Universidade Federal de Santa Maria

Revista Monografias Ambientais, v. 19, ed. esp., e3, 2020

DOI: https://doi.org/10.5902/2236130843397

ISSN: 2236-1308

Recebido: 07/04/2020 Aceito: 07/04/2020 Publicado: 16/05/2020

Educação sociedade e cultura

Semana Farroupilha como proposta de trabalho interdisciplinar nos anos iniciais do ensino fundamental[1]

Farroupilha Week as a proposal of interdisciplinary work in the initial years of elementary school

Jaqueline Fagundes Brenner I

Julio Cesar Bresolin Marinho II

I Pedagoga e Especialista em Educação: Práticas de Ensino Interdisciplinares, Unipampa. E-mail: kinhabrenner@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2840-4192.

II Professor do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Unipampa. E-mail: marinhojcb@gmail.com. ORCID: http://orcid.org/0000-0002-2313-500X.

RESUMO

O objetivo deste trabalho residiu em elaborar, desenvolver e analisar uma proposta pedagógica interdisciplinar com a temática da Semana Farroupilha. A questão de pesquisa residiu na seguinte: Quais as potencialidades de se trabalhar em sala de aula, de forma interdisciplinar, saberes relacionados a Semana Farroupilha? A pesquisa de abordagem qualitativa foi desenvolvida em uma escola municipal de Ensino Fundamental localizada em São Gabriel, RS, Brasil. Participaram das atividades 15 alunos do 4º ano e a professora regente da turma (primeira autora do artigo). Desse modo, a pesquisa configurou-se como participante. As atividades interdisciplinares elaboradas envolveram saberes da(s) História, Geografia, Ciências, Artes, Língua Portuguesa, Literatura e Matemática. Ao trabalharmos essa data comemorativa de forma contextualizada e interdisciplinar, acabamos dando mais sentido aos saberes. No entanto, consideramos como o maior obstáculo encontrado a falta de conscientização da importância do trabalho interdisciplinar pelos outros professores da escola. As potencialidades de se trabalhar em sala de aula, de forma interdisciplinar, saberes relacionados a Semana Farroupilha contribuem para: uma maior capacidade de raciocínio; o desenvolvimento de habilidades e atitudes nos alunos; bem como com o resgate do prazer em aprender de um modo diferente.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Semana Farroupilha; Contextualização; Educação Básica; Pesquisa Participante.

ABSTRACT

The purpose of this work aimed at elaborating, developing and analyzing an interdisciplinary pedagogical proposal on the theme of the Farroupilha Week. The research question lied on the following: What are the potentials to work in the classroom, in an interdisciplinary way, knowledge concerning the Farroupilha Week? The qualitative approach research was carried out at a municipal Elementary school located in São Gabriel, RS, Brazil. 15 fourth-grade students participated in the activities and the class leading teacher (first author of the article). Therefore, was established as a participant. The interdisciplinary activities elaborated involved knowledge in the fields of History, Geography, Sciences, Arts, Portuguese Language, Literature and Mathematics. As we worked about this commemorative day in a contextualized and interdisciplinary way, we ended up providing more sense to the knowledge acquired. However, we consider as the main challenge found the lack of awareness about the importance of the interdisciplinary work by the other school teachers. The potentials of working in an interdisciplinary way, in the classroom, knowledge concerning the Farroupilha Week contribute for: a greater thinking capacity; the development of skills and attitudes in the students as well as redemption of a pleasure in learning in a different way.

Keywords: Interdisciplinarity; Farroupilha Week; Contextualization; Elementary Education; Participative Research.

