, prático e emancipatório. Ao estabelecer relação entre as concepções
estudadas, chegou-se, em movimento de ação-reflexão-ação propiciado por
pesquisas, discussões e análises, ao conceito de Fluência
Tecnológico-Pedagógica, o qual Mallmann, Schneider e Mazzardo (2013,
p. 5)
definem como:
[…] capacidade de mediar o processo de ensino-aprendizagem com
conhecimentos sobre planejamento, estratégias metodológicas, conteúdos,
material didático, tecnologias educacionais em rede com destaque para os AVEA,
realização de ações com os alunos para desafiar, dialogar, problematizar,
instigar a reflexão e a criticidade, incentivar a interação com o grupo e
interatividade com ambiente e materiais didáticos, o desenvolvimento de
trabalhos colaborativos, a autonomia, autoria e coautoria, a emancipação,
monitorar o estudo e realização das atividades dos alunos identificando
dificuldades e propondo soluções, manter boa comunicação no ambiente virtual
com todos os envolvidos, reflexão sobre as potencialidades didáticas dos
recursos utilizados, práticas didáticas implementadas e sobre a própria
atuação.
O professor(a) com FTP
considera os aspectos pedagógicos ao selecionar uma tecnologia para integrar
nas suas práticas didáticas. Analisa o diferencial da tecnologia para ensinar
um conteúdo específico, os benefícios, as desvantagens e o potencial para
favorecer o envolvimento e a aprendizagem dos alunos. Da mesma forma, a
fluência possibilita aos professores a produção de material didático em
formatos diversos, o planejamento e implementação de atividades inovadoras para
aulas presenciais e online, pois como
afirma Jennifer Sparrow, diretora sênior de ensino e aprendizagem da Penn State University “a fluência é a
capacidade de criar algo novo com as tecnologias” (LALONDE, 2019, p. 1).
Nesse sentido, a FTP é
construção essencial na performance docente. Isso porque, na linha teórica que
se defende, a transposição didática embasa-se no diálogo-problematizador como
meio para transformar o saber sábio ao saber a ser ensinado. Lançar mão das
tecnologias para transpor saberes nessa perspectiva de ensino-aprendizagem
requer o conhecimento tecnológico para acessar a tecnologia, operacionalizá-la
de acordo com suas atualizações, integrar hipermídia, compreender a própria
concepção de ensino-aprendizagem e tê-la como basilar nas práticas pedagógicas.
Isso pressupõe planejar e desenvolver práticas pedagógicas cujo
ensino-aprendizagem seja recíproco entre professor e estudantes, pautando na
resolução de problemas sustentada na ação-reflexão-ação.
Pesquisando impactos das políticas públicas
para integração dos REA
No Edital FAPERGS
02/2017 - Programa Pesquisador Gaúcho (PqG), o GEPETER foi contemplado com o
projeto “Formação de professores da educação básica no RS: inovação
didático-metodológica mediada por Recursos Educacionais Abertos (REA)”. Nesse
projeto, de Mallmann et al. (2017), que está em andamento, os objetivos
concentram-se em:
- Mapear e analisar os impactos da formação de professores da
educação básica no RS em formatos emergentes como os Small Open Online Courses (SOOC)[1];
- Conhecer os movimentos de transposição e implementação das políticas públicas educacionais vigentes no que se refere à integração de tecnologias educacionais hipermídia, especialmente Recursos Educacionais Abertos (REA) na educação básica no RS.