1 INTRODUÇÃO

Esse estudo surge da vivência da primeira autora do artigo, a qual evidencia que em muitos momentos as datas comemorativas são abordadas na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental sem uma intencionalidade pedagógica muito clara por parte dos professores. Assim como para Proêncio, Lira e Dominico (2017) nos inquietamos com a questão de não estar claro o lugar das datas comemorativas no planejamento, bem como o sentido e o significado que as práticas a elas associadas teriam para as crianças. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho residiu em elaborar, desenvolver e analisar uma proposta pedagógica interdisciplinar com a temática da Semana Farroupilha, uma data muito comemorada e festejada no estado do Rio Grande do Sul.

O estudo foi desenvolvido em uma turma de 4º ano, de uma escola da rede municipal de ensino de São Gabriel, RS, Brasil. A professora da turma em que foi desenvolvida a proposta é a primeira autora do trabalho, o que acaba por configurar a pesquisa como participante.

A questão de pesquisa que conduziu o desenvolvimento do trabalho foi a seguinte: Quais as potencialidades de se trabalhar em sala de aula, de forma interdisciplinar, saberes relacionados a Semana Farroupilha?

O trabalho apresentado está organizado da seguinte forma: inicialmente apresentamos uma discussão teórica sobre a Semana Farroupilha como uma possibilidade de trabalho interdisciplinar; após apresentamos a metodologia empregada na investigação; os resultados encontrados são discutidos após a apresentação da metodologia; finaliza o trabalho as considerações finais e as referências utilizadas no estudo.

2 A Semana Farroupilha como possibilidade de trabalho interdisciplinar

Tonholo (2013) concebe que o nosso calendário está repleto de datas comemorativas, e a escola sendo parte integrante de um contexto social mais amplo acaba sendo influenciada, em seu trabalho pedagógico, em torno de tais datas. Gomes e Monteiro (2016, p. 153) apontam que “são 69 datas comemorativas fixas no calendário brasileiro, (dentre eles feriados religiosos, cívicos, de lutas sociais e datas comerciais) fora as que são designadas por regiões”.

Proêncio, Lira e Dominico (2017, p. 10736) evidenciam que tanto na rede privada de ensino, quanto nas instituições públicas “normalizou-se uma obrigatoriedade de que o trabalho com as datas comemorativas faça parte dos planejamentos e projetos”. Tonholo (2013) considera que na maioria das vezes, tais datas justificam a realização de festas e/ou comemorações, sendo entendidas como temáticas importantes, principalmente para o ensino de História. No entanto, assim como nós, a autora acredita que “da forma como são trabalhadas [as datas comemorativas] com os alunos não possibilitam uma aprendizagem significativa” (TONHOLO, 2013, p. 183). Proêncio, Lira e Dominico (2017, p. 10737) observam no contexto da Educação Infantil, um trabalho “descontextualizado, estereotipado e fragmentado com o que seria o conteúdo das datas comemorativas”.

No estado Rio Grande do Sul, a Semana Farroupilha (semana do dia 20 de setembro) é uma data muito comemorada e festejada em todo o estado e isso acaba repercutindo nas escolas. A Semana Farroupilha está associada ao acontecimento histórico Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha[2]. Freitas e colaboradores (2014, p. 340) resumem que “a Semana Farroupilha é um período especial para as tradições gaúchas que se comemora entre os dias 14 a 20 de setembro”.

Os conteúdos relacionados com a Semana Farroupilha, são particulares do estado do Rio Grande do Sul. Com a homologação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), currículo nacional único, que possui o intuito de homogeneizar as práticas escolares, os conteúdos regionais podem vir a perder força ou até serem excluídos dos currículos. A Base prevê uma “parte diversificada”, mas assim como Azevedo (2015, p. 58), concebemos que “as diferentes tensões e pressões a qual o trabalho docente está submetido no interior da escola a parte diversificada pode receber o mesmo destino dos temas transversais e projetos interdisciplinares, configurarem como apenas elementos figurativos e secundários da sequência didática”.

Na tentativa de fornecer sentido e significado aos assuntos relacionados a Semana Farroupilha, apostamos na realização de um trabalho interdisciplinar, envolvendo saberes de diferentes áreas. Thiesen (2008, p. 552) nos apresenta que a interdisciplinaridade, como fenômeno metodológico, está

impulsionando transformações no pensar e no agir humanos em diferentes sentidos. Retoma, aos poucos, o caráter de interdependência e interatividade existente entre as coisas e as ideias, resgata a visão de contexto da realidade, demonstra que vivemos numa grande rede ou teia de interações complexas e recupera a tese de que todos os conceitos e teorias estão conectados entre si.

É importante mencionarmos que estamos tratando, nessa investigação, da interdisciplinaridade escolar, na qual “as noções, finalidades, habilidades e técnicas visam favorecer sobretudo o processo de aprendizagem respeitando os saberes dos alunos e sua integração” (FAZENDA, 2008, p. 97). Assim, como se trata de um estudo nos anos iniciais, o movimento interdisciplinar não se configura por envolver outros professores, mas sim em um trabalho que resgata diversos saberes, oriundos de diferentes áreas.

 3 Metodologia

A abordagem do estudo desenvolvido é qualitativa, pois permitiu “compreender a situação crítica onde a mesma ocorre, sem criar situações simuladas que distorcem a realidade, ou que levam à interpretação ou generalização equivocadas” (TRIVIÑOS, 1992, p. 116). Além disso, a pesquisa qualitativa preocupa-se “com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais” (SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009, p. 32).

A pesquisa foi desenvolvida em uma escola pública municipal de Ensino Fundamental localizada em São Gabriel, RS, Brasil. Participaram das atividades 15 alunos (7 meninas e 8 meninos) que estavam no 4º ano do Ensino Fundamental (faixa etária de 10 a 13 anos) e a professora regente da turma, a qual é a primeira autora do artigo. Desse modo, quanto aos procedimentos, a pesquisa configura-se como participante, pois a pesquisadora principal teve envolvimento e identificação com os sujeitos investigados (SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009). Além disso, esse tipo de pesquisa possibilita “observar acontecimentos que não ocorreriam ou seriam alterados na presença momentânea do pesquisador” (LUDWIG, 2015, p. 59).

Na pesquisa participante,

o pesquisador, para realizar a observação dos fenômenos, compartilha a vivência dos sujeitos pesquisados, participando, de forma sistemática e permanente, ao longo do tempo da pesquisa, das suas atividades. O pesquisador coloca-se numa postura de identificação com os pesquisados. Passa a interagir com eles em todas as situações, acompanhando todas as ações praticadas pelos sujeitos. Observando as manifestações dos sujeitos e as situações vividas, vai registrando descritivamente todos os elementos observados bem como as análises e considerações que fizer ao longo dessa participação (SEVERINO, 2007, p. 120).

O pesquisador nesse tipo de investigação “exerce, ao mesmo tempo, o papel subjetivo de participante e objetivo de observador; a finalidade principal é entender e explicitar o modo de pensar, sentir e agir do grupo” (LUDWIG, 2015, p. 59).

Antes do desenvolvimento das atividades verificou-se os conhecimentos/ideias dos alunos sobre o dia 20 de setembro e festejos farroupilhas. Após realizaram-se atividades interdisciplinares envolvendo os seguintes saberes:

I.                 da História – aspectos referentes as causas do movimento farroupilha e a cultura gaúcha. Para mobilizar esses saberes foi realizada uma sondagem inicial com os alunos sobre o que sabiam sobre o movimento. Após, utilizamos um livro didático para realizar a leitura e discussão de um texto sobre a Revolução Farroupilha. Os alunos também copiaram um texto síntese elaborado pela professora regente.

II.               da Geografia e das Ciênciaso Bioma Pampa, localização geográfica, trabalho com mapas, relevo, clima, flora e fauna da região. Para mobilizar esses saberes foi: exibido um vídeo ilustrativo sobre o Bioma Pampa; realizada uma aula no Parque Tradicionalista Rincão das Carretas[3] a fim de visualizar diferentes tipos de vegetação e animais da região.