A esses objetivos estão associadas metas como:
- Capacitar pelo menos 1.000 (mil) professores da rede pública da
educação básica da região de abrangência da 8ª Coordenadoria Regional de
Educação (CRE) e Núcleo de Tecnologia Educacional de Santa Maria/RS (NTEM);
- Capacitar técnicos/tecnólogos diretamente envolvidos com
elaboração de projetos pedagógicos de cursos, elaboração de materiais
didáticos, equipe multidisciplinar, principalmente dos Núcleos de Tecnologia
Educacional (NTE) da região de abrangência da 8ª Coordenadoria Regional de
Educação (CRE) e Núcleo de Tecnologia Educacional de Santa Maria/RS (NTEM);
- Produzir indicadores de avaliação sobre a transposição das
políticas públicas educacionais para integração de tecnologias educacionais
hipermídia, especialmente Recursos Educacionais Abertos (REA) no processo
ensino-aprendizagem na educação básica no RS;
- Propor estratégias de ações no Small Open Online Course (SOOC) conforme orientações contempladas
no Plano Nacional de Educação e Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação
de Professores e da Educação Básica, a respeito das tecnologias educacionais;
- Elaborar e implementar materiais didáticos em formato livre e
aberto destinados para cursos de formação de professores utilizando as
ferramentas de criação de páginas, disponibilização de links, diretórios, arquivos, wiki,
fórum, salas de discussão, tarefas, pesquisa de avaliação, glossários;
- Produzir, remixar, adaptar e publicar Recursos Educacionais Abertos (REA) em portais públicos na Internet;
- Colaborar com professores da educação básica no RS no planejamento
e criação de materiais didáticos inovadores e contextualização hipermídia de
conteúdos curriculares em acordo com o estabelecido no Documento Orientador da
Reestruturação Curricular Ensino Fundamental e Médio do RS de 2016. (Malmann et al. , 2017)
Por ser uma maneira de efetivar as políticas públicas sobre
integração de tecnologias e REA, nas práticas didáticas, e concretizar os
objetivos e metas do projeto “Formação de professores da educação básica no RS:
inovação didático-metodológica mediada por Recursos Educacionais Abertos
(REA)”, o GEPETER tem implementado, desde 2018, edições do curso “REA: Educação
para o Futuro”, no formato Small Open Online Course,
cujo design e materiais didáticos
possuem licenças abertas.
A versão do curso para os professores da Educação Básica é uma
adaptação das primeiras edições do curso, implementadas em 2016, com
professores do Ensino Médio da região central do RS (MAZZARDO,
2018).
Os quadros 2 e 3 apresentam alguns dados e depoimentos obtidos nas
edições do curso “REA: Educação para o Futuro”, implementadas em 2018:
Quadro 2 - Conhecimento prévio (antes
de iniciar o curso) sobre REA:
Conhecimento
sobre REA |
|
Conhecimento |
% |
Conheciam os REA |
25% |
Conhecimento parcial |
4% |
Não conheciam |
71% |
Fonte: Mallmann (2019)
Quadro 3 - Frequência da integração de REA nas
atividades profissionais dos participantes (dados obtidos no questionário de
avaliação do curso)
Frequência da
integração de REA nas suas atividades profissionais |
|
Frequência |
% |
Nunca |
6% |
Raramente |
23% |
Às vezes |
0% |
Frequentemente |
63% |
Sempre |
8% |
Fonte: Mallmann
(2019)
Antes de iniciar o curso, 71% dos participantes não conheciam os
REA. No final do curso, 63% afirmaram que estavam integrando REA nas atividades
profissionais frequentemente e 8% sempre.
O conhecimento adquirido sobre REA e as atividades práticas realizadas
durante o curso provocaram mudanças nas práticas didáticas dos participantes, como
demonstram os dados do Quadro 4.
Quadro 4 - O impacto do SOOC sobre REA
na prática escolar
O impacto do
SOOC sobre REA na prática escolar |
|
A implementação de cursos de formação continuada, para professores, no formato SOOC, potencializa a inovação didático-metodológica e curricular através da integração de REA? |
% |
Nunca |
0% |
Raramente |
2% |
Às vezes |
12% |
Frequentemente |
21% |
Sempre |
65% |
Fonte: Mallmann
(2019)
A inovação acontece ao integrar recursos abertos nas práticas didáticas
e na forma de organizar/produzir materiais didáticos, utilizando REA existentes
e adotando licenças abertas nos materiais produzidos. Nesse processo de seleção
e produção de recursos educacionais aberto é importante destacar outra mudança,
provocada pelo curso, que é a observação da forma como os recursos são
disponibilizados na Internet, com licenças abertas para reuso e produção de
obra derivada ou de forma fechada (Copyright).
Essas mudanças foram relatadas pelos participantes, na avaliação do curso:
- Passei a verificar as licenças antes de utilizar ou adaptar
qualquer material.
- A partir das leituras, já tenho outra visão e me preocupo em
compartilhar com meus aprendentes do Ensino Fundamental a preocupação em
utilizar imagens para os trabalhos, por exemplo, que sejam licenciadas.
Nas avaliações destacadas, observamos mudanças na forma de
pesquisar recursos/conteúdos na Internet, como a observação das licenças e
direitos autorais dos recursos disponíveis. Um participante destacou que
compartilhou com seus alunos as orientações sobre como pesquisar e utilizar
recursos da Internet.
O compartilhamento de recursos com os colegas foi outra mudança
citada:
Os principais avanços foram realmente na área da criação e na
disponibilização dos REA para outros colegas. Esse compartilhamento contribuiu
bastante para a interação entre os professores da minha escola. O maior desafio
tem sido a postagem nos repositórios online, pois o tempo é curto e nossa
internet é muito lenta.