III.              das Artes – as danças típicas do estado e a indumentária utilizada pelo gaúcho. Para mobilizar esses saberes os alunos assistiram a uma apresentação de dança típica de um Centro de Tradições Gaúchas (CTG), onde puderam observar a dança e a indumentária.

IV.             da Língua Portuguesa e da Literatura – contos, histórias, lendas, leitura e interpretação de textos. Para mobilizar esses saberes foi realizada contação, leitura e interpretação das lendas e contos do Rio Grande do Sul. Também foi confeccionado um livro contando o que foi estudado.

V.               da Matemática – problemas matemáticos contextualizados com a temática (exemplo: quantidade de quilômetros percorridos nas tropeadas).

Como culminância da proposta foram desenvolvidas as seguintes atividades envolvendo as demais turmas da escola, na tentativa de mobilizar outros professores:

Confecção do “Painel Farroupilha” – construído a partir do mapa do Rio Grande do Sul, enfatizando a construção de cidades, das capitais farroupilhas;

Apresentações artísticas e da indumentária gaúcha – iniciou-se com o canto dos hinos do Brasil e do Rio Grande do Sul, após teve uma apresentação de danças regionais por integrantes de um CTG de Santa Margarida do Sul, município vizinho de São Gabriel. Finalizada as apresentações, pode-se visualizar a indumentária típica do gaúcho;

Palestra – ministrada por um técnico da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, Campus São Gabriel para a comunidade escolar. O assunto da palestra foi o Bioma Pampa.

Após o desenvolvimento das atividades (coleta de dados), “faz-se necessário dar mais um passo, que é de analisa-los e interpretá-los” (LUDWIG, 2015, p. 60). Desse modo, foram analisadas as impressões que a professora da turma teve sobre o potencial das atividades para as aprendizagens dos alunos. As impressões foram registradas no diário da professora pesquisadora logo após a realização das atividades. Os resultados são apresentados na próxima sessão do artigo.

4 Resultados e discussões

Como mencionamos na metodologia, antes do desenvolvimento das atividades, procuramos mapear os conhecimentos prévios dos alunos sobre a data do 20 de setembro e os festejos farroupilhas. Evidenciamos que os alunos sabiam que nessa data se comemora o Dia do Gaúcho, mas sem aprofundamento sobre o assunto. Após tal mapeamento, realizamos as atividades interdisciplinares descritas que envolviam saberes de diferentes áreas.

Procuramos fazer, no decorrer das atividades, com que os alunos aprendessem a ter consciência do que é ser gaúcho, conhecer e reconhecer a importância da Revolução Farroupilha na construção da história do Brasil, conhecer as várias etnias que influenciaram na formação do povo brasileiro reconhecendo e valorizando a cultura rio-grandense.

Apostamos na possibilidade de trabalho com essa data tão festejada no estado do Rio Grande do Sul. No entanto, assim como Xavier (2011) temos consciência do cuidado que é necessário ao trabalhar os “temas cíclicos” (dia das mães, do índio, entre outros), para não cair na pedagogia de eventos. Como bem aponta a autora “é preciso olhar para todas essas datas, tão bem exploradas pela mídia, com um olhar crítico, ajudando os estudantes a enxerga-las nas suas devidas dimensões” (XAVIER, 2011, p. 11).

Nesse contexto, a turma do 4º ano – com quem foi desenvolvida a proposta – teve uma Semana Farroupilha repleta de atividades ligadas às tradições gaúchas de forma contextualizada. Consideramos ser importante a contextualização do ensino para maior significado para os estudantes. Kato e Kavasaki (2011, p. 36) nos apresentam que a “necessidade de contextualização do ensino surgiu em um momento de educação formal no qual os conteúdos escolares eram apresentados de forma fragmentada e isolada, apartados de seus contextos de produção científica, educacional e social”. Dessa forma, além de se trabalhar os saberes de forma interdisciplinar procuramos contextualizar o que era ensinado aos alunos.

A turma estudou sobre a história e as lendas do Rio Grande do Sul, participaram de palestras sobre a cultura e as tradições gaúchas, degustaram comidas típicas e participaram de rodas de chimarrão, bebida típica do Rio Grande do Sul. Os alunos participaram ativamente de todas as atividades propostas com muito entusiasmo e interesse. Tal evidência se deu pelo caráter interativo de grande parte das atividades, como por exemplo no momento da construção do mapa do estado. Nessa atividade, observou-se o interesse dos alunos em saber onde estavam localizadas no mapa as capitais farroupilhas, por exemplo. Nesse sentido, Colaço e colaboradores (2007, p. 54) nos ajudam a compreender esse envolvimento dos alunos, pois postulam que,

no ambiente escolar, situações didáticas que favorecem o intercâmbio entre as crianças e destas com o professor são ricos espaços de discussão [...]. Tanto professores como alunos participam desse processo, criando estratégias que melhor viabilizam a resolução de problemas. Isto implica situações de aprendizagens para ambos.

Podemos observar que as atividades interdisciplinares proporcionaram ao aluno articular conhecimentos as experiências vivenciadas. Freitas e colaboradores (2014) realizaram um trabalho articulado na escola sobre a Semana Farroupilha, o qual envolveu três disciplinas – História, Geografia e Matemática. As atividades desenvolvidas pelas autoras se assemelharam com as que apresentamos nesse estudo: pesquisa de lendas, culinária, danças tradicionais, apresentações de invernadas pelos alunos e a merenda temática.

Assim como Tonholo (2013, p. 192), compreendemos que “trabalhar data comemorativa de forma significativa implica uma visão pautada em outras perspectivas, abrangendo de forma interdisciplinar saberes decorrentes de sala de aula, mas que não se reduzem somente a isso”.  Hoje em dia, o objetivo da interdisciplinaridade que se expressa por um fazer coletivo e solidário na organização da escola. No entanto, no decorrer do desenvolvimento da proposta, consideramos que o maior obstáculo encontrado durante a realização das atividades foi a conscientização da importância do trabalho interdisciplinar pelos outros professores da escola, a qual pode ser observada no momento da construção do painel farroupilha que envolveu outras turmas. Tal obstáculo, vai de encontro com o que foi diagnosticado por Gallon e Rocha Filho (2015). Em seu estudo, os autores procuraram elencar as dificuldades encontradas pelos professores ao executar trabalhos interdisciplinares. Dentre uma série de obstáculos mencionados pelos participantes do estudo dos autores, um deles residiu na “resistência dos professores” para trabalhar na perspectiva interdisciplinar.

O estudo que realizamos nos permitiu observar que a interdisciplinaridade:

Ajuda a compreender que os indivíduos não aprendem apenas usando a razão, o intelecto, mas também a intuição, as sensações, as emoções e os sentimentos. É um movimento que acredita na criatividade das pessoas, na complementaridade dos processos, na inteireza das relações, no diálogo, na problematização, na atitude crítica e reflexiva, enfim, numa visão articuladora que rompe com o pensamento disciplinar, parcelado, hierárquico, fragmentado (THIESEN, 2008, p. 552-553).

Dessa forma, as atividades desenvolvidas, apresentadas e refletidas nesse artigo, vão ao encontro do que Thiesen (2008) apresenta sobre interdisciplinaridade, visto que procuramos fazer com que os alunos se tornassem agentes da construção do próprio conhecimento. As atividades desenvolvidas, além de auxiliarem nos aspectos cognitivos da aprendizagem, possibilitaram aos alunos experenciarem diferentes sensações, emoções e sentimentos, como as que aconteceram na aula realizada aula no Parque Tradicionalista Rincão das Carretas, momento em que os estudantes tiveram um maior contato com a natureza e elementos típicos do gaúcho.