Na avaliação acima destacada constam também duas dificuldades
vivenciadas pelos participantes, que é a demanda de tempo para produzir REA e a
baixa velocidade da conexão com a Internet.
No acompanhamento das atividades e na análise dos REA selecionados
e produzidos pelos participantes (REA adaptados e REA originais), realizada
pela equipe de professores do curso, foram identificadas outras dificuldades
dos participantes: a) falta de Fluência Tecnológico-Pedagógica para encontrar,
adaptar e produzir REA original; b) dificuldade para identificar as licenças
dos recursos nos repositórios; c) falta de conhecimento sobre os direitos
autorais e sobre as licenças abertas; d) cultura de usuário de recursos
disponíveis na Internet e não de autoria.
Por ser um tema novo para os professores da Educação Básica e a
formação incipiente, é recomendável a continuidade de ações formativas para
aprofundar os conhecimentos, aumentar a integração de REA nas práticas
escolares, a produção e o compartilhamento de REA em repositórios.
Considerações Finais
O GEPETER tem realizado estudo sobre as tecnologias educacionais
em rede, sobre formação de professores, sobre os REA e sobre as políticas
públicas que regem esses temas. As práticas são realizadas nos cursos, de
formação inicial e continuada de professores, da UFSM, nas modalidades
presencial e a distância.
Os cursos a distância ampliam as oportunidades de formação, porque
independem de localização geográfica dos participantes, de horários fixos para
realizar as atividades e do afastamento dos participantes das atividades
profissionais. Cursos no formato do SOOC podem responder às necessidades de
formação continuada dos professores sobre temas de interesse e/ou necessidade.
Com o SOOC “REA: Educação para o Futuro” estamos compartilhando
conhecimentos sobre REA, principalmente com os professores da Educação Básica,
conhecimentos que, além da identificação e reuso, possibilitam a autoria de
REA. Os resultados inovadores do curso são: a compreensão, pelos participantes,
do potencial da abertura dos REA para produzir material didático, sem infringir
os direitos autorais; professores autores de recursos educacionais por meio da
adaptação de recursos existentes e autores de REA originais e o
compartilhamento das produções.
Desse modo, as ações de ensino, pesquisa e extensão preconizadas
pelo GEPETER, na formação de professores da rede pública da Educação Básica do
RS, estão em sintonia com o que há de mais inovador e emergente nas políticas
públicas educacionais.
Referências
AMIEL, Tel.
Recursos Educacionais Abertos: uma
análise a partir do livro didático de história. Revista História Hoje, v. 3, n. 5, p. 189-205, 2014. DOI: https://doi.org/10.20949/rhhj.v3i5.128.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96). Brasília, 1996.
BRASIL. Plano Nacional de Educação. Brasília,
2014.
DECLARAÇÃO
DA CIDADE DO CABO. Declaração da cidade
do Cabo para Educação Aberta: Abrindo a promessa de Recursos Educativos
Abertos. 2007. Disponível em: https://goo.gl/tTpSvx. Acesso em: 10
out. 2019.
NATIONAL
RESEARCH COUNCIL. Being Fluent with
Information Technology. Washington, DC: The National Academies Press,
1999. https://doi.org/10.17226/6482. Disponível
em: https://www.nap.edu/catalog/6482/being-fluent-with-information-technology. Acesso em:
15 dez. 2017.
LALONDE,
Clint. Digital Fluency vs Digital
Literacy. EdTech, 22 Fevereiro, 2019. Disponível em: https://edtechfactotum.com/digital-fluency-vs-digital-literacy/. Acesso em: 16
out. 2019.
MAZZARDO,
Mara Denize. Recursos Educacionais
Abertos: inovação na produção de
materiais didáticos dos professores do Ensino Médio. Tese (Doutorado em
Educação) - Universidade Aberta (UAb). Lisboa, 2 vol. 2018. Disponível em: https://repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/7788.
WINDLE,
Richard J., WHARRAD, Heather, McCORMICK, Damion, LAVERTY, Helen, TAYLOR,
Michael G. Sharing and reuse in OER:
experiences gained from open reusable learning objects in health. Journal of
Interactive Media in Education. 2010 (1), p.Art. 4. DOI: http://doi.org/10.5334/2010-4.
UNESCO. Declaração REA de Paris. 2012.
Disponível em: https://goo.gl/Z4tg1o. Acesso em: 12 out. 2019.
[1] SOOC é um curso online, com inscrição aberta, que pode ser organizado sobre temas diversos, com número de participantes não massivo, aspecto que possibilita o acompanhamento e avaliação das atividades por um professor.