A partir das atividades desenvolvidas e por meio de relatos dos pais dos alunos, foi possível perceber que conhecimentos foram construídos, visto que se observou um maior interesse a respeito da cultura gaúcha e da Semana Farroupilha. Diversos pais relataram que seus filhos pediram para adquirirem a indumentária gaúcha, participarem do corpo de dança dos CTGs e das penhas crioulas, entre outros.

5 Considerações finais

Desenvolver um trabalho interdisciplinar foi muito significativo porque se teve a oportunidade de abordar saberes de diferentes áreas do conhecimento. Ao elencarmos a temática da  Semana Farroupilha, a qual é um momento especial de culto às tradições gaúchas, acreditamos que os alunos puderam valorizar a identidade do gaúcho, bem como conhecer melhor aspectos de sua trajetória histórica e modo de vida.

Como a Semana Farraupilha é uma data comemorativa do Rio Grande do Sul, acreditamos que as escolas e os professores

devem ter muito claro qual o verdadeiro significado dessas datas para a vida das crianças; pois essas experiências podem ser muito boas, porém podem também trazer medos, preconceitos, estigmas simplistas, erros e situações ridicularizantes, ao ponto de desencadear ansiedades e inseguranças para elas, tornando-se assim constrangedoras (GOMES e MONTEIRO, 2016, p. 156).

As potencialidades de se trabalhar em sala de aula, de forma interdisciplinar, saberes relacionados a Semana Farroupilha residem em um maior entendimento dos conteúdos trabalhados por parte dos alunos. Como a temática está interligada com o seu cotidiano, principalmente por estarmos localizados geograficamente na Campanha Gaúcha, proporciona um ensino contextualizado para diversos saberes. Possibilita, também que o aluno venha a perceber, no seu convívio, a cultura e os costumes gaúchos, como: culinária, chimarrão, música, brinquedos, poesias, entre outros.

Acreditamos que com as atividades desenvolvidas contribuímos para a capacidade de raciocínio, o desenvolvimento de habilidades e atitudes, bem como com o resgate do prazer em aprender de um modo diferente. Todas as maneiras de aprendizagem interdisciplinar trabalhadas enriqueceram a forma de elaboração do conhecimento pelos alunos.

No entanto, após realizarmos as atividades apresentadas nesse artigo, podemos avaliar o que faríamos de forma diferente, caso as atividades sejam novamente realizadas. Concebemos que outras atividades, envolvendo a temática, tais como concurso de poesias e declamações, café campeiro, trabalho com o vocabulário gaudério, dentre outras, poderiam vir a enriquecer o trabalho. Dessa forma, torna-se indispensável o estudo interdisciplinar para consolidar os conhecimentos e transformá-los em saberes com significado. Para isso o estudo interdisciplinar se torna ferramenta essencial que permite elaborar o saber em diferentes dimensões, possibilitando procedimentos metodológicos diferenciados.

Referências

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[1] Artigo apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Educação: Práticas de Ensino Interdisciplinares da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, Campus São Gabriel, sob orientação do Prof. Dr. Julio Cesar Bresolin Marinho.

[2] A Revolução Farroupilha, teve início na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, entre 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845. É considerada uma das mais importantes passagens da história do Rio Grande do Sul, um marco da formação social e política do Estado. A importância do dia 20 de setembro é tão grande que em 1978 foi decretado feriado em todo o Estado pela lei estadual 4.453/78. Informações disponíveis em: http://www.portaldasmissoes.com.br/site/view/id/1408/20-de-setembro-feriado-santo-dos-gauchos..html. Acesso em: 27 nov. 2019.

[3] Este parque é situado no município de São Gabriel e durante o mês de setembro acontece uma diversificada programação relacionada aos festejos farroupilhas.